MOACyR FENElON - Instituto Moreira Salles
MOACyR FENElON - Instituto Moreira Salles
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1.<br />
Diretor, produtor, argumentista, roteirista e<br />
técnico de som, Moacyr Fenelon de Miranda<br />
Henriques nasceu em Patrocínio do Muriaé,<br />
MG, em 5 de novembro de 1903 e faleceu em<br />
14 de julho de 1953 no Rio de Janeiro. Foi<br />
o primeiro grande ativista político da classe<br />
cinematográfica e inspirador da geração nacionalista<br />
dos anos 1950/1960. Sua trajetória<br />
artística ligou-se principalmente aos campos<br />
da música, do rádio e do cinema. Com formação<br />
em contabilidade, interessa-se em meados<br />
da década de 20 do século passado por sonorização,<br />
gravação e radiofonia. Torna-se um dos<br />
primeiros profissionais da área ao ingressar na<br />
Casa Byington, representante da Columbia<br />
Records, responsável pela introdução da gravação<br />
elétrica de discos no Brasil, os famosos<br />
78 rpm. Fenelon torna-se rapidamente o melhor<br />
técnico de gravação musical do país, sendo<br />
o responsável pelo registro sonoro inicial<br />
de artistas do quilate de Noel Rosa e Vicente<br />
Celestino.<br />
A passagem da Casa Byington a novos campos<br />
de atuação, como o rádio e o cinema, vai lhe<br />
proporcionar a oportunidade de participar dos<br />
primórdios do cinema sonoro no Brasil. Grava<br />
o som de filmes como Cousas nossas (Brasil,<br />
1930, direção de Wallace Downey) e Alô, alô,<br />
carnaval (Brasil, 1936, direção de Adhemar<br />
Gonzaga), firmando-se como a melhor referência<br />
neste campo no momento. Sempre<br />
acompanhando a dupla Byington/Downey,<br />
transfere-se para a Sonofilms em 1937, atuando<br />
ainda como técnico de som, mas passando<br />
em seguida a gerente de produção e finalmente<br />
diretor de cinema. Nesta época sua liderança<br />
no meio cinematográfico já é inconteste, o<br />
que se evidencia por sua iniciativa de criação<br />
de um Sindicato de Técnicos Cinematográficos,<br />
do qual foi o primeiro presidente.<br />
Dos filmes que sonorizou, produziu ou dirigiu<br />
até 1940 sobreviveu completo apenas Alô, alô,<br />
carnaval, além de alguns poucos fragmentos e<br />
da trilha sonora de Cousas nossas. Com o incêndio<br />
da Sonofilms neste ano, lançou-se ao seu<br />
maior projeto, a criação de uma companhia de<br />
cinema própria e com uma linha de produção<br />
voltada não só para o filme musical de ocasião,<br />
base de sustentação econômica da época,<br />
como para o retrato mais próximo da realidade<br />
sócio-cultural brasileira. A materialização do<br />
sonho através da Atlântida Cinematográfica,<br />
Cinco filmes e dois debates em programa organizado<br />
em parceria com a Cinédia e<br />
com a Associação Brasileira de Cineastas<br />
nos dias 18 e 19 de agosto
fundada em 1941, foi possível com o concurso<br />
de amigos como Alinor Azevedo e Arnaldo<br />
de Farias e com o apoio financeiro dos irmãos<br />
José Carlos e Paulo Burle.<br />
Mais conhecida hoje como a companhia que<br />
consolidou a chanchada, a Atlântida manteve<br />
o perfil diferenciado proposto por Fenelon<br />
com muita dificuldade e o abandonou<br />
progressivamente após sua saída em 1948.<br />
Houve resistências a um tipo de cinema em<br />
princípio menos comercial e também às suas<br />
vagas simpatias socialistas, que em verdade<br />
nunca redundaram em algo como um cinema<br />
militante ou engajado politicamente. As produções<br />
de caráter mais social que produziu e<br />
dirigiu como É proibido sonhar (1944), Gente<br />
honesta (1944), Vidas solidárias (1945) e Sob a<br />
luz do meu bairro (1946), revelaram-se melodramas<br />
entremeados com números musicais e<br />
cujos enredos exploravam aqui e ali a crônica<br />
de costumes da baixa classe média. Fenelon<br />
ainda produziu e dirigiu Fantasma por acaso<br />
(1946), filme que lançou ao estrelato o cômico<br />
Oscarito, seu maior sucesso comercial e único<br />
título que sobreviveu deste período, e Asas do<br />
Brasil (1948), último trabalho na Atlântida.<br />
A saída traumática levou-o à criação de nova<br />
