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CONFErÊNCIA<br />
exercício <strong>da</strong>s escolas públicas, atribuin<strong>do</strong> à Capes a indução, o fomento<br />
e a avaliação <strong>de</strong>sses cursos. O piso salarial nacional, recentemente<br />
proposto pelo MEC e aprova<strong>do</strong> pelo Congresso, e as bolsas <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> para<br />
cursos <strong>de</strong> licenciatura, forneci<strong>da</strong>s pela Capes, levaram a um aumento <strong>da</strong>s<br />
matrículas nesses cursos. Essas iniciativas precisam ser amplia<strong>da</strong>s e<br />
aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s no perío<strong>do</strong> 2010-2020, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a compensar déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
negligência nessa área.<br />
O fortalecimento <strong>do</strong> ensino superior <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> é condição<br />
necessária para o <strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológico <strong>do</strong> País. Da<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> 2005 mostram que, entre a população <strong>de</strong> 25 a 34 anos no Brasil, apenas<br />
10% tinham completa<strong>do</strong> a educação superior, versus 34% em média nos<br />
países <strong>da</strong> OCDE. A recente criação <strong>de</strong> Institutos Fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> Educação,<br />
<strong>Ciência</strong> e <strong>Tecnologia</strong> (Ifet) e a interiorização <strong>de</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais<br />
contribuem para aumentar a oferta <strong>de</strong> educação superior <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
em geral e, em particular, para a formação qualifica<strong>da</strong> <strong>de</strong> professores<br />
para a educação básica. A política brasileira <strong>de</strong> pós-graduação po<strong>de</strong><br />
ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> um exemplo <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira política <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> na medi<strong>da</strong><br />
em que mostrou continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e avanço sistemático ao longo <strong>de</strong> quase<br />
quatro déca<strong>da</strong>s, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> governo e até<br />
<strong>de</strong> regimes políticos pelas quais o País passou durante esse perío<strong>do</strong>.<br />
O sistema <strong>de</strong> avaliação <strong>da</strong> Capes tem funciona<strong>do</strong> como forte indutor <strong>do</strong><br />
aumento <strong>da</strong> produção científica <strong>de</strong> professores e alunos <strong>do</strong>s programas<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> brasileiros O número <strong>de</strong> <strong>do</strong>utores titula<strong>do</strong>s no Brasil<br />
cresceu 278% entre 1996 e 2008, o que correspon<strong>de</strong> a uma taxa média<br />
<strong>de</strong> 11,9% <strong>de</strong> crescimento ao ano. A gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> programas<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> e <strong>do</strong> número <strong>de</strong> <strong>do</strong>utores titula<strong>do</strong>s em um reduzi<strong>do</strong> número<br />
<strong>de</strong> instituições, uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> fe<strong>de</strong>ração e regiões brasileiras está sen<strong>do</strong><br />
diluí<strong>da</strong> por um significativo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcentração <strong>da</strong> formação<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong>utores no Brasil.<br />
Além disso, o próprio emprego <strong>do</strong>s <strong>do</strong>utores está passan<strong>do</strong><br />
por um processo <strong>de</strong> progressiva <strong>de</strong>sconcentração. É no entanto ain<strong>da</strong><br />
muito reduzi<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> <strong>do</strong>utores envolvi<strong>do</strong>s com ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> P&D<br />
em empresas.<br />
No nível <strong>de</strong> graduação, o ensino superior não tem<br />
acompanha<strong>do</strong> a rápi<strong>da</strong> evolução <strong>do</strong> conhecimento, que <strong>de</strong>man<strong>da</strong> uma<br />
formação ampla e flexível, capaz <strong>de</strong> permitir ao estu<strong>da</strong>nte e ao gradua<strong>do</strong><br />
cruzar as fronteiras disciplinares. Na gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong><br />
educação superior os estu<strong>da</strong>ntes são força<strong>do</strong>s a uma especialização<br />
prematura e sobrecarrega<strong>do</strong>s com uma carga horária que <strong>de</strong>ixa pouco<br />
