Seareiro 47.indd - Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança
Seareiro 47.indd - Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança
Seareiro 47.indd - Núcleo de Estudos Espíritas Amor e Esperança
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> <strong>Espíritas</strong> “<strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong>” - Ano 5 - nº 47 - Novembro/2004<br />
Distribuição Gratuita<br />
Página 15<br />
Kar<strong>de</strong>c<br />
em Estudo<br />
Cruelda<strong>de</strong> e<br />
Destruição<br />
Família<br />
Família no<br />
mundo dos<br />
espíritos<br />
Página 14<br />
Cantinho do Verso<br />
Finados<br />
em Prosa - Página 13<br />
Cairbar Schutel Página 03
Editorial<br />
editorial<br />
Como <strong>de</strong>vemos tratar a questão do jovem no agrupamento espírita?<br />
Muitos <strong>de</strong> nós já nos fizemos esta pergunta.<br />
Em visitas a alguns agrupamentos espíritas, notamos que na maioria<br />
<strong>de</strong>les, a chamada Mocida<strong>de</strong>, tem <strong>de</strong>ntro do quadro <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s da instituição,<br />
digamos “vida própria”.<br />
Será que <strong>de</strong>terminado procedimento estaria correto?<br />
Precisamos recorrer às orientações evangélicas, para que possamos<br />
obter o embasamento necessário, a fim <strong>de</strong> analisarmos a questão.<br />
Ao consultarmos a lição Mocida<strong>de</strong> do livro Caminho, Verda<strong>de</strong> e Vida,<br />
po<strong>de</strong>mos encontrar a instrução <strong>de</strong> Emmanuel, com relação a esta fase<br />
reencarnatória:<br />
“Concordamos com as suas vastas possibilida<strong>de</strong>s, mas não po<strong>de</strong>mos<br />
esquecer que esta fase da existência terrestre é a que apresenta maior<br />
número <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s no capítulo da direção”.<br />
Diante <strong>de</strong>sta elucidação, temos que refletir quanto ao posicionamento<br />
dos jovens, na planificação das instituições espíritas, do qual fazemos<br />
parte.<br />
A liberda<strong>de</strong> que a chamada Mocida<strong>de</strong> Espírita tem na estruturação<br />
<strong>de</strong> tarefas e <strong>de</strong> estudos, nas instituições espíritas, bem como a in<strong>de</strong>pendência<br />
que se vê na execução e programação das quais participam,<br />
são preocupantes, diante da falta <strong>de</strong> direcionamento doutrinário por parte<br />
<strong>de</strong> “espíritos envelhecidos na experiência”, como nos diz a lição <strong>de</strong> Emmanuel.<br />
Questionamos a criação <strong>de</strong> mocida<strong>de</strong>s, já que os jovens po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem<br />
começar a participar, com supervisão é óbvio, das tarefas on<strong>de</strong> os<br />
adultos participam, já que obterão com isto o amadurecimento doutrinário<br />
necessário para o verda<strong>de</strong>iro aprendizado.<br />
Quer-se alegar <strong>de</strong> que as mocida<strong>de</strong>s são necessárias para atrair os<br />
jovens para as ativida<strong>de</strong>s, pois eles não suportariam as tarefas <strong>de</strong> maior<br />
responsabilida<strong>de</strong>. Ledo engano!<br />
Não po<strong>de</strong>mos ajustar tarefas para satisfazer o trabalhador. Temos sim<br />
que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno, manter os nossos filhos ajustados aos ensinamentos<br />
cristãos, procurando exemplificá-los em nossos atos e palavras, para que<br />
quando eles chegarem à adolescência, tenham a base moral sólida e a<br />
maturida<strong>de</strong> doutrinária, que fazem com que entendam a disciplina e a<br />
responsabilida<strong>de</strong> das tarefas que lhes cabem, mantendo-se porém, o direcionamento<br />
das tarefas sempre a pessoas com maior experiência <strong>de</strong>ntro<br />
do agrupamento.<br />
Lembremos que os jovens são espíritos que já tiveram experiências<br />
reencarnatórias <strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns, e não <strong>de</strong>vemos fazê-los per<strong>de</strong>r tempo<br />
com mocida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> estarão dispersos apenas com músicas, teatros e<br />
ativida<strong>de</strong>s chamadas culturais, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>riam não estar per<strong>de</strong>ndo tempo,<br />
iniciando com estudos sérios e tarefas que efetivamente os irá auxiliar na<br />
sua elevação moral, resgatando o seu passado <strong>de</strong> débitos, tudo isto com a<br />
interiorização dos ensinamentos do Cristo, com a renovação interior.<br />
Neles encontraremos a maturida<strong>de</strong> para os <strong>de</strong>svios <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não estejam bem orientados, portanto, têm condições <strong>de</strong><br />
absorverem os conhecimentos cristãos, e serem produtivos nas tarefas<br />
que todos nós temos, como valiosas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> servir ao nosso<br />
semelhante.<br />
Portanto, não nos iludamos! Os nossos jovens têm <strong>de</strong> ombrear conosco<br />
as tarefas cristãs, e o estudo <strong>de</strong>verá ser uma constante em suas vidas,<br />
mas não <strong>de</strong>vemos esquecer a orientação <strong>de</strong> Paulo, que diz que a mocida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>verá seguir em tudo “a justiça, a fé, o amor e a paz com os que,<br />
<strong>de</strong> coração puro, invocam o Senhor”.<br />
2<br />
Publicação mensal<br />
doutrinária-espírita<br />
Ano V – nº 47 – Novembro/2004<br />
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Estudos</strong> <strong>Espíritas</strong> <strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong><br />
CNPJ: 03.880.975/0001-40<br />
CCM: 39.737<br />
<strong>Seareiro</strong> é uma publicação mensal, <strong>de</strong>stinada<br />
a expandir a divulgação da doutrina<br />
espírita e manter o intercâmbio entre os<br />
interessados em âmbito mundial. Ninguém<br />
está autorizado a arrecadar materiais em<br />
nosso nome a qualquer título. Conceitos<br />
emitidos nos artigos assinados refletem a<br />
opinião <strong>de</strong> seu respectivo autor. Todas<br />
as matérias po<strong>de</strong>m ser reproduzidas <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que citada a fonte.<br />
Direção e Redação<br />
Rua Turmalinas, 56<br />
Jardim Donini<br />
Dia<strong>de</strong>ma – SP – Brasil<br />
CEP: 09920-500<br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência<br />
Caixa Postal, 42<br />
Dia<strong>de</strong>ma – SP<br />
CEP: 09910-970<br />
Telefone: (11) 4044-1563<br />
com Eloísa<br />
E-mail: seareiro@ig.com.br<br />
Conselho Editorial<br />
Roberto <strong>de</strong> Menezes Patrício<br />
Wilson Adolpho<br />
Vanda Novickas<br />
Ruth Correia Souza Soares<br />
Reinaldo Salles Licatti<br />
Fátima Maria Gambaroni<br />
Rosângela Neves <strong>de</strong> Araújo<br />
Geni Maria da Silva<br />
Jornalista Responsável<br />
Eliana Baptista do Norte<br />
MTb 27.433<br />
Diagramação<br />
Marcos Galhardi<br />
Tel: 4067-3378<br />
Arte e Impressão<br />
Van Moorsel, Andra<strong>de</strong> & Cia Ltda<br />
Rua Souza Caldas, 343 – Brás<br />
São Paulo – SP<br />
CNPJ: 61.089.868/0001-02<br />
Tel.: (11) 6097-5700<br />
Tiragem<br />
8.000 exemplares<br />
Distribuição Gratuita
Gran<strong>de</strong>s Pioneiros<br />
gran<strong>de</strong>s pioneiros<br />
Cairbar Schutel<br />
Cairbar <strong>de</strong> Souza Schutel!<br />
Reencarna na Terra, mais um baluarte da Doutrina<br />
Espírita!<br />
Teve com berço, a sua terra natal, a bela cida<strong>de</strong><br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, cartão postal da Natureza. Era o<br />
dia 22 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1868, quase a entrada da primavera.<br />
Como ela, Cairbar chegou<br />
trazendo flores e muita alegria para<br />
seus pais, senhor Anthero <strong>de</strong> Souza<br />
Schutel e a senhora Rita Tavares<br />
Schutel.<br />
Por essa época, o Brasil envolvia-se<br />
com a Guerra do Paraguai.<br />
Muitas eram as notícias <strong>de</strong>cisivas<br />
sobre a Batalha <strong>de</strong> Tuiuti.<br />
O Rio <strong>de</strong> Janeiro era a se<strong>de</strong> da<br />
Corte Imperial e, como tal, embora a<br />
crise trazida pela guerra, não ofuscava<br />
a elegância com que os senhores<br />
e senhoras da Corte, vestiam-se.<br />
O casal Schutel, quando do nascimento<br />
do primogênito, Cairbar,<br />
residiam na famosa Rua do Ouvidor, 49, que resplan<strong>de</strong>cia<br />
pelas ruas centrais, toda a beleza das senhoras<br />
da socieda<strong>de</strong> da Corte, sempre acompanhadas pelas<br />
suas escravas <strong>de</strong> confiança.<br />
O senhor Anthero Schutel, pai do pequenino Cairbar,<br />
por essa fase, era ainda jovem e trazia a evi<strong>de</strong>nte vaida<strong>de</strong><br />
pelo seu belo aspecto físico. Era muito admirado<br />
pelas mulheres, e sempre fora mimado pelos pais.<br />
Com isto cresceu, mas tornou-se imaturo, pois filho<br />
como era <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros ricos e prósperos, tanto o<br />
pai como a mãe, nada lhe negavam. Vivia gastando<br />
fortunas no Cassino Fluminense, na Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Recreação Campestre ou nos Clubes <strong>de</strong> Petropólis,<br />
que eram os mais conceituados salões aristocráticos<br />
da época.<br />
Conhece um dia a nobre senhorita Rita Tavares.<br />
Ainda solteiro, ambos moravam em Santa Catarina.<br />