companhia, a Cine Produções Fenelon, que<br />
em associação com a Cinédia foi a responsável<br />
pela produção de cinco títulos: Obrigado doutor,<br />
Poeira de estrelas, Estou aí?, O homem que<br />
passa e Todos por um. A interrupção dos trabalhos<br />
de estúdio da companhia de Adhemar<br />
Gonzaga em 1950 e a venda de seus terrenos<br />
determinou o fim da parceria. Fenelon associou-se<br />
então ao empresário e político Rubens<br />
Berardo, fundando em 1951 a Flama Filmes,<br />
onde realizou como produtor e/ou diretor sete<br />
filmes: Dominó negro, A inconveniência de ser<br />
esposa, Milagre de amor, Falso detetive, Com o<br />
diabo no corpo, Tudo azul e Agulha no palheiro.<br />
Destes conjuntos perderam-se completamente<br />
Todos por um e Falso detetive e vários outros<br />
filmes encontravam-se incompletos em alguma<br />
medida, sendo o caso mais grave o de O<br />
homem que passa, cujo som se perdeu inteiramente.<br />
Os únicos títulos que haviam passado<br />
por processo de duplicação e/ou restauração<br />
recente eram Tudo azul e Agulha no palheiro,<br />
aquele geralmente considerado o melhor filme<br />
de Fenelon como diretor e este o filme de<br />
transição para o cinema moderno brasileiro<br />
Moacyr Fenelon
por conta de sua preocupação temática nitidamente<br />
social e pela valorização da coloquialidade<br />
na fala, na interpretação e nas situações<br />
dramáticas.<br />
Com a perda da obra anterior é nesta filmografia<br />
de 1948 a 1953 que se pode perceber<br />
a lenta, porém decidida introdução de uma<br />
reconfiguração do espetáculo cinematográfico<br />
brasileiro. Não se tratava apenas da troca dos<br />
números musicais por enredos de cunho social.<br />
Fenelon sempre soube que a sustentação<br />
do empreendimento cinematográfico no Brasil<br />
dependia da relação do público com a base<br />
cultural emanada do rádio e do disco, e que o<br />
sucesso deste tipo de filme seria a base para<br />
projetos de maior envergadura. A rigor, nenhum<br />
dos filmes realizados por Fenelon nunca<br />
dispensou a presença de números musicais.<br />
Porém, cumpria descobrir se o rádio não poderia<br />
ser explorado em outras dimensões que<br />
não a musical e se as canções apresentadas tinham<br />
mesmo que ser sempre os sucessos do<br />
próximo carnaval. O que era entrevisto neste<br />
sentido por um ou outro filme, ou um ou outro<br />
comentário em fontes de época, revelou-se<br />
mais consistente com o desenvolvimento do<br />
Projeto de Recuperação da Obra de Moacyr<br />
Fenelon. Os cinco títulos selecionados pelo<br />
projeto para reconstituição, confecção de novas<br />
matrizes e copiagem – Obrigado doutor,<br />
Poeira de estrelas, Estou aí?, O dominó negro e<br />
A inconveniência de ser esposa – dão conta de<br />
um sem número de tentativas de fugir dos cânones<br />
escapistas da nascente chanchada, ironicamente<br />
criados pela Atlântida de Fenelon,<br />
embora a seu contragosto. Preparam de forma<br />
sutil a incorporação dos temas do momento, a<br />
introdução de novas roupagens em traços típicos<br />
da comédia ou do melodrama musical<br />
popular e mesmo uma abordagem cinematográfica<br />
diferenciada em termos de tratamento<br />
dramático e estilo, fatores a rigor só consagrados<br />
de forma significativa em Tudo azul e<br />
Agulha no palheiro.<br />
Com a reapresentação pública dos cinco títulos<br />
restaurados pelo Projeto de Recuperação da<br />
Obra de Moacyr Fenelon será possível constatar<br />
essa reorientação na produção do período<br />
e a importância da atuação de Fenelon nesse<br />
sentido. Não é a toa que a chamada geração<br />
independente dos anos 1950 – Nelson Pereira<br />
dos Santos, Hélio Silva, Alex Viany e Roberto<br />
Santos, entre outros – seguiu sua orientação<br />
política nos congressos de cinema e aprofundou<br />
suas lições cinematográficas em filmes tão<br />
decisivos como Rio 40 graus, cujo modelo de<br />
Cinco exemplos de um tempo em que<br />
a sustentação do empreendimento cinematográfico no Brasil<br />
dependia da relação do público<br />
com a base cultural emanada do rádio e do disco.
