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Parecer do Dr. Frederico Price Grechi, da Comissão Permanente de ...

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EXMO. SR. DR. PRESIDENTE ÀRNON VElMOVITSKY DA COMISSÃO DE<br />

IMOBILIÁRIO (CDI) DO INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS(IAB).<br />

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FREDERJCOPRICE GRECHI, relator e membro <strong>da</strong> <strong>Comissão</strong> <strong>de</strong> Direito Imobitiário <strong>do</strong><br />

IAB,vem, perante V. Exa., apresentar<br />

Bacen n2 4088, <strong>de</strong> 24/05/2012,<br />

reunião.<br />

o seu parecer sobre a legali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>, Resolução <strong>do</strong><br />

para apreciação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais consócios em oportuna<br />

INTRÓITO<br />

A Resolução Bacen n2 4088, <strong>de</strong> 24/05/2012, publica<strong>da</strong> no DO <strong>de</strong> 28/05/2012, dispõe<br />

sobre o registro, em sistema <strong>de</strong> registro e <strong>de</strong> liqui<strong>da</strong>ção financeira <strong>de</strong> ativos, <strong>da</strong>s<br />

garantias constituí<strong>da</strong>s sobre veículos automotores ou imóveis relativos a operações <strong>de</strong><br />

crédito, bem como <strong>da</strong>s informações sobre a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> veículos objeto <strong>de</strong><br />

operações <strong>de</strong> arren<strong>da</strong>mento mercantil.<br />

Eiso teor <strong>da</strong> Resolução supra menciona<strong>da</strong>, verbis:<br />

"O Banco Central <strong>do</strong> Brasil, na forma <strong>do</strong> art. 9° <strong>da</strong> Lei n° 4.595, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1964, toma público que o Conselho Monetário Nacional, em<br />

sessão realiza<strong>da</strong> em 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012, com base nos arts. 4°, incisos VI<br />

e VIII, <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> Lei e 23 <strong>da</strong> Lei n° 6.099, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1974,<br />

Resolveu:<br />

Art. 1°. As instituições financeiras e <strong>de</strong>mais instituições autoriza<strong>da</strong>s a<br />

funcionar pelo Banco Central <strong>do</strong> Brasil <strong>de</strong>vem registrar, em sistema <strong>de</strong><br />

registro e <strong>de</strong> liqui<strong>da</strong>ção financeira <strong>de</strong> ativos autoriza<strong>do</strong> pelo Banco Central<br />

<strong>do</strong> Brasil:<br />

I - as garantias constituí<strong>da</strong>s sobre veículos automotores ou imóveis<br />

relativas a operações <strong>de</strong> crédito; e<br />

II - as informações sobre a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> veículos automotores objeto <strong>de</strong><br />

operações <strong>de</strong> arren<strong>da</strong>mento mercantil.<br />

Parágrafo único. O sistema <strong>de</strong> registro a que se refere o caput <strong>de</strong>ve:<br />

I - ser <strong>de</strong> âmbito nacional;<br />

II - possibilitar a consulta unifica<strong>da</strong> <strong>da</strong>s informações; e


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Ill - permitrr ao Banco Central <strong>do</strong> Brasil o acesso as mformaçoes e aos '~~-2--;>/<br />

<strong>do</strong>cumentos necessários ao <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas atribuições legais. *<br />

Art. 2°. As instituições menciona<strong>da</strong>s no art. 1° <strong>de</strong>vem indicar diretor<br />

responsável pelos procedimentos <strong>de</strong> que trata esta Resolução.<br />

Parágrafo único. Para fins <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> a que se refere o caput,<br />

admite-se que o diretor indica<strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenhe outras funções na instituição,<br />

exceto as relativas à administração <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> terceiros, à auditoria<br />

interna, aos controles internos ou outras que possam implicar conflitos <strong>de</strong><br />

interesse ou representar <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> segregação <strong>de</strong> funções.<br />

