o uso do cinema como recurso terapêutico - Cursos de Ciência da ...
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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA<br />
CARLA CRISTINE REITER<br />
O QUE É QUE O CINEMA TEM?<br />
O USO DO CINEMA COMO RECURSO TERAPÊUTICO<br />
Palhoça<br />
2009
CARLA CRISTINE REITER<br />
O QUE É QUE O CINEMA TEM?<br />
O USO DO CINEMA COMO RECURSO TERAPÊUTICO<br />
Relatório <strong>de</strong> pesquisa apresenta<strong>do</strong> na disciplina <strong>de</strong><br />
Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso II, ofereci<strong>da</strong> pelo curso<br />
<strong>de</strong> Psicologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul <strong>de</strong> Santa Catarina<br />
<strong>como</strong> requisito parcial para obtenção <strong>do</strong> título <strong>de</strong><br />
psicólogo.<br />
Orienta<strong>do</strong>ra: Prof.ª Dr.ª Maria <strong>do</strong> Rosário Stotz.<br />
Palhoça<br />
2009
AGRADECIMENTOS<br />
Este trabalho trouxe à tona várias questões subjetivas e foi um gran<strong>de</strong><br />
aprendiza<strong>do</strong>, um processo difícil que só foi possível continuar com o auxílio <strong>de</strong> algumas<br />
pessoas muito queri<strong>da</strong>s por mim. Aqui fica registra<strong>do</strong> meu agra<strong>de</strong>cimento a estas<br />
pessoas.<br />
Agra<strong>de</strong>ço ao meu ama<strong>do</strong> companheiro Sandro, pelo incentivo, pelos momentos<br />
<strong>de</strong> compreensão e até pela ausência, que contribuiu para meu fortalecimento <strong>como</strong><br />
pessoa.<br />
Obriga<strong>da</strong> à Janice Maria, sem ela seria muito mais complica<strong>do</strong> sair <strong>do</strong> “branco”<br />
que me acometeu durante a escrita. Ter o apoio <strong>de</strong>la me impulsionou para escrever e<br />
concluir este trabalho.<br />
Agra<strong>de</strong>ço à minha orienta<strong>do</strong>ra, Rosário, por saber li<strong>da</strong>r <strong>de</strong> uma forma muito<br />
eficiente comigo, embora muitas vezes eu não tenha pensa<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta maneira.<br />
Agra<strong>de</strong>ço à Mi, amiga que esteve ao meu la<strong>do</strong> nos momentos difíceis <strong>da</strong><br />
construção <strong>de</strong>ste trabalho e que <strong>de</strong>u o empurrão que eu precisava.<br />
Agra<strong>de</strong>ço à Cíntia, pois sem ela a minha caminha<strong>da</strong> no meu processo <strong>de</strong><br />
aprendizagem teria si<strong>do</strong> mais difícil <strong>de</strong> suportar. Seu olhar profissional foi muito<br />
importante neste momento.<br />
Obriga<strong>da</strong> à Grasi, minha queri<strong>da</strong> amiga, que me lembrou que aju<strong>da</strong> e carinho<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong> distância.<br />
Agra<strong>de</strong>ço à Denise, suas palavras <strong>de</strong> encorajamento foram uma massagem na<br />
hora certa.<br />
Muito Obriga<strong>da</strong>.
“A vi<strong>da</strong> é amiga <strong>da</strong> arte, é a parte que o sol me ensinou. O sol que atravessa<br />
essa estra<strong>da</strong> que nunca ninguém passou.”<br />
Caetano Veloso
RESUMO<br />
O presente trabalho apresenta <strong>como</strong> temática o <strong>cinema</strong> e sua possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>uso</strong><br />
enquanto instrumento terapêutico. O objetivo geral preten<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> linguagem <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico. Para que este objetivo<br />
fosse alcança<strong>do</strong>, realizou-se pesquisa em fontes bibliográficas sobre os possíveis <strong>uso</strong>s<br />
<strong>do</strong> <strong>cinema</strong>, investigou-se qual <strong>de</strong>stes possíveis <strong>uso</strong>s mobilizam fenômenos psicológicos<br />
no sujeito e verificou-se, <strong>de</strong>ntre aqueles que mobilizam fenômenos psicológicos, quais<br />
possuem resulta<strong>do</strong> terapêutico. Para tanto, o marco teórico foi construí<strong>do</strong> versan<strong>do</strong><br />
sobre arteterapia, pensan<strong>do</strong> o <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> neste contexto; sobre o<br />
<strong>cinema</strong> propriamente dito, <strong>como</strong> uma linguagem que expressa sentimentos, veicula<br />
idéias e comunica pensamentos; e um olhar psicanalítico, on<strong>de</strong> se torna viável uma<br />
interpretação sobre o tema. No méto<strong>do</strong> utilizou-se <strong>de</strong> pesquisa exploratória e pesquisa<br />
bibliográfica. A coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s teve <strong>como</strong> base <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s a biblioteca virtual <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
com en<strong>de</strong>reço eletrônico www.bvs-psi.org.br, e aconteceu em três fases: i<strong>de</strong>ntificação,<br />
localização e reunião <strong>do</strong>s materiais para posterior análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>. A partir <strong>de</strong>sse<br />
estu<strong>do</strong> po<strong>de</strong> se constar que são vários os <strong>uso</strong>s feitos com <strong>cinema</strong>, e que fenômenos<br />
psicológicos são mobiliza<strong>do</strong>s, mas não foram encontra<strong>do</strong>s registros <strong>de</strong> <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong><br />
<strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico.<br />
Palavras-chave: Arteterapia. Cinema. Psicanálise.
LISTA DE SIGLAS.<br />
CAPS – Centro <strong>de</strong> Atenção Psicossocial<br />
CNS – Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
ENSP - Escola Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública<br />
OMS – Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
SUS – Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>
LISTA DE QUADROS<br />
Quadro 1 - Referências <strong>do</strong>s artigos utiliza<strong>do</strong>s...........................................................35<br />
Quadro 2 - Categoria <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>........................................................................37<br />
Quadro 3 - Categoria mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos.................................43<br />
Quadro 4 - Categoria resulta<strong>do</strong> terapêutico...............................................................49
SUMÁRIO<br />
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................8<br />
1.1 JUSTIFICATIVA...................................................................................................14<br />
2 OBJETIVO............................................................................................................. 17<br />
2.1 OBJETIVO GERAL..............................................................................................18<br />
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................... 18<br />
3 MARCO TEÓRICO.................................................................................................18<br />
3.1 ARTETERAPIA ...................................................................................................18<br />
3.2 CINEMA ..............................................................................................................21<br />
3.3 UM OLHAR PSICANALÍTICO .............................................................................23<br />
4 METODOLOGIA.................................................................................................... 30<br />
4.1CLASSIFICAÇÃO.................................................................................................31<br />
4.2 FONTES DE INFORMAÇÃO...............................................................................31<br />
4.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS........................................................................32<br />
4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS....................................................32<br />
4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS...................................................33<br />
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS..........................................................34<br />
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................54<br />
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 57
8<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A presente pesquisa preten<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a existência <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
utilização <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico. Para tanto, analisou-se o conceito <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, os princípios que regem o Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS), a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
utilização <strong>da</strong> linguagem <strong>da</strong> arte para a promoção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> e o <strong>cinema</strong> <strong>como</strong><br />
instrumento terapêutico.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> acompanha o processo histórico <strong>da</strong><br />
humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, com alterações ao longo <strong>do</strong> tempo. Habitualmente esse conceito está<br />
associa<strong>do</strong> com hospitais, atendimento médico, presença ou ausência <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças e seu<br />
estu<strong>do</strong> está mais relaciona<strong>do</strong> às patologias que acometem a população <strong>do</strong> que a<br />
efetivas práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Somente no ano <strong>de</strong> 1946, com o <strong>do</strong>cumento <strong>de</strong> constituição<br />
<strong>da</strong> Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) obteve-se um conceito que tem servi<strong>do</strong> ao<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> vigente: “a saú<strong>de</strong> é um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> completo bem-estar físico, mental e<br />
social, e não somente a ausência <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença ou enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>” (KUJAWA et al, 2003, p.<br />
11).<br />
Ao mencionar o completo bem-estar social, o conceito acaba por consagrar as<br />
interferências <strong>do</strong> ambiente social na saú<strong>de</strong>. Nesse senti<strong>do</strong>, dispõe o art. 3º <strong>da</strong> Lei 8.080,<br />
<strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1990 (atual Lei Orgânica <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>):<br />
A saú<strong>de</strong> tem <strong>como</strong> fatores <strong>de</strong>terminantes e condicionantes, entre outros, a<br />
alimentação, a moradia, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços<br />
essenciais; os níveis <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> população expressam a organização social e<br />
econômica <strong>do</strong> País. (OLIVEIRA, 1996, p.68)<br />
Já o relatório final <strong>da</strong> VIII Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS), realiza<strong>da</strong> em<br />
1986, concluiu que o direito à saú<strong>de</strong> significa a garantia pelo esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> condições<br />
dignas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e serviços <strong>de</strong> promoção, proteção e recuperação <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> (OLIVEIRA,<br />
1996).<br />
Mário <strong>de</strong> Magalhães Chaves, por sua vez, em 1969 propôs o seguinte conceito:<br />
Saú<strong>de</strong> é um esta<strong>do</strong> em que o indivíduo tem o vigor físico para o <strong>de</strong>sempenho<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s normalmente espera<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s indivíduos <strong>de</strong> sua i<strong>da</strong><strong>de</strong>, não
9<br />
apresenta alterações na estrutura e no funcionamento <strong>de</strong> seus subsistemas<br />
(órgãos e aparelhos) que causem <strong>do</strong>r ou <strong>de</strong>sconforto ou possam ser origem <strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>ença, e mantém harmonia e equilíbrio em suas funções mentais suficientes<br />
para uma vi<strong>da</strong> normal <strong>de</strong> relações com seu semelhante, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> cultura a que<br />
pertence. (CHAVES, 1969 apud OLIVEIRA, 1996, p. 69)<br />
Em princípio, po<strong>de</strong>-se pensar que estes pontos apresenta<strong>do</strong>s até agora buscam<br />
fazer referência <strong>de</strong> alguma maneira a um conceito complexo, no que se refere a sua<br />
abrangência. O que <strong>de</strong> fato é, mas o conceito <strong>da</strong> OMS <strong>de</strong> completo bem estar físico,<br />
mental e social (grifo meu) revela também uma conotação estática, pois não consi<strong>de</strong>ra<br />
as oscilações que o sujeito terá ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em relação a sua saú<strong>de</strong>, além <strong>do</strong><br />
sujeito ser <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Estas oscilações são vistas <strong>como</strong> <strong>do</strong>ença<br />
<strong>do</strong> sujeito. Na compreensão <strong>de</strong> Kahhale (2003), este completo bem estar é utópico e<br />
estático. Ou seja, utópico quan<strong>do</strong> se pensa em saú<strong>de</strong> <strong>como</strong> uma forma exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong>s os momentos <strong>de</strong> mal estar que o ser humano possui. Estático, se pensar no<br />
sujeito <strong>como</strong> imutável, sem direito a situações <strong>de</strong> mal estar físico ou psíquico. Desta<br />
forma, pensar o sujeito <strong>como</strong> um ser biopsicossocial passa a ser um tanto quanto<br />
inviável, se são esses os pontos a serem consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s.<br />
Sob a ótica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, a saú<strong>de</strong> é um direito fun<strong>da</strong>mental garanti<strong>do</strong> pela<br />
Constituição Fe<strong>de</strong>ral 1 , que em seu artigo 196 assinala:<br />
A saú<strong>de</strong> é direito <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>ver <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, garanti<strong>do</strong> mediante políticas<br />
sociais e econômicas que visem à redução <strong>do</strong> risco <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença e <strong>de</strong> outros<br />
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua<br />
promoção, proteção e recuperação.<br />
Na efetivação <strong>do</strong> direito à saú<strong>de</strong>, o SUS rege-se pelos princípios <strong>da</strong><br />
universali<strong>da</strong><strong>de</strong>, integrali<strong>da</strong><strong>de</strong> e equi<strong>da</strong><strong>de</strong>. O princípio <strong>da</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong> estabelece que<br />
a saú<strong>de</strong> é direito <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. O princípio <strong>da</strong> equi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
prevê que as ações em saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser estabeleci<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um, completan<strong>do</strong> o princípio <strong>da</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O princípio <strong>da</strong><br />
integrali<strong>da</strong><strong>de</strong> dispõe que o ser humano <strong>de</strong>ve ser visto <strong>como</strong> um “ser integral,<br />
biopsicossocial, e <strong>de</strong>verá ser entendi<strong>do</strong> com essa visão integral por um sistema <strong>de</strong><br />
1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm
10<br />
saú<strong>de</strong> integral, volta<strong>do</strong> a promover, proteger e recuperar sua saú<strong>de</strong>” (KUJAWA et al,<br />
2003, p. 24).<br />
Há duas dimensões <strong>do</strong> princípio <strong>da</strong> integrali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A vertical, on<strong>de</strong> o homem é<br />
visto na sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, integra<strong>do</strong> a uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e viven<strong>do</strong> num contexto<br />
específico. E a horizontal, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser assegura<strong>do</strong> atendimento integral, por meio <strong>de</strong><br />
diversas ações em saú<strong>de</strong> articula<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> conta <strong>de</strong>ssa totali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Uma <strong>da</strong>s dimensões fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas é a saú<strong>de</strong> mental, que<br />
exige <strong>do</strong> SUS a efetivação <strong>de</strong> uma política pública que assegure a sua promoção, a<br />
prevenção e a reinserção <strong>da</strong>s pessoas com transtorno mental.<br />
Ao dispor sobre a proteção <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s pessoas com transtornos mentais, a<br />
Lei 10.216/01 2 assegurou, <strong>de</strong>ntre outros:<br />
II - ser trata<strong>do</strong> com humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e respeito e no interesse exclusivo <strong>de</strong><br />
beneficiar sua saú<strong>de</strong>, visan<strong>do</strong> alcançar sua recuperação pela inserção na<br />
família, no trabalho e na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />
VIII – ser trata<strong>do</strong> em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos<br />
possíveis;<br />
IX – ser trata<strong>do</strong>, preferencialmente, em serviços comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental.<br />
Em atenção à referi<strong>da</strong> lei, surge no Brasil um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> mental<br />
que possibilita a utilização <strong>da</strong> linguagem <strong>da</strong> arte <strong>como</strong> um <strong>recurso</strong> para a intervenção<br />
no tratamento <strong>de</strong> sujeitos com transtorno mental. Exemplos ocorrem nos Centros <strong>de</strong><br />
Atenção Psicossocial (CAPS), Laboratório <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas em Saú<strong>de</strong> Mental<br />
<strong>da</strong> Escola Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública (ENSP), TV Pinel, Museu <strong>de</strong> Imagens <strong>do</strong><br />
Inconsciente, entre outros. Nos CAPS fazem <strong>uso</strong> <strong>de</strong> oficinas terapêuticas, já na TV<br />
Pinel acontece uma experiência inova<strong>do</strong>ra no campo <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental e <strong>da</strong><br />
comunicação, pois através <strong>de</strong> um processo participativo acrescenta-se um trabalho com<br />
a tecnologia <strong>da</strong> imagem. No processo participativo estão presentes não apenas<br />
pessoas com transtornos mentais, mas técnicos <strong>da</strong> área televisiva e profissionais <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>. O produto disto é um programa <strong>de</strong> televisão, que facilita o estabelecimento <strong>de</strong><br />
mais uma forma <strong>de</strong> expressão e participação social, levantan<strong>do</strong> questões referentes à<br />
visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> loucura e <strong>de</strong> seu tratamento.<br />
2 http://www.sau<strong>de</strong>.gov.br
11<br />
No Museu <strong>de</strong> Imagens <strong>do</strong> Inconsciente o acervo é estima<strong>do</strong> em mais <strong>de</strong> 350 mil<br />
obras entre pinturas, <strong>de</strong>senhos, mo<strong>de</strong>lagens, xilogravuras, e é no gênero, uma <strong>da</strong>s<br />
maiores e mais diferencia<strong>da</strong>s coleções <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> 3 . No Museu <strong>de</strong> Imagens <strong>do</strong><br />
Inconsciente o objetivo é o acompanhamento <strong>do</strong> processo psicótico através <strong>de</strong> imagens<br />
apresenta<strong>da</strong>s em exposições.<br />
A psicologia tem se aperfeiçoa<strong>do</strong> para tentar <strong>da</strong>r respostas a to<strong>da</strong> nova <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />
que surge. O conceito <strong>de</strong> atendimento clínico e o caráter curativo mu<strong>da</strong>ram e incluíramse<br />
novos âmbitos <strong>de</strong> atuação. Desenvolveu-se a psicologia comunitária e incorporamse<br />
os termos interdisciplinares e multidisciplinares na atuação. Desta forma, contribuiuse<br />
para compreen<strong>de</strong>r o homem <strong>como</strong> biopsicossocial, tornan<strong>do</strong> o profissional mais apto<br />
a resolver as questões que se apresentam no cotidiano.<br />
(...) o trabalho <strong>do</strong> psicólogo <strong>de</strong>ve promover a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção e<br />
transformação <strong>do</strong> homem sobre o mun<strong>do</strong> cotidiano, permitin<strong>do</strong>, nas situações<br />
em que ocorre uma fragilização <strong>do</strong> indivíduo, o rompimento <strong>de</strong>ste processo e a<br />
apropriação <strong>de</strong> seus senti<strong>do</strong>s pessoais e a sua inserção num processo coletivo<br />
<strong>de</strong> engajamento na luta por melhores condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. (KAHHALE, 2003,<br />
p.188)<br />
