PARA ONDE O ENSINO DA FILOSOFIA 'DEVE CONDUZIR'? Rui ...
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<strong>PARA</strong> <strong>ONDE</strong> O <strong>ENSINO</strong> <strong>DA</strong> <strong>FILOSOFIA</strong> ‘DEVE CONDUZIR’?<br />
RESUMO<br />
<strong>Rui</strong> Valese 1<br />
Os 25 séculos de produção filosófica ininterrupta e em tempos atuais, com marcante<br />
presença nos currículos de Ensino Médio brasileiro, instiga a pensar sobre os rumos<br />
do ensino da Filosofia. A reflexão objeto desse texto tem o intento de apontar para<br />
alguns dos principais desafios quando se procura conceber uma metodologia<br />
específica para o ensino da Filosofia no nível Médio. Para tanto, toma-se a Filosofia<br />
como lugar da crítica do estabelecido, a história da filosofia e o texto filosófico como<br />
elementos centrais para compreensão dessa especificidade. Pensar sobre uma<br />
proposta didática de ensino de Filosofia implica, antes de tudo, pensar sobre “para<br />
onde deve conduzir o ensino da Filosofia”. Busca-se entender o que materializa esse<br />
“conduzir”, ou seja, que elementos intervenientes são necessários para instituir o<br />
pensar filosófico no lócus da escola. Como a Filosofia pode se realizar em sala de<br />
aula considerando o texto, tempo das aulas, sistema de avaliação, projeto político<br />
pedagógico da escola, diretrizes curriculares do curso, desejos e necessidades dos<br />
alunos, acervo cultural de alunos e professor? Estes elementos, ao longo da História<br />
da Educação, manifestaram-se de várias formas, desde a forma autoritária em que o<br />
professor se colocava como o detentor do saber, até o “democratismo”, onde o<br />
essencial da educação – o aprender e o ensinar – acaba não acontecendo.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Filosofia, Didática do Ensino de Filosofia, Leitura<br />
filosófica.<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
- Pode me dizer, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?<br />
- Isso depende do lugar para onde você deseja ir – respondeu o Gato.<br />
- O lugar para onde desejo ir? Francamente, para mim tanto faz.<br />
- Nesse caso, tanto faz o caminho que você seguirá.<br />
- Contanto que eu chegue a algum lugar...<br />
- Chega, na certa! Contanto que ande o tempo necessário.<br />
Alice viu que não era possível negar isso<br />
(CARROLL, 1991, p. 60-61).<br />
Diferente da resposta de Alice, no caso do ensino de Filosofia, o lugar para<br />
onde e por onde se quer caminhar, com o seu ensino, faz toda a diferença. Com<br />
certeza, como da mesma forma, não somente o destino, mas também o caminho a<br />
ser empreendido, bem como, com quem e como se irá caminhar. Aliás, esta não<br />
1<br />
Mestre em Educação pela UTP, Especialista em Filosofia Política pela UFPR e graduado<br />
em Filosofia pela PUCPR. É professor concursado de Filosofia e História do C. E. Dep.<br />
Arnaldo F. Busato, Pinhais. Além disso, é professor da FAPI, no curso de Serviço Social e<br />
Coordenador de Ensino a Distância da mesma Instituição.<br />
1
deve ser uma preocupação apenas do ensino de Filosofia, mas de todas as áreas do<br />
conhecimento. Como da mesma forma, também a escola, enquanto um momento e<br />
um espaço privilegiados, intencionalmente organizados para que se efetive o<br />
processo ensino-aprendizagem, deve-se colocar estas duas questões fundantes de<br />
sua existência: para e/ou por onde ir? Que caminho ou caminhos seguir?<br />
Mais do que um espaço físico, onde pessoas determinadas se encontram<br />
durante um tempo determinado, para realizar atividades também determinadas,<br />
relacionadas às suas especificidades, a escola é uma realidade histórica submetida<br />
a múltiplas determinações. Assim, saber para onde ir e que caminho seguir faz toda<br />
a diferença. Trata-se de pensar sobre o que se pretende com a escola e a<br />
educação. E, neste sentido, definir que função social a escola deverá cumprir:<br />
adaptar os indivíduos à sociedade na qual está inserida ou formar para o<br />
esclarecimento, a emancipação e a autonomia? Par e passo, ao se definir a função<br />
social da escola, o projeto político pedagógico, bem como o currículo e a seleção de<br />
disciplinas e seus respectivos conteúdos, como da mesma forma o processo ensino-<br />
aprendizagem estarão determinados.<br />
Foram 46 anos de ausência e não obrigatoriedade do ensino de Filosofia em<br />
Nível Médio na educação brasileira. Retomado o espaço, de onde nunca deveria ter<br />
saído, trata-se agora de legitimar esta nova realidade, ainda que as condições de<br />
