Contos Gauchescos - Unama
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www.nead.unama.br<br />
E vai, como pegou o Osoro pela esquerda, do lado, meio por detrás, por<br />
debaixo da paleta, o facão saiu no rumo certo e foi bandear a Lalica meio de lado,<br />
sobre a esquerda da frente.<br />
Vancê compr’ende? Do mesmo talho varou os dois corações, espetou-os no<br />
mesmo feno, matou-os da mesma morte, fazendo os dois sangues, num de cada<br />
peito, correrem juntos num só derrame... que foi lastrando pelo chão duro, de cupim<br />
socado, lastrando... até os dois corpos baterem na parede, sempre abraçados,<br />
talvez mais abraçados, e depois tombarem por cima do balcão, onde estava<br />
encostado o tocador, que parou um rasgado bonito e ficou olhando fixe para aquela<br />
parelha de dançarmos morrentes e farristas ainda!...<br />
Levantou-se uma berraçada.<br />
— Matou! Foi o Chico Ruivo!... Amarra! Cerca!...<br />
Mas o Ruivo parece que voltou a si; coriscou o facão aos dois lados e<br />
atropelou a porta, ganhou o terreiro e se foi ao palanque onde estava o ruano do<br />
Osoro: montou e gritou pra os que ficavam:<br />
— Siga o baile!...<br />
E deu de rédea, no escuro da noite.<br />
O Arranhão acudiu ao berzabum; aquele safado, curtido na ciganagem, só<br />
soube dizer:<br />
— Pois é... jogaram o osso, armaram a sua paranda... mas nenhum pagou<br />
nada ao coimeiro!... Que trastes!...<br />
O DUELO DOS FARRAPOS<br />
Já um ror de vezes tenho dito — e provo — que fui ordenança do meu<br />
general Bento Gonçalves.<br />
Este caso que vou contar pegou o começo no fim de 42, no Alegrete e foi<br />
acabar num 27 de fevereiro, daí dois anos, nas pontas do Sarandi, pras bandas e já<br />
pertinho de Santana.<br />
Foi assim. Tenho que contar pelo miúdo, pra se entender bem. Em agosto de<br />
42, o general, que era o presidente da República Rio-Grandense — vancê<br />
desculpe… estou velho, mas inté hoje, quando falo na República dos Farrapos, tiro o<br />
meu chapéu!... — o general fez um papel, que chamavam-lhe — decreto —<br />
mandando ordens pr’uma eleição grande, para deputados; estes tais é que iam<br />
combinar as leis novas e cuidar de outras cousas que andavam meio à matroca, por<br />
causa da guerra.<br />
Em setembro houve a eleição; em outubro já se sabia quem eram os macotas<br />
votados, que eram quase todos os torenas que andavam na coxilha. O jornal do<br />
governo deu uma relação deles e dos votos que tiveram, que eu sabia, mas já<br />
esqueci.<br />
Por sinal que esse jornal chamava-se — Americano — e tinha na frente um<br />
versinho que saía sempre escrito e publicado e que era assim, se bem me lembro:<br />
“Pela Pátria viver, morrer por ela;<br />
Guerra fazer ao despotismo insano;<br />
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