Jane Grey, Flávio Cordeiro, Luiz Delfino e Laura Suarez: A inconveniência de ser esposa<br />
Moacyr Fenelon
produção cooperativado é de sua inspiração,<br />
cuja equipe de realização se intitulava Equipe<br />
Moacyr Fenelon e cujo tema, a favela, estava<br />
prefigurado em Tudo azul. Além disso, os filmes<br />
recuperados guardam méritos seja como<br />
documentos históricos da era de ouro do filme<br />
popular brasileiro, seja como repositórios<br />
da cultura brasileira do pós Segunda Guerra<br />
Mundial, momento em que as mudanças na<br />
estrutura da sociedade brasileira começaram a<br />
se fazer sentir de forma mais saliente.<br />
2.<br />
Grande parte do esforço do Projeto foi direcionado<br />
à reconstituição a mais completa possível<br />
de obras que se encontravam fora de circulação<br />
devido a seus negativos originais estarem<br />
incompletos ou perdidos há muito tempo.<br />
Dos filmes selecionados apenas O dominó negro<br />
ainda possui os negativos de imagem e de<br />
som em suporte nitrato, embora carentes do<br />
rolo 2 de imagem e do rolo 6 de som, que tiveram<br />
que ser reinseridos a partir da descoberta<br />
de uma cópia 16mm não totalmente completa<br />
nestes pontos. Com exceção de A inconveniência<br />
de ser esposa, os demais possuíam vários<br />
materiais em condição fragmentária, sendo<br />
o caso mais dramático o de Estou aí?. De A<br />
inconveniência de ser esposa restou apenas um<br />
contratipo feito nos anos 1970 a partir da única<br />
cópia remanescente do lançamento original<br />
em 1951, material este que não existe mais.<br />
Neste caso as intervenções para a confecção<br />
de nova matriz de preservação e de nova cópia<br />
de exibição foram pequenas, não sendo possível<br />
resolver de forma significativa os problemas<br />
apresentados, pois já estavam incorporados<br />
como registro fotográfico. Estou aí? representava<br />
um desafio de natureza oposta, pois<br />
foram localizadas quatro cópias e mais alguns<br />
fragmentos do filme, tudo em 16mm, embora<br />
o filme tivesse sido rodado originalmente em<br />
35mm. Todas as cópias estavam com muitas<br />
lacunas, às vezes alguns fotogramas, às vezes<br />
longos trechos com cerca de 1 a 2 minutos de<br />
filme. A qualidade fotográfica desses materiais<br />
também divergia entre si, indicando terem<br />
sido confeccionados em diferentes momentos,<br />
sendo um deles claramente uma cópia rejeitada<br />
de laboratório, por seu extremo contraste,<br />
mas que foi utilizada em alguns momentos,<br />
por possuir trechos inexistentes nos demais<br />
materiais. A minuciosa e necessária comparação<br />
entre essas diversas fontes, visando a definição<br />
de material de base, o preenchimento<br />
das lacunas e o cotejo dos melhores trechos<br />
Produção de grande envergadura,<br />
com a recriação em estúdio de um hospital e de um vagão de trem,<br />
Obrigado doutor,<br />
adaptação de uma novela do rádio,<br />
tinha no astro de teatro Rodolfo Mayer seu maior trunfo.
