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Vila Real - Mondrões.pdf - dlac

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MONDRÕES


Mondrões é uma Freguesia rural, situada nas faldas do Marão, a qual faz parteintegrante do Concelho e Distrito de <strong>Vila</strong> <strong>Real</strong>.Com uma área de 11,24 km 2 e cerca de 1500 habitantes, a Freguesia deMondrões dista cerca de 4 km da capital de distrito – <strong>Vila</strong> <strong>Real</strong> – e é constituída pelaspovoações de Areias, Bisalhães, Feirões, Gulpilhares, Marinheira, Mondrões, Quintela,Sapiões e Sordo.Presume-se que a aldeia nasceu no lugar do Calvário, de um castro que se pensalá ter existido, mas do qual não restam vestígios. Esta Freguesia é considerada muitoantiga, o que se pode certificar pela existência de uns restos de muros, que, devido à suadisposição característica, apontam ser ruínas de muralhas que protegiam a antiga vila.No entanto, de maior relevo ainda são os dólmens que foram encontrados naFreguesia, os quais remontam à fundação desta povoação e a épocas ainda maisrecuadas no tempo.Mondrões, como foi já mencionado, foi uma vila, tendo recebido foral de D.Manuel em 15 de Dezembro de 1519.A aldeia é, ainda hoje, composta por casas de granito, de que são exemplo aCasa do Largo e a Igreja Matriz, cujo nome lhe é dado por Santiago.Santiago é, portanto, o Santo padroeiro da Freguesia e a festa em suahomenagem decorre no último fim se semana de Julho, prolongando-se por quatro dias,durante os quais se realizam procissões, bailes e jogos tradicionais.As principais actividades económicas da Freguesia giram em torno daagricultura, destacando-se a pecuária e a vitivinicultura. Os terrenos férteis de Mondrõespermitem a prática da policultura. Assim, além do vinho, produz-se nesta região frutavariada, bem como milho e batata.Contudo, não é só no sector primário que as actividades da população activaassentam. Deste modo, as indústrias de cimento, de alumínios e de transformação degranito, bem como o comércio e os demais serviços, são também ocupações dapopulação residente.A olaria de Bisalhães é um ex-libris da região, devido à sua tradição secular, quese prolonga até aos nossos dias. São igualmente típicos e conhecidos as colchas, asmantas e os tapetes de linho feitos à mão e que conferem a Mondrões a fama popular deser a Freguesia do concelho onde melhor se trabalham os têxteis artesanais.Página 2 de17


Composições LíricasDe Sabedoria: Textos proverbiaisQuem a boa árbore se encosta, boa sombra o cobre.(usado para elogiar uma pessoa)Era habitual na aldeia, aquando das vindimas, pendurar uvas e deixá-las lá até aoano seguinte, porque diz-se que:Enquanto houber ubas numa casa, há sempre dinheiro.Em Abril águas mil,Quantas mais puderem bir,Coadas por um funil.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesPáscoa em Março,Fome ou mortaço.Se ‘tiber sol no dia da Senhora das Candeias,Diz-se que está o Inberno p’ra bir;Se ‘tiber a chober, está o Inberno fora.Ou:Senhora da Candelora, se ri [o tempo], o Inberno está p’ra bir,Se chora, está fora.Maria Armanda Alves da Rocha, 60 anos, MondrõesPágina 3 de17


Composições LíricasMágicas e Religiosas: Orações e ResponsosA Santa BárbaraSanta Bárbara, Santa Virgem,Se meta antre nós e ó perigo!Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesSanta Bárbara bendita,Que no céu estais escrita,Com papel e água benta,Librai-nos desta tormenta!No fim, reza-se um Pai-Nosso pelas almas do purgatório ou dois.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesSanta Bárbara se bestiu e calçou,Suas santas mãos labou,Ó caminho se deitou,Nosso Senhor a encontrou,Nosso Senhor lhe perguntou:- Tu, Bárbara, onde bais?- Bou, Senhor, ao céu, onde Bós estais!- Num bais Bárbara, num bais Bárbara,Leba-a por outro caminho,Onde num haja pão, nem binho,Página 4 de17


