Pascal, a justiça e os poderes / Paulo Ferreira da Cunha. Intercâmbio
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I. Uma Não Introdução a <strong>Pascal</strong><br />
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A imaginação dispõe de tudo; ela faz a beleza, a<br />
<strong>justiça</strong> e a felici<strong>da</strong>de, que é o todo do mundo. (...) essa<br />
facul<strong>da</strong>de enganadora que parece n<strong>os</strong> ter sido <strong>da</strong><strong>da</strong> de<br />
propósito para n<strong>os</strong> induzir a um erro necessário.<br />
<strong>Pascal</strong>, Pensées, II, 82.<br />
O presente ensaio não é, de modo nenhum, uma introdução a <strong>Pascal</strong> (Clermond-<br />
Ferrand, 19 de Junho de 1623- Paris,19 de Ag<strong>os</strong>to de 1662). André Comte-Sponville é<br />
peremptório e tem to<strong>da</strong> a razão: “Nenhuma introdução nunca estará à altura d<strong>os</strong> Pensament<strong>os</strong>,<br />
que se pode ler sem preparação” (Comte-Sponville, 2009: 161).<br />
Visam<strong>os</strong> aqui apenas recor<strong>da</strong>r, e sinteticamente, sobretudo na leitura d<strong>os</strong> Pensament<strong>os</strong><br />
(mas não só), a enorme actuali<strong>da</strong>de de <strong>Pascal</strong> no concernente à reflexão sobre o Direito, a<br />
Justiça e o Poder. Ou talvez melhor: pôr em relevo o seu compromisso essencial e dir-se-ia<br />
visceral com aquilo que considerava ser a Ver<strong>da</strong>de, sem compromiss<strong>os</strong> e hipocrisias. E uma<br />
tal p<strong>os</strong>ição é, realmente, actualíssima, por ser exemplar.<br />
II. Do <strong>Pascal</strong> cientista...<br />
No séc. XVII, as ciências que hoje classificam<strong>os</strong> em "duras" e as "moles", ain<strong>da</strong> não<br />
estavam, na mente e na prática d<strong>os</strong> cientistas e d<strong>os</strong> humanistas, divorcia<strong>da</strong>s e mutuamente<br />
incompreendi<strong>da</strong>s como se encontram em grande medi<strong>da</strong> hoje. <strong>Pascal</strong> é um exemplo flagrante<br />
<strong>da</strong> mais profun<strong>da</strong> espirituali<strong>da</strong>de (que é, obviamente, trans-científica já) e <strong>da</strong> mais exigente e<br />
bem sucedi<strong>da</strong> prática <strong>da</strong>s ciências físicas e matemáticas. Mas de modo nenhum estará isolado,<br />
no seu tempo. Era então muito comum aliar-se ciências matemáticas, físicas, e naturais, com<br />
estud<strong>os</strong> humanístic<strong>os</strong>, morais e polític<strong>os</strong>. Só as designações, como é patente, <strong>da</strong>riam ensejo a<br />
ri<strong>os</strong> de tinta...<br />
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