em termos fotográficos transcorreu por cerca<br />
de dois anos. Houve igualmente a transcrição<br />
das trilhas sonoras de todos os materiais, a<br />
limpeza digital dos mesmos, ressincronização<br />
e uma edição final visando à confecção de<br />
novo negativo de som.<br />
O objetivo final de recolocar em circulação<br />
obras que evidenciassem uma integridade significativa,<br />
permitindo a fruição da narrativa e<br />
a compreensão de seus desdobramentos internos,<br />
foi atingida plenamente, revelando um<br />
conjunto de agradáveis surpresas. O contato<br />
prolongado com os filmes suscitou a percepção<br />
das estratégias de trabalho de Fenelon, assim<br />
como a recuperação de momentos singulares<br />
da história do cinema brasileiro. No primeiro<br />
caso temos iniciativas como a adaptação pioneira<br />
de novelas radiofônicas, então no auge<br />
de sua popularidade em todo o país, efetuada<br />
na primeira produção da parceria Cine Produções<br />
Fenelon/Cinédia, o melodrama Obrigado<br />
doutor, herdeiro direto de obras como<br />
Deus lhe pague (peça, filme) e O ébrio (canção,<br />
peça, filme), e contemporânea de iniciativas<br />
semelhantes como Mãe (Brasil, 1948, direção<br />
de Theóphilo de Barros Filho) e Coração materno<br />
(Brasil, 1951, direção de Gilda Abreu).<br />
Produção de grande envergadura, com a recriação<br />
em estúdio de hospital e mesmo vagão<br />
de trem, tinha no astro do palco Rodolfo<br />
Mayer seu maior trunfo, testando a popularidade<br />
normalmente reservada ao cômico ou ao<br />
cantor de sucesso do momento.<br />
O teatro será alvo do interesse de Fenelon em<br />
mais de uma forma, seja apostando na comédia<br />
sofisticada sustentada pelo grupo do teatrólogo<br />
Silveira Sampaio, cuja rápida passagem<br />
pelo cinema na mesma época parecia indicar<br />
novos caminhos (Silveira dirigiu a comédia<br />
dramática de ficção científica Uma aventura<br />
aos 40 em 1949), seja abordando diretamente<br />
o universo do teatro popular, em vez do cassino,<br />
do auditório ou da estação de rádio meramente<br />
circunstanciais. No primeiro caso temos<br />
a produção por Fenelon da adaptação do<br />
grande sucesso teatral de Silveira, A inconveniência<br />
de ser esposa, cuja direção cinematográfica<br />
foi entregue a um dos membros do círculo<br />
sampaiano, Samuel Markezon. Embora inteiramente<br />
caudatário da base teatral, o filme se<br />
visto nesta chave apresenta shakespeareanas<br />
peças dentro de “peças”, revelando uma decidida<br />
e rara incursão neste terreno à época. O<br />
chamado teatro sério era em geral oposto ao<br />
teatro de revista e seu êmulo cinematográfico,<br />
a chanchada, com raras nuances para o exame<br />
Moacyr Fenelon
de um certo teatro popular e seus mecanismos<br />
de construção, caso que se apresenta como ligeiro<br />
pano de fundo em Poeira de estrelas, segunda<br />
produção da parceria Cine Produções<br />
Fenelon / Cinédia.<br />
O interesse crescente pelos bastidores da indústria<br />
cultural e que terá sua grande expressão<br />
desmistificadora em Agulha no palheiro<br />
(Brasil, 1953, direção de Alex Viany) e sobretudo<br />
em Rio, zona norte (Brasil, 1958, direção<br />
