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Leitura de Bordo

Leitura de Bordo - Março de 2014

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Tribuna Livre<br />

O voto,<br />

a bola e as prateleiras<br />

O brasileiro, acredito eu, é o mais apaixonado<br />

dos seres humanos. Vive intensamente<br />

suas paixões – com as consequências naturais<br />

<strong>de</strong> cegar-se diante da realida<strong>de</strong>, incapaz <strong>de</strong> ver<br />

<strong>de</strong>feitos no seu objeto <strong>de</strong> adoração.<br />

E neste 2014 teremos inúmeras oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> colocar o nosso coração à prova, ver se<br />

ele ainda está cumprindo a mais nobre <strong>de</strong> todas<br />

as funções: suportar a emoção diante <strong>de</strong> situações<br />

extremas.<br />

É ano <strong>de</strong> Copa e ainda vivemos os estertores<br />

dos regionais: já está em andamento a Libertadores,<br />

a Copa do Brasil e se avizinha o Brasileirão.<br />

Mais alguns dias, é o Mundial da Fifa e, no<br />

segundo semestre, sulamericana e outras competições.<br />

Há ainda os aficionados por outros esportes<br />

– sendo que a F1 per<strong>de</strong>u a atração para<br />

nós brasileiros pelo fato <strong>de</strong> nossos pilotos não<br />

passarem <strong>de</strong> meros coadjuvantes <strong>de</strong> um circo<br />

on<strong>de</strong> nós já dominamos com Emerson, Senna<br />

e Piquet.<br />

Na primeira quinzena <strong>de</strong> agosto, voltará<br />

o horário eleitoral – quando os magos do marketing<br />

eleitoral vão tratar <strong>de</strong> transformar candidatos<br />

em produtos palatáveis para um consumidor<br />

(o eleitor) cada vez menos propenso a<br />

aceitar passiva e pacificamente gato por lebre.<br />

Eu fico fascinado pelo talento dos nossos<br />

marqueteiros – tanto assim que muitos <strong>de</strong>les<br />

são chamados e contratados por candidaturas<br />

<strong>de</strong> outros países. São verda<strong>de</strong>iros magos que,<br />

a partir <strong>de</strong> informações colhidas em pesquisas,<br />

tratam <strong>de</strong> projetar o candidato X ou Y como o<br />

mais a<strong>de</strong>quado para aten<strong>de</strong>r às aspirações do<br />

eleitor.<br />

O problema é a realida<strong>de</strong> – exatamente<br />

como acontece nas propagandas <strong>de</strong> sabão em<br />

pó. Ao longo da vida, nunca soube <strong>de</strong> nenhuma<br />

dona <strong>de</strong> casa que tenha dito que <strong>de</strong>terminada<br />

marca realmente cumpre aquelas maravilhas<br />

prometidas em esmeradas produções. Claro<br />

que a culpa será sempre <strong>de</strong>la, afinal <strong>de</strong> contas...<br />

quem manda ela querer que a vida real seja<br />

igual às promessas da propaganda?<br />

E então voltamos aos nossos candidatos.<br />

Todos eles perfeitos. Todos eles <strong>de</strong>tentores<br />

<strong>de</strong> todas as mágicas soluções <strong>de</strong> nossos ancestrais<br />

problemas nas áreas <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong>,<br />

segurança, transporte público, moradia e salário.<br />

Todos eles se apresentam como símbolos<br />

do “novo”, amparados em velhas e arcaicas práticas.<br />

Olhando para o quadro já posto, é tudo do<br />

mesmo outra vez. Por vezes com outro verniz,<br />

mas sempre a repetição enfadonha dos milagres<br />

e dos tempos <strong>de</strong> fartura que“ele” terá como<br />

entregar – claro que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> eleito.<br />

Quando uma dona <strong>de</strong> casa compra um sabão<br />

em pó e esse não serve, ela tem duas ou<br />

três opções: ou usa entre resmungos e muxoxos,<br />

jurando nunca mais comprá-lo; relega-o<br />

para a lavagem <strong>de</strong> panos <strong>de</strong> chão e piso <strong>de</strong> sanitários<br />

ou então vai até o local on<strong>de</strong> o adquiriu<br />

e tenta <strong>de</strong>volver.<br />

Essa é a diferença em relação ao voto: não<br />

tem como empurrar o eleito para outra função<br />

e nem <strong>de</strong>volvê-lo para seu estado.<br />

Por isso, muito cuidado com as magias dos<br />

marqueteiros eleitorais...<br />

20 <strong>Leitura</strong> <strong>de</strong> <strong>Bordo</strong> | Março 2014 | www.leitura<strong>de</strong>bordo.com.br

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