download completo - SET - USP
download completo - SET - USP
download completo - SET - USP
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
São Carlos, v.10 n. 47 2008
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />
Reitora:<br />
Profa. Dra. SUELY VILELA<br />
Vice-Reitor:<br />
Prof. Dr. FRANCO M. LAJOLO<br />
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />
Diretor:<br />
Profa. Dra. MARIA DO CARMO CALIJURI<br />
Vice-Diretor:<br />
Prof. Dr. ARTHUR JOSÉ VIEIRA PORTO<br />
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />
Chefe do Departamento:<br />
Prof. Dr. CARLITO CALIL JUNIOR<br />
Suplente do Chefe do Departamento:<br />
Prof. Dr. SERGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />
Coordenador de Pós-Graduação:<br />
Prof. Dr. MARCIO ANTONIO RAMALHO<br />
Editor Responsável:<br />
Prof. Dr. MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA<br />
Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />
MARIA NADIR MINATEL<br />
e-mail: minatel@sc.usp.br<br />
Editoração e Diagramação:<br />
FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />
MARIA NADIR MINATEL<br />
MASAKI KAWABATA NETO<br />
MELINA BENATTI OSTINI<br />
RODRIGO RIBEIRO PACCOLA<br />
TATIANE MALVESTIO SILVA
São Carlos, v.10 n. 47 2008
Departamento de Engenharia de Estruturas<br />
Escola de Engenharia de São Carlos – <strong>USP</strong><br />
Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />
CEP: 13566-590 – São Carlos – SP<br />
Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />
site: http://www.set.eesc.usp.br
SUMÁRIO<br />
Aplicação de recursos computacionais em projetos de edifícios em alvenaria<br />
Julio Antonio Razente & Marcio Antonio Ramalho 1<br />
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à<br />
análise de tubos cilíndricos e cascas esféricas<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença 17<br />
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Liborio 53<br />
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro 75<br />
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos<br />
de aço e concreto em situação de incêndio<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto 97<br />
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença 117
ISSN 1809-5860<br />
APLICAÇÃO DE RECURSOS COMPUTACIONAIS<br />
EM PROJETOS DE EDIFÍCIOS EM ALVENARIA<br />
Julio Antonio Razente 1 & Marcio Antonio Ramalho 2<br />
Resumo<br />
A finalidade deste trabalho é apresentar o desenvolvimento, através da utilização da<br />
linguagem de programação AutoLISP, de programa computacional relacionado à<br />
etapa de projeto de edifícios em alvenaria. O programa, intitulado ALVPLUS, auxilia<br />
nas atividades de modulação das alvenarias, geração automática de elevações e<br />
inserção de detalhes relacionados à alvenaria estrutural como disposições construtivas,<br />
armaduras, quantitativos de materiais e legendas, dispostos em arquivos eletrônicos do<br />
seu banco de dados. A utilização deste programa propicia o aumento da produtividade<br />
e da padronização dos projetos de alvenarias, assim como o aumento da qualidade e<br />
entendimento desses projetos.<br />
Palavras-chave: projetos de edifício;, alvenaria estrutural; AutoLISP.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Por muitos anos a alvenaria estrutural foi pouco utilizada devido a muitos<br />
fatores tais como: preconceito, maior domínio da tecnologia do concreto armado por<br />
parte de construtores e projetistas e pouca divulgação do assunto nas universidades<br />
durante o processo de formação do profissional. Muitos projetistas são leigos no que<br />
diz respeito a este sistema construtivo e acabam, assim, optando pelo concreto<br />
armado.<br />
Nos últimos anos essa situação tem se alterado de forma significativa. O<br />
interesse por esse sistema estrutural cresceu de forma notável, especialmente pelas<br />
condições nitidamente favoráveis que se obtêm em termos de economia. E, no<br />
momento, o processo construtivo atende com sucesso ao desafio de se construir no<br />
prazo fixado, com qualidade e custo relativamente baixo, edificações residenciais,<br />
comerciais e industriais. O aperfeiçoamento dos métodos de cálculo e a melhoria dos<br />
componentes, ao longo dos anos, tornaram possível desenvolver edifícios de diversos<br />
padrões e estruturas cada vez mais altas.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, julio.razente@terra.com.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, ramalho@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
2<br />
Julio Antonio Razente & Marcio Antonio Ramalho<br />
Além disso, técnicas relacionadas à elaboração de projetos foram<br />
aperfeiçoadas através da utilização de computadores e ferramentas específicas para<br />
a engenharia. A implementação da informática nas etapas de projeto permitiu que<br />
estes fossem elaborados enfocando os princípios da racionalização construtiva,<br />
destacando-se: a compatibilização entre projetos, coordenação modular, melhor<br />
apresentação de detalhes construtivos e eventualmente de algumas técnicas de<br />
execução. Os recursos de informática permitem ainda que os profissionais envolvidos<br />
com projeto sejam mais competitivos, diminuindo o tempo gasto para a elaboração<br />
dos trabalhos e possibilitando a garantia de prazos relacionados às etapas da obra.<br />
Neste trabalho, rotinas foram desenvolvidas, através da linguagem AutoLISP,<br />
para o programa AutoCAD®. Tais rotinas compõem um ambiente que auxilia o<br />
usuário nas atividades relacionadas com a representação gráfica de um projeto de<br />
alvenaria estrutural, permitindo que tarefas repetitivas e demoradas sejam eliminadas<br />
durante o desenvolvimento dos projetos de edifícios em alvenaria. O conjunto dessas<br />
rotinas permitiu-se criar o programa denominado ALVPLUS, com diversos comandos<br />
relacionados à técnica da coordenação modular.<br />
2 APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA ALVPLUS<br />
2.1 Considerações iniciais<br />
O conjunto de rotinas desenvolvidas possibilita a realização de atividades<br />
relacionadas à modulação e ao detalhamento do projeto executivo das alvenarias,<br />
através de uma barra de ferramenta e de um menu que auxiliam o usuário,<br />
possibilitando maior rapidez nestes projetos.<br />
Uma característica do ALVPLUS é que a ferramenta praticamente não altera o<br />
ambiente do AutoCAD definido inicialmente pelo usuário. Esta medida permite que o<br />
usuário adapte-se somente aos comandos do ALVPLUS, sendo que os demais<br />
recursos e comandos do AutoCAD permanecem inalterados.<br />
Todas as informações que são definidas e alteradas pelo usuário são<br />
armazenadas em arquivos que depois o ALVPLUS utiliza para auxiliar na modulação<br />
em planta das alvenarias e geração das elevações. O banco de dados das rotinas<br />
também apresenta biblioteca predefinida de blocos encontrados no mercado e mais<br />
utilizados atualmente.<br />
Além disso, existe uma biblioteca contendo alguns detalhes construtivos, tipos<br />
de folhas, notas e especificações. As informações especificadas no detalhamento do<br />
projeto estrutural devem estar de acordo com os critérios adotados durante a<br />
concepção do projeto estrutural.<br />
A unidade utilizada na entrada de dados e nos desenhos deve ser o<br />
centímetro, exceto onde indicado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
Aplicação de recursos computacionais em projetos de edifícios em alvenaria<br />
3<br />
2.2 Tela inicial do ALVPLUS<br />
A Figura 1 indica a barra de ferramentas e o menu do ALVPLUS, onde as<br />
rotinas são acionadas quando selecionado um dos ícones desta barra ou através da<br />
escolha de um dos comandos apresentados no menu.<br />
Através dos botões, as barras de ferramentas são um modo rápido de se<br />
acionar comandos, sem ter que utilizar os menus suspensos.<br />
Figura 1 - Barra de ferramentas e menu do programa desenvolvido.<br />
2.3 Definição dos parâmetros de projeto<br />
2.3.1 Definição dos parâmetros do projeto de alvenaria<br />
Inicialmente, o ALVPLUS necessita de alguns dados, fornecidos<br />
através de caixas de diálogo, nas quais o usuário define os parâmetros iniciais do<br />
edifício. Nesta mesma caixa de diálogo, é possível definir, através do acionamento de<br />
botões, os demais parâmetros relacionados às portas, janelas, armaduras<br />
convencionais, armaduras utilizadas nas juntas a prumo e cintas. O usuário ainda<br />
pode definir a família de blocos corrente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
4<br />
Julio Antonio Razente & Marcio Antonio Ramalho<br />
Durante os estudos relacionados à etapa de modulação, podem ser inseridos<br />
diversos blocos de distintas famílias de blocos, havendo apenas a necessidade de<br />
alterar a família de bloco utilizada.<br />
Nesta fase, é importante que o usuário entre com todas as informações<br />
solicitadas pelas caixas de diálogo, para que o banco de dados seja criado.<br />
2.3.2 Definição das aberturas<br />
A definição de portas e de janelas deve ser realizada com o preenchimento<br />
das informações de todos os itens que constam nas tabelas relacionadas a este<br />
comando, informando as principais dimensões das aberturas.<br />
2.3.3 Definição de armaduras e cintas<br />
Nesta etapa de trabalho, pode-se definir as armaduras convencionais e as<br />
armaduras utilizadas nas juntas a prumo através do acionamento de comandos que<br />
ativarão caixas de diálogo referentes a essas armaduras. Os critérios adotados<br />
durante a análise estrutural deverão ser inseridos nas caixas de diálogo, com o intuito<br />
de permitir que o programa obtenha todas as informações necessárias para a geração<br />
automática das elevações.<br />
Com relação às armaduras convencionais, a entrada de dados é feita em dois<br />
quadros da caixa de diálogo, onde o primeiro quadro refere às armaduras horizontais<br />
e o segundo quadro refere-se às armaduras verticais. Foi criado um auxílio ao<br />
usuário que permite a identificação de cada parâmetro da entrada de dados das<br />
armaduras.<br />
A caixa de diálogo de armaduras utilizadas nas juntas a prumo requer do<br />
usuário o preenchimento das informações referentes ao tipo de armadura, a qual será<br />
utilizada nas paredes que se encontram e que não apresentam amarração entre seus<br />
blocos. As possíveis soluções dessas armaduras são do tipo grampo, tela ou ferro<br />
corrido. É necessário que o usuário preencha todas as informações solicitadas na<br />
coluna do tipo de armadura a ser utilizada. As informações referentes aos demais<br />
tipos de armaduras das juntas a prumo serão descartadas<br />
A posição das cintas devem ser definidas utilizando a caixa de diálogo<br />
específica. Não é necessário o preenchimento de todos os espaços, já que serão<br />
ignoradas informações nulas ou inexistentes.<br />
2.4 Definição de critérios atuais<br />
2.4.1 Definição de “layers”<br />
O termo “layer” significa nível ou camada. Pode-se comparar um “layer” a uma<br />
folha de papel vegetal, onde várias folhas sobrepostas podem ser manipuladas,<br />
visualizando-as todas de uma só vez. Ao começar um desenho, é conveniente pensar<br />
na organização dos elementos em “layers”, facilitando a produção dos desenhos do<br />
projeto a ser desenvolvido.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
Aplicação de recursos computacionais em projetos de edifícios em alvenaria<br />
5<br />
Os nomes dos “layers” definidos pelo programa podem ser alterados desde<br />
que seja utilizada a rotina desenvolvida neste trabalho, permitindo que as demais<br />
configurações dos “layers” como cor, tipo de linha, e demais propriedades dos “layers”<br />
sejam alteradas conforme a necessidade do usuário. Recomenda-se que os “layers”<br />
sejam alterados no início do desenho, antes da inserção de blocos e aberturas.<br />
2.4.2 Definição de blocos atuais<br />
Antes do lançamento da modulação, é necessário que seja definido o bloco<br />
atual a ser inserido. Será apresentada uma listagem dos blocos da "Família de<br />
Blocos" corrente, onde o usuário pode observar uma exibição da vista em planta do<br />
bloco a ser escolhido. Para a inserção de bloco em elevação, pode-se escolher uma<br />
vista, mesmo em planta, e, através dos comandos relacionados à distribuição da<br />
modulação, o usuário optará pela vista a ser inserida.<br />
2.4.3 Definição de aberturas atuais<br />
O usuário deve também escolher quais as aberturas atuais a serem utilizadas<br />
para inserção de portas e janelas. A escolha da abertura pode ser feita através da<br />
escolha da janela ou da porta atual, ou mesmo ambos os itens.<br />
2.5 Modulações em planta<br />
As etapas de projeto de edifícios em alvenaria que despendem maior tempo<br />
dos profissionais envolvidos são o lançamento e o detalhamento das alvenarias.<br />
Todos os comandos relacionados às modulações em planta foram criados com o<br />
intuito de aumentar a produtividade da distribuição dos blocos, utilizando os conceitos<br />
de coordenação modular, e possibilitar a geração automática das elevações das<br />
paredes.<br />
2.5.1 Inserção de 1 bloco<br />
A rotina de inserção de um bloco, bloco atual, foi desenvolvida com o auxílio<br />
de uma caixa de diálogo que permite ao usuário escolher o ponto de inserção do<br />
bloco atual (Figura 2).<br />
Esse ponto de inserção deve ser um ponto qualquer do desenho, podendo<br />
aproveitar elementos da arquitetura. Deve-se escolher um canto ou o centro do bloco<br />
como ponto de inserção do bloco. Por exemplo, ao escolher o PT1, um bloco atual<br />
será inserido posicionando o canto inferior esquerdo do bloco no ponto selecionado<br />
pelo usuário. Também é possível informar o ângulo principal de inserção do bloco<br />
através do acionamento dos botões do tipo rádio ("radio_button"), permitindo a<br />
inserção de blocos para os ângulos principais iguais a 0º ou 90º, ou ainda,<br />
adicionando qualquer ângulo ao ângulo principal. É possível que o bloco inserido seja<br />
afastado de uma distância definida por valores denominados "offsets". Caso os<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
6<br />
Julio Antonio Razente & Marcio Antonio Ramalho<br />
valores desses "offsets" sejam nulos, o canto ou centro do bloco escolhido será<br />
inserido exatamente no ponto selecionado.<br />
A opção de escolha da vista do bloco permite que sejam inseridos não apenas a vista<br />
em planta do bloco atual, mas também é permitido que sejam inseridas as demais<br />
vistas longitudinais e transversais do bloco. Por último, no quadro inferior direito da<br />
caixa de diálogo, pode-se definir o “layer” do bloco a ser inserido como 1ª ou 2ª fiada<br />
através dos botões de rádio.<br />
Figura 2 - Caixa de diálogo do comando “Inserção de 1 bloco”.<br />
2.5.2 Inserção de 1 bloco com referência<br />
A rotina de inserção de um bloco com referência foi desenvolvida para facilitar<br />
a inserção de um bloco atual com alinhamento automático em relação a um bloco<br />
existente, levando em consideração as juntas. Primeiramente, é necessário que o<br />
usuário, depois de definido o bloco atual, escolha um bloco já inserido em desenho e,<br />
em seguida, um ponto auxiliar, o qual definirá o sentido do bloco a ser inserido, na<br />
mesma direção do primeiro bloco. Todas as rotinas relacionadas a modulações foram<br />
criadas com um filtro de seleção para escolha de elementos do tipo “bloco”.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
Aplicação de recursos computacionais em projetos de edifícios em alvenaria<br />
7<br />
O bloco será inserido no mesmo “layer” do bloco existente, portanto, para<br />
realizar a modulação da 2ª fiada, por exemplo, recomenda-se que o usuário congele o<br />
“layer” da 1ª fiada, evitando escolha incorreta do ponto desejado.<br />
Esta rotina também foi desenvolvida para auxiliar no detalhamento das<br />
elevações. Caso seja selecionado um bloco em elevação, o comando solicitará ao<br />
usuário a escolha entre elevação longitudinal e transversal, inserindo a elevação do<br />
bloco atual com alinhamento automático em relação à elevação de um bloco<br />
existente.<br />
Todas as rotinas relacionadas à inserção de blocos com referência foram<br />
desenvolvidas para funcionar com alvenarias inseridas em qualquer ângulo,<br />
aumentando a produtividade durante o lançamento das modulações.<br />
2.5.3 Inserção de N blocos<br />
A rotina de inserção de N blocos solicita ao usuário qual o bloco de referência<br />
a ser considerado pelo programa. A próxima instrução pede para ser fornecida a<br />
quantidade de blocos a serem inseridos na mesma direção do primeiro bloco e em<br />
seguida também é necessário fornecer um ponto auxiliar, o qual definirá o sentido dos<br />
N blocos a serem inseridos.<br />
2.5.4 Inserção de 1 bloco rotacionado<br />
Foram desenvolvidas três rotinas relacionadas à inserção de um bloco<br />
rotacionado em relação a um bloco existente. A primeira rotina refere-se à inserção de<br />
um bloco ortogonal e alinhado a uma das faces do bloco existente. Este comando<br />
solicita ao usuário a escolha de um bloco já existente e ponto auxiliar, o qual definirá a<br />
posição do bloco a ser inserido. A Figura 3 indica algumas possibilidades de inserção<br />
de um bloco rotacionado e alinhado a uma das faces do bloco existente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
8<br />
Julio Antonio Razente & Marcio Antonio Ramalho<br />
2<br />
3<br />
1<br />
6<br />
4<br />
5<br />
Comando:<br />
"Alvplus" - "Inserir 1 bloco rotacionado"<br />
Ponto sobre o bloco de referencia:<br />
B1 no PT1<br />
Direcao do bloco a ser inserido ortogonalmente: B1 no PT2<br />
Comando:<br />
"Alvplus" - "Inserir 1 bloco rotacionado"<br />
Ponto sobre o bloco de referencia:<br />
B1 no PT1<br />
Direcao do bloco a ser inserido ortogonalmente: B1 no PT3<br />
Comando:<br />
"Alvplus" - "Inserir 1 bloco rotacionado"<br />
Ponto sobre o bloco de referencia:<br />
B1 no PT4<br />
Direcao do bloco a ser inserido ortogonalmente: B1 no PT5<br />
Comando:<br />
"Alvplus" - "Inserir 1 bloco rotacionado"<br />
Ponto sobre o bloco de referencia:<br />
B1 no PT5<br />
Direcao do bloco a ser inserido ortogonalmente: B1 no PT3<br />
Figura 3 - Insere 1 bloco rotacionado e alinhado em relação a uma das faces do bloco<br />
existente.<br />
A segunda rotina refere-se à inserção de um bloco cujo eixo seja<br />
perpendicular ao eixo longitudinal do bloco existente. O bloco será inserido na menor<br />
face do bloco existente. A Figura 4 indica algumas possibilidades de inserção do bloco<br />
ortogonal em relação ao primeiro bloco.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
Aplicação de recursos computacionais em projetos de edifícios em alvenaria<br />
9<br />
2<br />
1<br />
3 4<br />
Comando:<br />
"Alvplus" - "Inserir 1 bloco rotacionado2"<br />
Ponto sobre o bloco de referencia:<br />
B1 no PT1<br />
Direcao do bloco a ser inserido ortogonalmente: B1 no PT2<br />
Comando:<br />
"Alvplus" - "Inserir 1 bloco rotacionado2"<br />
Ponto sobre o bloco de referencia:<br />
B1 no PT3<br />
Direcao do bloco a ser inserido ortogonalmente: B1 no PT4<br />
Figura 4 - Insere 1 bloco rotacionado na menor face do bloco existente.<br />
A terceira rotina refere-se à inserção de um bloco cujo eixo seja perpendicular<br />
ao eixo longitudinal do bloco existente. O bloco será inserido na maior face do bloco<br />
existente. A Figura 5 indica algumas possibilidades de inserção do bloco ortogonal em<br />
relação ao primeiro bloco.<br />
1<br />
2<br />
4<br />
3<br />
Comando:<br />
"Alvplus" - "Inserir 1 bloco rotacionado3"<br />
Ponto sobre o bloco de referencia:<br />
B1 no PT1<br />
Direcao do bloco a ser inserido ortogonalmente: B1 no PT2<br />
Comando:<br />
"Alvplus" - "Inserir 1 bloco rotacionado3"<br />
Ponto sobre o bloco de referencia:<br />
B1 no PT3<br />
Direcao do bloco a ser inserido ortogonalmente: B1 no PT4<br />
Figura 5 - Insere 1 bloco rotacionado na maior face do bloco existente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
10<br />
Julio Antonio Razente & Marcio Antonio Ramalho<br />
2.5.5 Rotaciona bloco 180º<br />
Através da seleção de um bloco existente, essa rotina acrescenta 180º ao<br />
ângulo de inserção do bloco escolhido e foi desenvolvida com o intuito de facilitar na<br />
rotação de blocos especiais inseridos em posição errada.<br />
2.5.6 Substitui bloco<br />
Este comando foi desenvolvido para substituir um bloco já inserido por um<br />
bloco definido como atual. Assim, é possível que o usuário, após definir a modulação<br />
sem se preocupar com os blocos a serem grauteados, substitua um bloco comum por<br />
um bloco grauteado, de acordo com as necessidades estruturais ou construtivas.<br />
2.5.7 Conta bloco em planta<br />
Ao selecionar a opção “Extrai Tabela de Blocos em Planta” do menu<br />
ALVPLUS, pode-se fazer a contagem e extração da tabela de blocos em planta,<br />
através da seleção de blocos da primeira fiada. Este comando pede que seja<br />
selecionada uma janela, dentro da qual serão contadas todas as entidades do tipo<br />
"insert". Por último, solicita-se um ponto onde será inserida a tabela de blocos em<br />
planta.<br />
2.6 Inserção de aberturas em planta<br />
2.6.1 Inserir janela atual<br />
Esta rotina possibilita maior agilidade na inserção de janelas em planta. A<br />
caixa de diálogo e o seu funcionamento são muito semelhantes à rotina "Inserção de<br />
1 bloco atual", o que facilita ao usuário o aprendizado e utilização do comando.<br />
A inserção das janelas em planta é feita através de um elemento do tipo<br />
“poliline”, na cota Z igual a 800,0 acrescida do número da janela, ou seja, como são<br />
permitidos 8 tipos de janelas, a janela J01 será inserida na cota Z=801,0, a janela J02<br />
na cota Z=802,0 e assim por diante.<br />
2.6.2 Inserir porta atual<br />
Esta rotina possibilita maior agilidade na inserção de portas em planta. A caixa<br />
de diálogo e o seu funcionamento são praticamente idênticos à rotina de inserção de<br />
janelas em planta. Apenas a cota Z adotada será igual a 700,0 acrescida do número<br />
da porta.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
Aplicação de recursos computacionais em projetos de edifícios em alvenaria<br />
11<br />
2.7 Geração automática de elevação de paredes<br />
2.7.1 Elevação através da 1ª e 2ª fiadas<br />
Primeiramente, o comando solicita ao usuário, a definição de uma janela<br />
contendo todos os elementos da elevação. Em seguida, devem ser definidos: a vista<br />
da elevação, título da parede, número de repetições e ponto de inserção da elevação.<br />
Conforme a escolha do ponto da vista da elevação, a rotina desenha o<br />
identificador da parede contendo o título da mesma e posicionando o identificador no<br />
centro da vista da parede. O título da parede deve ser definido com no máximo sete<br />
letras, não podendo haver espaços em branco entre os caracteres do título da parede.<br />
Durante a inserção automática das armaduras dos elementos estruturais,<br />
existe a verificação de que, caso a fiada da contraverga seja a mesma fiada que a da<br />
cinta, a armadura da contraverga não é detalhada. Outro critério adotado nas<br />
elevações foi que, nas paredes onde houvesse portas, não são detalhadas cintas<br />
intermediárias. Caso haja a necessidade de cinta nas paredes com portas, o usuário<br />
terá que fazer o detalhamento manualmente. O número de repetições da parede<br />
servirá como multiplicador das armaduras.<br />
2.7.2 Conta bloco em elevação<br />
Ao selecionar a opção “Extrai Tabela de Blocos em Elevação” do menu<br />
ALVPLUS, pode-se fazer a contagem e extração da tabela de blocos em planta,<br />
através da seleção de blocos da primeira fiada. Este comando pede que seja<br />
selecionada uma janela, dentro da qual serão contadas todas as entidades do tipo<br />
"insert". Por último, solicita-se um ponto onde será inserida a tabela de blocos em<br />
elevação.<br />
2.8 Detalhamento das armaduras<br />
2.8.1 Armaduras<br />
Os textos de armaduras inseridos nas elevações apresentam formato<br />
padronizado, de forma que a armadura seja incluída na tabela de armaduras. Cada<br />
elevação criada determina um conjunto de armação. Cada armadura a ser inserida é<br />
armazenada numa posição, não devendo se repetir. A quantidade e o diâmetro da<br />
armadura (“bitola”) são obtidos a partir da definição feita pelo usuário através da<br />
opção “Definição das Armaduras Convencionais” nos “Parâmetros de Alvenaria”. O<br />
comprimento de cada armadura é calculado automaticamente. Caso haja a<br />
necessidade de repetição de uma mesma posição, é possível acrescentar um<br />
multiplicador da posição seguindo o mesmo critério do comando “TA – Texto de<br />
Armadura”. Se o comprimento da armadura for superior a 12,00 metros, a armadura<br />
apresentada na elevação será do tipo corrida, havendo a necessidade do usuário<br />
inserir o comprimento da emenda da armadura.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
12<br />
Julio Antonio Razente & Marcio Antonio Ramalho<br />
2.8.2 Verificação das posições<br />
O comando VP é utilizado para verificar a existência de posições vazias em<br />
um conjunto de armação. Se for encontrada uma posição em branco, as armaduras<br />
são rearranjadas de maneira a existir sempre o menor número possível de posições.<br />
2.8.3 Quantitativos de armaduras<br />
Através desse comando, é possível extrair automaticamente a Tabela e o<br />
Resumo das Armaduras.<br />
2.9 Outras aplicações do programa<br />
2.9.1 Inserção de detalhes construtivos<br />
Esta rotina permite agilizar a inserção de detalhes construtivos no projeto<br />
estrutural. O comando exibe caixa de diálogo padrão do AutoCAD, selecionando<br />
todos os arquivos de desenho com extensão DWG contidos no banco de dados do<br />
programa. Estes desenhos podem ser alterados e outros arquivos podem ser<br />
adicionados a esta pasta com o objetivo de aumentar a produtividade e melhorar a<br />
apresentação dos projetos de edifícios em alvenaria.<br />
2.9.2 Criação de novos blocos na biblioteca de blocos<br />
Foram criados para as famílias dos blocos 30x15, 40x15 e 40x20 os blocos<br />
usuais empregados no mercado. Além dessas famílias, há a possibilidade de serem<br />
acrescentadas 3 novas famílias de blocos, denominadas Família 4, 5 e 6. Para cada<br />
família, não existe nenhuma limitação da quantidade de blocos que podem ser<br />
utilizados pelo usuário, permitindo-se a inserção de novos blocos mesmo para as<br />
famílias 30x15, 40x15 e 40x20.<br />
3 CONCLUSÕES<br />
Este trabalho atendeu ao objetivo proposto de desenvolvimento de um<br />
programa que auxiliasse nos projetos de edifícios em alvenaria, visando a redução do<br />
tempo dos projetos estruturais através da eliminação de tarefas repetitivas e, ao<br />
mesmo tempo, diminuindo a possibilidade de erros do projeto executivo das<br />
alvenarias. O programa ALVPLUS pode ser empregado nos projetos de edifícios em<br />
alvenaria estrutural, como também em qualquer outro sistema construtivo para o qual,<br />
através dos conceitos da coordenação modular, se deseja atingir um nível satisfatório<br />
de racionalização construtiva.<br />
Desde o início deste trabalho, a principal intenção foi realizar a distribuição<br />
das modulações em planta, desde que permitisse a geração automática das<br />
elevações. Para isso, preocupou-se em trabalhar com desenhos em planta, evitando o<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
Aplicação de recursos computacionais em projetos de edifícios em alvenaria<br />
13<br />
detalhamento tridimensional das estruturas, já que a maioria dos profissionais não<br />
possui o conhecimento necessário para utilizar esse recurso.<br />
Com o intuito de atender às principais necessidades dos usuários em relação<br />
à inserção dos blocos, a primeira etapa do trabalho foi a criação das rotinas<br />
relacionadas à distribuição das modulações em planta.<br />
A interface gráfica do programa é apresentada através de menu e barras de<br />
ferramentas, ambos contendo os principais comandos do programa, sempre visando o<br />
aumento da produtividade do projeto estrutural. Outro recurso utilizado para melhorar<br />
a interface gráfica foi o desenvolvimento de diversas caixas de diálogo, facilitando a<br />
entrada de dados solicitada pelo programa. Todas as informações especificadas nas<br />
caixas de diálogo são salvas em um banco de dados para depois serem utilizadas nas<br />
demais etapas de projeto. A facilidade de operação deste programa proporciona ao<br />
usuário uma grande confiabilidade no resultado final do projeto.<br />
Diversos blocos estruturais encontrados no mercado foram inseridos no banco<br />
de dados do programa. Também foram desenvolvidos alguns detalhes construtivos<br />
típicos que podem ser utilizados nos projetos de alvenaria. Todos os desenhos<br />
desenvolvidos podem ser editados conforme a necessidade de cada usuário.<br />
Em seguida, foram criados comandos de inserção automática de aberturas<br />
em planta, possibilitando que as informações definidas nos parâmetros de projetos<br />
auxiliassem na geração das elevações.<br />
Outra etapa atingida satisfatoriamente foi o desenvolvimento das rotinas<br />
relacionadas à geração das elevações através das 1ª e 2ª fiadas, apresentando o<br />
posicionamento correto dos blocos em elevações longitudinal e transversal, a<br />
disposição das aberturas e das armaduras de vergas, contravergas e cintas.<br />
Rotinas relacionadas à extração de tabelas de blocos e armaduras foram<br />
feitas com o objetivo de quantificar os principais componentes empregados nas<br />
alvenarias.<br />
4 REFERÊNCIAS<br />
ACCETTI, K.M. (1998). Contribuições ao projeto estrutural de edifícios em<br />
alvenaria. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos<br />
– Universidade de São Paulo.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA – ABCI. (1990).<br />
Manual técnico de alvenaria. São Paulo: ABCI / Projeto.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1977). NBR 5706 - Norma<br />
brasileira da coordenação modular da construção. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1994). NBR 6136 - Blocos<br />
vazados de concreto simples para alvenaria estrutural. Rio de Janeiro.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
14<br />
Julio Antonio Razente & Marcio Antonio Ramalho<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1992). NBR 7171 - Bloco<br />
cerâmico para alvenaria. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1989). NBR 10837 - Cálculo<br />
de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1995). NBR 13531 -<br />
Elaboração de projetos de edificações: atividades técnicas. Rio de Janeiro.<br />
CURTIN, W. G.; SHAW, G.; BECK, J. K.; PARKINSON, G. Structural masonry<br />
detailing. London: Granada Publishing, 1984.<br />
FRANCO, L. S. (1992). Aplicação de diretrizes de racionalização construtiva para<br />
a evolução tecnológica dos processos construtivos em alvenaria estrutural não<br />
armada. São Paulo. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica – Universidade de São<br />
Paulo.<br />
FRANCO, L. S. et al. (1991). Manual de um novo processo construtivo em<br />
alvenaria estrutural não-armada de blocos de concreto; Manual do processo<br />
construtivo POLI/ENCOL: projeto. Relatório técnico R5-25/91. São Paulo, 1991.<br />
GAÁL, J. A. (1997). Curso de AutoLISP. 1 ed. Campinas: Desecad Computação<br />
Gráfica.<br />
GAÁL, J. A. (1997). Curso de DCL. 1 ed. Campinas: Desecad Computação Gráfica.<br />
MATSUMOTO, E. Y. (2001). AutoLISP 2002: Linguagem de programação do<br />
AutoCAD. São Paulo: Érica.<br />
OLIVEIRA JÚNIOR, V. (1992). Recomendações para o projeto de edifícios em<br />
alvenaria estrutural. São Carlos. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de<br />
São Carlos – Universidade de São Paulo.<br />
RACANICCHI, R. (2001). Automatização gráfica e de procedimentos básicos para<br />
projetos de edifícios de alvenaria estrutural. Ilha Solteira. Dissertação (Mestrado) –<br />
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – Universidade Estadual Paulista.<br />
RAMALHO, M. A.; CORRÊA, M. R. S. (2003). Projeto de edifícios de alvenaria<br />
estrutural. São Paulo: Pini.<br />
RAZENTE, J. A. (2004). Aplicação de recursos computacionais em projetos de<br />
edifícios em alvenaria. São Carlos. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia<br />
de São Carlos – Universidade de São Paulo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
Aplicação de recursos computacionais em projetos de edifícios em alvenaria<br />
15<br />
RUSCHEL, R. C. (1997). Programando em AutoLISP. DCC-FEC-UNICAMP.<br />
Campinas. (Notas de aula da disciplina “EC726: Computação Gráfica Aplicada à<br />
Engenharia Civil”)<br />
SABBATINI, F. H. (1984). O processo construtivo de edifícios de alvenaria<br />
estrutural sílico-calcárea. São Paulo. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica –<br />
Universidade de São Paulo.<br />
THOMAZ, E.; HELENE, P. (2000). Qualidade no projeto e na execução de<br />
alvenaria estrutural e de alvenarias de vedação em edifícios. São Paulo: EP<strong>USP</strong>.<br />
(Boletim técnico da Escola Politécnica da <strong>USP</strong>/Departamento de Construção Civil,<br />
BT/PCC/252).<br />
VILATÓ, R.R. (1998b). Estudo da metodologia do projeto para edifícios em<br />
alvenaria não-armada São Paulo. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica –<br />
Universidade de São Paulo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 1-15, 2008
ISSN 1809-5860<br />
MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS E TÉCNICAS<br />
DE ENRIQUECIMENTO DA APROXIMAÇÃO<br />
APLICADOS À ANÁLISE DE TUBOS CILÍNDRICOS E<br />
CASCAS ESFÉRICAS<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl 1 & Sergio Persival Baroncini Proença 2<br />
Resumo<br />
Sabe-se que o Método dos Elementos Finitos (MEF) em sua forma convencional é uma<br />
ferramenta poderosa no cálculo estrutural moderno. Porém, se o problema apresenta<br />
singularidades, como os efeitos de borda tipicamente introduzidos pelos vínculos nas<br />
estruturas em casca, a análise pode exigir grande refinamento da malha. Procurando<br />
resolver mais eficientemente esse tipo de problema, e restringindo o estudo às<br />
estruturas em casca com simetria de revolução como os tubos cilíndricos e as cúpulas<br />
esféricas, sugere-se neste trabalho o emprego de formas não-convencionais do Método<br />
dos Elementos Finitos. Dadas às simetrias de forma e carregamento, a abordagem<br />
pode ser feita em campo unidimensional. Inicialmente resumem-se as respostas<br />
analíticas, em termos de deslocamentos e esforços, para as estruturas citadas,<br />
partindo-se de suas equações diferenciais governantes. Em seguida, soluções<br />
aproximativas para as formas fracas correspondentes são propostas, aplicando-se o<br />
Método dos Elementos Finitos e incorporando-se alguns tipos de enriquecimento que<br />
caracterizam uma abordagem não-convencional para este método. Por fim, mediante<br />
exemplos de aplicação, confrontam-se os resultados aproximados entre si, tendo-se por<br />
base soluções analíticas, comprovando o bom desempenho e grande potencial das<br />
alternativas sugeridas.<br />
Palavras-chave: tubo cilíndrico; casca esférica; método dos elementos finitos; técnicas<br />
de enriquecimento.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O Método dos Elementos Finitos é, sem dúvida, uma ferramenta bastante<br />
poderosa e eficiente para a solução numérica de problemas no âmbito da análise<br />
estrutural. Qualidade e representatividade da solução são garantidas na medida em<br />
que a solução exata é suficientemente “suave”, MELENK e BABUŠKA (1996). Boas<br />
propriedades de aproximação das soluções polinomiais geradas por elementos finitos<br />
decorrem ainda do emprego de técnicas de refinamento, como os refinamentos h<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, nirschl@bol.com.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, persival@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
18<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
(grau fixo do polinômio e refinamento progressivo da malha) e p (malha fixa e<br />
aumento progressivo do grau polinomial).<br />
Porém, dependendo da tipologia da estrutura e de particularidades<br />
relacionadas à sua geometria e carregamento, a boa qualidade dos resultados<br />
fornecidos pelo MEF pode exigir um refinamento considerável da malha, ou a<br />
utilização de polinômios de alta ordem, encarecendo os custos computacionais da<br />
análise.<br />
Nesse contexto, as técnicas não-convencionais de enriquecimento da<br />
aproximação construída com o MEF objetivam obter soluções satisfatórias, mesmo<br />
empregando-se malhas pouco refinadas e enriquecimentos da aproximação inicial<br />
definida por funções de forma polinomiais de baixo grau. O enriquecimento mediante<br />
funções especiais, por exemplo, constitui-se em alternativa que pode ser explorada<br />
com vantagens em problemas cuja solução exata tenha variações fortemente<br />
localizadas. Neste trabalho, esta e outras possibilidades são empregadas na análise<br />
de cascas cilíndricas e esféricas (fig. 1.1), particularmente porque essas estruturas<br />
apresentam efeitos de flexão que se concentram nas regiões de vinculação imposta e<br />
são de difícil reprodução numérica.<br />
Figura 1.1 - Estruturas estudadas.<br />
2 CASCAS DE REVOLUÇÃO<br />
A teoria linear das cascas delgadas, ou finas, GRAVINA (1957), tem por base<br />
as seguintes hipóteses fundamentais:<br />
1 – O material da estrutura é homogêneo, isótropo e obedece à Lei de Hooke.<br />
2 – A espessura é pequena em relação às outras dimensões.<br />
3 – As tensões normais à superfície média são desprezíveis em relação às demais<br />
componentes de tensão.<br />
4 – Os pontos pertencentes, antes da deformação, a retas normais à superfície média,<br />
encontram-se sobre retas perpendiculares à superfície média deformada.<br />
5 - Os deslocamentos são muito pequenos em relação à espessura.<br />
Observa-se que, no caso de estrutura de superfície com espessura muito<br />
pequena, a hipótese 5 perde validade, sendo necessário considerar uma abordagem<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 19<br />
geometricamente não-linear. Este trabalho se restringe à abordagem linear, que<br />
preserva, em particular, a sobreposição de efeitos.<br />
2.1 Casca ou tubo cilíndrico<br />
A formulação analítica para o tubo cilíndrico em regime linear submetido a<br />
solicitação externa com simetria de revolução é clássica e encontra-se descrita em<br />