de Nelson Pereira dos Santos), surge já mais<br />
significativo em Estou aí?. Há também uma<br />
crescente insubordinação de Fenelon frente<br />
aos ditames desta mesma indústria, que via<br />
na comédia musical uma oportunidade para<br />
alavancar ainda mais os sucessos musicais do<br />
momento. À obrigatoriedade de só inserir<br />
canções novas nos filmes, sobrepõe-se o resgate<br />
de clássicos mais antigos e a inserção de<br />
composições criadas diretamente para o cinema,<br />
caso da famosa e antiga Boneca de pixe,<br />
de Ary Barroso e Luís Iglésias, e da Rumba,<br />
composta por Guerra Peixe, as duas presentes<br />
em Poeira de estrelas. As canções suscitaram<br />
também um outro tipo de abordagem em termos<br />
de sua apresentação cinematográfica. Em<br />
vez do acanhamento cênico que existia nas<br />
chanchadas da Atlântida, devido ao pequeno<br />
tamanho do primeiro palco de filmagem<br />
da companhia, Fenelon propõe um maior requinte<br />
de encenação, com cenários mais amplos<br />
e mesmo em dois andares, o que os estúdios<br />
da Cinédia permitiam, como se vê em<br />
Estou aí?, produção dirigida por Cajado Filho<br />
e orçada em 1 milhão de cruzeiros, em moeda<br />
da época, quando o normal para comédia musical<br />
era algo em torno de 500 mil cruzeiros<br />
até o final dos anos 1950. Há também uma<br />
transfiguração do papel narrativo da canção,<br />
seja pelo tema, pelos elementos cênicos que a<br />
expressam ou pelo posicionamento orgânico<br />
em meio ao enredo, caso por exemplo do número<br />
Algodão, de Poeira de estrelas, onde Cyro<br />
Monteiro aparece maquiado como preto velho,<br />
tendo se submetido também a um processo<br />
de envelhecimento, bastante inovador para<br />
a época e realizado pelos maquiadores Arlete<br />
Lester e Erick Rzepecki.<br />
Poeira de estrelas surge como um filme de velada<br />
ousadia, seja por lançar em papel dramático<br />
a cantora Emilinha Borba, seja por insinuar<br />
fortemente um relacionamento homossexual<br />
entre as personagens femininas principais, seja<br />
por evidenciar esse affair sobretudo pelas canções,<br />
em números dirigidos por Cajado Filho<br />
(Fenelon assina o filme mas responsabilizou-<br />
Em O dominó negro<br />
o carnaval encobre um outro mundo, mais sórdido, cruel e desigual.<br />
Uma trama paralela à festa, se não chega a ser sua negação,<br />
põe o carnaval definitivamente em questão.
se apenas pela ação corriqueira, e pelo roteiro<br />
com o pseudônimo de Miranda Henriques).<br />
Os temas sociais tão buscados vão imiscuir-se<br />
de forma discreta nas narrativas, com a participação<br />
mais intensa de uma figuração negra e<br />
com uma demonstração mais clara da origem<br />
cultural da musicalidade brasileira, visualizados<br />
no já citado Poeira de estrelas, com a explicitação<br />
de velhas sugestões da chanchada,<br />
como amantes e adultérios, tema de Estou aí?<br />
e A inconveniência de ser esposa, com a inserção<br />
de questões “novas” como os tráficos de influência<br />
e de drogas, tratados a partir da matriz<br />
radiofônica da novela policial em Dominó negro.<br />
Situações que ganhariam contornos mais<br />
