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Letras Digitais: 30 anos de teses e dissertações

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<strong>Letras</strong><br />

d i g i t a i s<br />

Teses e Dissertações originais em formato digital<br />

Arquitetura poética:<br />

o nascimento do tempo<br />

em H. Dobal<br />

Maria Suely <strong>de</strong> Oliveira Lopes<br />

2002<br />

Programa <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação<br />

em <strong>Letras</strong>


Ficha Técnica<br />

Coor<strong>de</strong>nação do Projeto <strong>Letras</strong> <strong>Digitais</strong><br />

Angela Paiva Dionísio e Anco Márcio Tenório Vieira (orgs.)<br />

Consultoria Técnica<br />

Augusto Noronha e Karla Vidal (Pipa Comunicação)<br />

Projeto Gráfico e Finalização<br />

Karla Vidal e Augusto Noronha (Pipa Comunicação)<br />

Digitalização dos Originais<br />

Maria Cândida Paiva Dionízio<br />

Revisão<br />

Angela Paiva Dionísio, Anco Márcio Tenório Vieira e Michelle Leonor da Silva<br />

Produção<br />

Pipa Comunicação<br />

Apoio Técnico<br />

Michelle Leonor da Silva e Rebeca Fernan<strong>de</strong>s Penha<br />

Apoio Institucional<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Letras</strong>


Apresentação<br />

Criar um acervo é registrar uma história. Criar um acervo digital é dinamizar a<br />

história. É com essa perspectiva que a Coor<strong>de</strong>nação do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

em <strong>Letras</strong>, representada nas pessoas dos professores Angela Paiva Dionisio e Anco<br />

Márcio Tenório Vieira, criou, em novembro <strong>de</strong> 2006, o projeto <strong>Letras</strong> <strong>Digitais</strong>: <strong>30</strong><br />

<strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>teses</strong> e dissertações. Esse projeto surgiu <strong>de</strong>ntre as ações comemorativas<br />

dos <strong>30</strong> <strong>anos</strong> do PG <strong>Letras</strong>, programa que teve início com cursos <strong>de</strong> Especialização<br />

em 1975. No segundo semestre <strong>de</strong> 1976, surgiu o Mestrado em Linguística e Teoria<br />

da Literatura, que obteve cre<strong>de</strong>nciamento em 1980. Os cursos <strong>de</strong> Doutorado em<br />

Linguística e Teoria da Literatura iniciaram, respectivamente, em 1990 e 1996. É<br />

relevante frisar que o Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Letras</strong> da UFPE, <strong>de</strong> longa<br />

tradição em pesquisa, foi o primeiro a ser instalado no Nor<strong>de</strong>ste e Norte do País. Em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, contava com 455 dissertações e 110 <strong>teses</strong> <strong>de</strong>fendidas.<br />

Diante <strong>de</strong> tão grandioso acervo e do fato <strong>de</strong> apenas as pesquisas <strong>de</strong>fendidas a partir<br />

<strong>de</strong> 2005 possuirem uma versão digital para consulta, os professores Angela Paiva<br />

Dionisio e Anco Márcio Tenório Vieira, autores do referido projeto, <strong>de</strong>cidiram<br />

oferecer para a comunida<strong>de</strong> acadêmica uma versão digital das <strong>teses</strong> e dissertações<br />

produzidas ao longo <strong>de</strong>stes <strong>30</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> história. Criaram, então, o projeto <strong>Letras</strong><br />

<strong>Digitais</strong>: <strong>30</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>teses</strong> e dissertações com os seguintes objetivos:<br />

(i) produzir um CD-ROM com as informações fundamentais das 469<br />

<strong>teses</strong>/dissertações <strong>de</strong>fendidas até <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006 (autor, orientador, resumo,<br />

palavras-chave, data da <strong>de</strong>fesa, área <strong>de</strong> concentração e nível <strong>de</strong> titulação);


(ii) criar um Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, digitalizando<br />

todo o acervo originalmente constituído apenas da versão impressa;<br />

(iii) criar o hotsite <strong>Letras</strong> <strong>Digitais</strong>: Teses e Dissertações originais em formato<br />

digital, para publicização das <strong>teses</strong> e dissertações mediante autorização dos<br />

autores;<br />

(iv) transportar para mídia eletrônica off-line as <strong>teses</strong> e dissertações digitalizadas,<br />

para integrar o Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, disponível<br />

para consulta na Sala <strong>de</strong> Leitura César Leal;<br />

(v) publicar em DVD coletâneas com as <strong>teses</strong> e dissertações digitalizados,<br />

organizadas por área concentração, por nível <strong>de</strong> titulação, por orientação etc.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento do projeto prevê ações <strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns, tais como:<br />

(i) <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>rnação das obras para procedimento alimentação automática <strong>de</strong><br />

escaner;<br />

(ii) tratamento técnico <strong>de</strong>scritivo em metadados;<br />

(iii) produção <strong>de</strong> Portable Document File (PDF);<br />

(iv) revisão do material digitalizado<br />

(v) procedimentos <strong>de</strong> reenca<strong>de</strong>rnação das obras após digitalização;<br />

(vi) diagramação e finalização dos e-books;<br />

(vii) backup dos e-books em mídia externa (CD-ROM e DVD);<br />

(viii) <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> rotinas para regularização e/ou cessão <strong>de</strong> registro <strong>de</strong><br />

Direitos Autorais.<br />

Os organizadores


Arquitetura poética:<br />

o nascimento do tempo<br />

em H. Dobal<br />

Maria Suely <strong>de</strong> Oliveira Lopes<br />

2002<br />

Copyright © Maria Suely <strong>de</strong> Oliveira Lopes, 2002<br />

Reservados todos os direitos <strong>de</strong>sta edição. Reprodução proibida, mesmo parcialmente,<br />

sem autorização expressa do autor.