seu retorno não sejam tão seguras, e talvez, exatamente por isto. Haja vista a<br />
decisão recente 2 , por exemplo, por parte do Conselho Estadual de Educação do<br />
Estado de São Paulo, de não entender o ensino de Filosofia (e de Sociologia) como<br />
disciplinas obrigatórias no currículo do Ensino Médio. Ainda que se possa questionar<br />
o equívoco do órgão paulista, no entanto, demonstra exatamente que a<br />
"obrigatoriedade" da Filosofia (e da Sociologia) nas séries finais da Educação<br />
Básica, não é nem consensual, nem segura.<br />
Ora, isto não é novidade na história da Filosofia. Tanto a produção do saber<br />
filosófico, quanto o seu ensino caminharam sob o fio da navalha. São 25 séculos de<br />
2<br />
Em 4 de julho de 2007, o Conselho Estadual de Educação de São Paulo reafirmou<br />
indicação já emitida em 20-09-2006, onde pronunciava-se “... pela não obrigatoriedade da<br />
introdução de Filosofia e Sociologia no currículo das Escolas de Ensino Médio, no âmbito de<br />
sua jurisdição, no ano de 2007, respeitado o já disciplinado pela Secretaria da Educação<br />
para as escolas da rede pública estadual, bem como, pelas escolas da rede privada de<br />
ensino” (CEESP, 2007).<br />
2
investigações filosóficas ininterruptas, apesar dos muitos percalços. Não que a<br />
existência de um espaço obrigatório no currículo não seja algo importante, mas,<br />
mais importante do que o espaço, é como este será ocupado. E, neste sentido, esta<br />
é a reflexão que se pretende aqui: a partir do conceito de Filosofia como crítica do<br />
estabelecido, pensar uma metodologia específica para o ensino da Filosofia, no nível<br />
Médio, tomando o texto filosófico como elemento central deste processo,<br />
apresentando as características e a natureza de um texto filosófico e, por<br />
conseguinte, uma sugestão, de como trabalhar com o mesmo em sala de aula.<br />
Desta forma espera-se contribuir para a legitimação do retorno e da presença do<br />
ensino de Filosofia enquanto disciplina curricular. Esta reflexão se fundamenta em<br />
autores que tratam do ensino de Filosofia, mas, principalmente, na prática de 15<br />
anos em sala de aula aprendendo a ensinar Filosofia/filosofar.<br />
Há urgência neste propósito, uma vez que das diversas alternativas que se<br />
propõem atender esta demanda, não o fazem a contento; quando não, servem<br />
apenas a uma racionalidade instrumental que objetiva adaptar os indivíduos a uma<br />
sociedade de menoridade, munidas de um belo canto, capaz de seduzir os "novos<br />
Ulisses". Mesmo o Livro Didático Público de Filosofia, apesar de ter diretrizes muito<br />
claras e objetivas de como deveria ser construído, apresenta diversas deficiências<br />
que, direta e indiretamente podem contribuir para uma não legitimação do retorno da<br />
Filosofia ao currículo do Ensino Médio nas escolas públicas do Estado do Paraná,<br />
ou até mesmo a rejeição ou banalização de seu ensino. Talvez por isso, o mesmo<br />
tenha tido uma boa rejeição por parte de professores e alunos.<br />
Antes de refletir sobre uma metodologia e uma didática específicas para o<br />
ensino de Filosofia, faz-se necessário assumir e explicitar um determinado conceito<br />
de Filosofia, indicando o lugar de onde se está falando, ao mesmo tempo em que<br />
refletir sobre o que seja uma reflexão filosófica, ambos fundamentos desta mesma<br />
metodologia.<br />
2. A <strong>FILOSOFIA</strong> COMO CRÍTICA DO ESTABELECIDO<br />
Isto posto, demos o nosso primeiro passo respondendo à questão primeira:<br />
o que é Filosofia? Dificilmente esta não é a primeira pergunta que surge numa aula<br />
de Filosofia. Seja ela na Educação Básica, no Ensino Superior, tanto de graduação,<br />
quanto de pós. Ora, o próprio perguntar-se "o que é filosofia?" é já um exercício<br />
3
filosófico, é já Filosofia. Em outras áreas do saber, o professor entra em sala de aula<br />
e começa a ministrar o seu conteúdo sem, necessariamente, ninguém lhe questionar<br />
o que é Matemática e qual a sua utilidade? O que é História e qual a sua utilidade?<br />
O que é Língua Portuguesa e qual a sua utilidade?, por exemplo. A idéia é de que o<br />
seu significado e, por conseqüência os seus conteúdos, já estão postos e<br />
assumidos, bem como a sua utilidade, sem muitos questionamentos. Este não é o<br />
caso da Filosofia. Mesmo para muitos docentes, esta ainda talvez não seja uma<br />
questão resolvida.<br />
E o que é Filosofia, afinal de contas?<br />
Primeiramente, não se pode falar de Filosofia, no singular, mas de Filosofias,<br />
