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Vila Real - Quintã.pdf - dlac

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QUINTÃ


<strong>Quintã</strong> (cantiga de um drama)<br />

<strong>Quintã</strong>, lindo jardim,<br />

És para mim<br />

Terra ideal.<br />

<strong>Quintã</strong>, linda aldeinha,<br />

És a rainha de Portugal.<br />

Quem me dera,<br />

Aldeia linda,<br />

Jamais me afastar daqui,<br />

Outro amor não houve ainda<br />

Composições Líricas<br />

Lúdicas: Cantigas<br />

No coração que sempre suspirou por ti.<br />

És aldeia sorridente,<br />

Singela, simples e pura,<br />

Cá se canta alegremente,<br />

Esquecendo o labor da agricultura.<br />

Ao passar no Cotorinho<br />

Ao passar no Cotorinho,<br />

Estaba tudo à janela. ----- 3xs<br />

Parece que nunca biram<br />

Gente de fora da terra. ----- 3xs<br />

Ao passar no ribeirinho<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Ó ferreiro<br />

Escorreguei, molhei a meia. ----- 3xs<br />

Ao passar no ribeirinho<br />

Quebrei a minha biola, ----- 3xs<br />

Juntei os cacos todos<br />

Para fazer outra noba. ----- 3xs<br />

Ó ferreiro, guarda a filha,<br />

Não a ponhas à janela,<br />

Aí bem o garotinho,<br />

Que te quer fugir com ela.<br />

Ora bai tu, bai tu, bem ela,<br />

Ora bai tu p’rá terra dela.<br />

És o meu bem,<br />

Santo Antoninho<br />

És da minha opinião, bis<br />

Hei-de amar a moreninha<br />

Da raiz do coração.<br />

Nenhuma te escapa,<br />

Meu Santo Antoninho,<br />

Cobre a tua capa,<br />

Mete-te ao caminho.<br />

Maria de Lassalete, 64 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria de Lassalete, 64 anos,<br />

Nídia Costa, 67 anos e Isaura Costa, 52 anos, Quinta


São Bartolomeu<br />

Já lá tenho lençóis e renda,<br />

A alfazema está a arder,<br />

Para adbirtir um homem, ----- bis<br />

Não há como uma mulher.<br />

Ó apóstolo sincero,<br />

Ó grande Bartolomeu,<br />

Apontai-nos o caminho bis<br />

Que leba da terra ao céu.<br />

Por ber a siceridade,<br />

Que de vós irradiaba,<br />

Em vós pôs o seu olhar bis<br />

Ao salvador que passasse.<br />

E logo bos quis unir<br />

À sua missão divina<br />

De pregar ao belho mundo, bis<br />

O que era nova doutrina.<br />

Biestes com Jesus Cristo<br />

Em perfeita intimidade.<br />

Jamais perdestes o rumo bis<br />

Da evangelho da verdade.<br />

Glória a ele que vos chamou<br />

P’ra serdes a seu lado,<br />

Ao que junto a cada rei bis<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos, <strong>Quintã</strong>