fortemente dramáticos à medida que censuras<br />
morais e imperativos de mercado, presentes<br />
nas produções de Fenelon, fossem sendo superados<br />
em favor de um retrato mais acurado<br />
e direto da sociedade brasileira.<br />
Várias características novas, portanto, emanam<br />
desse conjunto que cumpre conhecer, apreciar,<br />
estudar, tanto como um momento privilegiado<br />
dessa passagem ao moderno cinema brasileiro,<br />
já indicando temas e questões, já evidenciando<br />
o anacronismo estético e de mentalidades<br />
que faria eclodir em seguida a geração independente<br />
e o Cinema Novo. Moacyr Fenelon<br />
intuiu essa necessidade, tendo tentado dar<br />
corpo a ela em seu projeto jamais completamente<br />
estruturado de um cinema social como<br />
retrato da realidade brasileira. Por outro lado,<br />
em meio ao universo do cinema popular de<br />
estúdio brasileiro deixou igualmente pérolas<br />
ao acolher o que de melhor o teatro, o rádio e<br />
música podiam oferecer àquela altura, encontrando-se<br />
em seu cinema a “favorita dos marinheiros”<br />
Emilinha Borba cantando o clássico<br />
Chiquita Bacana, o jovem Nelson Gonçalves<br />
interpretando Pepita, o símbolo sexual Elvira<br />
Pagã em seu único filme como protagonista,<br />
os primeiros passos de um dos muitos concorrentes<br />
de Oscarito, o cômico Colé Santana,<br />
o lançamento de futuros astros como<br />
Paulo Porto, o uso de novas tecnologias como<br />
a gravação magnética, já aplicada em O dominó<br />
negro, e a incorporação da gíria das ruas,<br />
popularizadas nos programas policiais radiofônicos<br />
e assumidas neste mesmo filme. Vistos<br />
de forma isolada tais filmes se perdem em<br />
suas tramas aparentemente óbvias; vistos em<br />
conjunto evidenciam o esforço de Fenelon em<br />
mudar o mínimo que fosse, mas mudar sempre,<br />
procurando guiar o cinema brasileiro para<br />
novos mundos e novos valores.<br />
| Hernani Heffner<br />
Moacyr Fenelon
Os cinco filmes deste programa organizado em parceria com a<br />
Cinédia e com a Associação Brasileira de Cineastas foram restaurados<br />
pelo <strong>Instituto</strong> para a Preservação da Memória do Cinema<br />
Brasileiro entre 2006 e 2010 com o patrocínio do Programa<br />
Petrobras Cultural. As obras selecionadas cobrem o período<br />
menos conhecido da filmografia de Moacyr Fenelon, entre 1948<br />
e 1951, quando esteve à frente da Cine Produções Fenelon e da<br />
Flama Filmes. A origem do projeto se prende à doação realizada<br />
em 2005 por Yedda Fenelon da titularidade e dos materiais<br />
fílmicos de seu pai ao <strong>Instituto</strong> presidido por Alice Gonzaga.<br />
Não existem mais cópias da maioria dos filmes em que Fenelon<br />
atuou como técnico, produtor ou diretor. Das diversas<br />
fases de sua carreira, a que permaneceu mais íntegra<br />
foi a ligada à Cine Produções Fenelon, em que realizou<br />
seus filmes em coprodução com os estúdios da Cinédia.<br />
Lourdinha e Emilinha: Poeira de estrelas<br />
Obrigado doutor. Produção e direção: Moacyr Fenelon. Argumento<br />
de Paulo Roberto. Com Rodolfo Meyer, Lourdinha<br />
Bitencourt, Hebe Guimarães, Modesto de Souza, Rodney<br />