Nem galinha que cante,Nem galo que faça espanto.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesPara que o pão cresça ao cozerA gente fazia uma cruz co’ a mão e dizia:São Mamede te lebede,São Bicente t’acrescenteE Nossa Senhora da RibeiraTe faça como a flor da laranjeira.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesResponso a Santo AntónioSanto António se bestiu e calçou,Suas santas mãos labou,Ó caminho se deitou,Nosso Senhor o encontrou,Nosso Senhor lhe perguntou:- António, onde bais?- Bou, Senhor, ao céu, onde Bós estais!- No céu não entrarás,Na terra ficarás,Tudo guardarás,Tudo ampararás!Ó meu Padre Santo António, recuperai o perdido,Lembrai o esquecidoE encaminhai o errado.Página 5 de17


Isto diz-se quando se bai p’ra longe ou quando se perde uma coisa.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesPadre Santo António, adbogado das coisas perdidas,Seja adbogado das nossas alminhas,Que se num percoE nos guarde tudo quanto for nosso.Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesPágina 6 de17


Composições LíricasMágicas e Religiosas: EnsalmosTalhar a zirplaPõe-se numa malga água e azeite e depois ou com um raminho d’olibeira, oud’orgueira, ou de fentos… E depois diz-se assim:Nossa Senhora, quando pelo mundo andou, perguntou a Pedro:- Donde bens Pedro?- Benho de Roma.- Que bai por lá?- Muita gente doente com zirpla, zirplão.- Volta atrás, Pedro, lá talharás co’ este azeite de oliba e aguinha da fontee erbinhas do monte!Faz-se aquilo nobe bezes com uma pernadinha de cada bez. Molha-se uma decada bez e passa-se, assim, de bolta daquele local.No fim de dizer as nobe bezes, junta-se todas e molha-se todas outra bez na águae no azeite e ópois diz-se a Salve-Rainha.Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesZirpla, zirplão, impola má,Eu te talho e retalhoCom azeite da oliba,Com a lã da obelha biba,Co’ a graça de Deus, logo sararás.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesTalhar o coxoPágina 7 de17


Aranha, aranhão,Sapo e sapão,Todo o bitcho da maldição,Que anda de zorras pelo tchão,Eu te talho com a faca do meu pão,P’ra que andes p’ra trás e p’ra diente não.Em louvor de São Cibrão, São Cipreste,Tudo o que fizeste pela madrinha preste.Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesTalhar a espinhela caídaBatia-se uma coube bem batida e, depois, molhaba-se aquela coube com azeite edepois punha-se onde tinha a dor e depois prendia-se com a fralda de uma criança, ouc’uma toalha que ligasse, segurasse e debia estar até secar. E diz-se:Nossa Senhora,Quando pelo mundo andou,Três nobelos de oiro trazia:Com um tapaba,Com outro urdiaE com outro o baço de espinhela erguia.Diz-se isto assim nobe bezes.Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesTalhar qualquer ar (dores de cabeça ou outras dores)Diz-se o nome da pessoa seguido de:Página 8 de17


Deus te fez,Deus te criou,Deus te tire o malQue contigo entrou.Diz-se isto nobe bezes e depois diz-se a Salve-Rainha, durante um número dedias pernão (três ou nobe…).Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesContra o mau-olhado e as pragasassim:Na igreja, na missa, entre a hóstia e o cálice… Quando ergue a hóstia, eu digoA casa de meu pai eu benho orar,Pragas e rogadas entre o cálice e a hóstiaEu benho lebantar,Em loubor do Santíssimo SacramentoE das três pessoas da Santíssima Trindade.Ámen.Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesPágina 9 de17


Composições NarrativasOutras: Narrativas brevesUm home bira-se p’ra uma mulher e diz:- Ó Maria, tu porque num cozes o pão? Olha, tu tens masseira, tens pá, tenspeneira, tens forno e num cozes o pão porquê?Ela disse:- Mas num tenho a farinha!Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesAqui atrasado, morreram aqui três pessoas. E eu birei-me p’á minha afilhada edisse:- Ó Maria Armanda, tu não tens oubido cantar um passarinho?- Tenho!Digo eu assim:- Ah! Bai haber coisa?!E diz ela:- Ó madrinha, …Num sei porquê, nesta aldeia, em Janeiro, morrem sempre três ou quatro pessoasou cinco. Des’que me lembro…Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesPágina 10 de17