Ramboia<br />

Ó tripom<br />

Deve ser cada soldado.<br />

Ó apóstolo sincero,<br />

Ó grande Bartolomeu,<br />

Apontai-nos o caminho bis<br />

Que leba da terra ao céu.<br />

Biba à ramboia,<br />

Ramboia biba,<br />

Biba à ramboia,<br />

Nem que seja toda a bida.<br />

Ainda lá tenho muito<br />

Do porco que hei-de matar.<br />

Biba à ramboia,<br />

Ramboia biba,<br />

Biba à ramboia,<br />

Nem que seja toda a bida.<br />

(?)<br />

Ó tripom, bira, bira, pum,<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


É como a roda dum carro,<br />

É como a roda dum carro.<br />

Quando vai para a cozinha,<br />

Ó tripom, bira, bira, pum,<br />

Faz abanar o sobrado,<br />

Faz abanar o sobrado.<br />

Compro rendas, vendo rendas,<br />

Ó tripom, bira, bira, pum,<br />

P’rá roda do meu balão,<br />

P’rá roda do meu balão.<br />

Quatro metro, não me chega,<br />

Ó tripom, bira, bira, pum,<br />

P’rá roda do meu balão,<br />

P’rá roda do meu balão.<br />

Não quero que bás à monda,<br />

Nem ao ribeiro labar,<br />

Não quero que bás à monda,<br />

Que bás à monda, bis<br />

Que bás mondar.<br />

Fado da mouraria<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


O fado da mouraria,<br />

Mas quem seria bis<br />

Qu’o inventou?<br />

Quem quiser ouvir o fado,<br />

Mas bem cantado, bis<br />

Inda aqui estou.<br />

Um dia fui à ribeira<br />

Uma tarde inteira, bis<br />

A água corria.<br />

Enquanto guardaba o gado,<br />

Cantaba o fado bis<br />

Da mouraria.<br />

Toda a vida fui pastor<br />

Toda a bida fui pastor,<br />

Toda a bida guardei gado,<br />

Tenho uma nódoa no peito, ai, ai, bis<br />

De me encostar ao cajado.<br />

De me encostar ao cajado,<br />

Lá nos campos da (?)<br />

Toda a bida guardei gado, ai, ai,<br />

Toda a bida fui pastor.<br />

Lírio roxo do campo,<br />

Criado na Primabera,<br />

Desejaba eu saber, ai, ai,<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Ó minha mãe<br />

A tua intenção qual era.<br />

A tua intenção qual era,<br />

Desejaba eu saber,<br />

Criado na Primabera, ai, ai, bis<br />

Quem te pudesse colher.<br />

- Ó minha mãe, deixe, deixe, bis<br />

Ó minha mãe, deixe-me ir<br />

Ao arraial de Lamego, bis<br />

Eu bou e torno a bir.<br />

- Tu bais e tornas a bir, bis<br />

Ó filha, birás ou não?<br />

O arraial de Lamego bis<br />

É a tua perdição.<br />

Namorei a costureira<br />

Namorei a costureira bis<br />

Pelo buraco da chabe,<br />

Ela estaba ruque-truque, bis<br />

Minha porta não se abre.<br />

Minha porta não se abre, bis<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Ela não se quer abrir,<br />

Ela estaba ruque-truque, bis<br />

Minha mãe estaba a dormir.<br />

Minha mãe estaba a dormir, bis<br />

Estaba no sono primeiro,<br />

Ela estaba ruque-truque, bis<br />

Debaixo do limoeiro.<br />

Limoeiro da calçada, bis<br />

Bou-te roubar um limão,<br />

Para dar ao São Trocato, bis<br />

Que é da minha deboção.<br />

Namorei-me do ferreiro<br />

Namorei-me do ferreiro, bis<br />

Não me soube namorar,<br />

Gastei meu dote todo bis<br />

Em sabão para o labar.<br />

Namorei-me do ferreiro, bis<br />

Dá-me bontade de rir,<br />

Com a tacha arreganhada, bis<br />

Olhinhos a reluzir.<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Ó ramo, ó lindo ramo<br />

Ó ramo, ó lindo ramo, bis<br />

Ó ramo da olibeira,<br />

Tu és o mais lindo ramo, bis<br />

Ora que apareceu na brincadeira.<br />

Debaixo da olibeira é um regalo estar, bis<br />

Tem a folha miudinha,<br />

Quando bai caindo a noite, bis<br />

Deixa passar o luar.<br />

Debaixo da olibeira nem chobe, nem faz orbalho, bis<br />

Menina que há-de ser minha,<br />

Bai-te embora, bem cá logo, bis<br />

Não me dês tanto trabalho.<br />

Ó ramo, ó lindo ramo, bis<br />

Ó ramo da olibeira,<br />

Tu és o mais lindo ramo, bis<br />

Ora que apareceu na brincadeira.<br />

Tenho um amor em Viana<br />

Tenho um amor em Biana,<br />

Outro em Ponte de Lima, ai,<br />

Outro em Ponte de Lima,<br />

Tenho outro em Barcelos, oh ai,<br />

Outro inda mais acima, ai,<br />

Outro inda mais acima.<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Onde bais, ó Maria?<br />

Onde bais, ó Manel? bis<br />

Benho da romaria,<br />

E bou p’ró São Miguel.<br />

O meu amor é da Bila, oh ai,<br />

Mora perto da cadeia, ai,<br />

Mora perto da cadeia.<br />

Bale mais um amor da Bila,<br />

Do que sete amores da aldeia, ai,<br />

Do que sete amores da aldeia.<br />

Onde bais, ó Manel?<br />

Onde bais, ó Maria? bis<br />

Benho do São Miguel,<br />

E bou p’rá romaria.<br />

Tenho um amor que me ama, oh ai,<br />

Outro que me dá dinheiro, ai,<br />

Outro que me dá dinheiro,<br />

Outro que me beste e calça, oh ai,<br />

Esse é o mais berdadeiro, ai,<br />

Esse é o mais berdadeiro.<br />

Onde bais, ó Maria?<br />

Onde bais, ó Manel? bis<br />

Benho da romaria,<br />

E bou p’ró São Miguel.<br />

Onde bais, ó Manel?<br />

Onde bais, ó Maria? bis<br />

Benho do São Miguel,<br />

E bou p’rá romaria.