vários livros, entre eles: BELLUZZI (1967) e BILLINGTON (1965). Observa-se que o<br />
tubo cilíndrico submetido internamente à pressão linearmente distribuída, (fig. 2.1),<br />
recebe neste texto a denominação: reservatório cilíndrico.<br />
Figura 2.1 - Reservatório cilíndrico.<br />
Adotam-se, portanto, as hipóteses gerais de simetria axial em geometria e<br />
carregamento, além de espessura delgada. Essa última hipótese é garantida se a<br />
relação entre a espessura da parede e o raio do reservatório for menor ou igual a<br />
1/20.<br />
Em regime linear, o chamado problema dos reservatórios em regime de<br />
flexão, formulado em termos de deslocamentos axiais e radiais, resulta desacoplado,<br />
uma vez que as equações diferenciais que envolvem tais componentes são<br />
independentes. A equação que envolve os deslocamentos radiais é claramente<br />
aquela de maior interesse. Tendo-se em vista os comentários anteriores, pode-se<br />
mostrar que a combinação das relações de equilíbrio, compatibilidade e constitutiva<br />
leva à seguinte equação diferencial, BILLINGTON (1965):<br />
d<br />
2<br />
dy<br />
2<br />
⎛ 2<br />
d w ⎞<br />
⎜<br />
E * h(y)<br />
D(y) * (y) ⎟ + * w(y) = p(y)<br />
2<br />
2<br />
dy<br />
⎝<br />
⎠ r<br />
(2.1)<br />
em que:<br />
y é uma coordenada de posição vertical, com origem na base do reservatório;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
20<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
w(y) é a função que descreve o deslocamento horizontal ao longo da parede do<br />
reservatório, com valores positivos apontando para o centro da casca;<br />
E * h(y)<br />
D(y) é a rigidez à flexão da casca, igual a:<br />
;<br />
2<br />
12 * (1 − ν )<br />
r é o raio médio do reservatório;<br />
ν é o coeficiente de Poisson;<br />
h(y) é a espessura da parede do reservatório na posição y;<br />
E é o módulo de elasticidade;<br />
p(y) é a função que descreve a solicitação externa, na forma de pressão interna<br />
linearmente distribuída.<br />
Acrescentam-se ainda os seguintes dados:<br />
γ P é o peso específico do material da parede do reservatório; e<br />
H é a altura total do tubo.<br />
Para o caso particular de espessura constante (h(y)=h), a eq. (2.1) passa a<br />
ser escrita como:<br />
4<br />
d w<br />
4 p(y)<br />
(y) + 4 * β * w(y) =<br />
4<br />
(2.2)<br />
dy<br />
D<br />
3<br />
O coeficiente β que aparece na relação anterior tem, por definição:<br />
2<br />
3 * (1−<br />
ν )<br />
β = 4<br />
2 2<br />
(2.3)<br />
r<br />
* h<br />
Tem-se, em geral, para a solução da forma homogênea da eq. (2.2):<br />
w(y)<br />
h<br />
= e<br />
( β*y)<br />
* (C<br />
1<br />
* cos( β * y) + C<br />
+ e<br />
2<br />
−(<br />
β*y)<br />
* sen( β * y)) +<br />
* (C<br />
3<br />
* cos( β * y) + C<br />
4<br />
* sen( β * y))<br />
(2.4)<br />
sendo C 1 a C 4 constantes a determinar.<br />
Para o caso de pressão interna linearmente distribuída, tem-se a seguinte<br />
solução particular:<br />
2<br />
p(y) * r<br />
w(y) p = (2.5)<br />
E * h<br />
Deve-se observar que a solução dada pela eq. (2.5) tem por correspondência<br />
o “regime de membrana” do reservatório, uma vez que dela decorrem esforços de<br />
flexão nulos.<br />
A solução geral para os deslocamentos horizontais da parede do reservatório<br />
compõe-se da soma das eqs. (2.4) e (2.5) – solução da homogênea mais solução<br />
particular.<br />
Em boa parte dos textos clássicos no tema, as constantes C 1 e C 2 são<br />
impostas como nulas para efeitos de simplificação dos cálculos. Desde que o<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 21<br />
reservatório seja longo, essa simplificação reproduz bem o fato de que efeitos de<br />
flexão de uma borda não se propagam até a outra borda. Neste trabalho, entretanto,<br />
pretende-se resolver o problema sem recorrer à tal simplificação.<br />
As constantes C 1 a C 4 dependem, portanto, dos vínculos adotados em cada<br />
caso considerado. De modo mais freqüente estão as condições de contorno para<br />
reservatórios de base engastada ou articulada fixa, com topo livre.<br />
Por outro lado, independente das condições de contorno consideradas, os<br />
esforços solicitantes (esforço normal tangencial N θ , momentos fletores M y e M θ e<br />
esforço cortante Q y ) relacionam-se com os deslocamentos radiais mediante as<br />
seguintes equações:<br />
E * h<br />
Nθ (y) = − * w(y)<br />
(2.6)<br />
r<br />
2<br />
d w<br />
My(y)<br />
= −D * (y)<br />
2<br />
(2.7)<br />
dy<br />
Mθ (y) = ν * M y<br />
(2.8)<br />
3<br />
d w<br />
Qy(y)<br />
= −D * (y)<br />
3<br />
(2.9)<br />
dy<br />
Na fig. 2.2, pode-se visualizar a convenção de sinais positivos para os<br />
esforços indicados nas eqs. (2.6) a (2.9).<br />
N<br />
y<br />
M<br />
y<br />
Q<br />
y<br />
N<br />
θ<br />
N θ<br />
M<br />
θ<br />
M θ<br />
y<br />
M y<br />
N y<br />
Q y<br />
w(y)<br />
w(y)<br />
Figura 2.2 - Convenções de sinal para esforços em reservatório cilíndrico.<br />
A relação para o esforço N y (y) resulta de uma análise de equilíbrio<br />
independente. Quando se considera o peso próprio da parede, a relação resultante é<br />
a seguinte:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
22<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
N (y) = −γ * (H − y) * h<br />
(2.10)<br />
y<br />
p<br />
2.2 Casca esférica<br />
Uma casca esférica (ou, cúpula esférica) é uma estrutura laminar de dupla<br />
curvatura (ver fig. 1.1) usualmente empregada como cobertura. Os aspectos principais<br />
da teoria clássica, GRAVINA (1957), para formulação e resolução do problema da<br />
cúpula com carregamento de revolução são resumidos a seguir.<br />
Inicialmente, considera-se uma casca esférica sujeita ao peso próprio,<br />
conforme ilustra a fig. 2.3. Entre os elementos que lá aparecem indicados estão:<br />
g: a função representativa do peso próprio da cúpula (por unidade de área);<br />
t: a espessura (constante) da cúpula;<br />
R: o raio cúpula;<br />
ω C : o ângulo central de abertura da cúpula.<br />
Figura 2.3 - Casca esférica sujeita a peso próprio.<br />
Explorando as simetrias de revolução em forma e carregamento, segundo um<br />
sistema de coordenadas esféricas, os esforços internos solicitantes e suas variações<br />
podem ser representados como indicado na fig. 2.4.<br />
Figura 2.4 - Esforços atuantes na casca esférica.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 23<br />
Combinando-se as relações de equilíbrio, de compatibilidade entre<br />
deslocamentos e deformações e constitutiva, é possível reduzir o conjunto de<br />
variáveis incógnitas à apenas duas, Q φ e Φ, e exprimir o equilíbrio mediante as<br />
seguintes relações:<br />
d<br />
2<br />
Qφ<br />
2<br />
dω<br />
dQφ<br />
( ω)<br />
+<br />
dω<br />
( ω)<br />
* cot g( ω)<br />
− Q<br />
φ<br />
( ω)<br />
* cot g ( ω)<br />
+ ν<br />
− E<br />
C<br />
* t *<br />
2<br />
C<br />
* Q<br />
( ω)<br />
=<br />
Φ(<br />
ω)<br />
+ R * g * sen( ω)<br />
* (2 − ν<br />
φ<br />
C<br />
)<br />
(2.11)<br />
2<br />
d Φ dΦ<br />
( ω)<br />
+ ( ω)<br />
2<br />
dω<br />
dω<br />
* cot<br />
g( ω)<br />
− Φ(<br />
ω)<br />
* cot g ( ω)<br />
+ ν<br />
2<br />
C<br />
R<br />
* Φ(<br />
ω)<br />
=<br />
D<br />
2<br />
C<br />
* Q ( ω)<br />
(2.12)<br />
φ<br />
em que:<br />
ω é a posição angular medida a partir do topo da cúpula esférica (fig. 2.5);<br />
Φ(ω) é o giro sofrido pela tangente em ω ao meridiano, após a deformação da cúpula,<br />
como ilustrado na fig. 2.5;<br />
EC<br />
* t<br />
D C é a rigidez à flexão da cúpula, igual a:<br />
;<br />
2<br />
12 * (1 − νC<br />
)<br />
E C é o módulo de elasticidade do material da cúpula; e<br />
ν C é o coeficiente de Poisson do material da cúpula.<br />
3<br />
Φ(ω)<br />
ξ(ω)<br />
ω<br />
ω<br />
antes da<br />
deformação<br />
após a<br />
deformação<br />
Figura 2.5 - Deslocamento horizontal ξ e giro Φ, em função do ângulo ω, para casca esférica.<br />
As equações diferenciais (2.11) e (2.12) possuem solução geral composta<br />
pelas parcelas de solução homogênea e particular. Aqui, como no caso da casca<br />
cilíndrica, a solução de membrana constitui boa aproximação para a solução particular<br />
do sistema, desde que, BELLUZZI (1967), a espessura da casca seja suficientemente<br />
pequena em relação ao raio.<br />
Para o regime de membrana (em que Q φ = M φ = M θ = 0), reproduzem-se em<br />
seguida as relações representativas do deslocamento horizontal⎯ ξ e do giro Φ , além<br />
dos esforços<br />
N φ e<br />
N θ , todos em função do ângulo ω (ver figs. 2.4 e 2.5).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
24<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
2<br />
g * R<br />
⎛ 1+ νC<br />
⎞<br />
ξ ( ω)<br />
= * sen( ω)<br />
* ⎜ − cos( ω)<br />
⎟<br />
EC<br />
* t ⎝1+<br />
cos( ω)<br />
⎠<br />
(2.13)<br />
g * R<br />
Φ ( ω)<br />
= * (2 + νC<br />
) * sen( ω)<br />
(2.14)<br />
E * t<br />
C<br />
g * R<br />
Ν φ ( ω)<br />
= −<br />
(2.15)<br />
(1+<br />
cos( ω))<br />
⎛ 1<br />
⎞<br />
Ν θ ( ω)<br />
= g * R * ⎜ − cos( ω)<br />
⎟<br />
(2.16)<br />
⎝1+<br />
cos( ω)<br />
⎠<br />
O problema de flexão reúne os efeitos dos vínculos nas bordas ou ainda, de<br />
forma equivalente, os efeitos da aplicação externa de uma força horizontal H C e<br />
momento externo M C distribuídos na borda da cúpula esférica (fig. 2.6).<br />
Figura 2.6 - Cúpula esférica sujeita a força horizontal H C e momento M C distribuído na borda.<br />
A solução rigorosa do problema de flexão é detalhada na literatura,<br />
envolvendo séries hipergeométricas, mas apresenta-se muito trabalhosa,<br />
especialmente nos casos de estruturas delgadas, ou seja, com valores elevados da<br />
constante λ (eq. (2.20)). Além disso, nesses casos, a convergência das séries se dá<br />
com razão muito pequena, BELLUZZI (1967).<br />
Uma solução analítica simplificada, válida para coeficientes λ mais elevados,<br />
que explora o amortecimento dos efeitos das singularidades de borda, como ocorre<br />
nos tubos, é fornecida pelo Método de Geckeler, GRAVINA (1957). A solução de<br />
Geckeler é válida também para cascas abatidas (ω C pequeno), desde que a relação<br />
R/t seja grande.<br />
Admitindo-se situações em que as hipóteses do Método de Geckeler sejam<br />
satisfeitas, os termos de ordem de derivação mais baixa da parte homogênea do<br />
sistema (2.11) e (2.12) podem ser desprezados em relação aos termos de ordens<br />
mais altas, obtendo-se:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 25<br />
d<br />
2<br />
Q φ<br />
2<br />
dω<br />
( ω)<br />
= − E<br />
C<br />
* t *<br />
Φ ( ω)<br />
F<br />
(2.17)<br />
d<br />
2<br />
ΦF<br />
2<br />
dω<br />
R<br />
( ω)<br />
=<br />
D<br />
2<br />
C<br />
* Q ( ω)<br />
(2.18)<br />
φ<br />
em que Φ F é a parcela de flexão de Φ.<br />
Combinando-se (2.18) e (2.17), de modo a eliminar o giro Φ F , tem-se<br />
finalmente a equação diferencial que representa o regime de flexão da casca esférica:<br />
4<br />
d Qφ<br />
4<br />
( ω)<br />
+ 4 * λ<br />
4<br />
dω<br />
* Q<br />
φ<br />
( ω)<br />
= 0<br />
(2.19)<br />
em que:<br />
2<br />
4<br />
2 ⎛ R ⎞<br />
λ = 3 * (1 − νC<br />
) * ⎜ ⎟ (2.20)<br />
⎠<br />
⎝ t<br />
A solução da eq. (2.19) é semelhante àquela apresentada para a flexão do<br />
tubo cilíndrico (eq. (2.5)). Sendo assim:<br />
Q φ<br />
( ω)<br />
= e<br />
( λ*<br />
ω)<br />
* (L<br />
1<br />
* cos( λ * ω)<br />
+ L<br />
+ e<br />
−(<br />
λ*<br />
ω)<br />
* (L<br />
3<br />
2<br />
* sen( λ * ω))<br />
+<br />
* cos( λ * ω)<br />
+ L<br />
4<br />
* sen( λ * ω))<br />
(2.21)<br />
em que:<br />
ω = ωC − ω (ver fig. 2.5); e<br />
L 1 a L 4 são constantes a determinar.<br />
A imposição das condições de contorno em cada caso permite identificar os<br />
valores das constantes L 1 a L 4 .<br />
Em função da solução acima, os esforços solicitantes e as variáveis<br />
cinemáticas, para o regime de flexão, podem ser determinadas pelas seguintes<br />
equações:<br />
R * sen( ω − ω)<br />
⎛ dQ<br />
C<br />
φ<br />
⎞<br />
ξF( ω)<br />
=<br />
* ⎜<br />
⎟<br />
( ω)<br />
+ νC<br />
* Qφ(<br />
ω)<br />
* cot g( ωC<br />
− ω)<br />
E * t<br />
C ⎝ dω<br />
⎠<br />
(2.22)<br />
2<br />
Q φ<br />
1 d<br />
ΦF ( ω)<br />
= * ( ω)<br />
E * t<br />
2<br />
(2.23)<br />
C dω<br />
N ω)<br />
= −Q<br />
( ω)<br />
* cot g( ω − ω)<br />
(2.24)<br />
φF( φ<br />
C<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
26<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
dQφ<br />
N θF(<br />
ω)<br />
= ( ω)<br />
(2.25)<br />
dω<br />
3<br />
D d Q<br />
C<br />
φ<br />
M φ(<br />
ω)<br />
= * ( ω)<br />
R * E * t<br />
3<br />
(2.26)<br />
C dω<br />
M ( ω)<br />
= νC * M ( ω)<br />
(2.27)<br />
θ<br />
φ<br />
3 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF)<br />
3.1 MEF aplicado a cascas cilíndricas<br />
De início, a equação diferencial da casca cilíndrica (eq. (2.1)) é reescrita de<br />
modo a permitir levar em conta, convenientemente, a possibilidade de variação da<br />
espessura. Nesse sentido, considere-se que a espessura do reservatório seja<br />
determinada por:<br />
h 0<br />
(y) = h * f(y)<br />
(3.1)<br />
em que h 0 é a espessura na base do reservatório.<br />
Para o caso de variação linear da espessura ao longo da altura, pode-se<br />
definir f(y) como:<br />
f(y)<br />
⎡(1−<br />
γ)<br />
⎤<br />
= 1−<br />
⎢ * y<br />
H<br />
⎥ (3.2)<br />
⎣ ⎦<br />
em que γ é um coeficiente adimensional definido pela razão entre a espessura no topo<br />
e a espessura na base do reservatório.<br />
Deste modo, a eq. (2.1) passa a apresentar a seguinte forma:<br />
d<br />
2<br />
dy<br />
2<br />
⎛<br />
⎜f(y)<br />
⎝<br />
3<br />
2<br />
d w ⎞<br />
* (y) ⎟ + 4 * β<br />
2<br />
dy<br />
⎠<br />
4<br />
0<br />
* f(y) *<br />
w(y) =<br />
p(y)<br />
D<br />
0<br />
(3.3)<br />
em que:<br />
D<br />
0<br />
3<br />
E * h0<br />
=<br />
2<br />
(3.4)<br />
12 * (1− ν )<br />
E * h<br />
0<br />
β 0 = 4<br />
2<br />
(3.5)<br />
4 * r * D0<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 27<br />
Considerando-se uma função aproximativa w ~ (y)<br />
, com boas propriedades de<br />
representatividade da solução, pode-se escrever, inicialmente, a seguinte forma em<br />
resíduos ponderados:<br />
H ⎪⎧<br />
2<br />
⎞<br />
⎪⎫<br />
∫ ⎨<br />
⎟ + β<br />
− ⎬ =<br />
⎜ ⎛<br />
2<br />
d 3 d w ~<br />
4<br />
p(y)<br />
v (y)* f(y) * (y) 4 *<br />
0<br />
2<br />
2<br />
0 * * w ~ (y) * dy 0<br />
⎪⎩<br />
f(y)<br />
(3.6)<br />
dy ⎝ dy ⎠<br />
D0<br />
⎪⎭<br />
em que:<br />
v(y) é uma função de ponderação; e<br />
w ~ (y) deve apresentar, pelo menos, continuidade até a ordem 3.<br />
Adota-se, em seguida, uma discretização para o domínio da solução mediante<br />
um conjunto de nós e elementos. Neste trabalho, cada elemento contém 2 nós nas<br />
suas extremidades. Na fig. 3.1, os graus de liberdade associados à cada nó são<br />
indicados sobre um elemento genérico.<br />
RESERVATÓRIO<br />
CILÍNDRICO<br />
DISCRETIZAÇÃO EM<br />
ELEMENTOS<br />
FINITOS<br />
ELEMENTO<br />
GENÉRICO<br />
ELEMENTO N<br />
~<br />
w<br />
e<br />
3<br />
~<br />
w e 4<br />
p(y)<br />
ELEMENTO 2<br />
ELEMENTO 1<br />
p(y)<br />
~<br />
w e 1<br />
~<br />
w<br />
e<br />
2<br />
h e<br />
y<br />
ye<br />
Figura 3.1 - Discretização de um reservatório cilíndrico para aplicação do MEF.<br />
Considerando a divisão do domínio, a integral que aparece na eq. (3.6) passa<br />
a ser composta pela soma das integrais sobre os elementos. Pode-se então<br />
representar a forma fraca para um elemento genérico derivando-se duas vezes por<br />
partes a primeira parcela da eq. (3.6):<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎢⎣<br />
+<br />
=<br />
d<br />
dy<br />
y 2<br />
2<br />
e + 1 3 d d v<br />
f(y) * (y) *<br />
ye<br />
2<br />
2<br />
∫<br />
∫<br />
⎛<br />
⎜f(y)<br />
⎝<br />
ye+<br />
1<br />
y e<br />
3<br />
p(y)<br />
D<br />
0<br />
2<br />
d w ~ ⎞ ⎤<br />
* (y) ⎟ * v(y)<br />
⎥<br />
2<br />
dy ⎠ ⎥⎦<br />
dy<br />
w ~<br />
* v(y) *<br />
dy<br />
dy<br />
y e + 1<br />
ye<br />
(y) *<br />
− f(y)<br />
dy +<br />
∫<br />
3<br />
⎡ 2<br />
d w ~<br />
* ⎢<br />
2<br />
⎢⎣<br />
dy<br />
y e + 1<br />
ye<br />
4*β<br />
(y) *<br />
4<br />
0<br />
dv ⎤<br />
(y) ⎥<br />
dy ⎥⎦<br />
ye+<br />
1<br />
y e<br />
+<br />
* f(y)*w ~ (y) * v(y) *<br />
dy =<br />
(3.7)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
28<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
em que y e e y e+1 são, respectivamente, as coordenadas dos nós inicial e final do<br />
elemento “e”.<br />
Note-se que na eq. (3.7) as derivadas sobre v(y) e w ~ (y)<br />
são da mesma<br />
ordem, proporcionando simetria à formulação. De modo a garantir a existência de<br />
solução dentro dos limites do elemento, as integrais envolvendo as funções<br />
aproximativa e ponderadora (‘formas bilineares’) somadas devem apresentar valor<br />
finito; nesse sentido, adota-se uma função aproximativa polinomial de grau 3, que é o<br />
menor grau que garante aquela condição.<br />
Nessas condições, a aproximação passa a ser representada por:<br />
∑<br />
w ~ 4<br />
e<br />
(y) = w ~ * φ (y)<br />
(3.8)<br />
j=<br />
1<br />
e<br />
j<br />
e<br />
j<br />
e<br />
em que w ~<br />
j são os graus de liberdade primários (deslocamento e giro nos nós de<br />
coordenadas locais 0 e h e ).<br />
As quatro funções de forma do elemento, indicadas em (3.8), são dadas por:<br />
e<br />
⎛<br />
φ = − ⎜<br />
1 (y) 1 3 *<br />
⎝<br />
⎛ φ<br />
e<br />
⎜<br />
2(y)<br />
= y *<br />
1 −<br />
⎝<br />
y<br />
h<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
⎛<br />
+ 2 * ⎜<br />
⎝<br />
2<br />
3<br />
e<br />
4<br />
e<br />
⎛ ⎞ ⎛ ⎞<br />
⎜<br />
y<br />
⎟ ⎜<br />
y<br />
φ<br />
⎟<br />
3(y)<br />
= 3 *<br />
− 2 *<br />
⎝ he<br />
⎠ ⎝ he<br />
⎠<br />
⎡ 2<br />
⎛ ⎞ ⎤<br />
φ = ⎢⎜<br />
y<br />
⎟<br />
y<br />
(y) y * − ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎣⎝<br />
he<br />
⎠ he<br />
⎦<br />
e<br />
y<br />
h<br />
e<br />
2<br />
2<br />
y<br />
h<br />
e<br />
⎟ ⎞<br />
⎠<br />
3<br />
(3.9)<br />
As funções de forma (3.9) constituem uma base aproximativa hermitiana<br />
cúbica para o MEF. Outra base de interesse é a linear, indicada abaixo:<br />
e<br />
1<br />
N (y) = 1−<br />
e<br />
2<br />
N (y) =<br />
y<br />
h<br />
e<br />
y<br />
h<br />
e<br />
(3.10)<br />
Utilizando-se a mesma base de aproximação para v(y) e w ~ (y)<br />
(‘Galerkin’), a<br />
sua substituição na eq. (3.7) leva ao seguinte conjunto de equações para o elemento<br />
finito genérico:<br />
4<br />
∑<br />
j=<br />
1<br />
[ K * w ~ ]<br />
e<br />
j<br />
e<br />
j<br />
e<br />
i , − Fi<br />
= 0 ( i = 1,...,4 )<br />
(3.11)<br />
em que:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 29<br />
2 e<br />
2 e<br />
e<br />
he<br />
3 d φ d φ<br />
i<br />
j<br />
4<br />
e e<br />
K = ( ) * ( )* ( ) 4 * ( ) * ( )*<br />
i, j ∫ f y + y y y + * β f y + y * φ ( y) φ y dy<br />
0 e 2 2<br />
0<br />
e i j<br />
dy dy<br />
py ( + y)<br />
F y dy Q<br />
e<br />
h e e<br />
e e<br />
i<br />
= * φ ( )*<br />
0<br />
i<br />
+<br />
i<br />
D0<br />
(3.12)<br />
∫ (3.13)<br />
Os termos (3.12) compõem os componentes da chamada matriz de rigidez do<br />
elemento que, neste caso, é simétrica; já a eq. (3.13) fornece os componentes do<br />
chamado vetor de forças nodais do elemento “e”, isto é: as forças nodais<br />
correspondentes às forças diretamente aplicadas e às forças nodais prescritas nas<br />
extremidades do elemento.<br />
A geração em forma matricial do sistema global resolvente a partir das<br />
contribuições dos elementos é indicada na fig. 3.2, sendo N o número de elementos.<br />
e<br />
Observa-se que, na ausência de forças nodais concentradas, os termos Q i (ver eq.<br />
(3.13)) anulam-se na sobreposição.<br />
Figura 3.2 - Matriz de rigidez (K ) e vetor de forças nodais (F ) obtidos na formulação do MEF.<br />
Na simbologia adotada para a matriz global K , indicada na fig. 3.2, cada<br />
quadrado preenchido representa a matriz de rigidez de um elemento, cujos valores<br />
são calculados pela eq. (3.12). No vetor global F , cada retângulo preenchido<br />
representa o vetor de forças nodais de um elemento, com seus valores calculados<br />
pela eq. (3.13).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
30<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
A estrutura da matriz de rigidez global (K ) tem uma forma em banda, porque<br />
os nós do problema estão, por hipótese, numerados seqüencialmente no sentido<br />
crescente de y, e, além disso, é simétrica.<br />
As condições de contorno essenciais devem ser impostas diretamente no<br />
sistema global representado na fig. 3.2. Para o conjunto de problemas analisados,<br />
considera-se que o contorno superior é livre e o inferior pode ser engastado ou<br />
articulado fixo.<br />
Uma vez encontrado o vetor incógnito, é possível novamente considerar o<br />
arranjo de elementos e encontrar a distribuição de esforços ao longo de cada<br />
elemento finito:<br />
E * h(y y)<br />
N ~<br />
e<br />
(y)<br />
* w ~ e<br />
θ = −<br />
(y)<br />
(3.14)<br />
r<br />
e +<br />
M ~ ⎛ 4<br />
e<br />
3<br />
(y) D * f(y y) * w ~<br />
y = −<br />
⎜<br />
0 e +<br />
⎜∑<br />
⎝ j=<br />
1<br />
e<br />
j<br />
2 e<br />
j<br />
2<br />
d φ<br />
*<br />
dy<br />
(y)<br />
⎟ ⎟ ⎞<br />
⎠<br />
(3.15)<br />
dM ~<br />
Q ~<br />
e<br />
e<br />
y<br />
y (y) = (y)<br />
(3.16)<br />
dy<br />
M ~ e<br />
(y) * M ~ e<br />
θ = ν (y)<br />
(3.17)<br />
y<br />
3.2 MEF aplicado a cascas esféricas<br />
A resolução numérica do problema da casca esférica mediante aplicação do<br />
MEF, poderia partir analogamente ao caso dos tubos, da ponderação do sistema de<br />
equações diferenciais descrito pelas (2.11) e (2.12). Entretanto, trata-se de um<br />
sistema misto envolvendo duas variáveis distintas a serem aproximadas. Tal<br />
procedimento será aqui simplificado, considerando-se apenas os efeitos de uma força<br />
horizontal H C e de um momento externo M C distribuídos ao longo da borda da casca<br />
esférica (fig.3.3). Desse modo, pode-se reduzir o sistema a uma única equação na<br />
variável representativa do esforço cortante, além do que são para estes casos que<br />
existe solução analítica de confronto.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 31<br />
CASCA ESFÉRICA<br />
ELEMENTOS<br />
FINITOS<br />
ELEMENTO<br />
GENÉRICO<br />
H c<br />
ω<br />
c<br />
M c<br />
Figura 3.3 - Discretização de uma casca esférica para aplicação do MEF.<br />
ELEMENTO 1<br />
ELEMENTO N<br />
1<br />
~<br />
Q e<br />
2<br />
ω e<br />
ω<br />
ω E<br />
ω<br />
Q ~ e<br />
Q ~ e<br />
4<br />
~ e<br />
Q 3<br />
Uma vez obtida a forma fraca de (2.19), considerando-se uma solução<br />
~<br />
aproximada Q φ(<br />
ω ) e adotada uma discretização formada por elementos finitos<br />
definidos em função do ângulo de abertura da casca, fig. 3.3, a relação para um<br />
elemento resulta:<br />
⎡ 3~<br />
d Q<br />
⎢<br />
3<br />
⎢⎣<br />
dω<br />
+<br />
ωe+<br />
1<br />
ωe<br />
∫<br />
φ<br />
ωe+<br />
1 ~<br />
ω<br />
2<br />
e+<br />
1<br />
⎤ ⎡d<br />
Q dv ⎤<br />
φ<br />
( ω)<br />
* v( ω)<br />
⎥ − ⎢ ( ω)<br />
* ( ω)<br />
⎥ +<br />
2<br />
⎥ ⎢ d dω<br />
⎦<br />
e<br />
⎣<br />
ω<br />
⎥<br />
ω<br />
⎦ω<br />
e<br />
2~<br />
d Q<br />
2<br />
φ d v<br />
ωe<br />
+ 1 4 ~<br />
( ω)<br />
* ( ω)<br />
* dω + 4* λ * ( ω)<br />
* v( ω)<br />
* dω = 0<br />
2<br />
2<br />
dω<br />
dω<br />
∫<br />
Qφ<br />
ωe<br />
(3.18)<br />
em que:<br />
v(ω) é uma função de ponderação; e<br />
ω e e ω e+1 são as coordenadas angulares do nó inicial e final do elemento “e”.<br />
Adotando-se uma função aproximadora polinomial de grau máximo 3, como<br />
feito para os tubos, em coordenadas esféricas locais do elemento os parâmetros<br />
nodais assumem os seguintes significados:<br />
~<br />
Q<br />
~<br />
Q<br />
e<br />
1<br />
e<br />
3<br />
~<br />
= Q<br />
~<br />
= Q<br />
e<br />
φ<br />
e<br />
φ<br />
(0)<br />
( ω<br />
E<br />
)<br />
~ e<br />
~ e<br />
dQφ<br />
Q2<br />
= (0)<br />
dω<br />
~ e<br />
~ e<br />
dQφ<br />
Q 4 = ( ω<br />
dω<br />
E<br />
)<br />
(3.19)<br />
Resulta, para o elemento finito genérico a seguinte aproximação:<br />
4<br />
~ e ~ e<br />
Q ( ω)<br />
= Q * φ ( ω)<br />
(3.20)<br />
φ<br />
∑<br />
j=<br />
1<br />
e<br />
j<br />
j<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
32<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
sendo as funções de forma dadas por:<br />
e<br />
⎛ ⎞ ⎛ ⎞<br />
⎜ ω ⎜ ω<br />
φ<br />
⎟ ⎟<br />
1 ( ω)<br />
= 1−<br />
3 * + 2 *<br />
⎜ ⎟ ⎜ ⎟<br />
⎝<br />
ωE<br />
⎠ ⎝<br />
ωE<br />
⎠<br />
2<br />
e ⎛ ⎞<br />
⎜ ω<br />
φ<br />
⎟<br />
2(<br />
ω)<br />
= ω * 1−<br />
⎜ ⎟<br />
⎝<br />
ωE<br />
⎠<br />
2<br />
3<br />
e ⎛ ⎞ ⎛ ⎞<br />
⎜ ω ⎟ ⎜ ω<br />
φ ω = − ⎟<br />
3(<br />
) 3 * 2 *<br />
⎜ ⎟ ⎜ ⎟<br />
⎝<br />
ωE<br />
⎠ ⎝<br />
ωE<br />
⎠<br />
⎡ 2<br />
⎛ ⎞ ⎤<br />
e<br />
⎢⎜<br />
ω ⎟ ω<br />
φ ω = ω − ⎥<br />
4(<br />
) *<br />
⎢⎜<br />
⎟ ω ⎥<br />
⎢⎣<br />
⎝<br />
ωE<br />
⎠ E<br />
⎥⎦<br />
2<br />
3<br />
(3.21)<br />
Nas relações anteriores:<br />
ω E é o ângulo de abertura do elemento “E”; e<br />
ω é a coordenada angular local, indicada na fig. 3.3.<br />
Substituindo-se (3.20) em (3.18) e considerando-se para v(ω) uma<br />
aproximação dada pelas mesmas funções de forma de Q<br />
~ ( ω ) , resulta:<br />
4<br />
∑<br />
j=<br />
1<br />
~<br />
[ K * ] 0<br />
e e<br />
i , j j =<br />
em que:<br />
Q (3.22)<br />
2 e<br />
2 e<br />
ωE<br />
d φ d φ<br />
i<br />
j<br />
4 e<br />
e<br />
∫ 0<br />
2 ω<br />
2 ω 4 λ φ<br />
i ω φ<br />
j ω ω<br />
(3.23)<br />
e<br />
K = i, j<br />
( )* ( ) * * ( )* ( )* d<br />
dω<br />
dω<br />
+<br />
As contribuições das matrizes de rigidez e dos vetores de forças nodais dos<br />
elementos geram um sistema global que segue sistemática idêntica àquela<br />
apresentada para casca cilíndrica indicada na fig. 3.2.<br />
As condições de contorno que devem ser impostas diretamente ao sistema<br />
global correspondem à força H C e momento M C aplicados na borda inferior da casca.<br />
Depois de encontrado o vetor incógnito, é possível voltar ao arranjo de<br />
~ e<br />
elementos e encontrar as outras variáveis de interesse (deslocamento horizontal ξ ,<br />
~ e<br />
~ e<br />
~ e<br />
~ e ~ e<br />
giro Φ , esforço normal N φ ,esforço tangencial N θ e momentos Mφ<br />
e M θ , de<br />
acordo com as figs. 2.4 e 2.5):<br />
φ<br />
~<br />
ξ<br />
e<br />
⎛ ~<br />
R * sen( ω + ω)<br />
ω =<br />
⎜<br />
dQ<br />
e<br />
φ<br />
( )<br />
* −<br />
E * t ⎜<br />
C<br />
⎝ dω<br />
e<br />
( ω)<br />
+ ν<br />
C<br />
~<br />
* Q<br />
e<br />
φ<br />
( ω)<br />
* cot<br />
g( ω<br />
e<br />
⎞<br />
+ ω)<br />
⎟<br />
⎟<br />
⎠<br />
(3.24)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 33<br />
~<br />
Φ<br />
e<br />
1<br />
( ω)<br />
=<br />
E<br />
C<br />
* t<br />
2~<br />
e<br />
d Q φ<br />
* ( ω)<br />
2<br />
(3.25)<br />
dω<br />
~ e ~ e<br />
N ( ω)<br />
= −Q<br />
( ω)<br />
* cot g( ω + ω)<br />
(3.26)<br />
φ<br />
φ<br />
e<br />
~ e<br />
~ e dQφ<br />
N θ ( ω)<br />
= − ( ω)<br />
(3.27)<br />
dω<br />
3~<br />
e<br />
~ e D d Q<br />
C<br />
φ<br />
M φ ( ω)<br />
= − * ( ω)<br />
R * E * t<br />
3<br />
(3.28)<br />
C dω<br />
~ e ~<br />
M ( ω)<br />
= ν * M<br />
e ( ω)<br />
(3.29)<br />
θ<br />
C<br />
φ<br />
4 ENRIQUECIMENTO DAS APROXIMAÇÕES DO MEF<br />
4.1 Método dos Elementos Finitos Generalizados (MEFG)<br />
O Método dos Elementos Finitos Generalizados (MEFG), DUARTE,<br />
BABUŠKA e ODEN (2000), TORRES (2003), incorpora na estrutura básica do MEF<br />
técnicas e recursos dos chamados Métodos sem Malha, com o propósito de melhorar<br />
a aproximação no domínio do problema. O MEFG tem como principal característica o<br />
enriquecimento sobre aproximações que se caracterizam como “partição da unidade”,<br />
(PU), ou conjunto de funções cujo somatório dos valores num ponto do domínio é<br />
igual à unidade.<br />
No MEF clássico, embora seja possível construir espaços de funções nãopolinomiais<br />
que fornecem boas propriedades de aproximação local, tal procedimento<br />
não garante a continuidade entre elementos da função de aproximação global,<br />
MELENK e BABUŠKA (1996). Já o MEFG, ao explorar a PU, garante a construção de<br />
espaços de aproximação conformes, mesmo utilizando funções não-polinomiais.<br />
No MEFG, o número de funções de forma é composto pelas funções de forma<br />
originais do MEF, que constituem uma PU, mais uma combinação delas com outras<br />
funções, chamadas “enriquecedoras”. Porém, se forem enriquecidas também outras<br />
funções da base aproximativa que não constituam uma PU, o enriquecimento não é, a<br />
rigor, um MEFG, e sim um MEF hierárquico.<br />
Genericamente, a função aproximativa do MEFG para um campo u, num<br />
domínio governado pela variável x, tem a seguinte forma:<br />
n<br />
∑<br />
n<br />
I( j)<br />
û(x) = ϕ (x) * û + ϕ (x) FE(x) * b<br />
(4.1)<br />
j=<br />
1<br />
j<br />
j<br />
∑<br />
j=<br />
1<br />
j<br />
∑<br />
α= 1<br />
α<br />
j<br />
α<br />
j<br />
em que<br />
α<br />
b j são parâmetros nodais acrescentados pelo enriquecimento.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
34<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
Acrescenta-se que o enriquecimento pode ser seletivo, isto é, feito apenas em<br />
uma região específica do domínio, sendo a parte restante aproximada sem<br />
enriquecimento e com a estrutura convencional do MEF.<br />
Como exemplo do procedimento de enriquecimento, considere-se uma base<br />
aproximativa do MEF dada por 4 funções de forma,<br />
e<br />
ϕ 1 ,<br />
função enriquecedora. Admita-se que, dessa base, apenas<br />
e<br />
ϕ 2 ,<br />
e<br />
ϕ 3 e<br />
e<br />
ϕ 1 e<br />
e<br />
ϕ 4 , e seja FE uma<br />
e<br />
ϕ 3 formem uma PU.<br />
De acordo com o MEFG, para a região enriquecida, haverá 6 funções de forma:<br />
e e e e<br />
e<br />
ϕ 2 , ϕ 3 , ϕ 4 , ϕ 1 *FE e ϕ 3 *FE. Na fig. 4.1 está representado o sistema correspondente<br />
ao exemplo, para o caso de 2 elementos, com os três nós enriquecidos.<br />
e<br />
ϕ 1 ,<br />
^<br />
u<br />
^<br />
b<br />
2 2<br />
u<br />
1 2<br />
u<br />
2<br />
1 ^ 1 1<br />
b u<br />
1 2<br />
^u<br />
^<br />
u 1 1<br />
b<br />
3 2 4<br />
^<br />
u<br />
^<br />
2<br />
3<br />
b<br />
3<br />
K = F =<br />
^<br />
u<br />
2<br />
4<br />
u^ 1<br />
1<br />
b<br />
1<br />
^<br />
u 1 2<br />
u<br />
^ 1<br />
3<br />
b 2<br />
b 2<br />
^<br />
u 1<br />
4<br />
^<br />
u 2 3<br />
u<br />
^ 2<br />
1<br />
2<br />
u^ 2<br />
enriquecimento<br />
b 3<br />
2<br />
u^<br />
4<br />
Figura 4.1 - Esquema de enriquecimento pelo MEFG.<br />
4.2 Alternativas de enriquecimento<br />
O procedimento chamado aqui de MEFH caracteriza-se por conter funções na<br />
base aproximativa que apesar de não formarem uma PU podem ser multiplicadas por<br />
funções de enriquecimento.<br />
Na fig. 4.2 está indicado um sistema genérico montado de acordo com o<br />
MEFH, para 2 elementos e 1 função enriquecedora adicionada à mesma base<br />
polinomial descrita no item 4.1.<br />
No procedimento denominado enriquecimento por base expandida, MEFBA, a<br />
base inicial é ampliada mediante adição de funções de forma especiais de interesse.<br />
Obviamente, à cada função adicionada se associa um grau de liberdade primário,<br />
não-atrelado à nó e sem qualquer significado físico.<br />
Neste caso, o sistema global terá um aumento em sua ordem igual ao número<br />
de funções enriquecedoras. Encontra-se na fig. 4.3 uma visualização de um sistema<br />
genérico do MEFBA com 2 elementos e 1 função enriquecedora adicionada à mesma<br />
base polinomial descrita no item 4.1.<br />
A função aproximadora de um campo u, num domínio governado pela variável<br />
x global, no caso do MEFBA, tem a seguinte forma:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 35<br />
n<br />
∑<br />
I( j)<br />
( FE(x) * b )<br />
û(x) = ϕ (x) * û +<br />
(4.2)<br />
j=<br />
1<br />
j<br />
j<br />
∑<br />
α= 1<br />
α<br />
α<br />
^<br />
u 1<br />
1<br />
b u<br />
^ 1<br />
1 2<br />
b 4<br />
b<br />
^<br />
u<br />
b u^ 2<br />
1 3 2<br />
b 2<br />
^<br />
u<br />
b u<br />
^ 1 ^ 2<br />
u b<br />
3 3 4<br />
b 3<br />
u<br />
^ 2<br />
4 5 4 6<br />
1<br />
u^ 1<br />
b<br />
1<br />
^ 1<br />
u<br />
2<br />
b<br />
2<br />
1<br />
u^<br />
3<br />
u<br />
^ 2<br />
1<br />
K = F = b<br />
3<br />
enriquecimento<br />
1 2<br />
u^<br />
u<br />
^<br />
b 3<br />
4<br />
b<br />
4<br />
^<br />
u<br />
b<br />
u^<br />
2<br />
3<br />
5<br />
2<br />
4<br />
b<br />
6<br />
b 4<br />
2<br />
Figura 4.2 - Esquema de enriquecimento MEFH.<br />
u<br />
^ 1<br />
1<br />
u<br />
^ 1<br />
2<br />
^<br />
u<br />
^<br />
u<br />
2<br />
1<br />
1<br />
3<br />
u<br />
^ 2<br />
2<br />
u<br />
^<br />
^<br />
1 2<br />
4<br />
u 3<br />
u<br />
^ 2<br />
4<br />
b<br />
1<br />
1<br />
u^ 1<br />
^ 1<br />
u<br />
2<br />
1<br />
u<br />
^<br />
3<br />
u<br />
^ 2<br />
1<br />
1<br />
u<br />
^ ^ 2<br />
u<br />
4 2<br />
^ 2<br />
u<br />
3<br />
2<br />
u<br />
^<br />
4<br />
K = F = enriquecimento<br />
b<br />
1<br />
Figura 4.3 - Esquema de enriquecimento MEFBA.<br />
4.3 Enriquecimentos do MEF aplicados aos tubos<br />
No caso dos tubos, empregam-se nas alternativas de enriquecimento<br />
comentadas no item anterior, funções que fazem parte da solução analítica para<br />
espessura constante. Assim, adotam-se:<br />
−β*y<br />
f3(y)<br />
= e * cos( β<br />
* y)<br />
(4.3)<br />
−β*y<br />
f4(y)<br />
= e * sen( β<br />
* y)<br />
(4.4)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
36<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
As possibilidades de emprego do MEF testadas, que incluem as alternativas<br />
de enriquecimento, estão descritas abaixo com as siglas a elas associadas.<br />
1) RMEFL: Caso particular do MEF utilizando as funções de forma lineares dadas em<br />
(3.10). Aplica-se essa aproximação exclusivamente para análise do regime de<br />
membrana (base deslizante) do reservatório com espessura constante.<br />
2) RMEF: Caso particular do MEF convencional sem enriquecimento utilizando como<br />
base aproximativa as funções de forma dadas em (3.9).<br />
3) RMEFH: MEFH utilizando as funções (4.3) e (4.4) para enriquecer todas as funções<br />
da base (3.9).<br />
4) RMEFG: MEFG utilizando as funções (4.3) e (4.4) para enriquecer as funções da<br />
base (3.9) que constituem uma PU.<br />
5) RMEFBA: MEFBA utilizando como base aproximativa as funções de forma dadas<br />
em (3.9), sendo realizado enriquecimento com as funções (4.3) e (4.4).<br />
5 PROGRAMA<br />
Elaborou-se um programa em linguagem FORTRAN, cuja apresentação<br />
encontra-se descrita no que segue.<br />
1) Uma janela de apresentação (fig. 5.1) aparece quando o aplicativo é executado.<br />
Figura 5.1 - Janela de apresentação do aplicativo.<br />
2) Acionando-se o botão “INICIAR”, aparece a janela para as escolhas da estrutura a<br />
ser calculada e da base aproximativa de funções do MEF (fig. 5.2). Nota-se que,<br />
independentemente da escolha do método aproximado, os gráficos de respostas<br />
exibem sempre a solução analítica da estrutura.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 37<br />
O reservatório cilíndrico pode ser analisado somente com forças linearmente<br />
distribuídas na parede e a cúpula admite análise dos efeitos de peso próprio (solução<br />
analítica) ou de forças e momentos distribuídos uniformemente em sua extremidade.<br />
Figura 5.2 - Janela para escolha da estrutura e método de cálculo aproximado.<br />
3) Aciona-se o botão “AVANÇAR” e, dependendo da escolha estrutural, uma janela<br />
aparece para a entrada de dados referentes à geometria, às forças externas e ao<br />
método de enriquecimento (se desejado). Na fig. 5.3 é mostrada a janela de entrada<br />
de dados para reservatório cilíndrico e, na fig. 5.4, a janela de entrada de dados para<br />
cúpula esférica sujeita a força horizontal (Hc) e momento concentrado na extremidade<br />
(Mc).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
38<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
Figura 5.3 - Janela de entrada de dados referente a reservatório cilíndrico.<br />
Figura 5.4 - Janela de entrada de dados referente a cúpula esférica sujeita a Hc e Mc.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 39<br />
Os dados referentes ao número de elementos finitos, seguindo a convenção<br />
dada na figura que aparece na janela de entrada de dados, devem ser preenchidos no<br />
grupo “DADOS SOBRE O MEF”.<br />
Para se utilizar elementos de comprimentos iguais em todo o domínio, devese<br />
informar o número de elementos na caixa de edição do grupo “TODOS OS<br />
ELEMENTOS COM O MESMO COMPRIMENTO” e acionar, em seguida, o botão<br />
“INCLUIR ELEMENTOS”. Fazendo isso, os comprimentos dos elementos são exibidos<br />
na lista do grupo “COMPRIMENTO DOS ELEMENTOS”, bem como são exibidos o<br />
somatório dos comprimentos dos elementos e o número de elementos nas caixas<br />
estáticas do canto inferior direito do grupo “DADOS SOBRE O MEF”.<br />
Para se utilizar comprimentos diferentes dos elementos, seus valores devem<br />
ser cadastrados um a um, na caixa de edição do grupo “ELEMENTOS COM<br />
COMPRIMENTOS DIFERENTES”, acionando-se o botão “INCLUIR ELEMENTO” para<br />
incluir um elemento na lista do grupo “COMPRIMENTO DOS ELEMENTOS”.<br />
Cadastrados os elementos, devem ser fornecidos os dados sobre o<br />
enriquecimento, no grupo “DADOS SOBRE O ENRIQUECIMENTO”. Deve-se<br />
escolher o tipo de enriquecimento por meio da caixa de lista no grupo “ESCOLHA O<br />
TIPO DE ENRIQUECIMENTO”, sendo que as funções enriquecedoras podem ser<br />
visualizadas acionando-se o botão “VER FUNÇÕES DISPONÍVEIS”. Feito isso,<br />
incluem-se os nós a serem enriquecidos por meio dos botões no grupo “NÓS A<br />
SEREM ENRIQUECIDOS”. Tais nós podem ser cadastrados um a um, no grupo<br />
“INCLUSÃO INDIVIDUAL”, ou todos de uma vez, pelo botão “TODOS”. Na lista “NÓS<br />
ENRIQUECIDOS” aparecem os nós a serem enriquecidos.<br />
Na fig. 5.5 aparece a janela de entrada de dados para cúpula esférica sujeita<br />
a peso próprio, em que apenas é possível a análise da solução analítica.<br />
Figura 5.5 - Janela de entrada de dados referente a cúpula esférica sujeita a peso próprio.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
40<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
4) Preenchidos os dados de entrada, pode-se conferir visualmente os dados<br />
fornecidos, para os casos representados nas figs. 5.3 e 5.4, acionando-se o botão<br />
“VERIFICAR DADOS”. Aparece uma janela gráfica independente, como a das figs. 5.6<br />
(reservatório cilíndrico) e 5.7 (cúpula esférica), cujos desenhos são apenas para<br />
verificação, não apresentando uma escala definida.<br />
