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O mito da criação: o conceito de Cosmogonia nAs Metamorfoses de ...

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epicurista exclui a influência dos <strong>de</strong>uses sobre o mundo e rejeita a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fenômenos sobrenaturais, ou seja, monstra que se ligam às metamorfoses.<br />

Mesmo em uma postura contrária, Lucrécio fornece as bases <strong>da</strong> tradição mítica<br />

manipula<strong>da</strong> por Ovídio em sua obra.<br />

Segundo Philip De Lacy apud Tronchet (1998, p. 84), Ovídio apenas<br />

seguiu e prolongou uma tendência que era comum aos poetas augustanos, pois<br />

eles tinham um leque <strong>de</strong> doutrinas filosóficas, comparáveis a sua provisão <strong>de</strong><br />

len<strong>da</strong>s míticas e <strong>de</strong> relatos históricos.<br />

Quando Ovídio conta as origens do universo, retendo entre os textos<br />

disponíveis uma gama <strong>de</strong> versões nas quais ele integra e imbrica diversas teses,<br />

propõe indiretamente uma reflexão sobre as relações analógicas ou conflituosas,<br />

que po<strong>de</strong>m entreter as diferentes doutrinas. Por meio <strong>da</strong> aproximação e <strong>da</strong><br />

contaminação <strong>de</strong> idéias e <strong>de</strong> motivos em princípio inconciliáveis, as <strong>Metamorfoses</strong><br />

revelam um ceticismo fun<strong>da</strong>mental que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia sobre uma permanente<br />

luci<strong>de</strong>z do poeta, segundo Tronchet (1998, p. 86).<br />

Tal atitu<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como o último resultado <strong>de</strong> uma evolução<br />

inicia<strong>da</strong> pelo alexandrinismo e que, retoma<strong>da</strong> por Catulo e pelos noui poetae, é<br />

sobretudo afirma<strong>da</strong> durante o período augustano, principalmente entre os<br />

elegíacos 14 . Daí, os poetas se autorizam a unir histórias <strong>de</strong> origens muito varia<strong>da</strong>s<br />

e eles não hesitam em reunir, entre os exemplos, motivos míticos e filosóficos.<br />

Porque a heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s fontes não é senti<strong>da</strong> como um obstáculo à<br />

construção do poema ovidiano, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os aspectos selecionados por Ovídio<br />

mantenham com o assunto tratado uma relação <strong>de</strong> ilustração ou <strong>de</strong> analogia.<br />

Assim com o canto <strong>de</strong> Sileno, Vergílio forneceu, no canto VI <strong>da</strong>s Bucólicas, um<br />

bom exemplo, certamente fictício, <strong>de</strong> tal estética, pois a personagem, tira<strong>da</strong> do<br />

mundo mítico, po<strong>de</strong> falar <strong>da</strong> <strong>criação</strong> em um caráter filosófico, e <strong>de</strong>pois enca<strong>de</strong>ar<br />

sobre Prometeu ou sobre o dilúvio.<br />

Desta forma, o começo <strong>da</strong>s <strong>Metamorfoses</strong> traz a marca <strong>de</strong> duas visões<br />

antitéticas quanto à história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, o <strong>mito</strong> hesiódico <strong>da</strong>s raças e a<br />

14 Na poesia <strong>de</strong> Calímaco, assiste-se ao impulso tanto <strong>de</strong> uma <strong>mito</strong>logia sábia, em que a erudição leva<br />

vantagem sobre a tradição, quanto <strong>de</strong> uma literatura que se <strong>de</strong>staca <strong>da</strong>s crenças e <strong>da</strong> discordância entre as<br />

variantes existentes.

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