a bricolage como processo de criação na música ... - Demac; UFU.
a bricolage como processo de criação na música ... - Demac; UFU.
a bricolage como processo de criação na música ... - Demac; UFU.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
inicialmente a função <strong>de</strong> “adaptar” obras <strong>de</strong> gosto popular a diferentes formações<br />
instrumentais e <strong>de</strong> criar “roupagens” a<strong>de</strong>quadas a canções populares, o papel do<br />
arranjador com o tempo se amplia. Há casos em que ele atua quase <strong>como</strong> um “segundo<br />
compositor”, no sentido <strong>de</strong> criar algo particular e único a partir <strong>de</strong> uma obra já existente.<br />
Assim, não é <strong>de</strong> se espantar que este tenha sido um terreno fértil para o uso <strong>de</strong> <strong>bricolage</strong><br />
musical.<br />
Também nesse caso é bastante comum haver semelhanças entre o material<br />
“bricolado” e a <strong>música</strong> a ser arranjada. Ambos po<strong>de</strong>m ter, por exemplo, similarida<strong>de</strong>s<br />
sonoras (<strong>de</strong> harmonia, <strong>de</strong> melodia, etc), mesma temática (explicitadas <strong>na</strong>s letras <strong>de</strong><br />
canções, por exemplo), relação ‘contextual’ (representarem um mesmo período ou<br />
acontecimento histórico por exemplo), mesmo(s) compositor(es), <strong>de</strong>ntre várias<br />
possibilida<strong>de</strong>s.<br />
No exemplo transcrito abaixo há diversas semelhanças entre o “origi<strong>na</strong>l” (a<br />
canção Estrada do Sol) e o material bricolado ( presente em Chovendo <strong>na</strong> Roseira): As<br />
duas são composições <strong>de</strong> Tom Jobim, sendo Estrada do Sol uma parceria <strong>de</strong>ste com<br />
Dolores Duran. Ambas tratam <strong>de</strong> temática semelhante, que fica clara ao compararmos<br />
os versos iniciais das canções:<br />
Olha, está chovendo <strong>na</strong> roseira<br />
que só da rosa mas não cheira<br />
a frescura das gotas úmidas<br />
(Chovendo <strong>na</strong> Roseira)<br />
É <strong>de</strong> manhã<br />
Vem o sol mas os pingos da chuva que ontem caiu<br />
ainda estão a brilhar<br />
ainda estão a dançar<br />
(Estrada do Sol)<br />
Tanto Chovendo <strong>na</strong> Roseira quanto Estrada do Sol são em estrutura rítmica<br />
ternária (ou criam essa sensação através <strong>de</strong> recursos rítmico-melódicos), remetendo à<br />
valsa ou à “valsa jazz”, algo incomum <strong>na</strong> obra <strong>de</strong> Jobim. Harmonicamente também há<br />
semelhanças, <strong>como</strong> o fato <strong>de</strong> ambas as composições começarem com um certo “caráter<br />
modal”, gerado pelo uso <strong>de</strong> cadências não resolvidas. No caso <strong>de</strong> Estrada do Sol a<br />
sequência harmônica II_V7 <strong>na</strong> to<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Dó maior se repete por vários compassos<br />
6