Dona Rita era nascida na cida<strong>de</strong>zinha <strong>de</strong> Tijuca.<br />
Quando Anthero a viu, <strong>de</strong>slumbrou-se pelo seu porte<br />
elegante e lindo semblante simples. Apaixonou-se<br />
perdidamente pela sua meiguice e, dali para o casamento,<br />
foi um passo.<br />
Ritinha, como era chamada intimamente pelos<br />
pais, fora criada com energia e como toda jovem da<br />
época, educada para o casamento, para ser mãe e esposa<br />
do lar.<br />
De natureza submissa e tolerante, dona Rita, pro-<br />
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
<strong>Espíritas</strong> <strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong><br />
curava ocupar-se com o filho Cairbar, e com a religião<br />
católica. Esta preenchia sua vida, se <strong>de</strong>dicando<br />
a ajudar nos afazeres da igreja e dos carentes.<br />
Amava profundamente o marido, e não dava ouvidos<br />
aos mexericos da Corte, que sabiam <strong>de</strong> suas<br />
aventuras extras lar e das jogatinas. Passava noites<br />
e noites, per<strong>de</strong>ndo e ganhando.<br />
Ora, dona Rita tinha sua casa ornada<br />
pelos belos móveis, e ora<br />
via tudo ser levado, para pagar as<br />
dívidas <strong>de</strong> jogos contraídas pelo<br />
seu marido.<br />
Com tudo isto, ele era bom,<br />
amável e adorava a família. Devido<br />
ao <strong>de</strong>sregramento <strong>de</strong> sua vida, no<br />
dia 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1878, o senhor<br />
Anthero, ao tomar banho sentiuse<br />
mal e veio a falecer subitamente,<br />
sem que o socorro médico<br />
chegasse a tempo.<br />
Dona Rita sofre profundamente<br />
a esse golpe. Estava grávida e dá a luz a mais<br />
um menino, que recebe o nome do pai, Anthero.<br />
Porém, em 24 <strong>de</strong> setembro, cinco meses após o<br />
<strong>de</strong>sencarne do esposo, dona Rita não consegue vencer<br />
a febre pueperal, e vem também a <strong>de</strong>sencarnar,<br />
<strong>de</strong>ixando o pequeno Anthero, que só viveria por 4<br />
anos. O menino nascera a 12 <strong>de</strong> setembro, portanto,<br />
pouco foi o tempo que o menino teve do regaço materno.<br />
Quando dona Rita pressentiu que seus dias estavam<br />
contados na carne, ela chamou Cairbar, que<br />
chegou todo <strong>de</strong>sarrumado e <strong>de</strong>spenteado à sua presença.<br />
Ela com sóbria severida<strong>de</strong>, falou:<br />
— Vai se arrumar, meu filho.<br />
O menino, sempre obediente, corre para se recompor<br />
e ao retornar ao lado <strong>de</strong> sua cabeceira, ouviu<br />
o porquê:<br />
— Filho, quero que você esteja constantemente<br />
limpo, e com roupas e sapatos bem cuidados. Mesmo<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa, seu aspecto <strong>de</strong>ve apresentar postura e<br />
elegância. Lembre-se <strong>de</strong> como seu pai se cuidava.<br />
E, <strong>de</strong>ssa forma, Cairbar seguiu o conselho maternal<br />
até o fim <strong>de</strong> sua existência.<br />
Após a dura realida<strong>de</strong> por ver partir sua mãezinha,<br />
e ficando órfão, teve <strong>de</strong> separar-se do irmãozinho,<br />
que também pouco tempo teve <strong>de</strong> reencarnação, mas<br />
que seria uma companhia para ele.<br />
Dessa forma os avós paternos passaram a cuidar<br />
3
do menino.<br />
O avô, Dr. Henrique Schutel, procurando dar a<br />
melhor educação ao neto, matricula-o no “Imperial<br />
Colégio D. Pedro II”, on<strong>de</strong> era tido como o melhor<br />
colégio em estudo e disciplina instrutiva. Cairbar<br />
permanece aí, até o segundo ano, abandonando a escola<br />
após esse período, pois não suportava mais a<br />
rigi<strong>de</strong>z e disciplina da mesma.<br />
Cairbar tornou-se um adolescente <strong>de</strong> aspecto tristonho.<br />
Parecia estar sempre insatisfeito e brigado<br />
com o mundo.<br />
Quando lembrava <strong>de</strong> sua mãezinha e do irmãozinho,<br />
que nem chegara a conhecer, grossas lágrimas corriam<br />
pelo seu rosto, já tão marcado por amarguras.<br />
Com o <strong>de</strong>correr do tempo, ele consegue um emprego<br />
numa farmácia situada na Rua 1º <strong>de</strong> Março, no<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. Entra como aprendiz. Inteligente e<br />
firme em seus propósitos, em pouco tempo, apren<strong>de</strong><br />
o ofício, e torna-se prático na indicação e manipulação<br />
dos medicamentos. Era muito procurado pela<br />
clientela da farmácia.<br />
Atual vista do Colégio Imperial D. Pedro II, on<strong>de</strong> Cairbar<br />
Schutel estudou, localizado no Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ<br />
(hoje Colégio D. Pedro II).<br />
Mas esse trabalho dava-lhe pouco rendimento.<br />
Procurou algo diferente para a noite, on<strong>de</strong> alguns<br />
níqueis lhe dariam mais sobras. Encontrou uma vaga<br />
<strong>de</strong> cozinheiro num restaurante central e aí permaneceu<br />
algum tempo. Com esse novo emprego, Cairbar<br />
começou a gostar da vida noturna. E a boemia tomou<br />
conta <strong>de</strong> sua vida. Após a saída do restaurante, ele<br />
entregava-se aos prazeres das noites cariocas. Jogos,<br />
mulheres, todas as formas <strong>de</strong> diversões. Tudo isto<br />
seria funesto em sua vida. Todos que o viam, diziam<br />
ter ele herdado os mesmos vícios do pai.<br />
Freqüentava as praias, as serestas noturnas, e com<br />
isto sua saú<strong>de</strong> estava meio abalada. Isto porque, a<br />
higiene na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro era péssima. Nas<br />
ruas vendia-se <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> lascas <strong>de</strong> bacalhau, bebidas,<br />
frituras <strong>de</strong> toda espécie e o resto <strong>de</strong> gordura<br />
e pedaços indigestos <strong>de</strong> alimento, eram jogados nas<br />
4<br />
ruas, on<strong>de</strong> moscas, animais e insetos viviam por ali,<br />
completando o baixo teor <strong>de</strong> saneamento básico. Os<br />
becos à noite, eram verda<strong>de</strong>iros banheiros públicos.<br />
O mau cheiro, o calor e o sol ar<strong>de</strong>nte faziam proliferar,<br />
ainda mais, a convivência com ratos, e formavam<br />
o quadro, para que as pestes e as doenças como a<br />
varíola, a cólera, a peste bubônica, e até a temida<br />
febre amarela e ainda a tuberculose, se instalassem<br />
na cida<strong>de</strong>.<br />
Com esse ritmo <strong>de</strong> vida, e precisando estar logo<br />
cedo na farmácia, começou Cairbar a sentir o problema<br />
<strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong> agravando-se, com o aparecimento <strong>de</strong><br />
febres, vez por outra.<br />
Mas havia outra festa que se aproximava, e a qual<br />
Cairbar passou a esperar ar<strong>de</strong>ntemente a chegada: o<br />
carnaval. Tornou-se um autêntico folião, misturando-se<br />
aos cordões carnavalescos, que se infiltravam<br />
entre os carros, que formavam as alegorias e eram<br />
puxados pelos cavalos, todos adornados em várias<br />
cores. O povo compartilhava <strong>de</strong>ssa folia, que comparada<br />
a <strong>de</strong> hoje, era muita ingênua. Via-se que a<br />
Avenida Rio Branco, no Rio, parecia um mar <strong>de</strong> pessoas,<br />
blocos e fantasias da época.<br />
A saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cairbar piorou. Passado o carnaval,<br />
consultado o médico, este foi incisivo no diagnóstico:<br />
— Sua saú<strong>de</strong>, senhor Schutel, está péssima. Ou<br />
você se cuida, saindo rapidamente do Rio para outra<br />
região, on<strong>de</strong> o ar seja mais puro, ou essa tuberculose,<br />
que está prestes a se manifestar, o levará ao túmulo.<br />
Portanto, sua vida está nas suas mãos.<br />
Diante disto, toma ele a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> partir. Pe<strong>de</strong><br />
suas contas dos empregos, arruma seu baú, e vai <strong>de</strong>spedir-se<br />
dos avós. O avô Schutel queria levá-lo para<br />
a Europa, para ter um tratamento mais a<strong>de</strong>quado,<br />
mas Cairbar não quis. Disse ao avô, que ora em<br />
diante, ele havia entendido que precisaria levar a<br />
vida mais a sério. Abraça comovidamente os <strong>de</strong>dicados<br />
avós, e agra<strong>de</strong>ce o carinho, partindo para a estação<br />
ferroviária D. Pedro II. Não sabia ainda para<br />
que local iria.<br />
O choque <strong>de</strong> seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, soara como uma<br />
bomba em seu interior. Ele jamais pensara em morrer,<br />
pois era tão jovem e adorava viver. Só que estava<br />
compreen<strong>de</strong>ndo que estava errando, como errara seu<br />
pai, a quem ele criticava tanto em seu íntimo. Era<br />
preciso mudar o rumo <strong>de</strong> sua vida!<br />
Eis, portanto, as mãos do Criador. Viera, Cairbar,<br />
para tarefas importantes a realizar. A ameaça <strong>de</strong>ssa<br />
doença, que na época, era <strong>de</strong> difícil cura, fizera-o<br />
reagir para melhor. Ele não po<strong>de</strong>ria permitir esses<br />
arrastamentos inferiores, para tirá-lo do Bem. Não<br />
entendia ainda o que era, mas sabia que a sua mudança<br />
agora era importante.<br />
Impulsionado por algo estranho, compra a passagem<br />
para o final da linha, cuja a cida<strong>de</strong> seria Araraquara. Teria<br />
que fazer uma bal<strong>de</strong>ação em São Paulo para a Cia.<br />
<strong>de</strong> Ferro Paulista. Seriam doze horas <strong>de</strong> viagem, até o<br />
local escolhido. Portanto, no dia seguinte sua vida teria<br />
novo rumo! Até lá, havia muito o que planejar.