Art. 3°. Fica o Banco Central <strong>do</strong> Brasil autoriza<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>tar as medi<strong>da</strong>s<br />

necessárias ao cumprimento <strong>de</strong>sta Resolução, disciplinan<strong>do</strong>, em especial,<br />

os seguintes aspectos:<br />

I-informações requeri <strong>da</strong>s para os registros; e<br />

II - cronograma para implementação <strong>do</strong>s registros.<br />

Art. 4°. Esta Resolução entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> sua publicação".<br />

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NOSSO PARECER<br />

Ab initio, registro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, que a sobredita Resolução <strong>do</strong> Bacen importa a a<strong>do</strong>ção<br />

<strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> garantias sobre bens imóveis e móveis (veículos<br />

automotores), sob a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Instituições Financeiras (pessoas jurídicas)<br />

imediatamente interessa<strong>da</strong>s, paralelo àquele reserva<strong>do</strong> constitucionalmente aos<br />

notários 1 e aos registra<strong>do</strong>res, os quais são pessoas físicas e profissionais <strong>do</strong> Direito<br />

seleciona<strong>do</strong>s por concurso público, bem como <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fé pública e <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong> pe ndência.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> "Diretor" (pessoa física) que será indica<strong>do</strong> pelas próprias Instituições<br />

Financeiras (pessoas jurídicas) - repita-se, imediatamente interessa<strong>da</strong>s no sobredito<br />

1 STF Súmula n" 489 - 03/12/1969 - DJ <strong>de</strong> 10/12/1969, p. 5931; DJ <strong>de</strong> 11/12/1969,. p_5947; DJ<br />

<strong>de</strong> 12/12/1969, p. 5995. Republicação: DJ <strong>de</strong> 1116/1970, p. 2381; DJ <strong>de</strong> 12/6/1970, p. 2405; DJ<br />

<strong>de</strong> 15/6/1970, p. 2437. Compra e Ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> Automóvel - Direitos <strong>de</strong> Terceiros <strong>de</strong> Boa-Fé -<br />

Transcrição no Registro <strong>de</strong> Títulos e Documentos A compra e ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> automóvel não<br />

prevalece contra terceiros, <strong>de</strong> boa-fé, se o contrato não foi transcrito no registro <strong>de</strong> títulos e<br />

<strong>do</strong>cumentos.


"sistema <strong>de</strong> registro paralelo" -, verificar-se-á, adiante, que os notários e<br />

registra<strong>do</strong>res estão obriga<strong>do</strong>s a observar os princípios <strong>da</strong> juridici<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

cautelari<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> publici<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> rogação e <strong>da</strong> tecnici<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

asseguran<strong>do</strong>, por conseguinte, o cumprimento <strong>do</strong> Direito positivo vigente, a prornoçãc<br />

<strong>da</strong> segurança Jurídica e, por fim, a isonomia <strong>de</strong> tratamento dispensa<strong>do</strong> aos<br />

particulares.<br />

Pois bem. O artigo 236 <strong>da</strong> Constituição <strong>da</strong> República Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Brasil <strong>de</strong> 1988<br />

estabelece<br />

que, verbís:<br />

Art. 236. Os serviços notariais e <strong>de</strong> registro são exerci<strong>do</strong>s em caráter priva<strong>do</strong>,<br />

por <strong>de</strong>legação <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público.<br />

§ 12 - lei regulará as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, disciplinará a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> civil e criminal<br />

<strong>do</strong>s notários, <strong>do</strong>s oficiais <strong>de</strong> registro e <strong>de</strong> seus prepostos, e. <strong>de</strong>finirá a<br />

fiscalização <strong>de</strong> seus atos pelo Po<strong>de</strong>r Judiciário.<br />

§ 22 - Lei fe<strong>de</strong>ral estabelecerá normas gerais para fixação <strong>de</strong> emolumentos<br />

relativos aos atos pratica<strong>do</strong>s pelos serviços notariais e <strong>de</strong> registro.<br />