Figura 5.6 - Janela de verificação gráfica dos dados de entrada - reservatório cilíndrico.<br />
5) Preenchidos e verificados os dados de entrada, nas janelas das figs. 5.3, 5.4 ou<br />
5.5, aciona-se o botão “CALCULAR”, aparecendo uma janela de confirmação (fig. 5.8)<br />
depois de concluído o processamento.<br />
Figura 5.7 - Janela de verificação gráfica dos dados de entrada para cúpula esférica sujeita a<br />
força horizontal e momento concentrado na base.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 41<br />
Figura 5.8 - Janela de confirmação do sucesso dos cálculos.<br />
Acionando-se o botão “CONTINUAR” na janela da fig. 5.8, aparece a janela<br />
referente aos resultados. Nas figs. 5.9, 5.10 e 5.11 são mostradas as janelas de<br />
resultados para os três casos representados nas figs. 5.3, 5.4 e 5.5, respectivamente.<br />
Figura 5.9 - Janela de resultados referente a reservatório cilíndrico.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
42<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
Figura 5.10 - Janela de resultados referente a cúpula esférica sujeita a Hc e Mc.<br />
Figura 5.11 - Janela de resultados referente a cúpula esférica sujeita a peso próprio.<br />
Nas janelas das figs. 5.9, 5.10 e 5.11, aparece uma figura referente à<br />
convenção para os sentidos positivos dos parâmetros de saída. Tal ilustração também<br />
não oferece interatividade nem obedece a uma escala geométrica.<br />
Os dados de saída têm seus valores impressos em listas organizadas<br />
segundo os valores nodais (caso haja método de cálculo aproximado) após pós-<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 43<br />
processamento (coluna esquerda) e segundo 200 pontos igualmente espaçados sobre<br />
o domínio (coluna direita).<br />
Além das janelas dos dados de saída no programa, os dados numéricos de<br />
saída são impressos no arquivo RESULTADOS.TXT.<br />
Nas janelas das figs. 5.9, 5.10 e 5.11, existem ainda botões na parte superior<br />
que, depois de acionados, exibem, em uma janela gráfica independente, os gráficos<br />
correspondentes aos parâmetros ao longo do domínio. Na fig. 5.12 é exibido um<br />
exemplo de gráfico de saída de deslocamento para reservatório cilíndrico.<br />
Uma última consideração é que a aplicação criada não é restrita a um sistema<br />
fixo de unidades. Estão indicadas, ao lado das caixas de edição de entrada de dados<br />
e ao lado dos valores de saída, as dimensões de cada variável, sendo elas: L<br />
(dimensão de comprimento) e F (dimensão de força).<br />
Figura 5.12 - Exemplo de janela de gráfico de deslocamento referente a reservatório cilíndrico.<br />
6 EXEMPLOS NUMÉRICOS<br />
6.1 Resultados para reservatório cilíndrico<br />
A tabela 6.1 apresenta os dados de entrada escolhidos para o exemplo<br />
numérico de reservatório cilíndrico.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
44<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
Tabela 6.1 - Dados de entrada utilizados para o cálculo de reservatório cilíndrico.<br />
PARÂMETRO<br />
VALOR<br />
Altura (m) 10,00<br />
Raio (m) 8,00<br />
Espessura constante (m) 0,05<br />
Coeficiente de Poisson 0,30<br />
Módulo de elasticidade (kN/m 2 ) 2,10*10 9<br />
Peso específico do líquido de<br />
preenchimento (kN/m 3 )<br />
1000,00<br />
Colocam-se em confronto os valores de deslocamento horizontal w, esforço<br />
cortante Q y e momento fletor M y , com suas convenções de sinal e direção<br />
visualizadas nas fig. 2.2. Os valores de N θ e M θ não são aqui exibidos, já que são<br />
proporcionais a w e M y , respectivamente (ver eq. (3.14) e (3.17)).<br />
O primeiro resultado refere-se ao regime de membrana do reservatório (base<br />
deslizante), cujo único procedimento aproximado aplicado foi o RMEFL. No gráfico 6.1<br />
são apresentadas as soluções aproximada e analítica dos deslocamentos para 10<br />
elementos igualmente espaçados. Naturalmente, o esforço cortante Q y e o momento<br />
fletor M y são nulos, de acordo com as hipóteses do regime de membrana.<br />
10.0<br />
9.0<br />
8.0<br />
altura do reservatório (m)<br />
7.0<br />
6.0<br />
5.0<br />
4.0<br />
3.0<br />
2.0<br />
1.0<br />
0.0<br />
-7.00E-03 -6.00E-03 -5.00E-03 -4.00E-03 -3.00E-03 -2.00E-03 -1.00E-03 0.00E+00<br />
deslocamento horizontal w (m) - base deslizante<br />
Solução analítica RMEFL Posições dos nós<br />
Gráfico 6.1 - Curva de deslocamento w para o caso RMEFL.<br />
Acrescenta-se que com apenas um elemento os deslocamentos obtidos com<br />
o procedimento RMEFL são exatos, pois a solução analítica é regida por uma função<br />
linear.<br />
Para uma comparação entre os procedimentos descritos no caso de base<br />
articulada fixa, considera-se uma discretização como a mostrada na fig. 6.1. Lembrase<br />
que, no caso RMEFBA, o enriquecimento não é mais seletivo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 45<br />
Figura 6.1 - Discretização adotada para reservatório cilíndrico com base articulada fixa.<br />
Nos gráficos 6.2 a 6.4 mostram-se curvas obtidas para deslocamento<br />
horizontal w, momento fletor M y e esforço cortante Q y , pelos procedimentos RMEF,<br />
RMEFH, RMEFG e RMEFBA, além da solução analítica.<br />
10.0<br />
9.0<br />
8.0<br />
altura do reservatório (m)<br />
7.0<br />
6.0<br />
5.0<br />
4.0<br />
3.0<br />
2.0<br />
1.0<br />
0.0<br />
-7.00E-03 -6.00E-03 -5.00E-03 -4.00E-03 -3.00E-03 -2.00E-03 -1.00E-03 0.00E+00<br />
deslocamento horizontal w (m) - base articulada fixa<br />
Solução analítica RMEF RMEFH RMEFG<br />
RMEFBA Nós enriquecidos Nós não enriquecidos<br />
Gráfico 6.2 - Deslocamento horizontal - base articulada fixa.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
46<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
10.0<br />
9.0<br />
8.0<br />
altura do reservatório (m)<br />
7.0<br />
6.0<br />
5.0<br />
4.0<br />
3.0<br />
2.0<br />
1.0<br />
-450 -350 -250 -150 -50 50<br />
0.0<br />
momento fletor M y (kN*m/m) - base articulada fixa<br />
Solução analítica RMEF RMEFH RMEFG<br />
RMEFBA Nós enriquecidos Nós não enriquecidos<br />
Gráfico 6.3 - Momento fletor - base articulada fixa.<br />
10.0<br />
9.0<br />
8.0<br />
altura do reservatório (m)<br />
7.0<br />
6.0<br />
5.0<br />
4.0<br />
3.0<br />
2.0<br />
1.0<br />
-2500 -2000 -1500 -1000 -500 0 500<br />
0.0<br />
esforço cortante Q y (kN/m) - base articulada fixa<br />
Solução analítica RMEF RMEFH RMEFG<br />
RMEFBA Nós enriquecidos Nós não enriquecidos<br />
Gráfico 6.4 - Esforço cortante - base articulada fixa.<br />
As diferenças entre o RMEF e os procedimentos enriquecidos são mais<br />
marcantes quando se analisam os esforços (gráficos 6.3 e 6.4), já que nos<br />
procedimentos enriquecidos as derivadas das funções enriquecedoras exponenciais<br />
resultam ainda em funções exponenciais, o que não acontece no RMEF.<br />
Pode-se afirmar que o RMEFH e o RMEFBA apresentam os melhores<br />
resultados. Observa-se que o RMEFH tem custo computacional bem maior do que o<br />
RMEF ou o RMEFBA. Este fato, que é desprezível para o caso unidimensional, pode<br />
vir a ser importante num equacionamento em duas ou três dimensões. Acrescenta-se<br />
que o RMEFBA, com apenas 1 elemento, apresenta soluções exatas para<br />
deslocamento e esforços.<br />
Para reservatório com base engastada é necessário um número maior de<br />
elementos para aproximar bem os resultados, em comparação com a base articulada<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 47<br />
fixa. Os resultados comparativos são, entretanto, qualitativamente iguais aos<br />
apresentados para essa última base.<br />
6.2 Resultados para cúpula esférica<br />
Neste exemplo, os resultados numéricos obtidos com o MEF, aplicado<br />
segundo o procedimento descrito no item 3.2, para o problema da cúpula esférica são<br />
comparados com as respostas analíticas. Os dados da cúpula estão indicados na<br />
tabela 6.2 e a discretização adotada representada na fig. 6.2.<br />
Tabela 6.2 - Dados de entrada utilizados para a análise da cúpula esférica.<br />
PARÂMETRO<br />
VALOR<br />
Ângulo de abertura (graus) 60<br />
Raio (m) 8,00<br />
Espessura constante (m) 0,05<br />
Coeficiente de Poisson 0,30<br />
Módulo de elasticidade (kN/m 2 ) 2,10*10 9<br />
Hc (kN/m) 1,00<br />
Mc (KN*m/m) 1,00<br />
Figura 6.2 - Discretização adotada para cúpula esférica.<br />
Nos gráficos 6.5 a 6.9 estão as curvas para esforço cortante Q φ , momento<br />
fletor M φ , esforço tangencial N θ , giro Φ e deslocamento horizontal ξ, obtidos com o<br />
MEF e confrontados com a solução analítica.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
48<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
60.0<br />
ângulo - base para topo (graus)<br />
50.0<br />
40.0<br />
30.0<br />
20.0<br />
10.0<br />
-1.1 -0.6 -0.1 0.4 0.9 1.4<br />
esforço cortante Q φ (kN/m)<br />
0.0<br />
Solução analítica CMEF Posições dos nós<br />
Gráfico 6.5 - Curva de esforço cortante Q φ para o caso MEF.<br />
60.0<br />
ângulo - base para topo (graus)<br />
50.0<br />
40.0<br />
30.0<br />
20.0<br />
10.0<br />
-0.2 0.1 0.4 0.7 1<br />
momento M φ (kN*m/m)<br />
0.0<br />
Solução analítica CMEF Posições dos nós<br />
Gráfico 6.6 - Curva de momento fletor M φ para o caso MEF.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 49<br />
60.0<br />
ângulo - base para topo (graus)<br />
50.0<br />
40.0<br />
30.0<br />
20.0<br />
10.0<br />
-25 -5 15 35 55 75 95<br />
esforço tangencial N θ (kN/m)<br />
0.0<br />
Solução analítica CMEF Posições dos nós<br />
Gráfico 6.7 - Curva de esforço tangencial N θ para o caso MEF.<br />
60.0<br />
ângulo - base para topo (graus)<br />
50.0<br />
40.0<br />
30.0<br />
20.0<br />
10.0<br />
-6.00E-06 4.00E-06 1.40E-05 2.40E-05<br />
giro Φ (radianos)<br />
0.0<br />
Solução analítica CMEF Posições dos nós<br />
Gráfico 6.8 - Curva de giro Φ para o caso MEF.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
50<br />
Gustavo Cabrelli Nirschl & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
60.0<br />
ângulo - base para topo (graus)<br />
50.0<br />
40.0<br />
30.0<br />
20.0<br />
10.0<br />
-1.70E-06 3.00E-07 2.30E-06 4.30E-06 6.30E-06<br />
deslocamento ξ (m)<br />
0.0<br />
Solução analítica CMEF Posições dos nós<br />
Gráfico 6.9 - Curva de deslocamento horizontal ξ para o caso MEF.<br />
Os valores de N φ e M θ não estão aqui exibidos porque são proporcionais a Q φ<br />
e M φ , respectivamente (ver eqs. (3.26) e (3.29)).<br />
Nota-se que as respostas, exceto momento fletor M φ (gráfico 6.6), são bem<br />
próximas das exatas. Para M φ a função aproximativa resulta uma composição de<br />
polinômios lineares (terceira derivada do esforço cortante), o que explica a menor<br />
precisão e a necessidade por uma discretização mais refinada.<br />
7 CONCLUSÕES<br />
Nota-se o grande potencial do enriquecimento com funções especiais para a<br />
solução numérica do problema do reservatório cilíndrico, principalmente em relação à<br />
descrição dos esforços.<br />
A aplicação convencional do MEF, que emprega base aproximativa hermitiana<br />
é limitada, particularmente no que se refere à descrição dos esforços internos<br />
generalizados. De fato, os gráficos dos esforços apresentam descontinuidades entre<br />
os elementos, em razão da menor ordem de continuidade das derivadas da base<br />
aproximativa, diretamente empregadas na descrição do momento fletor e da força<br />
cortante. As descontinuidades nos esforços são reduzidas com os procedimentos de<br />
enriquecimento propostos, quase desaparecendo para o RMEFH e para o RMEFBA.<br />
Cabe observar, entretanto, que a continuidade entre elementos da base<br />
aproximativa determina também a continuidade da aproximação enriquecida,<br />
independente do grau de enriquecimento atingido no interior do elemento. Portanto, a<br />
eficácia dos procedimentos de enriquecimento depende fortemente da continuidade<br />
da base aproximativa utilizada. De fato, considerando-se bases muito simples, apesar<br />
dos esforços serem mais bem representados pelos procedimentos enriquecidos em<br />
comparação com o MEF convencional, a continuidade entre os elementos, para as<br />
derivadas, não é necessariamente garantida. Nesse aspecto o enriquecimento por<br />
base estendida mostra-se mais eficiente, permitindo contornar a questão de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
Método dos elementos finitos e técnicas de enriquecimento da aproximação aplicados à... 51<br />
continuidade, dispensando a alternativa de um aumento do grau de continuidade da<br />
aproximação base.<br />
Em relação às cúpulas esféricas, a variável aproximada pelas funções base<br />
foi diretamente um esforço solicitante, de modo que a forma convencional do MEF,<br />
recorrendo apenas ao refinamento da malha mostrou-se eficiente.<br />
8 AGRADECIMENTOS<br />
Agradecemos a CAPES, pelo apoio financeiro, e aos funcionários do<br />
Departamento de Estruturas da <strong>USP</strong> de São Carlos, que forneceram toda a estrutura<br />
necessária para a realização das pesquisas.<br />
9 REFERÊNCIAS<br />
BARROS, F. B. (2002). Métodos sem Malha e Método dos Elementos Finitos<br />
Generalizados em Análise Não-Linear de Estruturas. 222p. Tese (Doutorado) -<br />
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.<br />
BELLUZZI, O. (1967). Ciência de la Contruccion. v. 3. Madrid: Aguilar.<br />
BILLINGTON, D. P. (1965). Thin shell concrete structures. McGraw Hill Book<br />
Company, Inc.<br />
DUARTE, C. A.; BABUŠKA, I.; ODEN, J. (2000). Generalized finite element methods<br />
for three-dimensional structural mechanics problems. Computers & Structures, v. 77,<br />
n. 2, p. 215–232.<br />
GRAVINA, P. B. J. (1957). Teoria e cálculo das cascas. São Paulo.<br />
MELENK, J. M.; BABUŠKA, I. (1996). The partition of unity finite element method:<br />
Basic theory and applications. Computer Methods in Applied Mechanics and<br />
Engineering, v. 39, p. 289–314.<br />
NIRSCHL, G. C. (2005). Método dos elementos finitos e técnicas de<br />
enriquecimento da aproximação aplicados à análise de tubos cilíndricos e<br />
cascas esféricas. São Carlos. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São<br />
Carlos – Universidade de São Paulo.<br />
REDDY, J. N. (1993). An introduction to the Finite Element Method. New York.<br />
McGraw-Hill.<br />
TORRES, I. F. R. (2003). Desenvolvimento e aplicação do método dos elementos<br />
finitos Generalizados em análise tridimensional não-linear de sólidos. São<br />
Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de<br />
São Paulo.<br />
ZIENKIEWICZ, O. C. (1986). The Finite element method. London; New-York.<br />
McGraw-Hill.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 17-51, 2008
ISSN 1809-5860<br />
LADRILHOS E REVESTIMENTOS HIDRÁULICOS DE<br />
ALTO DESEMPENHO<br />
Thiago Catoia 1 & Jefferson Benedicto Libardi Liborio 2<br />
Resumo<br />
Os ladrilhos hidráulicos são revestimentos produzidos utilizando aglomerante<br />
hidráulico, cuja tecnologia de produção não acompanhou a grande evolução<br />
tecnológica dos concretos, as disponibilidades de novos materiais e técnicas de<br />
utilização ocorrentes nos últimos anos, sendo assim esses revestimentos perderam<br />
espaço e competitividade no mercado pela característica artesanal de sua produção. O<br />
trabalho tem como objetivo desenvolver uma argamassa para produção de ladrilhos<br />
hidráulicos utilizando a tecnologia utilizada na produção de concretos de alto<br />
desempenho. Os agregados foram selecionados e compostos utilizando diferentes<br />
técnicas de empacotamento de partículas, essas técnicas foram implementadas<br />
experimentalmente e seus resultados foram analisados e comparados através da<br />
medida de massa unitária no estado compactado seco. Os aglomerantes foram<br />
selecionados de forma a atender a utilização de pigmentos claros e escuros necessários<br />
para a produção de ladrilhos hidráulicos decorativos, assim foram elaboradas duas<br />
diferentes composições de aglomerantes, a primeira com cimento Portland branco<br />
estrutural e metacaulinita branca, e a segunda com cimento Portland de alta<br />
resistência inicial resistente a sulfatos e sílica ativa de ferro-silício. Diferentes aditivos<br />
superplastificantes foram testados, sendo a medida de compatibilidade com os<br />
aglomerantes e a determinação dos teores ideais a serem utilizados com cada tipo de<br />
aglomerantes, realizadas através da medida de consistência em mesa cadente. A<br />
avaliação das argamassas desenvolvidas para produção dos ladrilhos hidráulicos foi<br />
realizada através dos ensaios de compressão axial simples, tração na compressão<br />
diametral, e determinação do módulo de elasticidade. Os ladrilhos hidráulicos foram<br />
produzidos em fôrmas previamente elaboradas e moldados com auxílio de vibração,<br />
após desmoldagem e cura foram avaliados através dos ensaios de módulo de flexão,<br />
desgaste por abrasão, absorção de água, retração por secagem, ação química, e<br />
determinação das variações de dimensões em diferentes tempos de cura. Após<br />
elaboração, produção e avaliação dos ladrilhos hidráulicos, também foram realizados<br />
alguns testes práticos, e avaliados os custos dos materiais para produção desses<br />
revestimentos, como parte de um estudo para implementação da produção desses<br />
elementos em escala industrial. Os ladrilhos hidráulicos desenvolvidos apresentaram<br />
alto desempenho nas características avaliadas, com resistência à compressão axial<br />
simples de até 143 MPa e absorção de água próxima a 1 %, também apresentando<br />
viabilidade de produção.<br />
Palavras-chave: ladrilho hidráulico; argamassa; CAD; revestimento; durabilidade.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas EESC-<strong>USP</strong>, tcatoia@sc.usp.br<br />
2 Coordenador do Laboratório de Materiais Avançados à Base de Cimento EESC-<strong>USP</strong>, liborioj@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
54<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Os ladrilhos hidráulicos são revestimentos produzidos com aglomerantes<br />
hidráulicos (cimentos Portland), definido pela NBR 9457:1986 como placa de concreto<br />
de alta resistência ao desgaste para acabamento de paredes e pisos internos e<br />
externos, contendo uma superfície com textura lisa ou em relevo, colorido ou não, de<br />
formato quadrado, retangular ou outra forma geométrica definida.<br />
Os ladrilhos hidráulicos foram introduzidos no Brasil pelos italianos e, embora<br />
no passado fosse uma alternativa na produção de revestimentos, essencialmente com<br />
caráter decorativo, pelas disponibilidades existentes, seu uso foi abandonado com o<br />
advento da indústria cerâmica.<br />
Embora nos anos 80 arquitetos e decoradores começarem a valorizar<br />
novamente os revestimentos hidráulicos, como forma de personalizar projetos e até<br />
pela possibilidade de utilização em mosaicos, a inserção no mercado de produtos com<br />
bom aspecto visual ainda passa por uma produção artesanal que está embasada no<br />
empirismo, com pouco cientificismo, sendo ainda utilizada as técnicas trazidas da<br />
Itália.<br />
O advento do concreto de alto desempenho, com valores de resistência a<br />
compressão que podem atingir os 200 MPa, permite que seja transposto para a<br />
prática um novo conceito de um revestimento hidráulico, com realces marcantes no<br />
tocante à durabilidade, resistências mecânicas (flexão, compressão, tração, desgaste,<br />
etc) e resistências químicas proporcionadas inclusive pela alta impermeabilidade.<br />
Enquanto numa fábrica de cerâmica a média diária de produção por pessoa é<br />
de 10 mil m 2 , em empresas de ladrilhos não passa de 20 m 2 , justificada pela mão de<br />
obra artesanal. Com isso, seu preço não é módico: peças de 20 x 20, 15 x 15, 10 x 10<br />
e 5 x 5 centímetros custam entre R$ 1,50 e R$ 6,00 a unidade. Modelos que<br />
compõem barrados são vendidos aproximadamente a R$ 28,00 o metro linear. Esses<br />
custos poderiam então atingir valores, como os preços de março de 2003, de R$<br />
150,00/m 2 , evidenciando que o uso desse material se deve hoje aos saudosistas e<br />
abastados, visto que a implantação final ultrapassaria hoje R$ 200,00/m 2<br />
(MEDEIROS, CAPPI e PALHAIS, 2003).<br />
Com isso, esse material não apresenta competitividade com outros<br />
revestimentos como os porcelanatos, granitos, e qualquer outro revestimento<br />
cerâmico, que podem inclusive imitar os mosaicos bizantinos. Daí a importância do<br />
trabalho, que pretendeu contribuir com a melhora do produto e da produção, podendo<br />
levar os ladrilhos hidráulicos a uma maior diversidade de aplicação e a uma melhor<br />
competitividade no mercado.<br />
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a possibilidade de<br />
produção de revestimentos hidráulicos para piso e paredes, de alto desempenho e<br />
alta resistência, a partir de toda tecnologia existente utilizada no desenvolvimento do<br />
concreto de alto desempenho.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
55<br />
2 DOSAGEM E CARACTERIZAÇÃO DAS ARGAMASSAS<br />
2.1 Seleção dos materiais<br />
Como fator relevante para a escolha dos agregados miúdos além de ser<br />
utilizada a granulometria foi levado em conta a disponibilidade comercial dos<br />
agregados, e a morfologia das partículas que os compõem, pois agregados mais<br />
arredondados possuem menor área superficial, o que pode reduzir a quantidade de<br />
água no produto final podendo aumentar a resistência mecânica e refinar a<br />
porosidade. As areias selecionadas foram as areias quartzosas (AM1 e AM2) de<br />
origens diversas com mesma massa específica (2,63 kg/dm 3 ).<br />
Um dos agregados miúdos utilizados se trata de um agregado bem mais fino<br />
que os agregados geralmente utilizados na construção civil (AM3), de origem<br />
quartzosa com massa específica de 2,63 kg/dm 3 , foi escolhida por apresentar<br />
partículas que promovem um bom empacotamento na composição dos agregados<br />
miúdos que são utilizados convencionalmente na construção civil.<br />
Na escolha dos cimentos para fabricação de ladrilhos e revestimentos<br />
hidráulicos não basta levar em conta somente a resistência mecânica e química, mas<br />
também as características decorativas. No presente trabalho, visando atender ao<br />
maior número possível de aplicações, foram selecionados dois tipos de cimentos<br />
estruturais, o CPB 40 Estrutural, e o CP V ARI RS.<br />
As adições foram escolhidas visando a reatividade pozolânica e o efeito<br />
microfiler para o refinamento dos poros. Considerando também as características<br />
decorativas, foi escolhida a metacaulinita branca, que foi utilizada conjuntamente com<br />
o cimento CPB 40 para compor uma mistura clara, para realçar a coloração dos<br />
pigmentos, e a sílica ativa utilizada juntamente com o cimento CP V ARI RS<br />
compondo uma mistura mais escura compatível com pigmentos mais escuros.<br />
O uso de aditivo superplastificante é justificado pela necessidade de redução<br />
de água de amassamento e refinamento da porosidade, que beneficia tanto os fatores<br />
de resistência quando os de durabilidades. O desempenho e a compatibilidade de<br />
alguns aditivos superplastificantes com os cimentos e adições selecionados foram<br />
medidos experimentalmente.<br />
Os pigmentos comercialmente disponível no mercado, utilizados para colorir a<br />
argamassa, atribuiram características decorativas aos revestimentos elaborados.<br />
2.2 Empacotamento de partículas dos agregados<br />
O empacotamento de partículas visa minimizar os vazios existentes na<br />
mistura tornando o produto final mais compacto e consequentemente mais resistente.<br />
No estudo do empacotamento dos agregados convencionais selecionados (AM1 AM2)<br />
utilizaram-se três modelos para encontrar a melhor composição entre os agregados<br />
miúdos que foram comparados através da massa unitária no estado compactado seco<br />
(NBR 7810:1983).<br />
2.2.1 Modelo 1<br />
O modelo 1, indicado por Helene e Terzian (1992), consiste na comparação<br />
da massa unitária no estado compactado seco de diferentes combinações de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
56<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
proporções dos dois componentes em que se deseja obter o melhor empacotamento.<br />
Para determinar a melhor proporção entre os agregados miúdos (AM1 e AM2),<br />
estabeleceram-se diversas combinações com variação de 10 %, em seguida mediu-se<br />
a massa unitária no estado compactado seco de cada combinação como indicado na<br />
Figura 1.<br />
1,700<br />
1,690<br />
Massa unitária<br />
1,680<br />
1,670<br />
1,660<br />
1,650<br />
100/0 90/10 80/20 70/30 60/40 50/50<br />
Composição de areias AM1/AM2<br />
Figura 1 - Variação da massa unitária nas diversas proporções entre as areias.<br />
No modelo 1 conclui-se que a melhor proporção entre os agregados foi aquela<br />
composta por 80 % do agregado mais grosso (AM1) e 20 % do agregado mais fino<br />
(AM2), pois essa proporção apresentou a maior massa unitária no estado compactado<br />
seco (1,687 kg/dm 3 ) e proporcionou um maior preenchimento dos vazios existentes<br />
entre as partículas de agregados.<br />
2.2.2 Modelo 2<br />
Este modelo consiste em determinar a fração de cheios (F ch ) de um<br />
componente através da relação entre a massa unitária no estado compactado seco<br />
(γ comp. ) e a massa específica (ρ), para em seguida obter a fração de vazios (F vz )<br />
ocupada pelo agregado e então determinar a quantidade de um componente com<br />
partículas menores necessária para preencher os vazios entre as partículas do<br />
componente inicial, relações indicadas por Bomfim (2005). Este modelo permite<br />
compor dois componentes e após a determinação da massa específica e unitária da<br />
mistura, compor um terceiro componente e assim sucessivamente, partindo do<br />
componente com partículas maiores para o com partículas menores.<br />
Assim determinou-se a fração de cheios do agregado mais grosso (AM1)<br />
dividindo sua massa unitária no estado compactado seco (1,66 kg/dm 3 ) por sua<br />
massa específica (2,63 kg/dm 3 ), em seguida encontrou-se a fração de vazios<br />
subtraindo de 1 a fração de cheios. Com a fração de vazios existente nesse agregado<br />
determinou-se a quantidade de agregado mais fino (AM2) necessária para ocupar<br />
esses vazios, multiplicando a fração de vazios de AM1 pela massa unitária no estado<br />
compactado seco de AM2 (1,59 kg/dm 3 ). Determinando a proporção de cada areia<br />
obteve-se 74 % de AM1 e 26 % de AM2 que resultou uma massa unitária no estado<br />
compactado seco de 1,689 kg/dm 3 .<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
57<br />
2.2.3 Modelo 3<br />
O modelo 3 é o modelo de Alfred, descrito por Oliveira et al (2000), que<br />
consiste em estabelecer uma porcentagem acumulada de partículas (CPFT) menores<br />
que um determinado diâmetro D P (diâmetro da partícula), de acordo com a Equação 1.<br />
CPFT<br />
⎛ q q<br />
D D ⎞<br />
⎜ P − S<br />
= ⎟ ⋅100<br />
(1)<br />
⎜ q q<br />
DL<br />
D ⎟<br />
⎝ − S ⎠<br />
Onde: D L = diâmetro da maior partícula;<br />
D S = Diâmetro da menor partícula;<br />
q = módulo ou coeficiente de distribuição, que de acordo com Funk e Dinger<br />
(1993) apud Oliveira et al (2000) assume o valor de 0,37 para os casos de máxima<br />
densidade de empacotamento.<br />
Neste modelo foi determinada uma distribuição granulométrica utilizando a<br />
equação proposta por Alfred com os diâmetros das partículas correspondentes aos<br />
diâmetros com quantidade mais significativas no estudo da granulometria dos<br />
agregados selecionados, de forma a obter uma curva granulométrica possível de ser<br />
montada utilizando os agregados selecionados, e compatível com os outros modelos<br />
do estudo de empacotamento dos agregados. Portanto utilizou-se D L = 0,6 mm, D S =<br />
0,037 mm e q = 0,37 para determinar a distribuição granulométrica teórica.<br />
Após a determinação da distribuição granulométrica do modelo 3 foram<br />
separadas as partículas de acordo com o diâmetro das peneiras e em seguida<br />
misturadas nas devidas proporções para se obter o agregado com a distribuição<br />
granulométrica calculada, em seguida foi realizado o ensaio para determinação da<br />
massa unitária no estado compactado seco que resultou em 1,724 kg/dm 3 .<br />
2.2.4 Comparação dos modelos<br />
Visando melhor comparar os três modelos de empacotamento de agregados<br />
apresentados foram reunidos os valores da massa unitária no estado compactado<br />
seco das areias e das diferentes composições na Figura 2, também foram<br />
sobrepostas as distribuições granulométricas dos agregados miúdos selecionados<br />
assim como a distribuição granulométrica do modelo 3 e as curvas granulométricas da<br />
composição obtida através do modelo 1 (80 % de AM1 e 20 % de AM2), e do modelo<br />
2 (74% de AM1 e 26 % de AM2).<br />
O modelo 3 apesar de apresentar a maior massa unitária no estado<br />
compactado seco é um modelo de aplicação prática inviável, pois para se obter a<br />
distribuição contínua indicada foi preciso separar as partículas em diferentes<br />
dimensões para depois juntá-las na proporção adequada o que consumiria um tempo<br />
inexistente na produção de revestimentos hidráulicos.<br />
Observando os resultados obtidos nos modelo 1 e 2, pode-se dizer que<br />
apesar desses modelos poderem alcançar valores semelhantes, eles apresentam<br />
diferenças significativas no trabalho e no tempo de realização de ensaios. O modelo 1<br />
poderia atingir o mesmo resultado que o modelo 2 se após a determinação da massa<br />
unitária das proporções pré-definidas fosse refinada as medições entre as proporções<br />
que alcançaram melhor resultado. Entretanto o modelo 2, que utiliza cálculos e<br />
medições práticas, apresentou a melhor composição com um menor número de<br />
ensaios. Portanto a proporção entre os agregados adotada é de 74 % do agregado<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
58<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
miúdo mais grosso (AM1) e 26 % do agregado miúdo mais fino (AM2) obtida através<br />
do modelo 2.<br />
% Retida Acumulada<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
0,037<br />
Areia (AM1)<br />
Areia (AM2)<br />
Distribuição do Modelo 3<br />
Composição Modelo 2 (74%AM1+26%AM2)<br />
Composição Modelo 1 (80%AM1+20%AM2)<br />
0,075<br />
0.15<br />
Abertura das Peneiras (mm)<br />
NBR 7810:1983<br />
1,660 kg/dm 3<br />
1,589 kg/dm 3<br />
1,724 kg/dm 3<br />
1,689 kg/dm 3<br />
1,687 kg/dm 3<br />
0.3<br />
0.6<br />
Figura 2 - Sobreposição da curvas granulométricas.<br />
2.3 Empacotamento de partículas do traço<br />
Para melhorar o empacotamento das partículas do traço utilizou-se um<br />
agregado (AM3) com partículas menores que as partículas que compõe o<br />
empacotamento dos agregados convencionais, com o intuito de preencher os vazios<br />
ainda existentes entre as partículas maiores de agregado e aproximar as dimensões<br />
entre as partículas de agregados e aglomerantes, além de melhorar o acabamento<br />
superficial dos ladrilhos, fator importante na produção de revestimentos.<br />
A quantidade aproximada desse agregado foi determinada pelo modelo 3,<br />
pela inviabilidade em determinar a massa unitária no estado compactado de partículas<br />
muito finas, estendendo o diâmetro das partículas até 25 μm (abertura da peneira que<br />
passa a grande maioria das partículas de AM3, 99,3 %) que resultou em um teor<br />
próximo a 9 %. Como o empacotamento de partículas dos agregados não possui a<br />
distribuição granulométrica do modelo 3, e consequentemente apresenta uma<br />
quantidade de vazios maior a ser preenchido, adotou-se um teor de 10 % de AM3<br />
dividindo os 90 % restantes de acordo com a proporção indicado no empacotamento<br />
das partículas dos agregados (74 % de AM1 e 26 % de AM2). Portanto o novo<br />
empacotamento de partículas é composto de 67 % de AM1, 23 % de AM2 e 10 % de<br />
AM3.<br />
Para verificar a eficiência do novo empacotamento, compôs-se dois traços<br />
semelhantes de argamassa, comparando o empacotamento de partículas dos<br />
agregados com o empacotamento de partículas do traço, assim o traço em que foi<br />
empregado AM3 apresentou aproximadamente 10 % de resistência a compressão<br />
axial simples a mais que o traço em que foi somente utilizado as areias AM1 e AM2,<br />
comprovando o preenchimento dos vazios e o refinamento dos poros da argamassa.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
59<br />
2.4 Traço da argamassa<br />
Ponderando os fatores de custo, calor de hidratação, e refinamento da<br />
porosidade, e tentando preencher os vazios existentes entre as partículas de<br />
agregados com partículas de cimento, fixou-se o traço em massa em 1:2, com<br />
incorporação das adições feita em substituição volumétrica com o intuito de manter o<br />
volume final da mistura.<br />
O teor de sílica ativa adotado foi 10 % em substituição volumétrica ao<br />
cimento, pois segundo Melo (2000) um teor de sílica ativa de aproximadamente 10 %<br />
é capaz de contribuir de modo eficiente para o ganho de resistência e o refinamento<br />
da porosidade, e teores de sílica acima de 10 % apesar de indicarem um significativo<br />
ganho de resistência nas primeiras idades, alcançam as mesmas resistências que<br />
menores teores de sílica nas idades avançadas. Adotou-se o teor de metacaulinita,<br />
em substituição volumétrica, de 10 % da massa do cimento, pois segundo Lacerda<br />
(2005) a sílica ativa e a metacaulinita podem apresentar atuações semelhantes<br />
quando utilizadas como adição.<br />
A trabalhabilidade da argamassa está diretamente relacionada à dificuldade<br />
de lançamento e moldagem das peças de revestimento, uma trabalhabilidade baixa<br />
pode ocasionar falha na moldagem ou necessitar de uma energia de adensamento<br />
muito elevada, e uma trabalhabilidade elevada pode prejudicar o refinamento da<br />
porosidade, pelo aumento da relação água/aglomerante, ou pelo uso antieconômico<br />
do aditivo superplastificante. Associando-se o parâmetro trabalhabilidade ao<br />
parâmetro consistência, foi determinada uma consistência (250 ± 20 mm) medida em<br />
ensaio de consistência em mesa cadente apresentado na Figura 3, como forma de<br />
resolver a problemática, possibilitando boas condições de lançamento e moldagem<br />
dos elementos de revestimento, levando em conta a relação água/aglomerante e o<br />
teor de aditivo superplastificante.<br />
Figura 3 - Medida de consistência de argamassa em mesa cadente.<br />
A ordem de mistura dos materiais para execução da argamassa está<br />
diretamente relacionada com a reologia da mistura e com a atuação dos<br />
componentes, assim foram testadas três diferentes ordens de mistura, e a que refletiu<br />
um melhor desempenho da mistura foi a que se misturaram inicialmente os<br />
aglomerantes e a água, em seguida foi acrescentado o aditivo em duas partes e por<br />
fim foram inseridos os agregados.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
60<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
Após a seleção de todos os materiais e determinação do traço das<br />
argamassas verificou-se a compatibilidade do aditivo superplastificante com o<br />
pigmento, não se constatando qualquer incompatibilidade entre esses materiais.<br />
2.5 Caracterização da argamassa<br />
A caracterização das argamassas é importante para conhecer as<br />
características do material que irá constituir os ladrilhos hidráulicos, além de<br />
possibilitar a relação dos resultados da avaliação das argamassas com a avaliação<br />
dos revestimentos.<br />
2.5.1 Moldagem, preparo e cura de corpos-de-prova cilíndricos<br />
Foram moldados corpos-de-prova cilíndricos de argamassa com diâmetro de<br />
50 mm e altura de 100 mm de acordo com a NBR 7215:1991. A cura dos corpos-deprova<br />
se iniciou logo após a moldagem, isolando a superfície exposta dos corpos-deprova<br />
com filme plástico para impedir a perda de umidade da argamassa, pois uma<br />
parte significativa do processo de hidratação do cimento ocorre antes da mistura estar<br />
pronto para o desmolde. Os corpos-de-prova foram desmoldados 15 horas após a<br />
moldagem e permaneceram na cura por imersão até as datas de ensaio.<br />
O preparo dos corpos-de-prova para ensaios de compressão axial simples e<br />
determinação do módulo de elasticidade foi realizado retificando suas superfícies<br />
(topo e base) de acordo com a NBR 5738:1994, por meio de um faceador de corposde-prova<br />
com disco diamantado mostrado na Figura 4, com o intuito de promover a<br />
regularização das superfícies que terão contato com os pratos da prensa servohidráulica.<br />
Figura 4 - Faceador para corpos-de-prova com detalhe do disco.<br />
2.5.2 Resistência à compressão axial simples<br />
O ensaio de compressão axial simples em corpos-de-prova cilíndricos de<br />
argamassa foi realizado de acordo com a NBR 5739:1994, com velocidade de<br />
carregamento constante e igual a 0,6 MPa/s. Na Figura 5 mostra-se um corpo-de-<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
61<br />
prova de argamassa sendo solicitado à compressão axial simples. Foi possível<br />
comprovar a validade dos ensaios de compressão axial simples através da ocorrência<br />
de ruptura cônica dos corpos-de-prova, apresentada na Figura 5, que representa a<br />
correta distribuição de tensões durante as solicitações.<br />
Figura 5 - Corpo-de-prova solicitado à compressão axial simples com ruptura cônica.<br />
2.5.3 Resistência à tração na compressão diametral<br />
O ensaio de tração na compressão simples diametral em corpos-de-prova<br />
cilíndricos de argamassa foi realizado de acordo com a NBR 7222:1994, com<br />
velocidade de carregamento constante e igual a 0,06 MPa/s. Exemplifica-se na Figura<br />
6 um corpo-de-prova de argamassa sendo solicitado à compressão simples diametral.<br />
Utilizou-se um aparato para manter o corpo-de-prova corretamente posicionado<br />
durante o ensaio. Foi possível comprovar a validade dos ensaios de compressão<br />
simples diametral através da ocorrência de ruptura colunar central dos corpos-deprova,<br />
demonstrada na Figura 6.<br />
Figura 6 - Corpo-de-prova solicitado à compressão diametral com ruptura colunar.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
62<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
2.5.4 Módulo de elasticidade<br />
O módulo de elasticidade foi determinado seguindo recomendações da NBR<br />
8522:1984, solicitando os corpos-de-prova à compressão axial simples com<br />
velocidade de carregamento de 0,6 MPa/s até 80 % da carga de ruptura, e realizandose<br />
medições de deslocamento a cada 5 segundos através de extensômetros elétricos<br />