Vista atual da Avenida Rio Branco, Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ, com o<br />
Teatro Municipal ao centro.<br />
Desce do trem, e olha o sertão paulista. Fica parado<br />
por instantes, estudando como encontrar a melhor<br />
farmácia da cida<strong>de</strong>. Pergunta para o chefe da estação,<br />
e este lhe indica a Farmácia Moura, localizada na<br />
Rua do Comércio, esquina com Avenida São Paulo.<br />
Vai até lá e conhece o dono, o Senhor Raia. Apresenta-se<br />
como prático, e pe<strong>de</strong> o emprego. Para isto,<br />
o senhor Raia dá-lhe um teste. Teria que aviar três<br />
difíceis receitas e a manipulação <strong>de</strong> remédios. Saiuse<br />
muito bem, pois era afeito a esse propósito, que<br />
fazia com muito carinho.<br />
Dedicou-se por vários anos nessa tarefa. Obteve<br />
o retorno da saú<strong>de</strong>, pela vida sadia que passou a<br />
viver.<br />
Com estudo e muita inteligência, <strong>de</strong>senvolveu<br />
várias poções e xaropes, que através das essências<br />
naturais, eram muito procuradas, e faziam gran<strong>de</strong><br />
bem às pessoas. Com isto, tornou-se um empregado<br />
<strong>de</strong> confiança e muito querido pelo senhor Raia.<br />
Mas um dia, por algo feito ao qual o senhor Raia<br />
não gostou, Cairbar sentiu-se melindrado e ferido<br />
em seu orgulho. Pediu as contas. O senhor Raia tentou<br />
trazê-lo à razão, mas Cairbar não quis enten<strong>de</strong>r.<br />
Só o faria, após ter conhecido a Doutrina, corrigindo<br />
o acontecimento.<br />
O senhor Raia sentiu profundamente, mas o orgulho<br />
venceu seus propósitos.<br />
Dizia ele que aguardaria seu retorno, pois sabia<br />
que não seria fácil para Cairbar arrumar outro emprego.<br />
Sabedor disto, o jovem em seu conceito, preferiu<br />
ser entregador <strong>de</strong> uma mercearia a voltar a ser empregado<br />
da farmácia. Dessa forma, ele passava<br />
constantemente pela frente da farmácia do Sr. Raia,<br />
empurrando uma carrocinha <strong>de</strong> entregas domiciliares.<br />
Passou-se mais um tempo, e Cairbar <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ir<br />
para Piracicaba, e emprega-se na Farmácia Neves,<br />
cujo proprietário era o senhor Samuel Castro Neves.<br />
Este tinha por irmão o senhor Oseas Castro Neves,<br />
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
<strong>Espíritas</strong> <strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong><br />
que era o tabelião <strong>de</strong> Piracicaba. Oseas era estudioso<br />
da Doutrina Espírita, e um dos primeiros a divulgála<br />
naquelas paragens. Torna-se ele, muito amigo <strong>de</strong><br />
Cairbar, que lhe relata os fatos <strong>de</strong> sua agitada vida.<br />
Oseas esclarece-o sob o lado espiritual e, <strong>de</strong>ssa forma,<br />
algo começa a se tornar claro na obscura vida <strong>de</strong><br />
Cairbar.<br />
Por volta <strong>de</strong> 1894, Cairbar, compra um pequeno<br />
sítio em Araraquara. Desenvolve ali o cultivo <strong>de</strong> frutas<br />
e verduras. Também entra no comércio, com um<br />
pequeno estabelecimento <strong>de</strong> tabacaria e venda <strong>de</strong><br />
bilhetes <strong>de</strong> loteria.<br />
Já mais amadurecido, sem vestígio algum do boêmio<br />
do passado, Cairbar pensa em constituir uma<br />
família. Mas sua primeira investida foi frustrada, pois<br />
a jovem Izaltina, por quem ele se interessara, era <strong>de</strong><br />
família conceituada no meio social, e os pais, ao saberem<br />
por quem a menina andava enamorada, pressionou-a<br />
severamente, impedindo-a <strong>de</strong> ir em frente. A<br />
fama do passado boêmio e da doença que ameaçara<br />
sua saú<strong>de</strong>, embora já refeito, impediu que a família<br />
o aceitasse, e foram contrários a esse matrimônio,<br />
mesmo com a insistência <strong>de</strong> Cairbar. Resolve então<br />
afastar-se, achando que mais uma vez seu <strong>de</strong>stino era<br />
<strong>de</strong> amarguras e solidão.<br />
Vez por outra, lembrava-se das palestras com seu<br />
saudoso amigo Oseas, que falava em resgates do passado.<br />
Mas haveria mesmo isso? Ele fora criado na religião<br />
católica, e obe<strong>de</strong>cia cegamente seus princípios.<br />
Não estaria ele transgredindo os princípios cristãos?<br />
Não seria esse motivo dos dramas em sua vida?<br />
Talvez Deus estivesse castigando-o para ver se ele<br />
seria mais fiel em sua crença.<br />
Perdido nessas divagações encontra ele, ao<br />
atravessar a praça central da cida<strong>de</strong>, uma jovem sentada<br />
no banco da praça, chorando.<br />
Sem saber por quê, Cairbar aproxima-se e sentando-se<br />
ao lado <strong>de</strong>la, procura conversar:<br />
— Posso ajudá-la? Tenho um pequeno comércio<br />
aqui perto, vamos até lá e po<strong>de</strong>remos conversar mais<br />
à vonta<strong>de</strong>, sem que chamemos a atenção dos que<br />
passam.<br />
Erguendo o rosto, Cairbar, viu os belos olhos da<br />
jovem que se tornava mais atraente pelas lágrimas,<br />
que teimavam em rolar pelas faces coradas.<br />
A jovem, um tanto assustada, falou:<br />
— Creio que apesar <strong>de</strong> sua boa vonta<strong>de</strong>, o senhor<br />
nada po<strong>de</strong> fazer. Estou já há um tempo procurando<br />
um local para morar. Acreditei nas falsas promessas<br />
<strong>de</strong> um rapaz, que <strong>de</strong>pois abandonou-me. Minha<br />
família não me quer <strong>de</strong> volta. O senhor sabe o que é<br />
ser uma noiva abandonada antes do casamento?<br />
Cairbar ficou mais impressionado ainda e insistiu<br />
no convite.<br />
Ela resolveu acompanhá-lo. Já instalada na pequena<br />
sala que servia <strong>de</strong> escritório da tabacaria, ela <strong>de</strong>sabafa<br />
seu coração.<br />
Chamava-se Maria Elvira da Silva Lima, para os<br />
íntimos Mariquinhas. Nascera em Itápolis, interior<br />
<strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong> família humil<strong>de</strong>, mas rígida em<br />
5
seus princípios morais. Contava Mariquinhas, que<br />
os pais não queriam ter na família uma noiva quase<br />
abandonada na porta da igreja.<br />
— O povo — dizia ela a Cairbar — não perdoa, e<br />
diante dos falatórios, fui expulsa <strong>de</strong> casa. Estou procurando<br />
emprego e on<strong>de</strong> morar, pois <strong>de</strong>ixei Itápolis,<br />
on<strong>de</strong> nada mais tinha a fazer.<br />
Cairbar sentiu-se atraído e comovido com o drama<br />
<strong>de</strong> Mariquinhas, e recolheu-a em seu sítio. Apaixonados,<br />
passaram a viver maritalmente. Ele não tinha preconceito<br />
algum, acreditava no ser humano, e Mariquinhas<br />
fora vítima <strong>de</strong> um ser irracional e falido na<br />
moral, pois nessa época tudo era muito radical.<br />
Quando finalmente, Cairbar passa a estudar Kar<strong>de</strong>c<br />
e a aceitar o espiritismo, ele consolida essa união<br />
com Mariquinhas. Não com festas, mas numa simples<br />
cerimônia civil, on<strong>de</strong> ele fez questão que fosse<br />
realizada em Itápolis, junto com a família da esposa,<br />
on<strong>de</strong> ela fora tão maldosamente tratada. Agora, ela<br />
era igual a qualquer senhora respeitosa <strong>de</strong> Itápolis.<br />
Era o dia 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1905, segundo Mariquinhas,<br />
o dia mais feliz <strong>de</strong> sua vida!<br />
Cairbar com isto, falavam os a<strong>de</strong>ptos da Doutrina,<br />
professava o que já mantinha como certo em sua vida:<br />
a fé em Cristo. Ele já houvera pesquisado muito sobre<br />
a mulher adúltera e achara a verda<strong>de</strong>: Quem estará<br />
livre <strong>de</strong> pecado? Portanto, ninguém <strong>de</strong>verá atirar<br />
pedras nos erros do próximo, porque senão, elas com<br />
certeza voltarão para os arremeçadores.<br />
Embora esses pequenos contatos com a Doutrina,<br />
não o fez espírita <strong>de</strong> imediato. Isso viria acontecer<br />
bem mais tar<strong>de</strong>.<br />
Após o casamento, Cairbar e a esposa fixaram<br />
residência em Matão. Porém, antes do casamento,<br />
Cairbar já mostrava a força do progresso <strong>de</strong>ssa<br />
pequena cida<strong>de</strong>. Por esses idos, a cida<strong>de</strong>zinha tinha<br />
o nome <strong>de</strong> “Senhor Bom Jesus das Palmeiras do<br />
Matão”.<br />
Em rápida análise, para po<strong>de</strong>rmos enten<strong>de</strong>r o<br />
espírito renovador <strong>de</strong>sse pioneiro, enten<strong>de</strong>remos o<br />
quanto Cairbar fez para o progresso <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong>.<br />
Foi ele que, ali chegando e envolvido pela fé sincera<br />
<strong>de</strong> seu coração, e sabendo que as criaturas precisavam<br />
ter um templo on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ssem freqüentar, e ter<br />
um lugar <strong>de</strong> paz para orar (pois era assim que ele entendia,<br />
enquanto católico), fez erguer uma pequena<br />
capela. Todos os habitantes ajudaram a construí-la.<br />
Foi erguida com muito amor pelos <strong>de</strong>votos. Quando<br />
finalmente ficou pronta, recebeu o nome <strong>de</strong> Capela<br />
do Bom Jesus <strong>de</strong> Matão.<br />
Para sua inauguração, engalanaram-na <strong>de</strong> flores<br />
silvestres em seus altares. Os santos foram doados<br />
pelos habitantes, e o Altar Mor apresentava acima<br />
um gran<strong>de</strong> crucifixo com o Cristo pregado, e abaixo<br />
uma imagem maior <strong>de</strong> Nossa Senhora Aparecida,<br />
nossa Mãe Maior, Maria <strong>de</strong> Nazaré, num nicho colorido<br />
<strong>de</strong> azul, como seu manto, doado pelas mães das cida<strong>de</strong>zinhas,<br />
ou melhor dos sitiantes locais.<br />
Para essa primeira missa, Cairbar convida seu<br />
amigo e confessor em sua fé, o Padre Antônio Ceza-<br />
6<br />
rino, vindo <strong>de</strong> Araraquara.<br />
Por este e outros feitos realizados por Cairbar a<br />
essa cida<strong>de</strong>, foi ele escolhido o primeiro Inten<strong>de</strong>nte<br />
do novo Município. Esse cargo era equivalente ao<br />
<strong>de</strong> Prefeito, como atualmente se <strong>de</strong>signa o candidato<br />
eleito pela cida<strong>de</strong>.<br />
Isto porque Matão, em 1895, era apenas Distrito<br />
Policial. Após, em 1897, <strong>de</strong>signou-se Distrito <strong>de</strong><br />
Paz, e só em 1898 é que foi elevada a Município,<br />
pertencente à Comarca <strong>de</strong> Araraquara.<br />
Além <strong>de</strong> se tornar a figura mais importante no<br />
cenário político da época, e muito respeitado, ainda<br />
se tornara o farmacêutico mais procurado. Pessoas <strong>de</strong><br />
todos os arredores vinham procurar pela sua orientação<br />
e remédios preparados por suas mãos. Essa “Botica”,<br />
como era chamada na época, localizava-se à<br />
Rua do Comércio, Bairro da Pedreira, em frente<br />
ao “Juca Barbeiro”.<br />
Vista atual da Rua 1º <strong>de</strong> Março, Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ, on<strong>de</strong><br />
Cairbar Schutel trabalhou numa farmácia.<br />