Sen<strong>do</strong> assim, o psicólogo po<strong>de</strong> fazer parte <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um SUS eficiente,<br />
planejan<strong>do</strong> e executan<strong>do</strong> ações que possibilitem a prevenção, promoção e recuperação<br />
<strong>da</strong> saú<strong>de</strong>. Ao psicólogo é <strong>da</strong><strong>do</strong> a tarefa <strong>de</strong> pensar em saú<strong>de</strong> <strong>como</strong> saú<strong>de</strong> coletiva,<br />
<strong>como</strong> um to<strong>do</strong>, não fraciona<strong>da</strong> em áreas ou especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Exemplo disto é o que surge no lugar <strong>da</strong>s instituições tradicionais, o<br />
aparecimento <strong>de</strong> uma “re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção que oferece e produz cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, ao mesmo<br />
tempo em que apresenta novas formas <strong>de</strong> sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> para aqueles<br />
que necessitam <strong>de</strong> assistência psiquiátrica” (VALLADARES, 2004, p.56). Resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
Reforma Psiquiátrica, que para Amarante é apresenta<strong>da</strong> <strong>como</strong>:<br />
O processo histórico <strong>de</strong> formulação crítica e prática que tem <strong>como</strong> objetivos e<br />
estratégias o questionamento e a elaboração <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> transformação <strong>do</strong><br />
mo<strong>de</strong>lo clássico e <strong>do</strong> paradigma <strong>da</strong> psiquiatria. (1995, p. 91)<br />
3 http://www.museuimagens<strong>do</strong>inconsciente.org.br/
12<br />
Nessa nova perspectiva <strong>da</strong> prática psiquiátrica, há uma abertura para propostas<br />
e dispositivos terapêuticos, entre os quais se <strong>de</strong>staca o Centro <strong>de</strong> Atenção Psicossocial<br />
(CAPS) que constitui-se em serviço ambulatorial <strong>de</strong> atenção diária, buscan<strong>do</strong> firmar<br />
uma clínica <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s a pacientes consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s graves, oferecen<strong>do</strong>-lhes condições<br />
terapêuticas e combinan<strong>do</strong> num mesmo espaço o tratamento e a reabilitação<br />
(TAVARES, 2004 in VALLADARES, 2004). Esta é uma <strong>da</strong>s diversas alternativas <strong>de</strong><br />
assistência e <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> mental fora <strong>do</strong> âmbito hospitalar e/ou manicomial, um<br />
contraponto às antigas formas <strong>de</strong> confinamento e isolamento social.<br />
Silva (2004, in VALLADARES, 2004) coloca que a <strong>de</strong>sinstitucionalização<br />
psiquiátrica preconiza ações e intervenções interdisciplinares em que o objeto cura<strong>do</strong>ença<br />
é relativiza<strong>do</strong> e a dimensão <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e os aspectos socioculturais <strong>do</strong>s<br />
sujeitos que pa<strong>de</strong>cem <strong>de</strong> sofrimento psíquico grave são leva<strong>do</strong>s em consi<strong>de</strong>ração.<br />
O mesmo autor cita que a arteterapia autoriza o sujeito para uma experiência<br />
inédita que permite mapear seu mun<strong>do</strong>, possibilitan<strong>do</strong> o estabelecimento <strong>de</strong> novas<br />
relações <strong>de</strong>sse sujeito com grupos e com o fazer. Esta experiência estética po<strong>de</strong> ser<br />
um caminho <strong>de</strong> resgate <strong>de</strong> outra <strong>de</strong>sinstitucionalização psiquiátrica, que preconize não<br />
somente uma reorganização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental <strong>de</strong> forma administrativa, mas<br />
que também se abra para uma interação mais próxima com as reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e<br />
culturais, a partir <strong>de</strong> um paradigma que contemple espaços <strong>de</strong> promoção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, no<br />
caminho <strong>de</strong> uma reconstrução <strong>da</strong>quilo que enten<strong>de</strong>mos por saú<strong>de</strong>.<br />
A arte passa a ser utiliza<strong>da</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico, “haven<strong>do</strong> revalorização<br />
<strong>do</strong>s processos criativos e <strong>do</strong> fazer artesanal nas práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, pela possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gerar atos criativos e estéticos com os usuários <strong>do</strong> CAPS” (TAVARES, 2004 in<br />
VALLADARES, 2004, p.60). A arte po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>como</strong> uma forma <strong>de</strong> tratar o<br />
sujeito em sua existência, relacionan<strong>do</strong> a isto suas condições reais <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Pensan<strong>do</strong><br />
nisto, Amarante (2003, p. 50) contempla “a importância <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução<br />
<strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> clínica, que <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ser o isolamento terapêutico ou o tratamento<br />
moral”, assim, a arte po<strong>de</strong> servir <strong>como</strong> uma ferramenta, <strong>como</strong> uma nova possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta nova clínica, on<strong>de</strong> o sujeito <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser<br />
objeto para se tornar sujeito <strong>da</strong> sua obra, <strong>do</strong> seu saber. Com a Reforma Psiquiátrica a<br />
<strong>do</strong>ença passa a ser questiona<strong>da</strong>, por isso a clínica também <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>sconstruí<strong>da</strong>,
13<br />
transforma<strong>da</strong>, estabelecen<strong>do</strong> as relações com o sujeito que experiencia, e não mais<br />
com a <strong>do</strong>ença que o acomete (AMARANTE, 2003). A esse respeito, o autor acima<br />
cita<strong>do</strong> coloca que a produção <strong>de</strong> sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no contexto <strong>do</strong> atual<br />
processo <strong>de</strong> Reforma Psiquiátrica tira o sujeito <strong>de</strong>ste lugar <strong>de</strong> exclusão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />
Ou ain<strong>da</strong>, se o conceito <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença for submeti<strong>do</strong> ao processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sconstrução – assim <strong>como</strong> tantos outros conceitos produzi<strong>do</strong>s pela<br />
psiquiatria – po<strong>de</strong>mos supor que as relações entre as pessoas envolvi<strong>da</strong>s serão<br />
também transforma<strong>da</strong>s; assim <strong>como</strong> os serviços, os dispositivos e os espaços.<br />
(AMARANTE, 2003, p. 50)<br />
Desta forma, o sujeito po<strong>de</strong>rá ter outras formas <strong>de</strong> conhecimento, que produzirão<br />
novas práticas clínicas e sociais. Nas palavras <strong>de</strong> Amarante (2003, p.62), “a reforma<br />
psiquiátrica torna-se a clínica mo<strong>de</strong>rniza<strong>da</strong>, a psiquiatria renova<strong>da</strong>” e efetiva<strong>da</strong> no<br />
interior <strong>do</strong>s CAPS.<br />
Transpon<strong>do</strong>-se esta abor<strong>da</strong>gem utiliza<strong>da</strong> nos CAPS para uma <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong><br />
arte - a arte <strong>cinema</strong>tográfica - Oliveira (2006) cita que a vinculação existente entre<br />
<strong>cinema</strong> e ciência é antiga. Mesmo antes <strong>de</strong> os irmãos Lumière encantarem o público<br />
parisiense em 1895 com a projeção <strong>de</strong> cenas, criar imagens em movimento serviu a<br />
ciência. O <strong>cinema</strong> é aclama<strong>do</strong> <strong>como</strong> a sétima arte e continua servin<strong>do</strong> à ciência <strong>como</strong><br />
instrumento científico. Agrega-se a isto o fato <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> ser um meio <strong>de</strong> circulação <strong>do</strong><br />
conhecimento, contribuin<strong>do</strong> para difundir valores e idéias. O encantamento que o<br />
<strong>cinema</strong> possui faz com que aquele que esteja assistin<strong>do</strong> a um filme o perceba <strong>como</strong><br />
pura reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mesmo saben<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> não representa a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> existente.<br />
O <strong>cinema</strong> amplia a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> nas imagens, causa uma<br />
diferenciação <strong>da</strong> percepção e <strong>da</strong> experiência, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> provocar: loucura e luci<strong>de</strong>z,<br />
reflexão e <strong>de</strong>lírio (ENGELMAN E PERRONE, 2008).<br />
Esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que o <strong>cinema</strong> provoca no especta<strong>do</strong>r é possível no campo<br />
imaginário, conjugan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sejo sonha<strong>do</strong> numa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> mais próxima. Segun<strong>do</strong><br />
Bartucci (2000), é este <strong>de</strong>sejo que combina com a ficção <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>, mesmo em filmes<br />
<strong>do</strong>cumentários. O imaginário é fruto <strong>do</strong> eu sobre si mesmo, com ele se constrói e<br />
<strong>de</strong>senvolve a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>:
14<br />
É neste campo <strong>de</strong> reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e transformações produzi<strong>do</strong> entre a alma<br />
humana e aquilo que se produziu <strong>como</strong> uma espécie <strong>da</strong> alma no <strong>cinema</strong>, que é<br />
possível consi<strong>de</strong>rar que, se o <strong>cinema</strong> foi construí<strong>do</strong> a imagem <strong>de</strong> nosso<br />
psiquismo, é preciso <strong>de</strong>duzir disto as suas conseqüências: nosso psiquismo<br />
passa a ser construí<strong>do</strong> a imagem <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>. (BARTUCCI, 2000, p. 61)<br />
Desta forma, o <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong> ser uma ferramenta que auxilie na compreensão <strong>de</strong><br />
questões que perpassam a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> sujeito, trabalhan<strong>do</strong> com o imaginário e com o<br />
concreto, contribuin<strong>do</strong> para sua subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> perante o mun<strong>do</strong>. O <strong>cinema</strong> é uma forma<br />
<strong>de</strong> comunicação visual, sen<strong>do</strong> que essa comunicação pre<strong>do</strong>mina na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> atual,<br />
<strong>de</strong>sempenha “funções <strong>de</strong> mediação nas relações simbólicas <strong>do</strong> indivíduo com a<br />
cultura”, possibilitan<strong>do</strong> <strong>uso</strong>s no campo <strong>da</strong> arteterapia (PHILIPPINI, 2007, p.161),<br />
portanto <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico. Para Valla<strong>da</strong>res (2004) a arteterapia permite gerar<br />
significa<strong>do</strong> para a materiali<strong>da</strong><strong>de</strong>, para o produto <strong>da</strong> arte.<br />
A partir <strong>do</strong> pressuposto <strong>de</strong> que o <strong>cinema</strong> é uma <strong>da</strong>s linguagens <strong>da</strong> arte, in<strong>da</strong>gase:<br />
quais as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> utilização <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico?<br />
1.1 JUSTIFICATIVA<br />
Segun<strong>do</strong> o Plano Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental, cerca <strong>de</strong> 3% <strong>da</strong> população geral<br />
sofre com transtornos mentais severos e persistentes; 6% <strong>da</strong> população apresentam<br />
transtornos psiquiátricos graves <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> <strong>uso</strong> <strong>de</strong> álcool e outras drogas; 12% <strong>da</strong><br />
população necessitam <strong>de</strong> algum atendimento em saú<strong>de</strong> mental, seja ele contínuo ou<br />
eventual, e 2,3% <strong>do</strong> orçamento anual <strong>do</strong> SUS são para a Saú<strong>de</strong> Mental 4 .<br />
Pensan<strong>do</strong> nesta população, <strong>de</strong>ve-se buscar a efetivação <strong>de</strong> práticas em saú<strong>de</strong><br />
que ultrapassem a estreita idéia <strong>de</strong> um conceito que trate <strong>da</strong> mera ausência <strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>enças, que <strong>de</strong>pen<strong>da</strong> simplesmente <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> serviços, <strong>de</strong> produtos,<br />
medicamentos e diagnósticos.<br />
A saú<strong>de</strong>, além <strong>do</strong> direito humano fun<strong>da</strong>mental, é também a construção <strong>de</strong><br />
condições para a autonomia individual, para que as pessoas, quaisquer que sejam suas<br />
condições, possam viver a melhor vi<strong>da</strong> possível. Ou seja, além <strong>de</strong> ser uma prestação<br />
4 http://www.sau<strong>de</strong>.gov.br
15<br />
positiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, a saú<strong>de</strong> exige uma participação ativa <strong>do</strong> sujeito. Pensar em saú<strong>de</strong><br />
ci<strong>da</strong>dã significa pensar num sujeito ativo, trabalhan<strong>do</strong> para melhorias <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
promoven<strong>do</strong> e prevenin<strong>do</strong> ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. O resgate <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia contribui para o<br />
empo<strong>de</strong>ramento <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> pessoa, contribuin<strong>do</strong> para um conceito palpável <strong>de</strong> ser<br />
humano biopsicossocial (SARDÁ, 2008).<br />
A associação entre transtornos mentais e a produção cultural, mais<br />
especificamente as expressões artísticas, faz parte <strong>da</strong> história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e o<br />
acesso à cultura é parte indissociável <strong>da</strong> melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população.<br />
Isto po<strong>de</strong> ser visto nos trabalhos existentes, quan<strong>do</strong> no levantamento bibliográfico<br />
inicial, principalmente em relação às artes plásticas. Diferentemente em relação às<br />
artes <strong>cinema</strong>tográficas, aon<strong>de</strong> poucas experiências vêm sen<strong>do</strong> relata<strong>da</strong>s e/ou<br />
divulga<strong>da</strong>s, resultan<strong>do</strong> numa escassa produção bibliográfica encontra<strong>da</strong>.<br />
Oliveira (2006) contempla no seu artigo intitula<strong>do</strong> Cinema e Imaginário Científico,<br />
a relação existente entre o <strong>cinema</strong> e a ciência. Comenta a utilização <strong>de</strong> filmes <strong>como</strong><br />
material didático na educação, <strong>como</strong> instrumento <strong>de</strong> observação, e <strong>como</strong> um meio <strong>de</strong><br />
expressão e veículo forma<strong>do</strong>r <strong>do</strong> imaginário social acerca <strong>da</strong> ciência.<br />
Fernan<strong>de</strong>s (2005, p. 5) no seu artigo Cinema e Psicanálise, discorre sobre as<br />
semelhanças entre o <strong>cinema</strong> e o sonho, com base na teoria psicanalítica. Cita que a<br />
psicanálise e a arte <strong>cinema</strong>tográfica possuem ca<strong>da</strong> uma, um dispositivo teórico e<br />
prático diverso, “mas nem por isso se <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> tirar proveito <strong>da</strong>queles fenômenos com<br />
os quais seus objetos particulares se confun<strong>de</strong>m”. Fernan<strong>de</strong>s ressalta que em 1947, o<br />
Instituto <strong>de</strong> Filmologia <strong>de</strong> Paris fez um estu<strong>do</strong> sobre o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
especta<strong>do</strong>r na sala <strong>de</strong> projeção:<br />
O mun<strong>do</strong> exterior está ausente, o especta<strong>do</strong>r se encontra num esta<strong>do</strong><br />
semelhante ao torpor, entregue à regressão e ao aban<strong>do</strong>no, com a atenção<br />
totalmente concentra<strong>da</strong> a olhar a tela, num completo envolvimento emocional.<br />
Qualquer ruí<strong>do</strong> ou visão fora <strong>da</strong> tela remete o especta<strong>do</strong>r à existência <strong>de</strong> uma<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> externa que o <strong>de</strong>sperta para a presença <strong>do</strong> cotidiano, comprometen<strong>do</strong><br />
o esta<strong>do</strong> psicológico necessário para a perfeita a<strong>de</strong>são ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> filme. O<br />
especta<strong>do</strong>r na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> não "assiste" ao filme, ele o vivencia <strong>de</strong> uma maneira,<br />
tão próxima <strong>do</strong> sonho e numa total intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> (...). A essa vivencia<br />
convencionou-se chamar “impressão <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”. (FERNANDES, 2005, p. 4)
16<br />
A autora também salienta a função marginal que o olhar tem para Freud, pois a<br />
psicanálise trabalha com a escuta e a interpretação verbal. Apesar <strong>de</strong> na clínica<br />
também aparecerem imagens, essas só possuem um significa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> interpreta<strong>da</strong>s<br />
e comenta<strong>da</strong>s.<br />
Engelman e Perrone (2008) no artigo Novo <strong>cinema</strong>, nova loucura? discutem a<br />
relação <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> com a produção <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Este é mais um <strong>do</strong>s artigos<br />
encontra<strong>do</strong>s que articulam a arte <strong>cinema</strong>tográfica com a teoria psicanalítica. Porém, a<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> continua no que concerne a artigos que tratam <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> instrumento<br />
terapêutico. Segun<strong>do</strong> Engelman e Perrone (2008, p. 2) pouco foi “pensa<strong>da</strong> a relação <strong>do</strong><br />
<strong>cinema</strong> com a produção <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Para esses autores o <strong>cinema</strong> <strong>de</strong>sponta,<br />
mesmo nos princípios <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>tógrafo, <strong>como</strong> “um novo regime <strong>de</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, que<br />
mantém relações transversais com o corpo, com a tecnologia e a loucura” (p. 3). Os<br />
autores sustentam que no <strong>cinema</strong> a imagem não se torna uma cópia <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas<br />
uma divisão <strong>do</strong> mesmo assunto, on<strong>de</strong> ocorre uma criação <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Os mesmos autores chamam a atenção para a criação <strong>do</strong>s irmãos Lumière<br />
sen<strong>do</strong> contemporânea a publicação <strong>do</strong> livro A interpretação <strong>do</strong>s sonhos, livro que é<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o marco fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong> psicanálise. Citan<strong>do</strong> Luz (2002, p. 71 apud<br />
ENGELMAN e PERRONE, 2008, p. 6) os autores colocam <strong>como</strong> um fato interessante<br />
que o filme, evoca “um esta<strong>do</strong> psíquico altera<strong>do</strong>, vulnerável ao <strong>de</strong>sfilar <strong>de</strong> imagens<br />
visuais e logo sonoras que não era puro caos <strong>de</strong> imagens sem senti<strong>do</strong>, mas também<br />
uma estrutura ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> para a linguagem, o discurso, a palavra articula<strong>da</strong>”. O que a<br />
psicanálise oferece ao <strong>cinema</strong> e ao sonho é uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrar signos a partir <strong>da</strong><br />
linguagem, enquanto discurso e palavra articula<strong>da</strong>.<br />
Em contraponto ao pensamento anterior, os autores citam Artaud para falar<br />
sobre o plano <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> aquele que conduz a ação no qual to<strong>da</strong> a tradução é<br />
inútil. O <strong>cinema</strong> é um momento <strong>de</strong> criação <strong>do</strong> pensamento sobre a matéria, “e a<br />
linguagem per<strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r simbólico, pois, nesse momento, o espírito está cansa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
jogo <strong>da</strong>s representações. O <strong>cinema</strong> é uma epi<strong>de</strong>rme <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a pele humana <strong>da</strong>s<br />
coisas” (ENGELMAN e PERRONE, 2008, p. 8). Torna-se interessante citar estes<br />
pensamentos, mas neste trabalho o olhar recai sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong><br />
produtor <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e (re)significação <strong>do</strong> sujeito.