UNIVERSIDADE<br />

FEDERAL DE PERNAMBUCO<br />

CENTRO DE ARTES E COMUNICA


UNIVERSIDADE FEDERALDE PERNAMBUCO<br />

CENTRO DE ARTES E COMUNICA


Ao Criador pela graya da realizayao <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Aos meus irmaos~ Lilia ~Das Chagas~ Cesar, Marly e Ze Filho<br />

pelo companheirismo durante toda minha vida.<br />

As minhas sobrinhas, Caroline e Isadora, pela paz que me 1vl<br />

concedida atraves dos seus sorrisos.<br />

trajetoria liteniria.<br />

Ao Poeta H. Dohal, pelas longas horas <strong>de</strong> conversa sobre sua<br />

A Professora<br />

incentivo a <strong>de</strong>scoberta da poesia em minha vida.<br />

Dra. Luzihi Gon~alves Ferreira~ pela orienta


A Universida<strong>de</strong> Estadual do Piaui pela realizayao do Convemo<br />

Interinstitucional com a UFPE.<br />

A Coor<strong>de</strong>nayao do Curso <strong>de</strong> P6s-Graduayao,<br />

em especial Professor<br />

Dr. Lourival Holanda, pelos momentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> reflexao sobre a poesia.<br />

Aos funciomirios do Curso <strong>de</strong> Pos-Graduayao<br />

pela <strong>de</strong>dicayao e eficiencia.<br />

em <strong>Letras</strong> da UFPE,<br />

A Aca<strong>de</strong>mia Piauiense <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, pelo acervo que me foi<br />

cursar mestrado.<br />

A UNESC, pela liberayao das minhas ativida<strong>de</strong>s docentespara<br />

A Z6zimo Tavares pela bibliografia cedida.<br />

Aos colegas do curso <strong>de</strong> P6s-Graduayao,<br />

Silvana, Stella e Ailma, pelos momentos <strong>de</strong> tristezas e alegrias.<br />

em especial a Ritinha,<br />

amiza<strong>de</strong> e incentivo_<br />

As armgas Dorinha, Lucirene, O<strong>de</strong>te e Angelica, pelo carinho,


A todos os amigos e aqueles que direta ou indiretamente<br />

contribuiram para a realizayao <strong>de</strong>ste trabalho.


ARQUITETURA<br />

POETICA: 0 Nascimento do Tempo em H.:~bal<br />

_ /47<br />

Autora: Maria Suely <strong>de</strong> Oliveira Lopes<br />

Orientadora: Prof Dra. Luzihi Gonyalves Ferreira<br />

Este trabalho prop5e uma analise -subre:~onascimento do tempo em<br />

H. Dobal atraves <strong>de</strong> sua Obra Completa I - Poesias. Colocam-se aqui, algumas<br />

referencias sobre 0 poeta piauiense, bem como alguns aspectos da sua obra.<br />

Neste estudo, procura-se averiguar e comprovar como esse novo tempo passa a<br />

ser arquitetado na cenografia que vai <strong>de</strong>sfilando atraves <strong>de</strong> imagens formadas<br />

com diversas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leituras, <strong>de</strong>ntre as quais <strong>de</strong>stacam-se 0 Tempo<br />

que Nasce na Paisagem, 0 Tempo que Morre na Paisagem e 0 Tempo que<br />

Continua. 0 objetivo e tomar em evi<strong>de</strong>ncia os recursos estilisticos pelos quais se<br />

expressa a construyao do novo tempo.


ARQUITETURA POETICA: 0 Nascimento do Tempo em H:90bal<br />

/t<br />

Autora: Maria Suely <strong>de</strong> Oliveira Lopes<br />

Orientadora: Prof. Dra. Luzihi Gonc;alves Ferreira<br />

This work sets out to study and analyse about the time birth in the<br />

H. Dobal through his Obra Completa I - Poesias. Some references are shown<br />

here about the Piauiense poet as wdl as so; .~ aspects of his work. In this study<br />

one searches to check out and prove how this new time becomes being planning<br />

ill the .cenography that para<strong>de</strong>s through images ma<strong>de</strong> ~ith several reading<br />

possibilities from which it's <strong>de</strong>tached the time that dies in the landscape and the<br />

time that goes on. The objective is to show the stylistc tools with which he<br />

expresses the building of the new time.<br />

Dissertac;ao <strong>de</strong> Mestrado em <strong>Letras</strong> - Teoria Liteniria


RESUMO<br />

ABSTRACT<br />

IX<br />

x<br />

mTRODU~Ao 1<br />

A MODO DE UMA APRESENTA~Ao DO POETA 5<br />

1.1 A CONSTRU~Ao DO SER 18<br />

1.2 REVELA~Ao DO MUNDO 25<br />

2. A CENOGRAFIA COMO FORMA DE CONSTRU~Ao DO NOVO<br />

TEMPO EM H. DOBAL 39<br />

2.3 0 TEMPO QUE CONTINUA NA PAISAGEM 61<br />

2.3.1.0 TEMPO QUE SE RECUPERA NA CENOGRAFIA<br />

DA MEMORIA 62<br />

2.3.2 0 TEMPO CONTINUA A SE REPETIR NA PAISAGEM 65<br />

2.3.3 0 TEMPO CONTINUA NA CENOGRAFIA HUMANA ATRA VES<br />

DA MEMORIA 66<br />

2.3.4 0 TEMPO QUE SE ETERNIZA<br />

3.ALGUNS PROCESSOS ESTILISTICOS


3.1 AS SUPERPOSI


INTRODU


o segundo, porque consi<strong>de</strong>ra-se<br />

inovadOl:a a obra <strong>de</strong> H. Dobal por fugir aos<br />

padroes convencionais, constituindo sua trajetoria na constru9ao <strong>de</strong> urn novo<br />

dizer poetico. 0 terceiro, porque esta pesquisa po<strong>de</strong>ni acrescentar aos estudos<br />

realizados pela Aca<strong>de</strong>mia Piauiense <strong>de</strong> <strong>Letras</strong> contribuindo para 0<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da historia da Literatura Piauiense.<br />

Preten<strong>de</strong>-se com este estudo a comprova9ao da cenografia como<br />

forma <strong>de</strong> constru9ao do Novo tempo em "Obra Completa I - Poesia" <strong>de</strong> H.<br />

Dobal. Esse novo tempo passa a ser construido na cenografia que vai <strong>de</strong>sfilando<br />

atraves <strong>de</strong> imagens formadas com diversas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leituras.<br />

Todo processo poetico em "obra Completa I - Poesia" <strong>de</strong> H. Dobal<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia-se a partir da for9a imagetica observando-se urn perfeito dominio<br />

na transposi9ao da imagem e dos simbolos caracteristicos das superposi90es<br />

recorrentes em toda obra para cria9ao do novo tempo.<br />

Para discussao e aprofundamento do assunto, apresentam-se, aqui,<br />

os elementos que contribuem para a forma9ao do Novo Tempo na poesia <strong>de</strong> H.<br />