Verdinho<br />

É mentira<br />

Ai berdinho, meu berdinho, bis<br />

Já saístes da bideira,<br />

Escorrega debagarinho, bis<br />

Apaga-me esta fogueira.<br />

Que importa o berde ser berde, bis<br />

Se me faz cantar na rua,<br />

Ai berdinho, meu berdinho, bis<br />

Não há cor igual à tua.<br />

Ai berdinho, meu berdinho, bis<br />

Esquecer-te não há maneira,<br />

Escorrega debagarinho, bis<br />

Apaga-me esta fogueira.<br />

Ai berdinho, meu berdinho, bis<br />

Se tu queres ser meu amigo,<br />

Não há pedras no caminho, bis<br />

Quando tu andas comigo.<br />

Ó que lindo chapéu preto, bis<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Naquela cabeça bai,<br />

Ó que lindo rapazinho, bis<br />

Para genro de meu pai.<br />

É mentira, é mentira,<br />

É mentira, sim senhor, bis<br />

Eu nunca pedi um beijo<br />

Quem mo deu foi meu amor.<br />

A azeitona já está preta, bis<br />

Já se pode armar aos tordos.<br />

Diz-me lá, ó cara linda, bis<br />

Como bais tu de amores nobos.<br />

É mentira, é mentira,<br />

É mentira, sim senhor, bis<br />

Eu nunca pedi um beijo<br />

Quem mo deu foi meu amor.<br />

Eu comprei um chapéu branco, bis<br />

P’ra namorar à noite,<br />

O chapéu branco rompeu-se, bis<br />

O namoro acabou-se.<br />

Bai-te embora, amor,<br />

Não cuides que me deixas a chorar,<br />

Inda me deixas em tempo<br />

Doutros amores arranjar.<br />

Se tu és o meu amor, bis<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Dá-me cá os braços teus.<br />

Se não és o meu amor, bis<br />

Vai-te embora, adeus, adeus.<br />

Eu vou a Miranda<br />

O comboio bai a subir a serra,<br />

Parece que vai, mas não vai cair.<br />

Sempre a subir, vai de terra em terra,<br />

Parece que vai, mas não vai cair.<br />

Eu vou a Miranda<br />

Ver os pauliteiros, bis<br />

Ver os pauliteiros<br />

Eu vou a Miranda.<br />

Ó rio, bem a Trás-os-Montes,<br />

Ó Douro, bem daí também.<br />

Ó rio, olha não contes<br />

Ao Douro, nem à minha mãe.<br />

Eu vou a Miranda<br />

Ver os pauliteiros, bis<br />

Ver os pauliteiros<br />

Eu vou a Miranda.<br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Saia verde<br />