17<br />
Em relação à relevância científica, observa-se no levantamento bibliográfico<br />
realiza<strong>do</strong>, a utilização <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> ilustração <strong>da</strong> análise teórica e não <strong>como</strong><br />
instrumento terapêutico, <strong>como</strong> no artigo Cinema e Psicanálise cita<strong>do</strong> anteriormente.<br />
Desta forma, po<strong>de</strong>-se refletir que este é um ponto importante para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong>sta pesquisa, que busca uma nova maneira <strong>de</strong> olhar/utilizar o <strong>cinema</strong> no campo <strong>da</strong><br />
ciência, pesquisa e <strong>da</strong> intervenção. Assim, vai ao encontro <strong>de</strong> iniciativas práticas e<br />
teóricas que visem assegurar a digni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas acometi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> transtornos<br />
mentais, iniciativas estas que corroboram a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> enquanto<br />
prática <strong>da</strong> ciência.<br />
Diante <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gens <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> linguagem <strong>da</strong> arte <strong>como</strong><br />
instrumento terapêutico, que resultaria em importantes benefícios à saú<strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas<br />
com transtornos mentais, sobressai a relevância social <strong>do</strong> presente trabalho.<br />
A relevância acadêmica se justifica por apresentar uma pesquisa que busca<br />
novos elementos para a atuação profissional, possibilitan<strong>do</strong> esta pesquisa <strong>como</strong><br />
trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso. O interesse nas artes, especialmente na arte<br />
<strong>cinema</strong>tográfica que seduz e levanta reflexões acerca <strong>da</strong> imagem, <strong>do</strong> sujeito, <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>;<br />
remete a outro olhar sobre a construção <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, sobre a profissão almeja<strong>da</strong>,<br />
justifican<strong>do</strong> a relevância pessoal.<br />
2 OBJETIVO<br />
Segue, nesse momento <strong>do</strong> trabalho, o objetivo geral e os objetivos específicos,<br />
que possuem a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r o problema <strong>de</strong> pesquisa, e assim, apresentar a<br />
presente proposta <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>.
18<br />
2.1 OBJETIVO GERAL<br />
terapêutico.<br />
I<strong>de</strong>ntificar as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> linguagem 5 <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong><br />
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />
1. I<strong>de</strong>ntificar os possíveis <strong>uso</strong>s <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> a partir <strong>de</strong> pesquisa em fontes<br />
bibliográficas.<br />
2. Investigar qual <strong>de</strong>stes possíveis <strong>uso</strong>s <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> mobilizam fenômenos<br />
psicológicos no sujeito.<br />
3. Verificar, <strong>de</strong>ntre aqueles que mobilizam fenômenos psicológicos, quais possuem<br />
resulta<strong>do</strong> terapêutico.<br />
3 MARCO TEÓRICO<br />
3.1 ARTETERAPIA<br />
Há pouco mais <strong>de</strong> quatro déca<strong>da</strong>s os profissionais <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental no Brasil<br />
vem buscan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sconstruir as divergências sobre o sofrimento psíquico edifica<strong>da</strong> em<br />
nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, e tem si<strong>do</strong> um <strong>de</strong>safio a reflexão sobre as mu<strong>da</strong>nças pelas quais vem<br />
passan<strong>do</strong> os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong>s pelas transformações<br />
<strong>da</strong> Reforma Psiquiátrica (VALLADARES, 2004).<br />
5 Betton (1987, p. 2) <strong>de</strong>fine <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> uma linguagem estética, uma “escrita figurativa, e ain<strong>da</strong> uma leitura, um<br />
meio <strong>de</strong> comunicar pensamentos, veicular idéias e exprimir sentimentos”.
19<br />
A Reforma Psiquiátrica é um “processo contínuo <strong>de</strong> reflexões e transformações<br />
<strong>da</strong>s maneiras <strong>de</strong> li<strong>da</strong>r com a loucura, com a diferença e com o sofrimento mental”,<br />
mu<strong>da</strong>nças estas que ocorrem em diversas áreas ao mesmo tempo, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se a<br />
área cultural (VALLADARES, 2004, p. 11). Refere-se também às transformações nas<br />
relações que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, os sujeitos e as instituições estabelecem para superação <strong>do</strong><br />
estigma e <strong>da</strong> segregação <strong>do</strong> sujeito com transtornos mentais, para <strong>de</strong>sta forma, então,<br />
construir um novo imaginário social (VALLADARES, 2004).<br />
Sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Silva (2004, in VALLADARES, 2004) a experiência<br />
estética po<strong>de</strong> ser um caminho possível <strong>de</strong> resgate <strong>de</strong> outra <strong>de</strong>sinstitucionalização<br />
psiquiátrica, <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia marginaliza<strong>da</strong>.<br />
Uma <strong>de</strong>sinstitucionalização, que não somente preconize uma reorganização <strong>de</strong><br />
serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental <strong>de</strong> forma administrativa, mas que também se abra<br />
para uma interação mais próxima com as reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e culturais <strong>da</strong>s<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>do</strong>s sujeitos que sofrem, buscan<strong>do</strong> promover a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>, o<br />
resgate <strong>da</strong> autonomia numa relação mais dialógica entre sofrimento psíquico e<br />
a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. (SILVA, 2004, in VALLADARES, 2004, p.34)<br />
A arte surge aqui <strong>como</strong> ferramenta <strong>de</strong> enriquecimento <strong>do</strong>s sujeitos, <strong>de</strong><br />
“valorização <strong>da</strong> expressão, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta e ampliação <strong>de</strong> potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s singulares”,<br />
<strong>de</strong> acesso à cultura (TAVARES, 2004, in VALLADARES, 2004, p. 62). Acesso que é<br />
esqueci<strong>do</strong> e dificulta<strong>do</strong> pela própria socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à percepção existente acerca <strong>da</strong><br />
loucura e <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong> tratamento existentes.<br />
Na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental o <strong>uso</strong> <strong>da</strong> arte encontra-se indissociavelmente<br />
articula<strong>do</strong> às práticas terapêuticas inova<strong>do</strong>ras, amplian<strong>do</strong> o acesso <strong>da</strong>s pessoas aos<br />
bens culturais, ao valor social. Não surge apenas <strong>como</strong> terapia, mas <strong>como</strong> meio <strong>de</strong><br />
produção e inserção social <strong>do</strong> sujeito, <strong>como</strong> forma <strong>do</strong> sujeito (re)entrar na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
envolven<strong>do</strong>-o no exercício <strong>do</strong>s seus direitos e <strong>de</strong> sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia (TAVARES, 2004, in<br />
VALLADARES, 2004). Neste caso, a arte <strong>cinema</strong>tográfica po<strong>de</strong> surgir <strong>como</strong> um<br />
facilita<strong>do</strong>r para a reinserção <strong>do</strong> sujeito na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Da mesma forma, Philippini (2004, in VALLADARES, 2004, p.91) afirma que a<br />
arteterapia propicia a transformação <strong>da</strong> “condição passiva <strong>de</strong> mero receptor <strong>de</strong> uma<br />
enorme quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imagens”, para uma posição ativa e expressiva <strong>do</strong> “próprio<br />
mun<strong>do</strong> subjetivo pela produção simbólica” contribuin<strong>do</strong> com o novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção
20<br />
em saú<strong>de</strong> mental. Enten<strong>de</strong>-se arteterapia <strong>como</strong> uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> terapêutica e<br />
expressiva que trabalha com três aspectos: a produção <strong>de</strong> imagens; o processo criativo<br />
<strong>da</strong> arte; a relação <strong>da</strong> pessoa com a obra, já que ca<strong>da</strong> imagem tem um significa<strong>do</strong><br />
singular e específico para ca<strong>da</strong> pessoa (VALLADARES, 2004).<br />
Corroboran<strong>do</strong> o pensamento <strong>de</strong> Valla<strong>da</strong>res, Philippini conceitua arteterapia <strong>como</strong><br />
um processo terapêutico, oriun<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>uso</strong> <strong>de</strong> distintas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s expressivas, “que<br />
configuraram uma produção simbólica, concretiza<strong>da</strong> em muitas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s plásticas”<br />
(2000, in VALLADARES, 2004, p.110). Em suma, a produção simbólica dá significa<strong>do</strong><br />
para o conteú<strong>do</strong> inconsciente <strong>do</strong> sujeito. A autora coloca que com estas formas <strong>de</strong><br />
comunicação há uma facili<strong>da</strong><strong>de</strong> em acessar o inconsciente, “por meio <strong>da</strong>s múltiplas<br />
formas <strong>de</strong> expressão, <strong>da</strong> experimentação, criação, <strong>de</strong>struição e recriação” (PHILIPPINI,<br />
2004, in VALLADARES, 2004, p.89). Desta forma, o <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong> se fazer presente<br />
neste campo.<br />
Os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental terão a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criar as condições<br />
<strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para que o sujeito possa participar <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> trocas sociais,<br />
experimentan<strong>do</strong> e crian<strong>do</strong> laços com o social (TAVARES, 2004, in VALLADARES,<br />
2004). A autora coloca que a arte encontra-se “indissociavelmente articula<strong>da</strong> às<br />
práticas terapêuticas inova<strong>do</strong>ras no campo <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental e no seu pressuposto valor<br />
social (...) ela não aparece <strong>como</strong> terapia, mas <strong>como</strong> meio <strong>de</strong> produção e inserção <strong>do</strong><br />
sujeito”, contribuin<strong>do</strong> com o exercício <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>da</strong>s pessoas porta<strong>do</strong>ras<br />
<strong>de</strong> transtornos mentais (p. 65). Através <strong>da</strong> arte as pessoas porta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> transtorno<br />
mental conseguem se inserir na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, no coletivo, rompen<strong>do</strong> o isolamento que<br />
caracteriza a loucura.<br />
A arteterapia cogita o contato <strong>do</strong> sujeito com sua própria reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, estimulan<strong>do</strong><br />
a autopercepção e a percepção <strong>do</strong> outro. Neste ponto <strong>de</strong> vista, a arteterapia objetiva<br />
trabalhar o reconhecimento <strong>do</strong> ser em si mesmo, sua diferenciação com o outro e com<br />
o mun<strong>do</strong> (VALLADARES, 2004).
21<br />
3.2 CINEMA<br />
Refletin<strong>do</strong> sobre a época <strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>, po<strong>de</strong>-se dizer que “<strong>cinema</strong> e<br />
psicanálise são rigorosamente contemporâneos” (RIVERA, 2008, p.11). É no final <strong>de</strong><br />
1895 que Freud publica com Breuer seu primeiro livro, Estu<strong>do</strong>s sobre a histeria, on<strong>de</strong><br />
pré-anunciam o méto<strong>do</strong> psicanalítico, e também nessa época os irmãos Lumière fazem<br />
as primeiras projeções públicas <strong>de</strong> seu <strong>cinema</strong>tógrafo em Paris (RIVERA, 2008).<br />
Geralmente esta exibição é ti<strong>da</strong> <strong>como</strong> o início <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>, embora se saiba que havia<br />
outros pesquisa<strong>do</strong>res trabalhan<strong>do</strong> em máquinas semelhantes na mesma época. To<strong>da</strong> a<br />
série <strong>de</strong> toma<strong>da</strong>s atualmente emprega<strong>da</strong>s no <strong>cinema</strong> foram sugeri<strong>da</strong>s no filme A<br />
Chega<strong>da</strong> <strong>do</strong> Trem, <strong>do</strong>s irmãos Lumière, e é conheci<strong>da</strong> a história <strong>de</strong> que especta<strong>do</strong>res<br />
assustaram-se na exibição <strong>do</strong> filme, chegan<strong>do</strong> ao ponto <strong>de</strong> saírem corren<strong>do</strong> <strong>da</strong> sala <strong>de</strong><br />
projeção temen<strong>do</strong> serem atropela<strong>do</strong>s pela lo<strong>como</strong>tiva <strong>do</strong> filme.<br />
Nise <strong>da</strong> Silveira (1992) no livro O mun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s imagens comenta que o século XIX<br />
foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o século <strong>do</strong> livro, enquanto o século XX, o século <strong>da</strong> imagem. Século <strong>do</strong><br />
<strong>cinema</strong>, on<strong>de</strong> a imagem toma proporções que possibilitam o estu<strong>do</strong> e a pesquisa. A<br />
autora sustenta que a imagem não é uma simples cópia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> externo, po<strong>de</strong> ser<br />
também uma forma <strong>de</strong> representação imediata, fruto <strong>da</strong> “função imaginativa <strong>do</strong><br />
inconsciente, que se manifesta <strong>de</strong> maneira súbita”, ou seja, a imagem se apresenta<br />
também <strong>como</strong> imagem interna, própria <strong>do</strong> sujeito (SILVEIRA, 1992, p. 82). Ressalva<br />
para esta imagem interna: a autora acima cita<strong>da</strong> coloca que a imagem interna não se<br />
configura <strong>como</strong> uma junção <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s inconscientes, constitui sim uma expressão<br />
singular <strong>da</strong>s experiências vivi<strong>da</strong>s <strong>do</strong> sujeito, experiências conscientes e inconscientes<br />
que possuem um senti<strong>do</strong> particular.<br />
Para Costa (1989), po<strong>de</strong>-se dizer sobre o <strong>cinema</strong>: que é técnica, indústria, arte,<br />
espetáculo, divertimento, cultura. Vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>do</strong> olhar que se coloca sobre ele, mas<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte disto, o ponto <strong>de</strong> vista sobre o qual é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> não po<strong>de</strong>rá ser<br />
negligencia<strong>do</strong>. Diz o autor: o <strong>cinema</strong> “é aquilo que se <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> que ele seja numa<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, (...) numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> conjuntura político-cultural ou num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>
22<br />
grupo social” (p.29). Droguett (2004) coloca que o <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong><br />
expressão universal, uma língua que to<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m compreen<strong>de</strong>r.<br />
Na compreensão <strong>de</strong> Betton (1987, p. 1) o “<strong>cinema</strong> é uma arte, é também uma<br />
linguagem estética, poética ou musical (...); é uma escrita figurativa, e ain<strong>da</strong> uma<br />
leitura, um meio <strong>de</strong> comunicar pensamentos, veicular idéias e exprimir sentimentos”.<br />
Uma forma <strong>de</strong> expressão <strong>como</strong> as outras linguagens.<br />
É mais que uma invenção técnica, é uma linguagem que se foi constituin<strong>do</strong>,<br />
<strong>como</strong> ressalta Rivera (2008), ao longo <strong>de</strong> suas primeiras déca<strong>da</strong>s. Não se torna mero<br />
divertimento ou produto <strong>da</strong> indústria, mas <strong>de</strong> alguma forma leva ao especta<strong>do</strong>r uma<br />
informação, justamente pela linguagem que se constituiu. A esse respeito, a autora<br />
coloca que “no contexto cultural <strong>de</strong> uma construção <strong>do</strong> apetite <strong>do</strong> olhar pela reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”,<br />
o <strong>cinema</strong> atinge o “gosto popular e aju<strong>da</strong> a constituir uma cultura <strong>de</strong> massa” (p. 13).<br />
Assim, a arte <strong>cinema</strong>tográfica po<strong>de</strong> contribuir para um aprendiza<strong>do</strong> sobre o sujeito e<br />
sua relação com a imagem. Também cita que o <strong>cinema</strong> tem, “<strong>como</strong> uma <strong>de</strong> suas<br />
vocações, a reflexão sobre si mesmo, sobre a imagem, sobre o sujeito. Sobre a vi<strong>da</strong>.”<br />
(p.65)<br />
Na reflexão <strong>de</strong> Droguett (2004), o caminho que o <strong>cinema</strong>tógrafo <strong>do</strong>s irmãos<br />
Lumière percorreu até alcançar a tecnologia <strong>da</strong> comunicação nos dias atuais,<br />
representa o <strong>de</strong>sejo humano <strong>de</strong> reproduzir, <strong>de</strong> alguma forma, neste caso, o <strong>cinema</strong>, a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, “os irmãos Lumière são inventores, técnicos, empresários e artistas,<br />
cria<strong>do</strong>res, sobretu<strong>do</strong>, <strong>de</strong> efeitos <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>” (DROGUETT, 2004, p.14). Sob o ponto<br />
<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Betton (1987), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, o <strong>cinema</strong> procurou ser uma reprodução fiel <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, embora o que apareça numa tela <strong>de</strong> <strong>cinema</strong> não seja a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> suprema;<br />
mas o “resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> inúmeros fatores ao mesmo tempo objetivos e subjetivos (...) o que<br />
aparece é um simples aspecto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> estética que resulta <strong>da</strong><br />
visão eminentemente subjetiva e pessoal <strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>r” (p. 9).<br />
Na visão <strong>de</strong> Päin e Jarreau “ca<strong>da</strong> sujeito constrói um sistema <strong>de</strong> referências<br />
estéticas com interdições e regras que são adquiri<strong>da</strong>s através <strong>do</strong> seu grupo <strong>de</strong><br />
pertencimento”, referências estas que participam <strong>de</strong> “ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> significantes” que não<br />
possuem uma ligação direta com a estética universal (1996, p. 12). Estes autores
23<br />
colocam que o sujeito se representa através <strong>de</strong> sua obra, on<strong>de</strong> o “código subjetivo não<br />
é organiza<strong>do</strong> <strong>como</strong> um discurso <strong>de</strong>finitivo” (p. 12).<br />
Os filmes expressam o olhar não apenas <strong>da</strong>queles que o realizaram, mas<br />
<strong>de</strong>sven<strong>da</strong>m o imaginário <strong>de</strong> seus especta<strong>do</strong>res, pois na produção <strong>de</strong> um filme leva-se<br />
em conta o “público alvo, seu universo <strong>de</strong> referências, conhecimentos e expectativas.<br />
Nesse senti<strong>do</strong> revelam mais <strong>do</strong> que outras produções artísticas (...) o olhar <strong>de</strong> uma<br />
época ou <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (OLIVEIRA, 2006, p. 10).<br />
3.3 UM OLHAR PSICANALÍTICO<br />
A imagem seduz e o <strong>cinema</strong>, com to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> criar imagens com<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, acaba exercen<strong>do</strong> uma atração no especta<strong>do</strong>r. “O especta<strong>do</strong>r tem acesso ao<br />
mun<strong>do</strong> através <strong>de</strong>ssas representações que aparecem <strong>como</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras” (DROGUETT,<br />
2004, p.13). O <strong>cinema</strong> possui um <strong>de</strong>talhamento que supera a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e que em certos<br />
momentos é mais real que a própria reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por isso, a importância em refletir sobre<br />
questões <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> referentes à representação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, já que o homem também<br />
se apropria <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> através <strong>da</strong>s imagens, resultan<strong>do</strong> numa forma <strong>de</strong> conhecimento.<br />
Nise <strong>da</strong> Silveira (2001) cita no livro O Mun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Imagens, que o século XX é o<br />
século <strong>da</strong> imagem <strong>como</strong> já anteriormente cita<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> o cotidiano é inun<strong>da</strong><strong>do</strong> por elas,<br />
e o <strong>cinema</strong> toma uma proporção ca<strong>da</strong> vez maior. A autora comenta que imagem não se<br />
resume a uma cópia psíquica <strong>do</strong>s objetos que ro<strong>de</strong>iam o homem, “mas uma<br />
representação imediata, produto <strong>da</strong> função imaginativa <strong>do</strong> inconsciente, que se<br />
manifesta <strong>de</strong> maneira súbita” (p.82). Na seqüência, menciona que a imagem interna<br />
não se resume a um conjunto <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong> inconsciente, mas constitui uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e um senti<strong>do</strong> particular, on<strong>de</strong> consciente e inconsciente são permea<strong>do</strong>s pelas<br />
experiências <strong>do</strong> sujeito.<br />
Na compreensão <strong>de</strong> Droguett (2004, p.143) “filmes são signos a ser <strong>de</strong>cifra<strong>do</strong>s.<br />
A reali<strong>da</strong><strong>de</strong> a ser apresenta<strong>da</strong> pelo <strong>cinema</strong> funciona <strong>como</strong> um semblante capaz <strong>de</strong><br />
revelar os elementos estruturais <strong>da</strong>s relações sociais, ain<strong>da</strong> que os mostre ocultan<strong>do</strong>os”.<br />
Para aju<strong>da</strong>r a <strong>de</strong>cifrar estes signos a psicanálise assume a função <strong>de</strong> intérprete <strong>da</strong>
24<br />
cultura, po<strong>de</strong> trazer à tona o significa<strong>do</strong> submerso. O mesmo autor ain<strong>da</strong> coloca que o<br />
“construto teórico <strong>do</strong> inconsciente fun<strong>da</strong> o campo psicanalítico (...) e sustenta as<br />
explorações <strong>da</strong> psicanálise além <strong>da</strong> clínica analítica, em direção as produções culturais<br />
<strong>como</strong> o <strong>cinema</strong>” (DROGUETT, 2004, p.98).<br />
A psicanálise é um méto<strong>do</strong> que interdita a visão, já que o psicanalista se coloca<br />
fora <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> visão <strong>do</strong> analisan<strong>do</strong>, para posicionar em seu centro a fala <strong>do</strong> sujeito,<br />
ou seja, a associação livre.<br />
É a fantasia, cena imagina<strong>da</strong>, porém central para a constituição <strong>da</strong>quele sujeito,<br />
que o abalaria, mais <strong>do</strong> que a situação vivi<strong>da</strong>. Não importa, a rigor, se a fala <strong>do</strong><br />
analisan<strong>do</strong> trata <strong>de</strong> uma recor<strong>da</strong>ção ou <strong>de</strong> uma fantasia: ela trata, tal é a aposta<br />
<strong>do</strong> psicanalista, <strong>do</strong> que o marca e perturba, <strong>do</strong> que o atrai ou repulsa, <strong>do</strong> que o<br />
põe em questão e faz sofrer. (RIVERA, 2008, p.17)<br />
Rivera cita Lacan quan<strong>do</strong> diz que o sujeito se estrutura em uma linha <strong>de</strong> ficção.<br />
“Mas a fantasia não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser cena, e o sonho, um drama imagético cujo relato<br />
verbal será sempre para Freud a via régia para o inconsciente” (RIVERA, 2008, p. 17).<br />
Dizer que o filme imita o sonho não fornece ao <strong>cinema</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> construção<br />
<strong>de</strong> imagens, mas coloca em foco a relação entre sujeito e imagem, seja no sonho, seja<br />
no <strong>cinema</strong> (RIVERA, 2008). Sen<strong>do</strong> assim, o <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong> ser um <strong>recurso</strong> para tornar<br />
dito/visualiza<strong>do</strong> aquilo que estava inconsciente, via arte coloca-se no mun<strong>do</strong><br />
pensamentos e afetos. De acor<strong>do</strong> com Berna<strong>de</strong>t (1996), une-se técnica com arte para<br />
realizar o sonho <strong>de</strong> reproduzir a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não somente a reprodução <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
mas <strong>da</strong> própria visão <strong>do</strong> homem no mun<strong>do</strong>. O autor coloca que a impressão <strong>de</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que o <strong>cinema</strong> provoca provavelmente foi a base <strong>do</strong> seu sucesso.<br />
“O sonho põe em questão a posição <strong>do</strong> eu, assim <strong>como</strong> po<strong>de</strong> fazê-lo a imagem –<br />
e, em particular, a imagem <strong>cinema</strong>tográfica” (RIVERA, 2008, p. 23). Face a isto, po<strong>de</strong>se<br />
pensar que o <strong>cinema</strong> contribui com esta posição <strong>do</strong> eu, on<strong>de</strong> a fantasia será<br />
transposta para a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>cinema</strong>tográfica, on<strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo tenha representação. Um<br />
lugar que seja possível uma reflexão sobre si mesmo, sobre o mun<strong>do</strong>.<br />
Para Berna<strong>de</strong>t (1980), no momento que se assiste a um filme, o sujeito<br />
transforma-o, interpreta-o <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com suas vivências, seus <strong>de</strong>sejos, suas<br />
inquietações.
