31.07.2013 Views

Pascal, a justiça e os poderes / Paulo Ferreira da Cunha. Intercâmbio

Pascal, a justiça e os poderes / Paulo Ferreira da Cunha. Intercâmbio

Pascal, a justiça e os poderes / Paulo Ferreira da Cunha. Intercâmbio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ir mais longe: para ele como que a força, mais estável, mais convincente, mais forte afinal,<br />

substituiu pura e simplesmente a <strong>justiça</strong>. Assim,<br />

143<br />

“La justice est sujette à dispute, la force est très reconnaissable et sans dispute. Ainsi on n’a<br />

pu donner la force à la justice, parce que la force a contredit la justice et a dit qu’elle était injuste,<br />

et a dit que c’était elle qui était juste. Et ainsi, ne pouvant faire que ce qui est juste fût fort, on a<br />

fait que ce qui est fort fût juste” (V, 298).<br />

Por isso, “a força é rainha do mundo”, e nem sequer o é a opinião, sendo a força que<br />

mol<strong>da</strong> a própria opinião (V, 303). Mesmo <strong>os</strong> liames de respeito entre as pessoas são, em<br />

geral, cor<strong>da</strong>s de necessi<strong>da</strong>de (V, 304), ou seja, motiva<strong>da</strong>s pela força. A Justiça é, pois, o que<br />

se encontra estabelecido, as leis são ti<strong>da</strong>s por justas sem serem examina<strong>da</strong>s, porque são<br />

estabeleci<strong>da</strong>s (V, 312). É, obviamente, um efeito <strong>da</strong> força e <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong>de e imobili<strong>da</strong>de que<br />

ela, uma vez estabeleci<strong>da</strong>, imprime à ordem jurídica.<br />

Porém, <strong>Pascal</strong> apercebeu-se que para além <strong>da</strong> força bruta, e <strong>da</strong> obediência cega a essa<br />

brutali<strong>da</strong>de, pela pura necessi<strong>da</strong>de, há necessi<strong>da</strong>des mais elabora<strong>da</strong>s e obediências de várias<br />

ordens. E que as correntes <strong>da</strong> força são, por vezes, como se diria bem mais tarde, agrinal<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

com as r<strong>os</strong>as <strong>da</strong> ideologia. <strong>Pascal</strong> fala em imaginação (V. 304).<br />

A força pode reforçar-se e apoiar-se não só nas armas, mas em process<strong>os</strong> mentais, em<br />

narrativas, em símbol<strong>os</strong>, em formas de imaginação.<br />

<strong>Pascal</strong> chega mesmo a explicar a variação d<strong>os</strong> titulares d<strong>os</strong> carg<strong>os</strong> pela fantasia de<br />

alguém ser duque, rei ou magistrado, embora <strong>os</strong> carg<strong>os</strong>, em si, sejam reais (V, 306). Afirma,<br />

nomea<strong>da</strong>mente: “Le chancelier est grave et revêtu d’ornements, car son p<strong>os</strong>te est faux; et non<br />

le roi: il y a la force, il n’a que faire de l’imagination. Les juges, médecins, etc., n’ont que<br />

l’imagination”.<br />

A opinião do autor sobre a nobreza, assim, não pode ser muito lisonjeira: “Que la<br />

noblesse est un grand avantage, qui, dès dix-huit ans, met un homme en passe, connu et<br />

respecté, comme un autre pourrait avoir mérité à cinquante ans. C’est trente ans gagnés sans<br />

peine” (V, 322).<br />

E, mais adiante: “La puissance des rois est fondée sur la raison et sur la folie du peuple,<br />

et bien plus sur la folie” (V, 330).<br />

143

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!