Dobal, a presen9a dos seguintes elementos: a cenografia,: 0 ritmo, os recursos<br />

sonoros, a imagem e as superposi90es espa90-temporal.<br />

H. Dobal, para construir sua poesia, apoia-se no mundo fisico<br />

atraves <strong>de</strong> urna or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> simbolos e imagens correspon<strong>de</strong>ntes ao tempo<br />

cronologico (passado), consequentemente correspon<strong>de</strong>ni no presente, 0 mundo<br />

do imaginario construindo 0 tempo da memoria.<br />

As investiga90es para a realiza9ao <strong>de</strong>ste, foram apoiadas pelas<br />

principais teorias <strong>de</strong> base. Entre elas, fez-se necessario<br />

<strong>de</strong>stacar "0 Arco e a<br />

Lira" <strong>de</strong> Octavio Paz que cita a poesia como opera9ao capaz <strong>de</strong> transformar 0<br />

mundo, consequentemente<br />

criar outro atraves do ritmo, dos recUfSOSsonoros e<br />

da imagem. Outro ponto <strong>de</strong> apoio foi a Teoria <strong>de</strong> La Expresion Poetica <strong>de</strong><br />

Bousono na qual 0 autor estuda diversos tipos <strong>de</strong> processosestilisticos<br />

como as<br />

superposi


leitura <strong>de</strong> 0 Contexto da Obra Litenlria <strong>de</strong> Dominique Maingeneau. A<br />

Cenografia <strong>de</strong>tem as condiyoes do espayo (topografia) e do tempo (cronografia)<br />

numa obra liteniria. Para 0 estudo do espayo e da memoria utilizou-se tambem<br />

as nOyoes dA Poetica do Espayo <strong>de</strong> Gaston Bachelard que aborda<br />

minuciosamente cada canto do universo. Este justificani a construyao do Novo<br />

tempo no poema a partir do espayO fisico. Cita-se, tambem, como referencia "0<br />

Ser e 0 Tempo da Poesia" que mostra a imagem estabelecendo .uma dupla<br />

relayao com os verbos aparecer e parecer. Ao ser reproduzida esta aparencia, ja<br />

nao se parece com 0 que foi parecido. 0 Tempo na Literatura <strong>de</strong> Meyerhoff<br />

propoe uma discussao sobre alguns aspectos do tempo como parte do vago<br />

passado <strong>de</strong> experiencias ou como ele entra nas texturas das vidas humanas. Por<br />

ultimo, Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>: analise da obra <strong>de</strong> Afonso Romano <strong>de</strong><br />

S::mt'AnPq.que faz 0 estudo analitico do tempo e espayo.<br />

Essas nOyoes servirao como ponto <strong>de</strong> partida para a analise da obra<br />

do Poeta H. Dobal que e composto <strong>de</strong> 7 livros dos quais escolheu-se apenas os<br />

.poemas que discutem a criayao do Novo Tempo.<br />

o trabalho em questao apresenta-se em tres capitulos, mas, antes do<br />

corpo do trabalho propriamente dito apresentar-se uma pequena fortuna critica<br />

sobre 0 autor trazendo como titulo A A1odo <strong>de</strong> uma Apresenta9iio do Poeta. Este<br />

estudo traz origem, trajetoria e carreira literaria abordando a cronologia das suas<br />

obras, sua concepyao literaria bem como as influencias recebidas e a aceitayao<br />

da sua obra pelo publico e critica.<br />

No primeiro capitulo, <strong>de</strong>nominado Em Torno da Poesia e Poema,<br />

faz-se uma abordagem teorica <strong>de</strong>ntro da acepyao <strong>de</strong> Octavio Paz sobre Poesia e<br />

Poema atraves <strong>de</strong> tres itens: A Constru9iio do Ser, A Revela9iio do Mundo e 0<br />

Trabalho eom as Palavras. Ainda se abordam posicionamentos <strong>de</strong> outros<br />

autores que partilham com 0 pensamento do autor <strong>de</strong> 0 Areo e a Lira.<br />

No Segundo Capitulo procura-se averiguar a cenografia sugerida<br />

que se forma nos poemas <strong>de</strong> H. Dobal para a construyao do novo tempo.


No Terceiro Capitulo, trazendo como titulo Alguns Processos<br />

Estilisticos,<br />

faz-se urn estudo analitico no que diz respeito a constru9ao dos<br />

poemas <strong>de</strong> H. Dobal, como As Superposi90es, Os Paralelismos, As Rupturas e<br />

outros. Todos os recursos citados justificam a cria9ao do Novo Tempo na obra <strong>de</strong><br />

H. Dobal.<br />

Na ultima parte <strong>de</strong>sta disserta9ao retoma~se alguns pontos<br />

<strong>de</strong>senvolvidos ao longo do estudo e abrem-se novas perspectivas em tomo do<br />

assunto, para que se questione outros pontos que a obra <strong>de</strong> H. Dobal sugere.


A MODO DE UMA APRESENTAC;AO DO POETA<br />

Hin<strong>de</strong>mburgo Dobal Teixeira nasce em Teresina, Piaui em 1927~ E<br />

o 5° filho do agrimensor Mario Teixeira e da professora Rosilda <strong>de</strong> Sousa Dobal<br />

Teixeira.<br />

Em 1969 e inc1uido na Antologia dos Poetas Bissextos<br />

contemponlneos organizados por Manuel Ban<strong>de</strong>ira.<br />

Tal inc1usao, diz Ban<strong>de</strong>ira nurna conversa mais informal, tratava-se<br />

apenas <strong>de</strong> urn incentivo ao poeta iniciante. H. Dobal consi<strong>de</strong>rado ja urn poeta <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> c1asse, revela a conquista da sua lida com as palavras. Sua obra vasta e<br />

diversificada exibe versos, contos e cr6nicas.<br />

No ana <strong>de</strong> 1966, publica seu primeiro livro <strong>de</strong> poesias, que se<br />

subdivi<strong>de</strong> em duas partes: 0 Campo <strong>de</strong> Cinzas e Formas Incompletas.<br />

E com<br />

esse livro que recebe menyao honrosa em concurso literario promovido pelo<br />

Instituto Nacional do Mate e Jomal "0 Globo"; lembra-se que, no referido<br />

concurso nao houve vencedores. Vale ressaltar que a primeira ediyao <strong>de</strong>ste livro<br />

sai pela Editora Arte-Nova no Rio <strong>de</strong> Janeiro. S6 passou a ser reconhecido<br />

nacionalmente quando ganhou 0 premio Jorge <strong>de</strong> Lima promovido pelo instituto<br />