25<br />
Nos filmes existe algo que se refere aos conteú<strong>do</strong>s latentes, conteú<strong>do</strong>s<br />
inconscientes <strong>do</strong> sujeito, e que <strong>de</strong> alguma forma tenta aparecer, é algo que o sujeito<br />
mostra <strong>do</strong> inconsciente.<br />
Há no corpo teórico freudiano uma teoria <strong>da</strong> arte que diz respeito à natureza <strong>do</strong><br />
objeto artístico <strong>como</strong> também ao mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> conceber o objeto por parte <strong>do</strong><br />
sujeito, tu<strong>do</strong> ancora<strong>do</strong> na idéia <strong>de</strong> que o artista tem a condição <strong>de</strong> manipular os<br />
conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> psíquica <strong>de</strong> forma diferente <strong>do</strong> sujeito comum ou <strong>do</strong><br />
afeta<strong>do</strong> por alguma psicopatologia. (DROGUETT, 2004, p.104)<br />
Ain<strong>da</strong> o mesmo autor <strong>de</strong>fine interpretar <strong>como</strong> atribuir senti<strong>do</strong> a algo, <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>r<br />
os signos, implican<strong>do</strong> em representações, mesmo quan<strong>do</strong> o signo representa a si<br />
mesmo <strong>como</strong> signo, respeitan<strong>do</strong> assim, sua inscrição simbólica.<br />
Na concepção <strong>de</strong> Costa (1989, p.25), o <strong>cinema</strong> “tem a ver com o <strong>de</strong>sejo, com o<br />
imaginário e com o simbólico: insiste nos jogos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e nos complexos<br />
mecanismos que regulam o funcionamento <strong>de</strong> nossa psique, <strong>de</strong> nosso inconsciente”.<br />
Sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Droguett (2004, p.110) o “registro imaginário relacionase<br />
à condição <strong>de</strong> projeção imaginária <strong>do</strong> sujeito frente à imagem <strong>do</strong> semelhante”, aquilo<br />
que o sujeito projeta frente ao outro. Ao registro <strong>do</strong> simbólico correspon<strong>de</strong> a linguagem,<br />
tornan<strong>do</strong> o ser humano um ser <strong>de</strong> linguagem.<br />
São relativos ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> simbólico: o sujeito, o <strong>de</strong>sejo e o próprio<br />
inconsciente. Mas, há algo que escapa e fura a or<strong>de</strong>m simbólica, algo cuja<br />
característica é justamente a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser simboliza<strong>do</strong>, <strong>de</strong> ser<br />
significa<strong>do</strong> pela linguagem. Trata-se <strong>da</strong>quilo frente ao qual nenhuma palavra<br />
estanca. Por causa disso, para o sujeito é impossível representar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Dessa forma, em to<strong>da</strong> simbolização subjaz um real que escapa. (DROGUETT,<br />
2004, p.113)<br />
A lógica <strong>da</strong> presença e ausência <strong>do</strong> objeto contribui com a simbolização e a<br />
percepção <strong>da</strong> ausência <strong>do</strong> objeto é um indício <strong>de</strong>sta simbolização feita pelo sujeito. “O<br />
suporte <strong>de</strong>ssa operação simbólica fica expulso <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e recebe o nome <strong>de</strong> real”,<br />
que retorna nas formas mais repentinas e abruptas (DROGUETT, 2004, p.114). O real<br />
é sempre vazio, e esta relação <strong>de</strong> presença-ausência <strong>do</strong> objeto imagina<strong>do</strong> é<br />
característica <strong>da</strong> produção simbólica presente no <strong>cinema</strong>, on<strong>de</strong> o “imaginário é o<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma operação simbólica sobre o real” (DROGUETT, 2004, p.172). Nas<br />
palavras <strong>de</strong> Stotz (2003), o real é indizível.
26<br />
Lacan coloca que o registro <strong>do</strong> Real se exclui <strong>do</strong> Imaginário e <strong>do</strong> Simbólico, que<br />
faltam palavras para <strong>de</strong>finir o Real. “É o impossível <strong>de</strong> pensar” (RAPPAPORT, 1992, p.<br />
94). Rappaport (1992) coloca que há autores que fazem uma distinção <strong>de</strong> um real<br />
simbolizável e um real não simbolizável, que nunca é alcança<strong>do</strong>.<br />
Para <strong>de</strong>finir o Simbólico a autora cita Lacan, no seu Seminário I, que diz: “o<br />
simbólico, eu lhes ensinei a i<strong>de</strong>ntificá-lo com a linguagem” (p. 95). Para Lacan a or<strong>de</strong>m<br />
simbólica está entrelaça<strong>da</strong> com a noção <strong>do</strong> Outro e com o inconsciente estrutura<strong>do</strong><br />
<strong>como</strong> uma linguagem. Nesta or<strong>de</strong>m simbólica é que se torna possível nomear o Real<br />
através <strong>do</strong> significante.<br />
No registro <strong>do</strong> Imaginário, Rappaport (1992) diz que se trabalha a função <strong>da</strong>s<br />
imagens na subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Coloca que encontra neste registro: a imagem <strong>do</strong><br />
semelhante, <strong>como</strong> pequeno outro que entra sem mediações; o eu especulariza<strong>do</strong>,<br />
<strong>como</strong> imagem i<strong>de</strong>al; a imagem narcísica. O imaginário dá consistência à reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Desses três registros - que são o Imaginário, o Simbólico e o Real - estabelecese<br />
uma “articulação própria <strong>do</strong> significante, <strong>da</strong> materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> imagem, <strong>do</strong> sujeito <strong>do</strong><br />
significante e <strong>do</strong> objeto <strong>da</strong> pulsão escópica” (DROGUETT, 2004, p. 170). O autor<br />
contempla Freud quan<strong>do</strong> diz que a pulsão escópica é um princípio <strong>de</strong> natureza autoerótica<br />
e que a fase preliminar <strong>da</strong> pulsão escópica, “na qual o prazer visual tem <strong>como</strong><br />
objeto o próprio corpo, pertence ao narcisismo e é uma formação narcísica” (p. 117).<br />
O entrecruzamento <strong>do</strong> imaginário, <strong>do</strong> simbólico e <strong>do</strong> real, oferece uma via<br />
inesgotável para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>. O critério para a esfera <strong>da</strong> significação é <strong>da</strong><br />
or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> simbólico, ou seja, é num plano simbólico que existe a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
encontrar significa<strong>do</strong>s para o que se quer investigar (DROGUETT, 2004).<br />
Torna-se necessário explicitar aqui um conceito crucial <strong>da</strong> psicanálise, o conceito<br />
<strong>da</strong> sublimação, para enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma mais clara a relação entre arte/<strong>cinema</strong> e<br />
psicanálise. Não cabe neste trabalho aprofun<strong>da</strong>r tais conceitos; seja sobre os registros<br />
<strong>do</strong> Real, Imaginário e Simbólico, seja sobre sublimação; mas sim explicitá-los para<br />
melhor compreensão.<br />
Nasio chama a atenção que a sublimação é repeti<strong>da</strong>mente “consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pelos<br />
psicanalistas <strong>como</strong> uma noção distancia<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua prática clínica, mal articula<strong>da</strong> no seio
27<br />
<strong>da</strong> teoria e conota<strong>da</strong> com um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>masia<strong>da</strong>mente geral, estético, moral ou<br />
intelectual” (1997, p. 77).<br />
Na compreensão <strong>de</strong> Zimerman (2001, p. 396) Freud utilizou o termo sublimação<br />
para nomear “a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana bem sucedi<strong>da</strong>, principalmente no campo artístico, no<br />
trabalho intelectual e <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> reconhecimento público em geral”. O ser humano<br />
retira a energia e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> criativa <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> pulsão sexual e sublima.<br />
Garcia-Roza (1995, p.132) lembra que Freud distingue com o nome <strong>de</strong><br />
sublimação “a modificação <strong>do</strong> alvo e <strong>da</strong> via <strong>do</strong> objeto na qual intervém nossa valoração<br />
social”.<br />
O termo sublimação é introduzi<strong>do</strong> por Freud, e evoca o termo “sublime”,<br />
especialmente “usa<strong>do</strong> no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong>s belas-artes para <strong>de</strong>signar uma produção que<br />
sugira a gran<strong>de</strong>za, a elevação” (LAPLANCHE e PONTALIS, 2001, p.495).<br />
Encontramos, <strong>da</strong> mesma forma, nas palavras <strong>de</strong> Droguett (2004, p. 97) que “a<br />
sublimação é o procedimento no qual a libi<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>svia<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu objeto sexual para<br />
uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> em favor <strong>da</strong> cultura”, neste caso, o <strong>cinema</strong> é uma forma sublime <strong>de</strong><br />
reconhecimento social.<br />
É imperativo ressaltar que a sublimação é a única noção psicanalítica capaz <strong>de</strong><br />
eluci<strong>da</strong>r que obras cria<strong>da</strong>s pelo homem, especialmente as artísticas, afasta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> uma<br />
referência à sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, “sejam produzi<strong>da</strong>s, ain<strong>da</strong> assim, graças a uma força sexual<br />
nasci<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma fonte sexual” (NASIO, 1997, p. 78).<br />
Garcia-Roza (1995, p.132) contempla Freud comentan<strong>do</strong> sobre sublimação<br />
<strong>como</strong> um “processo que diz respeito à libi<strong>do</strong> <strong>de</strong> objeto e consiste em que a pulsão se<br />
volta para outra meta, distante <strong>da</strong> satisfação sexual; o acento recai então no <strong>de</strong>svio em<br />
relação ao sexual”. No entanto, faz-se necessário ressaltar que nem por isso a<br />
sublimação <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong> satisfação num mo<strong>do</strong> não sexual. Assim, um<br />
objeto sexual é troca<strong>do</strong> por outro, <strong>de</strong> forma mais acessível e mais valoriza<strong>do</strong> pelo social<br />
e o artista transfere seu interesse, e também sua libi<strong>do</strong>, para a fantasia/arte, geran<strong>do</strong><br />
satisfação (GARCIA-ROZA, 1995).<br />
De acor<strong>do</strong> com Laplanche e Pontalis, sublimação significa:<br />
Processo postula<strong>do</strong> por Freud para explicar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas sem qualquer<br />
relação aparente com a sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas que encontrariam o seu elemento
28<br />
propulsor na força <strong>da</strong> pulsão sexual. Freud <strong>de</strong>screveu <strong>como</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
sublimação principalmente a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> artística e a investigação intelectual. Dizse<br />
que a pulsão é sublima<strong>da</strong> na medi<strong>da</strong> em que é <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> para um novo<br />
objetivo não sexual e em que visa objetos socialmente valoriza<strong>do</strong>s.<br />
(LAPLANCHE e PONTALIS, 2001, p.495)<br />
Ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os autores acima cita<strong>do</strong>s, sublimação é a “capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
trocar a meta sexual originária por outra meta, que já não é sexual, mas que<br />
psiquicamente se aparenta com ela”, é um <strong>de</strong>svio em relação à natureza <strong>do</strong> objeto<br />
pulsional (LAPLANCHE e PONTALIS, 2001, p.495). Nas palavras <strong>de</strong> Droguett (2004,<br />
p.103) “a sublimação é atribuí<strong>da</strong> à plastici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pulsão, que tem <strong>como</strong> objetivo<br />
substituir a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> original <strong>da</strong> mesma, <strong>de</strong> natureza sexual”, <strong>de</strong>sta forma po<strong>de</strong> ser<br />
substituí<strong>do</strong> por outro objeto, não sexual. Concernente a isto, a sublimação terá sucesso<br />
se houver a “intervenção <strong>do</strong> eu narcísico, isto é, se obtiver sucesso em retirar a libi<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> objeto sexual e fazê-la retornar sobre si mesmo”. Garcia-Roza afirma que este é o<br />
primeiro momento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> sublimação. Já o segun<strong>do</strong> momento consiste em<br />
direcionar essa libi<strong>do</strong> para um objeto não sexual, o que comumente acontece “na<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> artística on<strong>de</strong>, através <strong>da</strong> satisfação narcísica obti<strong>da</strong> pelo artista, há um<br />
favorecimento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> cria<strong>do</strong>ra <strong>da</strong>n<strong>do</strong> lugar a uma satisfação sublima<strong>da</strong>”<br />
(GARCIA-ROZA, 1995, p.143). Ou seja, através <strong>da</strong> arte obtém-se satisfação, satisfação<br />
essa sublima<strong>da</strong>, pois o objeto sexual foi substituí<strong>do</strong> por outro não sexual, com valor<br />
social significativo para o sujeito.<br />
Para Nasio a sublimação significa “plastici<strong>da</strong><strong>de</strong>, maleabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> força pulsional<br />
(...) é, antes <strong>de</strong> mais na<strong>da</strong>, a passagem <strong>de</strong> uma satisfação a outra” (1997, p. 83). O<br />
autor esclarece que além <strong>da</strong> sublimação ser um meio <strong>de</strong> transformar e elevar a energia<br />
<strong>da</strong>s forças sexuais, converten<strong>do</strong>-as numa “força positiva e cria<strong>do</strong>ra”; também é uma<br />
forma <strong>de</strong> temperar e abran<strong>da</strong>r a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas forças (p. 78). Esclarece que Freud<br />
a consi<strong>de</strong>rou “<strong>como</strong> um <strong>do</strong>s quatro mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa emprega<strong>do</strong>s pelo eu contra os<br />
excessos <strong>da</strong> pulsão”, chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinos <strong>da</strong> pulsão (p. 81).<br />
Droguett (2004, p. 103-104) comenta que “Freud atribui à pulsão um traço<br />
arcaico, referi<strong>do</strong> às primeiras exigências <strong>da</strong> civilização. É um imperativo para a entra<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong> ser humano no campo <strong>da</strong> cultura”. A produção cultural, neste caso referin<strong>do</strong>-se ao<br />
<strong>cinema</strong>, é, portanto, a conseqüência <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sublimação <strong>do</strong> sujeito.