espaço para cursos eletivos e o trabalho individual. Além disso, a formação<br />
<strong>de</strong> professores para o ensino básico é frequentemente relega<strong>da</strong> a cursos<br />
<strong>de</strong> licenciatura sem conteú<strong>do</strong>s específicos nas áreas <strong>de</strong> matemática e<br />
ciências e com nível inferior ao <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> bacharela<strong>do</strong>.<br />
Novas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e campi fe<strong>de</strong>rais, implanta<strong>do</strong>s<br />
recentemente, em especial em ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s médias <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> País,<br />
apresentam propostas inova<strong>do</strong>ras, reforçan<strong>do</strong> a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
adian<strong>do</strong> a especialização, uma iniciativa que precisa ter continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
ser amplia<strong>da</strong>.<br />
O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para a próxima déca<strong>da</strong> é garantir a to<strong>do</strong>s os<br />
brasileiros uma educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, permitin<strong>do</strong> ao mesmo tempo que<br />
o enorme potencial <strong>de</strong> contribuição <strong>de</strong>sses ci<strong>da</strong>dãos possa ser utiliza<strong>do</strong><br />
em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s apropria<strong>da</strong>s e úteis para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. A revolução<br />
educacional necessária pressupõe uma política <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> que tenha<br />
continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e que perpasse vários setores <strong>do</strong> governo, com um esforço<br />
coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> nos níveis municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral, e com a participação<br />
<strong>de</strong> diversos ministérios e secretarias estaduais, especialmente nas áreas<br />
<strong>de</strong> educação, ciência e tecnologia, <strong>de</strong>senvolvimento industrial, agricultura,<br />
saú<strong>de</strong> e cultura. Pressupõe ain<strong>da</strong> um aumento substancial <strong>do</strong> percentual<br />
<strong>do</strong> PIB investi<strong>do</strong> em educação, superan<strong>do</strong> o padrão <strong>de</strong> investimento em<br />
A <strong>Semana</strong> C&T 2010| 22<br />
educação <strong>do</strong>s países <strong>da</strong> OCDE, <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 6% <strong>do</strong> PIB. Um programa<br />
coerente para os próximos anos <strong>de</strong>ve contemplar as seguintes<br />
Recomen<strong>da</strong>ções<br />
1. Os investimentos em educação <strong>de</strong>vem atingir, em 2020, um percentual<br />
<strong>de</strong> 10% <strong>do</strong> PIB. Esse percentual, proposto pela Conferência <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong><br />
Educação realiza<strong>da</strong> em 2010, é condição necessária para que to<strong>do</strong>s os<br />
brasileiros tenham uma educação básica <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e para que o ensino<br />
superior enfrente os <strong>de</strong>safios globais e nacionais que se colocam para a<br />
próxima déca<strong>da</strong>.<br />
2. Deve ser valoriza<strong>da</strong> a profissão <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> educação básica. Isso<br />
pressupõe um salário inicial atraente, comparável ao <strong>de</strong> outras profissões<br />
gradua<strong>da</strong>s, e uma carreira motiva<strong>do</strong>ra, com oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação<br />
continua<strong>da</strong> e especialização. Em particular, o piso salarial nacional <strong>de</strong>ve<br />
ser progressivamente aumenta<strong>do</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a atingir valores que atraiam<br />
bons estu<strong>da</strong>ntes para essa profissão. Com salários a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, o regime<br />
<strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong>s professores <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação exclusiva em ca<strong>da</strong><br />
escola, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que possam aju<strong>da</strong>r, além <strong>do</strong> horário <strong>de</strong> aulas, alunos com<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, e estimular estu<strong>da</strong>ntes com bom rendimento. O ingresso na<br />
profissão <strong>de</strong> professor <strong>de</strong>ve requerer um exame <strong>de</strong> certificação profissional<br />
e não <strong>de</strong>ve ser exclusivo para forma<strong>do</strong>s em cursos <strong>de</strong> licenciatura, mas ser<br />
acessível também a gradua<strong>do</strong>s em outros cursos que <strong>de</strong>monstrem ter o<br />