E esse foi o local, on<strong>de</strong> Cairbar e dona Mariquinhas<br />
fixaram seu lar “ninho <strong>de</strong> paz e amor”, pois<br />
uma singela casa fora construída atrás da farmácia,<br />
para facilitar o trabalho <strong>de</strong> Cairbar.<br />
Leopoldo Machado, gran<strong>de</strong> autor literato e filósofo,<br />
on<strong>de</strong> também foi emérito divulgador da Doutrina<br />
Espírita, escreveu em sua obra “Uma Gran<strong>de</strong><br />
Vida”, <strong>de</strong> 1952 sobre o político Cairbar:<br />
“Cairbar Schutel não era consi<strong>de</strong>rado um político<br />
comum do sertão, autoritário, vaidoso e monopolizador<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, mas um homem público totalmente<br />
voltado à causa pública e aos interesses maiores <strong>de</strong><br />
sua gente. Mais tar<strong>de</strong>, portanto, Matão per<strong>de</strong>ria o<br />
homem político, para ganhar o benfeitor, um Apóstolo<br />
do Cristo”.<br />
Isto, porque algo diferente começou a inquietar<br />
Cairbar. Durante algum tempo, ele passou a sonhar<br />
constantemente com seus pais. Principalmente com<br />
seu pai. O senhor Anthero lhe contava fatos que eram<br />
<strong>de</strong> causar muita estranheza.<br />
Sem saber como agir procurou seu amigo, o padre
Cezarino. Este, apreensivo, recomendou-lhe rezar<br />
missa para os pais. Achava que esses acontecimentos,<br />
po<strong>de</strong>riam levá-lo à loucura.<br />
Mas pouco adiantou, pelo contrário, pois os fatos<br />
foram tomando vulto. Cairbar, mesmo sem dormir,<br />
divisava o pai a gesticular, e a dizer-lhe coisas que<br />
ele não conseguia enten<strong>de</strong>r.<br />
E no início do ano <strong>de</strong> 1906, resolveu procurar a<br />
pessoa <strong>de</strong> Quintiliano José Alves, on<strong>de</strong> soubera que<br />
este e o senhor Calixto Prado, eram espíritas e costumavam<br />
realizar sessões espíritas.<br />
Vista atual da Estação Ferroviária D. Pedro II, Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
- RJ, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> partiu Cairbar Schutel para Araraquara.<br />
Diante da fé católica que professava e os acontecimentos,<br />
embora titubiante, ouviu o que o senhor<br />
Quintiliano lhe disse:<br />
— Na verda<strong>de</strong>, costumávamos fazer essas sessões,<br />
mas já há algum tempo <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> realizálas,<br />
porque espíritos <strong>de</strong> conhecimentos inferiores,<br />
começaram a introduzirem-se em nossas reuniões,<br />
causando muita confusão entre os médiuns e os participantes.<br />
Pensando que algo <strong>de</strong> errado <strong>de</strong>veria estar<br />
se passando, e sem muito conhecimento doutrinário,<br />
resolvemos parar com as reuniões.<br />
Cairbar querendo enten<strong>de</strong>r mais sobre o assunto,<br />
insistiu para que reiniciassem, e quem sabe teriam<br />
alguma solução!<br />
Novamente retornaram as reuniões, mas usando a<br />
sessão <strong>de</strong> tiptologia (linguagem através <strong>de</strong> pancadas<br />
enumeradas pelo alfabeto) pelo fato <strong>de</strong> Cairbar ter<br />
ouvido algo a respeito. Porém, por falta <strong>de</strong> conhecimentos<br />
doutrinários, as perguntas feitas aos espíritos<br />
eram banais e, conseqüentemente, as respostas eram<br />
as mais <strong>de</strong>sbaratadas possíveis. Cairbar, então, passou<br />
a exigir a presença <strong>de</strong> espíritos, on<strong>de</strong> o assunto<br />
fosse mais interessante.<br />
Começaram a comunicar-se espíritos em gran<strong>de</strong><br />
sofrimento, e sempre com os mesmos pedidos, que<br />
rezassem missas para eles melhorarem.<br />
Isto começou a ficar pesado para os bolsos dos participantes,<br />
e Cairbar já mais atento, resolveu analisar<br />
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
<strong>Espíritas</strong> <strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong><br />
a questão, e falou aos companheiros que algo havia<br />
<strong>de</strong> errado. Os outros pouco sabiam do assunto, pois<br />
não tinham on<strong>de</strong> procurar maiores conhecimentos,<br />
pelo fato <strong>de</strong> que as comunicações mediúnicas ainda<br />
serem raras. Cairbar saiu à procura dos esclarecimentos<br />
necessários. Ele queria e precisava enten<strong>de</strong>r.<br />
Algo havia em seu interior que o inquietava, e muito.<br />
Precisava realizar alguma coisa, mas o quê? Os<br />
sonhos persistiam, já com visões até mesmo acordado.<br />
Teria ele que encontrar o caminho certo.<br />
Cairbar lembrou-se <strong>de</strong> um seu amigo, que era<br />
caixeiro-viajante e morador em Itápolis. Foi procurá-lo,<br />
e contou-lhe os acontecimentos. Ele po<strong>de</strong>ria<br />
elucidá-lo, pois era muito estudioso no assunto.<br />
O amigo João P. Rosa e Silva, após ouvi-lo, entrega-lhe<br />
um exemplar <strong>de</strong> O Reformador, dizendo-lhe:<br />
— É o que posso lhe arrumar. Creio que aí você<br />
po<strong>de</strong>rá encontrar alguma obra que lhe interesse.<br />
Ele lê a revista durante a noite toda. Quantas<br />
lições!<br />
No dia seguinte, pe<strong>de</strong> pelo Correio que lhe seja<br />
enviada as obras da Codificação Kar<strong>de</strong>quiana e o<br />
livro “<strong>Estudos</strong> Filosóficos” <strong>de</strong> Bezerra <strong>de</strong> Menezes.<br />
Chegada as encomendas, Cairbar estuda-as durante<br />
um mês. Os ensinamentos envolve-lhe a alma,<br />
e chega a finalmente compreen<strong>de</strong>r a Doutrina dos<br />
Espíritos. Ele agora iria começar a sua verda<strong>de</strong>ira<br />
vinda à Terra! Cairbar, o Espírita! Mais tar<strong>de</strong> seria<br />
chamado por todos “O Pai dos Pobres <strong>de</strong> Matão”.<br />
Na verda<strong>de</strong>, ele sentiu reacen<strong>de</strong>r a chama nessa<br />
reencarnação. Pois os ensinamentos cristãos já habitavam<br />
seu espírito. Fora apenas o tempo necessário<br />
para o seu <strong>de</strong>spertar, na continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua missão<br />
na Terra.<br />
O Livro dos Espíritos <strong>de</strong>u a Cairbar a certeza<br />
da continuida<strong>de</strong> da vida, pela lei da reencarnação.<br />
Enten<strong>de</strong>u as comunicações espíritas, através dos<br />
médiuns e as experimentações <strong>de</strong> tiptologia. E o<br />
Evangelho, tocou seu coração com as lições do<br />
Mestre Jesus.<br />
Portanto, o caminho agora era outro. Precisaria<br />
<strong>de</strong>sbravar os sertões, on<strong>de</strong> o materialismo era a causa<br />
principal da vida, e mostrar que haviam fatores<br />
mais sérios para serem <strong>de</strong>svendados.<br />
Para esse grandioso trabalho, Schutel precisaria <strong>de</strong><br />
um local <strong>de</strong>terminado, para reunir pessoas e começar<br />
a praticar a tarefa.<br />
De início, ele faz <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> sua própria casa<br />
a primeira reunião, para fundar o Centro Espírita<br />
“Amantes da Pobreza”. Com certeza, o primeiro a<br />
ser fundado no interior <strong>de</strong> São Paulo.<br />
E a ata <strong>de</strong>ssa fundação, datava a 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
1905, ano em que suas dúvidas tivera início. Para<br />
tanto, muitos dos amigos que também comungavam<br />
o mesmo i<strong>de</strong>al, estavam presentes como: João<br />
Pereira da Silva, Manuel Bittencourt, Agripino<br />
Martins, Quintiliano José Alves, Calixto Nunes <strong>de</strong><br />
Oliveira e as senhoras Justina Alexandrina Pereira<br />
Silva, Maria Gertru<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Souza, Hortência <strong>de</strong> Campos<br />
Bueno, Maria Elvira da Silva Schutel (esposa) e<br />
7
muitos outros.<br />
Todos ali se propuseram a <strong>de</strong>sempenhar as tarefas<br />
renovadoras, levando aos corações dos necessitados,<br />
todo e qualquer favorecimento que o Alto<br />
enviasse, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a parte material, mas principalmente<br />
o Evangelho. Este seria primordial. Para tanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
aquele minuto, Schutel, <strong>de</strong>signou uma equipe composta<br />
principalmente das senhoras presentes, tendo à<br />
frente sua esposa, dona Mariquinhas, para que visitassem<br />
os lares mais carentes, levando não só o essencial<br />
para reter a fome, mas principalmente o pão<br />
espiritual.<br />
Todos aplaudiram a idéia <strong>de</strong> Schutel, que <strong>de</strong>u<br />
àquela equipe iniciante, o caminho da luz, regido<br />
pelo Plano Espiritual Superior.<br />
Aos poucos, o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Cairbar começava a ser divulgado.<br />
Até que se juntou a eles, vindos da Fe<strong>de</strong>ração<br />
Espírita Brasileira, e trazendo um ofício <strong>de</strong>sta<br />
entida<strong>de</strong>, parabenizando-o pela divulgação do Evangelho,<br />
muitos companheiros <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al. Entre estes estavam<br />
Pedro Richard, Batuíra e Vieira <strong>de</strong> Macedo,<br />
que não só faziam palestras ilustres, como ajudaram<br />
com seus serviços prestados aos enfermos, com entrega<br />
<strong>de</strong> medicamentos homeopáticos, aliás muito<br />
utilizados por Cairbar, que apren<strong>de</strong>ra a manipulálos.<br />
As lutas <strong>de</strong> Schutel, como sempre aconteceu aos<br />
gran<strong>de</strong>s pioneiros, não po<strong>de</strong>riam ser diferentes. Difamações,<br />
calúnias, polêmicas e críticas <strong>de</strong>strutivas.<br />
Maledicências espalhavam-se, trazendo muito<br />
<strong>de</strong>sconforto ao Centro Espírita “Amantes da Pobreza”.<br />
Mas, ele continuava firme em seus propósitos.<br />
Por vezes, ainda guardando os impulsos inferiores<br />
que fazem parte do ser reencarnado, com a finalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> serem trabalhados, para alcançar-se o controle das<br />
emoções mais fortes, foi ele visitado, certa vez, para<br />
que fosse testado na sua fé e na serenida<strong>de</strong>, diante <strong>de</strong><br />
fatos irritantes aos ser humano.<br />
Matão, naquela época, como qualquer cida<strong>de</strong> interiorana,<br />
era pequena, quase um sítio em gran<strong>de</strong>s<br />
áreas, portanto, profundamente católica. Seus poucos<br />
habitantes eram, por assim dizer, mandados em<br />
sua fé pelo padre local, que era o padre João Batista<br />
Van Esse. Todos o temiam por sua violência, mas o<br />
queriam assim mesmo, para que pu<strong>de</strong>ssem se confrontar<br />
com os espíritas. Auxiliados pelas idéias do<br />
padre, queriam expulsar Cairbar e seus aliados do<br />
local. Imaginaram incendiar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a farmácia até a<br />
8<br />
Foto da<br />
farmácia on<strong>de</strong><br />
Cairbar Schutel<br />
trabalhou logo<br />
que chegou em<br />
Araraquara, SP.<br />
casa, para <strong>de</strong>struir com esse ato perverso o Centro<br />
Espírita “Amantes da Pobreza”.<br />
O sub<strong>de</strong>legado local, o senhor Otávio Men<strong>de</strong>s,<br />