de base removível, posicionados em lados opostos do corpo-de-prova. Na Figura 7 é<br />
mostrado a realização do ensaio em um corpo-de-prova.<br />
Figura 7 - Ensaio para determinação do módulo de elasticidade.<br />
2.5.5 Resultados<br />
Para melhor apresentar as características de cada mistura estudada elaborouse<br />
a Tabela 1 onde são apresentados os materiais selecionados, o consumo de<br />
materiais por metro cúbico, as características da argamassa fresca, e os resultados<br />
dos ensaios mecânicos realizados nas idades de 3, 7, 28, 63 e 91 dias.<br />
Os resultados apresentados na Tabela 1 indicam alta resistência mecânica da<br />
argamassa logo nas primeiras idades, os valores de resistência à compressão simples<br />
e do módulo de elasticidade são valores dificilmente alcançados na produção de<br />
argamassa, estando compatível com a produção de ladrilhos hidráulicos de alto<br />
desempenho.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
63<br />
Tabela 1 - Características das misturas estudadas e resultados dos ensaios.<br />
Mistura Clara Escura<br />
Cimento CPB 40 Estrutural CP V ARI RS<br />
Materiais<br />
Adição Metacaulinita Sílica Ativa<br />
Aditivo Superplastificante Éster policarboxílico Éster policarboxílico<br />
1:m 1:2 1:2<br />
Traço<br />
Teor de adição (%) 10 10<br />
Relação a/a 0,30 0,30<br />
Teor de aditivo (%) 2,3 1,6<br />
Consistência em mesa cadente (mm) 250 ± 20 250 ± 20<br />
Massa específica (kg/m 3 ) 2255 2275<br />
Cimento 648,78 652,11<br />
Adição 54,41 44,46<br />
Consumo de<br />
Água 210,96 208,97<br />
materiais por m 3<br />
Aditivo 16,17 11,15<br />
(kg)<br />
AM1 (67%) 957,72 964,08<br />
Areia AM2 (23%) 328,77 330,95<br />
AM3 (10%) 142,94 143,89<br />
3 dias 60,2 79,8<br />
Resistência à<br />
7dias 74,1 98,8<br />
compressão<br />
28 dias 91,5 127,4<br />
axial simples<br />
(MPa)<br />
63 dias 96,6 141,0<br />
91 dias 97,2 142,9<br />
3 dias 3,1 3,5<br />
Resistência à<br />
7dias 3,2 3,9<br />
tração por<br />
28 dias 3,4 4,0<br />
compressão<br />
diametral (MPa)<br />
63 dias 3,5 4,0<br />
91 dias 3,5 4,0<br />
3 dias 27,4 31,9<br />
Módulo de<br />
7 dias 33,3 37,2<br />
elasticidade<br />
28 dias 34,8 42,2<br />
(GPa)<br />
63 dias 35,1 44,0<br />
91 dias 36,9 45,4<br />
3 PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS REVESTIMENTOS HIDRÁULICOS<br />
3.1 Produção dos ladrilhos hidráulicos<br />
Para definir o material da fôrma foram produzidos elementos hidráulicos, com<br />
fôrmas de diferentes materiais, tal que possibilitasse uma superfície lisa e brilhante. A<br />
Figura 8 mostra o bom acabamento superficial do elemento hidráulico produzido, sem<br />
qualquer tratamento da superfície após a desforma.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
64<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
Figura 8 - Acabamento superficial obtido no elemento hidráulico.<br />
A utilização de uma fôrma com base metálica possibilita uma rigidez<br />
adequada para moldagem, além de suportar um grande número de ciclos de<br />
moldagem. Na Figura 9 apresenta-se a fôrma revestida com o material<br />
selecionado.Tomou-se o cuidado de se iniciar a cura logo após a moldagem, com a<br />
utilização de um filme plástico mostrado também na Figura 9. Após a desforma, a cura<br />
foi prosseguida por imersão em água, até as datas de ensaios.<br />
Figura 9 - Fôrma, moldagem e cura dos ladrilhos hidráulico.<br />
3.2 Avaliação dos ladrilhos hidráulicos<br />
A avaliação dos revestimentos produzidos com as argamassas (clara e<br />
escura) visou estabelecer as características dos revestimentos hidráulicos, da<br />
desmoldagem à situações de utilização.<br />
3.2.1 Variação dimensional<br />
Os ensaios dimensional e visual consistiram em verificar se as peças<br />
coincidem com os moldes, se a qualidade da superfície aparente foi alcançada<br />
uniformemente e mantida durante a cura, e se as dimensões das peças variaram no<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
65<br />
intervalo de tempo entre a desmoldagem e o fim da cura. Foram utilizadas peças de<br />
20 x 20 cm e 10 mm de espessura, as medições foram realizadas em torre eletrônica<br />
de medição com resolução de 5 x 10-6 m sobre base plana, e a análise visual foi<br />
realizada em peças saturadas superfície seca, após desmoldagem e nas idades de 3<br />
e 28 dias.<br />
3.2.2 Resistência à flexão<br />
O ensaio de flexão em ladrilhos hidráulicos foi realizado em prensa servoelétrica<br />
até a ruptura, seguindo recomendações da NBR 13818:1997, solicitando as<br />
placas à flexão por três apoios com velocidade de carregamento controlada e igual a<br />
1,0 MPa/s.<br />
As placas utilizadas nos ensaios de flexão foram moldadas em fôrmas<br />
retangulares de 20 x 100 cm e 10 mm de espessura, em seguida cortadas nas<br />
dimensões de 20 x 45 cm. Na Figura 10 apresenta-se, o detalhe de uma placa de<br />
ladrilho hidráulico submetida à flexão com comprimento entre apoios de 40 cm, e a<br />
ruptura da placa no terço central permitindo a validação dos ensaios representando a<br />
correta solicitação da placa.<br />
Figura 10 - Ladrilho hidráulico solicitado à flexão com ruptura no terço central.<br />
Os apoios são barras cilíndricas com 38 mm de diâmetro com graus de<br />
liberdade que permitem a flexão das placas sem a solicitação em outras direções,<br />
foram também utilizadas borrachas entre os apoios e as placas para possibilitar uma<br />
melhor transferência de carga, distribuindo-as uniformemente.<br />
A carga de ruptura e o módulo de resistência à flexão foram calculados<br />
utilizando a força de ruptura obtida no ensaio, as disposições das peças e as<br />
Equações 2 e 3.<br />
CR<br />
F ⋅ L<br />
= (2)<br />
b<br />
Onde: CR = carga de ruptura (N);<br />
F = força de ruptura (N);<br />
L = distância entre as barras de apoio (mm);<br />
B = largura da placa ao longo da ruptura (mm).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
66<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
MRF<br />
3 ⋅ F ⋅ L<br />
= (3)<br />
2 ⋅ b ⋅<br />
2<br />
e min<br />
Onde: MRF = módulo de resistência a flexão (MPa);<br />
e min = espessura mínima da placa (mm).<br />
A carga de ruptura está relacionada com as dimensões da placa, enquanto o<br />
módulo de resistência a flexão está ligado ao material que constitui o revestimento.<br />
3.2.3 Desgaste por abrasão<br />
Para avaliar a resistência ao desgaste por abrasão dos ladrilhos hidráulicos<br />
utilizou-se a NBR 12042:1992, peças com dimensões de 7 x 7 cm foram cortadas a<br />
partir de peças de 20 x 20 cm com 25 mm de espessura. Após as medidas de<br />
espessura, dois corpos-de-prova foram colocados em uma máquina Amsler, onde<br />
ficaram dispostos diametralmente opostos, sob carga de 66 N em um disco de ferro<br />
fundido com 2 m de perímetro, alimentado com areia normal com vazão de 72<br />
cm 3 /min e posto a girar com 30 rpm, enquanto os corpos-de-prova rotacionam a 0,6<br />
rpm em torno de seu próprio eixo perpendicular a superfície de contato. O desgaste<br />
foi indicado pela média da redução da espessura, em milímetros, dos corpos-de-prova<br />
após um percurso equivalente a 1000 m. A Figura 11 apresenta a disposição dos<br />
corpos-de-prova sobre o disco metálico durante o ensaio, além de detalhar um corpode-prova<br />
sendo solicitado à abrasão.<br />
Figura 11 - Ensaio de abrasão em máquina Amsler com detalhe do corpo-de-prova.<br />
3.2.4 Absorção de água<br />
O ensaio para determinação da absorção de água dos ladrilhos hidráulicos foi<br />
realizado seguindo recomendações da NBR 9778:1987 e da NBR 13818:1997. Foram<br />
utilizadas peças com dimensões de 20 x 20 x 1 cm, imersas verticalmente com o nível<br />
de água de aproximadamente 5 cm acima delas. Na data do ensaio as peças foram<br />
retiradas da cura e após secagem de superfície com toalha absorvente foi<br />
determinada a massa saturada com superfície seca de cada peça em balança com<br />
resolução de 0,01 % da massa da peça, em seguida as peças foram encaminhas para<br />
a estufa e mantidas por 24 horas a temperatura de 60 ± 5 ºC onde atingiram<br />
constância de massa em pesagens com intervalo de 4 horas, então as peças foram<br />
retiradas da estufa e após equilíbrio térmico (25 ± 5 ºC) foi determinada a massa seca<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
67<br />
de cada peça. O teor de absorção de água é porcentagem da diferença entre a peça<br />
saturada e a peça seca em relação à peça seca.<br />
3.2.5 Retração por secagem<br />
O ensaio de retração por secagem foi realizado conjuntamente com o ensaio<br />
de absorção de água medindo as peças de revestimentos hidráulicos saturadas com<br />
superfície seca, nas duas direções com dimensões de 20 cm. O equipamento utilizado<br />
para medição foi uma torre eletrônica de medição com resolução de 5 x 10 -6 m sobre<br />
base plana, onde as peças de ladrilhos hidráulicos foram apoiadas e medidas como<br />
se pode ver na Figura 12.<br />
Figura 12 - Medida de ladrilhos hidráulicos em torre eletrônica de medição.<br />
Utilizando diferentes peças para cada data de ensaio, as peças foram<br />
medidas antes e após a secagem, tomando o cuidado de aquecer as peças somente<br />
até 60º C, que simula a temperatura alcançada por esses revestimentos expostos à<br />
insolação, determinou-se a retração por secagem calculando a porcentagem de<br />
retração dos revestimentos pela diferença da peça seca com a saturada em relação à<br />
peça saturada.<br />
3.2.6 Resistência ao ataque químico<br />
O ensaio de ataque químico simula a ação de produtos químicos que<br />
normalmente entram em contato com esses revestimentos. Os reagentes utilizados<br />
foram o cloreto de amônia e o hipoclorito de sódio com aproximadamente 10 % de<br />
cloro ativo, indicados pela NBR 13818:1997. A solução que simula a ação de produtos<br />
químicos domésticos é composta de 100 g/l de cloreto de amônia, e a que simula a<br />
ação química de produtos para tratamento de água de piscina é composta de 20 mg/l<br />
de hipoclorito de sódio.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
68<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
O ensaio consiste em submeter os revestimentos à ação dos reagentes e<br />
analisar, através de avaliação visual a olho nu, qualquer alteração na superfície das<br />
peças. Na data dos ensaios as peças foram imersas verticalmente nas soluções<br />
definidas, onde permaneceram por 12 dias a uma profundidade de 25 ± 2 mm, a<br />
temperatura de 25 ± 5 ºC. As análises visuais foram realizadas antes da imersão e<br />
após a retirada das peças das soluções, mediante lavagem e secagem a temperatura<br />
e umidade ambiente.<br />
3.2.7 Resultados<br />
Para melhor apresentar as características dos revestimentos produzidos com<br />
cada mistura elaborou-se a Tabela 2, onde são apresentados os materiais utilizados e<br />
os resultados dos ensaios realizados nas idades de 3 e 28 dias.<br />
Analisando os resultados dos ensaios de avaliação dos revestimentos<br />
desenvolvidos e comparando com alguns limites estabelecido pela NBR 9457:1986,<br />
como 8 % de absorção de água e 5 MPa de módulo de resistência a flexão, pode-se<br />
observar o elevado desempenho dos ladrilhos hidráulicos estudados.<br />
Tabela 2 - Características e resultados dos ensaios de ladrilhos hidráulicos.<br />
Revestimento Hidráulico Claro Escuro<br />
Cimento CPB 40 Estrutural CP V ARI RS<br />
Adição Metacaulinita Sílica Ativa<br />
Materiais<br />
Aditivo Superplastificante Éster policarboxílico<br />
AM1 (67 %)<br />
Agregado Miúdo<br />
AM2 (23 %)<br />
AM3 (10 %)<br />
Análise visual<br />
3 dias inalterada inalterada<br />
28 dias inalterada inalterada<br />
Expansão por cura (%)<br />
Carga de ruptura à flexão (N)<br />
Módulo de resistência à flexão (MPa)<br />
Desgaste por abrasão (mm)<br />
Resistência<br />
ao ataque<br />
químico<br />
Absorção de água (%)<br />
Retração por secagem (%)<br />
3 dias 0,022 0,012<br />
28 dias 0,016 0,008<br />
3 dias 455 480<br />
28 dias 520 573<br />
3 dias 6,83 7,20<br />
28 dias 7,80 8,60<br />
3 dias 7,58 4,62<br />
28 dias 4,64 3,26<br />
3 dias 3,19 2,79<br />
28 dias 1,63 1,27<br />
3 dias 0,064 0,072<br />
28 dias 0,063 0,048<br />
Produtos químicos 3 dias alta alta<br />
domésticos 28 dias alta alta<br />
Produtos para tratamento 3 dias alta alta<br />
de água de piscina 28 dias alta alta<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
69<br />
Cabe ressaltar também a possibilidade de produção de uma grande variedade<br />
de tipos, cores, formas e texturas de revestimentos, para diversas aplicações com<br />
diferentes necessidades específicas de utilização. A Figura 13 ilustra a variedade de<br />
cores obtidas utilizando a argamassa escura e clara sem e com pigmentos.<br />
Figura 13 - Diversidade de ladrilhos hidráulicos moldados com e sem pigmento.<br />
3.3 Junção de peças<br />
Na produção atual dos ladrilhos hidráulicos, para se obter ladrilhos com<br />
figuras, as argamassas com diferentes pigmentos são misturadas ainda frescas com<br />
auxílio de moldes metálicos, isso torna a produção artesanal, pois as peças devem<br />
ser feitas uma a uma, exigindo profissionais ultra qualificados e tornando lenta a<br />
produção, que reflete no custo final do produto.<br />
Uma alternativa para acelerar o processo produtivo desses revestimentos<br />
decorados, seria utilizar peças em forma de desenhos ou figuras, previamente<br />
moldados com argamassa. A união de argamassas de diferentes idades poderia<br />
minimizar o trabalho e possibilitar maiores alternativas na produção de peças com<br />
figuras decorativas, além de propiciar a obtenção de efeitos inovadores.<br />
Esse processo de junção de peças de diferentes idades é facilitado pela<br />
utilização de adições aglomerantes, como é o caso da sílica ativa Fe-Si e da<br />
metacaulinita, e o conseqüente tratamento da zona de interface possibilitado pelo<br />
efeito micro-filer e pela reação pozolânica. Fagury (2002) demonstrou que a utilização<br />
de a sílica ativa Fe-Si possibilita o tratamento da zona de interface permitindo que a<br />
ligação de um concreto de alto desempenho (novo) com um concreto convencional<br />
(velho), seja mais resistente que o próprio concreto convencional.<br />
Para verificar a possibilidade de junção de peças produzidas com a<br />
argamassa desenvolvida nessa pesquisa, inicialmente moldaram-se elementos<br />
hidráulicos em fôrma plástica com a argamassa clara e diferentes pigmentos, em<br />
seguida os elementos foram cortados com serra policorte com disco rotativo<br />
diamantado, e posicionados na fôrma ocupando metade do espaço, por fim a metade<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
70<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
vazia das fôrmas foi preenchida com argamassa composta com outros pigmentos<br />
para facilitar a análise da interface.<br />
Após moldagem e cura, as peças foram desmoldadas, quando foi possível<br />
comprovar a possibilidade da junção dos elementos hidráulicos de diferentes idades,<br />
pois a interface entre a peça velha e a nova apresentou-se regular e contínua sem<br />
qualquer irregularidade ou falha de moldagem. A Figura 14 apresenta os elementos<br />
após a junção, demonstrando a boa qualidade da interface de união.<br />
Figura 14 - Elementos hidráulicos após junção de argamassas em diferentes idades.<br />
Portanto, peças de argamassa em forma de desenhos ou figuras, podem ser<br />
utilizadas na produção de ladrilhos decorados, unindo argamassas de diferentes<br />
idades para se obter desenhos ou efeitos, dispondo as peças de figuras na fôrma final<br />
para em seguida moldar o elemento em sua dimensão final.<br />
3.4 Restauração dos revestimentos<br />
Os ladrilhos hidráulicos são revestimentos moldados a frio que possuem toda<br />
a espessura, ou parte dela, composta pelo mesmo material (argamassa), diferente da<br />
maioria dos revestimentos cerâmicos que apresentam somente uma película<br />
esmaltada na superfície aparente. Essa característica possibilita que esses<br />
revestimentos hidráulicos sejam recuperados após o desgaste da superfície aparente.<br />
Com o intuito de confirmar a possibilidade de recuperação da superfície<br />
aparente dos ladrilhos hidráulicos, submeteram-se ladrilhos de 20 x 20 cm e 10 mm<br />
de espessura, ao processo de polimento semelhante ao utilizado em rochas<br />
ornamentais. Esse processo consiste em lixar, utilizando lixadeira elétrica, a superfície<br />
do revestimento como uma seqüência de lixas, partindo de uma lixa grossa até<br />
alcançar a lixa fina utilizada no polimento.<br />
A Figura 15 mostra os ladrilhos hidráulicos, produzidos com argamassa clara<br />
e escura, após recuperação de superfície pelo processo descrito. Através da análise<br />
da superfície restaurada do ladrilho é possível dizer que a vida útil desses<br />
revestimentos pode ser prolongada, utilizando um processo de polimento já difundido<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
71<br />
no mercado. Processos semelhantes ao descrito são utilizados em pisos de madeira,<br />
em rochas ornamentais e até mesmo em concretos polidos. Portanto, quando os<br />
revestimentos hidráulicos chegam ao fim de sua vida útil, após um grande tempo de<br />
utilização, eles podem ser recuperados sem qualquer perda de suas características<br />
ornamentais e mecânicas, pois as características da argamassa são semelhantes em<br />
toda a espessura do revestimento.<br />
Figura 15 - Ladrilhos hidráulicos após restauração de superfície.<br />
3.5 Custo de materiais<br />
Para uma análise inicial do custo dos revestimentos desenvolvidos nesse<br />
estudo, determinou-se o custo dos materiais que compõem os revestimentos<br />
produzidos com argamassa clara e escura. Primeiramente determinou-se o custo de<br />
material por metro cúbico de cada argamassa, em seguida considerou-se a espessura<br />
dos revestimentos igual a 10 mm para o cálculo do custo de material por metro<br />
quadrado de cada tipo de revestimento.<br />
Tabela 3 - Custo dos materiais que compõem a mistura clara.<br />
Custo Consumo Custo<br />
Venda Preço Consumo<br />
Material<br />
Unidade Preço<br />
/ Kg / m 3 / m 3 / m 2 / m 2<br />
(R$) (R$) (Kg) (R$) (Kg) (R$)<br />
CPB 40 Estrutural 25 Kg 18,00 0,70 648,78 454,15 6,488 4,54<br />
Metacaulinita Branca 20 Kg 12,00 0,60 54,41 32,65 0,544 0,33<br />
Aditivo Superplastificante 20 Kg 200,00 10,00 16,17 161,70 0,162 1,62<br />
Areia (AM1) 5 m 3 64,00 0,01 957,72 8,34 9,577 0,08<br />
Areia (AM2) 5 m 3 70,00 0,01 328,77 3,34 3,288 0,03<br />
Areia (AM3) 1 Ton 500,00 0,50 142,94 71,47 1,429 0,71<br />
Custo de material /m 3 de argamassa e /m 2 de revestimento 731,64 7,32<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
72<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
Nessa análise inicial não foram consideradas as perdas de argamassa, o<br />
custo de fôrmas, ou qualquer custo produtivo como mão-de-obra, maquinário, infraestrutura<br />
ou impostos. Outro fator que não foi considerado foi o custo de pigmentos,<br />
devido a grande variedade de combinações e teores possíveis. Portanto foi<br />
determinado o custo dos revestimentos caracterizados, produzidos com argamassa<br />
clara e escura.<br />
Na Tabela 3 e na Tabela 4 que seguem, estão detalhados os materiais<br />
utilizados em cada mistura, seus respectivos preços por unidade de venda e por Kg, o<br />
consumo e custo de cada material por metro cúbico de argamassa e por metro<br />
quadrado de revestimento, além do custo total de materiais por metro cúbico de<br />
argamassa e por metro quadrado de revestimento.<br />
Apesar do custo por metro cúbico de argamassa ser maior que o custo de<br />
concretos ou argamassa convencionais, ele não representa um custo elevado dos<br />
revestimentos devido a seu emprego final e a sua espessura reduzida. Também cabe<br />
ressaltar que apesar do custo da metacaulinita ser inferior ao da sílica ativa Fe-Si, o<br />
custo da argamassa clara é superior devido ao maior custo do cimento Portland<br />
branco estrutural e sua maior representatividade no custo final da argamassa.<br />
Custo Consumo Custo<br />
Tabela 4 - Custo dos materiais que compõem a mistura escura.<br />
Venda Preço Consumo<br />
Material<br />
Unidade Preço<br />
/ Kg / m 3 / m 3 / m 2 / m 2<br />
(R$) (R$) (Kg) (R$) (Kg) (R$)<br />
CP V ARI RS 40 Kg 12,00 0,30 652,11 195,63 6,521 1,96<br />
Sílica Ativa de Fe-Si 25 Kg 20,00 0,80 44,46 35,57 0,445 0,36<br />
Aditivo Superplastificante 20 Kg 200,00 10,00 11,15 111,50 0,112 1,12<br />
Areia (AM1) 5 m 3 64,00 0,01 964,08 8,39 9,641 0,08<br />
Areia (AM2) 5 m 3 70,00 0,01 330,95 3,36 3,310 0,03<br />
Areia (AM3) 1 Ton 500,00 0,50 143,89 71,95 1,439 0,72<br />
Custo de material /m 3 de argamassa e /m 2 de revestimento 426,40 4,26<br />
4 CONCLUSÕES<br />
Com base no desenvolvimento experimental e nos resultados dos ensaios<br />
realizados conclui-se que o objetivo de produzir revestimentos hidráulicos para pisos e<br />
paredes, de alto desempenho e alta resistência, a partir da tecnologia utilizada no<br />
desenvolvimento do concreto de alto desempenho, foi alcançado.<br />
De maneira mais específica pode-se afirmar que os revestimentos hidráulicos<br />
produzidos com as argamassas de alto desempenho elaboradas, apresentam elevada<br />
resistência à compressão, elevado módulo de elasticidade, resistência à abrasão<br />
compatível, baixíssima absorção de água, alta resistência à ação química, baixa<br />
retração por secagem, elevada resistência à flexão, e bom acabamento superficial.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho<br />
73<br />
5 AGRADECIMENTOS<br />
Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São<br />
Paulo (FAPESP) pelos apoios concedidos.<br />
6 REFERÊNCIAS<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. (1994). NBR 5738 –<br />
Moldagem e cura de corpos-de-prova de concreto cilíndricos ou prismáticos. Rio<br />
de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. (1994). NBR 5739 –<br />
Concreto – Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. (1991). NBR 7215 –<br />
Cimento Portland – Determinação da resistência à compressão. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. (1994). NBR 7222 –<br />
Argamassa e concreto – Determinação da resistência à tração por compressão<br />
diametral de corpos-de-prova cilíndricos. São Paulo.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. (1983). NBR 7810 –<br />
Agregado em estado compactado e seco – Determinação da massa unitária. Rio<br />
de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. (1984). NBR 8522 –<br />
Concreto – Determinação do módulo de deformação estática e diagrama tensãodeformação.<br />
São Paulo.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. (1986). NBR 9457 –<br />
Ladrilhos hidráulicos – Especificação. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. (1987). NBR 9778 –<br />
Argamassa e concreto endurecidos – Determinação da absorção de água por<br />
imersão – Índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. (1992). NBR 12042 –<br />
Materiais inorgânicos – Determinação do desgaste por abrasão. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. (1997). NBR 13818 –<br />
Placas cerâmicas para revestimento – Especificação e métodos de ensaios. Rio<br />
de Janeiro.<br />
BOMFIM, D. A. (2005). Um novo método para dosagem de concretos estruturais<br />
de cimento Portland. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Ciência e Engenharia de<br />
Materiais – Universidade Federal de São Carlos.<br />
CATOIA, T. (2007). Ladrilhos e revestimentos hidráulicos de alto desempenho.<br />
São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos –<br />
Universidade de São Paulo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, , v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
74<br />
Thiago Catoia & Jefferson Benedicto Libardi Libório<br />
FAGURY, S. C. (2002). Concretos e pastas de elevado desempenho: contribuição<br />
aos estudos de reparos estruturais e ligações entre concretos novo e velho, com<br />
tratamento da zona de interface. São Carlos. Dissertação (Mestrado) –<br />
Interunidades em Ciências e Engenharia de Materiais, EESC / IQSC / IFSC –<br />
Universidade de São Paulo.<br />
HELENE, P. R. L.; TERZIAN, P. (1992). Manual de dosagem e controle do<br />
concreto. São Paulo: Pini, 349p.<br />
LACERDA, C.S. (2005). Estudo da influência da substituição de cimento Portland<br />
por metacaulim em concretos. São Paulo. Dissertação (Mestrado) – Escola<br />
Politécnica, Universidade de São Paulo.<br />
MEDEIROS, F.; CAPPI, T.; PALHAIS, M. (2003). Ladrilhos hidráulicos: nasce um<br />
clássico. Revista Casa e Jardim, n. 578. São Paulo: Globo, mar. 2003.<br />
MELO, A. B. (2000). Influência da cura térmica (vapor) sob pressão atmosférica<br />
no desenvolvimento da microestrutura dos concretos de cimento Portland. São<br />
Carlos. Tese (Doutorado) – Interunidades em Ciências e Engenharia de Materiais,<br />
EESC / IQSC / IFSC – Universidade de São Paulo.<br />
OLIVEIRA, I. R. et al. (2000). Dispersão e empacotamento de partículas: princípios<br />
e aplicações em processamento cerâmico. São Paulo: Fazendo Arte Editorial,<br />
195p.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 53-74, 2008
ISSN 1809-5860<br />
PLÁSTICOS RECICLADOS PARA ELEMENTOS<br />
ESTRUTURAIS<br />
Ricardo Alves Parente 1 & Libânio Miranda Pinheiro 2<br />
Resumo<br />
Apresenta-se uma reunião da literatura existente, enfocando o estado da arte e os<br />
avanços obtidos no emprego do plástico, reciclado ou não, com função estrutural, na<br />
construção civil. São discutidos alguns aspectos pertinentes a um projeto de<br />
Engenharia e, posteriormente, apresentados alguns conceitos e considerações<br />
específicos a um projeto de estruturas de material plástico. Ao fim deste trabalho, podese<br />
concluir que o mercado dos elementos estruturais de plástico reciclado é um nicho a<br />
ser explorado e, como a pesquisa sobre o tema é ainda incipiente, há muito a ser<br />
estudado, pesquisado e, posteriormente, desenvolvido. Pode-se afirmar que a baixa<br />
rigidez do plástico reciclado frente aos materiais de construção tradicionais é a sua<br />
maior deficiência. O seu comportamento viscoelástico, dependente do tempo, e a sua<br />
sensibilidade à variação de temperatura tornam complexo o dimensionamento com esse<br />
material, desencorajando o seu emprego pelos projetistas de estruturas. Desde que<br />
sejam desenvolvidas formas de se contornar essas deficiências, como a adição de<br />
fibras, o emprego de armaduras de protensão nos elementos estruturais e a aplicação<br />
de aditivos, o plástico reciclado como elemento estrutural mostra-se não só<br />
tecnicamente viável, é também bastante promissor.<br />
Palavras-chave: plásticos reciclados; propriedades; elementos estruturais; projeto.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
É difícil imaginar o mundo moderno sem o uso dos plásticos. Desde a<br />
descoberta do primeiro plástico sintético, no início do século XX, eles vêm sendo<br />
aperfeiçoados e aplicados com sucesso, nas mais diversas atividades do ser humano.<br />
Formados a partir de longas cadeias de macromoléculas, ou polímeros, eles<br />
possuem propriedades que os tornam atrativos em relação a outros materiais: são<br />
leves, resilientes (resistem ao impacto sem se deformar definitivamente), indiferentes à<br />
deterioração por decomposição e por ataque de microorganismos, resistentes à<br />
corrosão, de fácil processamento e de reduzido custo de manutenção.<br />
Segundo Nielsen e Landel (1994), a maioria dos plásticos é aplicada em função<br />
das características mecânicas e do custo. Por essa razão, as propriedades mecânicas<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
76<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
são as mais importantes das propriedades físicas e químicas consideradas.<br />
Projetar elementos de plástico exige, ao menos, um conhecimento elementar do<br />
comportamento mecânico e de que forma esse comportamento pode variar em função<br />
de fatores estruturais que podem ser modificados nos polímeros.<br />
No entanto, essa liberdade possibilitada pelos plásticos é vista como uma<br />
confusa complexidade (NIELSEN e LANDEL, 1994). É necessária uma avaliação dos<br />
diversos aspectos que afetam o comportamento estrutural, bem como a reunião e a<br />
organização do conhecimento existente e o estado da arte. Dessa maneira, algumas<br />
contribuições deste trabalho são a desmistificação e a divulgação dos elementos<br />
estruturais de termoplásticos reciclados, junto às comunidades técnica e acadêmica.<br />
Nas propriedades mecânicas, a dependência do tempo e da temperatura é<br />
bastante acentuada. Isto se deve à natureza viscoelástica, que implica no<br />
comportamento dual de um líquido viscoso e de um sólido elástico. Nos sistemas<br />
viscosos, o trabalho é dissipado sob a forma de calor, enquanto que nos sistemas<br />
elásticos, é acumulado sob a forma de energia potencial (NIELSEN e LANDEL, 1994).<br />
É função do engenheiro de estruturas o estudo dos materiais que constituem a<br />
estrutura a ser projetada, para que haja uma concepção racional e uso otimizado dos<br />
recursos disponíveis. Em paralelo, com o avanço da ciência dos materiais e com o<br />
empenho do homem em buscar melhorias, novos materiais foram desenvolvidos. Com<br />
essa diversidade, a escolha do material tem se tornado, no projeto, um aspecto crítico<br />
na busca pela solução estrutural mais adequada.<br />
Este artigo é baseado na dissertação de mestrado de Parente (2006), na qual<br />
podem ser encontrados maiores detalhes sobre os assuntos aqui tratados.<br />
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS<br />
Um projeto estrutural exige o conhecimento das propriedades mecânicas para<br />
definir o comportamento e adequar, com mais precisão, técnicas e métodos de análise<br />
e de previsão do desempenho do material, sob as ações de projeto.<br />
Os plásticos se comportam de maneira diferente da madeira, do aço e do<br />
concreto. Quando se objetiva viabilizar o plástico como material estrutural, é<br />
importante tratar minuciosa e claramente os fundamentos teóricos que tratam das<br />
suas propriedades mecânicas e dos seus modelos preditivos.<br />
2.1 Tipos de comportamento<br />
A figura 1 ilustra a diferença do diagrama da deformação ao longo do tempo para<br />
materiais elástico, viscoso e viscoelástico, quando sujeitos a tensão constante. Essa<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
77<br />
tensão é aplicada no tempo t = 0 e mantida constante em um tempo t 1<br />
(figura 1a).<br />
Como mostrado na figura 1b, a resposta da deformação de um corpo-de-prova<br />
elástico tem a mesma forma da tensão aplicada. Na aplicação da força, a deformação<br />
alcança, instantaneamente, certo valor ε<br />
0<br />
e permanece constante.<br />
Figura 1 - Comparação da deformação para os materiais elástico, viscoso e viscoelástico<br />
submetidos a uma tensão constante durante o tempo t 1 . Fonte: HADDAD, 1995.<br />
Para um fluido viscoso (figura 1c), o material flui a uma taxa constante e a<br />
resposta da deformação é proporcional ao tempo.<br />
Já para o corpo-de-prova viscoelástico (figura 1d), existe um aumento<br />
relativamente rápido nas deformações, para pequenos valores de t , imediatamente<br />
após a aplicação da força. Com o aumento de t , a inclinação da tangente à curva<br />
diminui e aproxima-se de zero ou de um valor finito, mantida uma tensão constante.<br />
Com a remoção da força no tempo t 1<br />
, as deformações recuperar-se-ão das<br />
maneiras mostradas na figura 1.<br />
O sólido perfeitamente elástico recuperar-se-á instantaneamente (figura 1b).<br />
Entretanto, com a remoção da força, o corpo-de-prova viscoelástico recuperará<br />
rapidamente a sua deformação elástica; no entanto, a parte retardada da resposta<br />
necessitará de mais tempo para se recuperar (figura 1d).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
78<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
Num estado de tensão constante, a deformação de um material viscoelástico<br />
por fluência pode ser dividida, com referência à figura 2, em três componentes<br />
(LETHERSICH, 1950 apud HADDAD, 1995):<br />
Figura 2 - Deformação de um material viscoelástico submetido a uma tensão constante durante<br />
o tempo t 1 . Fonte: HADDAD, 1995.<br />
(a) Deformação elástica instantânea ε<br />
e ( 0 +<br />
)<br />
. Essa parcela é atribuída às<br />
deformações das ligações moleculares, incluindo a deformação das ligações fracas de<br />
Van de Waals entre as cadeias moleculares. Essa deformação é reversível.<br />
(b) Deformação elástica retardada ε ( t)<br />
d<br />
. A taxa de crescimento dessa parcela<br />
da deformação diminui rapidamente com o tempo. Também é elástica, mas, depois da<br />
remoção da força, requer um tempo para uma completa recuperação. É, geralmente,<br />
chamada de “fluência primária” ou “efeito elástico posterior”.<br />
(c) Fluidez viscosa ε () t . Esse é um componente irreversível da deformação,<br />
v<br />
que pode ou não aumentar linearmente com a aplicação das tensões. Num material<br />
polimérico, é característico do escorregamento intermolecular. No descarregamento do<br />
corpo-de-prova viscoelástico no tempo t 1<br />
, a resposta elástica instantânea ocorre<br />
rapidamente e a resposta elástica retardada manifesta-se gradualmente, mas a fluidez<br />
viscosa permanece (WARD, 1983 apud HADDAD, 1995).<br />
2.2 Propriedades mecânicas<br />
Uma particularidade dos plásticos é seu caráter viscoelástico: suas propriedades<br />
mecânicas agregam características dos líquidos viscosos e dos sólidos elásticos.<br />
Essa natureza explica o seu comportamento complexo – dependente do tempo,<br />
da temperatura e da taxa de deformação.<br />
Os fenômenos da fluência e da relaxação das tensões também são verificados<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
79<br />
nos plásticos, como conseqüência da sua natureza viscoelástica. A fluência é a<br />
denominação dada ao aumento das deformações para um nível de tensões constante.<br />
O comportamento restaurador dos plásticos, quando descarregado, tem sua<br />
explicação a partir do mesmo princípio da fluência. Na relaxação, ou seja, admitida<br />
uma deformação constante ao longo do tempo, as tensões necessárias para mantê-la<br />
reduzem-se ao longo do tempo (CRAWFORD, 1987).<br />
Conforme ilustra a figura 3, quando se aplica uma força, ocorre uma primeira<br />
deformação, instantânea, que representa a parcela elástica (intervalo O–A). Com a<br />
manutenção das tensões, ocorre o fenômeno da fluência, que aumenta as<br />
deformações, representando a parcela viscoelástica (intervalo A–B). A restauração<br />
das deformações, quando se descarrega o material, ocorre de maneira similar. Temse,<br />
inicialmente, uma parcela de restauração elástica (intervalo B–C) e, ao longo do<br />
tempo, a restauração viscoelástica (intervalo C–D).<br />
Figura 3 - Fluência e recuperação de um material plástico. Fonte: CRAWFORD, 1987.<br />
Assim como para os metais, a fadiga dos plásticos também deve ser<br />
considerada. O carregamento cíclico pode provocar a degradação do material,<br />
fazendo-o chegar à ruptura com forças inferiores à de um carregamento estático. A<br />
fluência pode também levar o material à ruptura, como conseqüência das deformações<br />
excessivas. Esse fenômeno é conhecido como fadiga estática (CRAWFORD, 1987).<br />
As propriedades mecânicas supracitadas, no entanto, podem variar em função<br />
de vários fatores, tanto externos como intrínsecos ao material. A tabela 1 sumariza<br />
algumas causas e os efeitos no módulo de elasticidade e na dutilidade.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
80<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
Tabela 1 - Relações entre a rigidez e a dutilidade. Fonte: CRAWFORD, 1987.<br />
Causa<br />
Efeito<br />
Módulo de Elasticidade<br />
Dutilidade<br />
Redução da temperatura ↑ aumenta ↓ diminui<br />
Aumento da taxa de deformação ↑ aumenta ↓ diminui<br />
Campo multiaxial de tensões ↑ aumenta ↓ diminui<br />
Incorporação de plastificante 1 ↓ diminui ↑ aumenta<br />
Incorporação de material emborrachado ↓ diminui ↑ aumenta<br />
Incorporação de fibras de vidro ↑ aumenta ↓ diminui<br />
Incorporação de material particulado ↑ aumenta ↓ diminui<br />
1- Substância adicionada ao plástico com a função de torná-lo mais flexível.<br />
3 ESTADO DA ARTE<br />
O uso dos materiais poliméricos tem se intensificado nas últimas décadas,<br />
principalmente devido ao avanço da ciência dos materiais, às melhorias agregadas ao<br />
processamento dos plásticos e ao desenvolvimento dos materiais compósitos.<br />
Desde 1988, nos Estados Unidos, pesquisas têm sido desenvolvidas com o<br />
intuito de entender o comportamento do plástico reciclado, para a substituição em<br />
diversas aplicações na construção civil que, anteriormente, eram exclusivas da<br />
madeira.<br />
O progresso obtido reflete-se nas normas da ASTM, nos métodos de ensaios<br />
desenvolvidos e nos diversos produtos que surgiram: mourões, postes, dormentes de<br />
ferrovias e estruturas de portos, marinas e pontes (LAMPO e NOSKER, 2001).<br />
Krishnaswamy et al. (1997), a pedido do Departamento de Recursos Naturais de<br />
Ohio, nos Estados Unidos, realizaram ensaios em paletes de plástico reciclado (PPR).<br />
No relatório que descreve desde a concepção da forma do palete, a sua comparação<br />
com outros materiais, a análise do comportamento mecânico e o estudo de viabilidade<br />
econômica, Krishnaswamy et al. obtêm as seguintes conclusões:<br />
• Os PPR’s são uma opção viável e, dependendo da capacidade de carga<br />
requerida no projeto, podem ser dimensionados para casos particulares;<br />
• O desempenho dos PPR’s em laboratório e em campo alcança e até excede<br />
o de paletes de madeira e de aço galvanizado. A integridade estrutural e as<br />
características de durabilidade são excelentes;<br />
• Apesar de o custo inicial ser maior que o dos outros materiais, o desempenho<br />
e a vida útil viabilizam os PPR’s, tornando-os comercialmente aceitáveis.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
81<br />
Sullivan e Wolfgang (1999) desenvolveram um compósito polimérico a partir de<br />
plástico reciclado, um componente polimérico emborrachado e um de preenchimento<br />
contendo mica.<br />
O material resultante é sugerido para diversos usos na construção: dormentes<br />
de ferrovias, meio-fios de estacionamentos e estacas em marinas. Ainda, segundo os<br />
autores, um dos benefícios do uso do plástico é a combinação de baixo peso e<br />