no plural. Isto não se coloca como uma indefinição, mas expressa a multiplicidade<br />
de conceitos que o termo Filosofia tem, bem como algo que lhe é característico: a<br />
multiplicidade e a diversidade de conceitos sobre um mesmo termo. Horkheimer<br />
(2003, 272-274), após apresentar a concepção de vários filósofos sobre o que seja a<br />
Filosofia e o seu exercício, em contraposição a uma certa concordância entre os<br />
intelectuais das demais áreas "quanto ao objeto e ao método” de suas respectivas<br />
ciências, afirma que<br />
Hemos mencionado todas estas definiciones para demostrar que Ia<br />
situación en Ia filosofía difiere de Ia de Ias demás actividades<br />
intelectuales. Por más que en ellas existan muchos puntos de<br />
controversia, se admite una orientación general. Los principales<br />
representantes de cada ciencia están más o menos de acuerdo en<br />
cuanto aI objeto y al método. En filosofía, en cambio, Ia refutación de<br />
una escuela por otra implica generalmente su rechazo total, el negar<br />
como radicalmente falsas sus teorías fundamentales. Esta actitud,<br />
claro está, no es compartida por todas Ias escuelas. Una filosofía<br />
dialéctica, por ejemplo, que sea fiel a sus principios, tenderá a<br />
conservar Ia verdad relativa de los diferentes puntos de vista y a<br />
integrarlos a su propia teoría, más abarcadora. Otras corrientes,<br />
como el positivismo moderno, son menos elásticas y simplemente<br />
excluyen del campo del conocimiento gran parte de Ia literatura<br />
filosófica, en especial los grandes sistemas del pasado. En suma,<br />
podemos considerar como hecho demostrado que quien utiliza Ia<br />
expresión «filosofía» comparte con su público muy poco más que<br />
una idea vaga (HORKHEIMER, 2003, p. 274).<br />
Porém, ainda que seja "uma idéia vaga", por isso mesmo, não se torna um<br />
dogma, mas, uma referência do que se pretende, de como e até onde se quer<br />
4
chegar. Ao mesmo tempo, junto com Horkheimer, anuncia-se aqui um conceito de<br />
Filosofia que não exclui o diferente, muito menos o incorpora acriticamente, num<br />
ecletismo, mas, conserva "la verdad relativa de los diferentes puntos de vista", com<br />
vistas a um processo de superação por negação (aufheben). Ao mesmo tempo, se<br />
se adota essa "vaguidade" da Filosofia, também se adota, do mesmo autor, a idéia<br />
de sua função social como crítica do estabelecido (HORKHEIMER, 2003, p. 282).<br />
Crítica esta que já se apresentava no nascimento da Filosofia. Os primeiros filósofos<br />
ao procurarem uma explicação que não a mítica, para os acontecimentos, já<br />
realizavam uma "crítica do estabelecido".<br />
E por que criticar o estabelecido? É Horkheimer quem dá a resposta:<br />
lançando as luzes da consciência sobre o estabelecido, pretende-se que, nem as<br />
ações humanas, nem seus fins, sejam produtos "... de una ciega necessidad”, muito<br />
menos que o mesmo seja adotado como hábito e praticado sem crítica<br />
(HORKHEIMER, 2003, p. 276). Pois, continuamos com o frankfurtiano, assumindo<br />
esta função, a Filosofia seria a memória e a consciência da espécie humana, e deste<br />
modo ajudaria a evitar que a marcha da humanidade se assemelhasse à circulação<br />
sem sentido da hora do recreio de um manicômio (HORKHEIMER, 1976, p. 197-<br />
198).<br />
Ora, para que a Filosofia cumpra esta função social, há que efetuar uma<br />
reflexão crítica, radical e de conjunto. Ou seja, ser "... a consumação plena da<br />
racionalidade" (PORTA, 2004, p. 42).<br />
Crítica, porque não aceita sem reflexão ou por comodidade as idéias, os<br />
modos de agir e de se relacionar em sociedade (HORKHEIMER, 2003, p. 287). Ao<br />
contrário, é "... um movimento rumo ao esclarecimento" (PORTA, 2004, p. 42). É,<br />
ainda, "... el intento metódico y perseverante de introducir Ia razón en el mundo"<br />
(HORKHEIMER, 2003, p. 285). Radical e de conjunto, ou totalidade, porque, neste<br />
movimento de lançar luzes sobre a realidade, "... toma consciência e denuncia os<br />
condicionamentos econômicos, sociais e políticos da prática social e luta por superá-<br />
los" (CARTOLANO, 1985, p. 85). Trata-se de possibilitar a saída da "caverna”<br />
rompendo com a condição de "prisioneiros" que se conformam em viver e acreditar<br />
nas "aparências". Porque, como "consumação plena da racionalidade", é tomada de<br />
consciência e, como tal, "essencialmente libertadora" (PORTA, 2004, p. 42, 49).<br />
5
Desta forma, o “imperativo” do Templo de Delfos “Gnôthi seaúton” –<br />
Conhece-te a ti mesmo –, praticado por Sócrates e o projeto kantiano de<br />