Gomes, Castro Vianna, Auricélia Bernardo, Caué Filho, Jayme<br />
Faria Rocha, João Mattos, Zizinha Macedo, Enio Santos,<br />
Alvaro Costa, Joe Lester, Tereza Santos. Diretor artístico: Cajado<br />
Filho. Consultores médicos: Dr. Cid Ferreira Jorge e Paulo<br />
Roberto. Modelos de Lourdinha Bitencourt: Madame Tonaj.<br />
Diretor de fotografia: A. P. Castro. Cinegrafista: Robert Mirilli.<br />
Sonografista: Luiz Braga Filho. Assistentes de direção: Walter<br />
Duarte e Arlete Lester. Coordenador: Rafael Justo Valverde.<br />
Maquilador: Eryk. Produção: Cine Produções Fenelon e Adhemar<br />
Gonzaga. Brasil, 1948, 35mm, 85 minutos, preto e branco,<br />
mono, 1:1.37.<br />
Poeira de estrelas. Produção e direção: Moacyr Fenelon. Argumento<br />
de Miranda Henriques. Com Lourdinha Bitencourt,<br />
Emilinha Borba, Colé, Celeste Aída, Cazarré, Enio Santos,<br />
Valery Martins, Carlos Barbosa, Duarte de Morais, Ciro Monteiro,<br />
Os Cariocas, Hebe Guimarães, Déo Maia, Trio Guarás,<br />
Bicalho y sus Rumberos, Floripes Rodrigues, Raul Dubois, Ciganinha.<br />
Diretor de fotografia: A. P. Castro. Cinegrafista: Robert<br />
Mirilli. Sonografista: Luiz Braga Filho. Coordenador: Rafael<br />
Justo Valverde. Maquilagem: Arlete Lester. Assistentes de<br />
Direção: Walter Duarte. Styl-man: Sílvio Carneiro. Vestiário:<br />
Julieta Lombardi. Montagem e cenários: Alcebíades Monteiro<br />
e Nathan Giraldes. Diretor artístico: Cajado Filho. Diretor<br />
musical: Guerra Peixe. Coreografia do número final: Delff. Produção:<br />
Cine Produções Fenelon e Adhemar Gonzaga, Cinedia.<br />
Brasil, 1948, 35mm, 80 minutos, preto e branco, mono, 1:1.37.<br />
MOACYR FENELON<br />
Quarta 18<br />
14h00 : Poeira de estrelas<br />
de Moacyr Fenelon (Brasil, 1948. 80’) .<br />
16h00 : Obrigado doutor<br />
de Moacyr Fenelon (Brasil, 1948. 85’)<br />
18h30 : O dominó negro<br />
de Moacyr Fenelon (Brasil, 1950. 85’)<br />
20h00 : O cinema de Fenelon<br />
Debate com Hernani Heffner<br />
Quinta 19<br />
14h00 : Obrigado doutor<br />
de Moacyr Fenelon (Brasil, 1948. 85’)<br />
16h00 : Estou aí?<br />
de Cajado Filho (Brasil, 1949. 105’)<br />
18h00 : A inconveniência de ser esposa<br />
de Samuel Markenzon (Brasil, 1951. 71’)<br />
20h00 : O cinema na década de 1950<br />
Debate com Luiz Alberto Rocha Melo
Estou aí? Direção: Cajado Filho. Produção Moacyr Fenelon.<br />
Argumento de Cajado Filho. Com Emilinha Borba, Colé, Pedro<br />
Dias, Celeste Aída, Ronaldo Lupo, Áurea Paiva, Zizinha<br />
Macedo, Cahué Filho, Duarte de Moraes, Izaurinha Garcia,<br />
Déo Maia, Lêda Barbosa, Zilah Fonseca, Ciro Monteiro, Nelson<br />
Gonçalves, Os Cariocas, Bob Nelson, Trio Guarás, Eva<br />
Lanthos, Floripes Rodrigues, Irene Roberto, Paulo Molin,<br />
Luiza Mafra.Diretor de fotografia: A. P. Castro. Cinegrafista:<br />
Robert Mirilli e Antônio Gonçalves. Sonografista: Luiz Braga<br />
Filho. Coordenador: Rafael Justo Valverde. Maquilagem: Arlete<br />
Lester. Assistentes de direção: Walter Duarte. Styl-man:<br />
Sílvio Carneiro. Vestuário: Julieta Lombardi. Montagem de<br />
cenários: Alcebíades Monteiro e Nathan Giraldes. Diretor musical:<br />
Guerra Peixe. Cine Produções Fenelon realizada nos estúdios<br />