adequada resistência. As propriedades químicas, elétricas e físicas podem ser<br />
modificadas de acordo com o critério de utilização dos materiais componentes.<br />
Pesquisadores da AMIPP, Centro de Materiais Avançados via Processamento de<br />
Polímeros Imiscíveis, da Universidade Rutgers em New Jersey/EUA, têm conseguido<br />
sucesso no desenvolvimento e na aplicação de materiais plásticos em estruturas.<br />
Nosker e Renfree são exemplos da inovação na AMIPP.<br />
Eles desenvolveram uma blenda, composta por 35% de poliestireno, PS, e 65%<br />
de polietileno de alta densidade, PEAD, obtendo um material mais resistente que o<br />
PEAD e mais rígido que o PS. A grande rigidez deve-se à densa estrutura molecular,<br />
resultado da interconexão do PS com o PEAD (GUTERMAN, 2003).<br />
A descoberta da blenda, a partir de dois polímeros imiscíveis, ocorreu em 1988,<br />
havendo pouco reconhecimento da comunidade científica por, aproximadamente, uma<br />
década. Em 1996, Nosker e Renfree iniciaram a construção de pequenas pontes, com<br />
o material desenvolvido. Em 1999, construiu-se uma ponte mista, de plástico e aço, no<br />
Missouri (EUA) e, dois anos depois, uma em New York, de plástico e fibra de vidro.<br />
Nosker e Renfree (1999a) desenvolveram um dormente para ferrovias a partir de<br />
um compósito de plástico reciclado. De acordo com esses autores, vários fatores<br />
limitam o uso dos dormentes tradicionais de madeira: a reduzida vida útil, devido à<br />
ação de microorganismos e da umidade; a maior rigidez das normas de controle e<br />
preservação, pois grandes áreas de florestas são necessárias para suprir o mercado<br />
de dormentes, além do uso de preservativos químicos na madeira.<br />
O dimensionamento do dormente com plástico reciclado (DCPR) baseou-se nas<br />
propriedades do tradicional dormente de madeira. Apesar do desempenho<br />
comprovado empiricamente através dos tempos, foi considerada a possibilidade de<br />
que as propriedades mecânicas da madeira não fossem otimizadas. Ensaios de flexão<br />
foram realizados com o DCPR e a resistência última e o módulo de elasticidade foram<br />
28MPa e 2069MPa, respectivamente.<br />
Os DCPR’s foram instalados em várias ferrovias, com resultados satisfatórios,<br />
sem evidências de fraturas, laminação ou quaisquer outros sinais de degradação.<br />
A empresa Polywood Plastic Lumber, de New Jersey/EUA, está utilizando a<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
82<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
tecnologia desenvolvida pela AMIPP, na fabricação de dormentes e de outros<br />
elementos estruturais. A figura 5 mostra os dormentes produzidos.<br />
Figura 5 - Dormentes de plástico reciclado produzidos pela Polywood Plastic Lumber.<br />
Além da Polywood, mais duas empresas estão investindo na fabricação de<br />
dormentes de plástico reciclado: TieTek e U.S. Plastic Lumber, ambas nos EUA.<br />
A produção das três empresas difere, mas todas partem do polietileno de alta<br />
densidade reciclado, misturado e não lavado, utilizam um sistema de extrusão e<br />
realizam uma moldagem sob pressão em moldes fechados, com a finalidade de evitar<br />
vazios no interior dos dormentes.<br />
A maioria dos processos utiliza maquinário pesado e são bastante lentos. Após o<br />
preenchimento dos moldes, eles são levados para uma banheira de resfriamento e,<br />
posteriormente, são desmoldados hidraulicamente e deixados ao ar livre para o<br />
resfriamento total.<br />
A partir do projeto e da fabricação de dormentes de compósito de plástico<br />
reciclado, Nosker e Renfree (1999b) continuaram a estudar as diversas aplicações<br />
desse material como substituto da madeira. Compararam-se as propriedades<br />
mecânicas dos elementos estruturais de plástico com as relativas aos de madeira, e<br />
observou-se que o módulo de elasticidade do plástico ainda é bastante deficiente. Isso<br />
é evidenciado quando se comparam os módulos de elasticidade do pinho, cerca de<br />
8.300MPa a 11.000MPa, com o mais alto valor obtido com o plástico, de 2.000MPa.<br />
A solução encontrada foi a adição de fibras de vidro dispostas de forma<br />
aproximadamente orientada, obtendo melhores resultados: aumento máximo de 68%<br />
na resistência e de até 176% no módulo de elasticidade.<br />
Albano e Sanchez (1999) estudaram as propriedades mecânicas e térmicas da<br />
blenda composta por polipropileno (PP) virgem e polietileno de alta densidade (PEAD),<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
83<br />
sendo este último reciclado ou não.<br />
Verificou-se que, para o módulo de elasticidade, há um pequeno sinergismo<br />
entre os materiais constituintes. Observou-se, com microscópio eletrônico, que a<br />
grande quantidade de moléculas interligadas na interface, resultado da adição do<br />
PEAD, somado ao processo de decomposição do PEAD (ruptura e conseqüentes<br />
reações de intertravamento), tornam a blenda mais rígida. Os autores mostraram a<br />
possibilidade do aproveitamento do resíduo plástico, desde que fosse verificada a<br />
influência da proporção dos plásticos constituintes, nas propriedades térmicas e<br />
mecânicas.<br />
Produtos poliolefínicos reciclados com desempenho superior ao dos materiais<br />
virgens correspondentes foram obtidos por Martins et al. (1999). Utilizando as palavras<br />
dos autores: “O balanço das reações de reticulação e cisão em cadeias poliolefínicas,<br />
quando expostas a condições ambientais de radicais livres, pode resultar em boas<br />
propriedades e novas aplicações”.<br />
O comportamento mecânico da madeira plástica por eles desenvolvida,<br />
denominada IMAWOOD (constituída basicamente por polietileno), foi melhorado por<br />
efeito da radiação gama. Outro produto desenvolvido, o IMACAR (constituído de párachoques<br />
descartados de carros), revelou alta resistência ao impacto, muito superior à<br />
do material virgem de composição correspondente.<br />
Uma explicação para esse comportamento é que a exposição de polímeros às<br />
radiações ionizantes altera a sua estrutura molecular e as suas propriedades. Ocorre a<br />
formação de ligações cruzadas entre as cadeias, paralelamente à cisão entre átomos.<br />
A reticulação provoca um aumento do peso molecular, que geralmente ocasiona<br />
melhoria das propriedades, enquanto que a cisão de cadeias reduz o seu peso, tendo<br />
como resultado a deterioração das propriedades. Como o polietileno apresenta<br />
reticulação após a irradiação, pode-se esperar uma melhoria nas suas propriedades<br />
mecânicas (MARTINS et al., 1999).<br />
Após a irradiação ao ar em intensidade crescente de exposição, o IMAWOOD<br />
apresentou um aumento em torno de 15% na resistência à tração e uma diminuição da<br />
ordem de 80% no alongamento de ruptura.<br />
Houve também um aumento crescente no módulo de elasticidade no ensaio de<br />
compressão, o que indica maior rigidez do plástico reciclado, com o aumento do tempo<br />
de exposição (MARTINS et al., 1999).<br />
Carroll et al. (2001) estudaram as propriedades estruturais dos elementos de<br />
plástico reciclado, com adição de farinha de madeira. Os autores concluíram que o<br />
material é estruturalmente satisfatório, mas não se deve simplesmente substituir o<br />
elemento de madeira pelo de plástico, com as mesmas dimensões.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
84<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
Eles enfatizam que as estruturas de compósitos plásticos devem ser<br />
projetadas como tal, e não utilizando parâmetros e conhecimentos teóricos e<br />
empíricos, válidos para outros materiais.<br />
Krishnaswamy et al. (2001a) desenvolveram um compósito polimérico e<br />
projetaram e construíram uma ponte sobre o rio Hudson, em New York/EUA. O<br />
comprimento total e a largura da ponte são, respectivamente, 9m e 3,35m.<br />
O projeto consumiu um total de 5.000kg de plástico (polietileno de alta<br />
densidade) reforçado com fibra de vidro e 2.500kg de aço para as conexões e os<br />
tirantes utilizados (KRISHNASWAMY, 2001b). A figura 6 mostra a ponte já construída.<br />
O monitoramento da ponte sob a ação das cargas de projeto é feito<br />
continuamente, por meio de dez pontos de observação. Utilizando uma referência fixa,<br />
são medidos os deslocamentos, por meio de uma estação total, com GPS (Sistema de<br />
Posicionamento Global) (KRISHNASWAMY, 2001b).<br />
Figura 6 - Ponte sobre o rio Hudson construída com plástico reforçado com fibra de vidro.<br />
Por meio de teste de carga padronizado pela AASHTO (American Association of<br />
State Highway and Transportation Officials), em abril de 2001, a uma temperatura de<br />
13ºC, o maior deslocamento, medido na parte inferior da ponte, foi de 32,5mm,<br />
denunciando a baixa rigidez do material utilizado, cerca de 20% a 30% da rigidez da<br />
madeira (KRISHNASWAMY, 2001b).<br />
De acordo com Krishnaswamy (2001b), os elementos estruturais de plástico<br />
reciclado reforçado com fibras, como os utilizados na ponte, oferecem uma alternativa<br />
economicamente viável para pequenos vãos.<br />
As vantagens são: não é um material biodegradável e não sofre corrosão de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
85<br />
qualquer espécie. Materiais ensaiados após dez anos de utilização mostraram um<br />
aumento na rigidez e na resistência.<br />
Além de ser um material ambientalmente responsável, quando se considera o<br />
custo em função da sua vida útil, o sistema construtivo torna-se competitivo.<br />
Em 2002, os pesquisadores da AMIPP, Nosker et al., construíram uma ponte<br />
inteiramente de plástico – guarda-corpos, vigas e plataforma –, com exceção dos<br />
pilares, aproveitados da estrutura de madeira anterior. Com 14m de comprimento e<br />
peso em torno de 14t, estima-se que essa ponte sobre o rio Mullica, em New Jersey,<br />
construída de material reciclado, tenha consumido 250.000 garrafas plásticas e<br />
750.000 copos de café (DOWNS, 2002; JACOBSON, 2003; SAWYER, 2003;<br />
GUTERMAN, 2003; GALIOTO, 2004). As figuras 7 e 8 ilustram a ponte e sua<br />
construção.<br />
Figura 7 - Detalhes das vigas I utilizadas na construção da ponte sobre o rio Mullica.<br />
Figura 8 - Ponte sobre o rio Mullica construída inteiramente de plástico.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
86<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
As vigas “I” utilizadas possuem uma seção de 41cm x 43cm (16” x 17”). A<br />
ponte foi projetada para suportar o peso de caminhão de até 18t. Além do apelo<br />
ecológico, com a reciclagem dos resíduos plásticos, o material constituinte da ponte é<br />
resistente à ação da água, à corrosão e ao ataque por microorganismos.<br />
A pesquisa aplicada ao desenvolvimento de novos materiais pelo grupo de<br />
pesquisadores da AMIPP e o sucesso por eles alcançado é retratado pelas patentes<br />
registradas de novos materiais e de novas metodologias de reciclagem de plásticos.<br />
A primeira delas, nº 5.298.214 de 29/03/1994 (United States Patent), trata do<br />
processamento de plásticos. Ela discorre sobre o método de obtenção de compósitos<br />
de poliestireno (PS) e de outras poliolefinas, a partir de plásticos reciclados.<br />
Em seguida, as patentes nº 5.789.477 de 04/08/1998 e nº 5.916.932 de<br />
29/06/1999 (United States Patent) registram um material compósito destinado à<br />
construção civil, obtido a partir de materiais reciclados. O compósito é obtido do<br />
polietileno de alta densidade reciclado e fibras, como, por exemplo, a fibra de vidro.<br />
A patente nº 5.951.940 de 14/09/1999 (United States Patent) fornece subsídios<br />
para o processamento adequado dos plásticos reciclados. De acordo com os<br />
inventores, todo o esforço tem sido direcionado no sentido de tornar economicamente<br />
viável o processo de reciclagem do plástico pós-consumo, sem que haja a<br />
necessidade de uma triagem, ou seja, tornar exeqüível a reciclagem de plásticos<br />
misturados, poliolefinas ou não, juntamente com as impurezas.<br />
A construção com elementos de plástico reciclado é uma realidade,<br />
principalmente nos Estados Unidos e, em menor escala, no Canadá e na Inglaterra. A<br />
tecnologia desenvolvida nas universidades já ultrapassou a escala experimental de<br />
laboratório e chegou aos pátios das fábricas, com a produção em grande escala.<br />
Figura 9 - Marina construída com pilares de plástico reciclado desenvolvido na AMIPP.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
87<br />
Figura 10 - Deque e píer com elementos de plástico reciclado (Plastic Lumber Yard/EUA).<br />
As figuras 9 e 10 indicam amostras do que está sendo feito no mundo,<br />
comercialmente, e indicam um cenário que não deve ser ignorado, a dos elementos<br />
estruturais de material plástico reciclado.<br />
Dentre os tipos de processamento, o mais adequado à produção de perfis com<br />
fins estruturais é a pultrusão. Correia et al. (2005) ensaiaram perfis pultrusados e<br />
verificaram as mudanças ocorridas nas propriedades físicas, químicas, mecânicas e<br />
estéticas, quando submetidos à exposição acelerada de umidade, temperatura e<br />
radiação ultravioleta. O material estudado que compunha os perfis era o poliéster<br />
reforçado com fibra de vidro (GFRP). A partir dos resultados dos ensaios, concluiu-se<br />
que a resistência e a deformação na ruptura diminuíram com a umidade, e este efeito<br />
foi acelerado pelo aumento da temperatura.<br />
Correia et al. (2005) salientaram que a degradação ocorreu devido a um<br />
fenômeno físico, como a plastificação da matriz polimérica, não havendo uma<br />
degradação química passível de ser considerada. Apesar da redução dos valores das<br />
propriedades mecânicas, observados nos ensaios de durabilidade, a pesquisa<br />
confirmou que os perfis pultrusados de GFRP apresentaram excelente desempenho<br />
estrutural, indicando durabilidade maior, em comparação com materiais tradicionais.<br />
4 O PROJETO DE ESTRUTURAS DE MATERIAL PLÁSTICO<br />
A proposição de um novo sistema estrutural ou a substituição parcial de<br />
elementos tradicionais por outros de plástico deve vir seguida do estudo da alteração<br />
que será necessária na arquitetura, até para definir em quais soluções o plástico pode<br />
ser aplicado. Talvez um dos fatores mais importantes a se considerar seja o vão que<br />
pode ser alcançado com essa estrutura. De certa forma, é um problema de natureza<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
88<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
arquitetônica, e que evidencia a dependência óbvia entre estrutura e arquitetura.<br />
Além de manter a estabilidade da obra, o novo material deve também atender às<br />
condições de serviço. No caso dos plásticos, talvez o fator mais limitante seja a<br />
temperatura. Nos materiais viscoelásticos, à medida que se aumenta a temperatura,<br />
diminui-se o módulo de elasticidade. Em se tratando de materiais estruturais, a perda<br />
de rigidez torna-se crítica, pois é indesejável que surjam deformações excessivas,<br />
causa de desconforto aos usuários e até do colapso da estrutura.<br />
O uso de materiais combinados ou compósitos poliméricos contorna algumas<br />
deficiências dos plásticos, como a baixa rigidez e a suscetibilidade à variação de<br />
temperatura. Esses compósitos, antes aplicados exclusivamente na indústria<br />
aeronáutica e aeroespacial, passam a ser cada vez mais utilizados na construção civil,<br />
atendendo aos desafios impostos pela arquitetura cada vez mais arrojada e aos<br />
requisitos de durabilidade e de alto desempenho.<br />
O emprego de reforços é um conceito que tem sido extensivamente aplicado<br />
pelos projetistas, e com os materiais plásticos não é diferente. Desde o uso pelos<br />
egípcios de fibras naturais como reforço em estruturas de argila, os materiais<br />
compósitos atendem às demandas por soluções na área da construção.<br />
Por exemplo, a combinação de aço e concreto, formando concreto armado, tem<br />
sido a base para inúmeros sistemas estruturais adotados desde o início do século XX.<br />
Os projetistas, contudo, continuam a utilizar novos materiais, com o intuito de tornar as<br />
estruturas mais resistentes, maiores, mais duráveis, energeticamente eficientes e<br />
esteticamente agradáveis (LOPEZ-ANIDO e NAIK, 2000).<br />
4.1 Propriedades do plástico<br />
Para uma correta concepção da estrutura, visando o aproveitamento das<br />
vantagens do material plástico, certas propriedades devem ser observadas, a<br />
depender do fim a que se destina a estrutura, pois devem ser levadas em<br />
consideração as peculiaridades desse material, cujo comportamento é bastante<br />
diferente dos relativos aos metais, à madeira e ao concreto.<br />
As propriedades mais relevantes em um projeto estrutural são:<br />
• Resistência à tração, à compressão e à flexão;<br />
• Módulo de Elasticidade (para diversas temperaturas);<br />
• Coeficiente de Poisson;<br />
• Resistência ao impacto e à fadiga;<br />
• Fluência;<br />
• Relaxação;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
89<br />
• Absorção de água;<br />
• Temperatura de transição vítrea - T<br />
g<br />
;<br />
• Coeficiente de expansão térmica.<br />
O projetista que deseja dimensionar elementos estruturais deve fazer, durante o<br />
desenvolvimento do projeto estrutural, as seguintes perguntas:<br />
• Qual o nível de tensões a que o material será submetido?<br />
• Qual a solicitação predominante (tração, compressão, flexão, torção)?<br />
• Qual a vida útil esperada para a estrutura?<br />
• Será a estrutura submetida ao impacto?<br />
• Será a estrutura submetida a um carregamento cíclico (fadiga)?<br />
• Qual é a deformação admissível para a estrutura em questão?<br />
• Qual a máxima temperatura a que o plástico será submetido?<br />
• Será o plástico exposto à umidade e a substâncias químicas?<br />
4.2 Limitações de uma estrutura de material plástico<br />
A seguir são mostradas algumas das principais limitações do uso do material<br />
plástico em elementos estruturais.<br />
a) Inflamabilidade e influência da temperatura<br />
Para que o material plástico possa ser utilizado com segurança em edificações,<br />
podem-se utilizar normas específicas que prevejam o cuidado com a inflamabilidade<br />
das estruturas.<br />
A adição de produtos químicos retardantes de chama, durante a manufatura dos<br />
plásticos, é uma forma de se evitar o perigo de incêndio em estruturas com elementos<br />
de material plástico.<br />
O dimensionamento de uma estrutura de plástico, em função de sua baixa<br />
rigidez, deverá ser regido pelo estado limite de serviço, sendo a deformação o fator<br />
limitante de projeto.<br />
A perda da rigidez dos plásticos com a diminuição de seu módulo de<br />
elasticidade, à medida que se aumenta a temperatura, deve ser considerada em<br />
projeto.<br />
Por exemplo, um plástico como o poliestireno possui quatro estágios de<br />
deformação com o aumento da temperatura, como mostra a figura 11. O impacto da<br />
variação de temperatura sobre os plásticos é, talvez, o maior entrave à sua aplicação<br />
em estruturas, apesar de fibras reduzirem bastante essa influência.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
90<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
Figura 11 - Módulo de elasticidade E versus temperatura. Fonte: PRINGLE e BAKER, 2000.<br />
b) Estabilidade aos raios ultravioletas (UV)<br />
Ao ser aplicado em elementos estruturais que, porventura, estarão expostos ao<br />
sol, deve-se observar a resistência dos plásticos aos efeitos dessa exposição. Isso<br />
porque a radiação ultravioleta pode tornar o plástico, antes durável e resistente, num<br />
material que se quebra ou se rompe sob uma força aplicada, e este é um processo<br />
irreversível (PRINGLE e BAKER, 2000).<br />
Como a deterioração em função dos raios UV é bastante lenta, são realizados<br />
ensaios utilizando luz artificial para acelerar o processo, para se medir essa<br />
estabilidade. Existem, no entanto, produtos químicos chamados de estabilizantes que<br />
retardam o efeito da radiação, minimizando bastante os efeitos maléficos que podem<br />
vir a surgir.<br />
Os plásticos reciclados podem conter estabilizantes UV, mas não é possível ter<br />
essa certeza, a não ser que sejam realizados ensaios que possam detectar essas<br />
substâncias, o que não é prático. De qualquer forma, raramente é possível determinar<br />
a quantidade de estabilizante utilizado e a degradação que o plástico já sofreu. Por<br />
isso, em algumas aplicações, para se garantir maior vida útil, utiliza-se uma proporção<br />
de material virgem com o material reciclado (PRINGLE e BAKER, 2000).<br />
Lynch et al. (2001) verificaram quais foram as mudanças nas propriedades<br />
mecânicas de elementos estruturais de material plástico reciclado, mais precisamente<br />
polietileno de alta densidade (PEAD), expostos ao sol e às intempéries por 11 anos.<br />
Os resultados, contudo, mostram um prognóstico positivo para a utilização de plástico<br />
reciclado, ao menos para o tipo de plástico estudado, o PEAD.<br />
Houve um clareamento superficial em função da radiação UV no lado que estava<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
91<br />
exposto ao sol. A radiação ainda provocou uma minúscula degradação da superfície<br />
do PEAD, da ordem de 0,075mm/ano. No entanto, o clareamento e a minúscula<br />
degradação superficial não afetaram as propriedades mecânicas do material.<br />
A figura 12 permite comparar os lados do elemento estrutural, sendo o de cima o<br />
exposto ao sol, e o de baixo o que não foi submetido a essa exposição. A figura 13<br />
mostra a estrutura da passarela, da qual foi retirado o material para os ensaios.<br />
Figura 12 - Clareamento do PEAD como resultado da radiação UV. Fonte: LYNCH et al., 2001.<br />
Figura 13 - Passarela de onde foi retirado o material para ensaio. Fonte: LYNCH et al., 2001.<br />
Lynch et al. (2001) concluíram, após verificar um aumento de 3% no módulo de<br />
elasticidade e na resistência à flexão, que as mudanças climáticas ao longo dos 11<br />
anos aumentaram o grau de cristalização do plástico, e que essa redução das regiões<br />
amorfas contribuíram para o aumento da rigidez e da resistência do PEAD reciclado.<br />
c) Resistência aos solventes<br />
Em algumas aplicações, deve-se verificar se o plástico será exposto a solventes,<br />
como, por exemplo, o contato com combustíveis ou outros derivados do petróleo, haja<br />
vista que isso pode comprometer a sua integridade.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
92<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
O mesmo cuidado deve ser dedicado aos plásticos reciclados e, caso<br />
necessário, o material deve ser processado de forma a melhorar sua resistência frente<br />
aos solventes (PRINGLE e BAKER, 2000).<br />
5 CONCLUSÕES<br />
Ao se introduzir um material estrutural alternativo como o plástico reciclado,<br />
desmistifica-se para a comunidade científica e para a sociedade o seu potencial e as<br />
suas vantagens que, dentre as várias, podem-se citar: o forte apelo ecológico, o baixo<br />
peso específico, a indiferença à deterioração por decomposição e por ataque de<br />
microorganismos, a alta resistência à corrosão, o fácil processamento e o reduzido<br />
custo de manutenção.<br />
A abundância de material plástico reciclado a baixo custo é uma alternativa a ser<br />
explorada em estruturas, e não deve mais ser desconsiderada.<br />
A pesquisa sobre o tema no Brasil é incipiente e a escassez de uma bibliografia<br />
nacional evidencia esse atraso. No entanto, em países como Estados Unidos, Japão e<br />
Canadá, os avanços na área são notáveis, tornando possível a construção de pontes,<br />
passarelas, deques, ferrovias e marinas com elementos estruturais de plástico,<br />
reciclado ou não.<br />
Com base no que foi abordado neste artigo, pode-se fazer observações<br />
indicadas nos parágrafos seguintes.<br />
Os materiais plásticos possuem uma baixa rigidez quando comparados com os<br />
materiais de construção tradicionais, como a madeira, o aço e o concreto.<br />
A adição de fibras aumenta substancialmente o módulo de elasticidade. Além<br />
disso, a adição de fibras pode ser empregada também para atenuar os fenômenos<br />
dependentes do tempo, como a fluência e a relaxação.<br />
A baixa rigidez também pode ser compensada com o emprego de armaduras<br />
protendidas ou com o desenvolvimento de geometrias ótimas, aproveitando a alta<br />
relação resistência/densidade desses materiais.<br />
Uma das principais vantagens dos plásticos, quando comparados aos materiais<br />
tradicionais, é a sua possibilidade de ser moldado nas mais diversas formas, não<br />
exigindo soldas ou outros processos de conformação, para a obtenção do produto<br />
final. Enquanto um perfil metálico possui diversas etapas para a sua manufatura, um<br />
perfil de material plástico pode ser confeccionado numa única etapa.<br />
A relação resistência/densidade para os materiais plásticos, principalmente os<br />
compósitos poliméricos, é superior à dos materiais tradicionais. Esse peso reduzido<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
93<br />
permite um melhor aproveitamento da capacidade estrutural do elemento e a<br />
adoção de um sistema estrutural mais eficiente.<br />
As características de um plástico podem ser desenvolvidas a partir das<br />
necessidades de projeto, sendo esta possibilidade uma diferença básica perante os<br />
materiais tradicionais, que normalmente requerem que os projetos sejam adequados<br />
às propriedades mecânicas disponíveis comercialmente.<br />
Os termoplásticos possuem o comportamento dependente da temperatura e da<br />
taxa de deformação. A temperatura pode ser considerada um fator limitante.<br />
Nos materiais viscoelásticos, à medida que se aumenta a temperatura, diminui o<br />
seu módulo de elasticidade. Em se tratando de materiais estruturais, a perda de<br />
rigidez torna-se crítica, pois é indesejável o surgimento de deformações excessivas,<br />
causando desconforto aos usuários e até mesmo o colapso da estrutura.<br />
Antes de se projetar uma estrutura de plástico, deve-se observar com que<br />
intensidade os elementos estruturais estarão expostos ao calor, fazendo-se o<br />
dimensionamento para a pior condição possível, ou seja, a maior temperatura.<br />
A inflamabilidade dos plásticos deve ser considerada. Para que o material<br />
plástico possa ser utilizado com segurança em edificações, devem ser utilizadas<br />
normas que prevejam o cuidado com a inflamabilidade dessas estruturas e, até<br />
mesmo, o emprego de instalações especiais de combate ao incêndio.<br />
A adição de produtos químicos retardantes de chama é uma forma de se atenuar<br />
o perigo de incêndio em estruturas com elementos de material plástico.<br />
Outra solução é a utilização de uma camada protetora, de material isolante.<br />
6 AGRADECIMENTOS<br />
À CAPES, pela bolsa de mestrado.<br />
7 REFERÊNCIAS<br />
ALBANO, C.; SANCHEZ, G. (1999). Study of mechanical, thermal and<br />
thermodegradative properties of virgin PP with recycled and non-recycled HDPE.<br />
Polymer Engineering and Science, v. 39, Aug. 1999.<br />
CARROLL, D. R.; STONE, R. B.; SIRIGNANO, A. M.; SAINDON. R. M.; GOSE, S. C.;<br />
FRIEDMAN, M. A. (2001). Structural properties of recycled plastic/sawdust lumber<br />
decking planks. ELSEVIER: Resources, Conservation & Recycling. Disponível em:<br />
. Acesso em: 15 Dec. 2004.<br />
CORREIA, J. R.; BRANCO, F. A.; FERREIRA, J. G. (2005). Structural behavior of<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
94<br />
Ricardo Alves Parente & Libânio Miranda Pinheiro<br />
GFRP-concrete hybrid beams. In: INTERNATIONAL CONFERENCE COMPOSITES<br />
IN CONSTRUCTION, 3., July, 2005. Lyon, France.<br />
CRAWFORD, R. J. (1987). Plastics engineering. 2. ed. Belfast: Pergamon Press.<br />
DOWNS, J. (2002). Your recycled plastic may build a bridge. The Philadelphia<br />
Inquirer, 21 July 2002.<br />
GALIOTO, C. E. (2004). Researchers develop plastic lumber. University - The Daily<br />
Targum, 21 Oct. 2004.<br />
GUTERMAN, L. (2003). One world: plastics - a group of researchers defies wisdom<br />
with polymer blends. The Chronicle of Higher Education, 28 Feb. 2003.<br />
HADDAD, Y. M. (1995). Viscoelasticity of engineering materials. London: Chapman<br />
& Hall.<br />
JACOBSON, L. (2003). N.J. Bridge puts recycled plastic to unusual use. The<br />
Washington Post, Washington, 8 Dec. 2003.<br />
KRISHNASWAMY, P.; MIELE, C. R.; FRANCINI, R. B.; YURACKO, K.; YERACE, P.<br />
(1997). Field evaluation of recycled plastic lumber pallets. Departamento de<br />
Recursos Naturais de Ohio. Columbus: Battelle.<br />
KRISHNASWAMY, P.; MCLAREN, M. G.; ASSIS, G.; PENSIERO, J.; MELEWSKI, P.<br />
M.; LASHWAY, K. F. (2001). Introducing to the first recycled plastic bridge in the<br />
world. Disponível em: . Acesso em: 4<br />
Feb. 2005.<br />
KRISHNASWAMY, P. (2001b). Feature-recycled plastic lumber standards.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 4 Feb. 2005.<br />
LAMPO, R.; NOSKER T. (2001). An estimate of the effect of greenhouse gases by<br />
using recycled plastics as a substitute for treated wood railroad croosties.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 24 Feb. 2005.<br />
LOPEZ-ANIDO, A.; NAIK, T. R. (2000). Emerging materials for civil infrastructure:<br />
state of the art. Reston: ASCE (American Society of Civil Engineers).<br />
LYNCH, J. K.; NOSKER, T. J.; RENFREE, R. (2001). Weathering effects on<br />
mechanical properties of recycled HDPE based plastic lumber. Disponível em:<br />
. Acesso em: 20 Feb. 2005.<br />
MARTINS, A. F.; SUAREZ, J. C. M.; MANO, E. B. (1999). Polímeros poliolefínicos<br />
reciclados com desempenho superior aos materiais virgens correspondentes.<br />
Polímeros: ciência e tecnologia, out./dez. 1999.<br />
NIELSEN, L. E.; LANDEL, R. F. (1994). Mechanical properties of polymers and<br />
composites. New York: Marcel Dekker.<br />
NOSKER, T.; RENFREE, R. (1999a). Developing a recycled plastic composite railroad<br />
tie. Plastics Engineering, v. 55, Apr. 1999.<br />
NOSKER, T.; RENFREE, R. (1999b). Fiber orientation and the creation of structural<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
Plásticos reciclados para elementos estruturais<br />
95<br />
plastic lumber. Plastics Engineering, v. 55, June 1999.<br />
PARENTE, R. A. (2006). Elementos estruturais de plástico reciclado. São Carlos.<br />
Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São<br />
Paulo.<br />
PRINGLE, B; BARKER, M. (2000). Starting a waste plastics recycling business.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 15 Dez 2004.<br />
SAWYER, T. (2003). New extrusion process gives plastic beams greater strength. The<br />
Engineering News Record, 24 Feb. 2003.<br />
SULLIVAN, H. W.; WOLFGANG, A. M. (1999). Polymeric compositions and<br />
methods for making construction materials from them. 5.886.078. 23 Mar 1999.<br />
United States Patent.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 75-95, 2008
ISSN 1809-5860<br />
ANÁLISE NUMÉRICA DE SEÇÕES TRANSVERSAIS<br />
E DE ELEMENTOS ESTRUTURAIS DE AÇO E<br />
MISTOS DE AÇO E CONCRETO EM SITUAÇÃO DE<br />
INCÊNDIO<br />
Ronaldo Rigobello 1 & Jorge Munaiar Neto 2<br />
Resumo<br />
O presente trabalho teve como objetivo principal estudar, em caráter essencialmente<br />
numérico via ANSYS v9.0, a elevação de temperatura em seções transversais de<br />
elementos estruturais de aço e mistos de aço e concreto, com vistas a uma avaliação<br />
das equações propostas pelo método simplificado de cálculo da NBR 14323:1999, em<br />
especial, para situações em que não ocorra aquecimento uniforme por todos os lados<br />
do elemento. São apresentados modelos numéricos de seções transversais de elementos<br />
estruturais de aço, mistos de aço e concreto e, em caráter complementar, de madeira,<br />
em situação de incêndio, para avaliar a evolução dos níveis de temperatura ao longo<br />
do tempo. São também construídos e analisados modelos numéricos com vistas à<br />
análise do efeito da elevação de temperatura no comportamento mecânico em vigas de<br />
aço de um edifício de interesse. A determinação dos níveis de temperatura em seções<br />
transversais de elementos estruturais, obtidas com base nas prescrições normativas da<br />
NBR 14323:1999, conduzem a resultados satisfatórios, porém, com temperaturas<br />
próximas às temperaturas máximas obtidas numericamente. Para os casos usuais não<br />
contemplados pela NBR 14323:1999 fica evidente a necessidade do emprego de método<br />
avançado de cálculo ou de desenvolvimento de ferramentas analíticas para emprego em<br />
tais situações. Com relação a análise do efeito da elevação de temperatura no<br />
comportamento mecânico, os fatores de redução de resistência em situação de incêndio<br />
obtidos via ANSYS resultaram inferiores àqueles obtidos via TCD v5.0, com base na<br />
análise da seção transversal e procedimento normativo.<br />
Palavras-chave: incêndio; estruturas de aço; estruturas mistas; análise térmica;<br />
análise numérica.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O incêndio sempre constituiu um risco considerável à propriedade e à<br />
segurança humana. Quando ocorre de forma descontrolada pode ocasionar<br />
conseqüências devastadoras.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, ronbello@gmail.com<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jmunaiar@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
98<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
Conforme mencionado em SILVA (2001), no passado acreditava-se que o<br />
incêndio era obra do acaso e a vítima uma infortunada. Hoje, sabe-se que o incêndio<br />
é uma ação que pode ser evitada, e as vítimas, quer por morte ou por perda do<br />
patrimônio, surgem por conseqüência de ignorância ou ato criminoso.<br />
Em WANG (2002) se afirma que, até recentemente, as medidas de combate a<br />
incêndios em edificações têm seguido procedimentos que evoluíram durante vários<br />
anos em resposta a desastres ocorridos anteriormente. Com relação às exigências de<br />
resistência ao fogo de elementos estruturais de aço e mistos em situação de incêndio,<br />
a maioria dos regulamentos e códigos normativos do mundo todo ainda tem por base<br />
ensaios de elementos isolados em fornos.<br />
Atualmente é reconhecido o fato de as prescrições normativas conduzirem,<br />
em geral, a projetos anti-econômicos e inflexíveis. Por esta razão, no contexto<br />
internacional, a regulamentação de segurança contra incêndio em edificações tem<br />
evoluído no sentido de se libertar progressivamente das exigências de caráter<br />
prescritivo, passando a basear-se mais no desempenho dos elementos construtivos<br />
expostos a situações de incêndios reais.<br />
Em uma abordagem baseada no desempenho, vários fatores tais como o tipo<br />
de incêndio, as conseqüências da exposição ao fogo, condições de carregamento ou<br />
mesmo a interação entre os vários elementos estruturais são ponderados e a<br />
temperatura do aço é apenas uma das muitas variáveis envolvidas. Nesta abordagem,<br />
apesar de consistir de um procedimento mais custoso, é possível obter uma resposta<br />
da estruturas, quando submetida a elevadas temperaturas, mais representativa<br />
quando comparada às reais situações de incêndio.<br />
Os avanços ocorridos no contexto mundial com relação ao entendimento do<br />
desempenho de estruturas em altas temperaturas e as maiores exigências quanto à<br />
segurança em situação de incêndio por parte do Corpo de Bombeiros nos grandes<br />
centros, têm estimulado, no Brasil, estudos relacionados ao tema “segurança contra<br />
incêndio” com destaque ao desempenho de estruturas em situações de incêndio.<br />
Nesse texto apresentam-se, de forma sucinta e resumida, os resultados do<br />
trabalho desenvolvido em REGOBELLO (2007). Tal trabalho, com título homônimo ao<br />
do presente artigo, apresenta de forma completa os casos de estudo aqui<br />
mencionados, bem como apresenta os fundamentos da análise térmica de elementos<br />
estruturais de aço e mistos em situação de incêndio.<br />
2 ELEVAÇÃO DA TEMPERATURA EM ELEMENTOS ESTRUTURAIS<br />
Os modelos que permitem obter a evolução da temperatura dividem-se,<br />
basicamente, em modelos simplificados de cálculo e modelos avançados de cálculo.<br />
Os modelos simplificados de cálculo permitem obter a elevação de<br />
temperatura de modo homogêneo para toda a seção transversal e ao longo do<br />
comprimento do elemento de interesse, por meio de simples equações analíticas. Os<br />
modelos avançados de cálculo têm como base métodos numéricos como, por<br />
exemplo, diferenças finitas e elementos finitos, e permitem obter o campo de<br />
temperaturas no elemento ao longo do processo de aquecimento.<br />
2.1 Modelos simplificados de cálculo<br />
2.1.1 Hipótese de temperatura homogênea na seção<br />
Para a obtenção da distribuição de temperatura num elemento estrutural em<br />
situação de incêndio é, geralmente, necessário o emprego de métodos avançados de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de...<br />
99<br />
cálculo (procedimentos numéricos). Entretanto, para os casos comuns de elementos<br />
de aço e mistos de aço e concreto expostos ao fogo, com ou sem revestimento,<br />
simples soluções analíticas podem ser obtidas possibilitando o cálculo da evolução de<br />
temperaturas de forma bastante rápida.<br />
Em WANG (2002) destaca-se que estas soluções analíticas foram<br />
desenvolvidas lançando-se mão do “Método da Massa Concentrada”, isto é, toda a<br />
massa do aço é sujeita a mesma temperatura. A validade desta hipótese depende da<br />
taxa de transferência de calor intrínseca ao material, isto é, de sua condutividade<br />
térmica e de sua espessura.<br />
Nos perfis de aço usuais, a espessura das almas, mesas ou chapas de aço<br />
constituintes destes perfis, resulta, normalmente, bem menor que o valor necessário<br />
para a consideração dessa hipótese. Portanto, o “Método da Massa Concentrada”<br />
pode ser usado e a hipótese de temperatura homogênea na seção resulta coerente e<br />
representativa.<br />
2.1.2 Temperatura em elementos não-revestidos<br />
A equação (1) é adotada pela NBR 14323:1999 para obtenção da elevação de<br />
temperatura em elementos não-revestidos.<br />
( u / A)<br />
Δ θa,t<br />
= ϕΔt<br />
(1)<br />
c ρ<br />
a<br />
a<br />
Na equação (1), Δ θ a, t<br />
representa a variação da temperatura (em ºC) no<br />
elemento estrutural de aço durante um intervalo de tempo Δ t (em s), e u/A é o fator<br />
de massividade para elementos estruturais de aço sem revestimento contra incêndio,<br />