esclarecimento, mais do que nunca, ainda se mostram atuais e necessários. E a<br />
Filosofia, assim como o filósofo e o professor de Filosofia têm uma "função<br />
imprescindível" que é contribuir para um "pensar com clareza", "lançar luz sobre a<br />
penumbra" (PORTA, 2004, p. 44, 49). E isto só é possível por meio do<br />
esclarecimento. Pois,<br />
Esclarecimento (Aufklärung) é a saída do homem de sua<br />
menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a<br />
incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de<br />
outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se<br />
a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta<br />
de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de<br />
outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio<br />
entendimento, tal é o lema do Esclarecimento (Aufklärung) (KANT,<br />
1985, 100).<br />
Ora, um tal projeto não pode, de maneira alguma, prescindir da tradição<br />
filosófica. Aliás, ignorá-Ia como induzem alguns, a pretexto de tornar a sala de aula<br />
uma "comunidade de investigação” 3 , seria propor como lógica pedagógica, a idéia<br />
do “eterno retorno" ou da circularidade como princípio das aulas de Filosofia. Isto<br />
porque a Filosofia em sala de aula se apresentaria como um começar do nada, uma<br />
vez que não se levaria em conta a tradição filosófica ou se lhe menosprezaria, num<br />
eterno recomeçar, um eterno “criar” conceitos que, na realidade, já estariam<br />
estabelecidos pela tradição filosófica. Na realidade, para alguns adeptos desta<br />
proposta metodológica, a aula de Filosofia se caracterizaria por um espaço e<br />
momento onde o importante é perguntar. Assim, alguém que perguntasse<br />
3<br />
O termo comunidade de investigação foi elaborado por Matthew Lipmann, filósofo norte<br />
americano, criador do método Filosofia para Crianças. Segundo Lipmann, a sala de aula se<br />
transforma numa comunidade de investigação “Quando as crianças são incentivadas a<br />
pensar filosoficamente” (1994, p. 72). Ainda que o filósofo norte americano ressalve que são<br />
“... pré-requisitos essenciais: a prontidão para a razão, o respeito mútuo (...) e ausência de<br />
doutrinação” (1994, p. 72), alguns professores adeptos do método, bem como alguns de<br />
seus divulgadores em território brasileiro acabaram transformando a aula de Filosofia num<br />
espaço onde todo mundo fala o que quer, sem objetividade e/ou mesmo recorrer à tradição<br />
filosófica, inclusive pela formação incipiente de alguns destes mesmos professores, e<br />
acredita-se ser isto uma aula de Filosofia. Para um aprofundamento crítico deste tema<br />
indicamos as obras de Walter O. Kohan, René José Trentin Silveira.<br />
6
insistentemente ou divagasse aleatoriamente estaria “filosofando”, dando a entender<br />
que filósofo é um sujeito que vive “viajando”.<br />
O conjunto de saberes filosóficos elaborados ao longo de mais de 25<br />
séculos pode e deve ser utilizado tanto no ensino de Filosofia, como no e para o<br />
exercício filosófico. No entanto, como fazer uso desta tradição? Este tem sido um<br />
dilema e, às vezes, o calcanhar de Aquiles de algumas experiências e propostas de<br />
ensino de Filosofia. É possível perceber desde a sua rejeição tácita, como também o<br />
seu uso na forma de discurso por parte de quem ensina, ou mesmo, como um<br />
conjunto de saberes a serem memorizados e reproduzidos pelos alunos nos<br />
momentos de avaliação. O ensinar Filosofia por meio daquilo que a caracteriza –<br />
reflexão crítica, radical e de conjunto – é muitas vezes simplesmente deixada de<br />
lado.<br />
Assim, para garantir o que é específico e próprio da Filosofia, trata-se de<br />
pensar uma Didática para o seu ensino que não prescinda da tradição filosófica e<br />
daquilo que lhe é característico – criticidade, radicalidade, totalidade – e, ao mesmo<br />
tempo, tenha no texto filosófico sua centralidade. Não como um fim em si mesmo,<br />
mas como mediação para o exercitar filosófico. Ao mesmo tempo, não se trata de<br />
fazer uso de qualquer texto em sala de aula. Se é bem verdade que se pode fazer<br />
uma leitura filosófica de um texto não-filosófico, deve-se privilegiar os textos<br />
filosóficos. Da mesma forma, a utilização do texto filosófico é e deve ser sempre<br />
intencional. Assim, o mesmo deve ser pensado dentro de um contexto e dos<br />
objetivos propostos. Até porque, também é possível fazer uma leitura não-filosófica<br />
de texto filosófico. Pois, como afirma Lyotard, (apud FABBRINI, 2005, p. 8),<br />
reforçado por Favaretto “É preciso acentuar que uma leitura não é filosófica apenas<br />