Nacional do Livro com 0 seu segundo livro 0 Dia sem Press agio pub1icado em


1969. Em 1970, esse livro passa a ser publicado pela Arte-Nova no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro.<br />

Em 1973 sai seu livro <strong>de</strong> cronic a A Viagem Imperfeita editado pela<br />

No ana <strong>de</strong> 1974 publica tambem pela Arte-Nova A Provincia<br />

Deserta, epoca em que residia em Brasilia.<br />

Em 1978 e lanyado em Teresina seu livro <strong>de</strong> poesias A Serra das<br />

Confusoes pela Editora Corisco. Em Sao Luis do Maranhao publica A Cida<strong>de</strong><br />

Substituida - quinto livro <strong>de</strong> poesias, Ediyoes SIOGE.<br />

No ana <strong>de</strong> 1986, lanya Os Signos e as Siglas, Ediyoes Corisco. E do<br />

mesmo ana a segunda ediyao <strong>de</strong> 0 Tempo Consequente pela Fundayao Cultural<br />

do Piaul.<br />

Em 1987 e editada pelo Projeto Petronio Portella, a ficyao Um<br />

Homem Particular.<br />

Cineas Santos, poeta e editor incansavel, companheiro nao admite<br />

<strong>de</strong>sanimo diante da tarefa <strong>de</strong> editar e reeditar os livros do escritor H. Dobal.<br />

Conce<strong>de</strong>u-Ihe notaveis homenagens que se po<strong>de</strong>m dar a urn artista: A ediyao <strong>de</strong><br />

obra completa.<br />

Em 1988 foi lanyado, pelas Ediyoes Corisco e Fundayao Cultural do<br />

Piaui, urna antologia provis6ria cujos textos foram selecionados em parceria<br />

com os escritores Paulo Machado e Paulo Nunes.<br />

Em 1989 sai em cartoes <strong>de</strong> urna tiragem <strong>de</strong> 50 exemplares do<br />

Cantiga <strong>de</strong> Folhas pelas Ediyoes Coriscos.<br />

Em 1991, recebe 0 titulo Doutor Honoris Causa que foi conferido<br />

pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Piaul.<br />

Em 1992 - publica Roteiro Sentimental e Pitoresco <strong>de</strong> Teresina -<br />

cr6nica - pela Fundayao Monsenhor Chaves.<br />

Convidado por uma comissao <strong>de</strong> aca<strong>de</strong>mic os e e1eito por<br />

unanimida<strong>de</strong> para Aca<strong>de</strong>mia Piauiense <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, ca<strong>de</strong>ira n Q 10, patrono Licurgo


Jose Henrique <strong>de</strong> Paiva, em substitui


Domingos Carvalho da Silva, Jose Paulo Moreira da Fonseca, Geir Campos~<br />

Mauro Mota, Ledo Ivo e Joao Cabral <strong>de</strong> Melo Neto.<br />

De acordo com a critica piauiense, a obra <strong>de</strong> H. Dobal inclue-se na<br />

gera9ao <strong>de</strong> 45 (embora 0 poeta se consi<strong>de</strong>re ligado mais a poesia da primeira<br />

gera9ao mo<strong>de</strong>rnista, nao cronologicamente,<br />

mas do ponto <strong>de</strong> vista i<strong>de</strong>ologico)o<br />

o autor H. Dobal alega que a gera9ao <strong>de</strong> 45 que faz oposi9ao it gera9ao <strong>de</strong> 22 e<br />

reaciomiria no plano litenirio.Afmna<br />

em urna entrevista ter pontosd~;~ontato<br />

com 0 projeto poetico <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira e Drummond~ ",<br />

Sua obra se <strong>de</strong>svia dos caminhos da gera9ao <strong>de</strong> <strong>30</strong> e dirige-se a uma<br />

revolw;ao formal importante <strong>de</strong>ntro do programa da literatura brasileira. A<br />

objetivida<strong>de</strong> e a conten9ao <strong>de</strong> forma preconizada pelos canones da epoca <strong>de</strong> 45,<br />

saG componentes <strong>de</strong> visao original do mundo e da poesia. Encarna urna nostalgia<br />

aliada a urna sensibilida<strong>de</strong> do olhar (no Dlano da metafora, on<strong>de</strong> poe suas<br />

reinvidica90es<br />

mais sentidas) e pela revolu9ao verbal (a palavra transfigura a<br />

realida<strong>de</strong> percebida e segue pelo surrealismo afora.<br />

Hin<strong>de</strong>mburgo Dobal Teixeira, alem <strong>de</strong> poeta-, contista, cronista e<br />

ensaista, e responsavel por urna profunda renova9ao tematica expressional na<br />

Literatura Piauiense <strong>de</strong> que resultaria a poesia plena <strong>de</strong> acentos elegiacos <strong>de</strong> H.<br />

Dobal.<br />

o Mo<strong>de</strong>rnismo <strong>de</strong> 22 ou mesmo 0 <strong>de</strong> <strong>30</strong> nao tiveram praticamente<br />

expressao na Literatura Piauiense, salvo em alguns poernas <strong>de</strong> Martins Napoleao<br />

que a si proprio se <strong>de</strong>nominava neoc1assico, e na pequena obra <strong>de</strong> Jose Newton<br />

<strong>de</strong> Freitas que, tendo <strong>de</strong>saparecido<br />

termos <strong>de</strong> realiza9ao literaria perfeita e acabada.<br />

aos 19 <strong>anos</strong>, pouco haveria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar em<br />

Por volta dos <strong>anos</strong> 40 surge urn grupo <strong>de</strong> escritores que se entregarn<br />

it aventura literaria e fundam urn ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> letras chamado Meridiano. Essa<br />

revista, que rnorreu no terceiro nilmero, era dirigida por O. G. Rego <strong>de</strong><br />

Ca!Valho, 1\.1. Paulo Nunes e 0 poeta em estudo Hin<strong>de</strong>mburgo Dohal Teixeira.