com unidade em m -1 .<br />
Com relação aos demais parâmetros da última equação, u é o perímetro<br />
exposto ao incêndio do elemento estrutural de aço (m), A é a área da seção<br />
transversal do elemento estrutural (m 2 ), c a é o calor específico do aço (J/kgºC), ρ a é a<br />
massa específica do aço (kg/m 3 ) e ϕ é o fluxo de calor por unidade de área (W/m 2 ).<br />
A equação (1) difere basicamente daquela apresentada pelos EUROCODES<br />
3 (2005) e EUROCODE 4 (2005), no referente à introdução de um fator de correção,<br />
para o efeito de sombra, representado por k sh . O efeito de sombra é causado pela<br />
obstrução local à radiação térmica devido ao formato do perfil de aço. Têm influência<br />
em perfis de formato côncavo, tais como as seções do tipo I.<br />
Para seções transversais de formato convexo, tais como as seções caixão e<br />
circulares vazadas completamente envolvidas pelo incêndio, o efeito de sombra não<br />
tem influência e o fator de correção k sh deve ser tomado igual à unidade.<br />
Em VILA REAL (2003) afirma-se que a não consideração do efeito de sombra<br />
na equação (1), isto é, fazer k sh = 1, conduz a resultados conservadores. O uso do<br />
fator k sh está relacionado ao fato de o EUROCODE 3 recomendar o valor de 0,7 para o<br />
produto da emissividade do compartimento ε f pela emissividade do material ε m , no<br />
caso do aço carbono, em contraste com o valor de 0,5 adotado para a emissividade<br />
resultante ε res adotado pela NBR 14323:1999.<br />
2.1.3 Temperatura em elementos com revestimento contra fogo<br />
A equação (2), em que Δ θ a, t<br />
≥ 0, corresponde àquela mesma adotada pela<br />
NBR 14323:1999 e pelos EUROCODE 3 (2005) Part 1.2 e EUROCODE 4 (2005) Part<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
100<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
1.2 para o caso de elemento com revestimento contra fogo. Na equação (2) o termo ξ<br />
é dado pela equação (3).<br />
Δθ<br />
λ<br />
(u<br />
/ A) ( θ<br />
m m g,t a,t ξ /10<br />
a ,t =<br />
Δt<br />
− (e −1)<br />
t m ca<br />
ρa<br />
ξ<br />
1+<br />
− θ<br />
3<br />
)<br />
Δθ<br />
g,t<br />
(2)<br />
c<br />
m<br />
ρm<br />
ξ = t<br />
m<br />
(u<br />
m<br />
/ A)<br />
(3)<br />
c ρ<br />
a<br />
a<br />
Para as equações (2) e (3), u m /A é o fator de massividade para elementos<br />
estruturais envolvidos por material de revestimento contra incêndio (m -1 ), enquanto u m<br />
é o perímetro efetivo do material de revestimento contra incêndio, ou seja, igual ao<br />
perímetro da face interna do material de revestimento contra incêndio mais metade<br />
dos afastamentos desta face ao perfil de aço (m). Ainda com relação à equação (2), A<br />
é a área da seção transversal do elemento estrutural (m 2 ), c a é o calor específico do<br />
aço (J/kgºC), c m é o calor específico do material de revestimento incêndio (J/kgºC),<br />
enquanto θ a,t é a temperatura do aço no tempo t (ºC) e θ g,t é a temperatura dos gases<br />
no tempo t (ºC).<br />
Com relação às demais variáveis de interesse, t m é a espessura do material<br />
de revestimento contra incêndio (m), λ m é a condutividade térmica do material de<br />
revestimento contra incêndio (W/mºC), ρ a é a massa específica do aço (kg/m 3 ), ρ m é a<br />
massa específica do material de revestimento contra incêndio (kg/m 3 ) e Δt é o<br />
intervalo de tempo compatível (≤ 30 s).<br />
Vale mencionar que A NBR 14323:1999 atualmente encontra-se em processo<br />
de revisão, razão pela qual, em substituição a equação (2), o Projeto de Revisão da<br />
NBR 14323:1999 prescreve a equação (4), proposta em SILVA (1999). Comparações<br />
entre os resultados obtidos com as equações (2) e (4) poderão ser vistos nos itens<br />
referentes à apresentação de resultados.<br />
λ<br />
m<br />
( u<br />
m<br />
/ A) ( θg,t<br />
− θa,t)<br />
Δθg,<br />
t<br />
Δ θa,t<br />
=<br />
Δt<br />
−<br />
(4)<br />
t c 1<br />
ξ 4<br />
m a<br />
ρa<br />
+<br />
+ 1<br />
4 ξ<br />
2.2 Modelos avançados de cálculo<br />
Os modelos avançados de cálculo, os quais tomam geralmente como base<br />
métodos numéricos como o método das diferenças finitas e, principalmente, o método<br />
dos elementos finitos, permitem obter o campo de temperaturas no elemento ao longo<br />
do processo de aquecimento.<br />
Existe um grande número de referências que tratam da análise numérica de<br />
transferência de calor (por exemplo, BATHE (1996)) e vários códigos de cálculo<br />
(programas para microcomputadores) conhecidos no campo da análise de<br />
transferência de calor na engenharia de incêndio. Entre os programas de interesse,<br />
podem ser citados o ADAPTIC, o SUPERTEMPCALC (TCD), o SAFIR e o VULCAN.<br />
A análise numérica da transferência de calor também pode ser realizada por<br />
meio de um dos vários pacotes comerciais elaborados com base no método dos<br />
elementos finitos como o ANSYS, ABAQUS, ADINA ou DIANA, todos conhecidos<br />
mundialmente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de... 101<br />
Segundo aspectos descritos em WANG (2002), estes programas apresentam<br />
uma acurácia similar. Portanto, disponibilidade (custo, suporte técnico) e<br />
amigabilidade (interação usuário/programa, produtividade, etc.) podem ser os<br />
principais fatores de decisão na aquisição de um destes programas para utilização em<br />
aplicações termo-estruturais.<br />
3 VALIDAÇÃO DA ESTRATÉGIA NUMÉRICA PARA OS MODELOS<br />
CONSTRUÍDOS<br />
No presente item faz-se a apresentação dos resultados obtidos por meio de<br />
simulações numéricas realizadas com a utilização do programa ANSYS ® v9.0,<br />
referentes à evolução de temperatura em seções transversais de aço e mistos de aço<br />
e concreto, quando submetidos ao incêndio-padrão ISO 834 (ISO 834-1:1999).<br />
Para fim de validação dos resultados, inicialmente são elaborados modelos<br />
numéricos cujos resultados são comparados com resultados numéricos de trabalhos<br />
de outros pesquisadores, bem como comparados com resultados obtidos por meio de<br />
modelos simplificados de cálculo prescritos na norma brasileira NBR 14323:1999 e<br />
nos EUROCODES 3 e 4.<br />
Em caráter complementar, com vistas à calibração dos modelos numéricos,<br />
apresenta-se um modelo numérico para uma seção transversal de madeira<br />
Eucalyptus Citriodora cujos resultados numéricos foram confrontados com resultados<br />
experimentais apresentados em PINTO (2005). Com vista à validação da estratégia<br />
numérica, são apresentadas diversas comparações de resultados obtidos com os<br />
códigos ANSYS v9.0 (ANSYS 2004) e TCD v5.0 (ANDERBERG 1997), sendo este<br />
último voltado para análise térmica de estruturas em situação de incêndio.<br />
3.1 Elementos finitos utilizados<br />
Na elaboração dos modelos numéricos aqui apresentados foram utilizados<br />
dois tipos de elementos finitos: um do tipo plano (PLANE77), para modelar a seção<br />
transversal da viga de aço e o material de proteção, e outro do tipo superfície<br />
(SURF151), para aplicar ao modelo as condições de contorno representativas da ação<br />
térmica referente à convecção e à radiação.<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 1 - (a) Elemento Finito PLANE77 e (b) Elemento Finito SURF151.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
102<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
3.2 Aplicação da ação térmica<br />
Para aplicação dos efeitos térmicos (convecção e radiação) nos modelos<br />
numéricos, o elemento SURF 151 (figura 1b) é utilizado com a opção do nó extra.<br />
Com a aplicação de temperatura diretamente no nó extra é possível simular a<br />
temperatura dos gases quentes do ambiente em situação de incêndio.<br />
Assim, para simular os efeitos de convecção no contorno do modelo é<br />
necessário fornecer o coeficiente de transferência de calor por convecção (α c ). Além<br />
disso, é necessário definir para o elemento que o cálculo do fluxo de calor devido à<br />
convecção (ϕ c ) seja dado com base na diferença entre a temperatura dos gases<br />
quentes do ambiente (θ g ) e a temperatura na superfície do modelo (θ a ), conforme<br />
equação (5).<br />
( θ − θ )<br />
ϕ c = αc<br />
g a<br />
(5)<br />
Com relação aos efeitos da radiação térmica, para o cálculo do fluxo de calor<br />
devido à radiação (ϕ r ) é necessário fornecer a emissividade resultante (ε res ) , a<br />
constante de Stefan-Boltzmann (σ = 5,67x10 -8 W/m 2 K 4 ) e o fator de configuração (Φ).<br />
Nas aplicações em segurança contra incêndio é assumido que os gases da<br />
combustão e os elementos estruturais estejam em contato direto, de modo que este<br />
fenômeno pode ser tratado como o caso de duas superfícies (placas) infinitas. Neste<br />
caso, o fator de configuração (Φ), por definição, é igual à unidade.<br />
No caso de se optar por trabalhar com a escala de temperatura em grau<br />
Celsius, é necessário fornecer ao programa ANSYS a diferença entre o zero da<br />
escala Celsius e o zero absoluto (escala Kelvin), no caso, igual a 273. Assim, o fluxo<br />
de calor devido à radiação no contorno passa a ser dado pela equação (6).<br />
ϕ<br />
4<br />
4<br />
[( θ + 273) − ( θ ) ]<br />
−8<br />
r = 5 ,67x10 εres<br />
g<br />
a + 273<br />
(6)<br />
3.3 Validação da estratégia numérica<br />
Neste item é apresentada a geometria e a malha de elementos finitos dos<br />
modelos numéricos analisados, modelos 1, 2 e 3, para fins de validação da estratégia<br />
numérica. Maiores detalhes sobre a geometria dos perfis dos modelos podem ser<br />
vistos em REGOBELLO (2007).<br />
O modelo 1, figura 2a, se refere à seção transversal de uma viga, perfil 180<br />
UB 16, sem revestimento térmico. O modelo 2, figura 2b, se refere à seção<br />
transversal de uma viga, perfil 530 UB 82, com revestimento térmico de argamassa<br />
projetada à base de cimento e vermiculita, com espessura de 20 mm. O modelo 3,<br />
figura 2c, consiste de seção transversal de uma viga mista de aço e concreto sem<br />
revestimento. O perfil de aço da viga é VS 650x114 e a laje de concreto têm<br />
espessura de 10 cm e largura efetiva de 100 cm.<br />
3.4 Propriedades térmicas dos materiais e condições de contorno<br />
3.4.1 Propriedades térmicas dos materiais<br />
Para o aço, as propriedades térmicas empregadas nos modelos estão de acordo com<br />
aquelas propostas na NBR 14323:1999 e no EUROCODE 3 (2005). As propriedades<br />
do material de proteção térmica do modelo 2, de acordo com LEWIS (2000) são:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de... 103<br />
calor específico (c m ) igual a 1100 J/kgºC, condutividade térmica (λ m ) igual a 0,19<br />
W/mºC e massa específica (ρ m ) igual a 775 kg/m 3 .<br />
(a) (b) (c)<br />
Figura 2 - Geometria dos modelos e malha de elementos finitos: (a) Modelo 1 - Viga de aço<br />
sem revestimento, (b) Modelo 2 - Viga de aço com revestimento e (c) Modelo 3 - Viga mista de<br />
aço e concreto sem revestimento.<br />
Para o concreto da viga mista, modelo 3, foram utilizadas as mesmas<br />
propriedades apresentadas em SILVA (2002) para fins de comparação de resultados.<br />
Assim, o calor específico (c c ) foi assumido igual a 1139 J/kgºC e a massa específica<br />
(ρ c ) igual a 2403 kg/m 3 , bem como a condutividade térmica (λ c ) pela equação (7).<br />
λ<br />
[ 20;<br />
199]<br />
[ 199;<br />
899]<br />
⎧ 1,748 seθ ∈ (ºC)<br />
⎪<br />
−3<br />
c<br />
( θ)<br />
= ⎨1,748<br />
−1,246x10<br />
seθ ∈ (ºC)<br />
(7)<br />
⎪<br />
⎩ 0,876 seθ > 899 (ºC)<br />
3.4.2 Condições de contorno dos modelos<br />
Todos os modelos são submetidos à exposição ao incêndio padrão ISO 834.<br />
Os modelos 1 e 2 sofrem exposição por todos os lados, enquanto que o modelo 3<br />
sofre exposição em apenas três lados, isto é, a face superior da laje de concreto não é<br />
exposta ao calor. O valor adotado para o coeficiente de transferência de calor por<br />
convecção (α c ) foi igual a 25 W/m 2 ºC. A emissividade resultante (ε res ) fornecida ao<br />
ANSYS para os modelos 1 e 2 foi igual a 0,5. Para o modelo 3 adotou-se ε res = 0,522.<br />
3.5 Modelo 1 – Viga de aço sem revestimento<br />
Os resultados da elevação de temperatura média da seção transversal da viga<br />
de perfil 180 UB 16, quando exposta ao incêndio-padrão por todos os lados podem<br />
ser vistos na figura 3a. Na mesma figura têm-se os resultados obtidos com o<br />
programa SAFIR apresentados em LEWIS (2000), para a mesma viga. Nota-se uma<br />
boa aproximação entre os resultados numéricos fornecidos pelo ANSYS e pelo<br />
SAFIR. Na figura 3b têm-se os resultados de temperatura média da seção transversal<br />
obtidos via simulação numérica com o ANSYS, e aqueles obtidos por meio dos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
104<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
modelos simplificados de cálculo (equações) apresentados pela NBR 14323:1999 e<br />
pelo EUROCODE 3 – Part 1-2 (2005).<br />
1000<br />
1000<br />
800<br />
800<br />
Temperatura (ºC) .<br />
600<br />
400<br />
200<br />
,<br />
SAFIR_media<br />
ANSYS_media<br />
Temperatura (ºC) .<br />
600<br />
400<br />
200<br />
,<br />
ANSYS_media<br />
NBR14323<br />
EUROCODE 3<br />
NBR14323_ca_simp<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60<br />
Tempo (min)<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60<br />
Tempo (min)<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 3 - (a) Curvas de temperatura média versus tempo para o perfil 180 UB 16, via ANSYS<br />
9.0 e SAFIR e (b) Resultados obtidos via ANSYS (temperatura média da seção transversal) e<br />
obtidos por meio de modelos simplificados de cálculo.<br />
Na mesma figura é possível notar que os resultados obtidos com o modelo<br />
simplificado de cálculo da NBR 14323:1999 são os que melhor se aproximam<br />
daqueles obtidos via simulação numérica. Os resultados do modelo simplificado do<br />
EUROCODE 3 se mostram um pouco acima daqueles resultados obtidos via<br />
simulação numérica, porém, apenas durante os primeiros 15 minutos.<br />
A NBR 14323:1999 permite o emprego de um valor igual a 600 J/kgºC<br />
(constante) para o calor específico do aço, c a , no caso do emprego do modelo<br />
simplificado de cálculo. A curva obtida com o valor simplificado apresentou uma<br />
diferença máxima de aproximadamente 25 ºC quando comparado àquela obtida via<br />
simulação numérica, num curto trecho, para aproximadamente 20 min de exposição<br />
ao incêndio-padrão (ver figura 3b).<br />
3.6 Modelo 2 – Viga de aço com revestimento contra fogo<br />
Na figura 4a são apresentados os resultados com relação à elevação de<br />
temperatura média da seção transversal da viga em questão. Nesta mesma figura,<br />
têm-se a comparação com os resultados obtidos com o programa SAFIR,<br />
apresentados em LEWIS (2000). Nota-se, por meio da figura 5a, uma boa<br />
aproximação entre os resultados dos programas ANSYS e SAFIR.<br />
Na figura 4b tem-se a comparação entre os resultados obtidos via ANSYS<br />
com aqueles obtidos por meio de modelos simplificados. O modelo simplificado de<br />
cálculo proposto pela NBR 14323:1999, para elementos com revestimento contra<br />
fogo, é idêntico ao proposto pelo EUROCODE 3 – Part 1-2 (2005). Na mesma figura,<br />
são apresentados os resultados obtidos com a equação proposta no Projeto de<br />
Revisão da NBR 14323:1999 para elementos com revestimento contra fogo.<br />
Os resultados dos modelos simplificados apresentaram temperaturas<br />
superiores àquelas obtidas via simulação numérica durante quase todo o processo.<br />
Nota-se uma diferença muito pequena entre os resultados obtidos com a equação<br />
proposta pelo Projeto de Revisão da NBR 14323:1999, apresentada em SILVA<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de... 105<br />
(1999), em relação à equação prescrita pela NBR 14323:1999 e pelo EUROCODE 3 –<br />
Part 1-2 (2005).<br />
600<br />
600<br />
500<br />
500<br />
Temperatura (ºC) .<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
SAFIR_media<br />
ANSYS_media<br />
Temperatura (ºC) .<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
ANSYS_media<br />
NBR14323; EUROCODE 3<br />
pr_NBR14323<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60<br />
Tempo (min)<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60<br />
Tempo (min)<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figure 4 - (a) Curva temperatura média versus tempo obtida para o perfil 530 UB 82 com<br />
revestimento contra fogo e os resultados do programa SAFIR. (b) Resultados obtidos: ANSYS<br />
e modelos simplificados de cálculo.<br />
3.7 Modelo 3 – Viga mista de aço e concreto sem revestimento<br />
Na figura 5a têm-se os resultados de evolução de temperatura para uma viga<br />
mista de aço e concreto, cuja geometria foi descrita no item 3.3. A evolução de<br />
temperatura da alma (Alma), da mesa superior (MS) e da mesa inferior (MI),<br />
corresponde à temperatura obtida para os nós indicados na figura 2c. Na figura 5b,<br />
apresentam-se os resultados obtidos com o programa PFEM_2D, apresentados em<br />
SILVA (2002), para a mesma viga mista. Nota-se uma boa aproximação entre os<br />
resultados obtidos com os programas ANSYS e PFEM_2D.<br />
Na figura 5b tem-se a comparação entre os resultados obtidos via ANSYS e<br />
aqueles obtidos por meio de modelos simplificados de cálculo da NBR 14323:1999 e<br />
pelo EUROCODE 4 – Part 1-2 (2003).<br />
1000<br />
1000<br />
800<br />
800<br />
Temperatura (ºC) .<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
ANSYS_MI<br />
PFEM_2D_MI<br />
ANSYS_MS<br />
PFEM_2D_MS<br />
ANSYS_Alma<br />
PFEM_2D_Alma<br />
0 10 20 30 40 50 60<br />
Tempo (min)<br />
Temperatura (ºC) .<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
ANSYS_MI<br />
NBR14323_MI<br />
EUROCODE 4_MI<br />
ANSYS_MS<br />
NBR14323_MS<br />
EUROCODE 4_MS<br />
ANSYS_Alma<br />
EUROCODE 4_Alma<br />
0 10 20 30 40 50 60<br />
Tempo (min)<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 5 - (a) Curva temperatura versus tempo obtida para a viga mista sem revestimento<br />
contra fogo e os resultados do programa PFEM_2D. (b) Resultado obtido via ANSYS e os<br />
obtidos por meio de modelos simplificados de cálculo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
106<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
Para alma, nota-se uma boa aproximação entre os resultados obtidos via<br />
ANSYS e aqueles obtidos com os modelos simplificados. Com relação à mesa<br />
superior, as temperaturas obtidas com os procedimentos normativos simplificados<br />
resultam superiores àquelas obtidas com simulação numérica via ANSYS. Com<br />
relação à mesa inferior, as temperaturas obtidas com os procedimentos normativos<br />
simplificados resultam inferiores àquelas obtidas com simulação numérica via ANSYS,<br />
em especial o EUROCODE 4, durante a fase inicial do aquecimento (até 25 minutos).<br />
4 ESTUDO DE CASOS E RESULTADOS OBTIDOS<br />
Nas tabelas 2 e 3 são descritas e esquematizadas as situações consideradas<br />
para fins de análise em temperaturas elevadas, para casos normativos e não<br />
normativos, respectivamente. Nestas tabelas estão indicados o tipo de elemento<br />
analisado e o esquema de exposição ao fogo a que foi submetido, considerando a<br />
elevação da temperatura dos gases de acordo com a curva de incêndio-padrão ISO<br />
834.<br />
Para cada caso analisado, a elevação de temperatura é obtida considerandose<br />
quatro perfis do tipo I previamente escolhidos, contemplando, com vistas a fatores<br />
de massividade, uma faixa entre 50 e 400 m -1 , e cujas características são<br />
apresentadas na tabela 1. No caso de análise de chapa de aço (caso 2 da tabela 2)<br />
essa mesma pode ser idealizada com a mesa de um perfil I, e terá dimensões em<br />
conformidade com aquelas apresentadas na tabela 1.<br />
Tabela 1 - Perfis adotados para os casos analisados.<br />
d b<br />
Perfil<br />
f t f t w<br />
(mm) (mm) (mm) (mm)<br />
u (m)<br />
A<br />
(cm 2 )<br />
u/A<br />
(m -1 )<br />
intervalo<br />
W 150x13 148 100 4,9 4,3 0.67 16.6 404 -<br />
W 250x25,3 257 102 8,4 6,1 0.89 32.6 273 131<br />
VS 400x78 400 200 19 6,3 1.59 98.8 161 112<br />
CS 550x502 550 550 45 31,5 3.24 639.9 51 110<br />
u – perímetro da seção; A – área da seção; u/A – fator de massividade<br />
Para os modelos numéricos referentes aos casos 1, 2, 3 e 6 (tabela 2), com<br />
relação às geometrias das lajes de concreto (superpostas aos perfis) e das alvenarias,<br />
se considera para ambas uma espessura com valor igual a 10 cm e um comprimento<br />
com valor igual a três vezes a largura das mesas dos perfis. Nos demais casos,<br />
conforme tabelas 3, a alvenaria tem comprimento igual à largura da mesa do perfil.<br />
As propriedades térmicas do aço e do concreto e da alvenaria a serem<br />
consideradas nos modelos numéricos estão de acordo com as informações<br />
apresentadas em REGOBELLO (2007). Para as alvenarias, as propriedades térmicas<br />
correspondem àquelas de blocos cerâmicos de tijolo vazado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de... 107<br />
4.1 Considerações sobre as condições de contorno e malha de<br />
elementos finitos<br />
Seguindo a estratégia adotada em LEWIS (2000), em todos os modelos a<br />
emissividade resultante ε res adotada tanto para o aço quanto para o concreto, bem<br />
como para a alvenaria e para os materiais de proteção, foi igual 0,5, lembrando que a<br />
NBR 14323:1999 menciona apenas o valor igual a 0,5 para a emissividade resultante<br />
do aço.<br />
Tabela 2 - Descrição e esquematização de casos normativos (NBR 14323:1999).<br />
Denominação Descrição do Caso Esquematização<br />
CASO 1<br />
• Seção aberta exposta ao incêndio<br />
por três lados<br />
CASO 2<br />
• Chapa exposta ao incêndio por<br />
três lados<br />
CASO 3<br />
• Mesa de seção I exposta ao<br />
incêndio por três lados<br />
CASO 4<br />
• Seção I com reforço em caixão<br />
exposta ao incêndio por todos os<br />
lados<br />
CASO 5<br />
• Seção I com proteção tipo caixa,<br />
de espessura uniforme, exposta<br />
ao incêndio por todos os lados<br />
CASO 6<br />
• Seção I com proteção tipo caixa,<br />
de espessura uniforme exposta ao<br />
incêndio por três lados<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
108<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
O coeficiente de transferência de calor por convecção (α c ) foi tomado igual a<br />
25 W/m 2 ºC, conforme prescrito pela NBR 14323:1999. A favor da segurança, a face<br />
da laje não exposta ao fogo foi aqui considerada como parede adiabática, exceto para<br />
os casos de estudo de 8 a 11, em que a troca de calor entre as superfícies não<br />
expostas ao incêndio e o meio é considerada por meio de um coeficiente α c igual a 9<br />
W/m 2 ºC, conforme recomendações prescritas pelo EUROCODE 1 (2002).<br />
Na discretização dos perfis de aço dos modelos numéricos procurou-se<br />
manter elementos finitos com tamanho máximo de 7 mm, o que implica numa malha<br />
suficientemente refinada. Como as lajes e alvenaria são elementos secundários nas<br />
análises aqui efetuadas procurou-se apenas compatibilizar as malhas na interface<br />
perfil-alvenaria e perfil-laje, não adotando uma malha tão rigorosa para essas partes<br />
do modelo, porém, com grau de discretização, apesar de simplificado, suficiente para<br />
a obtenção dos resultados de interesse do trabalho.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de... 109<br />
Tabela 3 - Descrição e esquematização dos casos não normativos (situações usuais).<br />
Denominação Descrição do Caso Esquematização<br />
CASO 7<br />
• Viga I em contato com laje de<br />
concreto e alvenaria, exposta<br />
ao<br />
incêndio pelos dois lados da<br />
parede de alvenaria<br />
CASO 8<br />
• Pilar com mesas em contato<br />
com paredes de alvenaria,<br />
exposta ao incêndio pelos dois<br />
lados da parede de alvenaria<br />
CASO 9<br />
• Viga I em contato com laje de<br />
concreto e alvenaria, exposta<br />
ao incêndio em apenas um<br />
lado da parede de alvenaria<br />
CASO 10<br />
• Pilar com mesas em contato<br />
com paredes de alvenaria,<br />
exposta ao incêndio em<br />
apenas<br />
um lado da parede de<br />
alvenaria<br />
CASO 11<br />
• Pilar com alma em contato<br />
com paredes de alvenaria,<br />
exposta ao incêndio em<br />
apenas<br />
um lado da parede de<br />
alvenaria<br />
São apresentados a seguir os resultados referentes aos casos de estudo 1<br />
(normativo) e 10 (não-normativo). Maiores detalhes e resultados dos outros casos de<br />
estudo são apresentados em REGOBELLO (2007).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
110<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
4.2 CASO 1 - Seção aberta e exposta ao incêndio por três lados<br />
A figura 6 ilustra a malha de elementos finitos e o campo de temperaturas<br />
para um tempo (TRRF) de 60 minutos de exposição ao incêndio-padrão para o caso<br />
1, considerando um perfil W 150x13 sobreposto por laje de concreto. Na figura 7<br />
estão apresentados os resultados da elevação de temperatura obtidos via modelo<br />
numérico e por meio de procedimentos simplificados de cálculo da NBR 14323:1999 e<br />
do EUROCODE 3 (2005).<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 6 - (a) Malha de elementos finitos e (b) Campo de temperaturas correspondente a um<br />
tempo (TRRF) de 60 minutos para o perfil W 150x13.<br />
Temperatura (ºC)<br />
1200<br />
1100<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
Caso 1 - W 150x13<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120<br />
Tempo (min)<br />
ISO 834 NBR14323 NBR ca_simp Eurocode<br />
Média Mínima Máxima<br />
Figura 7 - Curvas da evolução da temperatura versus tempo para o caso 1 considerando-se o<br />
perfil W 150x13.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de... 111<br />
Com relação à norma NBR 14323:1999 será apresentada uma curva referente<br />
à consideração de um valor simplificado (constante) para o calor específico do aço<br />
igual a 600 J/(kgºC).<br />
Nas figuras 8 e 9 têm-se os resultados do estudo do caso 1 referentes ao perfil<br />
CS 550x502. Os resultados dos demais perfis da análise podem ser vistos em<br />
REGOBELLO (2007).<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 8 - Caso 1: a) Malha de elementos finitos e b) Campo de temperaturas correspondente a<br />
um tempo (TRRF) de 60 minutos para o perfil CS 550x502.<br />
Temperatura (ºC)<br />
1200<br />
1100<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
Caso 1 - CS 550x502<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120<br />
Tempo (min)<br />
ISO 834 NBR14323 NBR ca_simp Eurocode<br />
Média Mínima Máxima<br />
Figura 9 - Curvas da evolução da temperatura versus tempo para o caso 1 considerando-se o<br />
perfil CS 550x502.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
112<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
4.3 CASO 10 - Pilar com mesas em contato com paredes de alvenaria,<br />
exposta ao incêndio em apenas um lado da parede de alvenaria<br />
Nesta situação, esquematizadas nas figuras 10 e 12, se considera a alvenaria<br />
como um caso efetivo de compartimentação, com o incêndio ocorrendo em apenas<br />
um lado da parede de alvenaria.<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 10 - Caso 10: (a) Malha de elementos finitos e (b) Campo de temperaturas<br />
correspondente a um tempo (TRRF) de 60 minutos para o perfil W 150x13.<br />
Caso 10 - W 150x13<br />
Temperatura (ºC)<br />
1200<br />
1100<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120<br />
Tempo (min)<br />
ISO 834 NBR14323 NBR ca_simp Média Mínima Máxima<br />
Figura 11 - Curvas da evolução da temperatura versus tempo para o caso 10 considerando-se<br />
o perfil W 150x13.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de... 113<br />
A consideração da troca de calor com o meio nas superfícies não expostas do<br />
modelo é feita por meio da adoção de um coeficiente de transferência de calor por<br />
convecção igual a 9 W/m 2 ºC.<br />
Com relação ao procedimento simplificado, no cálculo do fator de massividade<br />
considera-se o perímetro do perfil que não está em contato com a alvenaria ou com a<br />
laje de concreto, no lado da parede exposta ao fogo, e a área total da seção. Os<br />
resultados de interesse obtidos para o caso 10 são apresentados nas figuras 11 e 13,<br />
apenas para os perfis W 150x13 e CS 550x502. Os resultados dos demais perfis<br />
podem ser vistos em REGOBELLO 2007.<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 12 - Caso 10: (a) Malha de elementos finitos e (b) Campo de temperaturas<br />
correspondente a um tempo (TRRF) de 60 minutos para o perfil CS 550x502.<br />
Caso 10 - CS 550x502<br />
Temperatura (ºC)<br />
1200<br />
1100<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120<br />
Tempo (min)<br />
ISO 834 NBR14323 NBR ca_simp Média Mínima Máxima<br />
Figura 13 - Curvas da evolução da temperatura versus tempo para o caso 10 considerando-se<br />
o perfil CS 550x502.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
114<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
5 EFEITOS DA ELEVAÇÃO DE TEMPERATURA NA RESPOSTA<br />
ESTRUTURAL<br />
Em REGOBELLO (2007) apresenta-se uma estratégia de modelagem para<br />
análises em que são considerados os efeitos da elevação de temperatura na resposta<br />
de um elemento estrutural de interesse, ou seja, uma análise acoplada termoestrutural.<br />
Em estruturas em situação de incêndio, realiza-se uma análise acoplada<br />
quando, a partir de um campo de temperaturas obtido por meio de análise térmica, se<br />
determina os conseqüentes efeitos da elevação de temperatura na análise estrutural,<br />
seja de um elemento isolado ou de um sistema estrutural.<br />
Atualmente é de grande interesse a realização de análises acopladas em<br />
estruturas submetidas a altas temperaturas, em que se faz possível considerar efeitos<br />
mecânicos causadas pelas restrições axiais aos deslocamentos e os efeitos dos<br />
gradientes térmicos na seção, que podem ocasionar o surgimento de forças de<br />
compressão ou de tração nas vinculações bem como introduzir esforços adicionais de<br />
flexão.<br />
Para tanto, são apresentados resultados da análise numérica de vigas de aço<br />
pertencentes a um edifício (hipotético), com vistas a se obter o valor da resistência<br />
máxima à flexão de cada viga em função de elevação da temperatura. Como suporte<br />
para fins de validação, são paralelamente utilizados resultados de análises térmicas e<br />
de fatores de redução de resistência, obtidos com o TCD v5.0 cedidos por Valdir<br />
Pignatta e Silva, atualmente professor Doutor da Escola Politécnica da <strong>USP</strong>.<br />
6 CONCLUSÕES<br />
Neste trabalho foi estabelecido como objetivo principal estudar, em caráter<br />
essencialmente numérico, a elevação de temperatura em seções transversais de<br />
elementos estruturais de aço e mistos de aço e concreto, com vistas a uma avaliação<br />
das equações propostas pelo método simplificado de cálculo, para a determinação da<br />
temperatura, prescritas pela NBR 14323:1999.<br />
Com base nos resultados obtidos para os casos normativos estudados,<br />
referentes à tabela 6.2, é possível estabelecer, ainda que em caráter preliminar, os<br />
seguintes aspectos:<br />
a-) A determinação dos níveis de temperatura em seções transversais de<br />
elementos estruturais correntes, obtidas com base nas prescrições normativas da<br />
NBR 14323:1999, conduzem a resultados satisfatórios, porém, com temperaturas<br />
próximas às temperaturas máximas obtidas numericamente, principalmente para os<br />
casos em que a espessura das chapas pode ser entendida como considerável, se<br />
comparada àquelas espessuras de chapas usualmente empregadas na prática das<br />
construções correntes;<br />
b-) A consideração apresentada no item (a) permite estabelecer, apenas<br />
como sugestão para fins de ajuste dos fatores de massividade, a aplicação de um<br />
coeficiente de redução para tal parâmetro que seja função da espessura das chapas<br />
que constituem o perfil, de modo a estabelecer uma maior aproximação entre valores<br />
normativos e numéricos. Pode-se, eventualmente, ser admitida a possibilidade de que<br />
valores normativos fiquem situados entre os valores de temperaturas máxima e média<br />
identificadas nos processamentos;<br />
c-) No entanto, para os itens (a) e (b), a utilização de um coeficiente de<br />
redução em função da espessura das chapas deverá ser aplicado ao fator de<br />
massividade, desde que ocorra uma validação da necessidade deste por meio de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e mistos de... 115<br />
análise experimental em elementos estruturais ou, eventualmente, em sistemas<br />
estruturais em incêndio.<br />
Com base nos resultados obtidos para os casos não-normativos estudados,<br />
referentes à tabela 6.3, chama-se atenção para os seguintes aspectos:<br />
a-) Quanto à análise térmica, a determinação dos níveis de temperatura em<br />
seções transversais de elementos estruturais correntes, obtidas com base nas<br />
adaptações das prescrições normativas da NBR 14323:1999 adotadas neste trabalho,<br />
evidenciam a necessidade da aplicação de modelos avançados de cálculo para tais<br />
situações ou estudos com vistas à obtenção de procedimentos simplificados mais<br />
adequados para estes casos, em razão de significativas diferenças entre<br />
temperaturas máximas e mínimas, obtidas numericamente;<br />
b-) As diferenças significativas entre temperaturas máximas e mínimas nas<br />
seções transversais para as situações da tabela 6.3, evidenciam a presença de<br />
gradientes térmicos que devem avaliados cuidadosamente quanto a possibilidade da<br />
introdução de efeitos nocivos na análise estrutural. Tal aspecto deve ser objeto de<br />
estudo futuro.<br />
7 AGRADECIMENTOS<br />
Agradecemos ao CNPq e à FAPESP pelo apoio financeiro, sem o qual esta<br />
pesquisa não poderia ter sido realizada.<br />
8 REFERÊNCIAS<br />
ANDERBERG, Y. (1997). TCD 5.0 edition - User's Manual, Fire Safety Design. Lund.<br />
ANSYS INC. (2004). Ansys Release 9.0 - Documentation.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1984). NBR 8681 – Ações e<br />
segurança nas estruturas. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1999). NBR 14323 –<br />
Dimensionamento de estruturas de aço de edifícios em situação de incêndio –<br />
Procedimento. Rio de Janeiro.<br />
BATHE, K. (1996). Finite Element Procedures. New Jersey: Prentice Hall.<br />
EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. (2002). prEN 1991-1-2 –<br />
Eurocode 1 – Basis of design and actions on structures. Part 1-2: Actions on<br />
structurs – Actions on structures exposed to fire, final draft. Brussels.<br />
EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. (2005). EN 1993-1-2 –<br />
Eurocode 3 - Design of Steel Structures. Part 1-2: General rules – Structural Fire<br />
Design. Brussels.<br />
EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. (2005). EN 1994-1-2 –<br />
Eurocode 4 - Design of composite steel and concrete structures. Part 1-2:<br />
General rules – Structural Fire Design. Brussels.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
116<br />
Ronaldo Rigobello & Jorge Munaiar Neto<br />
INTERNATIONAL STANDARD. (1999). ISO 834-1 - Fire-resistance tests —<br />
Elements of building construction — Part 1: General requirements.<br />
LEWIS, K. R. (2000). Fire Design of Steel Members. A research report for the degree<br />
of Master of Engineering in Fire Engineering Department of Civil Engineering University<br />
of Canterbury. Christchurch.<br />
LIENHARD, I. V. J. H.; LIENHARD, V. J. H. (2005). A heat transfer Textbook.<br />
Massachusetts: Phlogiston Press.<br />
REGOBELLO, R. (2007). Determinação análise numérica de seções transversais e<br />
de elementos estruturais de aço e mistos de aço e concreto em situação de<br />
incêndio. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos<br />
– Universidade de São Paulo.<br />
SILVA, C. J. (2002). Comportamento de estruturas metálicas e mistas em<br />
situação de incêndio – modelagem e aplicações. Aracaju. Dissertação (Mestrado) –<br />
Universidade Federal do Espírito Santo.<br />
SILVA, V. P. (2001). Estruturas de Aço em Situação de Incêndio. São Paulo: Ed.<br />
Zigurate.<br />
SILVA, V. P. (2000). Ação térmica nas Estruturas: Determinação da Temperatura<br />
nos Elementos Estruturais de Aço com Proteção Térmica em Situação de<br />
Incêndio. Boletim Técnico da Escola Politécnica da <strong>USP</strong>, BT/PEF/9914, São Paulo.<br />
VARGAS, M. R.; SILVA, V. P. (2003). Resistência ao Fogo das Estruturas de Aço.<br />
Rio de Janeiro: Centro Brasileiro da Construção em Aço – CBCA.<br />
VILA REAL, P. (2003). Incêndio em Estruturas Metálicas – Cálculo Estrutural.<br />
Edições Orion, Mafra.<br />
WANG, Y. C. (2002). Steel and Composite Structures - Behaviour and Design for<br />
Fire Safety. London: Spon Press.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 97-116, 2008
ISSN 1809-5860<br />
SOBRE A FORMULAÇÃO DE UM MODELO DE<br />
DANO PARA O CONCRETO<br />
José Julio de Cerqueira Pituba 1 & Sergio Persival Baroncini Proença 2<br />
Resumo<br />
Este trabalho trata da formulação de leis constitutivas para meios elásticos, que uma<br />
vez danificados passam a apresentar diferentes comportamentos em tração e em<br />
compressão e certo grau de anisotropia. Inicialmente é apresentada a extensão de uma<br />
formulação para meios elásticos anisótropos e bimodulares que incorpora os casos de<br />
meios elásticos com anisotropia e bimodularidade induzidas pelo dano. Seguindo os<br />
conceitos da Mecânica do Dano Contínuo e a extensão mencionada da formulação,<br />
propõe-se um modelo constitutivo para o concreto assumindo por hipótese<br />
fundamental, a equivalência de energia entre meio danificado real e meio contínuo<br />
equivalente. Tal hipótese garante a simetria do tensor constitutivo e a sua consistência<br />
termodinâmica. De acordo com o modelo proposto, o material é considerado como um<br />
meio elástico inicialmente isótropo que passa a apresentar anisotropia induzida pela<br />
evolução do dano. Além disso, a danificação pode também induzir uma resposta<br />
bimodular no material, isto é, respostas elásticas diferentes para estados de tensão de<br />
tração ou de compressão predominantes. Nesse sentido, dois tensores de dano<br />
governando as rigidezes em regimes predominantes de tração ou de compressão são<br />
introduzidos. Sugere-se então, um critério afim de caracterizar os estados dominantes.<br />
As deformações permanentes induzidas pelo dano são, de uma forma geral,<br />
desconsideradas. No entanto, propõe-se uma versão unidimensional do modelo que<br />