Composições NarrativasHistórias JocosasNo contexto das trovoadas, a Sr.ª D. Maria Armanda Rocha contou-nos ahistória do homem que andava a apanhar feijões:Um home andaba a apanhar feijões numa terra que num era dele. Quando tal,beu uma treboada munto forte, e ele aflige-se todo. Ele disse:Santiago de Mondrões,São Trocato de Agarez,Se é por causa dos feijões,Eles aí bão outra bez.Pegou no saco dos feijões, deixou-o ficar e beu-se embora para Mondrões.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesTi Joaquim Seco- Ai Joaquim, Joaquinzinho! Eras tão sequinho e agora deste-nos um copinho.Quer dizer, o homem estaba morto, mas as pessoas que estabam lá, estabam alihá muito tempo e oferecia-se qualquer coisa.Então, um homenzito, que já morreu, que se chamaba Manuel Rante, bebeu maisuma pinga e que habiam de fazer os marotos que lá estabam! Foram buscar uma corda eele [Manuel] estaba ao pé dele [morto].- Ai Joaquim, Joaquinzinho! Eras tão sequinho e deste-nos um copinho.O home estaba morto porque era ti Joaquim Seco, era o apelido do homem.Depois assentou-se ó pé dele, ó tempo que se assentou, aqueles marotos forambuscar num instante uma corda e ataram ó morto e ataram ó home. Quando ele ia p’a selebantar, ó foi ele ó foi o tio António Negro, mas parece-me que foi ele… o fulano quetinha bebido e que eles ataro, deu-lhe sono e dormiu. Quando ia p’a se lebantar, o mortobeu co ele. E ele:- Ai, que até depois de morto se meteu comigo!Foi berdadeira! Foi berdadeira!Página 11 de17


Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesO homem que acreditava demasiado na fidelidade da mulherHabia um casal que se dabo munto bem, marido e mulher, munto amigos e tinhoum criado.Um dia foro p’ó monte baçar estrume, mato p’ra trazer p’ás lojas do gado. E ópatrão disse p’ró criado:- Ai a minha mulher, a minha mulher…Enchia a boca na mulher, que a mulher le era muito fiel, que a mulher era assim,que a mulher era assado…E o criado disse assim:- Olhe, meu patrão, bamos fazer aqui um combinado. O senhor bai a pé até pertodo pobo, e ó depois lá faz-se morto, eu lebo-o às costas, como bocê está morto, e tchegolá a casa, ponho-o em cima do banco e componho-o im como bocê está morto. E depoisbocê bai esperar pelo resto da combersa.- ‘Tá bem!Lá foi… Lá o home se fez morto, a mulher quando o biu assim, o homem ótchingalhão e às costas do criado:- Ah! O que foi, o que foi?- O seu home está morto, o seu home está morto!- ‘Tá nada!?- ‘Tá, ‘tá… ‘Tá morto. Não, tchegue-se p’ra lá, fuja p’a trás, num le pode pôr asmãos.Senão ela daba conta que ele estaba quante, num é?- Bocê saia p’ra lá, num benha cá pôr-le as mãos. Eu cá o componho, bá-mebuscar a roupa e eu cá o bisto e cá o componho.Lá o compôs, lá o deitou.Primeiro, usaba-se, enquanto num se fosse buscar o caixão, punham o mortonum banco comprido.E lá deitou o home, em cima do banco, lá o pôs munto compostinho, os péscalçou-o e compôs os pezinhos munto direitinhos e pediu-le um lançol p’ó cobrir,porque era uso cobrir-se os mortos com um lançol.Página 12 de17