29<br />
Nas palavras <strong>de</strong> Kaufmann (1996, p. 500), é na arte que nos <strong>de</strong>paramos com um<br />
esta<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> sucesso, “já que o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro artista sabe <strong>da</strong>r uma forma tão<br />
aceitável a essas mesmas fantasias a cuja força e excentrici<strong>da</strong><strong>de</strong> os neuróticos<br />
sucumbem, e conferir a elas um valor tão universal”, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim aliviar o peso <strong>da</strong>s<br />
fantasias <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais homens. Na arte, as fantasias e <strong>de</strong>sejos têm espaço para livre<br />
manifestação e aceitação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais.<br />
Kaufmann (1996) consi<strong>de</strong>ra que na sublimação há uma <strong>de</strong>ssexualização <strong>do</strong><br />
objeto. Zimerman (2001) também <strong>de</strong>staca esta <strong>de</strong>ssexualização e cita que Freud<br />
chegou a falar <strong>de</strong> um conceito paralelo ao <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sagressivização.<br />
“Menos o homem se torna agressivo em relação ao exterior”, escreve Freud,<br />
“mais ele se torna severo, isto é, agressivo, em seu eu i<strong>de</strong>al.” Se a sublimação<br />
supõe certa forma <strong>de</strong> intricação pulsional, ela aumenta o risco <strong>de</strong> uma<br />
dissociação entre as forças eróticas que permanecem no isso e, por outro la<strong>do</strong>,<br />
as exigências emana<strong>da</strong>s <strong>de</strong> outrem, que contribuem para formar o que Freud<br />
chama <strong>de</strong> o “i<strong>de</strong>al <strong>do</strong> eu”. Quan<strong>do</strong> os elementos eróticos não são fortes o<br />
bastante para ligar e imobilizar as pulsões <strong>de</strong>strutivas, a agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sliga<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> externo retorna sobre o eu, o qual forma a partir <strong>de</strong> então o<br />
mais ambivalente <strong>do</strong>s objetos <strong>de</strong> amor. (KAUFMANN, 1996, p. 499-500)<br />
A sublimação caracteriza-se pela substituição <strong>de</strong> um objeto sexual por outro não<br />
sexual, sen<strong>do</strong> que a condição para que o objeto funcione <strong>como</strong> substituto é sua<br />
valorização social. Mas apenas isto não é suficiente. To<strong>da</strong>via, faz-se necessário que o<br />
objeto se ligue às elaborações imaginárias <strong>do</strong> sujeito. Uma satisfação nega<strong>da</strong> pela<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser troca<strong>da</strong> por outra, mas isto “não significa que to<strong>da</strong> a sublimação seja<br />
possível”, pois ela está liga<strong>da</strong> ao indivíduo, e há nele limites à sublimação, justamente<br />
por ser <strong>de</strong> natureza individual (GARCIA-ROZA, 1995, p.139).<br />
Po<strong>de</strong>-se perguntar então: e <strong>como</strong> se dá a sublimação para aquele que não<br />
produz a obra, mas apenas a aprecia?<br />
Nasio (1997) explora isto quan<strong>do</strong> escreve sobre <strong>como</strong> a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />
produções artísticas elabora<strong>da</strong>s com a força sexual <strong>de</strong> uma pulsão sublima<strong>da</strong> habita na<br />
sua condição <strong>de</strong> objetos imaginários.<br />
(...) a obra <strong>de</strong> arte, protótipo <strong>da</strong> criação produzi<strong>da</strong> por sublimação, não são<br />
coisas materiais, mas antes formas e imagens novamente cria<strong>da</strong>s, <strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
uma semelhança <strong>da</strong> imagem inconsciente <strong>de</strong> nosso corpo, ou mais exatamente,<br />
<strong>de</strong> nosso eu inconsciente narcísico. Pois bem, essas obras imaginárias <strong>da</strong>
30<br />
sublimação são capazes <strong>de</strong> produzir <strong>do</strong>is efeitos fun<strong>da</strong>mentais no especta<strong>do</strong>r:<br />
<strong>de</strong>slumbram-no por seu fascínio e suscitam nele o mesmo esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> paixão e<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo em suspenso que levou o artista a gerar sua obra. (NASIO, 1997, p.<br />
87)<br />
O autor sustenta que uma imagem a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> pelo eu origina no especta<strong>do</strong>r um<br />
“movimento pulsional semelhante para a sublimação, ou seja, para uma satisfação nãosexual,<br />
global, próxima <strong>de</strong> um vazio infinito, <strong>de</strong> um gozo sem limites” (p. 87). O que foi<br />
objetiva<strong>do</strong> na obra <strong>de</strong> arte abre para o outro um “<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, um <strong>de</strong>sejo em<br />
suspensão”, sem objeto <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> (NASIO, 1997, p. 87). Aquele que assiste ao filme<br />
se <strong>de</strong>para com um <strong>de</strong>sejo que não é seu, mas se apropria <strong>de</strong>le e o mantém em<br />
suspensão. De alguma forma o ato <strong>de</strong> olhar, <strong>de</strong> contemplar, traz à tona <strong>de</strong>sejos não<br />
revela<strong>do</strong>s. Como comenta Rivera e Safatle (2006, p. 95): “A obra seduz e se nega ao<br />
‘<strong>da</strong>r-se a ver’. Junto ao oferecer-se à contemplação, revela o que não está lá... ou o<br />
que, apresentan<strong>do</strong>-se sem subterfúgios, <strong>de</strong>svia nosso olhar: porque é insuportável à<br />
visão ou porque é ‘já visto’”. O “já visto” po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> <strong>como</strong> já <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>, <strong>como</strong><br />
algo que o filme <strong>de</strong>snu<strong>do</strong>u e que foi sublima<strong>do</strong> pelo especta<strong>do</strong>r. Insuportável à visão<br />
num senti<strong>do</strong> que remete à lembrança encobri<strong>do</strong>ra, que significa, nas palavras <strong>de</strong><br />
Laplanche:<br />
lembrança infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela sua especial niti<strong>de</strong>z<br />
e pela aparente insignificância <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong>. (...) Como o sintoma, a<br />
lembrança encobri<strong>do</strong>ra é uma formação <strong>de</strong> compromisso entre elementos<br />
recalca<strong>do</strong>s e a <strong>de</strong>fesa. (2001, p. 264)<br />
Po<strong>de</strong>-se pensar que a imagem revela o que <strong>de</strong>veria encobrir, ou então, <strong>de</strong>ixa<br />
entrever o traumático.<br />
4 METODOLOGIA<br />
Para alcançar os objetivos <strong>de</strong>ste trabalho fez-se necessário a utilização <strong>de</strong> uma<br />
meto<strong>do</strong>logia para a obtenção <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s e <strong>como</strong> conseqüência, a análise <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s.
31<br />
4.1 CLASSIFICAÇÃO<br />
Este trabalho propõe um tipo <strong>de</strong> pesquisa exploratória, que se caracteriza por<br />
“proporcionar maior familiari<strong>da</strong><strong>de</strong> com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito<br />
ou a constituir hipóteses” (GIL, 2002, p. 41). Buscou-se proporcionar uma visão geral<br />
sobre um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> fenômeno, neste caso específico, a i<strong>de</strong>ntificação em pesquisa<br />
bibliográfica sobre os possíveis <strong>uso</strong>s <strong>da</strong> linguagem <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong><br />
terapêutico.<br />
O autor acima cita<strong>do</strong> esclarece que este tipo <strong>de</strong> pesquisa é realiza<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o<br />
tema escolhi<strong>do</strong> é pouco explora<strong>do</strong> e se torna necessário “<strong>de</strong>senvolver, esclarecer e<br />
modificar conceitos e idéias, ten<strong>do</strong> em vista, a formulação <strong>de</strong> problemas mais precisos<br />
ou hipóteses pesquisáveis para estu<strong>do</strong>s posteriores” (p. 43).<br />
O <strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong>ste trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica, que, por<br />
sua vez, tem <strong>como</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Oliveira (1979), conhecer as mais<br />
diversas formas existentes <strong>de</strong> contribuição científica que já se realizou sobre<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> assunto ou fenômeno.<br />
Este tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineamento possui <strong>como</strong> vantagem para o pesquisa<strong>do</strong>r “a<br />
cobertura <strong>de</strong> uma gama <strong>de</strong> fenômenos muito mais ampla <strong>do</strong> que aquela que po<strong>de</strong>ria<br />
pesquisar diretamente” (GIL, 1999, p. 65), colaboran<strong>do</strong> com a atualização <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s e<br />
com questões que ain<strong>da</strong> não foram respondi<strong>da</strong>s.<br />
4.2 FONTES DE INFORMAÇÃO<br />
Abrange bibliografia já torna<strong>da</strong> pública em relação ao tema <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> - <strong>uso</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico - <strong>de</strong>s<strong>de</strong> publicações avulsas, boletins, jornais,<br />
revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, etc., até meios <strong>de</strong> comunicação
32<br />
audiovisuais: filmes e televisão. Para Lakatos e Marconi (1991), o pesquisa<strong>do</strong>r entra em<br />
contato direto com o que foi escrito, dito ou filma<strong>do</strong> sobre <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> assunto. Neste<br />
trabalho, para encontrar as fontes, foi usa<strong>da</strong> a base <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s biblioteca virtual <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
com en<strong>de</strong>reço eletrônico: www.bvs-psi.org.br. As fontes utiliza<strong>da</strong>s foram cinco artigos<br />
disponibiliza<strong>do</strong>s na íntegra no formato on line. Encontrou-se material referente aos<br />
objetivos <strong>de</strong>ste trabalho, mas não estavam disponíveis na íntegra on line.<br />
4.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS<br />
Os equipamentos básicos utiliza<strong>do</strong>s para realizar este tipo <strong>de</strong> pesquisa foram:<br />
computa<strong>do</strong>r, acesso à internet, acesso às bibliotecas, papel, caneta “marca texto”,<br />
impressora e materiais bibliográficos. Não houve necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> equipamento<br />
especial.<br />
4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS<br />
A coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s foi realiza<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> pesquisa bibliográfica. Aconteceu em<br />
três fases: i<strong>de</strong>ntificação, localização e reunião <strong>do</strong>s materiais. Na base <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />
www.bvs-psi.org.br foi utiliza<strong>do</strong> os seguintes <strong>de</strong>scritores/palavras chave: <strong>cinema</strong>,<br />
<strong>cinema</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico, <strong>cinema</strong> terapia, imagens <strong>cinema</strong>tográficas, <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>,<br />
<strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico, <strong>cinema</strong> psicanálise, <strong>cinema</strong> psicanálise arteterapia,<br />
<strong>cinema</strong> psicologia, <strong>cinema</strong> saú<strong>de</strong> mental, <strong>cinema</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>cinema</strong> educação, <strong>cinema</strong><br />
pe<strong>da</strong>gogia.<br />
Muitos artigos se repetiam, ou seja, com diferentes palavras chave encontraramse<br />
os mesmos artigos. Em segui<strong>da</strong> foi feita uma leitura <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os títulos e os que<br />
po<strong>de</strong>riam ter conteú<strong>do</strong> relevante para a pesquisa foram seleciona<strong>do</strong>s para leitura <strong>do</strong>s<br />
resumos. Com a leitura <strong>do</strong>s resumos i<strong>de</strong>ntificou-se a existência ou não <strong>de</strong> pontos
33<br />
referentes aos objetivos <strong>de</strong>ste trabalho. Seleciona<strong>do</strong>s os artigos relevantes, que<br />
contemplam os objetivos específicos <strong>de</strong>ste trabalho, foi realiza<strong>da</strong> uma primeira leitura<br />
<strong>do</strong> material. Em segui<strong>da</strong> houve uma segun<strong>da</strong> leitura, mais dirigi<strong>da</strong> e com i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> pontos significativos. Ou seja, houve o levantamento <strong>do</strong>s fatos, a seleção <strong>do</strong><br />
material, a leitura para análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />
Para contribuir com a leitura e a análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, foram usa<strong>do</strong>s os protocolos<br />
<strong>de</strong> registro, on<strong>de</strong> consta a referência <strong>da</strong> obra, categorias seleciona<strong>da</strong>s, citações<br />
importantes. As categorias foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s a posteriori. São elas: <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>,<br />
mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos e resulta<strong>do</strong> terapêutico. Dentro <strong>da</strong> categoria<br />
<strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> há subcategorias, qua is sejam: <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> media<strong>do</strong>r na produção <strong>da</strong><br />
fala <strong>de</strong> sujeitos psicóticos, proposição <strong>de</strong> escuta, proposição <strong>de</strong> experiências que<br />
produzem efeitos discursivos em pacientes psicóticos, <strong>recurso</strong> para ensinoaprendizagem,<br />
ilustração, simbolização, <strong>de</strong>spertar conteú<strong>do</strong>s por associação. Na<br />
categoria mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos encontraram-se as seguintes<br />
subcategorias: media<strong>do</strong>r para constituição <strong>de</strong> laço com Outro; estímulos para os<br />
processos <strong>de</strong> pensamentos, oferecen<strong>do</strong> fragmentos significativos para a discussão e a<br />
resignificação <strong>da</strong>s imagens <strong>do</strong> psicótico; enunciação <strong>de</strong> cenas ou <strong>de</strong> vivências;<br />
construção <strong>de</strong> significantes, simbolização. As subcategorias encontra<strong>da</strong>s na categoria<br />
resulta<strong>do</strong> terapêutico são: imagem media<strong>do</strong>ra para <strong>de</strong>spertar algo <strong>do</strong> sujeito, alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>/<br />
constituição <strong>do</strong> sujeito.<br />
4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS<br />
Foi feita uma análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> material pesquisa<strong>do</strong>.<br />
Conforme Minayo (1994) po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar duas funções quan<strong>do</strong> se utiliza<br />
análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>: verificação <strong>de</strong> hipóteses e/ou questões, e a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> que<br />
está por trás <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s evi<strong>de</strong>ntes. Ou seja, através <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong><br />
“po<strong>de</strong>mos encontrar respostas para as questões formula<strong>da</strong>s e também po<strong>de</strong>mos<br />
confirmar ou não as afirmações estabeleci<strong>da</strong>s antes <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> investigação”
34<br />
(MINAYO, 1994, p.74). A outra função consi<strong>de</strong>ra o que está além <strong>do</strong> manifesto, <strong>do</strong> que<br />
está sen<strong>do</strong> comunica<strong>do</strong>. As duas funções po<strong>de</strong>m se complementar.<br />
Na concepção <strong>de</strong> Minayo (1994), po<strong>de</strong>m-se escolher vários tipos <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
registro, ou protocolos <strong>de</strong> registro, para efetuar a análise <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma<br />
mensagem. “Essas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s se referem aos elementos obti<strong>do</strong>s através <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>composição <strong>do</strong> conjunto <strong>da</strong> mensagem” (MINAYO, 1994, p. 75).<br />
Após a escolha <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> registro, trabalham-se os conteú<strong>do</strong>s com a aju<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> categorias. Segun<strong>do</strong> Minayo (1994), a análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r as<br />
fases <strong>de</strong> pré-análise, exploração <strong>do</strong> material, tratamento <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s e<br />
interpretação.<br />
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS<br />
Encontrou-se um livro, uma tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> e um artigo que, pelo título e pelo<br />
resumo, teriam <strong>da</strong><strong>do</strong>s relevantes para este trabalho, mas não estavam disponíveis na<br />
íntegra no formato on line. Desta maneira, segue resumo <strong>de</strong>ste material apenas para<br />
registro <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />
Foi <strong>de</strong>scoberto referência <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong> Rosália Duarte, <strong>de</strong> 2002, com o título<br />
Cinema & Educação: refletin<strong>do</strong> sobre <strong>cinema</strong> e educação, mas não estava disponível<br />
para análise. Encontrou-se resenha sobre o mesmo escrita por Viviane Klaus: ao invés<br />
<strong>de</strong> seguir a tendência <strong>do</strong>minante <strong>de</strong> tratar o <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> mais um <strong>recurso</strong> didático<br />
para o ensino, Rosália parte <strong>do</strong> entendimento <strong>de</strong> que a educação e o <strong>cinema</strong><br />
configuram formas <strong>de</strong> socialização <strong>da</strong>s pessoas e “instâncias culturais que produzem<br />
saberes, i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, visões <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>, subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s” (p. 1). A<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> que muito <strong>do</strong><br />
entendimento sobre fatos <strong>da</strong> nossa cultura têm <strong>como</strong> referência significa<strong>do</strong>s que<br />
surgem <strong>da</strong>s relações estabeleci<strong>da</strong>s tanto entre alunos e professores quanto entre<br />
especta<strong>do</strong>res e filmes, Duarte (2002) aponta “o caráter extremamente educativo <strong>do</strong><br />
<strong>cinema</strong>” (p. 1).<br />
Liliane Sei<strong>de</strong> Froemming na sua tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> apresenta<strong>da</strong> em 2002 à
35<br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul (UFRGS) com o título <strong>de</strong> A montagem no<br />
<strong>cinema</strong> e a associação-livre na psicanálise levanta consi<strong>de</strong>rações entre os <strong>do</strong>is<br />
campos, o <strong>cinema</strong> e a associação-livre, fazen<strong>do</strong> um recorte on<strong>de</strong> a “escolha recai por<br />
estabelecer uma associação entre os temas <strong>da</strong> associação-livre na psicanálise e a<br />
montagem no <strong>cinema</strong>” (p. 1). Algumas conclusões marcam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />
proveitoso o trabalho conjunto <strong>de</strong> cineastas e psicanalistas, sobretu<strong>do</strong> na “constituição<br />
<strong>de</strong> um laboratório <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s para construção <strong>de</strong> conhecimentos e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>da</strong>s habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s requeri<strong>da</strong>s para a formação <strong>de</strong> profissionais <strong>da</strong>s duas áreas” (p. 2).<br />