Segundo 0 critico litenirio piauiense Paulo Nunes e com H. Dohal<br />

que surge <strong>de</strong> forma efetiva 0 primeiro poeta <strong>de</strong> caniter mo<strong>de</strong>mo com obm<br />

plenamente realizada.<br />

Fiel a tradi


Tais palavras receberam endosSD do poeta Manoel Ban<strong>de</strong>ira ainda<br />

no comentario <strong>de</strong> abertura:<br />

Poeta ecumenico, chamou Odylo a Dobal no seu tao belo e<br />

compreensivo estudo apresentando 0 novo poeta. Mas eu<br />

prefiro dizer poeta total, 0 poeta por excelencia, do Piaui e<br />

<strong>de</strong> outros sertoes brasileiros on<strong>de</strong> "0 homem e mais pobre<br />

do que as cabras", e como neles estas san magros! S6 urn<br />

poeta "ecurnenico" como Dobal podia fixar a sua provincia<br />

com expressao tao exata, a urn tempo fresca e tao seca,<br />

<strong>de</strong>spojada <strong>de</strong> quaisquer sentimentalida<strong>de</strong>s, mas rica do<br />

sentimento profunda, visceral da Terra.<br />

Sobre a poetica <strong>de</strong> H. Dobal pOSlClOna-se Wilson Martins no<br />

comentario <strong>de</strong> abertura do liwo Uma Antologia Provisoria: "E sem duvida urna<br />

das maiores expressao poetica na vivencia do escritor H.' Dobal, sobretudo na<br />

integra


Dobal 0 ativo membro da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>Letras</strong> do Vale do Longa, Bile Carvalho:<br />

"H. Dobal e urn gran<strong>de</strong> mestre da poesia piauiense". Dizia ha alguns <strong>anos</strong> atms<br />

em artigo <strong>de</strong> jomal 0 romancismo Josue Montello - que para a completa<br />

realiza


expressao." Sem alar<strong>de</strong>, vem construindo ao longo da vida, uma consistente obra<br />

em prosa que, sem exagero algum, nivela-se a obra poetica que 0 consagrou.<br />

Quem duvidar que leia os contos: As Despesas do Envelhecer, Antinarciso, e 0<br />

Contemplador <strong>de</strong> Crepusculos, tambem escritos em verso. Sao "exercicios<br />

litenirios" <strong>de</strong> urn escritor que ciente <strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s,<br />

repetir-se sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser original.<br />

po<strong>de</strong>-se ao luxo <strong>de</strong><br />

Acrescenta, Paulo Ivfachado, Critico Litenirio Piauiense:<br />

"No Brasil, raras sao as obras litenirias que resistem a<br />

amilise da critica exercida fora dos circuitos institucionais.<br />

H. Dobal, para orgulho dos Piauienses, esta incIuido no<br />

seleto grupo dos escritores que sac referenciais na hist6ria<br />

da Literatura Brasileira."<br />

Ainda sobre sua poesia: Luiz Romero Lima se manifesta:<br />

"A sua poesia traz 0 sopro dos gran<strong>de</strong>s poetas - 0 equilibrio<br />

entre forma e conteudo. E uma poesia voItada para a terra<br />

(maior parte) e a situayao precaria do homem pobre <strong>de</strong><br />

recursos e meios para nela trabalhar."<br />

(Romero Lima, in "Presenya da Literatura Piauiense<br />

nos Vestibulares" Teresina, PI)<br />

Tambem Elmar Carvalho tece comentarios sobre sua poesia:<br />

Nao raras vezes a poetica Dobalina se reveste do mats<br />

profundo sentimento Lirico e elegiaco, mas <strong>de</strong> modo quase


objetivo, se aSSlill me posso expnmrr, sem a presen


Com 0 mesmo <strong>de</strong>staque, Elmar Carvalho discorre sobre seus<br />

poemas epicos EI Matador e Leonardo Nossa Senhora das Dores. Ambos<br />

vazados no estilo elevado e inconfundivel <strong>de</strong> sempre, esses dois trabalhos san<br />

baseados no texto hist6rico.<br />

Sobre esses dois poemas, note-se 0 fragmento abaixo:<br />

"Foram concebidos nurna montagem contraponistica <strong>de</strong><br />

textos versificados e textos historiognificos (em prosa). Em<br />

EI Matador esta pintada a sanha e a se<strong>de</strong> <strong>de</strong> sangue, a fUria<br />

feroz e assassina <strong>de</strong> urn homem que nao poupava nem<br />

mulheres e nem crianyas inocentes, cuja violencia genocida<br />

nao encontra explicayao e justificativa sem mesmo pelos<br />

padr5es <strong>de</strong> sua epoca. A contrario em Leonardo, foi<br />

composto 0 canto <strong>de</strong> exaltayao a urn patriota <strong>de</strong>votado que<br />

se tomou lenda a urn poeta inspirado, a urn inventor<br />

i<strong>de</strong>alista em busca, sem sucesso, do .moto-continuo, urn<br />

Dom Quixote a combater os moinhos <strong>de</strong> vento dos que<br />

sonhavam, nurna linguagem repassada <strong>de</strong> temura e<br />

admirayao por esse que foi urn dos maiores homens da<br />

hist6ria piauiense ..."<br />

A respeito <strong>de</strong> Leonardo Nossa Senhora das Dores, H. Dobal profere<br />

alguns comentarios nurna entrevista concedida ao Jomal Meio-Norte:<br />

"Quando Li 0 texto hist6rico fascinou-me a figura do<br />

Leonardo, achei que ele era urn her6i, urn tipo interessante -<br />

nao discuto 0 valor <strong>de</strong>le como poeta, mas como figura<br />

hwnana. Achei tambern que 0 texto hist6rico ja tinha ern si<br />

muita poesia. Entao me veio a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> aproveitar e fazer urn


poema, porque 0 texto hist6rico po<strong>de</strong> ser visto <strong>de</strong> outra<br />

forma."<br />

plaUlenses, porque<br />

A sua produ


':II poesia revefa este mundo, cria outro. "<br />

(PjIZ. 1982, p. 15)<br />

Uma ilha<br />

cercada<br />

<strong>de</strong> palavras<br />

portodos<br />

os lados.<br />

"Que e 0 Poeta?<br />

Umhomem<br />

que trabalha 0 poema<br />

com 0 suor do seu rosto.