Saia verde, saia verde,<br />

Saia verde domingueira, bis<br />

Por vestir a saia verde,<br />

Não me chames aldeeira.<br />

Ora bate, bate, cantaba o grilinho,<br />

Ora bate, bate, no seu buraquinho,<br />

Ora bate, bate, cantaba o grilinho,<br />

Gri, gri, no seu buraquinho.<br />

Saia verde, saia verde,<br />

Saia verde fica bem,<br />

Eu só visto a saia verde<br />

Por ser do gosto de alguém.<br />

Ora bate, bate, cantaba a poupinha,<br />

Ora bate, bate, no ninho sozinha,<br />

Ora bate, bate, cantaba a poupinha,<br />

Poupa, poupa, que eu sou pobrezinha.<br />

Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Anjo da Guarda<br />

Anjo da minha guarda,<br />

Composições Líricas<br />

Mágicas e religiosas: Orações e responsos<br />

Semelhança do meu Senhor,<br />

Para mim foste criado,<br />

Bom amparo guardador.<br />

Peço-bos, ó anjo bendito,<br />

Pela graça e poder<br />

Dos laços do demónio,<br />

Me haveis de defender.<br />

Anjo da minha guarda,<br />

Meu celeste companheiro,<br />

Não me desampareis<br />

Pelas minhas grandes ingratidões,<br />

Ilustrai-me com santas inspirações,<br />

Para que eu não seja mais ingrata<br />

Ao meu Deus que me criou.<br />

Santo Anjo do Senhor,<br />

Meu zeloso guardador,<br />

Só a ti me confiou<br />

A piedade divina<br />

Hoje e sempre me reja, guarde, goberne, ilumine. Ámen.<br />

Reza-se um Pai-nosso e uma Ave-maria.<br />

São Bartolomeu<br />

São Bartolomeu me disse<br />

Nídia Costa, 67 anos, <strong>Quintã</strong>


Santa Bárbara<br />

Que descansasse e dormisse<br />

E que nenhum medo me tocasse,<br />

Nem de ar, nem de sombra,<br />

Nem de peso de mão pesada.<br />

Quatro cantos tem a casa,<br />

São Lucas, São Marcos, São Mateus<br />

E bós, meu dibino Deus.<br />

Santa Bárbara bendita,<br />

Que no céu está escrita,<br />

Com papel e água benta,<br />

Pedindo a Nosso Senhor<br />

Que nos abrande esta tormenta.<br />

Ao lavar a cara de manhã<br />

Alma de Cristo santificai-me,<br />

Corpo de Cristo salvai-me,<br />

Sangue de Cristo inebriai-me,<br />

Água de lá de Cristo lavai-me,<br />

Paixão de Cristo confortai-me,<br />

Ó meu bom Jesus, ouvi-me,<br />

Dentro das vossas chagas escondei-me,<br />

Do inimigo maligno defendei-me,<br />

Na hora da minha morte chamai-me<br />

Maria de Lassalete, 64 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Isaura Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

E mandai-me ir para vós, para que vos louve com os vossos santos.


Ao deitar<br />

Por todos os séculos dos séculos. Ámen.<br />

Com Deus me deito,<br />

Com Deus me alebanto,<br />

Com a graça de Deus e à do dibino Espírito Chanto,<br />

A Chenhora que me cubra com o cheu manto.<br />

Che eu co ele coberta for,<br />

Não terei medo nem temor,<br />

Quanto deste mundo for.<br />

Chenhor, eu dormir quero.<br />

Che eu morrer, alumiai-me<br />

Co as onze mil candeias da Chantíssima Trindade.<br />

Santíssima Trindade me acompanhe,<br />

O Espírito Santo me dê a luz,<br />

Encomendai a minha alma<br />

Ao chanto nome de Jesus.<br />

Na sepultura da vida me deito,<br />

Não sei se dela me boltarei a lebantar,<br />

Se a morte me bier buscar,<br />

Tenho os meus pecados por confessar.<br />

Confesso-os a bós, ó meu Deus,<br />

Que sabeis quantos eles são.<br />

Dai-mos por perdoados<br />

E botai-me a absolbição,<br />

Enquanto eu faço um acto de contrição.<br />

Nídia Costa, 67 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, <strong>Quintã</strong>


Senhor do horto<br />

Entrego ao Jesus<br />

E à santíssima cruz<br />

E ao Santíssimo Sacramento<br />

E às relíquias que tem dentro<br />

E às três missas de Natal,<br />

Para que nada nos faça mal.<br />

O Anjo da Guarda e a Birgem Maria<br />

Nos faça companhia,<br />

Padre-nosso e Ave-maria.<br />

Senhor do horto,<br />

Foste preso, foste morto,<br />

Perdoai os meus pecados,<br />

Que são tantos e tão perlongados.<br />

Fui aos pés do confechor,<br />

Não os pude confechar,<br />

Mas confecho a bós, Chenhor,<br />

Que chabeis quantos eles chão:<br />

Esquecidos e lembrados,<br />

Conhecidos e desconhecidos,<br />

Confechados e por confechar.<br />

Ai meu Deus, de tudo bos peço perdão.<br />

Dai-me neste mundo a contrição<br />

E no outro a chalbação.<br />

Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Maria Celeste Costa, 82 anos,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Bênção do pão<br />

São Mamede te levede,<br />

São Vicente te acrescente,<br />

São João te faça bom pão.<br />

Responso a Santo António<br />

Santo António se bestiu e se calçou,<br />

Sua cajatinha pegou,<br />

A seu caminho andou,<br />

Jesus Cristo encontrou,<br />

Jesus Cristo lhe perguntou:<br />

- Ó António, onde vais?<br />

- Eu ao céu me vou.<br />

- Tu ao céu não irás,<br />

Tu na terra ficarás.<br />

Quando as coisas se perderem,<br />

Todas tu encontrarás;<br />

Quantas missas se disserem,<br />

A todas tu ajudarás.<br />

Santo António che bestiu e che calçou,<br />

Ao caminho se botou,<br />

Jesus Cristo encontrou,<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, Quinta<br />

Maria de Lassalete, 64 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Edite Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Jesus Cristo lhe perguntou:<br />