§ 32 - O ingresso na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> notarial e <strong>de</strong> registro <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> concurso<br />

público <strong>de</strong> provas e títulos, não se permitin<strong>do</strong> que qualquer serventia fique<br />

vaga, sem abertura <strong>de</strong> concurso <strong>de</strong> provimento ou <strong>de</strong> remoção, por mais <strong>de</strong><br />

seis meses.<br />

Como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> <strong>do</strong> caput <strong>do</strong> preceito inserto no artigo 236 <strong>da</strong> CRF/88 os serviços<br />

notariaís e <strong>de</strong> registro são exerci<strong>do</strong>s em caráter priva<strong>do</strong>, por <strong>de</strong>lega.ção <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r<br />

Público, ou seja, embora tais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sejam <strong>de</strong> titu/ari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (pessoa<br />

jurídica <strong>de</strong> direito pública), este <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>lega-Ias ao particular, por meio <strong>do</strong> instituto<br />

<strong>da</strong> <strong>de</strong>legação.<br />

Bem por isso, os serviços (ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> jurídica) notariais e <strong>de</strong> registro são<br />

<strong>de</strong> natureza priva<strong>da</strong> e remunera<strong>da</strong>s pelos particulares interessa<strong>do</strong>s, e não pelos cofres<br />

públicos.<br />

Infere-se, ain<strong>da</strong>, <strong>do</strong> sobredito coman<strong>do</strong> constitucional que o notário e o registra<strong>do</strong>r<br />

são pessoas físicas profissionais <strong>do</strong> direito, os quais são <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> fé pública, "a quem<br />

é <strong>de</strong>lega<strong>do</strong><br />

o exercício <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> notarial e <strong>de</strong> registro. Estes profissionais gozam <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>pendência no exercício <strong>de</strong> suas atribuições e só per<strong>de</strong>rão a <strong>de</strong>legação nas<br />

hipóteses previstas em lei (art. 28). Como titulares <strong>de</strong> uma função pública, <strong>de</strong>lega<strong>da</strong><br />

pelo Esta<strong>do</strong>, os notários e registra<strong>do</strong>res têm suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fiscaliza<strong>da</strong>s pelo Po<strong>de</strong>r


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Judiciário (art. 236, §1º, <strong>da</strong> CF)" (luiz Guilherme loureiro, Registros Públicos. Teoria e \~~ ~- ~S<br />

~*~<br />

Prática. Méto<strong>do</strong>, 2010, p. 3). -<br />

Ain<strong>da</strong> sobre a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> notário, ou tabelião, e oficial <strong>de</strong> registro (art. 3º <strong>da</strong> lei<br />

8.935/94)2, pontifica Walter Ceneviva (Lei <strong>do</strong>s Notários e <strong>do</strong>s Registra<strong>do</strong>res<br />

Comenta<strong>da</strong>. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 49-54):<br />

"O notário e o registra<strong>do</strong>r não exercem cargo público, mas são agentes<br />

públicos. Agem como representantes <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> pública, eles mesmos<br />

provi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, posto que substituem, por <strong>de</strong>legação, o Esta<strong>do</strong>, em<br />

serviços <strong>de</strong>ste. O uso alternativo <strong>da</strong>s expressões oficial <strong>de</strong> registro e<br />

registra<strong>do</strong>r, notário e tabelião não se <strong>de</strong>stina a <strong>de</strong>finir encarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

diferentes serventias. A lei admite sua livre utilização para <strong>de</strong>signar apenas os<br />

titulares <strong>do</strong> serviço.<br />

(...) A <strong>de</strong>legação, prevista na LNR,tem fins especiais. O registra<strong>do</strong>r atua para<br />

assegurar efeito constitutivo (a aptidão constitutiva submete o ato ou o<br />

negócio jurídico ao prévio registro, sem o qual aquela não nasce),<br />

comprobatório (o ato ou o negócio jurídico registra<strong>do</strong> existe, nos termos<br />

assenta<strong>do</strong>s no ofício público, geran<strong>do</strong> presunção, absoluta ou relativa, <strong>do</strong><br />

direito ao qual se refere) ou publicitário (o ato ou o negócio jurídico<br />

registra<strong>do</strong> é conheci<strong>do</strong> ou, ao menos, cognoscível por to<strong>do</strong>s, salvo umas<br />

poucas exceções). Profissional <strong>do</strong> direito é to<strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviço<br />

remunera<strong>do</strong> cuja área principal <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> compreen<strong>de</strong> a aplicação <strong>da</strong> lei.<br />