permite a sua consideração. Por outro lado, os critérios para a ativação inicial dos<br />
processos de danificação e de sua posterior evolução são escritos em termos de<br />
densidade de energia de deformação. Os parâmetros do modelo podem ser<br />
identificados mediante experimentos, onde estados de tensão uniaxial e biaxial são<br />
induzidos. Também propõem-se leis de evolução de dano com base nos resultados<br />
experimentais. A boa coerência do modelo é ilustrada comparando-se uma série de<br />
respostas experimentais e numéricas no concreto relativas a estados de tensão uni, bi e<br />
triaxiais. Por fim, o modelo é empregado em análises unidimensionais e planas de vigas<br />
e pórtico em concreto armado com o objetivo de mostrar a sua potencialidade.<br />
Palavras-chave: modelos constitutivos; concreto; mecânica do dano.<br />
1 Professor do Departamento de Engenharia Civil-CAC/UFG, jjpituba@yahoo.com.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, persival@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
118<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Muitos materiais compósitos, reforçados com fibras, apresentam-se<br />
claramente como meios anisótropos e bimodulares [JONES (1977)]. Já compósitos<br />
frágeis, como o concreto, pertencem a uma categoria de materiais que podem ser<br />
considerados inicialmente isótropos e unimodulares, porém, quando danificados<br />
passam a exibir anisotropia e diferentes rigidezes em tração e em compressão<br />
[MAZARS et all (1990)]. Dentro do regime de pequenas deformações, a formulação de<br />
leis constitutivas para materiais com isotropia ou anisotropia elástica que apresentam<br />
diferentes comportamentos em tração e em compressão é apresentada por CURNIER<br />
et all (1995), estendendo tais características para os casos bi e tridimensional. A<br />
proposta dessa formulação consiste em admitir para a modelagem de um material<br />
hiperelástico bimodular, que a densidade de energia potencial elástica deva ser uma<br />
vez diferenciável continuamente (em qualquer ponto) porém diferenciável duas vezes<br />
continuamente apenas por partes. A relação tensão-deformação derivada de tal<br />
potencial tem continuidade (em qualquer ponto) e apresenta um tensor de elasticidade<br />
descontínuo em relação a uma hipersuperfície que contém a origem e que divide o<br />
espaço das deformações em regiões de tração e de compressão; nessas condições<br />
torna-se possível reproduzir uma resposta bimodular.<br />
A formulação que se propõe neste trabalho pretende introduzir no<br />
desenvolvimento de CURNIER et all (1995) as condições que permitam levar em<br />
conta a danificação. Dessa formulação origina-se um modelo constitutivo para o<br />
concreto que pode então ser simulado como um meio contínuo inicialmente isótropo<br />
com anisotropia induzida pelo dano. A classe de anisotropia induzida, adotada no<br />
modelo, decorre do pressuposto que localmente o concreto solicitado apresenta<br />
sempre uma distribuição de danificação com orientação bem definida. Essa<br />
suposição, aliás, está justificada na observação do comportamento do material em<br />
ensaios experimentais [WILLAM et all (1988), KUPFER et all (1969) e VAN MIER<br />
(1984)]. Em outras palavras, considera-se que a danificação orientada é responsável<br />
pela mudança de característica do material, passando de um meio inicialmente<br />
isótropo para um meio com isotropia transversal.<br />
Outro aspecto importante da formulação do modelo é o caráter bimodular<br />
adquirido pelo concreto danificado. Isso é possível pela definição de dois tensores de<br />
dano, um para estados predominantes de tração e um outro para compressão.<br />
O texto que segue é composto por cinco seções. Na seção 2, discute-se a<br />
generalização da formulação de CURNIER et all (1995) para incorporar a danificação<br />
do material. Na seção 3 apresenta-se a proposta de um modelo de dano onde alguns<br />
de seus aspectos complementares são abordados. Nas seções 4 e 5 apresentam-se<br />
alguns resultados numéricos do emprego do modelo proposto. Na última seção são<br />
apresentadas as conclusões deste trabalho.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
119<br />
2 PROPOSTA DE FORMULAÇÃO PARA MEIOS ELÁSTICOS<br />
ANISÓTROPOS COM DANIFICAÇÃO E RESPOSTA BIMODULAR<br />
Esta proposta de formulação visa estender os modelos de elasticidade linear<br />
em meios anisótropos bimodulares postulados por CURNIER et all (1995), de modo a<br />
se levar em conta a danificação nesses meios. Propõe-se que os coeficientes ditos<br />
volumétricos λ ab e de cisalhamento μ a passem a ser funções de variáveis de<br />
danificação, sendo assim a lei tensão-deformação passa a sofrer a influência das<br />
variáveis de dano. Como o critério para a identificação das respostas constitutivas de<br />
compressão ou de tração, hipersuperfície separadora g(ε,D i ), é função das<br />
componentes de deformação, este critério é então influenciado pelas variáveis de<br />
dano.<br />
Outra observação pertinente é sobre a introdução de variáveis associadas ao<br />
dano, que podem ser interpretadas como taxas de energia liberadas durante o<br />
processo de evolução do dano. Tais variáveis podem ser empregadas na definição<br />
dos critérios que identificam o início e a evolução da danificação e que são<br />
necessários para a complementação da formulação, conforme será discutido mais<br />
adiante.<br />
A expressão para a função de energia, válida para casos gerais de anisotropia,<br />
é escrita na seguinte forma:<br />
λab<br />
(D i,g(<br />
ε))<br />
W(D i,g(<br />
ε),<br />
ε)<br />
=<br />
tr(A a ε)tr(A b ε) + μ a ( Di<br />
) tr(A a ε 2 ) (a, b =1, d) (1)<br />
2<br />
onde o sub-índice i pode assumir valores de 1 até o número de variáveis escalares de<br />
dano que os modelos venham a considerar, sendo ainda d = 1 para isotropia<br />
(envolvendo as duas constantes de Lamè), d = 2 para isotropia transversal (5<br />
constantes) e d = 3 para ortotropia (9 constantes). Os tensores A a e A b são: (A 1 = I)<br />
para materiais isótropos, (A 1 = I, A 2 = A) para materiais com isotropia transversal e (A 1<br />
= I, A 2 = A, A 3 = B) para materiais ortótropos.<br />
Considere-se neste momento que o material comporta-se inicialmente como<br />
um meio isótropo com iguais rigidezes em tração e em compressão; com o<br />
surgimento e a evolução da danificação, o material passa a apresentar um<br />
comportamento bimodular com anisotropia. Admitindo-se, pois, uma situação genérica<br />
em que o meio já apresente um certo nível de dano, que gerou um estado de isotropia<br />
transversal, as relações derivadas do potencial elástico passam a ser dadas pelas<br />
seguintes relações:<br />
12( i ε i<br />
λ11<br />
W (D i ,g(ε,D i ),ε)= tr 2 (ε)+μ 1 tr(ε 2 λ<br />
)- 22 ( D i,g(<br />
ε,Di<br />
))<br />
tr 2 (Aε)-<br />
2 2<br />
λ D ,g( ,D )) tr(ε)tr(Aε)-μ 2 (D i )tr(Aε 2 ) (2)<br />
σ(D i ,g(ε,D i ),ε)= λ 11 tr(ε)I+2μ 1 ε- λ D ,g( ,D )) tr(Aε)A-<br />
22( i ε i<br />
λ D ,g( ,D )) [tr(ε)A+tr(Aε)I]-μ 2 (D i )[Aε+εA T ] (3)<br />
12( i ε i<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
120<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
E (D i ,g(ε,D i ),ε) = E 0 - λ D ,g( ,D )) [A⊗A] - λ D ,g( ,D )) [A⊗I+ I⊗A]-μ 2 (D i )<br />
22( i ε i<br />
12( i ε i<br />
[A ⊗ I+I ⊗ A] (4)<br />
As variáveis associadas ao dano são obtidas da variação da função de energia<br />
(Eq. (1)) em relação ao incremento dos processos de danificação. Portanto,<br />
∂W<br />
Y(D i ,g(ε,D i ),ε)=∇ D W=<br />
∂D<br />
i<br />
= −<br />
1<br />
2<br />
∂λ<br />
22<br />
(D i,g(<br />
ε,Di<br />
))<br />
tr 2 ∂λ<br />
(Aε) −<br />
∂D<br />
i<br />
12<br />
(D i,g(<br />
ε,Di<br />
))<br />
tr(ε)tr(A<br />
∂D<br />
∂ 2(Di<br />
)<br />
ε) − μ tr(Aε 2 ) (5)<br />
∂D<br />
i<br />
i<br />
sendo λ 11 = λ 0 e μ 1 =μ 0 as constantes de Lamè e E 0 o tensor de rigidez elástica<br />
isótropo.<br />
O caráter bimodular é levado em conta pelas seguintes condições:<br />
⎛ −<br />
⎜<br />
λ12(Di<br />
) se<br />
λ 12(D i,g(<br />
ε,Di<br />
)) : =<br />
+<br />
⎝λ12(Di<br />
) se<br />
g( ε,Di<br />
) < 0<br />
;<br />
g( ε,D<br />
) > 0<br />
i<br />
⎛ −<br />
⎜<br />
λ 22(Di<br />
) se<br />
λ 22(D i,g(<br />
ε,Di<br />
)) : =<br />
+<br />
⎝λ<br />
22(Di<br />
) se<br />
g( ε,Di<br />
) < 0<br />
g( ε,D<br />
) > 0<br />
i<br />
(6)<br />
Observa-se ainda que para valores nulos das variáveis de dano todos os<br />
coeficientes dependentes delas se anulam e o material tem um comportamento de<br />
meio isótropo. Além disso, nessas condições o meio exibe uma característica<br />
unimodular. Vale ressaltar que as condições de salto tangencial nulo do tensor<br />
constitutivo devem também ser obedecidas aqui. Com isso os coeficientes de<br />
cisalhamento μ a devem ser iguais em tração e em compressão.<br />
A escolha das variáveis de dano e da classe de anisotropia consideradas num<br />
modelo depende do material que se deseja simular. Nesse sentido, é importante<br />
observar que a danificação influencia também a forma de variação dos tensores de<br />
quarta de ordem [ A a ⊗ Ab<br />
] e [ A a ⊗ I + I⊗A<br />
a ].<br />
Observa-se que a formulação proposta pode ser empregada tanto para<br />
materiais elásticos danificados possuindo anisotropia e caráter bimodular iniciais,<br />
como para materiais elásticos danificados com anisotropia e bimodularidade induzidas<br />
pelo dano. Neste último caso, a inserção das variáveis de dano na formulação é feita<br />
de modo criterioso para gerar um certo grau de anisotropia do material, assim como<br />
para induzir o surgimento do caráter bimodular.<br />
3 PROPOSTA DE MODELO PARA O CONCRETO<br />
O concreto é aqui entendido como um material que pertence à categoria dos<br />
meios inicialmente isótropos que passam a apresentar isotropia transversal e resposta<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
121<br />
bimodular induzidas pelo dano. A formulação do modelo para o concreto tem por base<br />
o formalismo apresentado no item anterior e, além disso, procura atender ao princípio<br />
de equivalência de energia entre meio real danificado e meio contínuo equivalente<br />
estabelecido na Mecânica do Dano [LEMAITRE (1996)]. Dessa forma, os tensores<br />
constitutivos de rigidez e de flexibilidade do meio contínuo equivalente resultam<br />
simétricos.<br />
Observa-se que formas gerais que permitem contemplar a anisotropia induzida<br />
pela danificação podem ser consideradas na definição do tensor de dano de quarta<br />
ordem D. Neste trabalho para a definição de D, opta-se por uma forma dita de dano<br />
escalar dada por: D = f j (D i ) M j , onde f j (D i ) são funções de valor escalar das variáveis<br />
escalares de dano escolhidas e M j são tensores de anisotropia. No caso deste<br />
modelo, adotam-se para M j tensores que permitem representar a isotropia transversal.<br />
Tendo-se em vista o caráter bimodular gerado pela danificação, é interessante<br />
definir dois tensores de dano, um para estados predominantes de tração e um outro<br />
para estados predominantes de compressão.<br />
Para estados predominantes de tração, propõe-se o seguinte tensor de dano<br />
escalar:<br />
D T = f 1 (D 1 , D 4 , D 5 )( A ⊗ A)<br />
+ 2 f 2 (D 4 , D 5 )[( A⊗ I + I⊗A<br />
) − ( A ⊗ A)]<br />
(7)<br />
sendo f 1 (D 1 , D 4 , D 5 ) = D 1 – 2 f 2 (D 4 , D 5 ) e f 2 (D 4 , D 5 ) = 1 – (1-D 4 ) (1-D 5 ).<br />
O tensor de dano apresenta duas variáveis escalares na sua composição (D 1 e<br />
D 4 ) e uma terceira variável de dano D 5 , ativada somente se tiver havido compressão<br />
prévia com danificação correspondente. A variável D 1 representa a danificação na<br />
direção perpendicular ao plano local de isotropia transversal do material e D 4 é a<br />
variável representativa da danificação gerada pelo cisalhamento entre as bordas das<br />
fissuras pertencentes àquele plano.<br />
Na Eq. (7), o tensor I é o tensor identidade de segunda ordem e o tensor A é,<br />
por definição, CURNIER et all (1995), formado pelo produto tensorial do versor<br />
perpendicular ao plano de isotropia transversal por ele mesmo.<br />
Para estados predominantes de compressão, propõe-se para o tensor de dano<br />
a seguinte relação:<br />
D C =f 1 (D 2 ,D 4 ,D 5 )( A ⊗ A)<br />
+f 2 (D 3 ) [( I⊗<br />
I)<br />
− ( A ⊗ A)]<br />
+2f 3 (D 4 ,D 5 )[( A⊗ I + I⊗A<br />
) − ( A ⊗ A)]<br />
(8)<br />
sendo f 1 (D 2 , D 4 , D 5 ) = D 2 – 2 f 3 (D 4 , D 5 ) ,f 2 (D 3 ) = D 3 e f 3 (D 4 , D 5 )= 1 – (1-D 4 ) (1-D 5 ).<br />
Notam-se três variáveis escalares na sua composição: D 2 , D 3 e D 5 , além de D 4 ,<br />
relacionada a efeitos de tração pré-existentes. A variável D 2 (danificação<br />
perpendicular ao plano local de isotropia transversal do material) penaliza o módulo<br />
de elasticidade nessa direção, e juntamente com D 3 (representante da danificação no<br />
plano de isotropia transversal) penaliza o coeficiente de Poisson em planos<br />
perpendiculares ao de isotropia transversal. Observa-se que, com a forma descrita, é<br />
possível capturar a danificação dos módulos de cisalhamento e ao mesmo tempo<br />
atender à hipótese de salto tangencial nulo do tensor constitutivo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
122<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
É possível mostrar que as formas adotadas para D T e D C atendem ao princípio<br />
de equivalência de energia no sentido de que proporcionam um tensor de rigidez<br />
simétrico. Finalmente, os tensores constitutivos resultantes são descritos por:<br />
E = λ I ⊗ I]<br />
+ 2μ<br />
[ I⊗<br />
] − λ D ,D ,D ) [ A ⊗ A]<br />
− λ D ) [A⊗I+I⊗A]<br />
T<br />
11[ 1 I<br />
+<br />
22( 1 4 5<br />
+<br />
12( 1<br />
− D ,D ) [ A⊗ I + I⊗A]<br />
(9)<br />
μ 2 ( 4 5<br />
E = λ I ⊗ I]<br />
+ 2μ<br />
[ I⊗<br />
] − λ D ,D ,D ,D ) [ A ⊗ A]<br />
− λ D , ) [A⊗I+I⊗A]<br />
C<br />
11[ 1 I<br />
−<br />
22( 2 3 4 5<br />
−<br />
12( 2 D3<br />
−<br />
(1 − 2ν<br />
0 ) −<br />
− λ11( D3<br />
) [I⊗I]- λ11(D3<br />
) [I ⊗ I] − μ 2( D4,<br />
D5<br />
) [ A⊗ I + I⊗A]<br />
(10)<br />
ν<br />
0<br />
onde λ<br />
11<br />
= λ<br />
0<br />
e μ<br />
1<br />
= μ<br />
0<br />
. Os outros parâmetros só existem para dano não-nulo,<br />
evidenciando dessa forma a anisotropia e bimodularidade induzidas pelo dano, e são<br />
definidos por:<br />
λ<br />
+<br />
2 +<br />
22 1 4 5 0 0 1 1<br />
μ<br />
( D ,D ,D ) = ( λ + 2μ<br />
)(2D − D ) − 2λ12(D1)<br />
− 2 2(D4,D5<br />
)<br />
λ + ; μ (D ,D ) = 2μ<br />
[1 − (1 − D ) (1 D ) ]<br />
12( D1)<br />
= λ0D1<br />
2<br />
2 4 5 0<br />
4 −<br />
5<br />
2<br />
−<br />
λ 22 ( D2,D3,D4,D5<br />
) = ( λ 0 + 2μ<br />
0 )(2D 2 − D2<br />
) − 2λ12<br />
(D2,D3<br />
)<br />
( ν 0 − 1) −<br />
+ λ11(D3<br />
) − 2μ<br />
2(D<br />
4,D5<br />
)<br />
ν<br />
0<br />
2<br />
−<br />
(11)<br />
2<br />
12 ( 2 3 0 3<br />
2 − 3<br />
λ − D ,D ) = λ [(1 − D ) − (1 − D )(1 D )] ; (D ) = λ (2D D )<br />
λ −<br />
11 3 0 3 −<br />
Numa interpretação puramente matricial, os diferentes produtos tensoriais das<br />
Eqs. (9) e (10) possuem a função de alocar as constantes que os multiplicam em<br />
determinadas posições nos tensores de rigidez (ver Apêndice).<br />
2<br />
3<br />
3.1 Critério para a divisão do espaço das deformações<br />
Em CURNIER et all (1995) define-se uma hipersuperfície, no espaço das<br />
tensões ou das deformações, a ser empregada como critério para a identificação das<br />
respostas constitutivas de compressão ou de tração. Neste trabalho adota-se uma<br />
forma particular para a hipersuperfície no espaço das deformações: um hiperplano g<br />
(ε), caracterizado por sua normal unitária N (||N|| = 1).<br />
Este critério é ainda estendido de modo que o estado de dano existente passe<br />
a ter influência sobre a definição do hiperplano. Por simplificação, restringindo-se o<br />
estudo ao caso em que o sistema local de referência adotado para o material é aquele<br />
obtido impondo-se a direção 1 como sendo perpendicular ao plano local de isotropia<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
123<br />
transversal, e em correspondência aos casos mais gerais de solicitação propõe-se<br />
para o hiperplano a seguinte relação:<br />
g(ε,D T ,D C ) = N(D T ,D C ) . ε e = γ 1 (D 1 ,D 2 )<br />
e<br />
ε V + γ 2 (D 1 ,D 2 )<br />
e<br />
ε 11<br />
(12)<br />
onde γ 1 (D 1 ,D 2 ) = {1+H(D 2 )[H(D 1 )-1]}η(D 1 )+{1+H(D 1 )[H(D 2 )-1]}η(D 2 ) e γ 2 (D 1 ,D 2 ) = D 1 +D 2 .<br />
As funções de Heaveside empregadas na última relação são dadas por:<br />
H(D i ) = 1 para D i > 0; H(D i ) = 0 para D i = 0 (i = 1, 2) (13)<br />
As funções η(D 1 ) e η(D 2 ) são definidas, respectivamente, para os casos de<br />
tração, supondo que não tenha danificação prévia de compressão, e de compressão,<br />
supondo que não tenha havido danificação prévia de tração.<br />
η (D 1 ) =<br />
2<br />
− D 1 + 3 − 2D 1<br />
3<br />
; η (D 2 ) =<br />
2<br />
− D 2 + 3 − 2D 2<br />
3<br />
(14)<br />
3.2 Critérios e leis de evolução de danificação<br />
Como visto, na formulação do modelo a danificação induz anisotropia no<br />
concreto. Sendo, portanto, conveniente separar os critérios de danificação em: critério<br />
para início de danificação, quando o material deixa de ser isótropo; e critério para<br />
carga e descarga, entendido aqui num sentido de evolução ou não das variáveis de<br />
dano, quando o material já apresentar-se como transversalmente isótropo. Sugere-se<br />
como critério para identificação de início da danificação a comparação entre a energia<br />
∗<br />
de deformação elástica complementar W e , calculada localmente considerando-se o<br />
meio inicialmente íntegro, isótropo e puramente elástico, e um certo valor de<br />
referência Y 0T , ou Y 0C , obtido de ensaios uniaxiais de tração, ou de compressão,<br />
respectivamente.<br />
O critério para ativação inicial de processos de danificação em tração ou<br />
compressão é dado por:<br />
f T,C (σ) =<br />
∗<br />
W e - Y 0T,0C < 0 (15)<br />
então D T = 0 (ou seja, D1 = D4<br />
= 0 ) para estados predominantes de tração ou<br />
D C = 0 (ou seja, D2 = D3<br />
= D5<br />
= 0 ) para estados de compressão, onde o regime de<br />
resposta do material é elástico linear e isótropo.<br />
Os valores de referência Y 0T e Y 0C são parâmetros do modelo definidos pelas<br />
seguintes expressões:<br />
Y<br />
0T<br />
2<br />
0T<br />
σ<br />
= ;<br />
2E<br />
0<br />
Y<br />
0C<br />
2<br />
0C<br />
σ<br />
= (16)<br />
2E<br />
0<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
124<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
onde σ 0T<br />
e σ 0C<br />
são as tensões dos limites elásticos determinados em regimes<br />
uniaxiais de tração e de compressão.<br />
É importante notar que o meio danificado apresenta um plano de isotropia<br />
transversal em correspondência ao nível atual de dano. No que segue, por<br />
conveniência, admite-se que seja conhecido o plano de isotropia transversal e que<br />
tenha sido adotado um sistema de coordenadas locais tal que a direção 1 seja<br />
perpendicular àquele plano.<br />
A energia elástica complementar do meio danificado expressa-se segundo<br />
formas diferentes, dependendo se os estados de deformação predominantes são de<br />
tração ou de compressão. Para o caso de estados predominantes de tração<br />
(g(ε,D T ,D C ) > 0) vale a relação:<br />
W<br />
∗<br />
e+<br />
0<br />
2<br />
11<br />
σ<br />
=<br />
2E (1−<br />
D<br />
0<br />
2<br />
0)(<br />
σ12<br />
2<br />
D4)<br />
( σ<br />
+<br />
2<br />
1)<br />
2<br />
13 )<br />
2<br />
D5)<br />
2<br />
22<br />
+ σ<br />
2E<br />
0<br />
2<br />
33<br />
0<br />
) ν<br />
−<br />
2<br />
23<br />
0<br />
σ11(<br />
σ22<br />
+ σ<br />
E (1−<br />
D )<br />
0<br />
1<br />
33<br />
) ν<br />
−<br />
0<br />
σ22σ<br />
E<br />
( 1 + ν + σ (1 + ν0)<br />
σ<br />
+ +<br />
(17)<br />
E (1 − (1 −<br />
E<br />
0<br />
33<br />
Por outro lado, para estados predominantes de compressão (g(ε,D T ,D C ) < 0), a<br />
energia elástica complementar para um material com isotropia transversal induzida<br />
pelo dano é expressa por:<br />
W<br />
∗<br />
e−<br />
0<br />
2<br />
11<br />
σ<br />
=<br />
2E (1−<br />
D<br />
0<br />
2<br />
0 )( σ12<br />
2<br />
D4)<br />
(1<br />
2<br />
2)<br />
2<br />
13 )<br />
2<br />
D5<br />
)<br />
2<br />
22<br />
( σ + σ<br />
+<br />
2E (1−<br />
0<br />
2<br />
33 )<br />
2<br />
D3)<br />
2<br />
0 ) 23<br />
0<br />
ν0σ11(<br />
σ22<br />
+ σ33<br />
) ν0σ22σ<br />
−<br />
−<br />
E (1−<br />
D )(1−<br />
D ) E (1−<br />
D<br />
0<br />
( 1+ ν + σ (1+ ν σ<br />
+ +<br />
(18)<br />
E (1−<br />
− E<br />
2<br />
3<br />
0<br />
33<br />
2<br />
3 )<br />
Considerando-se, então, uma situação geral de meio danificado em regime<br />
predominante de tração, o critério para a identificação de acréscimos de danificação é<br />
representado pela seguinte relação:<br />
∗<br />
e +<br />
0<br />
∗<br />
T<br />
f T (σ) = W − Y ≤ 0<br />
(19)<br />
∗<br />
onde o valor de referência Y 0T é definido pela máxima energia elástica complementar<br />
determinada ao longo do processo de danificação até o estado atual, isto é:<br />
∗<br />
T 0<br />
∗<br />
T 0<br />
∗<br />
Y = MAX ( Y , W e +<br />
) (20)<br />
Para o meio danificado em regime predominante de compressão, valem<br />
relações análogas ao caso de tração.<br />
Nos casos onde configura-se carregamento, isto é, onde D& T ≠ 0 ou D&<br />
C ≠ 0 , é<br />
necessário atualizar os valores das variáveis escalares de dano que aparecem nos<br />
tensores D T e D C , considerando-se suas leis de evolução.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
125<br />
De um modo geral, nota-se que as relações que definem as variáveis<br />
associadas podem ser representadas por:<br />
Y T,C = F(σ, E 0 , D T,C ) (21)<br />
Também usando de uma representação implícita, as leis de evolução das<br />
variáveis de dano podem ser dadas por:<br />
& = F * (Y T,C , b T,C ) (22)<br />
D T , C<br />
onde b T,C são conjuntos de parâmetros contidos nas leis de evolução de D T ou D C .<br />
Observa-se que para situações de carregamento monotônico crescente, as Eqs. (22)<br />
podem ser integradas diretamente. Entretanto, as relações para Y T,C e D T,C formam<br />
um sistema implícito. A solução do sistema pode ser obtida por meio de um<br />
procedimento iterativo.<br />
Limitando-se a análise ao caso de carregamento monotônico crescente, as leis<br />
de evolução propostas para as variáveis escalares de dano são resultantes de ajustes<br />
sobre resultados experimentais e apresentam características similares àquelas<br />
encontradas nos trabalhos de MAZARS (1984) e LA BORDERIE (1991). A forma geral<br />
proposta é:<br />
D<br />
i<br />
1+<br />
A i<br />
= 1−<br />
com i = 1, 5 (23)<br />
A + exp B (Y<br />
i<br />
[ − Y )]<br />
i<br />
i<br />
0i<br />
onde A i , B i e Y 0i são parâmetros a serem identificados. Os parâmetros Y 0i são<br />
entendidos como limites iniciais para a ativação da danificação, os mesmos utilizados<br />
na Eq. (15).<br />
3.3 Critério para a definição do plano local de isotropia transversal do<br />
material<br />
Inicialmente estabelece-se um critério geral para a existência do plano de<br />
isotropia transversal. Propõe-se, neste trabalho, que a isotropia transversal decorrente<br />
da danificação se manifesta somente se existirem taxas positivas de deformação, ao<br />
menos em uma das direções principais. Estabelecido o critério geral para existência<br />
do plano, definem-se algumas regras para identificar sua localização. Imaginando-se,<br />
em primeiro lugar, um estado de deformação em que uma das taxas de deformação é<br />
não-nula ou de sinal contrário às demais, aplica-se a seguinte regra:<br />
“No espaço das deformações principais, se duas das três taxas de deformação<br />
forem de alongamento, de encurtamento ou nulas, o plano definido por elas será o<br />
plano local de isotropia transversal do material.”<br />
Nesse caso enquadra-se, por exemplo, a tração uniaxial; resultando que o<br />
plano de isotropia transversal é perpendicular à direção da tensão de tração.<br />
Há casos não abrangidos por essa regra. Por exemplo, o estado de<br />
deformação plana em que as deformações não-nulas são de sinais contrários. Com a<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
126<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
primeira regra proposta torna-se impossível identificar o plano local de isotropia<br />
transversal do material. Para essa situação, vale uma segunda regra:<br />
“Num estado de deformação plana, onde as taxas de deformação principal no<br />
plano tenham sinais contrários, o plano local de isotropia transversal do material fica<br />
definido pelas direções da deformação principal permanentemente nula e da<br />
deformação cuja taxa seja positiva.”<br />
Um outro caso particular ocorre quando todas as taxas de deformação<br />
principal são positivas. Para esses estados vale uma terceira regra, segundo a qual<br />
assume-se que a direção de maior alongamento seja perpendicular ao plano local de<br />
isotropia transversal do material.<br />
3.4 Proposta de modelo de dano com deformações anelásticas – versão<br />
uniaxial<br />
Observações experimentais indicam que as deformações permanentes não<br />
são desprezíveis nas situações de descarregamento. Alguns modelos de dano levam<br />
em conta na sua formulação tais deformações associando-as exclusivamente ao<br />
fenômeno da danificação. Neste contexto, pode-se citar os modelos propostos por<br />
COMI (2000), PAPA & TALIERCIO (1996), RAMTANI (1990), entre outros.<br />
Dentro da formulação do modelo proposto neste trabalho, admite-se que as<br />
deformações permanentes surgem após o início da danificação, limitando-se a<br />
proposta apenas aos casos uniaxiais.<br />
Admitindo-se, por simplificação, que as deformações plásticas são compostas<br />
exclusivamente por deformações volumétricas, nos moldes de alguns modelos<br />
contidos na literatura [RAMTANI et all (1992)], e ainda levando-se em conta o efeito<br />
unilateral, a lei de evolução para as deformações plásticas resulta:<br />
ε&<br />
p<br />
⎛<br />
= ⎜<br />
βT<br />
⎜<br />
⎝ 1−<br />
D<br />
β ⎞<br />
C<br />
D& + D&<br />
I (24)<br />
( ) ( ) ⎟ ⎟ 2 1<br />
2 2<br />
1 1−<br />
D2<br />
⎠<br />
Observa-se que nesta proposta, β T e β C são parâmetros diretamente<br />
relacionados às evoluções das deformações plásticas induzidas pelo dano em tração<br />
e em compressão, respectivamente.<br />
4 RESULTADOS NUMÉRICOS DA CALIBRAÇÃO<br />
O primeiro exemplo trata de um ensaio tração uniaxial de um corpo de prova<br />
de concreto (E 0 = 15600 MPa e ν 0 = 0.2). Os resultados experimentais foram<br />
apresentados por MAZARS et all (1990) num ensaio denominado PIED (“Pour<br />
Identifier L’Endommagement Diffus”). Os parâmetros do modelo foram obtidos por<br />
calibração da curva tensão normal contra deformação na direção da força aplicada,<br />
resultando em: A 1 = 70, B 1 = 22110 MPa -1 e Y 01 = 1.5 x 10 -5 MPa.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
127<br />
Na Figura 1 a resposta numérica fornecida pelo modelo proposto é comparada<br />
com a resposta experimental do ensaio PIED. Observa-se que as deformações<br />
transversais ilustradas (direções 2 e 3) correspondem apenas aos resultados obtidos<br />
com os parâmetros identificados, não havendo registro experimental para confronto.<br />
1.2<br />
1<br />
0.8<br />
σ11 (MPa)<br />
Experimental -<br />
MAZARS et all (1990)<br />
Modelo<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
0<br />
-0.00005 0 0.00005 0.0001 0.00015 0.0002 0.00025 0.0003<br />
ε22 = ε33 (strain)<br />
ε11 (strain)<br />
Figura 1 - Simulação do teste de tração uniaxial: resultados experimentais e numéricos.<br />
Pelos resultados, nota-se que o conjunto de parâmetros identificados para o<br />
modelo permite reproduzir bastante bem os dados experimentais. Quanto às<br />
deformações transversais previstas pelo modelo, um bom indicativo é que elas estão<br />
em correspondência com a forma descrita em WILLAM et all (1988).<br />
O modelo também foi empregado na simulação de ensaios biaxiais e uniaxiais<br />
de tensão realizados por KUPFER et all (1969) em espécimes de concreto. O módulo<br />
de elasticidade e o coeficiente de Poisson utilizados na simulação numérica foram: E 0<br />
= 31850 MPa, ν 0 = 0.2. Chama-se a atenção para o fato de que em casos mais<br />
complexos de tensão, a calibração do conjunto de parâmetros que aparecem nas leis<br />
de evolução das variáveis de dano envolvidas exige ensaios uniaxiais e biaxiais. Em<br />
particular, os parâmetros relativos às variáveis D 1 e D 2 foram determinados por<br />
ensaios uniaxiais de tração e de compressão, respectivamente: A 1 = 69.4, B 1 = 9500<br />
MPa -1 , Y 01 = 0.8 x 10 -4 MPa, A 2 = -0.80, B 2 = 0.90 MPa -1 e Y 02 = 0.2 x 10 -2 MPa.<br />
Já os parâmetros relativos a D 3 foram obtidos do ensaio de compressão biaxial<br />
(σ 11 = σ 22 ), através da calibração das curvas experimentais tensão-deformação nas<br />
direções 1 e 2. Os parâmetros obtidos foram: A 3 = -0.60, B 3 = 1.305 MPa -1 e Y 03 = Y 02<br />
= 0.2 x 10 -2 MPa.<br />
A Figura 2a mostra a comparação entre as curvas experimentais tensãodeformação<br />
e as curvas obtidas com o modelo proposto para testes de compressão<br />
uniaxial e biaxial com diferentes níveis de solicitação. Vale ressaltar que as outras<br />
combinações de solicitação, por exemplo, compressão biaxial σ 22 = 0.52 σ 11 ,<br />
compressão-tração, foram simuladas com os parâmetros A i , B i e Y 0i acima descritos.<br />
Observa-se uma boa concordância entre resultados experimentais e numéricos nas<br />
curvas que envolvem as deformações diretas, de compressão nos casos analisados.<br />
Porém, os resultados das deformações transversais, ou de tração, subestimam a<br />
ductilidade observada experimentalmente. Isso se deve ao fato que na região próxima<br />
à tensão de pico, as deformações residuais passam a desempenhar um papel<br />
importante no comportamento do concreto. Um outro resultado de interesse é o<br />
domínio de ruptura (Fig. 2b), caracterizado pelos picos de tensão, obtido<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
128<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
numericamente em correspondência a solicitações uniaxiais e biaxiais. Pode-se<br />
observar que o modelo consegue prever o domínio de ruptura satisfatoriamente.<br />
-45<br />
-40<br />
-35<br />
-30<br />
-25<br />
-20<br />
-15<br />
-10<br />
-5<br />
0<br />
0.005<br />
σ 11 (MPa)<br />
0.004<br />
σ<br />
nσ<br />
0.003 0.002 0.001 0 -0.001 -0.002 -0.003<br />
ε > 0 ε< 0<br />
-0.004<br />
-0.005<br />
Experimental- n=0<br />
Modelo - n=0<br />
Experimental - n=1<br />
Modelo - n=1<br />
Experimental - n=0.52<br />
Modelo - n=0.52<br />
a)<br />
σ 11(MPa)<br />
0<br />
-50 -40 -30 -20 -10 0 10<br />
Experimental - KUPFER et<br />
all (1969)<br />
Modelo<br />
10<br />
-10<br />
-20<br />
-30<br />
-40<br />
-50<br />
σ 22(MPa)<br />
b)<br />
Figura 2 - Simulação de testes uniaxiais e biaxiais: a) resultados experimentais e numéricos<br />
b) domínio de falha biaxial.<br />
Considera-se agora a aplicação do modelo na simulação numérica de um<br />
ensaio realizado por VAN MIER (1984), em corpo de prova de concreto (E 0 = 23250<br />
MPa e ν 0 = 0.2) submetido a uma compressão triaxial segundo a relação σ 11 < 0; σ 22 =<br />
0.10 σ 11 ; σ 33 = 0.05σ 11 (Fig. 3). Como a resposta experimental em compressão<br />
uniaxial e biaxial deste concreto não é conhecida, optou-se por fazer a calibração dos<br />
parâmetros do modelo através da curva experimental tensão-deformação na direção<br />
1. A obtenção dos parâmetros relativos às variáveis de dano D 2 e D 3 resulta em: A 2 = -<br />
0.80, B 2 = 0.15 MPa -1 , A 3 = -0.60, B 3 = 1.305 MPa -1 e Y 02 = Y 03 = 0.2 x 10 -2 MPa.<br />
ε 33<br />
ε 22<br />
σ11 (MPa) Experimental -<br />
-80<br />
-70<br />
VAN MIER (1984)<br />
Modelo<br />
-60<br />
-50<br />
ε 22<br />
-40<br />
-30<br />
-20<br />
-10<br />
0<br />
0.03 0.02 0.01 0 -0.01 -0.02 -0.03<br />
ε 33 ε 11 x 10 -3<br />
Figura 3 - Simulação de teste de compressão triaxial: resultados experimentais e numéricos.<br />
Observa-se na curva σ 11 x ε 11 uma boa concordância entre os resultados<br />
experimentais e numéricos. Porém, os resultados das deformações transversais, mais<br />
uma vez não conseguem reproduzir a evidente ductilidade experimental. Contudo, o<br />
modelo é capaz de simular de modo bastante razoável o comportamento experimental<br />
até a tensão máxima.<br />
A versão uniaxial do modelo considerando-se deformações anelásticas foi<br />
empregada na simulação do ensaio uniaxial de compressão realizado por KUPFER et<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
129<br />
all (1969). Os parâmetros do modelo foram obtidos pela calibração da curva tensãodeformação<br />
experimental, resultando em: A 2 = 0,70, B 2 = 5,50 MPa -1 , Y 02 = 2,0 x 10 -3<br />
MPa e β C = 1,58 x 10 -3 . A Figura 4 evidencia que a incorporação das deformações<br />
plásticas melhora significativamente a captura das deformações transversais. Além<br />
disso, o modelo prevê corretamente a inversão no sentido da deformação volumétrica.<br />
σ 11 (MPa)<br />
-35<br />
-30<br />
-25<br />
-20<br />
-15<br />
-10<br />
-5<br />
Experimental<br />
Modelo<br />
σ 11 (MPa)<br />
-35<br />
-30<br />
-25<br />
-20<br />
-15<br />
-10<br />
-5<br />
Experimental<br />
Modelo - sem def. plásticas<br />
Modelo - com def. plásticas<br />
0.002 0.001<br />
ε 22 =ε 33 (strain)<br />
0<br />
0<br />
-0.001 -0.002<br />
ε 11 (strain)<br />
-0.003<br />
-0.004<br />
0.001<br />
0.0005<br />
0<br />
0 -0.0005 -0.001<br />
-0.0015<br />
-0.002 -0.0025<br />
ε vol (strain)<br />
Figura 4 - Simulação do teste de compressão uniaxial: resultados experimentais e numéricos.<br />
5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO<br />
5.1 Análises unidimensionais<br />
As versões unidimensionais dos modelos de dano de MAZARS (1984), LA<br />
BORDERIE (1991) e do modelo proposto, foram implementadas num programa para<br />
análise de estruturas de barras discretizadas com elementos finitos estratificados em<br />
camadas (EFICoS – “Eléments Finis à Couches Superposées”).<br />
São assumidas, como hipóteses de cálculo, a negligência de deformações por<br />
distorção. Para o concreto valem os modelos de danificação em estudo, e para as<br />
barras de aço longitudinais admite-se um comportamento elasto-plástico.<br />
Na seção transversal em concreto armado discretizada, uma certa camada<br />
pode conter aço e concreto. Admitindo-se perfeita aderência entre os materiais,<br />
definem-se, para a camada em questão, um módulo elástico e uma deformação<br />
anelástica equivalentes, utilizando-se de regra de homogeneização.<br />
5.1.1 Vigas em concreto armado<br />
Na confecção das vigas foi utilizado um concreto com E c = 29200 MPa. Para o<br />
aço das armaduras adotou-se E a = 196000 MPa e tensão de escoamento de 420<br />
MPa, admitindo-se um comportamento elasto-plástico perfeito. O coeficiente de<br />
Poisson adotado foi de 0,20. Maiores detalhes sobre a resposta experimental de cada<br />
tipo de viga, colhida a partir de provas realizadas com controle de carga, encontramse<br />
em ÁLVARES (1993). Na Figura 5 são fornecidos os detalhes de geometria e<br />
armação das vigas.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
130<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
P<br />
P<br />
2#5<br />
300<br />
deslocamento<br />
100 800<br />
800<br />
800 100<br />
240<br />
2#5<br />
2#5<br />
300 270<br />
90<br />
120<br />
# 5<br />
30<br />
30<br />
7#10<br />
# 5<br />
300 270 300 270<br />
3#10<br />
90 90<br />
120 120<br />
# 5<br />
30<br />
5#10<br />
Dimensões<br />
em mm<br />
Figura 5 - Geometria e armação das vigas.<br />
Os parâmetros de compressão de todos os modelos empregados na análise<br />
numérica foram identificados a partir das medidas de ensaios experimentais em<br />
corpos de prova submetidos à compressão uniaxial, realizados por ÁLVARES (1993).<br />
Já os parâmetros de tração foram identificados sobre uma resposta em tração uniaxial<br />
descrita pelo modelo de Mazars e proposta por ÁLVARES (1993) para o concreto das<br />
vigas. A Tabela 1 contém os valores dos parâmetros.<br />
Tabela 1 - Parâmetros dos modelos de MAZARS (1984), LA BORDERIE (1991) e proposto.<br />
MAZARS LA BORDERIE Proposto<br />
Tração Compressão Tração Compressão<br />
A T = 0,995 Y 01 =3,05x10 -4 MPa Y 02 =0,5 x 10 -2 MPa Y 01 = 0,72x10 -4 MPa Y 02 =0,5x10 -3 MPa<br />
B T = 8000 A 1 =3,50x10 +3 MPa -1 A 2 = 6,80 MPa -1 A 1 = 50 A 2 = -0,9<br />
A C = 0,85 B 1 = 0,95 B 2 = 0,7705 B 1 = 6700 MPa -1 B 2 = 0,4MPa -1<br />
B C = 1050 β 1 = 1,00 MPa β 2 = -10,00 MPa<br />
ε d0 =0,00007 σ f = 3,50 MPa<br />
Fazendo-se uso das simetrias de carregamento e de geometria, analisaram-se<br />
apenas as metades das vigas, impondo-se incrementos de deslocamentos. Nas<br />
análises foram utilizados 20 elementos finitos, discretizaram-se as seções<br />
transversais em 15 camadas, sendo uma camada de aço e concreto na viga com<br />
3#10.0 mm, duas na viga com 5#10.0 mm e três na viga com 7#10.0 mm. Os<br />
confrontos entre os resultados numéricos e experimentais, mediante curvas carga<br />
aplicada (P) por deslocamento vertical no meio do vão das vigas estão ilustrados na<br />
Figura 6.<br />
Pode-se observar que as respostas numéricas tendem a reproduzir uma forte<br />
quebra de rigidez inicial das vigas seguida de uma recuperação de rigidez<br />
subseqüente à redistribuição de esforços. Os próprios resultados experimentais<br />
apontam que esse processo é mais evidente no caso da viga pouco armada em razão<br />
da menor interação entre concreto e armadura, o que leva a um panorama de<br />
fissuração mais localizado entre as forças aplicadas.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
131<br />
VIGA 3#10.0 mm - ÁLVARES (1993)<br />
VIGA 5#10.0 mm - álvares (1993)<br />
45,00<br />
70,00<br />
40,00<br />
60,00<br />
35,00<br />
30,00<br />
50,00<br />
Força (kN)<br />
25,00<br />
20,00<br />
Força (kN)<br />
40,00<br />
30,00<br />
15,00<br />
10,00<br />
20,00<br />
5,00<br />
10,00<br />
0,00<br />
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00<br />
Deslocamento (mm)<br />
0,00<br />
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00<br />
Deslocamento (mm)<br />
VIGA 7#10.0 mm - ÁLVARES (1993)<br />
Força (kN)<br />
80,00<br />
70,00<br />
60,00<br />
50,00<br />
40,00<br />
30,00<br />
20,00<br />
Resultado Experimental<br />
LA BORDERIE (1991)<br />
MAZARS (1984)<br />
Modelo<br />
10,00<br />
0,00<br />
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00<br />
Deslocamento (mm)<br />
Figura 6 - Resultados numéricos da análise unidimensional.<br />
