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educação |<br />
Regina Pundek<br />
regina.pundek@uol.com.br<br />
Da oralidade aos gadgets<br />
Durante muito tempo o conhecimento de<br />
uma sociedade era passado de maneira oral<br />
de geração para geração. A valorização da<br />
memória permitia a continuidade de histórias,<br />
tradições e costumes. Cabia ao detentor<br />
do saber escolher um discípulo que seria<br />
treinado nos mistérios que eram de seu domínio.<br />
Embora as crianças tudo ouvissem a<br />
exclusão do processo educacional era total,<br />
apenas alguns privilegiados chegavam a ter<br />
a honra de estudar, coisa para a aristocracia<br />
dominante. A criança era vista como um<br />
adulto em miniatura.<br />
Depois Gutenberg criou os tipos e surgiu a<br />
imprensa. Surgiram também novas profissões:<br />
o copista, o leitor e o crítico. Consequentemente<br />
o homem deixou de memorizar<br />
textos. Aos poucos a educação começou<br />
a ser vista como uma possibilidade para muitos.<br />
A partir daí, surgiu uma divisão social:<br />
leitores e analfabetos e, a criança passou a ser<br />
entendida como alguém que não lia. Agora a<br />
infância estava separada da fase adulta pelos<br />
signos alfabéticos. Podemos imaginar a revolução<br />
de costumes que os livros causaram às<br />
famílias, que antes se reuniam para conversar<br />
e que agora tinham membros afastados e focados<br />
na leitura de jornais e livros.<br />
Passado mais um tempo, com a descoberta<br />
da eletricidade, a vida humana teve novas<br />
mudanças. O rádio trouxe para os lares a<br />
notícia e com isso a criança voltou a ouvir a<br />
informação com o adulto. <strong>Mais</strong> tarde surgiu a<br />
televisão que intensificou esse costume. Inicialmente<br />
as famílias ao assistirem telejornais<br />
e telenovelas não tinham preocupação com<br />
censura. O velho costume das conversas pós-<br />
-jantar foi substituído pelo conforto dos sofás<br />
em frente à TV.<br />
Em nossos dias aparelhos eletrônicos cada<br />
vez mais avançados intensificaram a comunicação,<br />
rompendo ainda mais as fronteiras<br />
geográficas. E outra vez o comportamento<br />
humano vive mudanças. Agora nas famílias<br />
cada membro possui seus próprios gadgets<br />
e a individualidade vem sendo valorizada.<br />
Vale refletir que a sociedade evolui na medida<br />
em que evoluem as nossas ferramentas, ou<br />
seja, de uma enxada a um microchip. Contudo,<br />
nem sempre a evolução pode ser vista<br />
como um passo para o melhor. Porém, cada<br />
passo garante o próximo, como por exemplo,<br />
para chegarmos ao desenvolvimento tecnológico<br />
da energia sustentável dos carros elétricos<br />
tivemos que passar por anos de carros<br />
a combustão.<br />
As ferramentas que estamos utilizando hoje<br />
proporcionam uma nova cultura e nova<br />
forma de interação entre as pessoas, porém<br />
ainda não houve tempo suficiente para ava-<br />
liar em profundidade o que construiremos a<br />
partir disso. Como o futuro do uso da ferramenta<br />
ainda não está compreendido totalmente,<br />
temos que pensar seriamente sobre o<br />
que estamos permitindo que nossas crianças<br />
vivam. Ao reconhecermos as ferramentas<br />
como extensões de nossos corpos, podemos<br />
afirmar que o martelo é extensão das mãos, o<br />
carro é extensão das pernas, o telefone é extensão<br />
da fala... e assim vai. Eu me questiono<br />
com que parâmetros oferecemos novas ferramentas<br />
aos nossos filhos se ainda não sabemos<br />
quais extensões atingirão?<br />
Opiniões se dividem quando surgem as discussões<br />
sobre o assunto. <strong>Mais</strong> importante<br />
do que assumir uma postura definitiva nesse<br />
momento é conhecer o que dizem os cientistas<br />
sociais, os educadores, os neurologistas e<br />
psicólogos. Dentre outros sugiro aqui a leitura<br />
de Zigmunt Bauman, sociólogo polonês<br />
de 86 anos, que tem uma opinião impactante<br />
sobre nossos dias.<br />
Regina Pundek - moradora da Granja Vianna, atua<br />
há 20 anos na área da Educação. Engenheira civil,<br />
psicopedagoga e escritora, sendo autora do livro<br />
“Acorda Alice”, mãe o que você está fazendo com<br />
seu filho. Há quatorze anos é Diretora da escola de<br />
Educação Infantil Kid’s Home. É mãe de três filhos,<br />
avó do João e do Pedro.<br />
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