porque os textos são tidos por filosóficos – ou porque seus autores são<br />
considerados autores da história da Filosofia” (1993, p. 117). Como também,<br />
continua ainda o próprio Lyotard (apud FABBRINI, 2005, p. 8), “... se pode ler textos<br />
filosóficos sem filosofar”.<br />
Segundo Cossutta (2000, p. 6) uma obra filosófica é "... um todo que se<br />
engendra e se desfaz, aberta ao mundo e ao sentido, mas igualmente redobrada<br />
sobre o universo que ela gera"; daí que a dificuldade em se compreender um texto<br />
filosófico se apresenta dada à multiplicidade de filosofias; porém, mais do que a<br />
7
existência de uma multiplicidade, o que parece dificultar o trabalho com o texto<br />
filosófico é o fato de que "... toda obra filosófica – esta é uma característica do<br />
gênero – elabora ou pretende elaborar as condições de sua própria validade, e<br />
portanto enuncia as próprias regras da leitura que se pode fazer dela, 4 (COSSUTTA,<br />
2001, p. 3). Assim, para se realizar uma leitura filosófica adequada de um texto<br />
filosófico, faz-se necessário<br />
... explicitar as regras de funcionamento 5 que ligam os conceitos, as<br />
proposições, as argumentações, seja a partir das indicações, pistas,<br />
proposições explicitadas no próprio texto por seu autor, seja do<br />
exterior, quando nós mesmos fazemos com que esses diferentes<br />
parâmetros variem (COSSUTTA, 2001, p. 7).<br />
3. POR UMA DIDÁTICA DO <strong>ENSINO</strong> DE <strong>FILOSOFIA</strong><br />
Ao se refletir sobre uma proposta didática de ensino de Filosofia, cabe<br />
pensar antes sobre a relação que se estabelece entre o professor (sujeito ensinante)<br />
e o estudante (sujeito aprendiz). Da mesma forma, nos elementos intervenientes<br />
nesta relação, tais como: sala de aula, livro didático, tempo das aulas, sistema de<br />
avaliação, projeto político pedagógico da escola, diretrizes curriculares do curso,<br />
desejos e necessidades dos alunos, acervo cultural de alunos e professor, entre<br />
outros. Esta relação, ao longo da História da Educação, manifestou-se de várias<br />
formas, desde a forma autoritária em que o professor se colocava como o detentor<br />
do saber, até o “democratismo” ou expontaneísmo, onde o essencial da educação –<br />
o aprender e o ensinar – acaba não acontecendo.<br />
Diante destes extremos há que se pensar uma relação em que o processo<br />
ensino-aprendizagem se efetive, uma vez que este parece ser o fim da educação.<br />
Para tanto, há que se pensar sobre os sujeitos participantes deste processo,<br />
identificar as responsabilidades de cada um, bem como o objetivo que os une.<br />
Já vimos que os principais sujeitos do processo ensino-aprendizagem são o<br />
professor e o estudante. Trata-se de um encontro entre duas pessoas em condições<br />
não só diferentes, mas desiguais. Isto porque psicológica e intelectualmente,<br />
4 Grifo no original.<br />
5 Grifo no original.<br />
8
encontram-se em estágios diferentes. Neste sentido, querer que a relação dos<br />
mesmos seja igualitária é no mínimo desrespeitar a ambos. Assim, seria mais<br />
correto pensar uma relação entre professor e o estudante com base no princípio da<br />
eqüidade, onde as diferenças não apareceriam como desigualdade, mas apenas e<br />
tão somente como reconhecimento da diversidade e dos estágios diferentes em que<br />
se encontram.<br />
Outra característica desta relação é a dialeticidade da mesma. Ou seja, da<br />
mesma forma que no processo de investigação o sujeito não é somente ativo e o<br />
objeto não é somente passivo, também na relação professor aluno a dialética está<br />
presente. Até porque, somente onde há a diferença é que é possível estabelecer-se<br />
relação. E o que se espera desta relação, em particular? Que se efetive o processo<br />
ensino-aprendizagem. E, em Filosofia, especificamente, que o aprendiz, que num<br />
primeiro momento é o aluno, mas que também pode ser o professor, por meio de um<br />
processo de esclarecimento, seja capaz de fazer uso do próprio entendimento como<br />
forma de compreender o mundo e viver na maioridade. Como afirma Libâneo, um<br />
aluno com uma aprendizagem de qualidade (...) que desenvolve<br />
raciocínio próprio, que sabe lidar com os conceitos e faz relações<br />
entre um conceito e outro, que sabe aplicar o conhecimento em<br />
situações novas ou diferentes, seja na sala de aula seja fora da<br />
escola, que sabe explicar uma idéia com suas próprias palavras<br />
(2002, p. 4).<br />
Ora, um professor somente conseguirá que seu aluno se torne um sujeito<br />