não só por ser amigo e simpatizante do movimento<br />
espírita, dirigido por Schutel, resolveu avisá-lo dos<br />
atos que só Deus saberia que rumo tomaria, se alguém<br />
não pusesse fim a esse conflito.<br />
Sabedor disto, Schutel, comunicou ao sub<strong>de</strong>legado<br />
que, como autorida<strong>de</strong> policial da Comarca, que<br />
tomasse as providências, pois ele iria abrir o Centro<br />
como sempre, e os trabalhos seriam normais.<br />
O cuidado <strong>de</strong> Schutel foi enviar telegramas para<br />
o Governador do Estado, o Chefe <strong>de</strong> Polícia e para<br />
o Comandante da 2ª Região Militar, dando informes<br />
sobre o que se passava em Matão.<br />
Isto, porque o Centro não era clan<strong>de</strong>stino, tinha<br />
alvará <strong>de</strong> abertura correta e dignamente transcrito,<br />
como a lei exigia. Portanto, que fossem tomadas medidas<br />
urgentes, caso houvesse algo mais sério, como<br />
estavam programando.<br />
Pensando nos acontecimentos, Schutel abriu<br />
o Centro como sempre, e só não permitiu que as<br />
senhoras e as crianças entrassem. Só os homens<br />
permaneceriam, pois ele já havia combinado como<br />
seria o contra-ataque; se necessário fosse, quando<br />
ele <strong>de</strong>sse um sinal com as mãos, todos se jogariam<br />
ao chão.<br />
Abriram-se as janelas, portas da frente e laterais<br />
e, após a prece inicial, Schutel começou a comentar<br />
o Evangelho. Falava o mais alto possível. Parecia<br />
que muitos microfones estavam ligados, e sua voz se<br />
propalava pelas ruas próximas.<br />
Logo após, ouviu-se as vozes do pessoal que realizavam<br />
a procissão. Cantos e as ladainhas proferidas pelos<br />
fiéis comandados pelo Padre Van Esse. Sob suas<br />
vestes escondiam pedaços <strong>de</strong> paus, porretes, pedras<br />
etc. Imaginem, tudo em nome <strong>de</strong> Deus! Pensavam<br />
com isto, expulsar os <strong>de</strong>mônios e seus seguidores<br />
“que estavam tomando conta do local”.<br />
Quando chegaram em frente do Centro, começaram<br />
a gritar, proferir impropérios, levantavam as “armas”<br />
escondidas, em gran<strong>de</strong>s ameaças <strong>de</strong> entrarem<br />
no Centro e baterem em todos os que ali estavam<br />
“possuídos pelo <strong>de</strong>mônio”, cujo alvo principal era<br />
Schutel, por ser ele o chefe.<br />
Nisto, indignado por tanto barulho e confusão,<br />
um advogado, vizinho do Centro, sobe num muro<br />
próximo e naturalmente, ajudado pelo Alto, começa<br />
a gritar que parassem com tamanha falta <strong>de</strong> respeito.<br />
A esposa <strong>de</strong>le acabara <strong>de</strong> dar a luz, e não estava passando<br />
bem, assim como seu filhinho. Estava muito<br />
difícil para a parteira concretizar os trabalhos do<br />
difícil parto, com tanta gritaria. Dirigindo-se ao padre,<br />
<strong>de</strong>scendo do muro, pois já agora o barulho era<br />
menor, falou:<br />
— Se algo grave acontecer à minha esposa ou<br />
ao meu filhinho, o senhor e essa turba enlouquecida<br />
serão responsáveis. E ainda lembrou ao padre o<br />
<strong>de</strong>srespeito contra a Constituição <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1891, que punia severamente aquele que fosse
contrário à Lei do Silêncio, e que incomodasse o cidadão.<br />
Dizia ainda que, não estava ali como <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong><br />
Schutel, pois ele não havia solicitado seus préstimos,<br />
mas <strong>de</strong>fendia o direito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e<br />
<strong>de</strong> religião, segundo a Lei dos homens, a qualquer<br />
cidadão.<br />
Falava com tanta firmeza, que o povo com medo<br />
das ameaças <strong>de</strong> serem presos, começaram a correr, a<br />
empurrarem uns aos outros para não serem pegos em<br />
flagrante, como ameaçava o advogado, caso a polícia<br />
fosse acionada. O Padre Van Esse, embora tentasse<br />
acalmar a turba, teve sua batina rasgada, pois<br />
quando viu que a situação estava grave, quis fugir<br />
pela cerca <strong>de</strong> arame farpado, e ficou todo enroscado,<br />
<strong>de</strong>morando-se para soltar-se. Quase volta à igreja,<br />
sem roupas.<br />
Enquanto isso, Schutel prosseguia sua preleção,<br />
junto dos a<strong>de</strong>ptos da doutrina, sem praticamente ouvirem<br />
as confusões da rua.<br />
Soube ele dos acontecimentos no dia seguinte.<br />
Mas nem por isso, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ouvir as palavras, como<br />
sempre sábias do Plano Espiritual que em se manifestando<br />
chamou duramente a atenção <strong>de</strong> Schutel,<br />
como orientador da Instituição, dizendo:<br />
— Cairbar, que fé você diz professar? On<strong>de</strong> os<br />
acontecimentos terrenos, com matizes <strong>de</strong> violência,<br />
serem providências ao Bem? Estávamos atentos,<br />
dando toda proteção à vocês! Quando Cairbar, que<br />
você vai apren<strong>de</strong>r a ter fé em seus guardiães?<br />
Cairbar chorava profundamente arrependido, por<br />
ter incentivado os companheiros a revidarem também<br />
com violência, caso fossem atacados. O sinal<br />
<strong>de</strong> alarme combinado por ele, era para que todos pegassem<br />
as armas escondidas, ao lado <strong>de</strong> cada um, enquanto<br />
<strong>de</strong>itados no chão. Schutel pedia perdão, pois<br />
esquecera a passagem do Evangelho, que nos ensina<br />
que só o <strong>Amor</strong> constrói. Enten<strong>de</strong>u a lição, assim<br />
como todos os companheiros, que se propuseram a<br />
repensar no caso e propalar a paz, em qualquer circunstância.<br />
O Padre Van Esse foi transferido após o acontecimento.<br />
Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar Araraquara, teve um ato<br />
digno. Foi até Matão <strong>de</strong>spedir-se <strong>de</strong> Schutel. Dissera<br />
ele estar ali para abraçá-lo, pois compreen<strong>de</strong>ra<br />
a atitu<strong>de</strong> infantil <strong>de</strong> ambas as partes, ao qual Schutel<br />
respon<strong>de</strong>u:<br />
— Penso que a Verda<strong>de</strong> está comigo, mas creia<br />
não haverá ressentimentos, pois o espírita <strong>de</strong>ve perdoar<br />
sempre.<br />
O Padre Esse não <strong>de</strong>ixou por menos e completa:<br />
— Perdoemo-nos uns aos outros. Todos erramos.<br />
Mas quero partir <strong>de</strong> Matão levando bons pensamentos.<br />
Finalmente abraçaram-se sem as farpas do orgulho,<br />
que os instigava para <strong>de</strong>savenças. Os espíritos que<br />
acompanhavam a cena, respiraram aliviados.<br />
Desta forma, Schutel sempre foi atacado pelos<br />
jornais e por cartas. Ele procurava com clareza, ser<br />
firme nas respostas, mas com as lições <strong>de</strong> testemunho<br />
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
<strong>Espíritas</strong> <strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong><br />
que era obrigado a dar, apren<strong>de</strong>ra a ser calmo e paciente.<br />
As polêmicas vindas <strong>de</strong> outros credos, se<br />
faziam persistentes pelos seus lí<strong>de</strong>res católicos, protestantes,<br />
evangélicos etc, em praça pública com altofalantes<br />
potentes, procurando ridicularizar Cairbar por<br />
uma fé digna <strong>de</strong> “loucos”. Com isto, vieram muitos<br />
livros escritos por ele como: Imortalida<strong>de</strong> da Alma,<br />
O Diabo e a Igreja e Carta a Esmo. Muitos artigos<br />
em jornais da Capital e pelo interior <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Fazia-se presente em palestras ilustrativas, por on<strong>de</strong><br />
fosse chamado.<br />
Isto fez com que a Doutrina tivesse sua pureza, e<br />
passasse a ser conhecida por milhares <strong>de</strong> pessoas.<br />
Com o <strong>de</strong>correr do tempo, e cada vez mais empenhado<br />
em divulgar a doutrina, Schutel achou que<br />
chegara a hora <strong>de</strong> ter um jornal próprio. Todos comungaram<br />
seu i<strong>de</strong>al. Os espíritas, já em número maior,<br />
a<strong>de</strong>riram à idéia. Que nome teria esse periódico?<br />
Todos acharam por bem chamá-lo <strong>de</strong> “O Clarim”,<br />
pois ele seria o som que <strong>de</strong>veria repercutir em altos<br />
brados, a profissão <strong>de</strong> fé espiritual, que cada ser<br />
Prédio antigo, on<strong>de</strong> nasceu a Casa Editora O Clarim,<br />
na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Matão, SP (foto <strong>de</strong> 1924).<br />
reencarnado <strong>de</strong>veria ouvir, fosse on<strong>de</strong> fosse, levado<br />
pelas vozes que o lessem.<br />
No início, foi difícil o povo <strong>de</strong> Matão ter o jornal<br />
“O Clarim” em mãos. Muitos, levados por idéias<br />
pré-concebidas, orientados pelos fanáticos religiosos,<br />
queimavam-no, e para que todos vissem isto,<br />
era feito no meio da rua e com aclamações ruidosas<br />
<strong>de</strong> caráter ofensivo à Doutrina. Mas Schutel não se<br />
<strong>de</strong>ixou abater, e até hoje “O Clarim” circula em todos<br />
os lugares.<br />
O movimento espírita em Matão continuou.<br />
Schutel chegava ao ponto <strong>de</strong> levar os doentes, enfermos<br />
do corpo ou do espírito, para sua própria casa,<br />
para atendê-los mais <strong>de</strong> perto. Desdobrava-se nas<br />
tarefas. Pouco dormia, pois a farmácia e a gráfica<br />
tomavam mais ainda o seu tempo, tão precioso na<br />
Terra.<br />
Desenvolveu ele as faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> psicofonia, psicografia,<br />
vidência, audiência e a mediunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> curas.<br />
9
Foi um esposo amoroso e respeitoso, pois Dona<br />
Mariquinhas era portadora <strong>de</strong> uma doença <strong>de</strong> pele,<br />
que diziam os médicos terrenos ser lúpus ou hanseníase.<br />
Mas o Dr. Agripino Dantas Martins, com os<br />
exames rigorosos a que ela fez, constatou que não,<br />
sem portanto, chegar-se a algum termo final.<br />
Isto levou Schutel a escrever para outra gran<strong>de</strong><br />
personalida<strong>de</strong> mediúnica, Eurípe<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Barsanulfo,<br />
com o fim <strong>de</strong> saber o que fazer, pois os amigos espirituais<br />
<strong>de</strong>ram-lhe esta sugestão.<br />
Eurípe<strong>de</strong>s prontificou-se no auxílio à distância,<br />
marcando horário para que ambos recebessem o amparo<br />
do Alto, a benefício <strong>de</strong> Dona Mariquinhas. Essa<br />
doença, sem causa <strong>de</strong>finida no mundo físico, durou<br />
quarenta anos. Schutel sempre esteve ao seu lado,<br />
apoiando-a nos momentos difíceis, principalmente<br />
no final, quando as dores eram intensas, e ela ficava<br />
toda inchada, com a pele ralada e vermelha.<br />
Mas ela também continuava, embora doente, a incentivá-lo<br />
no trabalho da doutrina. Pedia também<br />
às senhoras que não <strong>de</strong>scuidassem da assistência,<br />
do Evangelho no Lar e do<br />
encaminhamento das crianças<br />
na escola. De resto, dona<br />
Mariquinhas a tudo suportava<br />
com resignação. Esta ela<br />
adquiriu quando abraçou a<br />