(...) A profissionali<strong>da</strong><strong>de</strong> se liga ao caráter priva<strong>do</strong> e à remuneração paga pelos<br />

interessa<strong>do</strong>s. Não é qualquer quali<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional, mas a <strong>do</strong> direüo, isto é,<br />

<strong>do</strong> or<strong>de</strong>namento jurídico, que <strong>de</strong>termina os limites <strong>da</strong>s condutas permiti<strong>da</strong>s<br />

ou proibi<strong>da</strong>s.<br />

(...) No direito brasileiro, notário e registra<strong>do</strong>r, conformou ficou dito, são<br />

agentes públicos, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se que o Po<strong>de</strong>r Ihes <strong>de</strong>lega funções,<br />

subordina<strong>do</strong>s subsidiariamente, em certos casos, a regra <strong>do</strong> regime<br />

administrativo especial admiti<strong>do</strong> na Constituição, sem jamais atingirem,<br />

porém, a condição <strong>de</strong> servi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

(...) A fé pública abona a certeza e a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s assentamentos que notório e<br />

oficial <strong>de</strong> registro pratiquem e <strong>da</strong>s certidões que expeçam nessa condição,<br />

com as quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s referi<strong>da</strong>s no art. 1º. (...) O verbo <strong>de</strong>legar indica a ação <strong>de</strong><br />

pessoa que se substitui por outra. (...) Para o direito administrativo, o ato <strong>de</strong><br />

2 Art. 3º Notário, ou tabelião, e oficial <strong>de</strong> registro, ou registra<strong>do</strong>r, são profissionais <strong>do</strong> direito,<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fé pública, a quem é <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> o exercício <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> notarial e <strong>de</strong> registro.


<strong>de</strong>legar consiste em atribuir<br />

priva<strong>do</strong> (pessoa natural ou jurídica) ou público.<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> própria <strong>da</strong> administração a<br />

(...). A atuação funcional <strong>do</strong> titular é legitima<strong>da</strong> nos limites <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res<br />

outorga<strong>do</strong>s pela <strong>de</strong>legação, subordina<strong>da</strong> ou não a zonas territoriais.<br />

Estassão<br />

impostas, por exemplo, aos registra<strong>do</strong>res civis <strong>de</strong> pessoas naturais e aos <strong>de</strong><br />

imóveis, cujas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são exercíveis exclusivamente na área terrisoriais<br />

cria<strong>da</strong> pela divisão interna <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ou <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral".<br />

A propósito<br />

<strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s notários e registra<strong>do</strong>res, ensina Luiz Guilherme<br />

Loureiro (Op..Cit., pp. 3-4):<br />

"0 notário e registra<strong>do</strong>r são profissionais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> obediência<br />

apenas à lei e aos regulamentos edita<strong>do</strong>s pelo Po<strong>de</strong>r Judiciário ..Assim, por<br />

exemplo, o registra<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve exercer a qualificação registral <strong>de</strong> um<br />

man<strong>da</strong><strong>do</strong> judicial e <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> recusar o seu<br />

registro se não estiver presente alguma formali<strong>da</strong><strong>de</strong> ou requisito extrínseco<br />

previsto em lei. Vale dizer, este profissional <strong>do</strong> direito é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisória, sem nenhum tipo <strong>de</strong> condicionamento, seja <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m política,<br />

econômica ou administrativa. O único limite é a or<strong>de</strong>m jurídica, que disciplina.<br />

entre outras matérias, o exercício <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, os limites <strong>de</strong> suas atribuições<br />

e os <strong>de</strong>veres a observar. Destarte, ele não é subordina<strong>do</strong> ao Po<strong>de</strong>r Judiciário.<br />