Umhomem<br />

que tern fome<br />

como qualquer outro<br />

homem."<br />

A linguagem e em essencia a condi


Por issoa<br />

linguagem da poesia 6 uma !\inven


A poesia para muitos autores e conhecimento. Para alguns, como<br />

Lautreamont, segundo Ban<strong>de</strong>ira, "ela anuncia as rela90es existentes entre os<br />

primeiros principios e as verda<strong>de</strong>s secundarias da vida"~ Novalis ja dissera que<br />

"a poesia e 0 real absoluto"; e para Maritain e 0 conhecimento~<br />

incomparavelmente: conhecimento-experiencia, conhecimento-emoyao,<br />

conhecimento-existencia (1967, p. 123) .<br />

Todas essas <strong>de</strong>fini90es, aparecidas em contextos em que se procura<br />

justificar a essencia da poesia, nao foram citadas como <strong>de</strong>fmi90es isoladas, mas<br />

como parcela <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. Cada uma <strong>de</strong>las representa 0 resultado do contato do<br />

espirito com a realida<strong>de</strong> em si mesma inefavel: a rea9ao emocional daquilo que<br />

a linguagem diz. :E por isso que se diz que 0 poema po<strong>de</strong> ser 0 lugar em que a<br />

emo9ao se acha privilegiada, on<strong>de</strong> 0 sujeito se manifesta historicamente: note-se<br />

nos verC!,oseguintes:<br />

1 Sua ra9ao <strong>de</strong> vida 0 homem ve ming-uando<br />

2 a cada dia. Mas duro recome9a<br />

3 como se 0 tempo the sobrasse. E vagaroso<br />

4 nao consta as eras que se extinguem.<br />

5 Nem conta a solidao dos dias daros<br />

6 se <strong>de</strong>sdobrando iguais como esquecidos<br />

7 <strong>de</strong> mudar. (...)<br />

(Dobal, 1997, p. 32)<br />

o que se enten<strong>de</strong> e que 0 poema se apresenta como discurso<br />

produzido num momenta particular, numa circunstancia particular no qual 0<br />

sujeito se engaJa no intuito <strong>de</strong> transformar a socieda<strong>de</strong> e conseqUentemente<br />

transformar-se.


Sendo assun, run poema significa toda a experiencia hrunanao A<br />

poesIa s6 existe se se relaciona<br />

com 0 mundo interior do poeta, com a sua<br />

sensibilida<strong>de</strong>, a sua cultura, as suas vivencias e 0 mundo interior daquele que 0<br />

Ie.<br />

A poesia e <strong>de</strong> outro mundo, e algo que atua na vida do serEe forma<br />

inconsciente. Dentro <strong>de</strong>sta perspectiva eia seria uma especie <strong>de</strong> elo entre 0<br />

subconsciente do poeta e subconsciente do leitor. Por isso, ela toma-se menos<br />

acessivel porque nao ocorre no foco da consciencia.Mario<br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> justifica<br />

esse aspecto no Prefacio Interessantissimo. Ele diz que a poesia nasce no<br />

subconsciente acrisolado gritando palavras que SaDfrases inteiras.<br />

A poesia e 0 alimento para 0 poeta. Como alimento faz-se condiyao<br />

para que 0 homem seja 0 <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser outro. E a busca do outro diferente do<br />

que somos em socieda<strong>de</strong>. Anoesia e run artefato <strong>de</strong> busca dos sentidos. 0<br />

poema e a busca <strong>de</strong> fazer sentir atraves <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s, e nao da verda<strong>de</strong>. "Ele s6 e<br />

valorizado porque e produzido por run ser humano singular, hist6rico que faz do<br />

poema um ato fullco, especifico como lembra Dessons. E por isso que se diz que<br />

o poema po<strong>de</strong> ser 0 espayo i<strong>de</strong>al da emoyao, da revelayao hist6rica do sujeito.<br />

E uma aventura singular que comeya nas trevas, aquele ponto<br />

sagrado da vida que impulsiona 0 corayao e transporta 0 poeta para outro plano,<br />

diferentemente do plano em que vive.<br />

o poema enquanto aventura do sujeito implica sua dimensao<br />

politica. Isto se explica pelo conjunto das relayoes que 0 instalam, pela<br />

linguagem, entre os sujeitos <strong>de</strong> runa comunida<strong>de</strong> lingiiistica.<br />

A poesia<br />

e urn gesto que atua <strong>de</strong>ntro do ser humano <strong>de</strong> forma<br />

arrebatadora transportando para outro mundo, outra dimensao. E a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comunicayao <strong>de</strong> maneira simples, nao necessariamente utilizando palavras<br />

rebuscadas,<br />

mas que tragam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si a completu<strong>de</strong> do ser em relayao aos


compreen<strong>de</strong>r<br />

E uma experiencia nova e misteriosa que se tenta explicar,<br />

a verda <strong>de</strong> interior contida em suas fontes. Ela e a vida do poeta,<br />

como sua came e seu sangue. E alimentada peIo tedio, pelo <strong>de</strong>sespero,<br />

suplica, com lembra Paz. Observe-se 0 verso abaixo:<br />

pela<br />

1 Tedio<br />

2 Temor<br />

3 Tremor<br />

4 Trevas<br />

5 Tar<strong>de</strong><br />

6 Tibia tar<strong>de</strong><br />

7 Tumo<br />

8 Descruzar <strong>de</strong> caminhos.<br />

Po<strong>de</strong> se verificar no poema acima urna ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sons e sentidos<br />

emitidos atraves da expressao Tar<strong>de</strong> que se arranja e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia no inesperado:<br />

"<strong>de</strong>scruzar <strong>de</strong> caminhos". Esse "<strong>de</strong>scruzar <strong>de</strong> caminhos" simboliza a situa«ao do<br />

ser diante das adversida<strong>de</strong>s da vida. A seca, por exemplo e urna <strong>de</strong>la. A cada por<br />

do sol a certeza <strong>de</strong> mais urn dia vencido e <strong>de</strong> urna vida gemida.<br />

o poeta transcen<strong>de</strong> a sua dor, fazendo-a motivo poetico, acabando<br />

por apontar a da dor da hurnanida<strong>de</strong>. Dai se dizer que a palavra poetica constitui<br />

a base da socieda<strong>de</strong>, sem ela nao existiria 0 homem, 0 poeta. Nao s6 reflete 0<br />

tempo individual como tambem 0 tempo coletivo no pais e no mundo.