Doutrina, ao lado do marido.<br />
Compreen<strong>de</strong>u que era sua<br />
prova, portanto, hora do testemunho<br />
perante Deus.<br />
Os trabalhos <strong>de</strong> benemerência<br />
continuavam. Schutel era<br />
auxiliado pela sua filha adotiva,<br />
Benedita Silvério. En-<br />
quanto dona Mariquinhas<br />
podia, ambas dividiam as<br />
tarefas <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a todas as<br />
famílias que batiam à porta,<br />
em busca <strong>de</strong> alimento, roupa e calçados. Além <strong>de</strong><br />
servirem o almoço e o jantar, a quem precisasse.<br />
Diziam as pessoas que o Sr. Schutel era muito<br />
bravo, mas tinha um coração <strong>de</strong> ouro. O que ele era<br />
na verda<strong>de</strong>, era o disciplinador, aquele que não admitia<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns. Hora da prece, era a hora sagrada e<br />
<strong>de</strong> respeito, exigia <strong>de</strong> velhos, crianças, fosse quem<br />
fosse. Não admitia conversação em altos tons, e nem<br />
mesmo empurra-empurra. Tudo era muito bem controlado.<br />
Três eram as datas comemoradas no Centro Espírita<br />
“Amantes da Pobreza”: Finados, para que fosse<br />
divulgada a continuida<strong>de</strong> da vida e não da morte; a<br />
Páscoa, por ser a entrada do inverno, on<strong>de</strong> eram entregues<br />
agasalhos e cobertores, mas antes a explicação<br />
<strong>de</strong>ssa comemoração, que nada significa para a<br />
Doutrina, e o Natal. Aí sim a festa era maior. Todo<br />
o povo <strong>de</strong> Matão, por este acontecimento, esqueciam<br />
as rixas e ajudavam, com doces, mantimentos e<br />
brinquedos e, principalmente, todos que vinham para<br />
ajudar nos festejos, assistiam as palavras <strong>de</strong> Schutel,<br />
10<br />
lembrando o Cristo pela sua passagem no mundo físico.<br />
Diziam que, embora o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas<br />
que se aglomeravam para ouvi-lo, nenhum barulho<br />
incomodava, pois até o vôo <strong>de</strong> um inseto perturbava,<br />
tanto era o silêncio e o respeito do momento.<br />
O tempo passa célere, e com isto, Matão foi se<br />
<strong>de</strong>senvolvendo. Com o aumento do povo, que com<br />
vagar foram chegando e erguendo suas casas, com os<br />
sitiantes crescendo em suas lavouras, sentiu Cairbar<br />
que a cida<strong>de</strong> tendo avançado em seu progresso, necessitava<br />
<strong>de</strong> um hospital. Surgiu a idéia <strong>de</strong> que todos<br />
os que freqüentavam o Centro e o povo em geral,<br />
ajudassem na campanha da fundação <strong>de</strong>sse hospital.<br />
O Doutor Agripino Dantas Martins sabia <strong>de</strong>ssa necessida<strong>de</strong>,<br />
pois fora a farmácia, o atendimento <strong>de</strong>le<br />
e o <strong>de</strong> Schutel, não havia mais nada. Precisava-se<br />
recorrer a São Paulo ou a Araraquara nos casos mais<br />
urgentes. Portanto, com todo empenho, li<strong>de</strong>rados por<br />
Schutel, surgiu o “Hospital da Carida<strong>de</strong>”.<br />
E no dia 2 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1912, o jornal “O Clarim”,<br />
noticia sua inauguração. Foi gran<strong>de</strong> o contentamento<br />
da população.<br />
Outro fato interessante<br />
ocorrido na vida<br />
<strong>de</strong> Cairbar Schutel, foi<br />
pelo ano <strong>de</strong> 1913, precisamente<br />
em novembro.<br />
Já salientamos que uma<br />
das épocas que Cairbar<br />
gostava <strong>de</strong> mencionar<br />
em suas palestras, era<br />
o Finados. Isto, porque<br />
ele achava que as pessoas<br />
precisavam saber<br />
que a Doutrina, levava<br />
Cairbar Schutel ao volante <strong>de</strong> seu Ford,<br />
em 25 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1931.<br />
consolo aos corações<br />
dos parentes que passavam<br />
por esse momento<br />
tão difícil <strong>de</strong> superar, a<br />
separação causada pela morte. Era necessário falar<br />
sobre a existência do espírito após a morte.<br />
Nesse ano, portanto, alegre por ver o “Hospital<br />
da Carida<strong>de</strong>” funcionando plenamente, ele resolve<br />
tirar uma edição extra do “O Clarim”, expondo<br />
a data <strong>de</strong> Finados. Fora uma tiragem <strong>de</strong> 40.000<br />
exemplares, que foram enviados a todos os cantos.<br />
O próprio Cairbar foi aos cemitérios e adjacências<br />
para distribuí-los. Porém, qual não foi a surpresa<br />
<strong>de</strong> Cairbar receber um telegrama do <strong>de</strong>legado<br />
Dr. Rudge Ramos, <strong>de</strong> São Paulo, proibindo terminantemente<br />
a distribuição do jornal, nos cemitérios<br />
do “Araçá” e da “Consolação”. Foram apreendidos<br />
muitos exemplares, e Cairbar foi ameaçado <strong>de</strong> ir para<br />
a prisão, caso insistisse. Mesmo assim, foram distribuídos<br />
mais <strong>de</strong> 1.500 exemplares. Mesmo aqueles<br />
que eram jogados ao chão, sempre alguém pegava,<br />
portanto, quase nenhum fora perdido.<br />
Mas o fato foi amplamente divulgado, e todos os<br />
jornais <strong>de</strong> todos os estados do Brasil, se manifestaram<br />
formando uma corrente <strong>de</strong> protestos contra o tal
<strong>de</strong>legado, Dr. Rudge Ramos.<br />
O jornal “Correio da Manhã”, <strong>de</strong> São Paulo, fez<br />
uma gran<strong>de</strong> matéria intitulada: “Atentado à Imprensa”.<br />
Entre outras coisas, o repórter pergunta: “On<strong>de</strong><br />
achou esse Delegado a base para tal proibição? Será<br />
que o Chefe <strong>de</strong> Polícia tomou conhecimento <strong>de</strong>sse<br />
absurdo? Pois isso é ilícito, contra os princípios<br />
constitucionais, <strong>de</strong>pondo também contrário aos po<strong>de</strong>res<br />
policiais <strong>de</strong> São Paulo, portanto, não <strong>de</strong>ve ficar<br />
impune, restando ao Dr. Secretário <strong>de</strong> Justiça e Segurança<br />
Pública, tomar as <strong>de</strong>vidas providências.<br />
A avalanche <strong>de</strong> cartas vindas <strong>de</strong> todas as cida<strong>de</strong>s<br />
do interior, <strong>de</strong> todos os estados, também fizeram com<br />
que o assunto não fosse esquecido, pois durante meses<br />
as publicações em todos os jornais, foram imensas,<br />
tornando-se recor<strong>de</strong> <strong>de</strong> vendagem. Dessa forma,<br />
a Doutrina ganhou novos a<strong>de</strong>ptos e muitos outros<br />
“Centros <strong>Espíritas</strong>” apareceram, levando luz aos que<br />
procuravam esclarecimentos evangélicos.<br />
O jornal “O<br />
Clarim”, foi<br />
fundado por<br />
Cairbar Schutel<br />
em 15 <strong>de</strong> Agosto<br />
<strong>de</strong> 1905, editado<br />
até os dias <strong>de</strong><br />
hoje, sendo<br />
um importante<br />
órgão <strong>de</strong> divulgação<br />
da doutrina<br />
espírita.<br />
Em julho <strong>de</strong> 1914, Schutel, passou a fazer o<br />
Evangelho na Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> Matão. Com isto,<br />
os presos recebiam passes também. Os policiais<br />
passaram a notar que após, os presos ficavam mais<br />
calmos, e menos agressivos uns com os outros.<br />
Quando havia algum sinal <strong>de</strong> rebelião, os policiais<br />
imediatamente pediam socorro a Schutel.<br />
Essas visitas passaram a ser feitas, também, na<br />
Ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Araraquara. Por ser maior, os presos<br />
iam para um salão, on<strong>de</strong> Schutel lia e comentava o<br />
Evangelho, levando muitos presidiários a emocionarem-se,<br />
e pedirem perdão pelos crimes cometidos.<br />
Gran<strong>de</strong> era a fluidificação sentida, saída do coração<br />
<strong>de</strong> Eurípe<strong>de</strong>s Barsanulfo, orientador <strong>de</strong>sse trabalho<br />
em <strong>de</strong>sdobramento, <strong>de</strong>senvolvido por Cairbar.<br />
Numa <strong>de</strong>ssas vezes, alguém tirando uma foto à<br />
hora do passe, ao revelar-se a fotografia, via-se duas<br />
mãos erguidas ao Alto, num sinal <strong>de</strong> bênçãos vindas<br />
do céu.<br />
As curas, por intermédio <strong>de</strong> Cairbar, foram sem<br />
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
<strong>Espíritas</strong> <strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong><br />
prece<strong>de</strong>ntes. De todas as partes chegavam doentes<br />
<strong>de</strong> lugares longínquos, trazendo a fé inabalável no<br />
coração. Cairbar atendia pacientemente, agra<strong>de</strong>cendo<br />
a Jesus a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar sendo útil.<br />
Mas na divulgação da Doutrina, Cairbar acalentava<br />
outro sonho. Queria editar uma revista. Esta <strong>de</strong>veria<br />
ter um caráter mais profundo. Deveria abordar<br />
temas que servissem para estudos <strong>de</strong> medicina, <strong>de</strong> filosofia<br />
e da ciência em geral. Era necessário traduzir<br />
temas da La Revue Spirite, Vie D’Outre Tombe,<br />
City Nerris, Luce e Ombra, The Two Worlds, Ghost<br />
Stories, Psychic Science, La Tribuna <strong>de</strong> Genéve etc.<br />
Eram pesquisadores e escritores como Sir Oliver<br />
Lodge, Sir Arthur Conan Doyle, Ernesto Bozzano,<br />
Camille Flamarion, entre tantos outros, que conheciam<br />
a doutrina profundamente. Cairbar sonhava em<br />
traduzir esses artigos, e trazê-los editados nessa revista.<br />
Possivelmente chamar-se-ia “Revista Internacional<br />
do Espiritismo (RIE)”.<br />
Cairbar contava com a gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e compreensão<br />
<strong>de</strong> seu amigo Luiz Carlos Oliveira Borges,<br />
morador em Dourados, estado do Mato Grosso do<br />
Sul, que vindo a Matão visitá-lo, soube <strong>de</strong> seu i<strong>de</strong>al,<br />
mais um feito na publicação <strong>de</strong>ssa revista, para beneficiar<br />
e propagar a Doutrina. Luiz Carlos apaixonouse<br />
pela idéia, e ajudou Cairbar em tornar esse sonho<br />
em realida<strong>de</strong>.<br />
A Revista Internacional do Espiritismo circula até<br />
hoje. Ela teve muitos a<strong>de</strong>ptos, já na pátria espiritual,<br />
que em vida física ajudaram em seu <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
como até agora, Espíritos como: Ismael Gomes<br />
Braga, Militão Pacheco, dona Maria Elisa Oliveira<br />
Borges (esposa do senhor Luiz Carlos), entre outros.<br />
Schutel procurava sempre trocar correspondências<br />
com Eurípe<strong>de</strong>s e Chico Xavier, a respeito das<br />
publicações do jornal “O Clarim”, e com o lançamento<br />
da Revista Internacional. Ambos respondiam,<br />
ajudando-o no que fosse possível.<br />
Chico conta que teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer<br />
Schutel, ainda no plano físico, uma única vez. Isto<br />
porque fora ele, Chico, convidado a comparecer<br />
numa semana espírita que se realizaria em São Paulo.<br />
Diz ainda o médium, que nunca tendo saído, até<br />
então, <strong>de</strong> Pedro Leopoldo, cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> morava e trabalhava,<br />
no Ministério da Agricultura, pensava ser<br />
São Paulo ali mesmo.<br />
Saiu só com a roupa do corpo, não imaginava que<br />