Em regime de serviço, observa-se ainda que os modelos de dano isótropo de<br />
Mazars e de La Borderie apresentam respostas similares às obtidas com o emprego<br />
do modelo proposto, porém devido ao tipo simplificado de análise (unidimensional)<br />
não é possível verificar alguma possível vantagem do emprego do modelo proposto<br />
anisótropo sobre modelos de dano isótropo.<br />
Já em regime de ruptura, o modelo proposto evidencia uma resistência maior<br />
aos esforços quando comparado aos modelos isótropos, exceto no caso da viga com<br />
3#10.0 mm, onde a fissuração é intensa. Acredita-se que essa diferença é devida à<br />
hipótese de equivalência de energia feita na formulação do modelo proposto, fazendo<br />
com que em altos níveis de carga surja uma penalização da rigidez menos intensa,<br />
levando ao concreto a resistir de forma mais eficiente e consequentemente a uma<br />
plastificação mais tardia das armaduras. Ainda nesse contexto, observa-se que as<br />
respostas numéricas indicam que a plastificação das armaduras ocorrem em<br />
diferentes níveis de solicitação quando comparadas com as respostas experimentais,<br />
principalmente nos casos das vigas com cinco e sete barras de aço. Isso pode ser<br />
explicado pelo fato de ser assumida perfeita aderência entre a armadura e o concreto<br />
como hipótese para a simulação numérica.<br />
5.1.2 Pórtico em concreto armado<br />
O concreto utilizado na confecção do pórtico tem módulo de elasticidade E c =<br />
30400 MPa; o aço possui E a = 192500 MPa, tensão de início de plastificação de 418<br />
MPa e tensão última de 596 MPa. Foi adotado um modelo elasto-plástico bilinear com<br />
um módulo de elasticidade reduzido no segundo trecho: E a2 = 0,009 E a .<br />
No ensaio experimental inicialmente aplicou-se uma força axial total de 700 kN<br />
para cada coluna, mantida então constante durante toda a aplicação da força lateral.<br />
Esta força foi aplicada em estágios até a capacidade última do pórtico ser atingida.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
132<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
Maiores detalhes encontram-se em VECCHIO et all (1992). As características<br />
geométricas do pórtico, assim como a distribuição das armaduras estão ilustradas na<br />
Figura 7. Já a Tabela 2 contém os valores dos parâmetros.<br />
4600<br />
400<br />
1600<br />
400<br />
1800<br />
Q<br />
B<br />
Coluna<br />
Norte<br />
700 kN 700 kN<br />
A<br />
B<br />
A<br />
B B B B<br />
Dimensões<br />
em mm<br />
A<br />
A<br />
B<br />
B<br />
Coluna<br />
Sul<br />
300<br />
30<br />
20<br />
SEÇÃO A<br />
300<br />
SEÇÃO B<br />
20<br />
20<br />
20<br />
50<br />
30<br />
30<br />
4 # 20<br />
400<br />
300<br />
75 50 75<br />
20<br />
20<br />
4 # 20<br />
4 # 20<br />
# 10<br />
4 # 20<br />
30<br />
# 10<br />
400<br />
120<br />
300<br />
900 400 3100 400 900 800<br />
5700<br />
20<br />
20<br />
50<br />
320<br />
20 20 20 20<br />
Figura 7 - Geometria e armação do pórtico.<br />
Tabela 2 - Parâmetros dos modelos de MAZARS (1984), LA BORDERIE (1991) e proposto.<br />
MAZARS LA BORDERIE Proposto<br />
Tração Compressão Tração Compressão<br />
A T = 0,995 Y 01 = 2,25x10 -4 MPa Y 02 = 0,5 x 10 -2 MPa Y 01 =0,72x10 -4 MPa Y 02 =1,7x10 -3 MPa<br />
B T = 8000 A 1 = 2,78x10 +3 MPa -1 A 2 = 14,00 MPa -1 A 1 = 50 A 2 = -0,8<br />
A C = 1,30 B 1 = 0,93 B 2 = 0,90 B 1 = 6700 MPa -1 B 2 =1,1MPa -1<br />
B C = 1890 β 1 = 0,50 MPa β 2 = -2,00 MPa<br />
ε d0 =0,00007<br />
σ f = 3,50 MPa<br />
Para a análise numérica foram impostos incrementos de deslocamentos no<br />
ponto de aplicação da força horizontal. Utilizaram-se 30 elementos finitos na<br />
discretização, sendo empregados 10 por coluna e 5 elementos por viga. As seções<br />
transversais foram estratificadas em 10 camadas. Na Figura 8 apresentam-se em<br />
gráficos as respostas numéricas obtidas confrontadas com a experimental. Os<br />
gráficos representam a relação entre força horizontal aplicada e deslocamento<br />
horizontal no andar superior do pórtico.<br />
Os resultados obtidos pelos modelos são julgados satisfatórios apesar da<br />
limitada identificação paramétrica. Por permitir considerar deformações permanentes<br />
em sua formulação, reproduziram-se com o modelo de LA BORDERIE (1991)<br />
inclusive os deslocamentos residuais gerados.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
133<br />
450<br />
Força (kN)<br />
Pórtico em concreto armado - VECCHIO & EMARA (1992)<br />
400<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
Experimental<br />
Mazars - 10 camadas<br />
La Borderie - 10 camadas<br />
Modelo Proposto - 10 camadas<br />
100<br />
50<br />
0<br />
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180<br />
Deslocamento (mm)<br />
Figura 8 - Resultados numéricos do pórtico em concreto armado.<br />
Observa-se que os modelos de MAZARS (1984) e o proposto apresentam a<br />
possibilidade de se colher uma boa resposta numérica, sem a necessidade de um<br />
custo computacional maior com o refinamento da discretização.<br />
Pode-se concluir, pelos exemplos apresentados, pela validade do emprego do<br />
modelo proposto em combinação com a técnica de discretização adotada na<br />
simulação do comportamento de estruturas lineares em concreto armado.<br />
5.2 Análises bidimensionais<br />
Uma versão bidimensional do modelo proposto foi implementada num código<br />
de cálculo em elementos finitos para análises planas. Nestas análises, apenas o<br />
concreto possui comportamento não-linear, para o aço admite-se uma relação<br />
constitutiva linear. Com relação à interação entre os dois materiais, admitiu-se perfeita<br />
aderência entre o aço e o concreto.<br />
De acordo com o objetivo de avaliar a resposta numérica fornecida pelo<br />
modelo proposto em análises planas, com o emprego do método dos elementos<br />
finitos, dois aspectos de interesse são enfatizados: a verificação de eventuais<br />
problemas numéricos ligados a este tipo de discretização e a capacidade do modelo<br />
em reproduzir a zona de distribuição de dano de acordo com a fissuração evidenciada<br />
experimentalmente.<br />
5.2.1 Viga em concreto armado [PEREGO (1989)]<br />
Trata-se de uma viga em concreto armado analisada por PEREGO (1989), que<br />
possui 5,00 m de vão livre e apresenta uma seção transversal retangular de dimensão<br />
20 x 50 cm. A armadura longitudinal é constituída por 6 barras de 32 mm de diâmetro,<br />
posicionadas em três camadas na zona inferior da seção, e por 2 barras de diâmetro<br />
de 8 mm, dispostas na parte superior e com função construtiva. Na confecção da viga<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
134<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
foi utilizado um concreto com E c = 24700 MPa e aço das armaduras com E a = 210000<br />
MPa. Na Figura 9 são fornecidos os detalhes da geometria da viga.<br />
medidas em cm<br />
P<br />
160<br />
P<br />
50 50<br />
f<br />
20 500<br />
20<br />
P<br />
80<br />
50<br />
2 φ 8 mm<br />
6 φ 32 mm<br />
20<br />
250<br />
20<br />
Figura 9 - Viga em concreto armado: geometria, simetria geométrica e de carregamento e<br />
disposição da armadura.<br />
Neste exemplo, para os parâmetros do modelo proposto relativos a D 1 e D 2 ,<br />
foram adotados os mesmos valores utilizados no estudo das vigas do item 5.1.1. Na<br />
análise plana é necessária também a obtenção dos parâmetros relativos à lei de<br />
evolução da variável D 3 , os quais foram identificados com base na resposta ilustrada<br />
na Figura 2a. Para efeito de comparação de resultados, além das medidas<br />
experimentais apresenta-se a resposta numérica obtida por PEREGO (1989) com o<br />
modelo de Mazars. A Tabela 3 resume os parâmetros utilizados pelos modelos<br />
envolvidos na análise.<br />
Tabela 3 - Parâmetros dos modelos de Mazars [PEREGO (1989)] e proposto.<br />
Mazars<br />
Proposto<br />
Tração Compressão Tração Compressão<br />
A T = 0,995 A C = 1,13 Y 01 =0,72x10 -4 MPa Y 02 =0,5x10 -3 MPa Y 03 =0,5x10 -3 MPa<br />
B T = 8000 B C = 1643,5 A 1 =50 A 2 = -0,9 A 3 = -0,6<br />
ε d0 =0,000067 B 1 = 6700 MPa -1 B 2 =0,4MPa -1 B 3 =70000 MPa -1<br />
Alguns comentários adicionais devem ser feitos em relação à discretização e<br />
idealização adotadas.<br />
Com relação ao comportamento elástico-linear para o aço, tal hipótese é<br />
justificável no caso de vigas que possuem alta taxa de armadura, onde o colapso<br />
acontece sobretudo pelo comprometimento do concreto.<br />
A discretização da viga foi efetuada utilizando-se uma malha constituída por<br />
342 elementos finitos quadrangulares de 4 nós, dispostos no plano médio da viga. A<br />
altura da viga foi subdividida em 38 camadas de elementos onde uma única camada<br />
representa a armadura, com área equivalente disposta no baricentro geométrico das<br />
barras de aço.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
135<br />
A força concentrada aplicada foi representada por uma carga distribuída em<br />
torno do ponto de aplicação para evitar qualquer problema de concentração<br />
exagerada de tensões nesta zona. O mesmo procedimento foi adotado na simulação<br />
do apoio da viga.<br />
A resposta obtida em termos da curva carga-deslocamento (Fig. 10) mostra,<br />
em sua maior parte, uma ótima coerência com os resultados experimentais<br />
apresentados em PEREGO (1989). De fato, o modelo proposto é capaz de colher com<br />
boa precisão a não-linearidade da curva até o nível de força de 220 kN, a partir do<br />
qual surge uma instabilidade na resposta numérica, decorrente dos elevados níveis de<br />
danificação. Na análise efetuada por PEREGO (1989), com o modelo de Mazars,<br />
apresentou-se a instabilidade numérica já por volta da força de 120 kN.<br />
VIGA 6#32 mm - PEREGO (1989)<br />
300<br />
Força (kN)<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
Experimental<br />
Modelo Proposto<br />
Modelo de Mazars - PEREGO (1989)<br />
0<br />
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4<br />
Deslocamento (cm)<br />
Figura 10 - Resultados numéricos: curva carga-deslocamento no meio do vão.<br />
Observa-se mais uma vez, que o modelo proposto penaliza seletivamente a<br />
rigidez do material de acordo com a direção considerada. Isso não ocorre com o<br />
modelo de Mazars, que por danificar exageradamente a rigidez do material em todas<br />
as direções em torno de um ponto, acaba por apresentar problemas de ordem<br />
numérica devido ao mal condicionamento da matriz de rigidez global da estrutura,<br />
logo num nível intermediário de carga.<br />
É possível dar uma explicação plausível para a instabilidade observada. O<br />
modelo numérico na verdade procura reproduzir uma situação de danificação<br />
fortemente localizada, que seria equivalente à formação de uma zona de fissuração<br />
intensa. Fisicamente essa zona se manifesta efetivamente entre as forças aplicadas.<br />
Para visualizar a distribuição de dano na viga, representam-se curvas de<br />
isodano (curvas caracterizadas por D = constante), obtidas com base na interpolação<br />
dos valores das variáveis de dano nos pontos de integração adotados. Deve-se<br />
observar que esta representação é mais eficiente quanto maior for o número de<br />
pontos adotados. Na figura seguir são ilustradas as curvas de isodano para as<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
136<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
diferentes variáveis de dano do modelo proposto e em diversos instantes da história<br />
de carregamento.<br />
0.30<br />
0.00<br />
NÍVEL 40 kN<br />
NÍVEL 40 kN<br />
0.50<br />
0.20<br />
0.50<br />
0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40<br />
0.10<br />
0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40<br />
0.00<br />
0.00<br />
0.08<br />
0.90<br />
NÍVEL 120 kN<br />
0.80<br />
NÍVEL 120 kN<br />
0.50<br />
0.70<br />
0.60<br />
0.50<br />
0.50<br />
0.04<br />
0.40<br />
0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40<br />
0.10<br />
0.00<br />
0.00<br />
0.90<br />
0.50<br />
NÍVEL 220 kN<br />
0.80<br />
0.70<br />
NÍVEL 220 kN<br />
0.12<br />
0.60<br />
0.50<br />
0.50<br />
0.40<br />
0.08<br />
0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40<br />
0.04<br />
0.10<br />
0.00<br />
0.00<br />
0.90<br />
0.50<br />
NÍVEL 260 kN<br />
0.80<br />
0.70<br />
NÍVEL 260 kN<br />
0.20<br />
0.60<br />
0.50<br />
0.50<br />
0.16<br />
0.40<br />
0.12<br />
0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40<br />
0.08<br />
0.10<br />
0.04<br />
0.00<br />
0.00<br />
Figura 11 - Viga em concreto armado – viga 6φ32.0 mm: a) distribuição de dano D 1 ; b)<br />
distribuição de dano D 2 ; c) distribuição de dano D 3 .<br />
Como se pode observar, já para um nível de solicitação correspondente a 15%<br />
da força máxima, tem-se uma considerável danificação em tração na parte inferior da<br />
viga. Nos sucessivos níveis de carregamento observa-se que a zona de dano em<br />
tração se propaga de baixo para cima e em direção à zona do apoio. Na região<br />
superior da viga, valores de dano em compressão D 2 surgem somente por volta de<br />
50% da força máxima. Próximo à intensidade de 220 kN para a força máxima aplicada<br />
observa-se uma zona de dano D 3 com razoáveis valores, inclusive indicando uma<br />
certa concentração de danificação junto ao apoio, e uma vasta região inferior com<br />
dano D 1 chegando a atingir valores próximos a 1. Esta evolução de danificação está<br />
de acordo com o exposto em PEREGO (1989).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
137<br />
5.2.2 Vigas em concreto armado [ÁLVARES (1993)]<br />
As vigas analisadas no item 5.1.1 com aplicação do modelo proposto em sua<br />
versão uniaxial, passam agora a ser estudadas com o emprego de uma versão para<br />
análise plana. Portanto os parâmetros elásticos do concreto e do aço são mantidos. O<br />
mesmo acontece com os parâmetros do modelo proposto relativos às leis de evolução<br />
das variáveis de dano D 1 e D 2 .<br />
Em sua versão bidimensional, o modelo utiliza a variável de dano D 3 e os<br />
valores adotados para os parâmetros envolvidos com essa variável são os mesmos<br />
utilizados no exemplo anterior (item 5.2.1). Para efeito de comparação, apresentam-se<br />
nos gráficos de resultados além da reposta experimental, a resposta numérica obtida<br />
com o modelo em sua versão uniaxial. A tabela a seguir contém os valores dos<br />
parâmetros para o modelo proposto.<br />
Tabela 4 - Parâmetros do modelo proposto.<br />
Proposto<br />
Tração<br />
Compressão<br />
Y 01 = 0,72x10 -4 MPa Y 02 = 0,5x10 -3 MPa Y 03 = 0,5x10 -3 MPa<br />
A 1 = 50 A 2 = -0,9 A 3 = -0,6<br />
B 1 = 6700 MPa -1 B 2 = 0,4MPa -1 B 3 = 70000 MPa -1<br />
Os primeiros testes realizados com malhas formadas por 342 elementos finitos<br />
quadrangulares de 4 nós dispostos no plano médio da viga, aproveitando-se a<br />
simetria das vigas, não apresentaram resultados satisfatórios. De fato, notaram-se<br />
tanto irregularidades nas curvas-resposta quanto rigidez exagerada.<br />
O problema de irregularidade da resposta foi contornado adotando-se uma<br />
alternativa eficaz porém com custo computacional crescente com o avanço da análise.<br />
Trata-se da não contribuição para a atualização da matriz de rigidez global da<br />
estrutura, somente para fins de reaplicação do resíduo, de pontos que apresentam<br />
certo nível de dano (0,65 por exemplo).<br />
Já o problema de travamento dos elementos, que poderia ser em parte<br />
responsável pela rigidez excessiva, pôde ser contornado com o emprego de uma<br />
discretização mais refinada na direção longitudinal, diminuindo assim a diferença<br />
entre a espessura e o comprimento dos elementos representativos do aço em relação<br />
aos demais. Para tanto adotou-se uma discretização composta por 7200 elementos<br />
finitos quadrangulares de 4 nós subdividindo a altura da viga em 60 camadas.<br />
A Figura 12 ilustra as respostas obtidas. Observa-se que nas vigas super<br />
armada e normalmente armada a resposta numérica consegue simular bem o<br />
comportamento experimental até níveis intermediários de carga. Já o mesmo não<br />
acontece no caso da viga de 3#10.0 mm. Acredita-se que a incorporação de leis de<br />
evolução e a identificação paramétrica das variáveis de dano relativas ao<br />
cisalhamento possam contribuir para melhorar as respostas nesse caso. De fato, a<br />
danificação relativa ao cisalhamento, gerando uma contribuição importante na<br />
dissipação de energia, é possível de ser fornecida pelo modelo proposto, e<br />
potencialmente visa melhorar sua capacidade de simular o comportamento do<br />
concreto em situações onde haja uma perda mais intensa de resistência ao<br />
cisalhamento. Contudo, é importante observar que mesmo essa consideração pode<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
138<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
ser limitada se houver forte localização da danificação, o que ocorre próximo da<br />
situação de carregamento último.<br />
VIGA 3#10.0 mm - ÁLVARES (1993)<br />
VIGA 5#10.0 mm - ÁLVARES (1993)<br />
45,00<br />
70,00<br />
40,00<br />
60,00<br />
35,00<br />
30,00<br />
50,00<br />
Força (kN)<br />
25,00<br />
20,00<br />
Força (kN)<br />
40,00<br />
30,00<br />
15,00<br />
10,00<br />
20,00<br />
5,00<br />
10,00<br />
0,00<br />
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00<br />
0,00<br />
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00<br />
Deslocamento (mm)<br />
Deslocamento (mm)<br />
VIGA 7#10.0 mm - ÁLVARES (1993)<br />
90,00<br />
80,00<br />
Resultado Experimental<br />
70,00<br />
60,00<br />
Modelo Proposto (Análise Unidimensional)<br />
Força (kN)<br />
50,00<br />
40,00<br />
Modelo Proposto (Análise Plana)-7200 elem<br />
30,00<br />
20,00<br />
10,00<br />
0,00<br />
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00<br />
Deslocamento (mm)<br />
Figura 12 - Resultados numéricos da análise bidimensional.<br />
Na figura a seguir são ilustradas as distribuições dos valores das variáveis de<br />
dano para a viga com alta taxa de armadura em algumas etapas de carregamento.<br />
Observa-se que para baixos níveis de carregamento a danificação em tração<br />
possui valores significativos na parte inferior da viga. Com o incremento da força<br />
aplicada a zona de danificação aumenta de baixo para cima e em direção à zona do<br />
apoio. Na parte superior da viga, a variável de dano D 2 possui valores baixos em<br />
relação à variável D 3 e ambas surgem também na zona do apoio em níveis próximos<br />
a força máxima.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
139<br />
NÍVEL 15 kN<br />
0.70<br />
0.60<br />
NíVEL 15 kN<br />
0.10<br />
NÍVEL 15 kN<br />
0.50<br />
0.40<br />
0.50<br />
0.20<br />
0.40<br />
0.20<br />
0.20<br />
0.30<br />
0.10<br />
0.30<br />
0.10<br />
0.10<br />
0.20<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.20<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.10<br />
0.10<br />
0.00<br />
0.00<br />
0.00<br />
NÍVEL 36 kN<br />
1.00<br />
0.90<br />
0.80<br />
NÍVEL 36 kN<br />
0.60<br />
0.50<br />
NÍVEL 36 kN<br />
0.80<br />
0.70<br />
0.70<br />
0.60<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.60<br />
0.50<br />
0.40<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.40<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.50<br />
0.40<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.20<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.10<br />
0.10<br />
0.00<br />
0.00<br />
0.00<br />
NÍVEL 51 kN<br />
0.90<br />
0.80<br />
0.70<br />
NÍVEL 51 kN<br />
0.60<br />
0.50<br />
NÍVEL 51 kN<br />
0.80<br />
0.70<br />
0.20<br />
0.60<br />
0.50<br />
0.20<br />
0.40<br />
0.60<br />
0.50<br />
0.10<br />
0.40<br />
0.10<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.40<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.30<br />
0.10<br />
0.10<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.20<br />
0.00<br />
0.10<br />
0.00<br />
0.00<br />
1.00<br />
0.60<br />
0.80<br />
NÍVEL 61 kN<br />
0.90<br />
0.80<br />
NÍVEL 61 kN<br />
0.50<br />
NÍVEL 61 kN<br />
0.70<br />
0.70<br />
0.60<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.60<br />
0.50<br />
0.40<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.40<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10<br />
0.50<br />
0.40<br />
0.30<br />
0.20<br />
0.10<br />
0.00<br />
Figura 13 - Viga em concreto armado – viga 7φ10.0 mm: a) distribuição de dano D 1 ; b)<br />
distribuição de dano D 2 ; c) distribuição de dano D 3 .<br />
0.00<br />
0.00<br />
Conclui-se, que o objetivo de validar o emprego da proposta de modelo na<br />
simulação do comportamento de estruturas em concreto armado foi alcançado.<br />
Entretanto, nas análises planas ficaram evidentes alguns problemas de ordem<br />
numérica principalmente no caso da viga pouco armada onde o panorama de<br />
fissuração é mais localizado [ver ÁLVARES (1993)]. Problemas similares surgidos na<br />
análise dessas vigas encontram-se em BARROS (2002). Pode-se concluir ainda que<br />
a fissuração localizada é claramente uma situação limitante do emprego do modelo<br />
proposto.<br />
6 CONCLUSÕES<br />
Neste trabalho, apresentou-se uma extensão da formulação de modelos<br />
constitutivos para materiais elásticos anisótropos que possuem diferentes<br />
comportamentos em tração e em compressão, proposta por CURNIER et all (1995),<br />
para os casos onde a danificação induz anisotropia e comportamento bimodular.<br />
Entre os aspectos característicos da Mecânica do Dano incorporados ao<br />
modelo derivado da extensão da formulação mencionada, destaca-se a equivalência<br />
energética visando a obtenção de tensores constitutivos simétricos. A consideração<br />
do caráter bimodular induzido pela danificação foi levada em conta pela definição de<br />
dois tensores de dano, um para estados dominantes de tração e um outro para<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
140<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
compressão. Essa consideração levou à necessidade da definição de um critério para<br />
a divisão do espaço das deformações.<br />
Em seguida, abordaram-se os critérios em energia para identificação do início<br />
e evolução dos processos de danificação. Outro detalhe importante do modelo disse<br />
respeito à determinação do plano local de isotropia transversal do material, necessário<br />
para estabelecer a forma do tensor A utilizado quando o processo de danificação é<br />
ativado.<br />
De uma maneira geral, os resultados de aplicação inicial do modelo foram<br />
satisfatórios, principalmente no que diz respeito à recuperação dos valores de tensão<br />
de pico e do comportamento do concreto até valores elevados de tensão. Destacamse<br />
as formas das curvas tensão-deformação em tração e compressão uniaxial e a<br />
obtenção da envoltória de ruptura do concreto em estados biaxiais de tensão,<br />
comprovando, dessa maneira, a validade do modelo quando aplicado à simulação do<br />
comportamento mecânico do concreto. Os resultados obtidos apontam, ainda, que as<br />
deformações residuais podem ter significativa importância nas respostas pós-pico.<br />
Para confirmar essa afirmação, foram apresentadas respostas numéricas que<br />
consideram deformações permanentes na formulação do modelo proposto<br />
originalmente.<br />
O emprego do modelo proposto na análise de estruturas de concreto se<br />
mostrou bastante satisfatório. No caso das análises unidimensionais, verificou-se<br />
ótima concordância entre as respostas obtidas com o modelo proposto e as respostas<br />
experimentais de vigas em concreto armado ensaiadas por ÁLVARES (1993). No<br />
confronto com modelos isótropos de dano, propostos por La Borderie e Mazars,<br />
observou-se uma grande semelhança da resposta estrutural dentro dos limites do<br />
regime de serviço. Contudo, nesse regime, dada a simplificação dimensional, não<br />
ficaram evidenciadas as vantagens de se empregar um modelo com anisotropia<br />
induzida. Já nas proximidades do regime de ruptura, o modelo proposto, em razão de<br />
proporcionar um processo de danificação menos intenso, e por se tratar de um<br />
modelo formulado com a hipótese de equivalência de energia, apresentou uma<br />
resposta em que o concreto acabou por resistir aos esforços solicitantes de maneira<br />
mais eficiente. Os reflexos desse comportamento se manifestaram nos níveis de<br />
plastificação das armaduras, que aconteceram com valores de força aplicada mais<br />
próximos dos experimentais particularmente nos casos das vigas armadas com<br />
5φ10.0 mm e com 7φ10.0 mm, por se tratarem de vigas com uma fissuração mais<br />
difusa em relação à viga armada com 3φ10.0 mm. Pensa-se que estas conclusões<br />
podem servir de indício para o que acontece nas análises bidimensionais.<br />
Na análise do pórtico em concreto armado, apesar das limitações quanto à<br />
identificação paramétrica, o modelo proposto permitiu simular o comportamento da<br />
estrutura de maneira bastante satisfatória, sem requerer um refinamento mais<br />
apurado da malha. As evidências experimentais de início de fissuração e de<br />
plastificação das armaduras, relatadas em VECCHIO et all (1992), foram colhidas com<br />
suficiente precisão.<br />
No caso das análises bidimensionais, pôde-se observar o bom resultado<br />
obtido pela aplicação do modelo na simulação do comportamento da viga ensaiada<br />
por PEREGO (1989). Essa viga tem a particularidade de apresentar uma elevada taxa<br />
de armadura, sendo a não-linearidade quase que exclusivamente decorrente do dano<br />
no concreto. Contudo, nos exemplos compostos por três séries de vigas, com<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
141<br />
diferentes taxas de armadura, surgiram problemas de ordem numérica inerentes à<br />
análise plana. Nos casos com menor taxa de armadura a fissuração passa a ser<br />
localizada após um certo nível de solicitação, limitando a aplicação de um modelo que<br />
pressupõe dano distribuído. Por fim, nos casos de maior taxa de armadura, constatouse<br />
que pode ser importante a identificação das leis de evolução das variáveis de dano<br />
ligadas ao cisalhamento, recurso disponível pelo modelo mas que não foi explorado<br />
nos exemplos.<br />
Pelas respostas apresentadas pelo modelo verificou-se a validação e a<br />
potencialidade do seu emprego na análise de estruturas em concreto armado.<br />
7 AGRADECIMENTOS<br />
Agradecemos à CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não<br />
poderia ser realizada. Agradecemos também ao LMT (Laboratoire de Mécanique et<br />
Technologie – Université Paris VI) pela utilização do programa EFICoS.<br />
8 REFERÊNCIAS<br />
ÁLVARES, M. S. (1993). Estudo de um modelo de dano para o concreto:<br />
formulação, identificação paramétrica e aplicação com emprego do método dos<br />
elementos finitos. São Carlos. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de<br />
São Carlos - Universidade de São Paulo.<br />
BARROS, F. B. (2002). Métodos sem malha e método dos elementos finitos<br />
generalizados em análise não-linear de estruturas. São Carlos. Tese (Doutorado) -<br />
Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo.<br />
CAUVIN, A.; TESTA, R. B. (1999). Elastoplastic materials with isotropic damage.<br />
International Journal of Solids and Structures, v. 36, p. 727-746.<br />
CAUVIN, A.; TESTA, R. B. (1999). Damage mechanics: basic variables in continuum<br />
theories. International Journal of Solids and Structures, v. 36, p. 747-761.<br />
COMI, C. (2000). A nonlocal damage model with permanent strains for quasibrittle<br />
materials. Continuous Damage and Fracture. Ahmed Benallal (Ed.). p. 221-<br />
232.<br />
COMI, C.; PEREGO, U. (2000). A bi-dissipative damage model for concrete with<br />
applications to dam engineering. European Congress on Computational Methods in<br />
Applied Sciencs and Engineering – ECOMAS 2000.<br />
CORDEBOIS, J. P.; SIDOROFF, F. (1979). Damage induced elastic anisotropy.<br />
Colloque Euromech, 115, Villars de Lans.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
142<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
CURNIER, A.; HE, Q.; ZYS<strong>SET</strong>, P. (1995). Conewise linear elastic materials. Journal<br />
of Elasticity, v. 37, p. 1-38.<br />
HE, Q.; CURNIER, A. (1995). A more fundamental approach to damage elastic stressstrain<br />
relations. International Journal of Solids and Structures, v. 32, p. 1433-1457.<br />
JONES, R. M. (1977). Stress-strain relations for materials with different moduli in<br />
tension and compression. AIAA Journal, v. 15, p. 16-23.<br />
KUPFER, H.; HILSDORF, H. K.; RUSCH, H. (1969). Behavior of concrete under biaxial<br />
stresses. ACI Journal, v. 66, p. 656-666.<br />
LA BORDERIE, C. (1991). Phenomenes unilateraux dans un materiau<br />
endommageable: modelisation et application a l’analyse de structures en beton.<br />
These de Doctorat de l’universite Paris.<br />
LEMAITRE, J. (1996). A course on damage mechanics. Springer Verlag.<br />
MAZARS, J. (1984). Application de la mécanique de l’endommagement au<br />
comportement non lineaire et à la rupture du béton de structure. Thése de<br />
Doctorat d’État, Université Paris 6.<br />
MAZARS, J.; BERTHAUD, Y.; RAMTANI, S. (1990). The unilateral behavior of damage<br />
concrete. Engineering Fracture Mechanics, v. 35, n. 4/5, p. 629-635.<br />
PAPA, E.; TALIERCIO (1996). Anisotropic damage model for the multiaxial static and<br />
fatigue behaviour of plain concrete. Engineering Fracture Mechanics, v. 55, n. 2, p.<br />
163-179.<br />
PEREGO, M. (1989). Danneggiamento dei materiali lapidei: leggi constitutive,<br />
analisis per elementi finiti ed applicazioni. Tesi di Laurea, Politecnico di Milano.<br />
PITUBA, J. J. C. (1998). Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o<br />
concreto fundamentados na mecânica do dano contínuo. São Carlos. Dissertação<br />
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo.<br />
RAMTANI, S. (1990). Contribution à la modélisation du comportement multiaxial<br />
du béton endommagé avec discription du caractère unilatéral. Thèse de Doctorat<br />
de l’Université Paris 6.<br />
RAMTANI, S.; BERTHAUD, Y.; MAZARS, J. (1992). Orthotropic behavior of concrete<br />
with directional aspects: modeling and experiments. Nuclear Engineering Design, v.<br />
133, p. 97-111.<br />
VAN MIER, G. M. (1984). Strain-softening of concrete under multiaxial loading<br />
conditions. PhD Thesis, Eindhoven Tech. Univ.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
143<br />
VECCHIO, F. J.; EMARA, M. B. (1992). Shear deformations in reinforced concrete<br />
frames. ACI Structural Journal, v. 89, n. 1, p. 46-56.<br />
WILLAM, K.; STANKOWSKI, T.; STURE, S. (1988). Theory and basic concepts for<br />
modelling concrete behavior. Contribution to the 26 th CEB Plenary Session,<br />
Dubrovnik.<br />
9 APÊNDICE – RELAÇÕES MATEMÁTICAS DE INTERESSE<br />
Existem três tensores isótropos de quarta ordem linearmente independentes:<br />
I ⊗ I = δ ij δ kl (e i ⊗ e j ⊗ e k ⊗ e l )<br />
(A1)<br />
I<br />
⊗ I = δ ik δ jl (e i ⊗ e j ⊗ e k ⊗ e l )<br />
−<br />
(A2)<br />
I − ⊗ I = δ il δ jk (e i ⊗ e j ⊗ e k ⊗ e l )<br />
(A3)<br />
Um tensor decorrente dos anteriores é o seguinte:<br />
I ⊗ − I =<br />
−<br />
1<br />
2<br />
−<br />
⎡ ⎤<br />
⎢<br />
I ⊗I<br />
+ I ⊗I<br />
⎣<br />
− ⎥<br />
⎦<br />
(A4)<br />
Com as propriedades dos tensores (A1) a (A4), decorrem os tensores de<br />
quarta ordem envolvidos na formulação:<br />
A ⊗ A = A ij A kl (e i ⊗ e j ⊗ e k ⊗ e l )<br />
(A5)<br />
A ⊗ I = A ij δ kl (e i ⊗ e j ⊗ e k ⊗ e l )<br />
(A6)<br />
I ⊗ A = δ ij A kl (e i ⊗ e j ⊗ e k ⊗ e l )<br />
(A7)<br />
A − 1<br />
⊗ I = (Aik δ jl + δ il A jk ) (e i ⊗ e j ⊗ e k ⊗ e l )<br />
− 2<br />
(A8)<br />
I − 1<br />
⊗ A = (δik A jl + A il δ jk ) (e i ⊗ e j ⊗ e k ⊗ e l )<br />
− 2<br />
(A9)<br />
Pode-se, então, definir as operações de produtos tensoriais entre tensores de<br />
segunda ordem, descritas em CURNIER et all (1995), como<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
144<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
[ R ⊗ T]X = (X.T)R ∀ X ∈ ξ (espaço dos tensores de 2° ordem simétricos)<br />
[ R ⊗T]X<br />
= RXT<br />
−<br />
T<br />
;<br />
_<br />
[ R ⊗ T]<br />
X = RX<br />
T T T<br />
_<br />
[ R ⊗T]<br />
X = ( RXT + TX<br />
−<br />
T<br />
T<br />
R<br />
T<br />
−<br />
)/ 2 , isto é, R ⊗ T = [ R ⊗T<br />
+ T ⊗R]/<br />
2 (A10)<br />
−<br />
−<br />
−<br />
Numa representação puramente matricial, os produtos tensoriais anteriores<br />
possuem a função de alocar as constantes elásticas do material em determinadas<br />
posições nos tensores constitutivos.<br />
Considere-se o caso em que o versor a perpendicular ao plano local de<br />
isotropia transversal está contido no plano XY e possui uma inclinação α em relação<br />
ao eixo X segundo o sistema de coordenadas locais XYZ (Fig. 14).<br />
Y<br />
a = (cosα; senα; 0)<br />
α<br />
X<br />
Z<br />
Figura 14 - Sistema local de referência do material. O plano local de isotropia transversal<br />
rotaciona em torno do eixo Z.<br />
Portanto, o plano local de isotropia transversal rotaciona em trono do eixo Z de<br />
acordo com a variação do ângulo α. Sendo assim, a forma matricial do tensor A é<br />
dada por:<br />
⎧cos<br />
α⎫<br />
A T<br />
= a ⊗ a = aa = ⎪ ⎪<br />
⎨sen<br />
α⎬<br />
{ cos α sen α 0 }<br />
⎪ 0 ⎪<br />
⎩ ⎭<br />
⎧<br />
⎪<br />
⎪<br />
⎪<br />
cos<br />
sen<br />
2<br />
2<br />
α<br />
α<br />
0<br />
⎪ ⎪<br />
A = ⎡<br />
2<br />
cos α cos α sen α 0⎤<br />
⎪cos<br />
α sen α⎪<br />
(A11)<br />
⎢<br />
2 ⎥<br />
⎢cos<br />
α sen α sen α 0⎥<br />
= ⎨ 0 ⎬<br />
⎢<br />
⎥ ⎪ ⎪<br />
⎣<br />
0<br />
0 0<br />
⎦ ⎪<br />
cos α sen α<br />
⎪<br />
⎪ 0 ⎪<br />
⎪ ⎪<br />
⎪ 0 ⎪<br />
⎪<br />
⎩ 0 ⎪<br />
⎭<br />
⎫<br />
⎪<br />
⎪<br />
⎪<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008
Sobre a formulação de um modelo de dano para o concreto<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008<br />
145<br />
Logo, observando o sistema de coordenadas descrito na Figura 14, os<br />
tensores de quarta ordem envolvidos na formulação assumem as seguintes formas:<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎦<br />
⎤<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎣<br />
⎡<br />
=<br />
⊗<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
1<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
1<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
1<br />
1<br />
I<br />
I<br />
(A12)<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎦<br />
⎤<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎣<br />
⎡<br />
=<br />
⊗<br />
2<br />
1<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
I<br />
I<br />
(A13)<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎦<br />
⎤<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎣<br />
⎡<br />
=<br />
⊗<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
I<br />
I<br />
(A14)<br />
A ⊗ A =<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎦<br />
⎤<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎣<br />
⎡<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
α<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
sen<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
0<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
0<br />
sen<br />
cos<br />
cos<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
3<br />
3<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
3<br />
3<br />
3<br />
3<br />
4<br />
2<br />
2<br />
3<br />
3<br />
2<br />
2<br />
4<br />
(A15)
146<br />
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença<br />
( A ⊗ I) + ( I ⊗ A)=<br />
⎡<br />
2<br />
2cos α<br />
⎢ 2<br />
2<br />
⎢cos<br />
α + sen α<br />
2<br />
cos α<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎣<br />
cosα<br />
senα<br />
0<br />
cosα<br />
senα<br />
0<br />
0<br />
0<br />
2<br />
cos α + sen α<br />
2sen<br />
sen<br />
2<br />
2<br />
α<br />
α<br />
2<br />
cosα<br />
senα<br />
0<br />
cosα<br />
senα<br />
0<br />
0<br />
0<br />
cos<br />
sen<br />
2<br />
2<br />
α<br />
α<br />
0<br />
cosα<br />
senα<br />
0<br />
cosα<br />
senα<br />
0<br />
0<br />
0<br />
cosα<br />
senα<br />
cosα<br />
senα<br />
cosα<br />
senα<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
cosα<br />
senα<br />
cosα<br />
senα<br />
cosα<br />
senα<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0⎤<br />
⎥<br />
0⎥<br />
0⎥<br />
⎥<br />
0⎥<br />
0⎥<br />
⎥<br />
0⎥<br />
⎥<br />
0<br />
⎥<br />
0⎥<br />
⎥<br />
0⎦<br />
(A16)<br />
( A⊗I) + ( I⊗A<br />
) =<br />
⎡<br />
2<br />
2 cos α<br />
⎢<br />
⎢ 0<br />
⎢ 0<br />
⎢<br />
⎢cos<br />
α sen α<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢ 0<br />
⎢<br />
⎢cos<br />
α sen α<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢ 0<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎢ 0<br />
⎢<br />
⎢ 0<br />
⎢⎣<br />
0<br />
2 sen<br />
0<br />
α<br />
cos α sen α<br />
0<br />
cos α sen α<br />
0<br />
0<br />
0<br />
2<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
1<br />
2<br />
1<br />
2<br />
cos α sen α 0 cos α sen α<br />
cos α sen α 0 cos α sen α<br />
0<br />
2<br />
2<br />
1 2<br />
2<br />
( cos α + sen α) 0 ( cos α + sen α)<br />
0<br />
2<br />
2<br />
1 2<br />
2<br />
( cos α + sen α) 0 ( cos α + sen α)<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
cos<br />
2<br />
2<br />
α<br />
2<br />
2<br />
cos α sen α<br />
2<br />
2<br />
cos α<br />
2<br />
cos α sen α<br />
2<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
cos α sen α<br />
2<br />
0<br />
sen<br />
2<br />
α<br />
2<br />
cos α sen α<br />
2<br />
2<br />
sen α<br />
2<br />
0<br />
0<br />
0<br />
0<br />
cos<br />
2<br />
α<br />
2<br />
0<br />
cos α sen α<br />
2<br />
2<br />
cos α<br />
2<br />
cos α sen α<br />
2<br />
0 ⎤<br />
⎥<br />
0 ⎥<br />
0 ⎥<br />
⎥<br />
0 ⎥<br />
⎥<br />
cos α sen α⎥<br />
⎥<br />
2<br />
⎥<br />
0 ⎥<br />
⎥<br />
2<br />
sen α ⎥<br />
⎥<br />
2 ⎥<br />
cos α sen α⎥<br />
⎥<br />
2<br />
2 ⎥<br />
sen α ⎥<br />
2 ⎥⎦<br />
(A17)<br />
Observa-se que os tensores constituintes do tensor constitutivo do modelo<br />
proposto, (A15), (A16) e (A17), além dos tensores isótropos (A12), (A13) e (A14), são<br />
simétricos.<br />
Cabe ressaltar que adotando-se α = 0° define-se o caso em que o plano local<br />
de isotropia local do material é dado por YZ.<br />
Finalmente, no caso mais geral, o versor a contém componentes segundo os<br />
eixos X, Y e Z do sistema de coordenadas locais. Com isso, os tensores de quarta<br />
ordem contidos na formulação do modelo proposto possuem componentes<br />
dependentes dos cosenos e senos dos ângulos entre o versor a e os eixos X, Y e Z.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 47, p. 117-146, 2008