Contos Gauchescos - Unama
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roncando na respiração, meio cambaleando o boi velho deu uns passos mais,<br />
encostou o corpo ao comprido no cabeçalho do carretão, e meteu a cabeça,<br />
certinho, no lugar da canga, entre os dois canzis... e ficou arrumado, esperando que<br />
o peão fechasse a brocha e lhe passasse a regeira na orelha branca...<br />
E ajoelhou… e caiu… e morreu...<br />
Os cuscos pegaram a lamber o sangue, por cima dos capins… um alçou a<br />
perna e verteu em cima... e enquanto o peão chairava a faca para carnear, um<br />
gurizinho, gordote, claro, de cabelos cacheados, que estava comendo uma munhata,<br />
chegou-se para o boi morto e meteu-lhe a fatia na boca, batia-lhe na aspa e dizia-lhe<br />
na sua língua de trapos:<br />
— Tome, tabiúna! Nó té... Nô fá bila, tabiúna!...<br />
E ria-se o inocente, para os grandes, que estavam por ali, calados, os diabos,<br />
cá pra mim, com remorsos por aquela judiaria com o boi velho, que os havia carregado<br />
a todos, tantas vezes, para a alegria do banho e das guabirobas, dos araçás,<br />
das pitangas, dos guabijus!…<br />
— Veja vancê, que desgraçados; tão ricos… e por um mixe couro do boi<br />
velho!...<br />
— Cuê-pucha!…é mesmo bicho mau, o homem!<br />
CORRER EGUADA<br />
Se vancê fosse daquele tempo, eu calava-me, porque não lhe contaria<br />
novidade, mas vancê é um guri, perto de mim, que podia ser seu avô... Pois escuite.<br />
Tudo era aberto; as estâncias pegavam umas nas outras sem cerca nem<br />
tapumes; as divisas de cada uma estavam escritas nos papéis das sesmarias; e lá<br />
um que outro estancieiro é que metia marcos de pedra nas linhas, e isso mesmo<br />
quando aparecia algum piloto que fosse entendido do ofício e viesse bem<br />
apadrinhado.<br />
Vancê vê que desse jeito ninguém sabia bem o que era seu, de animalada.<br />
Marcava-se, assinalava-se o que se podia, de gado, mas mesmo assim, pouco;<br />
agora, o que tocava à bagualada, isso era quase reiúno... pertencia ao campo onde<br />
estava pastando. E mesmo nem tinha valor nenhum: égua baguala era só para tirarse<br />
as loncas, alguma bota.<br />
Depois é que apareceram uns lamões e uns ingleses, melados, que<br />
compravam o cabelo: por isso às vezes se cerdeava; mas eles pagavam uma tuta e<br />
meia.<br />
Veja vancê: sempre a estrangeirada especulando cousas de que a gente nem<br />
fazia caso...<br />
Eguada xucra, potrada orelhana, isso, era imundície, por esses campos de<br />
Deus; miles e milesl...<br />
E bicho brabo pra se tropear, esse!... Barulhento, espantadiço, disparador e<br />
ligeiro, como trezentos diabos!<br />
Mas, como quera, era sempre um divertimento macanudo, uma volteada de<br />
baguais!<br />
Ah!…<br />
Não há nada como tomar mate e correr eguada!<br />
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