esclarecido, autônomo, capaz de fazer uso do próprio entendimento, se o mesmo<br />
assim o for. Neste sentido, o trabalho desenvolvido pelo professor deve ser<br />
conseqüente, na medida em que deve expressar uma prática docente, não somente<br />
um modus operandi, mas um modus vivendi e não uma lição para ser aprendida por<br />
parte do aluno, devolvida em algum momento avaliativo e descartada porque não<br />
mais necessária. Neste sentido, há que se pensar este processo didático como um<br />
conjunto de atividades do professor e dos alunos sob a direção do<br />
professor, visando à assimilação ativa pelos alunos dos<br />
conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes, desenvolvendo suas<br />
capacidades e habilidades intelectuais (LIBÂNEO, 2002, p. 6).<br />
9
Aplicando este conceito de Didática a uma aula de Filosofia, pode-se afirmar<br />
que, uma aula de Filosofia, no sentido expresso acima, é o conjunto de atividades do<br />
professor e do aluno, sob a direção do primeiro, que visa possibilitar ao aluno o<br />
esclarecimento necessário para o uso do entendimento, sem a direção de outrem,<br />
que se expressa por meio de uma reflexão filosófica crítica, radical e de conjunto,<br />
expressão máxima da autonomia.<br />
Assim, que atividades seriam necessárias para que se efetivasse o aprender<br />
Filosofia e a filosofar numa aula de Filosofia?<br />
3.1 A ESPECIFICI<strong>DA</strong>DE DO <strong>ENSINO</strong> DE <strong>FILOSOFIA</strong><br />
Diferentemente das demais áreas do conhecimento humano, onde os<br />
conteúdos já estão dados e a necessidade de justificá-los toma-se como<br />
desnecessário, com o ensino de Filosofia ocorre o contrário, conforme afirmamos<br />
acima. Ao mesmo tempo, segundo Coutel (1996), quando um filósofo se pergunta<br />
sobre o que significa aprender, antes de se por uma questão pedagógica, ele<br />
apresenta uma reflexão epistemológica e ética. E, continua ainda Coutel (1996), a<br />
escola é o lugar onde se aprende. E esta, com o advento do Estado de direito,<br />
republicano, tem o compromisso de formar o espírito crítico de seus cidadãos.<br />
Segundo Fabbrini (2005, p. 8), citando Lebrun, um estudante não busca a<br />
Filosofia porque aspira a verdade, mas porque tem necessidade de uma língua de<br />
segurança, possuir uma retórica de segurança que lhe permita denunciar a<br />
“ingenuidade” do “cientista” ou a “ideologia” de quem não pensa como ele. Assim, se<br />
a escola deve possibilitar este espírito, compete à Filosofia, dada a sua<br />
especificidade, desenvolver este espírito crítico. Para tanto, faz-se necessário<br />
pensar como? Ou seja, de que maneira ensinar Filosofia para que esta não se torne<br />
apenas um conjunto de conteúdos a serem apreendidos, mas um aprender a<br />
filosofar como defendia Kant? Isto porque, afirma Coutel (1996), há que se tomar<br />
cuidado em não se ir à Ciência da Educação e trazer de lá “métodos formalizados e<br />
fórmulas já prontas”. Adverte Coutel (1996): “... voler trattare l'insegnamento della<br />
filosofia come tutti gli altri insegnamenti è illusorio”. Isto porque, questiona ainda:<br />
“Mantenere l'idea che esisterà un giorno una didattica, un'arte per insegnare la<br />
filosofia, non significa forse presupporre che la filosofia non sarà più problematica?”.<br />
10
Tais questionamentos são instigantes. A princípio poder-se-ia pensar numa<br />
capitulação diante deles. Porém, é possível afirmar a problematicidade da Filosofia<br />
propondo uma didática da mesma. O que não significa objetivá-la num conjunto de<br />
saberes ou competências a serem ensinadas. Mas sim pensá-la como, repetimos,<br />
um conjunto de atividades que possibilitem ao aluno o esclarecimento necessário<br />
para o uso do entendimento, sem a direção de outrem. Assim, tomando o texto<br />
filosófico como central no processo de aprender/ensinar Filosofia/filosofar,<br />
apresenta-se uma sugestão de aula de Filosofia. Isto porque, se não se pode<br />
objetivar o ensino de Filosofia num conjunto de saberes e/ou competências e<br />
técnicas a serem ensinadas/aprendidas sob pena de descaracterizá-la como uma<br />
proposta de problematização (COUTEL, 2005), resta ainda pensar a mediação no<br />
ensino de Filosofia. Isto é, como possibilitar aos jovens uma linguagem de<br />
segurança, como defende Lebrun (1976) ou, como por em prática o programa<br />
kantiano defendido por Horkheimer?<br />
4. O TEXTO FILOSÓFICO COMO MEDIAÇÃO NO <strong>ENSINO</strong> DE <strong>FILOSOFIA</strong><br />
No mito de Thoth, deus egípcio que inventou a escrita, Platão, fala do medo<br />
