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O mito da criação: o conceito de Cosmogonia nAs Metamorfoses de ...

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<strong>de</strong>stronamento <strong>de</strong> Saturno por Júpiter, inspirado na Teogonia, marca o ponto <strong>de</strong><br />

articulação entre as i<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ouro e <strong>de</strong> prata (Hes.Teog. 490-496). A sucessão<br />

<strong>da</strong>s raças, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ouro até o ferro, correspon<strong>de</strong> à <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m radical <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas e <strong>da</strong>s próprias condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Os efeitos <strong>de</strong>ssa evolução<br />

po<strong>de</strong>m ser assimilados aos <strong>de</strong> uma metamorfose sobre a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> inteira.<br />

Conforme Tronchet (1998, p.68), é significativo o fato <strong>de</strong> Ovídio ter<br />

reduzido a quatro o número <strong>da</strong>s i<strong>da</strong><strong>de</strong>s, já que o poeta suprimiu a raça dos heróis.<br />

Quanto ao número quatro, po<strong>de</strong>-se observar uma correspondência entre a<br />

passagem referi<strong>da</strong> e todo o começo <strong>da</strong>s <strong>Metamorfoses</strong>, no qual intervêm os<br />

pontos cardinais, ligados aos ventos principais, às estações do ano, introduzi<strong>da</strong>s<br />

na i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prata. O fator analógico constituiu, para o poeta, uma razão<br />

suplementar <strong>de</strong> modificar o <strong>mito</strong> <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>. Na obra os Trabalhos e os dias, são<br />

cinco as raças: <strong>de</strong> ouro, <strong>de</strong> prata, <strong>de</strong> bronze, dos heróis e <strong>de</strong> ferro. Tal<br />

transformação do <strong>mito</strong> permitiu a Ovídio liberar a cronologia <strong>da</strong>s <strong>Metamorfoses</strong> <strong>de</strong><br />

to<strong>da</strong> uma in<strong>de</strong>xação sobre os Trabalhos e os dias, que situava a emergência <strong>da</strong><br />

i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ferro em um passado relativamente recente, <strong>de</strong>pois que os heróis se<br />

assimilaram aos protagonistas dos ciclos épicos <strong>de</strong> Tebas ou <strong>de</strong> Tróia (vv.161-<br />

165).<br />

Concebe-se que a redução a quatro i<strong>da</strong><strong>de</strong>s efetua<strong>da</strong> por Ovídio implicou<br />

uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m radical para a fisionomia do <strong>mito</strong>. Com a eliminação dos heróis,<br />

afirma-se, no texto ovidiano, uma temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> homogênea, pois a sucessão <strong>da</strong>s<br />

etapas obe<strong>de</strong>ce a uma estrita orientação axiológica, que racionaliza o episódio ao<br />

lhe <strong>da</strong>r uma estrutura unívoca, segundo afirmação <strong>de</strong> Tronchet (1998, p.69).<br />

A última i<strong>da</strong><strong>de</strong> é a do duro ferro - <strong>de</strong> duro est ultima ferro (Ov. Met. I,127).<br />

Ovídio conclui sua <strong>de</strong>scrição com um sentimento <strong>de</strong> ofensa moral, pois tudo, que<br />

não é lícito, aparece exatamente nesta i<strong>da</strong><strong>de</strong> (Ov. Met. I,128-129). Não há mais<br />

pie<strong>da</strong><strong>de</strong> - Victa iacet pietas (Ov. Met. I,149); até a <strong>de</strong>usa <strong>da</strong> justiça, a virgem<br />

Astréia, foi a última dos <strong>de</strong>uses, ultima caelestum (Ov. Met. I,150), a <strong>de</strong>ixar a terra.<br />

Então, é notável a marca <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio moral (Ov. Met. I,160-161), quando acontece<br />

o ataque dos gigantes, <strong>de</strong> seu ímpio sangue nascem os homens perversos, raça<br />

violenta e ávi<strong>da</strong> <strong>de</strong> cruéis matanças.

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