Texto na íntegra
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crescimento e riqueza são dois lados de uma mesma Santa<br />
Moeda. Como seu equivalente medieval, o Santo Graal, a<br />
Santa Moeda é difícil de encontrar. Em seu discurso no<br />
American Economic Association Meeting de 1989, David S.<br />
Landes, historiador de Harvard, escolheu o seguinte título:<br />
“Por que somos tão ricos e eles, tão pobres?”.<br />
Adam Smith procurava pela mesma Santa Moeda em<br />
seu famoso tratado de 1776, A riqueza das <strong>na</strong>ções.<br />
Contudo, mesmo com tanto esforço, essa busca intelectual<br />
não alcançou sucesso. Embora nosso conhecimento<br />
dos milagres e das dificuldades da economia tenha crescido,<br />
ainda há muito o que descobrir.<br />
carga morta? Segundo a teoria tradicio<strong>na</strong>l do crescimento<br />
à moda de Solow, temos mais carga porque investimos<br />
mais e temos menores taxas de crescimento populacio<strong>na</strong>l.<br />
Assim, acumulamos mais capital por trabalhador<br />
e aumentamos a produtividade do trabalho. Além disso, o<br />
progresso tecnológico dá sustentabilidade a esse crescimento<br />
da riqueza. Dedicamos mais tempo ao estudo, ao<br />
investimento e à aquisição de novas tecnologias. Mas<br />
como essa receita “simples” não se aplica a todos os lugares,<br />
do Ocidente ao Oriente, do Norte ao Sul?<br />
O economista peruano Her<strong>na</strong>ndo De Soto oferece<br />
uma explicação. De Soto descreve o caso do Egito e<br />
argumenta que quando saímos do Nile Hilton, no<br />
Cairo, passamos de um mundo formal para outro informal.<br />
Trata-se de um salto quântico: um salto dos vivos<br />
para os mortos. Com efeito, ativos existem, mas “ninguém<br />
é capaz de identificar o que pertence a quem;<br />
endereços não podem ser confirmados com facilidade;<br />
as pessoas não podem ser obrigadas a pagar suas dívidas<br />
etc”. Segundo De Soto, ali o capital está morto. Não<br />
pode ser usado como garantia para a criação de valor.<br />
Assim, o crescimento também está morto.<br />
Essa triste situação levanta uma pergunta óbvia: Por<br />
quê? Primeiro, devido à falta de instituições legais. Segundo,<br />
a falta de oportunidades de compartilhamento de risco.<br />
30 vol.7 nº2 mar/abr 2008<br />
riscos mortais. Vamos chamar essa situação de “abismo<br />
do compartilhamento de risco”. De Soto está certo ao<br />
dizer que o capital está morto nos países pobres. Mas<br />
deveria ter acrescentado que ali os riscos estão bem vivos<br />
e são mortais. Quando saímos do Nile Hilton, não deixamos<br />
para trás ape<strong>na</strong>s a possibilidade de afirmação dos<br />
direitos de propriedade, mas também todo o aparato de<br />
gestão de risco (mercados fi<strong>na</strong>nceiros, instituições fi<strong>na</strong>nceiras,<br />
derivativos, seguros etc).<br />
E, ainda que o capital pudesse ser liberado e os direitos<br />
recebessem proteção jurídica, isso não faria muita diferença<br />
se os riscos continuassem tão mortais quanto antes. Por<br />
exemplo, uma forte queda da renda <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l após algum<br />
acontecimento inesperado (como uma tempestade tropical)<br />
pode até ameaçar ou destruir os esforços de preservação<br />
da lei. A vida em países pobres está eivada de riscos.<br />
Já os habitantes de países ricos têm acesso a uma<br />
ampla gama de ferramentas de investimento que lhes dá<br />
garantias contra muitos riscos. Podem investir em ações,<br />
letras, caixa, fundos mútuos, opções e futuros. Podem<br />
comprar seguro de vida e bens pessoais. Têm acesso a planos<br />
de pensão. Em outras palavras, o menu de risco-retorno<br />
que lhes está aberto é bem rico.<br />
As pessoas e empresas de países pobres ou em desenvolvimento<br />
convivem com riscos que não podem compartilhar ou<br />
transferir com eficiência. Num ambiente hostil, as pessoas físicas<br />
e jurídicas mais se viram do que avançam. O problema<br />
fundamental, hoje, é que esse abismo do compartilhamento de<br />
risco entre países mais pobres e mais ricos está cada vez maior,<br />
o que traz graves conseqüências para seu desenvolvimento.<br />
caBeça e capital. A aritmética da prosperidade é de<br />
enorme simplicidade. O professor de economia Reuven<br />
Brenner (2002), da McGill University, amplia o argumento<br />
de De Soto em seu recente livro The Force of Fi<strong>na</strong>nce. Para<br />
prosperar, as pessoas precisam de acesso ao capital. O<br />
talento precisa ser casado com o capital e os dois lados<br />
precisam ser responsáveis um perante o outro.