de a escrita tornar as pessoas menos atentas, mais esquecidas, pois confiariam que<br />
tudo está escrito; como também teriam suas memórias enfraquecidas, dependentes<br />
de sinais exteriores, o que as tornariam pessoas ignorantes e sábios imaginários<br />
(PLATÃO, 2000, p. 121). Como para Platão a essência do que as coisas são de fato<br />
está no mundo das idéias, o conhecimento verdadeiro está no indivíduo e não<br />
representado nos livros. Uma vez que as informações contidas nos livros não<br />
passariam de aparência. Desta forma, segundo ele, com o advento da escrita,<br />
... transmites aos teus alunos, não a sabedoria em si mesma mas<br />
apenas uma aparência de sabedoria, pois passarão a receber uma<br />
gama de informações sem a respectiva educação! (PLATÃO, 2000,<br />
p. 121).<br />
Na realidade, o medo de Platão se refere mais ao conhecimento sepulto em<br />
livros, da não leitura do que propriamente da escrita (TIBURI, 2004). Isto é, de como<br />
o conhecimento registrado, perpetuado pela escrita poderia ser tratado.<br />
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Porém, uma vez que não nos é mais permitido entrar em contato direto com<br />
o pensamento dos filósofos já consagrados pela tradição, a não ser que seja pela<br />
mediação de seus textos e, partimos do princípio de que os textos dos mesmos são<br />
fundamentais para o exercício da reflexão filosófica em sala de aula, cabe a nós<br />
pensar uma proposta de uso dos mesmos que os vivifique. E isto somente é<br />
possível se os interpretarmos (NIETZSCHE apud TIBURI, 2004, p. 112). Para tanto,<br />
segundo Severino,<br />
Um texto não pode ser abordado fora de seu contexto, fora das<br />
circunstâncias constituídas pelas malhas histórico-culturais que<br />
entrelaçam sentidos que foram sendo produzidos, amealhados e<br />
articulados ao longo do tempo histórico (2006, p. 76).<br />
Continua ainda Severino (2006, p. 77): “O mundo só se revela por meio do<br />
texto se ele estiver inserido no contexto”. Assim, para que se possa interpretar um<br />
texto filosófico o mais apropriado possível, há que se contextualizá-lo. Este é um<br />
processo que se subdivide em pelos menos três momentos: o primeiro contexto é o<br />
momento histórico em que o autor viveu; o segundo é o da obra de onde foi extraído<br />
o fragmento e, o terceiro é o contexto na tradição filosófica do pensamento e do<br />
problema tratado pelo filósofo no referido texto. Sem estas contextualizações a<br />
reflexão filosófica estará prejudicada.<br />
Feita a contextualização, é hora de fazer as leituras necessárias para uma<br />
interpretação adequada do texto, bem como a reflexão filosófica proposta. Uma<br />
interpretação adequada de um texto filosófico pressupõe pelo menos quatro leituras,<br />
intercaladas com algumas atividades complementares. Assim, se apresenta outro<br />
elemento fundamental no processo de reflexão filosófica: o tempo. Este é<br />
acompanhado de uma virtude pouco valorizada nos tempos hodiernos: a paciência.<br />
Segundo Fabbrini, “Lyotard (...) caracteriza a leitura filosófica, metonímia da<br />
atividade filosófica em geral, como sendo um ‘exercício de paciência’” (2005, p. 14).<br />
E aí se encontra um problema ao se trabalhar com a leitura filosófica em sala de<br />
aula pois, segundo ainda Fabbrini: “A maior dificuldade do professor de filosofia é<br />
desse modo, exigir do aluno a paciência necessária” para uma leitura filosófica. Isto<br />
porque,<br />
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A “leitura filosófica” pressupõe, em outras palavras, a espera e a<br />
lentidão num mundo regido pela mídia eletrônica e pela informática<br />
que, possibilitando a informação e os intercâmbios em “tempo real”,<br />
criam uma “sensação de simultaneidade e imediatez”; em suma, pelo<br />
próprio capitalismo financeiro, que põe em xeque toda visão de longo<br />
prazo, em favor da circulação acelerada de capitais em escala global<br />
(Virilio, 1993, p. 40; Lipovetsky, 2004, p. 87 apud FABBRINI, 2005, p.<br />
14-15).<br />
É próprio de a juventude querer viver tudo intensamente. Ao mesmo tempo,<br />
acreditar que se está imune ao tempo. Como se este fosse algo que passasse para<br />
outros e não para si mesmo. Da mesma forma que não se tem pressa para fazer<br />
determinadas coisas, por outro lado se quer fazer várias coisas ao mesmo tempo,<br />
como se este não fosse suficiente. Assim, fazer com que os jovens exercitem a<br />
paciência será um desafio ao professor que pretenda que seus alunos realizem<br />
leituras filosóficas em sala de aula. Sim! Leituras. Isto porque não basta uma única<br />