Este po<strong>de</strong>r tem apenas a atribuição constitucional <strong>de</strong> fiscalizar a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

notarial e <strong>de</strong> registro. O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fiscalização <strong>do</strong> Judiciário abrange o po<strong>de</strong>r<br />

norrnativo, vale dizer, <strong>de</strong> editar normas regula<strong>do</strong>ras <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> notarial e <strong>de</strong><br />

registro, visan<strong>do</strong> sua harmonização e aprimoramento técnico. Tais normas,<br />

que são <strong>de</strong> observância obrigatória pelos notários e registra<strong>do</strong>res, geralmente<br />

vêm estabeleci<strong>da</strong>s pelas correge<strong>do</strong>rias gerais <strong>de</strong> justiça <strong>do</strong>s respectivos<br />

Esta<strong>do</strong>s. Da mesma forma, o notário e registra<strong>do</strong>r são livres para contratar<br />

prepostos e exercer a gerência administrativa e financeira <strong>do</strong>s serviços que<br />

lhe foram <strong>de</strong>lega<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong>, caben<strong>do</strong>-Ihes estabelecer normas,<br />

condições e obrigações, relativas à atribuição <strong>de</strong> funções e <strong>de</strong> remuneração<br />

<strong>de</strong> seus prepostos, sem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> homologação ou autorização judicial"<br />

(grifou-se).<br />

No tocante ao princípio <strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong> ou <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a exemplo <strong>do</strong> Direito alemão,<br />

leciona Afranio <strong>de</strong> Carvalho que "a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> inscrição <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

negócio jurídico que lhe dá origem e <strong>da</strong> facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> disposição <strong>do</strong> alienante. (...) A<br />

inscrição não passa uma esponja no passa<strong>do</strong>, não torna líqui<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio ou outro<br />

qualquer direito real. (...) O exame prévio <strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s títulos é que visa a<br />

estabelecer a correspondência constante entre a situação jurídica e a situação<br />

registraI,.<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o público possa confiar plenamente no registro. {...]". (Registro<br />

<strong>de</strong> Imóveis. 4ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1998, pp. 223-224).<br />

Em complemento à in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s notários e registra<strong>do</strong>res, cuja ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> jurídica<br />

profissional está diretamente disciplina<strong>da</strong> pela or<strong>de</strong>m jurídica, que estabelece os


liA juridici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> função notarial bifurcar-se em <strong>do</strong>is momentos diversos. O<br />

primeiro é o <strong>da</strong> polícia jurídica notarial, O tabelião exerce a polícia jurídica <strong>do</strong>s<br />

atos que realiza, isto é, o notário, nos atos que presi<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve analisar a sua<br />

conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao direito. O notário mol<strong>da</strong> juridicamente o <strong>de</strong>sígnio <strong>da</strong>s<br />

partes, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> a<strong>de</strong>quá-Io ao direito. O notário não po<strong>de</strong> ser o sustentáculo<br />

<strong>de</strong> ilicitu<strong>de</strong>s. Nos atos que presi<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ele verificar a sua conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao<br />

direito, rechaçan<strong>do</strong> os atos que sejam contrários ao or<strong>de</strong>namento jurídico.<br />

Estes, ou <strong>de</strong>verão ser reformula<strong>do</strong>s, caso seja possível, ou não <strong>de</strong>verão ser<br />

realiza<strong>do</strong>s. O notário não po<strong>de</strong> acatar manifestações <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> contrárias ao<br />

direito. Nesse senti<strong>do</strong>, um ato jurídico que pa<strong>de</strong>ça <strong>de</strong> um vício <strong>de</strong> nuli<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve ser ele afasta<strong>do</strong>.<br />

(....) A função notarial opera na esfera <strong>da</strong> realização voluntária <strong>do</strong> direito<br />

[princípio <strong>da</strong> cautelan<strong>da</strong><strong>de</strong>l. O notário mol<strong>da</strong> juridicamente os negócios<br />

priva<strong>do</strong>s, a fim <strong>de</strong> que estes se enquadrem no sistema jurídico vigente,<br />

prevenin<strong>do</strong> por conseguinte, e evitan<strong>do</strong>, ao máximo, que futuros vícios sejam<br />

aventa<strong>do</strong>s, bem como que li<strong>de</strong>s se instaurem sobre a questão. O notário, no<br />

exercício regular <strong>de</strong> sua função, adianta-se a prevenir e precaver os riscos que<br />