Froemming (2002) cita que “muitas perspectivas para <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos e continui<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
são indica<strong>da</strong>s”, propon<strong>do</strong> estabelecer uma linha <strong>de</strong> “pesquisa sistemática na interseção<br />
<strong>do</strong>s campos <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> e <strong>da</strong> psicanálise” (p. 2). Esta tese não está disponível on line.<br />
Outro artigo, intitula<strong>do</strong> Quan<strong>do</strong> as imagens dialogam, <strong>de</strong> Denise Costa Hausen,<br />
<strong>de</strong> 2004, faz uma articulação entre os processos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> imagens no psiquismo<br />
humano e no <strong>cinema</strong>. Partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> pulsão, “energia primordial construtiva <strong>do</strong> aparelho<br />
psíquico, os conceitos <strong>de</strong> representante <strong>de</strong> pulsão, pulsão escopofílica e recalcamento<br />
são abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong> teoria freudiana” (p. 1). Não estava disponibiliza<strong>do</strong> on line.<br />
Analisou-se cinco artigos que continham material referente aos objetivos <strong>de</strong>ste<br />
trabalho. Segue a referência <strong>de</strong>stes artigos, qual a fonte <strong>de</strong> disponibilização on line e<br />
seus respectivos resumos.<br />
Quadro 1: Referências <strong>do</strong>s artigos utiliza<strong>do</strong>s<br />
Fonte Referência Resumo Escrito pelo(s) Autor(es) <strong>do</strong> Artigo.<br />
Scielo NEVES, Elsa Santos. Tu<strong>do</strong> Que Você<br />
Gostaria <strong>de</strong> Saber Sobre Lacan e O<strong>uso</strong>u<br />
Perguntar a Slavoj Žižek: Psicanálise e<br />
Cinema. Estud. psicanal., set. 2005, no.28,<br />
p.27-39.<br />
Scielo<br />
RIVERA, Tânia. Cinema e pulsão: sobre<br />
"Irreversível", o trauma e a imagem.<br />
O gran<strong>de</strong> interesse <strong>da</strong> psicanálise pelos filmes<br />
que <strong>de</strong>senham uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> subjetiva po<strong>de</strong>,<br />
efetivamente, colocar em perspectiva os conceitos<br />
psicanalíticos. Não se trata, porém, <strong>de</strong> uma<br />
interpretação <strong>do</strong>s filmes pela psicanálise. Pelo<br />
contrário, trata-se <strong>de</strong>, mediante uma análise<br />
formal <strong>da</strong> linguagem <strong>cinema</strong>tográfica, esclarecer<br />
certos conceitos freudianos e lacanianos através<br />
<strong>do</strong>s filmes, utiliza<strong>do</strong>s <strong>como</strong> ilustração. Ten<strong>do</strong><br />
<strong>como</strong> norte a proposta <strong>de</strong> Slavoj Žižek, este artigo<br />
busca evi<strong>de</strong>nciar os procedimentos <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> e<br />
<strong>como</strong> aí aparecem os conceitos lacanianos <strong>de</strong><br />
Gran<strong>de</strong> Outro, objeto a, sujeito barra<strong>do</strong> e fantasia.<br />
Partin<strong>do</strong> <strong>de</strong> um diálogo entre psicanálise e<br />
<strong>cinema</strong>, buscamos refletir sobre o estatuto <strong>da</strong>
36<br />
Scielo<br />
Scielo<br />
Pepsic<br />
Rev. Dep. Psicol.,UFF [online]. 2006,<br />
vol.18, n.1, pp. 71-76.<br />
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Mídia,<br />
máquinas <strong>de</strong> imagens e práticas<br />
pe<strong>da</strong>gógicas. Rev. Bras. Educ. [online].<br />
2007, vol.12, n.35, pp. 290-299. ISSN<br />
1413-2478.<br />
TAPAJOS, Ricar<strong>do</strong>. A comunicação <strong>de</strong><br />
notícias ruins e a pragmática <strong>da</strong><br />
comunicação humana: o <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong><br />
em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino/aprendizagem<br />
na educação médica. Interface (Botucatu)<br />
[online]. 2007, vol.11, n.21, pp. 165-172.<br />
RAINONE, Francilene e FROEMMING,<br />
Liliane Sei<strong>de</strong>. As potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s<br />
imagens <strong>cinema</strong>tográficas para o<br />
campo <strong>da</strong> atenção em saú<strong>de</strong> mental.<br />
imagem na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para além <strong>de</strong><br />
uma configuração imaginária apazigua<strong>do</strong>ra, é<br />
indica<strong>da</strong> a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> traumática <strong>da</strong> imagem,<br />
por meio <strong>da</strong> concepção freudiana <strong>da</strong> lembrança<br />
encobri<strong>do</strong>ra. Tal dimensão traumática é explora<strong>da</strong><br />
na análise <strong>do</strong> filme Irreversível, produção francesa<br />
<strong>de</strong> 2002. A violência não é, nessa obra, apenas<br />
mostra<strong>da</strong> em imagens, mas é posta em cena<br />
"entre" as imagens. Em seu agenciamento pulsa<br />
uma ameaça<strong>do</strong>ra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que aquilo <strong>de</strong><br />
que se trata na imagem, e que diz respeito à<br />
ligação entre sexo e violência não possa ser<br />
conta<strong>do</strong>, mas apenas repeti<strong>do</strong>.<br />
Neste trabalho, discuto, as relações entre mídia e<br />
trabalho pe<strong>da</strong>gógico escolar, tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> existência contemporâneos em que práticas<br />
cotidianas se transformam, particularmente no que<br />
se refere às nossas experiências com os saberes,<br />
às formas <strong>de</strong> inscrever-nos no social, <strong>de</strong> escrever,<br />
<strong>de</strong> falar, <strong>de</strong> pensar o mun<strong>do</strong> e a nós mesmos. Tais<br />
práticas dizem respeito, basicamente, ao<br />
encantamento com as "novas tecnologias", ao<br />
excesso e acúmulo <strong>de</strong> informações, a uma cultura<br />
<strong>da</strong> imagem, à veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s comunicações, a<br />
novas percepções <strong>de</strong> tempo, memória e história, à<br />
miscigenação <strong>de</strong> linguagens nas diferentes<br />
máquinas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> imagens, entre outras.<br />
Trato <strong>de</strong> contribuições <strong>da</strong> filosofia <strong>de</strong> Bergson,<br />
Foucault e Badiou, pertinentes aos estu<strong>do</strong>s sobre<br />
imagens audiovisuais, articulan<strong>do</strong>-as a trabalhos<br />
sobre <strong>cinema</strong>, ví<strong>de</strong>o e televisão, <strong>como</strong> os <strong>de</strong><br />
Dubois e Silverstone, a fim <strong>de</strong> mostrar a<br />
relevância <strong>de</strong> trazer os materiais midiáticos para o<br />
<strong>de</strong>bate no interior <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas<br />
contemporâneas.<br />
Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino-aprendizagem no campo <strong>da</strong><br />
Competência Comunicacional (tais <strong>como</strong> aquelas<br />
que dizem respeito à comunicação <strong>de</strong> notícias<br />
ruins para pacientes) po<strong>de</strong>m usar as Artes<br />
Cinemáticas e ser informa<strong>da</strong>s por um corpo <strong>de</strong><br />
princípios teóricos <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Teoria<br />
Comunicacional (que estu<strong>da</strong> a comunicação<br />
humana nos seus aspectos sintáticos, semânticos<br />
e pragmáticos). Tópicos na sintática <strong>da</strong><br />
comunicação <strong>de</strong> notícias ruins incluem o <strong>uso</strong> <strong>de</strong><br />
eufemismos médicos e linguagens não-verbais. A<br />
semântica <strong>da</strong>s notícias ruins foca naquilo que está<br />
sen<strong>do</strong> comunica<strong>do</strong>, e não em <strong>como</strong> está sen<strong>do</strong><br />
comunica<strong>do</strong>. Aspectos pragmáticos são discuti<strong>do</strong>s<br />
aqui com mais <strong>de</strong>talhes e envolvem a<br />
<strong>de</strong>squalificação e os discursos médicos<br />
<strong>de</strong>squalifica<strong>do</strong>res.<br />
O texto busca discutir as relações entre as<br />
imagens <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> e as imagens <strong>da</strong> psicose,<br />
mediante conceitos teóricos <strong>da</strong> psicanálise e <strong>da</strong><br />
saú<strong>de</strong> mental. Partin<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma questão central –
37<br />
Lat. AM. J. fun<strong>da</strong>m. Psychopathol. On line,<br />
maio 2008, vol. 5, no. 1, p. 69-83.<br />
Fonte: Autora.<br />
as imagens <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong>m ser propositivas<br />
para uma construção narrativa na psicose? –, o<br />
objetivo geral <strong>de</strong>ste ensaio é analisar, com base<br />
em uma prática que utiliza as imagens<br />
<strong>cinema</strong>tográficas <strong>como</strong> media<strong>do</strong>ra na produção <strong>da</strong><br />
fala <strong>de</strong> sujeitos psicóticos, as relações entre<br />
imagem e i<strong>de</strong>ntificações imaginárias. Propomos<br />
investigar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> – pelas imagens <strong>da</strong><br />
tela e <strong>do</strong> que é produzi<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong>las enquanto<br />
discursivi<strong>da</strong><strong>de</strong> – um reor<strong>de</strong>namento e a inscrição<br />
<strong>da</strong> pulsão no registro <strong>da</strong> simbolização.
38<br />
Como cita<strong>do</strong> anteriormente, analisan<strong>do</strong> estes artigos encontrou-se três categorias distintas: <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>,<br />
mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos e resulta<strong>do</strong> terapêutico. Segue abaixo a tabela <strong>de</strong> registro com a<br />
categorização e seus respectivos comentários.<br />
Quadro 2: Categoria <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong><br />
Autores<br />
Subcategorias Rainone & Froemming Tapajós Rivera Fischer Neves<br />
Cinema <strong>como</strong><br />
media<strong>do</strong>r na<br />
produção <strong>da</strong> fala<br />
<strong>de</strong> sujeitos<br />
psicóticos<br />
“Nossa proposta aos participantes<br />
<strong>do</strong> Cinema em Debate é <strong>de</strong> que,<br />
após a exibição <strong>do</strong> filme, eles<br />
escolham cenas que lhes tenham<br />
chama<strong>do</strong> atenção ou alguma coisa<br />
que as imagens <strong>da</strong> tela lhes tenha<br />
feito pensar ou sentir. Isto porque<br />
acreditamos que o <strong>cinema</strong> carrega<br />
em si uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
movimento, operan<strong>do</strong> com outro<br />
tipo <strong>de</strong> distância entre o olhar e a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e fazen<strong>do</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />
imagem uma seqüência a ser<br />
explora<strong>da</strong>, na busca <strong>de</strong> algo que<br />
não está lá. Ir ao <strong>cinema</strong> é uma<br />
experiência que apela fortemente<br />
para o corpo e o mantém imóvel,<br />
enquanto coloca o sujeito em um<br />
movimento pulsional intenso.” (p.<br />
6).<br />
“Partin<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma questão central –<br />
as imagens <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong>m ser<br />
propositivas para uma construção<br />
narrativa na psicose? –, o objetivo<br />
geral <strong>de</strong>ste ensaio é analisar, com<br />
base em uma prática que utiliza as<br />
imagens <strong>cinema</strong>tográficas <strong>como</strong>
39<br />
Proposição <strong>de</strong><br />
escuta<br />
Proposição <strong>de</strong><br />
experiências que<br />
produzem efeitos<br />
discursivos em<br />
pacientes<br />
psicóticos<br />
Recurso para<br />
ensinoaprendizagem<br />
media<strong>do</strong>ra na produção <strong>da</strong> fala <strong>de</strong><br />
sujeitos psicóticos, as relações<br />
entre imagem e i<strong>de</strong>ntificações<br />
imaginárias.” (p. 1)<br />
“Com as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s<br />
no Cinema em Debate, preten<strong>de</strong>se<br />
oferecer as imagens<br />
<strong>cinema</strong>tográficas<br />
<strong>como</strong><br />
propositivas no trabalho <strong>de</strong> escuta<br />
com a psicose. Como bem situa<br />
Becker (2006), trata-se <strong>de</strong><br />
"oferecer, através <strong>da</strong> escuta, o<br />
terceiro tempo <strong>de</strong> um olhar que<br />
não sabe e não quer tu<strong>do</strong><br />
conhecer, mas que po<strong>de</strong>, sim,<br />
reconhecer que há algo <strong>de</strong> invisível<br />
no sujeito" (p. 140). Este olhar <strong>do</strong><br />
outro é constituinte e, portanto,<br />
opera <strong>como</strong> uma marca,<br />
configuran<strong>do</strong> um lugar.” (p. 7)<br />
“A intenção <strong>de</strong>ste texto é tecer<br />
algumas reflexões sobre <strong>como</strong> as<br />
imagens <strong>cinema</strong>tográficas, numa<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> específica <strong>como</strong> o<br />
Cinema em Debate na saú<strong>de</strong><br />
mental, seriam uma forma para a<br />
proposição <strong>de</strong> experiências que<br />
produzem efeitos discursivos em<br />
pacientes psicóticos e em seus<br />
laços com o social.” (p. 4)<br />
Instrumentar<br />
alunos <strong>de</strong><br />
medicina para<br />
estabelecer<br />
comunicações<br />
eficientes.<br />
(contexto)<br />
“Ou seja, estu<strong>da</strong>r as<br />
imagens, os processos <strong>de</strong><br />
produção <strong>de</strong> materiais<br />
audiovisuais, as diferentes<br />
formas <strong>de</strong> recepção e <strong>uso</strong><br />
<strong>da</strong>s informações, narrativas<br />
e interpelações <strong>de</strong><br />
programas <strong>de</strong> televisão,<br />
filmes, ví<strong>de</strong>os, jogos<br />
eletrônicos, correspon<strong>de</strong>ria,
ao meu ver, a práticas<br />
eminentemente<br />
pe<strong>da</strong>gógicas<br />
e<br />
indispensáveis ao professor<br />
que atua nestes tempos.” (p.<br />
7).<br />
Ilustração “Antes, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
esclarecer certos<br />
conceitos lacanianos<br />
pelos filmes,<br />
utiliza<strong>do</strong>s <strong>como</strong><br />
ilustração.” (p.5).<br />
Simbolização “Isso porque há to<strong>do</strong> um<br />
trabalho <strong>de</strong> simbolização,<br />
no lugar <strong>da</strong>quele que<br />
imagina, planeja, produz e<br />
veicula filmes, novelas,<br />
telejornais, ví<strong>de</strong>os, assim<br />
<strong>como</strong> há um trabalho<br />
permanente<br />
<strong>de</strong><br />
simbolização, no lugar<br />
<strong>da</strong>quele que se apropria <strong>do</strong><br />
que vê e ouve a partir <strong>da</strong>s<br />
diferentes mídias.” (p. 7)<br />
Despertar<br />
conteú<strong>do</strong>s por<br />
“A imagem está<br />
<strong>de</strong> saí<strong>da</strong> liga<strong>da</strong><br />
associação<br />
ao significante,<br />
<strong>como</strong><br />
notávamos<br />
com a<br />
lembrança<br />
encobri<strong>do</strong>ra. A<br />
psicanálise<br />
refaz<br />
repeti<strong>da</strong>mente<br />
essa<br />
produzin<strong>do</strong><br />
novas<br />
ligação,<br />
associações<br />
para uma<br />
40
41<br />
Fonte: Autora.<br />
imagem e,<br />
logo, mais<br />
imagens para<br />
novas<br />
associações.<br />
(p. 3)
42<br />
Para respon<strong>de</strong>r ao primeiro objetivo específico <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os possíveis <strong>uso</strong>s<br />
<strong>do</strong> <strong>cinema</strong> a partir <strong>de</strong> pesquisa em fontes bibliográficas, encontrou-se nos artigos<br />
pesquisa<strong>do</strong>s a categoria <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>, com as seguintes subcategorias: <strong>cinema</strong><br />
<strong>como</strong> media<strong>do</strong>r na produção <strong>da</strong> fala <strong>de</strong> sujeitos psicóticos, proposição <strong>de</strong> escuta,<br />
proposição <strong>de</strong> experiências que produzem efeitos discursivos em pacientes<br />
psicóticos, <strong>recurso</strong> para ensino-aprendizagem, ilustração, simbolização,<br />
<strong>de</strong>spertar conteú<strong>do</strong>s por associação. Com exceção <strong>da</strong> subcategoria <strong>recurso</strong> para<br />
ensino aprendizagem, que aparece em <strong>do</strong>is artigos, as <strong>de</strong>mais subcategorias surgem<br />
com uma freqüência para ca<strong>da</strong> artigo.<br />
Refletin<strong>do</strong> acerca <strong>da</strong> subcategoria <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> media<strong>do</strong>r na produção <strong>da</strong><br />
fala <strong>de</strong> sujeitos, citamos novamente Droguett (2004), para facilitar uma articulação<br />
<strong>de</strong>sta com o referencial teórico <strong>de</strong>ste trabalho. O autor fala que a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que o<br />
<strong>cinema</strong> apresenta tem a função <strong>de</strong> um semblante que expõe as relações sociais e que<br />
a psicanálise po<strong>de</strong> a<strong>do</strong>tar a função <strong>de</strong> intérprete <strong>de</strong>ste semblante. Po<strong>de</strong> fazer emergir o<br />
que está oculto. A psicanálise vai se utilizar <strong>da</strong> associação livre, pela fala <strong>do</strong> sujeito as<br />
imagens <strong>do</strong> analisan<strong>do</strong> serão interpreta<strong>da</strong>s. Neste ponto é que os conteú<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong>sperta<strong>do</strong>s por associação terão significa<strong>do</strong>s para o sujeito, quan<strong>do</strong> aparecer no<br />
discurso.<br />
O autor acima cita<strong>do</strong> também afirma que o <strong>cinema</strong> é uma linguagem que to<strong>do</strong>s<br />
po<strong>de</strong>m compreen<strong>de</strong>r, uma forma <strong>de</strong> expressão universal. Sen<strong>do</strong> assim, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
quem é que escuta/assiste, seja um sujeito psicótico ou neurótico. Como <strong>recurso</strong> para<br />
ensino-aprendizagem também se faz valer através <strong>de</strong>sta expressão universal, tanto<br />
para o professor <strong>como</strong> para o aluno. Po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> <strong>como</strong> forma <strong>de</strong> expressão,<br />
on<strong>de</strong> trocas sociais acontecem numa sala <strong>de</strong> aula ou numa sala <strong>de</strong> <strong>cinema</strong>.<br />
A subcategoria proposição <strong>de</strong> escuta po<strong>de</strong> ser relaciona<strong>da</strong> <strong>como</strong> uma forma <strong>de</strong><br />
instigar a autopercepção e a percepção <strong>do</strong> outro. Valla<strong>da</strong>res (2004) explica que a<br />
arteterapia trabalha o reconhecimento <strong>do</strong> ser em si mesmo, o que po<strong>de</strong> ser visto na<br />
citação <strong>de</strong> Rainone e Froemming (2008, p. 7) "oferecer, através <strong>da</strong> escuta, o terceiro<br />
tempo <strong>de</strong> um olhar que não sabe e não quer tu<strong>do</strong> conhecer, mas que po<strong>de</strong>, sim,<br />
reconhecer que há algo <strong>de</strong> invisível no sujeito". Por isso é tão importante ter um<br />
momento <strong>de</strong> escuta. No artigo analisa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s autores acima cita<strong>do</strong>s, em que relatam o
43<br />
fato <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s usuários <strong>do</strong> CAPS, que após uma cena <strong>do</strong> filme “Simão, o fantasma<br />
trapalhão” colocou que achou importante ver que nem liber<strong>da</strong><strong>de</strong> para se cometer<br />
suicídio havia no filme, algo que para ele surgiu <strong>como</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Falan<strong>do</strong> sobre isso<br />
- com a associação livre - o usuário permitiu uma (re)significação <strong>da</strong> sua própria história<br />
<strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, se colocou no lugar <strong>do</strong> outro (personagem <strong>do</strong> filme) para falar <strong>de</strong> algo seu.<br />
Este usuário conseguiu reconhecer a si mesmo e se diferenciar <strong>do</strong> outro com o auxílio<br />
<strong>de</strong> um terceiro, neste caso, o filme.<br />
