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Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto

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Carlos Pimenta Complexidade e Interdisciplinaridade n<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> <strong>Sociais</strong> Versão 02<br />

aproveitarem essa situação para reforçar a sua posição estratégica no merca<strong>do</strong>, m<strong>as</strong> esse aumento da<br />

produtividade pode agravar a situação de crise; outr<strong>as</strong> situações podem ser referid<strong>as</strong>.<br />

Outros efeitos de retroacção poderão ser menos estuda<strong>do</strong>s, menos previsíveis e até desenvolverem-se<br />

contra o que estava postula<strong>do</strong> pelos modelos, que geralmente não tiveram em conta a situação existente:<br />

numa determinada economia subdesenvolvida e dualista em que há grandes m<strong>as</strong>s<strong>as</strong> de poupança sob a<br />

forma monetária que não são investid<strong>as</strong> em sectores produtivos, diminui-se a taxa de juro para<br />

desincentivar a poupança e estimular o investimento com capital alheio; contu<strong>do</strong> tal provoca uma fuga de<br />

capitais para outr<strong>as</strong> regiões o que não atinge os objectivos e reduz a liquidez bancária e, se a redução da<br />

taxa de juro foi uma política económica poderá ter que voltar a descer para conseguir minimamente<br />

alguns <strong>do</strong>s seus objectivos. A história <strong>do</strong>s factos económicos está rechea<strong>do</strong> de “efeitos perversos”:<br />

perversos porque não correspondem aos imacula<strong>do</strong>s modelos, perversos porque <strong>as</strong>sim é possível atirar<br />

para outros <strong>as</strong> responsabilidades de alguns. Toda a “ajuda ao desenvolvimento” está repleta de efeitos<br />

perversos. Toda a liberdade de comércio está repleta de efeitos perversos. Toda a “luta contra a pobreza”<br />

liderada pelo Banco Mundial está transbordan<strong>do</strong> de efeitos perversos.<br />

Enfim não faltam situações para mostrar a frequência desta característica da complexidade n<strong>as</strong> dinâmic<strong>as</strong><br />

d<strong>as</strong> sociedades, no que nel<strong>as</strong> tem a ver com a produção, repartição <strong>do</strong>s rendimentos, troca e consumo. E<br />

em tod<strong>as</strong> est<strong>as</strong> situações o “sujeito” e o “objecto” interagem e fazem parte da mesma dinâmica.<br />

Não linearidade<br />

B<strong>as</strong>tariam os exemplos anterior para percebermos a existência de não linearidade em divers<strong>as</strong> situações.<br />

A taxa de variação <strong>do</strong>s investimentos nos diversos sectores de actividade durante um determina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

pode ser à posterior contabilizada consideran<strong>do</strong> o verifica<strong>do</strong> em cada um <strong>do</strong>s sectores m<strong>as</strong> o processo é<br />

de interacção esses diversos sectores como facilmente se pode verificar pela matriz de relações<br />

interindustriais.<br />

Os comportamentos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>res estão globalmente condiciona<strong>do</strong>s pela distribuição <strong>do</strong> rendimento e<br />

pelo simples facto <strong>do</strong> rendimento de uns não ser rendimento <strong>do</strong>s outros, estão influencia<strong>do</strong>s pelos usos e<br />

costumes socialmente gera<strong>do</strong>s e pelos comportamentos individuais <strong>do</strong>s outros consumi<strong>do</strong>res.<br />

B<strong>as</strong>ta aban<strong>do</strong>narmos a análise estática ou estática-comparada tão utilizada pela Economia, b<strong>as</strong>ta<br />

deixarmos de analisar a economia como o resulta<strong>do</strong> de um conjunto de comportamentos ex-ante ou como<br />

a obtenção de um resulta<strong>do</strong> final, procedimentos habitualmente segui<strong>do</strong>s, para rapidamente encontrarmos<br />

a não linearidade.<br />

Se analisarmos os processos, se utilizarmos modelos dinâmicos temos uma leitura mais realista e onde<br />

esta componente está presente.<br />

Aliás a utilização de modelos dinâmicos, a utilização da teoria <strong>do</strong>s jogos, e quiçá a modificação de<br />

algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> hipóteses de partida, a frequente utilização de cert<strong>as</strong> categoria como a de “externalidades” é<br />

a manifrestação <strong>do</strong> reconhecimento da interinfluência entre os diversos elementos (seja qual for o seu<br />

nível de agregação ou desagregação), o reconhecimento implícito da não linearidade.<br />

Irreversibilidade<br />

Os factos económicos são partes da sociedade e esta se integra n<strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong> set<strong>as</strong> <strong>do</strong> tempo. A sociedade<br />

hoje é diferente da de ontem. Nesse quotidiano coexistem a continuidade e a ruptura, com maior ou<br />

menor importância de cada uma dest<strong>as</strong> componente conforma <strong>as</strong> situações concret<strong>as</strong>. Assim sen<strong>do</strong> não há<br />

qualquer razão para os factos económicos não serem atravessa<strong>do</strong>s por a irreversibilidade <strong>do</strong> tempo.<br />

Em muitos modelos económicos – veja-se por exemplo como se trata a oferta e a procura, a determinação<br />

<strong>do</strong> preço de equilíbrio, os impactos da deslocação d<strong>as</strong> curv<strong>as</strong> sobre esse equilíbrio – o tempo não existe<br />

ou porque os processos são considera<strong>do</strong>s instantâneos, ou porque o resulta<strong>do</strong> final é o único momento que<br />

interessa, ou porque são dinâmic<strong>as</strong> a-históric<strong>as</strong>. Noutros o tempo é considera<strong>do</strong> como variável m<strong>as</strong> pode<br />

não ser suficiente para lhes atribuir a sua devida importância, poden<strong>do</strong> até ser apen<strong>as</strong> uma mera variável<br />

indicativa de um conjunto de outr<strong>as</strong>.<br />

Contu<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> momento em que se considera nos modelos económicos simultaneamente o tempo e a<br />

informação a irreversibilidade está a ser automaticamente considerada: a informação é cumulativa.<br />

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