a incerteza jurídica possa acarretar a seus clientes.. A função <strong>do</strong> notário é<br />

essencialmente um mister <strong>de</strong> prudência, e o é mais acentua<strong>da</strong>mente que a <strong>da</strong><br />

maioria <strong>do</strong>s outros opera<strong>do</strong>res <strong>do</strong> direito, justamente por este senti<strong>do</strong><br />

cautelar que a rege.<br />

(...). O notário <strong>de</strong>ve conduzir sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> com absoluta imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> com igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e equidistância a to<strong>da</strong>s as partes envolvi<strong>da</strong>s no<br />

negócio que reclama a sua intervenção [princípio <strong>da</strong> írnparctatt<strong>da</strong><strong>de</strong>]. (...) a<br />

imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> notário vai além mesmo <strong>da</strong>s partes, ten<strong>do</strong> ele tal <strong>de</strong>ver<br />

para com terceiros não vincula<strong>do</strong>s diretamente, <strong>de</strong>ntre os quais se encontra,<br />

em primeiro relevo, o Esta<strong>do</strong>. O caráter <strong>de</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> agente notarial<br />

tem si<strong>do</strong> posto a coberto pelo legisla<strong>do</strong>r mediante um regime <strong>de</strong><br />

impedimentos (v.g., art. 27 <strong>da</strong> lei n. 8.935/94), bem como a obrigação <strong>de</strong><br />

segre<strong>do</strong> profissional (art. 30, VI, <strong>da</strong> lei n. 8.935/94) e um sistema <strong>de</strong><br />

3 liA função notarial, como ato jurídico complexo que é, é permea<strong>da</strong> por uma série <strong>de</strong><br />

característicasque lhe configuram, que lhe imprimem <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s,e que<br />

funcionam como ver<strong>da</strong><strong>de</strong>irosprincípiosorienta<strong>do</strong>res,embora como regra não se encontrem<br />

positiva<strong>do</strong>sno or<strong>de</strong>namentojurídico pátrio. Taiscaracterísticassão<strong>de</strong> sumaimportância,pois<br />

que, por constituírem ver<strong>da</strong><strong>de</strong>irosprincípiosorienta<strong>do</strong>res<strong>da</strong> função notariaI, <strong>de</strong>vem sempre<br />

ser observa<strong>do</strong>sao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> legislaçãopertinente, suprimin<strong>do</strong> lacunase fornecen<strong>do</strong> a correta<br />

interpretação<strong>da</strong> lei diante <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>casoconcreto".


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responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s civil, administrativa e criminal (arts. 22, 23, 24 e 31 <strong>da</strong> ~\<br />

mesma lei), tu<strong>do</strong> a fim <strong>de</strong> mantê-Io intacto e sempre presente.<br />

~S',l~O)1<br />

(...) A função a cargo <strong>do</strong> notário é pública, visto que, embora seja ela exerci<strong>da</strong><br />

sobre direitos priva<strong>do</strong>s, aten<strong>de</strong> a um interesse <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> traduzi<strong>do</strong> pela<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> afirmar a soberania <strong>do</strong> direito, garantin<strong>do</strong> a legali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<br />

prova <strong>do</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> fé sobre os atos e fatos que são erigi<strong>do</strong>s pelas relações<br />

priva<strong>da</strong>s. Ao Esta<strong>do</strong> cumpre tal mister, porém, este o exerce por intermédio<br />

<strong>da</strong> instituição notaria!. A função notarial é pública porquanto ao Esta<strong>do</strong><br />

pertence e a to<strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> interessa.<br />