Nao cabe ao poeta ser si pr-6prio, pOlS estaria a se con<strong>de</strong>nar a<br />

mutila


urn romper os muros do tempo para se transformar noutro. 0 poema e 0 meio<br />

mais acessivel ao tempo puro, imersao nas aguas originais <strong>de</strong> existir:<br />

1 Mais urn verao vai terminar.<br />

2 A sombra da tar<strong>de</strong><br />

3 vai cair no silencio da noite.<br />

4 Vma tar<strong>de</strong><br />

5 prepara outra tar<strong>de</strong>.<br />

6 Vma noite<br />

7 se reduz a outra noite. (...)<br />

(Dobal, 1997, p.198)<br />

Atraves do poema a poesia busca atraves <strong>de</strong> si conquistar urna outra<br />

.terra sempre prometida e sem nome.<br />

A poesia - no dizer <strong>de</strong> Paz - e urn movimento para, jamais urn<br />

itinerario preestabelecido que se permitiria a perspectiva apaziguadora <strong>de</strong> urn ate<br />

(1982, p. 167).<br />

Diz Jaccottet (citado por Esteban) que a poesIa e 0 lugar das<br />

metamorfoses. Sendo assim ela se a<strong>de</strong>qua a cada situa9ao vivenciada. Ela vem<br />

<strong>de</strong> olhares que <strong>de</strong> repente saco<strong>de</strong>m toda inercia dos pensamentos e das imagens.<br />

Em outras palavras, urn modo <strong>de</strong> respirar. Ela nada mais e que urna chama. Mas<br />

que esse fogo seja 0 fogo <strong>de</strong> todos (1991, p. 122).<br />

Schiller (citado por Ban<strong>de</strong>ira) pensa a poesia como for9a que atua<br />

<strong>de</strong> maneira divina e inapreendida, alem e acima da consciencia (1967, p. 119). A<br />

poesiaja<br />

diz Paz, nao e <strong>de</strong>ste mundo (1982, p. 231). Sobre esse assunto, Schiller<br />

afinna ser algo divino. presente dos Deuses e que atua na vida do ser <strong>de</strong> forma


inconsciente. Dentro <strong>de</strong>sta perspectiva, a poesia seria uma especie <strong>de</strong> elo entre 0<br />

subconsciente do poeta e 0 subconsciente do leitor. Veja-se 0 poema:<br />

1 0 menino<br />

2 <strong>de</strong> sol e <strong>de</strong> vento<br />

40 <strong>de</strong>stino<br />

5 faz da sua ansia<br />

6 faz do seu lento<br />

7 fluirfluir<br />

A pnitica poetica <strong>de</strong> Dobal no poema aClilla, Val alem da<br />

simplicida<strong>de</strong> vocabular apresentada. Ele faz urn esforyo para que todas as<br />

palavras chaves, como meninos, sol, vento, <strong>de</strong>stino, fluirfluir, reportem urn<br />

tempo vencido.<br />

Mas, Ban<strong>de</strong>ira nao <strong>de</strong>scarta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a poesia possa<br />

tambem nasce em pleno foeo da eonseieneia, e atuar <strong>de</strong> modo eonseiente:<br />

1 Os novilhos do agreste<br />

2 S6 tern ehifre e eulhoes.<br />

3 Os boizinhos 0 agreste<br />

4 Estao na pele e nos ossos.


5 Ai Terras pobres do Piaui.<br />

6 Capines cupines. Nestas chapadas<br />

7 Corcoveadas <strong>de</strong> cup ins,<br />

8 0 capim agreste nao da sustanya,<br />

9 0 gado magro mal se mantem.<br />

ION estas trilhas <strong>de</strong> areia as seriemas<br />

11 Procuram cobras. E cantam<br />

12 Os seus dias <strong>de</strong> fogo. Dao as faveiras<br />

13 Sua sombra aos formigueiros. E os dias magros ao<br />

14 homem<br />

15 Sua cota <strong>de</strong> vida.<br />

(Dobal, 1997, p. 28)<br />

Neste ultimo poema, 0 artista vale-se <strong>de</strong> vocabulos semanticos<br />

como novilho, chifre, culhoes, boizinhos, ossos, cupim, para <strong>de</strong>nunciar a dura<br />

realida<strong>de</strong> da Terra do Piaui. Assim, os materiais abandonam 0 mundo cego da<br />

natureza para ingressar no mundo das obras, isto e, no mundo das significayoes.<br />

1.2 REVELA


{((...) Criou aeus, pois, 0 liamem a sua imagem, a imagem ae (])eus (1<br />

criou; fzomem e mu[fieros criou." (genesis, 1991, p. 3)<br />

Religiao e poesia unem-se na tentativa <strong>de</strong> sacralizar para sempre a<br />

possibilida<strong>de</strong> do homem mostrar 0 que e na verda<strong>de</strong>, e consequentemente,<br />

constituir sua propria maneira <strong>de</strong> ver. Ambas nao <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser tentativas <strong>de</strong><br />

abrayar a outrida<strong>de</strong>, como diz Machado - citado por Paz - a "essencial<br />

heterogeneida<strong>de</strong> do ser" (PAZ, 1991, p. 167).<br />

A experiencia poetica como a experiencia religiosa, afrrma Paz "e<br />

urna salto mortal: urn mudar <strong>de</strong> natureza original" (1991, p. 167). 0 homem <strong>de</strong><br />

repente acorda para 0 mundo e, percebe a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que fora perdida e, nurn<br />

instante, revela-se num outro que tambem e ele mesmo. Poesia e religiao sao<br />

revelayao ... Mas, na poesia, a palavra poetica nao necessita da autorida<strong>de</strong> divina<br />

para se sustentar. Eta se sustenta sem que precise recorrer a <strong>de</strong>monstrayao<br />

racional e a instancia <strong>de</strong> urn po<strong>de</strong>r sobrenatural.<br />

. A revelayao poetica e 0 que 0 homem <strong>de</strong>monstra <strong>de</strong> si mesmo e 0<br />

que 0 ele faz a si mesmo. Acerca <strong>de</strong>sse assunto, Novalis menciona:<br />

