11.06.2013 Views

Dimas Macedo e a poesia do Salgado - Rodrigo Marques

Dimas Macedo e a poesia do Salgado - Rodrigo Marques

Dimas Macedo e a poesia do Salgado - Rodrigo Marques

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O lirismo não afasta os temas sociais, ao contrário, faz deles matéria<br />

poética. Consciente disto, <strong>Mace<strong>do</strong></strong> intitula de "Líricà' o poema mais insubmisso<br />

<strong>do</strong> livro. Uma bela peça, onde o eu poético se confunde com as massas<br />

e a angústia <strong>do</strong>s oprimi<strong>do</strong>s:<br />

Reina a indefinição <strong>do</strong>s dias<br />

E a agonia <strong>do</strong> caos é o meu instante<br />

Revejo o vento por perto<br />

E no entanto para você,<br />

E eu me olho nos olhos, proclamo:<br />

Minha solidão não tem causa.<br />

Estou com frio e com fome<br />

não tenho pátria nem nome<br />

e eis que to<strong>do</strong> o passa<strong>do</strong> não mente:<br />

eu tenho a morte cravada nos dentes.<br />

Como observou Paulo de Tarso Pardal, "o lirismo de <strong>Dimas</strong> <strong>Mace<strong>do</strong></strong> se<br />

elabora através de vários elementos semânticos. O afã, a desilução, o desejo, a<br />

<strong>do</strong>r, o caos, a tragicidade, a sensualidade, a efemeridade e o telúrico são alguns<br />

desses elementos, que em alguns poemas, aparecem num to<strong>do</strong> harmônico." 16<br />

Há no livro, no entanto, uma constante ou leit-motiv que constrói o<br />

que podemos denominar de poética da <strong>do</strong>r. O eu lírico, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de uma sensibilidade<br />

sem igual, convive intimamente com o "sopro <strong>do</strong>s contrários", ou<br />

seja, com a presença inevitável da morte na vida. Sem soluções racionais ou<br />

espirituais para o conflito, resta ao poeta cantar a própria <strong>do</strong>r:<br />

Para isto a vida:<br />

o sopro <strong>do</strong>s contrários.<br />

O fogo <strong>do</strong>s presságios<br />

queiman<strong>do</strong> as nossas mãos.<br />

Para isto o corpo:<br />

o <strong>do</strong>rso maduro <strong>do</strong>s afagos.<br />

O mar. O impossíveL<br />

oceano no qual nos afogamos<br />

16: PARDAL, Paulo de Tarso. "<strong>Dimas</strong> <strong>Mace<strong>do</strong></strong> e a Poética da Dor", ln Pemaios, Fortaleza,<br />

Biblioteca O Curumim Sem Nome, 2000.<br />

64

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!