a viagem duraria trinta e seis horas. Chegou no dia<br />
seguinte! Mas com muita dificulda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> chegar<br />
ao referido local e lá conheceu Cairbar Schutel.<br />
Após as apresentações e entendimentos fraternos,<br />
Schutel convidou Chico a acompanhá-lo à casa <strong>de</strong><br />
seu gran<strong>de</strong> amigo, Luiz Carlos Borges, pois a esposa<br />
estava muito mal, e este havia lhe solicitado a presença<br />
para ministrar-lhe um passe. Chico o acompanha,<br />
e acha a casa triste e fria. Oram, porém, não<br />
pu<strong>de</strong>ram a<strong>de</strong>ntrar ao quarto da enferma, pelo momento<br />
<strong>de</strong> precarieda<strong>de</strong> do seu estado.<br />
Chico lembrou-se <strong>de</strong>sse fato com muita emoção, e<br />
contou que após esse fato ele só retornou a ver Cair-<br />
11
ar através das psicografi as que recebeu <strong>de</strong>le, após<br />
seu <strong>de</strong>sencarne e também por volta <strong>de</strong> 1975, numa<br />
sessão <strong>de</strong> materialização, com a médium Dona Hilda<br />
Odilon Negrão, que Chico compareceu e po<strong>de</strong> conversar<br />
com Schutel, pelo fenômeno da voz direta.<br />
Schutel agra<strong>de</strong>cia a Chico, pelo carinho e falava<br />
<strong>de</strong> seu agra<strong>de</strong>cimento a Deus, por ter tido em dona<br />
Mariquinhas, o apoio e a alma <strong>de</strong> sua tarefa, e por<br />
ter sido a esposa compreensiva e amiga em todas as<br />
horas.<br />
Cairbar já estava beirando os seus quase setenta<br />
anos nesta reencarnação. Seu corpo estava<br />
<strong>de</strong>monstrando os <strong>de</strong>sgastes naturais, tendo sido uma<br />
vida tão intensamente vivida. Seu coração mostravase<br />
cansado.<br />
As lutas foram muitas e dolorosas. Mas ele houvera<br />
sido um dos “muitos a ser chamados e um dos<br />
poucos escolhidos”. Mas ele já havia provado “a que<br />
viera”.<br />
E mais ou menos lá pelo dia 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />
1938, seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> complicou-se. As dores<br />
no peito o impediam da dar a continuida<strong>de</strong> às tarefas.<br />
Sentia ele o fi m próximo. Não podia nem fi car<br />
<strong>de</strong>itado, apenas recostado entre travesseiros, numa<br />
ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> vime.<br />
Dona Antoninha Perche, leal amiga do casal, era a<br />
quem Schutel transferira as ocupações da casa, após<br />
a partida <strong>de</strong> sua venerável esposa. Dona Antoninha<br />
dividia as tarefas com sua irmã Zelia, porém, quando<br />
as dores se tornavam mais fortes no peito <strong>de</strong> Schutel,<br />
ela era a quem Schutel havia ensinado a aplicação da<br />
injeção, indicada pelo Dr. Agripino Dantas Martins.<br />
Este o acompanhou até as últimas horas. Dois dias<br />
antes <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sencarne, Schutel pediu à sua amiga,<br />
Antoninha, para aproximar-se, pois ele já não conseguia<br />
falar claro e alto. Dona Antoninha colocou o<br />
ouvido bem perto, e Schutel muito tímido disse:<br />
— Minha amiga, não pense que estou <strong>de</strong>lirante<br />
ou fora <strong>de</strong> juízo, mas vi Jesus! Não conte a ninguém,<br />
mas estava em preces fazendo um retrospecto da<br />
minha vida, e pedia perdão pelas horas perdidas, e<br />
pelo muito que <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> realizar pelo meu incontrolado<br />
orgulho. Quando eu O vi. Aproximou-se e me<br />
consolou. E Schutel chorava convulsivamente, junto<br />
com dona Antoninha que o abraçava, como mãe envolvendo<br />
o fi lho, naquela hora tão resplen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
luz. E no dia 30 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1938, <strong>de</strong>ixava a Terra<br />
esse gran<strong>de</strong> batalhador da Doutrina Espírita. Partira<br />
o Apóstolo dos Pobres <strong>de</strong> Matão.<br />
Gran<strong>de</strong> foi a comoção. A notícia espalhou-se rá-<br />
Bibliografi a:<br />
12<br />
pida e seu cortejo, foi um dos maiores, dizem que,<br />
até então, o maior féretro teria sido <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Anchieta,<br />
o “Apóstolo da Carida<strong>de</strong>”, mas o <strong>de</strong> Schutel,<br />
por ter se mantido fi rme em seus propósitos, e sempre<br />
enérgico em suas atitu<strong>de</strong>s doutrinárias, ganhara<br />
o respeito <strong>de</strong> toda Matão e adjacência. Foi muito<br />
homenageado em todos os cantos como “O Ban<strong>de</strong>irante<br />
do Espiritismo”.<br />
A “Revista<br />
Internacional <strong>de</strong><br />
Espiritismo”, foi<br />
fundada por<br />
Cairbar Schutel<br />
em 15 <strong>de</strong> Fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1925, editada<br />
até os dias <strong>de</strong> hoje,<br />
sendo <strong>de</strong>dicada aos<br />
estudos anímicos e<br />
espíritas.<br />
Com todo conhecimento, a vida <strong>de</strong>dicada à<br />
Doutrina, e pelas experiências adquiridas, Cairbar no<br />
mesmo dia do <strong>de</strong>sligamento do plano físico, usou da<br />
mediunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu amigo e seguidor fi el nas tarefas,<br />
o senhor Urbano, e falou aos que ali estavam em<br />
seu quarto, nas últimas horas <strong>de</strong> vida. Combinavam<br />
o local e o túmulo <strong>de</strong> Cairbar, quando este usando da<br />
mediunida<strong>de</strong> obtemperou, espantando a todos:<br />
— Amigos, preciso falar o que sinto neste momento.<br />
Ainda há pouco, vocês conversavam sobre<br />
como seria meu túmulo, que querem erguer para<br />
mim. Porém, embora agra<strong>de</strong>cido, peço-lhes não<br />
fazer isso. Por quê túmulo? O espírita não precisa<br />
disso. Se pu<strong>de</strong>rem, façam uma simples lápi<strong>de</strong> com<br />
os dizeres:<br />
“Cairbar Schutel! Vivi, Vivo e Viverei porque sou<br />
imortal”.<br />
Todos comoveram-se e não duvidaram, pois realmente<br />
era Schutel que exprimia sua última vonta<strong>de</strong>.<br />
E assim foi feito.<br />
Cairbar continuou a nos enviar muitas mensagens<br />
através da psicografi a do médium Chico Xavier, contida<br />
em vários livros como: Luz no Lar, <strong>Seareiro</strong>s <strong>de</strong><br />
Volta e muitos outros.<br />
Eloisa<br />
* Gran<strong>de</strong>s <strong>Espíritas</strong> do Brasil, Zêus Wantuil, FEB, 1ª edição, 1969<br />
* O Ban<strong>de</strong>irante do Espiritismo, Eduardo Carvalho Monteiro e Wilson Garcia, O Clarim, 1ª edição, 1986<br />
* Cairbar Schutel na Intimida<strong>de</strong>, Sérgio Lourenço, Luz no Lar, 1ª edição, 1989<br />
* O Clarim, <strong>de</strong> 13.06.1914.
Cantinho do Verso em Prosa<br />
cantinho do verso em prosa<br />
Finados<br />
Finados, para a Terra, é o dia em que homenageamos<br />
o “Dia dos Mortos”. Quando, para o mundo espiritual,<br />
é o signifi cado da liberda<strong>de</strong> do Espírito. Desprendimento<br />
da carne do corpo físico.<br />
Se pudéssemos compreen<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>ssa forma, a Lei <strong>de</strong><br />
<strong>Amor</strong>, a Lei mais perfeita vindo <strong>de</strong> Deus, pelo testemunho<br />
do Mestre Jesus, quanto em bênçãos levaríamos<br />
aos corações dos entes queridos que partem.<br />
Toda essa situação, conforme se apresenta, <strong>de</strong>veria<br />
ser interpretada pelos que fi cam, parentes ou amigos,<br />
como uma breve separação. A prece é a única oferenda<br />
aliada às lições contidas no O Evangelho segundo<br />
o Espiritismo, que traz conforto e a sensação da paz<br />
interior.<br />
Deveríamos procurar enten<strong>de</strong>r, que a Misericórdia<br />
<strong>de</strong> Deus, une as criaturas no bálsamo santifi cante do<br />
núcleo familiar, para que os resgates se cumpram <strong>de</strong><br />
maneira mais branda.<br />
O reconhecimento e a gratidão <strong>de</strong>vem se fazer<br />
Livro em Foco<br />
livro em foco<br />
Obras Póstumas<br />
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
<strong>Espíritas</strong> <strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong><br />
Trova recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier,<br />
em 02.11.63, pelo espírito <strong>de</strong> Isolino Leal,<br />
em Uberaba, na Comunhão Espírita Cristã,<br />
Reformador, FEB, 1964.<br />
Finados!... Feliz do morto<br />
Que encontra, pensando em casa,<br />
Uma oração <strong>de</strong> esperança<br />
À beira da cova rasa<br />
presentes na hora <strong>de</strong>fi nitiva da partida, para que essa<br />
transição, seja acompanhada pelos prepostos <strong>de</strong> Jesus.<br />
Nesse ambiente, com o controle das emoções<br />
naturais do momento, po<strong>de</strong>rá o ente amado ter o<br />
envolvimento fl uídico <strong>de</strong> um “fi nal feliz”, pois não<br />
houveram queixas, cobranças, revoltas...<br />
Apenas a dor da sauda<strong>de</strong>!<br />
As lágrimas misturam-se com a esperança do “novo<br />
porvir”, mas antes, as mentes que encarnadas evocam<br />
a presença dos bons espíritos, po<strong>de</strong>m entrelaçar-se<br />
com as vibrações <strong>de</strong> sublimes vozes, que aromatizam<br />
o ambiente com fl ores feitas <strong>de</strong> <strong>Amor</strong>!<br />
Elielce<br />
Obras Póstumas<br />
Allan Kar<strong>de</strong>c<br />
397 páginas<br />
FEB<br />
Conhecer o pensamento do maior responsável humano pelo surgimento do Espiritismo<br />
entre os homens é um privilégio <strong>de</strong> elevado apetite intelectual, que todo<br />
espírita sincero e <strong>de</strong>dicado <strong>de</strong>veria saborear. Obras Póstumas, editada pela primeira<br />
vez em Paris em 1890, reúne importantes textos que o Codifi cador <strong>de</strong>ixou, quer <strong>de</strong><br />
caráter teórico sobre diversos assuntos, quer sobre fatos relativos às suas ativida<strong>de</strong>s<br />
espíritas. Nele encontramos o discurso <strong>de</strong> Camille Flammarion, pronunciado junto ao<br />
túmulo <strong>de</strong> Kar<strong>de</strong>c, por ocasião <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sencarne, relatando características <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong><br />
como incisiva, concisa, profunda, que sabia agradar e se fazer compreendido,<br />
numa linguagem ao mesmo tempo simples e elevada. O livro apresenta também<br />
valiosas contribuições sobre temas consi<strong>de</strong>rados fundamentais do Espiritismo, como:<br />
Deus, a alma, a criação, o perispírito, manifestações visuais, conhecimento do futuro,<br />
estudos sobre a natureza do Cristo sob vários ângulos e incorpora a este estudo a opinião dos apóstolos e a<br />
predição dos profetas, com relação a Jesus. Pierre-Gaétan Leymarie, organizador e editor da obra, incorporou no<br />
livro, textos que Kar<strong>de</strong>c <strong>de</strong>ixara registrado <strong>de</strong> suas experiências pessoais, como sua missão, seu Guia espiritual,<br />
etc., apresentando inclusive o que ele chamou <strong>de</strong> “Constituição do Espiritismo” com a exposição <strong>de</strong> motivos.<br />