preparo pe<strong>da</strong>gógico necessário.<br />
3. Deve ser reforça<strong>do</strong> o papel <strong>da</strong>s instituições públicas <strong>de</strong> ensino superior<br />
na formação <strong>de</strong> professores para a educação básica. Os programas <strong>de</strong>vem<br />
ser mo<strong>de</strong>rnos e flexíveis, permitin<strong>do</strong> a estu<strong>da</strong>ntes matricula<strong>do</strong>s em cursos<br />
<strong>de</strong> bacharela<strong>do</strong> tornarem-se professores <strong>de</strong> educação básica, mediante<br />
treinamento pe<strong>da</strong>gógico. Os cursos <strong>de</strong> licenciatura e bacharela<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>vem se equivaler em quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O Programa <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong><br />
Professores para a Educação Básica <strong>de</strong>ve ser fortaleci<strong>do</strong> e amplia<strong>do</strong>.<br />
4. Deve ser implanta<strong>do</strong> o turno integral na escola pública, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a<br />
permitir uma educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> para to<strong>do</strong>s os brasileiros. A escola<br />
<strong>de</strong>ve ser um local privilegia<strong>do</strong> não só <strong>de</strong> educação formal, mas também<br />
<strong>de</strong> socialização <strong>da</strong> criança, através <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação física e<br />
artísticas, clubes <strong>de</strong> ciência e leitura. O turno escolar para a educação<br />
básica <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> no mínimo seis horas e atingir oito horas para a<br />
educação fun<strong>da</strong>mental em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s carentes, on<strong>de</strong> a escola <strong>de</strong>ve<br />
exercer o papel <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong> estruturas familiares <strong>de</strong>ficientes.<br />
Deve ser expandi<strong>do</strong> o atendimento à pré-infância, que comprova<strong>da</strong>mente<br />
reduz o fracasso escolar, compensa a diferença <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
resultante <strong>da</strong> origem social <strong>da</strong> criança e tem forte impacto na formação<br />
<strong>do</strong>s futuros ci<strong>da</strong>dãos.<br />
5. A educação em ciências basea<strong>da</strong> na investigação <strong>de</strong>ve ser incorpora<strong>da</strong><br />
à escola e aos programas <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores. Essa meto<strong>do</strong>logia,<br />
já a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> com sucesso por várias organizações no Brasil e no exterior,<br />
promove o pensamento lógico, aguça a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e o espírito crítico <strong>do</strong>s<br />
estu<strong>da</strong>ntes. Ela <strong>de</strong>ve ser incorpora<strong>da</strong> à formação <strong>do</strong>s futuros professores<br />
e à formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s atuais educa<strong>do</strong>res. A produção <strong>de</strong> materiais<br />
e meto<strong>do</strong>logias inova<strong>do</strong>ras <strong>de</strong>ve ser incentiva<strong>da</strong>. Na escola, a criança <strong>de</strong>ve<br />
apren<strong>de</strong>r a ler, a contar e a experimentar.<br />
6. O ensino médio <strong>de</strong>ve ser renova<strong>do</strong> e diversifica<strong>do</strong>. O ensino<br />
profissionalizante e tecnológico <strong>de</strong>ve ser expandi<strong>do</strong>, com a aceleração<br />
<strong>da</strong> implantação <strong>de</strong> escolas técnicas. Essa expansão <strong>de</strong>ve ser feita com<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, incluin<strong>do</strong> laboratórios a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, tecnologias <strong>de</strong> informação<br />
e comunicação mo<strong>de</strong>rnas e estágios em empresas <strong>de</strong> base tecnológica.<br />
A criação <strong>de</strong> novas ocupações profissionais e <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> educação<br />
profissional continua<strong>da</strong>, em conexão com as pesquisas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s nas<br />
instituições <strong>de</strong> educação superior, <strong>de</strong>ve ser incentiva<strong>da</strong>.<br />
7. A educação pública <strong>de</strong> nível superior <strong>de</strong>ve ser amplia<strong>da</strong>, com<br />
diversificação institucional e flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> curricular. A presença <strong>da</strong>s<br />
instituições públicas <strong>de</strong> ensino superior <strong>de</strong>ve ser amplia<strong>da</strong> e fortaleci<strong>da</strong>,<br />