Cinédia de Adhemar Gonzaga. Brasil, 1949, 35mm, 105<br />
minutos, preto e branco, mono, 1:1.37. Exibição em Betacam<br />
digital, reproduzindo imagens de cópias 16mm.<br />
O dominó negro. Direção e produção: Moacyr Fenelon. Argumento:<br />
Hélio do Soveral. Com Carlos Kouto, Carlos Medina,<br />
Manoel Rocha, Chocolate, Mendonça Balsemão, Zizinha Macedo,<br />
Arnaldo Coutinho, Marlene Fernandes, Hélio do Soveral,<br />
Elias Kaiuca, Samir Monstmor, Isnar Fonsêca, Rafael Carvalho,<br />
Jaime Marini, Wilton Fachini, Aimoré, Ciro Monteiro, Felícitas<br />
e seu Ballet.Diretor de fotografia: A. P. Castro.Cinegrafista:<br />
Sílvio Carneiro. Sonografista: Cesar Abreu e Nelson Ribeiro.<br />
Coordenador: Rafael Justo. Maquillage: Arlete Lester. Guardaroupa:<br />
Julieta Lombardi. Cenários: Nathan Giraldes. Laboratórios:<br />
Cia. Ind. Cinematográfica Ltda. Assistente de direção:<br />
Walter Duarte. Diretor artístico: Cajado Filho. Diretor musical:<br />
Leo Perachi. Coreografia: Felícitas. Produção: Flama Filmes,<br />
Rubens Berardo Carneiro da Cunha. Brasil, 1950, 35mm, 75<br />
minutos, preto e branco, mono, 1:1.37.<br />
A inconveniência de ser esposa. Direção: Samuel Markenzon.<br />
Produção: Moacyr Fenelon. Roteiro de Silveira Sampaio, Ribeiro<br />
dos Santos e Samuel Markenzon Baseado na peça homônima<br />
de Silveira Sampaio. Com Laura Suarez, Flávio Cordeiro,<br />
Luiz Delfino, Jane Grey, Álvaro Aguiar, Pedro Perez Júnior.<br />
Cenografia: Cajado Filho. Diretor de fotografia: A. P. Castro.<br />
Cinegrafista: Sylvio Carneiro. Sonografista: Cesar Abreu e<br />
Nelson Ribeiro. Coordenador: Rafael Justo. Assistente de direção<br />
: Walter Duarte. Maquilagem: Arlete Lester. Contra-regra:<br />
Manoel Rocha. Laboratórios: Alex do Brasil Ltda. Música<br />
composta e dirigida por Walter Porto Alegre Schultz. Cine<br />
Produções Fenelon, Cooperativa Cinematográfica Brasileira.<br />
Brasil, 1951, 35mm, 71 minutos, preto e branco, mono, 1:1.37.<br />
<strong>Instituto</strong> <strong>Moreira</strong> <strong>Salles</strong><br />
Rua Marquês de São Vicente, 476. Gávea.<br />
Telefone: (21) 3284-7400<br />
www.ims.com.br<br />
De terça a sexta, de 13h às 20h<br />
Sábados, domingos e feriados de 11h às 20h<br />
Acesso a portadores de<br />
necessidades especiais.<br />
Estacionamento gratuito no local.<br />
Ambiente WiFi.<br />
Capacidade da sala: 113 lugares.<br />
Ingressos: R$ 10,00 (inteira). R$ 5,00 (meia).<br />
Ingressos disponíveis também em<br />
www.ingresso.com<br />
Como chegar:<br />
as seguintes linhas de ônibus<br />
passam em frente ao IMS:<br />
158 – Central-Gávea<br />
(via Praça Tiradentes, Flamengo, São Clemente)<br />
170 – Rodoviária-Gávea<br />
(via Rio Branco, Largo do Machado, São Clemente)<br />
592 – Leme-São Conrado<br />
(via Rio Sul, São Clemente)<br />
593 – Leme-Gávea<br />
(via Prudente de Morais, Bartolomeu Mitre)<br />
Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea<br />
Curadoria: José Carlos Avellar<br />
Assessoria de programação: Eduardo Ades<br />
Coordenação do IMS - RJ: Elizabeth Pessoa<br />
Assessoria de coordenação: Bárbara Alves Rangel<br />
Foto da capa: Stalker, de Andrei Tarkovski<br />
Foto da contracapa: Sergei Paradjanov