Portanto, uma leitura imprescindível a todos que queiram um maior entendimento da Codifi cação Kar<strong>de</strong>quiana<br />
e dos ensinamentos do Cristo.<br />
13
Família<br />
No mês <strong>de</strong> novembro, temos uma data lembrada por<br />
todos. É o dia <strong>de</strong> finados, aon<strong>de</strong> muitas pessoas vão até<br />
aos cemitérios para “lembrar e homenagear” os seus familiares<br />
que estão “mortos”.<br />
Somos muitas vezes, levados a ter este hábito, sem<br />
nem ao menos refletir sobre os ensinamentos <strong>de</strong> Jesus à<br />
luz da Doutrina Espírita, sobre este assunto<br />
Sabemos que os nossos familiares não morreram. Estão<br />
mais vivos do que nunca!<br />
Muitas vezes estão ao nosso lado, em nossa própria<br />
residência e nem nos apercebemos disso ou, às vezes,<br />
temos aquela impressão <strong>de</strong> que aquele familiar <strong>de</strong>sencarnado<br />
estava conosco em <strong>de</strong>terminado momento. Segundo<br />
Emmanuel, “eles te vêem e te escutam! Quanto<br />
possível, seguem-te os passos compartilhando-te<br />
problemas e aflições!”<br />
Aliás, usamos o termo <strong>de</strong>sencarnado pois é mais<br />
coerente com a situação, afinal não morremos e sim<br />
“per<strong>de</strong>mos a carne” ou em melhores termos, <strong>de</strong>ixamos<br />
o corpo físico que não terá mais vida orgânica, mas o<br />
espírito continuará com as suas faculda<strong>de</strong>s normais.<br />
Não nos falou o Mestre Jesus que somos espíritos<br />
eternos?!<br />
Quem po<strong>de</strong>rá discordar <strong>de</strong> um ensinamento vindo da<br />
boca <strong>de</strong> Jesus?<br />
A pergunta 153 <strong>de</strong> “O Livro dos Espíritos” nos explica:<br />
“Em que sentido se <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r a vida eterna?<br />
A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória<br />
e passageira. Quando o corpo morre, a alma retoma<br />
a vida eterna.”<br />
Jesus não falou com os espíritos <strong>de</strong> Elias e <strong>de</strong> Moisés<br />
14<br />
familia<br />
Família no mundo dos espíritos<br />
Banca <strong>de</strong> Livros <strong>Espíritas</strong><br />
“Joaquim Alves<br />
(Jô)”<br />
Livros básicos da doutrina espírita. Temos os 412 livros<br />
psicografados por Chico Xavier, romances <strong>de</strong> diversos autores,<br />
revistas e jornais espíritas. Distribuição permanente <strong>de</strong><br />
edificantes mensagens.<br />
Venham nos visitar e ter acesso a todas essas obras.<br />
Praça Presi<strong>de</strong>nte Castelo Branco - Centro - Dia<strong>de</strong>ma - SP<br />
Tel 4043-4500 com Roberto<br />
Horário <strong>de</strong> funcionamento: 8:00 às 19:30 horas<br />
Segunda-feira à Sábado.<br />
no Monte Tabor?<br />
Se o espírito morre, como Jesus teria falado com<br />
aqueles dois personagens conhecidos <strong>de</strong> todos?<br />
O próprio Cristo não veio, após à crucificação, falar<br />
com os díscipulos?<br />
Todas estas perguntas encontram respaldo para a resposta<br />
no atributo na imortalida<strong>de</strong> do espírito.<br />
Se <strong>de</strong> tal forma Jesus nos ensinou, o que vamos fazer<br />
no cemitério?<br />
Este hábito vem da incapacida<strong>de</strong> das pessoas em<br />
acreditar na força que há no pensamento. Não precisaríamos<br />
ir até um <strong>de</strong>terminado local para homenagear ou<br />
lembrar <strong>de</strong> um ente querido que tenha <strong>de</strong>sencarnado.<br />
É só elevar o pensamento a Deus e pedir que abençoe<br />
aquele que <strong>de</strong>sencarnou. E isto po<strong>de</strong> ser feito em<br />
qualquer lugar, dia ou hora.<br />
Talvez seria recomendável que aproveitássemos o<br />
Culto do Evangelho no Lar, aon<strong>de</strong> possamos reunir os<br />
familiares, para fazermos uma oração em conjunto por<br />
aquele que <strong>de</strong>sencarnou.<br />
Se ele estiver em condições espirituais <strong>de</strong> vir até o<br />
local aon<strong>de</strong> está sendo realizado o Culto do Evangelho<br />
no Lar, ele ali estará.<br />
Caso ele não tenha esta condição, receberá as vibrações<br />
que sejam emitidas no momento da reunião.<br />
Conforme nos ensina Emmanuel, “<strong>de</strong>ixa que os corações<br />
amados, hoje no Mais Além, te enxuguem as lágrimas,<br />
inspirando-te ação e renovação, porque, no futuro,<br />
tê-los-ás a todos positivamente contigo nas alegrias do<br />
Novo Despertar.”<br />
Wilson<br />
VISITE NOSSO SITE<br />
Você po<strong>de</strong>rá obter informações sobre o Espiritismo,<br />
encontrar matérias sobre a Doutrina<br />
e tirar dúvidas sobre Espiritismo por e-mail.<br />
Po<strong>de</strong>rá também comprar livros espíritas e ler<br />
o <strong>Seareiro</strong> eletrônico, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r se associar<br />
ao nosso Clube do Livro.<br />
Visite-nos!<br />
www.espiritismoeluz.org.br
Kar<strong>de</strong>c em Estudo<br />
kar<strong>de</strong>c em estudo<br />
O Livro dos Espíritos - Pergunta 752<br />
“Po<strong>de</strong>r-se-á ligar o sentimento <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong> ao instinto <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição?<br />
É o instinto <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição no que tem <strong>de</strong> pior, porquanto, se, algumas vezes, a<br />
<strong>de</strong>struição constitui uma necessida<strong>de</strong>, com a cruelda<strong>de</strong> jamais se dá o mesmo.<br />
Ela resulta sempre <strong>de</strong> uma natureza má.”<br />
Fala-nos o Consolador: “no que tem <strong>de</strong> pior”. A<br />
cruelda<strong>de</strong> é o que a criatura tem <strong>de</strong> pior. Traz <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> si a fúria, o ódio, que <strong>de</strong>strói tudo que vê pela<br />
frente.<br />
Complementa ainda que, no primitivismo, ou seja,<br />
no <strong>de</strong>sconhecimento das lições divinas, o instinto <strong>de</strong><br />
preservação é maior, aguardando a cooperação dos<br />
povos mais <strong>de</strong>senvolvidos, para transmitir-lhes seus<br />
conhecimentos morais, e <strong>de</strong>ssa forma enfraquecer tal<br />
instinto.<br />
Alerta-nos ainda que estas criaturas que ainda tem<br />
o sentimento <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong>, são aquelas árvores más,<br />
apesar das oportunida<strong>de</strong>s constantes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem ser<br />
árvores boas, para darem bons frutos, mas que ainda<br />
não conseguiram enten<strong>de</strong>r o quão benéfi co seria a sua<br />
melhoria espiritual.<br />
A princípio, imaginamos essa cruelda<strong>de</strong> <strong>de</strong>struidora<br />
apenas nos romances e novelas, tão distantes <strong>de</strong> nossas<br />
vidas, no entanto, esse instinto ainda está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós,<br />
mesmo que não percebamos.<br />
Tão recentemente pu<strong>de</strong>mos tomar conhecimento <strong>de</strong><br />
uma senhora, cuja profi ssão era <strong>de</strong> Acompanhante <strong>de</strong><br />
Idosos, e no entanto, bateu até à morte numa senhora<br />
<strong>de</strong> 90 anos, <strong>de</strong> quem cuidava.<br />
Destruiu com sua cruelda<strong>de</strong>, não somente esta criatura,<br />
mas toda uma família que se viu aviltada em seus<br />
sentimentos mais nobres, permanecendo ali, marcas<br />
extremamente profundas.<br />
Sentimo-nos imunes, mas com apenas uma palavra<br />
que dirijamos a outrem, po<strong>de</strong>remos ter a força <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>struir não apenas uma pessoa, mas famílias, comunida<strong>de</strong>s<br />
e até uma nação. Aí estão, diante <strong>de</strong> nossos olhos,<br />
guerras tão sangrentas que muitas vezes as encaramos,<br />
equivocadamente, como fatos corriqueiros e comuns...<br />
É importante que saibamos que neste plano evolutivo<br />
a que nos encontramos, todos nós somos pos-<br />
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
<strong>Espíritas</strong> <strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong><br />
Cruelda<strong>de</strong> e Destruição<br />
suidores <strong>de</strong>sse instinto, mas que <strong>de</strong> acordo com o nosso<br />
esforço espiritual, po<strong>de</strong>mos estar ligados ao bem, o que<br />
faz com que se vá atenuando este instinto.<br />
Acabamos tendo um verda<strong>de</strong>iro verniz diante <strong>de</strong><br />
todos, constrangidos em não expormos o que verda<strong>de</strong>iramente<br />
somos e sentimos. Contrariados em nossas<br />
vonta<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos, muitas vezes lançamos o veneno<br />
<strong>de</strong>struidor do ódio a tudo e a todos, mesmo que apenas<br />
em pensamento, mas que perante Deus, o compromisso<br />
é o mesmo.<br />
A cruelda<strong>de</strong> não é uma <strong>de</strong>struição que se dá ao<br />
chamado acaso. Ela se dá por nossa escolha. Os atos<br />
cruéis que damos vazão, acontecem por nossa própria<br />
vonta<strong>de</strong>, e por falta do <strong>de</strong>senvolvimento do nosso senso<br />
moral. Este <strong>de</strong>senvolvimento se dará lentamente e,<br />
através do estudo constante do Evangelho, e pela prática<br />
da carida<strong>de</strong>, se fará <strong>de</strong>sabrochar sentimentos mais<br />
puros, sufocando os instintos que nos inspiram à cruelda<strong>de</strong>.<br />
Quando a maioria dos seres humanos compreen<strong>de</strong>rem<br />
esta necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evolução, não mais teremos<br />
esse mal, e sim o <strong>Amor</strong>. Mas, para isso, ainda será necessário<br />
que nos esforcemos a cada reencarnação, para<br />
que o aprimoramento <strong>de</strong>stes nossos sentimentos se faça<br />
a passos mais largos.<br />
Se a diminuição gradativa <strong>de</strong>sse mau, se dará<br />
através <strong>de</strong> nosso crescimento moral, e como já somos<br />
possuidores <strong>de</strong> uma pequena luz do Evangelho do<br />
Cristo, através das lições já recebidas <strong>de</strong> espíritos tão<br />
magnânimos que nos auxiliam tanto, não percamos a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levar à Jesus não só a nossa gratidão,<br />
mas também e principalmente as mãos no trabalho <strong>de</strong><br />
auxílio aos nossos irmãos mais necessitados <strong>de</strong> esclarecimento<br />
e <strong>de</strong> amor.<br />
Jesus, obrigado mais uma vez.<br />
Elvira<br />
Clube do Livro Espírita - “Joaquim Alves (Jô)”<br />
Receba mensalmente obras selecionadas <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com os ensinamentos espíritas. Informe-se através<br />
<strong>de</strong> telefone, e-mail ou correio. Caixa Postal, 42 - CEP 09910-970 - Dia<strong>de</strong>ma - SP<br />
(11) 4044-1563 (com Eloísa) - E-mail: seareiro@ig.com.br<br />
15
Órgão divulgador do <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> <strong>Espíritas</strong> “<strong>Amor</strong> e <strong>Esperança</strong>”<br />
Caixa Postal 42<br />
Dia<strong>de</strong>ma - SP<br />
09910-970<br />
Destinatário<br />
IMPRESSO