<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a garantir a formação <strong>de</strong> profissionais com perfil a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológico <strong>do</strong> País. O <strong>de</strong>seja<strong>do</strong> aumento<br />
<strong>do</strong> número <strong>de</strong> brasileiros com educação superior <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> requer<br />
uma diversificação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los para as instituições públicas <strong>de</strong> educação<br />
superior, incluin<strong>do</strong> não apenas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas institutos tecnológicos<br />
e outras instituições com cursos <strong>de</strong> <strong>do</strong>is a três anos, volta<strong>da</strong>s para uma<br />
formação mais geral. Deve ser incentiva<strong>da</strong> a mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes<br />
entre essas diversas instituições. Nas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a especialização<br />
prematura <strong>de</strong>ve ser evita<strong>da</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o aluno possa escolher sua<br />
profissão após uma vivência universitária e tenha uma formação mais<br />
ampla, essencial no mun<strong>do</strong> contemporâneo, em que os perfis profissionais<br />
mu<strong>da</strong>m rapi<strong>da</strong>mente. A carga horária <strong>de</strong> aulas <strong>de</strong>ve ser reduzi<strong>da</strong>,<br />
incentivan<strong>do</strong>-se, através <strong>de</strong> um leque <strong>de</strong> eletivas, diversos percursos<br />
formativos. Cursos inova<strong>do</strong>res que explorem a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
promovam a formação <strong>de</strong> profissionais versáteis e criativos <strong>de</strong>vem ser<br />
incentiva<strong>do</strong>s. Devem ser abran<strong>da</strong><strong>da</strong>s ou elimina<strong>da</strong>s as exigências <strong>de</strong><br />
corporações profissionais que dificultem a criação <strong>de</strong>sses cursos.<br />
8. Deve ser incentiva<strong>da</strong> a formação <strong>de</strong> engenheiros. Apenas cerca <strong>de</strong> 6%<br />
<strong>do</strong>s egressos <strong>do</strong> nível superior no Brasil têm formação em engenharia.<br />
Na China, esse percentual chega a 38%. No âmbito <strong>da</strong> pós-graduação,<br />
as engenharias representam apenas 11% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> programas no<br />
Brasil. As projeções <strong>de</strong> empresas brasileiras envolvi<strong>da</strong>s com áreas<br />
estratégicas apontam para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong><br />
engenheiros bem-forma<strong>do</strong>s na próxima déca<strong>da</strong>, no níveis <strong>de</strong> graduação<br />
e pós-graduação, manti<strong>do</strong> um crescimento <strong>do</strong> PIB <strong>de</strong> 5% ou mais. A<br />
rápi<strong>da</strong> aceleração <strong>do</strong> conhecimento no mun<strong>do</strong> atual requer profissionais<br />
criativos com formação ampla e sóli<strong>da</strong>, que se a<strong>da</strong>ptem às características<br />
e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s rapi<strong>da</strong>mente cambiantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira.<br />
9. A experiência bem-sucedi<strong>da</strong> <strong>de</strong> avaliação <strong>da</strong> pós-graduação <strong>de</strong>ve ser<br />
estendi<strong>da</strong> aos cursos <strong>de</strong> graduação. To<strong>do</strong>s os cursos <strong>de</strong> bacharela<strong>do</strong>,<br />
licenciatura e tecnológicos, públicos e priva<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>vem ser submeti<strong>do</strong>s a<br />
avaliações criteriosas e regulares, nos mol<strong>de</strong>s <strong>do</strong> que é feito atualmente<br />
pela Capes na pós-graduação.<br />
10. Deve ser significativamente aumenta<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> <strong>do</strong>utores<br />
envolvi<strong>do</strong>s em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> P&D nas empresas. Para ca<strong>da</strong> conjunto <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>z <strong>do</strong>utores brasileiros, que obtiveram seus títulos no perío<strong>do</strong> 1996-<br />
2006 e que estavam emprega<strong>do</strong>s no ano <strong>de</strong> 2008, aproxima<strong>da</strong>mente oito<br />
<strong>do</strong>utores trabalhavam em estabelecimentos cuja ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica<br />
principal era a educação e um trabalhava na administração pública. Os<br />
<strong>de</strong>mais <strong>do</strong>utores, cerca <strong>de</strong> um décimo <strong>do</strong> total, distribuíam-se entre as<br />
restantes 19 seções <strong>da</strong> Classificação <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Econômicas<br />
