globalização positiva e globalização negativa: a diferença é o estado
globalização positiva e globalização negativa: a diferença é o estado
globalização positiva e globalização negativa: a diferença é o estado
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
GLOBALIZAÇÃO POSITIVA E GLOBALIZAÇÃO NEGATIVA: A DIFERENÇA É O ESTADO<br />
governo de auxiliar e influenciar a indústria na captura de um<br />
grande estoque de tecnologia estrangeira e em sua utilização. Graças<br />
à Lei de Divisas Estrangeiras, em vigor at<strong>é</strong> 1964, [o Minist<strong>é</strong>rio da<br />
Indústria e Com<strong>é</strong>rcio Internacional] tinha capacidade de alocar<br />
divisas estrangeiras (dólares) seletivamente e o Minist<strong>é</strong>rio efetivamente<br />
usava esta capacidade como cenoura e porrete (ao reter alocações)<br />
para influir sobre as decisões das empresas. Como a maioria das<br />
firmas japonesas dependia de mat<strong>é</strong>rias-primas importadas e de tecno-<br />
logia estrangeira, o Minist<strong>é</strong>rio exercia este poder, por exemplo, para<br />
orientar firmas em suas decisões sobre a taxa de aumento de capaci-<br />
dade e para influir sobre o ritmo, composição e alocações do fluxo de<br />
nova tecnologia, essencial ao êxito competitivo de toda firma japonesa<br />
em rápida inovação (Eads e Yamamura, 1987, pp. 431-432).<br />
A política de desenvolvimento acelerado praticada pelo Japão (e<br />
outros países) foi uma das causas do enorme avanço da <strong>globalização</strong> entre<br />
o fim dos anos 40 e o início dos anos 70. Como nesse período o papel dos<br />
Estados nacionais na condução do desenvolvimento era crucial, há a<br />
tendência de ignorar que o atual processo de <strong>globalização</strong> tomou seu<br />
impulso nesse período. O erro consiste evidentemente em identificar a<br />
<strong>globalização</strong> com a prática de políticas (neo)liberais, ou seja, com a retirada<br />
do Estado nacional do cenário econômico. A versão altamente ideológica,<br />
hoje muita difundida, sustenta que at<strong>é</strong> o começo dos anos 70 o protecionis-<br />
mo isolava as economias nacionais e que o intervencionismo estatal<br />
restringia a internacionalização ao limitar o intercâmbio comercial e o fluxo<br />
internacional de capitais. Na realidade, as economias que efetivamente se<br />
desenvolveram durante esse período ampliaram sua participação no com<strong>é</strong>r-<br />
cio internacional e multiplicaram inversões diretas em outros países. A<br />
redução do papel do Estado na condução da economia não acelerou por si<br />
a <strong>globalização</strong>, por<strong>é</strong>m emprestou-lhe outras características.<br />
Globalização politicamente conduzida e <strong>globalização</strong> impulsionada<br />
pela concorrência privada<br />
Depois da II Guerra Mundial, a economia internacional teve de ser<br />
institucionalmente reinventada. O sistema internacional de pagamentos<br />
precedente — o padrão-ouro — tinha fracassado em suscitar o restabeleci-<br />
mento de relações econômicas internacionais equilibradas após a I Guerra<br />
Mundial e teve de ser abandonado quando o capitalismo mergulhou em sua<br />
pior crise, nos anos 30. A reinvenção foi presidida pelos Estados Unidos, que<br />
reconheceram, ao patrocinar a criação da ONU e de suas agências<br />
especializadas, que a economia mundial capitalista teria de ser regulada,<br />
não por agentes econômicos privados, mas por nações soberanas, ou seja,<br />
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK<br />
50 NOVOS ESTUDOS N.° 48