Mesmo sen<strong>do</strong> uma linguagem universal, o <strong>cinema</strong> <strong>de</strong>sperta significa<strong>do</strong>s únicos<br />
para ca<strong>da</strong> um, <strong>como</strong> afirma Valla<strong>da</strong>res (2004) quan<strong>do</strong> diz que ca<strong>da</strong> imagem possui um<br />
significa<strong>do</strong> ímpar para ca<strong>da</strong> indivíduo. Relaciona-se a subcategoria proposição <strong>de</strong><br />
experiências que produzem efeitos discursivos em pacientes psicóticos com o<br />
que Nise <strong>da</strong> Silveira (2001) comenta sobre a expressão singular <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> sujeito acerca<br />
<strong>da</strong>s suas experiências. A imagem que o sujeito evoca terá um senti<strong>do</strong> único para ele,<br />
diferente para outro, pois se apresenta <strong>como</strong> imagem interna, própria <strong>do</strong> sujeito, <strong>da</strong> sua<br />
vivência pessoal.<br />
Este repertório pessoal, com conteú<strong>do</strong>s conscientes e inconscientes, também<br />
po<strong>de</strong> ser relaciona<strong>do</strong> com a subcategoria <strong>de</strong>spertar conteú<strong>do</strong>s por associação, on<strong>de</strong><br />
ca<strong>da</strong> imagem <strong>de</strong> um filme terá significa<strong>do</strong>s singulares para ca<strong>da</strong> pessoa. Com a<br />
associação livre estes significa<strong>do</strong>s serão reconheci<strong>do</strong>s pelo sujeito, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> levar a<br />
(re)significações. Rivera (2006), no seu artigo aqui analisa<strong>do</strong>, cita que:<br />
talvez essa seja uma característica <strong>da</strong> imagem na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />
apresentar-se <strong>como</strong> uma representação que não basta em si mesma, não se<br />
esgota <strong>como</strong> reflexo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas põe esta em questão e convi<strong>da</strong> a uma<br />
procura por meio <strong>da</strong> imagem. Uma busca capaz <strong>de</strong> levar o sujeito a se<br />
(re)posicionar ante a imagem, incitan<strong>do</strong> a (re)montagens pulsionais. (p. 2)<br />
A imagem, apresenta<strong>da</strong> <strong>como</strong> representação <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> que está inconsciente<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sperta<strong>da</strong> pela associação, levan<strong>do</strong> o sujeito a (re)posicionamentos frente a<br />
esta imagem, frente ao mun<strong>do</strong>.<br />
Para falar sobre simbolização recorre-se à Philippini (2007), que explicita que a<br />
produção simbólica agrega significa<strong>do</strong> para o conteú<strong>do</strong> inconsciente <strong>do</strong> sujeito e que<br />
este significa<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser expresso por meio <strong>da</strong> arte, neste caso específico, pelo<br />
<strong>cinema</strong>. O simbólico correspon<strong>de</strong> à linguagem. Droguett (2004) explica que é com o
44<br />
simbólico que se encontra significa<strong>do</strong>s para o que se busca. Em relação ao artigo<br />
analisa<strong>do</strong>, Fischer (2007) coloca que esta simbolização é realiza<strong>da</strong> pelo diretor <strong>do</strong> filme<br />
(aquele que é cria<strong>do</strong>r <strong>da</strong> obra) ou pelo expecta<strong>do</strong>r (aquele que se apropria <strong>da</strong> obra).<br />
A subcategoria ilustração po<strong>de</strong> ser concebi<strong>da</strong> <strong>como</strong> uma forma <strong>de</strong> discorrer<br />
sobre uma teoria. No artigo pesquisa<strong>do</strong> foram os conceitos Lacanianos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
Outro, objeto a, sujeito barra<strong>do</strong> e fantasia. Há uma articulação teórica entre a<br />
abor<strong>da</strong>gem e o filme.<br />
Encontrou-se artigos que utilizavam filmes para discorrer sobre <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />
olhar teórico ou sobre um conceito específico <strong>de</strong> uma teoria, mas <strong>como</strong> não continham<br />
elementos relevantes para esta pesquisa, não foram analisa<strong>do</strong>s. Tais artigos limitavamse<br />
a análise <strong>de</strong> um conceito específico, <strong>como</strong> por exemplo, sobre produção <strong>da</strong><br />
subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e o <strong>cinema</strong>/filme era apenas cita<strong>do</strong> <strong>como</strong> ilustração <strong>da</strong>quele conceito.<br />
Assim sen<strong>do</strong>, os artigos que não contemplaram o objetivo geral <strong>de</strong>ste trabalho não<br />
foram analisa<strong>do</strong>s.<br />
Dentre as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> encontram-se: o <strong>cinema</strong> <strong>como</strong><br />
ilustração, <strong>como</strong> media<strong>do</strong>r <strong>da</strong> fala <strong>do</strong> sujeito, <strong>como</strong> proposição <strong>de</strong> escuta e <strong>de</strong><br />
experiências <strong>do</strong> sujeito, <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, <strong>como</strong> forma <strong>de</strong><br />
simbolização. Isto se <strong>de</strong>ve principalmente pelo entendimento que se tem pelo <strong>cinema</strong>,<br />
enquanto uma linguagem estética, um meio <strong>de</strong> comunicar pensamentos, veicular idéias<br />
e exprimir sentimentos.<br />
A seguir apresenta-se os <strong>da</strong><strong>do</strong>s referentes à categoria mobilização <strong>de</strong><br />
fenômenos psicológicos.
45<br />
Quadro 3: Categoria mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos.<br />
Autor Autor Autor<br />
Subcategoria Rainone & Froemming Rivera Fischer<br />
Media<strong>do</strong>r para<br />
constituição <strong>de</strong> laço<br />
com Outro<br />
Estímulos para os<br />
processos <strong>de</strong><br />
pensamentos,<br />
oferecen<strong>do</strong><br />
fragmentos<br />
significativos para a<br />
discussão e a<br />
resignificação <strong>da</strong>s<br />
imagens <strong>do</strong> psicótico<br />
“As imagens <strong>da</strong>s cenas vistas nos<br />
filmes fazem emergir discursos que<br />
levam para fora <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> e<br />
possibilitam um lugar potencializa<strong>do</strong>r<br />
<strong>da</strong> criação <strong>de</strong> elementos que possam<br />
servir <strong>de</strong> media<strong>do</strong>res para a<br />
constituição <strong>de</strong> um laço ao Outro<br />
minimamente consistente.” (p. 5)<br />
“Nossa proposta <strong>de</strong> trabalhar no<br />
Cinema em Debate com imagens<br />
<strong>cinema</strong>tográficas fun<strong>da</strong>-se na idéia <strong>de</strong><br />
as mesmas constituírem estímulos<br />
para os processos <strong>de</strong> pensamento,<br />
oferecen<strong>do</strong> fragmentos significativos<br />
para a discussão e a resignificação<br />
<strong>da</strong>s imagens <strong>do</strong> psicótico, e, ain<strong>da</strong>,<br />
um <strong>do</strong>s principais efeitos produzi<strong>do</strong>s<br />
por estas imagens na narrativa <strong>de</strong><br />
sujeitos psicóticos é a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
que os mesmos se <strong>de</strong>sloquem <strong>do</strong><br />
lugar <strong>de</strong> isolamento e ocupem mais <strong>do</strong><br />
que simplesmente seu lugar na<br />
poltrona <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>, mas a posição <strong>do</strong><br />
eu, <strong>de</strong> sujeito.” (p. 5)<br />
“O especta<strong>do</strong>r não é um elemento<br />
passivo, totalmente iludi<strong>do</strong>. É alguém<br />
que usa suas facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s mentais para<br />
participar ativamente, preenchen<strong>do</strong> as<br />
lacunas <strong>da</strong>s imagens com seus<br />
investimentos intelectuais, e entre os<br />
efeitos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> suas operações<br />
mentais está a transformação <strong>de</strong> seu<br />
“Talvez essa seja uma característica <strong>da</strong><br />
imagem na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />
apresentar-se <strong>como</strong> uma representação<br />
que não basta em si mesma, não se<br />
esgota <strong>como</strong> reflexo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas<br />
põe esta em questão e convi<strong>da</strong> a uma<br />
procura por meio <strong>da</strong> imagem. Uma<br />
busca capaz <strong>de</strong> levar o sujeito a se<br />
(re)posicionar ante a imagem, incitan<strong>do</strong><br />
a (re)montagens pulsionais.” (p. 2)<br />
Contexto: <strong>de</strong>spertar associações,<br />
lembrança encobri<strong>do</strong>ra.
46<br />
Enunciação <strong>de</strong> cenas<br />
ou <strong>de</strong> vivências<br />
Construção <strong>de</strong><br />
significantes<br />
pensamento.” (p. 5).<br />
“A intenção <strong>de</strong>ste texto é tecer<br />
algumas reflexões sobre <strong>como</strong> as<br />
imagens <strong>cinema</strong>tográficas, numa<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> específica <strong>como</strong> o Cinema<br />
em Debate na saú<strong>de</strong> mental, seriam<br />
uma forma para a proposição <strong>de</strong><br />
experiências que produzem efeitos<br />
discursivos em pacientes psicóticos e<br />
em seus laços com o social.” (p.4)<br />
“Ou ain<strong>da</strong>, criar espaço para que,<br />
através <strong>da</strong> fruição <strong>de</strong> um filme, as<br />
imagens <strong>da</strong> tela contribuam na<br />
enunciação <strong>de</strong> cenas ou <strong>de</strong> vivências<br />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s participantes,<br />
possibilitan<strong>do</strong>-lhes falar <strong>de</strong> si, mediante<br />
os recortes opera<strong>do</strong>s pela projeção<br />
<strong>cinema</strong>tográfica.” (p. 6)<br />
“É neste senti<strong>do</strong> que pensamos o<br />
quanto a plurissemia <strong>da</strong>s imagens<br />
po<strong>de</strong> construir uma abertura, uma<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para as imagens<br />
<strong>de</strong>sagradáveis, duras, quase<br />
alucina<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> sujeito psicótico, <strong>de</strong><br />
mo<strong>do</strong> a operar, em sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
sustentação subjetiva, a construção <strong>de</strong><br />
uma polissemia <strong>do</strong>s significantes.” (p.<br />
8)<br />
Simbolização “Ou seja, estu<strong>da</strong>r as imagens, os<br />
processos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> materiais<br />
audiovisuais, as diferentes formas<br />
<strong>de</strong> recepção e <strong>uso</strong> <strong>da</strong>s informações,<br />
narrativas e interpelações <strong>de</strong><br />
programas <strong>de</strong> televisão, filmes,<br />
ví<strong>de</strong>os, jogos eletrônicos,<br />
correspon<strong>de</strong>ria, ao meu ver, a<br />
práticas<br />
eminentemente<br />
pe<strong>da</strong>gógicas e indispensáveis ao<br />
professor que atua nestes tempos.
47<br />
Fonte: Autora.<br />
Isso porque há to<strong>do</strong> um trabalho <strong>de</strong><br />
simbolização, no lugar <strong>da</strong>quele que<br />
imagina, planeja, produz e veicula<br />
filmes, novelas, telejornais, ví<strong>de</strong>os,<br />
assim <strong>como</strong> há um trabalho<br />
permanente <strong>de</strong> simbolização, no<br />
lugar <strong>da</strong>quele que se apropria <strong>do</strong><br />
que vê e ouve a partir <strong>da</strong>s diferentes<br />
mídias.” (p. 7)
48<br />
Para respon<strong>de</strong>r ao segun<strong>do</strong> objetivo: investigar qual <strong>de</strong>stes possíveis <strong>uso</strong>s <strong>do</strong><br />
<strong>cinema</strong> mobilizam fenômenos psicológicos no sujeito, encontrou-se nos artigos<br />
pesquisa<strong>do</strong>s a categoria mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos, com as seguintes<br />
subcategorias: media<strong>do</strong>r para constituição <strong>de</strong> laço com Outro; estímulos para os<br />
processos <strong>de</strong> pensamentos, oferecen<strong>do</strong> fragmentos significativos para a<br />
discussão e a resignificação <strong>da</strong>s imagens <strong>do</strong> psicótico; enunciação <strong>de</strong> cenas ou<br />
<strong>de</strong> vivências; construção <strong>de</strong> significantes, simbolização.<br />
Dos cinco artigos pesquisa<strong>do</strong>s, apenas em três encontrou-se menção à<br />
mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos. Neves (2005) <strong>uso</strong>u, no seu artigo, o <strong>cinema</strong><br />
<strong>como</strong> ilustração para discorrer sobre alguns conceitos <strong>de</strong> Lacan, não se encontran<strong>do</strong><br />
citações que <strong>de</strong>ixassem claro mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos, apenas<br />
exemplificações <strong>do</strong>s conceitos. Tapajós (2007) usa o <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> para<br />
ensino-aprendizagem, explanan<strong>do</strong> sobre <strong>como</strong> os alunos <strong>de</strong> medicina po<strong>de</strong>m usar <strong>de</strong><br />
comunicação eficiente na transmissão <strong>de</strong> notícias ruins. Também não fica explícito no<br />
texto <strong>como</strong> ocorre mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos, somente utiliza o filme para<br />
exemplificar as formas <strong>de</strong> comunicação.<br />
O <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> media<strong>do</strong>r para constituição <strong>de</strong> laço com Outro funciona, com<br />
base no artigo pesquisa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> contribui para que o sujeito construa um laço social,<br />
um laço com o outro. Rainone e Froemming (2008) colocam que os usuários <strong>do</strong> CAPS,<br />
quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>slocam para uma sala <strong>de</strong> <strong>cinema</strong>, estão <strong>de</strong> alguma forma construin<strong>do</strong><br />
outros laços, que não são os já constituí<strong>do</strong>s. Também citam que as imagens vistas no<br />
<strong>cinema</strong> fazem surgir discursos que servem <strong>como</strong> uma forma <strong>de</strong> laço com o Outro.<br />
Tavares (2004, in VALLADARES, 2004) coloca esta questão, mas em relação à posição<br />
que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental precisam ter, crian<strong>do</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o sujeito<br />
realizar trocas sociais. Face a isto, vincula-se o <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> uma forma <strong>de</strong> arteterapia,<br />
on<strong>de</strong> práticas terapêuticas apresentam valores sociais e formas <strong>de</strong> produção e inserção<br />
<strong>do</strong> sujeito na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, rompen<strong>do</strong> o isolamento que muitos sofrem.<br />
Na subcategoria estímulos para os processos <strong>de</strong> pensamentos, oferecen<strong>do</strong><br />
fragmentos significativos para a discussão e a resignificação <strong>da</strong>s imagens <strong>do</strong><br />
psicótico evocam imagens que auxiliam o sujeito no seu posicionamento, ocupan<strong>do</strong> a<br />
posição <strong>do</strong> eu, se implican<strong>do</strong> numa outra resignificação. Valla<strong>da</strong>res (2004) comenta
49<br />
que com a arteterapia o sujeito entra em contato com sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, se perceben<strong>do</strong> e<br />
perceben<strong>do</strong> o outro. Assim, ele se reconhece e se diferencia <strong>do</strong> outro. Ocorre uma<br />
estimulação <strong>da</strong> autopercepção e <strong>da</strong> percepção <strong>do</strong> outro, e o <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong> auxiliar no<br />
reconhecimento <strong>do</strong> ser em si mesmo, on<strong>de</strong> as imagens servem <strong>como</strong> estímulos para os<br />
processos <strong>de</strong> pensamentos. Isto também ocorre com a enunciação <strong>de</strong> cenas ou <strong>de</strong><br />
vivências pela exibição <strong>de</strong> um filme, on<strong>de</strong> é <strong>da</strong><strong>da</strong> ao sujeito a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> falar <strong>de</strong><br />
si, <strong>de</strong> suas experiências. Nise <strong>da</strong> Silveira (1992) consi<strong>de</strong>ra que a imagem não é uma<br />
cópia <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que po<strong>de</strong> ser o imaginário que se manifesta, a imagem interna <strong>do</strong><br />
sujeito, a expressão <strong>da</strong>s vivências conscientes e inconscientes <strong>do</strong> sujeito. No artigo <strong>de</strong><br />
Rainone e Froemming (2008) isto se explicita quan<strong>do</strong> é ofereci<strong>do</strong> espaço para a fala <strong>do</strong><br />
sujeito psicótico, relacionan<strong>do</strong> com o que ca<strong>da</strong> imagem evoca singularmente.<br />
Enquanto na construção <strong>de</strong> significantes se abre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>da</strong>r com<br />
situações <strong>de</strong>sagradáveis e traumáticas. Esta construção po<strong>de</strong> acontecer quan<strong>do</strong>, no<br />
momento que se assiste a um filme, aquele que assiste o transforma, construin<strong>do</strong><br />
significantes <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com suas experiências, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com suas inquietações, <strong>como</strong><br />
cita Berna<strong>de</strong>t (1996).<br />
Para Neves (2005), o <strong>cinema</strong> e os materiais audiovisuais retratam um trabalho<br />
<strong>de</strong> simbolização por parte <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r, mas que também simboliza aquele que se<br />
apropria <strong>de</strong>stes instrumentos. A partir <strong>da</strong>s próprias vivências o sujeito simboliza, usa a<br />
linguagem. Nasio (1997) salienta que na or<strong>de</strong>m simbólica é que se torna possível<br />
nomear o Real através <strong>do</strong> significante. Articulan<strong>do</strong> esta simbolização <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> por<br />
parte <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r com o conceito <strong>da</strong> sublimação, o filme é uma forma <strong>de</strong> sublimação,<br />
enquanto ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> artística. Quan<strong>do</strong> se substitui um objeto sexual por outro não sexual<br />
que possui um valor social, obtém-se satisfação, satisfação sublima<strong>da</strong>. Isto não<br />
significa que to<strong>do</strong> filme seja uma sublimação possível, pois há limites à sublimação,<br />
conforme escreve Garcia-Roza (1995), pois a sublimação está liga<strong>da</strong> ao sujeito, precisa<br />
estar liga<strong>da</strong> às elaborações imaginárias <strong>do</strong> sujeito.<br />
Percebe-se, <strong>de</strong>ntre os cinco artigos analisa<strong>do</strong>s, que apenas três apresentaram<br />
mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos para os possíveis <strong>uso</strong>s <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong><br />
<strong>recurso</strong> terapêutico. Os artigos limitam-se a apresentar subcategorias relaciona<strong>da</strong>s a<br />
mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos, quais sejam: a mediação para constituição <strong>de</strong>
50<br />
laço com Outro; estímulos para os processos <strong>de</strong> pensamentos, oferecen<strong>do</strong> fragmentos<br />
significativos para a discussão e a resignificação <strong>da</strong>s imagens <strong>do</strong> psicótico; enunciação<br />
<strong>de</strong> cenas ou <strong>de</strong> vivências; construção <strong>de</strong> significantes e a simbolização.<br />
Uma hipótese que po<strong>de</strong> ser levanta<strong>da</strong> é que a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em encontrar artigos<br />
que explanam sobre o <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico se <strong>de</strong>ve a sua não<br />
utilização ou então a não publicação <strong>de</strong>sta prática, o que prejudica uma investigação<br />
relaciona<strong>da</strong> a mobilização <strong>do</strong>s fenômenos psicológicos.<br />
A seguir apresenta-se <strong>da</strong><strong>do</strong>s referentes à categoria resulta<strong>do</strong> terapêutico.