- Ó mãe, tome lá um obo, com dois que o pai le dá, são três.E ela ficou c’os outros três. E ficaram todos com três obos.”Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesA mulher que comeu a comida toda do homemEra um casal que tinha umas terras longe de casa. E depois, ele ia trabalhar demanhã e depois ela ia-lhe co’ almoço. Mas, não tinha mais nada que lebar, cozeu trêsobos e lebou-le três obos cozidos. Mas depois, então, co’ cesto grande, co’… ela pôs lácomida pouca. Ela lebaba o cesto c’os obos à cabeça, c’o comer p’ra ele e p’ra ela…Mas depois, como o caminhado era longe, pousa o cesto.- Bem, destes três, eu sei que um é p’ra mim.E p’ra num ir a pesar, comeu. Só lebaba dois!Foi andando mais um bocado, lá tornou a pousar o cesto.- Destes dois, eu sei que um é p’ra mim!E comeu o obo.Depois andou mais um bocado. Aquecia muito, era na hora do dia!Tornou a pousar o cesto.- Eu sei que desta metade que ficou, metade é p’ra mim e metade é p’ra ele.Então, bou comer já.Tchegou lá só com metade do obo. Ela disse que estaba assim c’o cesto muntopesado e ele foi e ajudou-le a descer o cesto.Quando biu, só biu metade do obo. Mas ela, conforme fez munta força p’adescer o cesto, deu um traque munto grande. Ele:- Olha, pap’ó, sua reca!E ela pegou na metade do obo e comeu-o.Ele, quando foi a ber:- Então o meu obo?!- Então, trazia-te aqui metade do obo… Disseste que o papasse, papei-o.Maria Armanda Alves da Rocha, 60 anos, MondrõesPágina 14 de17


TradiçõesÉ costume na aldeia fazerem-se certas acções contra o mau olhado:Pôr um corno d’uma obelha ou d’um carneiro numa parte da casa.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesDeitar sal virge nos cantos da casa.porta de entrada).Pôr uma ferradura da pata esquerda do cabalo ou num carro, ou numa casa (naMaria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos, MondrõesA par de tudo isto, existem também na região algumas crenças relacionadas como mau agouro de certas situações. Assim, acredita-se no mau agouro:Da coruja e aves afins (pássaro que anuncia a morte).Do cão a uivar, que é também sinal de que alguma coisa má vai acontecer naterra. E a população, nessa altura, tira o calçado do pé esquerdo e vira-o com a partepara cima.Do calçado, que se se virar é mau sinal.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesDo banco, que se estiver “de patas ó ar”, isso é mau sinal, é símbolo de azar.Maria Armanda Alves da Rocha, 60 anos, MondrõesPágina 15 de17


Dia de RamosA propósito das trovoadas, contou-nos a Sr.ª D. Maria Armanda Rocha que “nodia de Ramos, lebamos um bocadinho de olibeira p’rá missa e trazemos e guardamos.Quando a treboada for munto forte, a gente pega no ramo de olibeira e põe arder àentrada da porta.”Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesAntigamente, quando nascia uma criança e depois num dormia, a mãe num sabiaque lhe habia de fazer, coitadinha, até teria fome, num sei, a mãe num sabia o que lhehabia de fazer.- A minha filha num dorme! A minha filha num dorme…E atão, a mãe pegaba num colmeiro de centeio e daba, fazia um circuito. Elahabia de sair de um lado e bir ter ao mesmo lado. Daba uma bolta, fosse numa aldeia,fosse num campo, ela habia de dar uma bolta e binha ter ao mesmo lado. E a criança,daí p’ra diante, já começaba a dormir.Maria Armanda Rocha, de 78 anos,Para fazer parar a tchuba ou abrandar quando a gente quer trabalhar, punha-seuma malga de sal e pede-se pelas almas e o sal, quando não tchobia, daba-se ao primeiropobre que andaba pelas portas.Maria Armanda Rocha, de 78 anos,Maria de Lurdes Mourão Leal, 60 anos,Maria Armanda Alves da Rocha, 60 anos, MondrõesPágina 16 de17


Quando uma pessoa tem uma bisita e a bisita, às bezes, demoraba mais qu’óqu’a gente qu’ria, a gente punha uma bassoura birada p’ra cima atrás da porta p’á bisitase ir embora.Maria Armanda Alves da Rocha, 60 anos, MondrõesÉ também usual na aldeia, quando alguém pragueja, ameaçar-se essa pessoa delhe rogar uma praga entre a hóstia e o cálice. Este facto assusta-as bastante.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesQuando se perdia alguma coisa, era também usual atarem à perna do bancoesquerdo um baraço.Maria Armanda Rocha, de 78 anos, MondrõesPágina 17 de17

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