(CNAE). Inúmeros <strong>de</strong>safios precisarão ser enfrenta<strong>do</strong>s pela pós-graduação<br />
nos próximos anos, mas nenhum <strong>de</strong>les parece ser maior <strong>do</strong> que a<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> melhor integrá-la aos segmentos não acadêmicos <strong>do</strong><br />
sistema nacional <strong>de</strong> inovação. Isso pressupõe que esses profissionais<br />
altamente qualifica<strong>do</strong>s encontrem emprego em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s apropria<strong>da</strong>s e<br />
que sua formação correspon<strong>da</strong> aos requisitos <strong>de</strong>man<strong>da</strong><strong>do</strong>s pela dinâmica<br />
<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral, e,<br />
em particular, <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimentos e inovações.<br />
11. Os novos investimentos <strong>de</strong>vem levar em conta as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s registra<strong>da</strong>s entre famílias <strong>de</strong> distintos níveis <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e<br />
nas varias regiões <strong>do</strong> país, para estimular a convergência <strong>do</strong>s padrões <strong>de</strong><br />
acesso ao conhecimento.<br />
Floresta <strong>de</strong> pérolas<br />
Na Mata Atlântica 59% <strong>da</strong>s árvores são raras e po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>saparecer<br />
Durante três anos a bióloga Alessandra<br />
Nasser Caiafa atravessou o país algumas<br />
vezes para mapear a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
árvores <strong>da</strong> Mata Atlântica. A vegetação, que já<br />
ocupou quase to<strong>da</strong> a costa brasileira, abriga muitas<br />
espécies <strong>de</strong> plantas e animais encontra<strong>da</strong>s<br />
somente ali e várias ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção. Ela<br />
analisou 225 <strong>do</strong>cumentos científicos, guar<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />
nas 28 instituições <strong>de</strong> pesquisa que visitou entre<br />
2004 e 2007.<br />
A bióloga mineira confirmou as razões <strong>da</strong><br />
Mata Atlântica ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s ecossistemas<br />
mais ricos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
espécies. No trecho entre Espírito Santo e Rio<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul há 846 espécies <strong>de</strong> árvores.<br />
Uma gran<strong>de</strong> surpresa veio quan<strong>do</strong> Alessandra<br />
analisou como essas espécies se distribuem nessa<br />
faixa <strong>de</strong> quase 2.900 quilômetros, no senti<strong>do</strong><br />
Norte-Sul e cerca <strong>de</strong> 100 quilômetros continente<br />
a<strong>de</strong>ntro. A maior parte <strong>da</strong>s espécies (59%) são<br />
árvores raras, encontra<strong>da</strong>s em áreas restritas ou<br />
num ambiente específico <strong>da</strong> floresta. Uma proporção<br />
consi<strong>de</strong>rável, 11% <strong>da</strong>s espécies, ou quase<br />
uma em ca<strong>da</strong> 10, são raríssimas.<br />
Manguezais <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>do</strong>s têm salvação<br />
A<br />
pesquisa<strong>do</strong>ra maranhense Flávia Mochel,<br />
<strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Oceanografia<br />
e Limnologia <strong>da</strong> UFMA, <strong>de</strong>senvolveu<br />
um processo mais rápi<strong>do</strong> <strong>de</strong> recuperação <strong>do</strong>s<br />
mangues. Há três anos, ela aplica esse méto<strong>do</strong><br />
em uma empresa <strong>do</strong> Maranhão, Esta<strong>do</strong> que possui<br />
50% <strong>da</strong> extensão <strong>de</strong> manguezais <strong>do</strong> Brasil.<br />
Primeiramente, os propágulos <strong>do</strong> mangue (sementes<br />
já germina<strong>da</strong>s) são coleta<strong>do</strong>s em áreas<br />
lamosas e alaga<strong>da</strong>s. Em segui<strong>da</strong>, são cultiva<strong>do</strong>s<br />
em viveiros e recebem acompanhamento constante.<br />
Em alguns meses, as plantas são <strong>de</strong>volvi<strong>da</strong>s<br />
aos bosques <strong>de</strong> mangue. “São ecossistemas complexos<br />
e varia<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, também, <strong>da</strong> preservação<br />
<strong>de</strong> estuários, apicuns, planícies <strong>de</strong> marés,<br />
recifes <strong>de</strong> coral e praias”, <strong>de</strong>stacou a pesquisa<strong>do</strong>ra.<br />
Os manguezais brasileiros esten<strong>de</strong>m-se por<br />
6.800 km <strong>da</strong> costa <strong>do</strong> país e são os mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. “Somente no Maranhão,<br />
existem sete tipos distintos <strong>de</strong> manguezal”, explicou<br />
Mochel.<br />
“O trabalho aplicou um sistema <strong>de</strong> avaliação<br />