51<br />
Quadro 4: Categoria resulta<strong>do</strong> terapêutico.<br />
Subcategoria<br />
Imagem media<strong>do</strong>ra para<br />
<strong>de</strong>spertar conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
sujeito<br />
Autores<br />
Rainone & Froemming<br />
“Resta claro, portanto, que não se trata <strong>de</strong> pensar a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> enquanto terapêutica ou não, mas, <strong>como</strong><br />
assinala Trevisan (2006), enquanto uma aposta <strong>de</strong> que esta colocação em ato <strong>da</strong> relação ao outro, através<br />
<strong>da</strong> mediação <strong>da</strong> imagem (o <strong>cinema</strong> propriamente dito) e <strong>da</strong> voz (com o microfone), permite que algo <strong>do</strong><br />
sujeito <strong>de</strong>sperte.” (p. 10)<br />
Alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>/ constituição<br />
<strong>do</strong> sujeito<br />
“No trabalho com a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Cinema em Debate, ao fazer circular a palavra no final <strong>do</strong> filme, ocorre<br />
também o contato com o outro, essencial para o exercício <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois propicia ao sujeito a<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> tanto <strong>de</strong> encontrar o outro, quanto <strong>de</strong> se reconhecer. Observamos que no diálogo, no <strong>de</strong>bate,<br />
po<strong>de</strong>mos perceber coisas próprias e coisas pertencentes ao outro, seja pela semelhança ou pela diferença<br />
<strong>da</strong>quilo que se experimenta. Afinal, ca<strong>da</strong> sujeito tem seu próprio acervo <strong>de</strong> imagens psíquicas, sen<strong>do</strong><br />
através <strong>de</strong>ste que nos constituímos <strong>como</strong> sujeitos.” (p. 7)<br />
Fonte: Autora.
52<br />
Para respon<strong>de</strong>r ao terceiro objetivo: verificar, <strong>de</strong>ntre aqueles que mobilizam<br />
fenômenos psicológicos, quais possuem resulta<strong>do</strong> terapêutico; encontrou-se nos artigos<br />
pesquisa<strong>do</strong>s a categoria resulta<strong>do</strong> terapêutico. Como subcategorias a imagem<br />
media<strong>do</strong>ra para <strong>de</strong>spertar conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sujeito e alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>/constituição <strong>do</strong><br />
sujeito.<br />
Dos cinco artigos iniciais analisa<strong>do</strong>s, apenas um apresentou resulta<strong>do</strong>s<br />
terapêuticos. Ain<strong>da</strong> assim, no texto é coloca<strong>do</strong> que não se po<strong>de</strong> afirmar que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> com <strong>cinema</strong> é terapêutica ou não, pois este não é o foco <strong>do</strong> trabalho que<br />
foi realiza<strong>do</strong> e explicita<strong>do</strong> no artigo.<br />
O <strong>cinema</strong> revela algo que se refere aos conteú<strong>do</strong>s latentes, inconscientes <strong>do</strong><br />
sujeito, que quer vir à tona. A imagem media<strong>do</strong>ra para <strong>de</strong>spertar conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
sujeito remete a isto, ao <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> algo, geralmente inconsciente, <strong>do</strong> sujeito. Betton<br />
(1987) se refere ao <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> um meio <strong>de</strong> comunicar pensamentos e exprimir<br />
sentimentos, contribuin<strong>do</strong> para um aprendiza<strong>do</strong> sobre o próprio sujeito e sua relação<br />
com a imagem e com o mun<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong> ser uma lembrança encobri<strong>do</strong>ra, ou então<br />
emoções aflora<strong>da</strong>s por uma pulsão sublima<strong>da</strong>.<br />
Enquanto que alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>/constituição <strong>do</strong> sujeito trabalha o reconhecimento <strong>de</strong><br />
si, a diferença com o outro e com o mun<strong>do</strong>. Com a arteterapia isto se torna viável, pois<br />
<strong>como</strong> cita Valla<strong>da</strong>res (2004), a arteterapia trabalha com a singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> pessoa<br />
na construção <strong>da</strong> obra. No discurso <strong>do</strong> sujeito isto também po<strong>de</strong> ser nota<strong>do</strong>, este<br />
exercício <strong>de</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>. É importante abor<strong>da</strong>r o conceito <strong>de</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> para um melhor<br />
esclarecimento acerca <strong>de</strong>sta relação com a constituição <strong>do</strong> sujeito. A este propósito<br />
Jo<strong>de</strong>let esclarece que:<br />
(...) a alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> é o produto <strong>de</strong> um duplo processo <strong>de</strong> construção e <strong>de</strong> exclusão<br />
social; sua abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> maneira conjunta, os níveis<br />
interpessoal e intergrupal, <strong>da</strong><strong>do</strong> que a passagem <strong>do</strong> próximo ao alter supõe o<br />
social, através <strong>da</strong> pertença a um grupo que sustenta os processos simbólicos e<br />
materiais <strong>de</strong> produção <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>. (1998, in ARRUDA, 1998, p. 60)<br />
Os processos simbólicos e práticos são leva<strong>do</strong>s em conta para o estu<strong>do</strong> sobre a<br />
alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>, sobre a elaboração <strong>da</strong> diferença e sua relação social, on<strong>de</strong> ocorre uma<br />
construção e uma exclusão social. O outro-semelhante é media<strong>do</strong>r <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong><br />
representação, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> ao sujeito. O indivíduo remete ao outro-semelhante, que
53<br />
lhe é exterior, uma parte <strong>do</strong> que habita nele próprio, atribuin<strong>do</strong> ao outro algo que dê<br />
senti<strong>do</strong> para si mesmo (JODELET, 1998, in ARRUDA, 1998). Reconhecen<strong>do</strong> o outro<br />
<strong>como</strong> algo externo, com sua própria individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e não <strong>como</strong> um objeto. Este<br />
exercício <strong>de</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> contribui para a constituição <strong>do</strong> sujeito, enquanto diferente <strong>do</strong><br />
outro.<br />
Percebe-se pelos resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s que apenas um artigo aponta para o<br />
<strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico. Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ixa claro que o objetivo <strong>do</strong><br />
trabalho realiza<strong>do</strong> no CAPS Cais Mental Centro, em Porto Alegre, cita<strong>do</strong> no artigo, não<br />
é <strong>de</strong> pensar a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Cinema em Debate <strong>como</strong> terapêutica, mas “aposta <strong>de</strong> que<br />
esta colocação em ato <strong>da</strong> relação ao outro, através <strong>da</strong> mediação <strong>da</strong> imagem (...)<br />
permite que algo <strong>do</strong> sujeito <strong>de</strong>sperte” (p. 10).<br />
As hipóteses que se levantam são <strong>de</strong> pouco se utiliza <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong><br />
terapêutico, ou as experiências <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s não vem sen<strong>do</strong> publica<strong>da</strong>s.
54<br />
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A partir <strong>do</strong> movimento <strong>da</strong> Reforma Psiquiátrica observa-se um novo paradigma<br />
<strong>de</strong> assistência e <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> mental, basea<strong>do</strong>: na <strong>de</strong>sinstitucionalização<br />
psiquiátrica, nas ações e intervenções interdisciplinares, na relativização <strong>do</strong> binômio<br />
saú<strong>de</strong>/<strong>do</strong>ença, na prepon<strong>de</strong>rância <strong>da</strong> dimensão <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e nos elementos<br />
socioculturais <strong>do</strong> indivíduo.<br />
Neste contexto, a arte passa a ser utiliza<strong>da</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico, pois,<br />
enquanto experiência estética se abre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um caminho <strong>de</strong> resgate <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Proporciona assim, uma relação mais próxima com as reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e<br />
culturais que contemplem espaços <strong>de</strong> promoção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, no caminho <strong>de</strong> uma<br />
reconstrução <strong>da</strong>quilo que compreen<strong>de</strong>mos por saú<strong>de</strong>. Enten<strong>de</strong>-se arteterapia <strong>como</strong><br />
uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> terapêutica e expressiva que trabalha com a produção <strong>de</strong> imagens; o<br />
processo criativo <strong>da</strong> arte; a relação <strong>da</strong> pessoa com a obra, já que ca<strong>da</strong> imagem tem um<br />
significa<strong>do</strong> singular e específico para ca<strong>da</strong> pessoa (VALLADARES, 2004). Trata o<br />
sujeito em sua existência, facilitan<strong>do</strong> novas relações com o outro, com o mun<strong>do</strong> e com<br />
si mesmo.<br />
Refletin<strong>do</strong> sobre isto, a arte <strong>cinema</strong>tográfica po<strong>de</strong> contribuir para um<br />
aprendiza<strong>do</strong> sobre o sujeito e sua relação com a imagem, e to<strong>da</strong> significação que lhe é<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong>. Rivera (2008) cita que o <strong>cinema</strong> proporciona a reflexão sobre si mesmo, sobre a<br />
imagem, sobre o sujeito, sobre a vi<strong>da</strong>. Desta forma, assistir um filme po<strong>de</strong> ser um<br />
exercício <strong>de</strong> interpretação, <strong>de</strong> inquietação, <strong>de</strong> transformação <strong>do</strong> sujeito. Nesta ótica,<br />
Droguett (2004) afirma que filmes são signos a serem <strong>de</strong>cifra<strong>do</strong>s, revelan<strong>do</strong><br />
características <strong>da</strong>s relações, mesmo quan<strong>do</strong> esta não é a intenção. Concernente a isto,<br />
a psicanálise vem em auxílio <strong>como</strong> intérprete <strong>da</strong> cultura, possibilitan<strong>do</strong> fazer emergir<br />
conteú<strong>do</strong>s com significa<strong>do</strong>s submersos. Com base nisto, o <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong> ser uma forma<br />
<strong>de</strong> tornar dito/visualiza<strong>do</strong> o que está inconsciente.<br />
É vali<strong>do</strong> ressaltar que as relações entre o imaginário, o simbólico e o real<br />
oferecem uma fonte abun<strong>da</strong>nte para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>. No plano simbólico há a<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar significa<strong>do</strong>s para o que se quer investigar, uma vez que
55<br />
quem assiste ao filme se <strong>de</strong>para com um <strong>de</strong>sejo que não é seu, é <strong>do</strong> outro, mas se<br />
apropria <strong>de</strong>le e o mantém em suspensão. De alguma forma o ato <strong>de</strong> olhar, <strong>de</strong><br />
contemplar, traz à tona <strong>de</strong>sejos não revela<strong>do</strong>s, conteú<strong>do</strong>s inconscientes. No <strong>cinema</strong> as<br />
fantasias e os <strong>de</strong>sejos têm espaço para manifestação, <strong>de</strong> uma maneira tal que é aceito<br />
pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. O <strong>cinema</strong> seduz, revela o que não está lá, ou <strong>de</strong>ixa entrever.<br />
A análise <strong>da</strong> relação entre <strong>cinema</strong> e psicanálise traz a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
apresentar o conceito <strong>da</strong> sublimação, que para Droguett (2004, p. 97), é “o<br />
procedimento no qual a libi<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>svia<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu objeto sexual para uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />
favor <strong>da</strong> cultura”, sen<strong>do</strong> assim, o <strong>cinema</strong> é uma forma sublime <strong>de</strong> reconhecimento<br />
social. Além <strong>do</strong> reconhecimento social, o sujeito po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir, quan<strong>do</strong> assiste a um<br />
filme, uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (irreal ou não) que aponta para a visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> sujeito.<br />
Em relação a tais aspectos, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> linguagem <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico numa<br />
pesquisa bibliográfica. Para tanto, especificou-se os seguintes objetivos específicos: a<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s possíveis <strong>uso</strong>s <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> a partir <strong>de</strong> pesquisa em fontes<br />
bibliográficas; a investigação <strong>de</strong> qual <strong>de</strong>stes possíveis <strong>uso</strong>s <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> mobilizam<br />
fenômenos psicológicos no sujeito; e a verificação, <strong>de</strong>ntre aqueles que mobilizam<br />
fenômenos psicológicos, <strong>de</strong> quais possuem resulta<strong>do</strong> terapêutico.<br />
Das fontes bibliográficas pesquisa<strong>da</strong>s, percebeu-se nos artigos que <strong>de</strong>ntre as<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> estão: o <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> ilustração; <strong>como</strong> media<strong>do</strong>r <strong>da</strong><br />
fala <strong>do</strong> sujeito; <strong>como</strong> proposição <strong>de</strong> escuta e <strong>de</strong> experiências <strong>do</strong> sujeito; <strong>como</strong> <strong>recurso</strong><br />
<strong>de</strong> ensino-aprendizagem, <strong>como</strong> forma <strong>de</strong> simbolização. Isto <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à compreensão<br />
acerca <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>, enquanto uma linguagem estética, um meio <strong>de</strong> comunicar<br />
pensamentos, veicular idéias e exprimir sentimentos.<br />
Percebe-se, <strong>de</strong>ntre os cinco artigos analisa<strong>do</strong>s, que apenas três apresentaram<br />
menção à mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos para os possíveis <strong>uso</strong>s <strong>do</strong> <strong>cinema</strong><br />
<strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico. Os artigos limitam-se a apresentar subcategorias<br />
relaciona<strong>da</strong>s à mobilização <strong>de</strong> fenômenos psicológicos, quais sejam: a mediação para<br />
constituição <strong>de</strong> laço com Outro; estímulos para os processos <strong>de</strong> pensamentos,<br />
oferecen<strong>do</strong> fragmentos significativos para a discussão e a resignificação <strong>da</strong>s imagens<br />
<strong>do</strong> psicótico; enunciação <strong>de</strong> cenas ou <strong>de</strong> vivências; construção <strong>de</strong> significantes e a
56<br />
simbolização.<br />
Apenas um artigo aponta para o <strong>uso</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> <strong>recurso</strong> terapêutico, mas<br />
<strong>de</strong>ixa claro que o objetivo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita no artigo não é terapêutica, mas a<br />
utilização <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> media<strong>do</strong>r para <strong>de</strong>spertar conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sujeito.<br />
As hipóteses que se levantam são <strong>de</strong> que pouco se utiliza <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>como</strong><br />
<strong>recurso</strong> terapêutico ou as experiências <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s não vem sen<strong>do</strong> publica<strong>da</strong>s. Isto<br />
po<strong>de</strong> ter prejudica<strong>do</strong> a investigação relaciona<strong>da</strong> à mobilização <strong>do</strong>s fenômenos<br />
psicológicos. Sugere-se uma investigação mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> ou então uma reflexão<br />
sobre a meto<strong>do</strong>logia escolhi<strong>da</strong>. Uma pesquisa empírica, com o <strong>uso</strong> <strong>de</strong> entrevistas ou<br />
questionários para um público que trabalha com saú<strong>de</strong> mental, ou que usa estes<br />
serviços, ou apenas especta<strong>do</strong>res po<strong>de</strong>rá aprofun<strong>da</strong>r melhor o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Observa-se que a relevância científica <strong>de</strong>ste trabalho se justifica, pois busca uma<br />
nova maneira <strong>de</strong> utilizar o <strong>cinema</strong> no campo <strong>da</strong> ciência, pesquisa e intervenção, in<strong>do</strong> ao<br />
encontro <strong>de</strong> iniciativas práticas e teóricas que objetivam a garantia <strong>da</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />
pessoas. Pensan<strong>do</strong> no <strong>cinema</strong> <strong>como</strong> uma ferramenta que contribui na compreensão <strong>de</strong><br />
questões que perpassam a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> sujeito, colaboran<strong>do</strong> para sua subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> perante<br />
o mun<strong>do</strong>.<br />
Justifica-se também a relevância social, pois o <strong>cinema</strong> po<strong>de</strong> revelar mais <strong>do</strong> que<br />
outras produções artísticas, po<strong>de</strong> contribuir na constituição <strong>de</strong> um laço com o outro,<br />
com o social, refletir o olhar <strong>de</strong> uma época ou <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.
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