(...) O princípio rogatório <strong>da</strong> função notarial <strong>de</strong>termina que o notário não<br />

po<strong>de</strong> agir <strong>de</strong> ofícío, necessitan<strong>do</strong> <strong>da</strong> provocação <strong>da</strong> parte interessa<strong>da</strong> para<br />

agir. Somente após o requerimento <strong>da</strong> parte interessa<strong>da</strong> é que po<strong>de</strong>rá o<br />

notário agÍ!r.<br />

(...). Técnica é a parte material ou o conjunto <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> uma arte. A<br />

função a cargo <strong>do</strong> notário tem acentua<strong>do</strong> caráter técnico. É evi<strong>de</strong>nte que<br />

gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> atuação notarial <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> perfeição <strong>do</strong> tecnicismo, isto é,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> conhecimento por parte <strong>do</strong> notário <strong>do</strong>s institutos jurídicos e <strong>do</strong>s<br />

mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> realização <strong>do</strong> direito, por meio <strong>de</strong> suas formas, fórmulas, conceitos<br />

e categorias. Deve o notário ser um profun<strong>do</strong> conhecer <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong><br />

realização prática <strong>do</strong> direito, especialmente o notarial. (...) A atuação notarial<br />

hodierna consiste, primordialmente, em assessorar juridicamente as: partes <strong>do</strong><br />

negócio jurídico, qualifican<strong>do</strong> juridicamente tal negócio e lnstrumentalizan<strong>do</strong>o.<br />

É evi<strong>de</strong>nte que para lograr tal intento, não bastará que o notário seja<br />

somente um conhece<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s institutos jurídicos (o que <strong>de</strong>verá ser),<br />

necessitan<strong>do</strong> que seja ain<strong>da</strong> um hábil maneja<strong>do</strong>r <strong>da</strong> arte <strong>de</strong> implementação<br />

na práxis <strong>de</strong>stes institutos; precisará conhecer os meandros <strong>da</strong> materialização<br />

<strong>do</strong>s institutos jurídicos",<br />

Tenha-se presente que o notário e o registra<strong>do</strong>r não estão subordina<strong>do</strong>s ao Po<strong>de</strong>r<br />

Judiciário, mas, sim, à or<strong>de</strong>m jurídica que regula o exercício <strong>da</strong> sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

profissional jurídica, os limites <strong>de</strong> suas atribuições e os <strong>de</strong>veres que <strong>de</strong>ve observar. Por<br />

<br />

isso, o registra<strong>do</strong>r<br />

po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve exercer a qualificação registral <strong>de</strong> um man<strong>da</strong><strong>do</strong> judicial,<br />

<strong>de</strong>ven<strong>do</strong>, pois, recusar o seu registro se não estiver presente alguma formali<strong>da</strong><strong>de</strong> ou<br />

requisito extrínseco previsto em lei [Cf. LuizGuilherme Loureiro, Op. Cít., p. 3).<br />

Bem por isso, o notário e o registra<strong>do</strong>r, profissionais seleciona<strong>do</strong>s por concurso<br />

público <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> notarial e <strong>de</strong> registro, "emitem juízo <strong>de</strong> valor quan<strong>do</strong> acolhem o<br />

ato ou o fato jurídico, reforçan<strong>do</strong> a certeza <strong>da</strong> sua legali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O juízo <strong>de</strong> valor tem<br />

<strong>do</strong>minante caráter formal (não interfere com a própria vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>clara<strong>da</strong>, salvo se


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oy .-<br />

contrária à lei, quan<strong>do</strong> a manifestação é obsta<strong>da</strong>), mas afirma a <strong>da</strong>ta, a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s~\:-. ./ ,/<br />

\ S"" L./,:(:/<br />

'vI-.!:-/,·<br />

interessa<strong>do</strong>s no <strong>do</strong>cumento e no registro, com a correspon<strong>de</strong>nte qualificação que a<br />

assegura (colhi<strong>da</strong> em <strong>do</strong>cumento expedi<strong>do</strong> por autori<strong>da</strong><strong>de</strong> pública competente), com a<br />

----.<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para a prática <strong>do</strong> ato, a natureza jurídica <strong>do</strong> negócio escrüura<strong>do</strong><br />

ou<br />

registra<strong>do</strong> e a compatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> com a lei vigente" (Cf. Walter Ceneviva, Op. Cit., p. 55).<br />

Conclui-se, sob to<strong>do</strong>s os ângulos, que a sobredita Resolução <strong>do</strong> Bacen é<br />

inconstitucional, ilegal e ilegítima.<br />

É o meu parecer, sub censura.<br />

<strong>Fre<strong>de</strong>rico</strong> <strong>Price</strong> <strong>Grechi</strong>

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