reconheci<strong>do</strong> internacionalmente”, explica o botânico<br />
Fernan<strong>do</strong> Roberto Martins, <strong>da</strong> Unicamp,<br />
que orientou Alessandra no <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>. “Temos<br />
agora uma fotografia mais fiel <strong>de</strong> como essas espécies<br />
se distribuem”, completa.<br />
Raríssimas e ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção<br />
Alessandra e Martins usaram uma escala <strong>de</strong><br />
classificação que <strong>de</strong>termina o grau <strong>de</strong> rari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uma espécie a partir <strong>de</strong> três critérios: afini<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
por um ambiente específico, abundância local<br />
e distribuição pela área estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />
Os pesquisa<strong>do</strong>res encontraram espécies raras<br />
ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a área estu<strong>da</strong><strong>da</strong>. Segun<strong>do</strong> Martins,<br />
fatores históricos, geográficos e biológicos<br />
explicam esse padrão. “Foram vários eventos<br />
sucessivos <strong>de</strong> restrição e espalhamento que mol<strong>da</strong>ram<br />
o padrão <strong>de</strong> distribuição <strong>da</strong>s espécies pela<br />
Mata Atlântica <strong>do</strong> litoral Sul e Su<strong>de</strong>ste”.<br />
Entre as árvores raríssimas muitas estão na<br />
lista <strong>de</strong> espécies ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção, elabora<strong>da</strong><br />
pela Fun<strong>da</strong>ção Biodiversitas em 2005.<br />
Méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> no Maranhão garante rápi<strong>da</strong> recuperação<br />
Preservar para proteger<br />
A pesquisa<strong>do</strong>ra alertou para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
preservação <strong>do</strong>s mangues, um <strong>do</strong>s responsáveis,<br />
por exemplo, pelo controle <strong>do</strong> fluxo <strong>de</strong> marés.<br />
“Já conseguimos comprovar que o manguezal<br />
evita que o excesso <strong>de</strong> água avance pelo continente”,<br />
afirmou Mochel.<br />
Os mangues estão sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>s a uma<br />
taxa quatro vezes maior <strong>do</strong> que as <strong>de</strong>mais florestas<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Os impactos ambientais advêm<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamentos, canalizações, queima<strong>da</strong>s<br />
e barragens. Segun<strong>do</strong> a pesquisa<strong>do</strong>ra, esse<br />
ecossistema só consegue cumprir sua função <strong>de</strong><br />
proteger a costa <strong>de</strong> problemas como a erosão,<br />
assoreamento, enchentes e ventos se houver a<br />
manutenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>, espécies e uma faixa<br />
extensa <strong>de</strong> manguezal.<br />
Além <strong>do</strong>s bens e serviços ambientais, com a<br />
biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e o patrimônio genético, os manguezais<br />
têm um papel importante na dieta hu-<br />
INOVAÇÃO E<br />
SUSTENTABIlIDADE<br />
O que preocupa os pesquisa<strong>do</strong>res é que o <strong>de</strong>saparecimento<br />
<strong>da</strong>s mais raras po<strong>de</strong> gerar um efeito<br />
<strong>do</strong>minó, afetan<strong>do</strong> a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alimento<br />
para vários grupos <strong>de</strong> animais. O empobrecimento<br />
<strong>do</strong> solo e o aumento <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> gás carbônico<br />
no ar são outras possíveis consequências.<br />
Alessandra ain<strong>da</strong> consi<strong>de</strong>ra problemático o<br />
avanço <strong>da</strong>s fronteiras agrícolas e o crescimento<br />
<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s em áreas <strong>de</strong> Mata Atlântica e ressalta:<br />
“É preciso sensibilizar autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas e<br />
proprietários <strong>de</strong> terra para a importância <strong>de</strong>ssas<br />
espécies raras”.<br />
Francisco Bicu<strong>do</strong><br />
Reprodução/a<strong>da</strong>ptação: Revista Pesquisa Fapesp, nº 174 - Agosto 2010<br />
mana. “Mais <strong>de</strong> 100 mil famílias maranhenses<br />
vivem <strong>do</strong> recurso <strong>do</strong> caranguejo. A per<strong>da</strong> <strong>de</strong>sse<br />
patrimônio não é só uma per<strong>da</strong> ambiental, mas<br />
econômica, social e <strong>de</strong> proteção alimentar”, concluiu.<br />
Basea<strong>do</strong> em matéria <strong>de</strong> Romulo Gomes, <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong> Difusão Científica – Fapema.<br />
A <strong>Semana</strong> C&T 2010| 23<br />
A <strong>Semana</strong> C&T 2010| 23