- António, onde bais?<br />

- Ao céu bou.<br />

- Tu ao céu não irás,<br />

Tu na terra ficarás.<br />

Quantas michas che rezarem,<br />

Quantas tu ajudarás;<br />

Quantas coijas che perderem,<br />

Todas tu encontrarás.<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, <strong>Quintã</strong>


Cortar o bicho<br />

Corto-te,<br />

Cobra, cobrão,<br />

Sapo, sapão,<br />

Aranha, aranhão,<br />

Lagarto, lagartixa,<br />

Todo o bicho peçonhento,<br />

Que não cresça nem abeça,<br />

Nem junte o rabo com a cabeça.<br />

Em louvor de São Simão,<br />

Pa trás sim, pa frente não.<br />

Composições Líricas<br />

Ensalmos<br />

Isaura Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Pico<br />

Pico, eu piquei<br />

Um greirinho de milhão.<br />

Fui lebá-lo ao moinho,<br />

O moinho não moeu.<br />

Chamei por Santiago,<br />

Santiago não me ouviu.<br />

Ouviram-me os ladrões,<br />

Apalparam-me os calções.<br />

Binagraça, binagraça,<br />

A beber binho pela cabaça.<br />

Dona Brita da balança,<br />

Dá um pincho e põe-te em França.<br />

Composições Líricas<br />

Lúdicas: rimas infantis<br />

Isaura Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong>


Jogo (semelhante ao bom barqueiro)<br />

- Ó condessa, ó condessinha,<br />

Ó condessa do Aragão,<br />

Benho pedir-te uma filha,<br />

De tantas que elas são.<br />

- De tantas que elas são,<br />

Não te dou filho, nem filha,<br />

Nem por ouro, nem por prata,<br />

Nem pelo sangue da lagarta,<br />

Que mos custou a criar.<br />

Composições Líricas<br />

Lúdicas: outras<br />

Edite Costa, 52 anos, Quinta


Em Lisboa se formou<br />

Palácio de grande altura,<br />

Muita gente lá morreu,<br />

Outra foi para a sepultura.<br />

Casa rica tem fartura,<br />

Quem doba tem seu sarilho,<br />

Bão as galinhas ó milho,<br />

A culpa é dos pardais.<br />

Quem tem urros tem altrafais<br />

E também tem os seus estribos.<br />

Na praça se bendem figos,<br />

P’ra contentar os rapazes.<br />

No mar andam alcatrazes<br />

E também andam gaivotas.<br />

Menina das pernas tortas,<br />

Untadas com unguento.<br />

Moe o moinho a vento,<br />

(?) ta uma aranha.<br />

Ó que cantiga tamanha,<br />

Que não tem princípio nem fim.<br />

Um raminho de alecrim,<br />

P’ra (?) dos namorados.<br />

As armas são p’rós soldados<br />

E também para os caçadores.<br />

Feliz de quem tem amores,<br />

Bem contente pode andar.<br />

Uma gaita para tocar,<br />

Um pente para a cabeça,<br />

Menina não endoideça,<br />

Que ainda pode ser feliz.<br />

Composições Líricas<br />

Outras: rimas várias


Dona Perra<br />

Quem tem tamanho nariz,<br />

Que lhe chega até ao seio,<br />

Já muitos lha têm gabado,<br />

P’rá bigorna de um ferreiro,<br />

P’ráa safra de um ferrador,<br />

Menina precisa de usar baqueta,<br />

Para tocar tambor.<br />

Dona Perra palradora,<br />

Por alcunha tagarela,<br />

Bibia muito desgostosa,<br />

Por desconfiarem dela.<br />

Tinham-lhe dito um segredo<br />

A comadre Cotovia,<br />

Quando foi à noitinha,<br />

Já toda a gente o sabia.<br />

Nídia Costa, 67 anos e Isaura Costa, 52 anos, <strong>Quintã</strong><br />

Nídia Costa, 67 anos, <strong>Quintã</strong>


Composições Narrativas<br />

Histórias relativas a alcunhas<br />

Os da Campeã chamabam “calçonicos” ao pobo de <strong>Quintã</strong>, pois eles usabam as<br />

calças curtas. Então eu dizia:<br />

- Ó mãe, por que é que nos chamam calçonicos?<br />

- Olha, quando te chamarem calçonicos, diz-lhe assim: chou calçonica porque o<br />

alfaiate era da Campeã e roubou o pano das calças e fê-las curtas.<br />

O povo ficou assim conhecido pelos calçonicos.<br />

Maria Lisete Costa, 66 anos, <strong>Quintã</strong>

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