11.06.2013 Views

Dimas Macedo e a poesia do Salgado - Rodrigo Marques

Dimas Macedo e a poesia do Salgado - Rodrigo Marques

Dimas Macedo e a poesia do Salgado - Rodrigo Marques

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

são os teci<strong>do</strong>s de linho<br />

com que visto<br />

a solidão de um drama<br />

que carrego.<br />

Esses gatos ala<strong>do</strong>s<br />

são terríveis<br />

revelações<br />

<strong>do</strong> que ficou oculto<br />

e reprimi<strong>do</strong><br />

em meu destino incerto.<br />

Em "Poéticà', Di mas <strong>Mace<strong>do</strong></strong> expressa um <strong>do</strong>s conflitos que tanto o<br />

consome. Consciente de que a conseqüência inevitável de toda criação poética<br />

é a pequena morte <strong>do</strong> sujeito que escreve, angustia-se ao perceber que aquilo<br />

que mais teme, a morte, é a razão da sua própria existência, pois esta só se<br />

realiza com a <strong>poesia</strong>. O poema tem a forma de um silogismo: o primeiro verso<br />

representa a premissa maior, o segun<strong>do</strong> e terceiro versos a premissa menor e os<br />

<strong>do</strong>is últimos a conclusão. Se não vejamos:<br />

O aprendiza<strong>do</strong> da morte é a existência.<br />

A experiência da morte é o meu aprendiza<strong>do</strong><br />

e o meu permanente vir a ser.<br />

A inspiração da morte me faz compreender<br />

a relação <strong>do</strong> artista com o mun<strong>do</strong>.<br />

A eternidade da morte<br />

é o meu sentimento mais profun<strong>do</strong><br />

assim como o absoluto da vida<br />

é o desejo de produzir a arte.<br />

Como uma obsessão que dói e me reparte<br />

a volúpia da morte<br />

é o eterno delírio que me espreita.<br />

Para mim o senti<strong>do</strong> da vida é a suspeita<br />

de que a morte é a simetria da minha liberdade.<br />

O aprendiza<strong>do</strong> da morte é a existência; a experiência da morte, ou seja,<br />

o fazer poético, é o aprendiza<strong>do</strong>; logo, o fazer poético é a própria existência,<br />

a liberdade. Eis aí o pensamento que move toda a obra, influencia<strong>do</strong> pela<br />

filosofia heideggeriana, que nos fala que "a <strong>poesia</strong> é a casa <strong>do</strong> ser; só através<br />

dela é possível comemord-lo sem perdê-lo de vista; só ela é capaz de evocá-lo<br />

70

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!