leitura para a compreensão adequada de um texto filosófico, muito menos interpretar<br />
e quiçá refletir sobre o problema apresentado. O recomendável é que se inicie com<br />
uma primeira leitura de aproximação, sem muito compromisso. Apenas como forma<br />
de se familiarizar-se com a linguagem. A partir da segunda leitura é que se deve<br />
começar a compreensão do texto, com algumas ações que se desdobrarão em<br />
outras, quais sejam: sublinhar palavras, expressões, eventos e/ou nomes<br />
desconhecidos para em seguida serem esclarecidos antes de se fazer uma terceira<br />
leitura. Feitos os esclarecimentos necessários, é hora de se fazer a terceira leitura.<br />
Nesta deve-se identificar qual o problema apresentado pelo autor, a tese defendida,<br />
bem como os argumentos apresentados em sua defesa. Ao mesmo tempo se os<br />
mesmos são consistentes e coerentes entre si.<br />
Feitas as leituras recomendadas, bem como os esclarecimentos<br />
apropriados, é hora de materializar, objetivar o conhecimento adquirido por meio da<br />
elaboração de uma síntese do texto lido. Não se trata ainda de manifestar opinião a<br />
respeito do texto ou do tema trabalhado. O que se espera é verificar o nível de<br />
compreensão obtido sobre o texto lido. Isto porque tal compreensão é fundamental<br />
para o próximo passo, uma vez que o uso do texto filosófico em sala de aula é<br />
mediação, não um fim em si mesmo. O próximo passo é a reflexão sobre o tema, a<br />
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partir dos elementos indicados no texto, relacionando-os com questões atuais, do<br />
cotidiano dos alunos.<br />
Adotados estes procedimentos, pode-se dizer que se efetivou uma leitura<br />
filosófica de um texto filosófico.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Numa aula de um curso de Metafísica Ortega y Gasset afirma que<br />
Damo-nos conta de que o estudante é um ser humano, masculino ou<br />
feminino, a quem a vida impõe a necessidade de estudar ciências<br />
sem delas ter sentido uma imediata e autêntica necessidade (2000,<br />
p. 91).<br />
Situação semelhante, de certa forma, se encontra hoje nas salas de aula de<br />
Ensino Médio. Segundo Grácio & Dias,<br />
Temos que partir do que temos, e o que temos, enquanto<br />
destinatários do nosso ensino, são jovens cujos interesses<br />
«espirituais» característicos, insistimos, para mais sobre<br />
determinados pelos valores da actual tecnocultura, não só são<br />
préfilosóficos mas, digamos mesmo, anti-filosóficos. Não tenhamos<br />
ilusões: a nossa tarefa navega a contra-corrente das necessidades<br />
culturais dos nossos alunos (2004, p. 6).<br />
Desta forma, se se acreditar ser válido o programa kantiano do<br />
esclarecimento, não se tem como resistência apenas os que não querem os<br />
indivíduos esclarecidos, mas os próprios indivíduos talvez oponham alguma<br />
resistência a um tal programa. Ora, diante de tais desafios e do momento atual do<br />
ensino de Filosofia, de ter que legitimar-se enquanto um conteúdo que requer um<br />
espaço próprio no currículo do Ensino Médio, mais ainda se faz necessário refletir<br />
sobre uma didática apropriada para o seu ensino. Da mesma forma, há que se fazer<br />
do uso do texto filosófico em sala de aula não somente uma alternativa aos usos<br />
privados da razão, como também às discussões superficiais, arremedos de reflexão<br />
filosófica.<br />
No entanto, para que o texto filosófico cumpra o papel de mediador da<br />
reflexão filosófica há que se tomar ainda outros cuidados: escolher um texto<br />
adequado ao tema que se estiver estudando; que o grau de dificuldade de<br />
compreensão do mesmo esteja à altura do amadurecimento psicológico de quem se<br />
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destina; que o tempo despendido para a sua leitura, interpretação e síntese seja<br />
adequado e não aligeirado; que se tenha à mão recursos para esclarecimento de<br />
possíveis dúvidas que surjam ao longo da leitura; que o professor se coloque à<br />
disposição dos alunos para orientar e esclarecer suas dúvidas. Tomando-se estes<br />
cuidados, o texto filosófico, lido de maneira filosófica, será mediação para o<br />
ensinar/aprender Filosofia/filosofar, e não um fim em si mesmo. E, desta forma,<br />
estar-se-á contribuindo sobremaneira para o programa de esclarecimento proposto<br />
por Kant no século XVIII, reafirmado por Adorno e Horkheimer no século XX e, mais<br />
do que nunca necessário em pleno século XXI.<br />
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