"Quando 0 corayao se sente a si mesmo e,<br />

Liberto <strong>de</strong> todo objeto particular e real,<br />

Toma-se seu proprio objeto i<strong>de</strong>al,<br />

Entao nasce a religiao."<br />

(eit. por PAZ, 1982, p. 170)<br />

o homem que se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> do mundo real, acaba por atingir 0<br />

mundo i<strong>de</strong>al. Tendo se libertado do mundo real centraliza-se somente na causa<br />

abrayada - 0 outro. Dai nasce a religiao. A revelayao transforma-se nurn abrir-se<br />

do homem para si mesmo, acrescenta Paz (1991, p. 170). 0 que se admite<br />

aceitar e que a nOyao que se tern <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>ncia - base da religiao -


fragmenta-se.<br />

0 que ocorre e que Deus esta no cora9ao dos homens e nao<br />

suspenso em suas maos. Mas como aceitar esta imersao <strong>de</strong> Deus no homem<br />

como algo estranho a todos? Como i<strong>de</strong>ntificar a disposi9ao religiosa ou<br />

divinizadora em outras disposi90es em que se acha com precisao a <strong>de</strong> poetizar?<br />

Diante disso, a frase <strong>de</strong> Novalis, dita anteriormente<br />

por paz, po<strong>de</strong> ser alterada<br />

para: "Quando 0 cora9ao se sente a si mesmo ... entao nasce a poesia" (1991, p.<br />

171) e nenhuma <strong>de</strong>ssas poesias e pura. 0 que ocorre e que em todas elas<br />

aparecem os mesmos elementos.<br />

A n09ao do sublime se aSSOCIa<strong>de</strong> forma estreita a n09ao do<br />

numinoso e 0 mesmo acontece com 0 sentimento poetico e com 0 musicaL Diz<br />

Otto, citado por Paz, que a manifesta9ao do sentimento do sublime e posterior a<br />

manifesta9ao do sentimento do numinoso. A antigiiida<strong>de</strong> a que ele se refere e<br />

que do sagrado <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>m 0 sublime e 0 poetico. No sublime ha sempre a<br />

apari9ao <strong>de</strong> um temor que <strong>de</strong>nuncia a presen9a do diferente e do<br />

incomensuravel, do misterio. Po<strong>de</strong>-se dizer tudo isso do amor. E da natureza do<br />

amor ser sempre misterio; todo amor e revela9ao,-provoca tremor e dor ao<br />

mesmo tempo e, faz com que palavras misticas saiam das bocas num gesto <strong>de</strong><br />

magia. Na cria9ao poetica nao e diferente: ausencia e presen9a, silencio e<br />

palavra, vazio e plenitu<strong>de</strong> sao estados poeticos tanto quanta religiosos e<br />

amorosos. as elementos racionais e irracionais processam-se em todos eles ao<br />

mesmo tempo, sem que sejam separados,<br />

a nao ser por uma purifica9ao ou<br />

interpreta9aO posterior. Sobre isso e licito dizer que 0 sagrado nao constitui uma<br />

categoria a priori, irredutivel e original da qual vem as outras. Toda vez que se<br />

tenta atingi-Ias, chega-se a conclusao<br />

que aquilo que parecia distingui-Ia, nao<br />

constitui ser uma diferen9a. Logo acha-se presente em outras experiencias.<br />

Nenhuma experiencia e pura; 0 que ocorre e que em todas elas aparecem os<br />

mesmos elementos.<br />

Segundo Paz, 0 homem e um ser que se assombra, cada<br />

assombro e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scoberta. E da natureza do homem<br />

assombrar-se. Ao assombrar-se, poetiza, ama, diviniza, cria outros mundos. a


poeta diviniza com 0 mistico e ama com 0 enamorado.<br />

Entretanto, nenhuma<br />

<strong>de</strong>ssas experiencias e pura.<br />

o sentido po<strong>de</strong>ria constituir 0 criterio basico <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas<br />

experiencias; mas e 0 objeto a que elas sac referidas e que distingue as palavras<br />

do mistico das palavras do poeta. Portanto, nao e permitido isolar a categoria do<br />

sagrado <strong>de</strong> outras amilogas, exceto seu objeto ou a sua referencia, ressalta-se que<br />

o objeto nao acontece fora" mas <strong>de</strong>ntro da propria experiencia (PAZ, 1991, p.<br />

173). Diante da revelayao do mundo todos os caminhos se estreitam. Nao resta<br />

outra saida a nao ser abandonar i<strong>de</strong>ias e categorias a priori e apreen<strong>de</strong>r 0 sagrado<br />

no momenta <strong>de</strong> seu nascimento no homem.<br />

Sobre 0 horror sagrado menciona-se<br />

que ele brota da estranheza<br />

radical. 0 assombro provoca no homem uma certa pequenez em que 0 proprio<br />

sente-se perdido na imensidao e po<strong>de</strong> chegar a condiyao <strong>de</strong> miseria:<br />

I Sua rayaO <strong>de</strong> vida 0 homem ve minguando a cada dia (...)<br />

2 a cada dia. Mas duro recomeya<br />

3 como se 0 tempo the sobrasse. E vagaroso<br />

4 nao conta a solidao dos dias daros<br />

5 se <strong>de</strong>sdobrando iguais como esquecidos<br />

6 <strong>de</strong> mudar. Nem a distancia<br />

7 que 0 grito nao transp5es, a passagem da vida<br />

8 cumprida so em minimos <strong>de</strong>sejos.<br />

9 Sua lastima no piar das nambus, sobrio<br />

10 se esquiva as armadilhas da tar<strong>de</strong>.<br />

11A incerteza nos paiois, 0 chao batido<br />

12 em que levanta a casa, 0 arnor<br />

13 cOf!loa agua das cabayas.


14 Lavrador do milho e do feijao, sua frugal colheita<br />

15 em gleba alheia. Passa-lhe a vida,<br />

16 e queima 0 ceu com a cinza <strong>de</strong> suas r09as.<br />

(Dobal, 1997, p. 32)<br />

1 (...) A paisagem <strong>de</strong> cinza <strong>de</strong>vorada<br />

2 e ruminada pelas cabras mansas<br />

3 e sobre as copas os <strong>de</strong>spejados passaros<br />

4 por gavioes sonhados nas muralhas,<br />

5 as copas on<strong>de</strong> os frutos se preparam<br />

6 para a farinha e a fome <strong>de</strong>sses dias. (oo.)<br />

(Dobal, 1997, p. <strong>30</strong>)<br />

De acordo com os poemas po<strong>de</strong>-se constatar a <strong>de</strong>grada9ao do<br />

homem <strong>de</strong>monstrada atraves da paisagem <strong>de</strong> cinza. 0 homem nada mais e, na<br />

acep9ao <strong>de</strong> Paz, que po e cinza. Veio do po e ao po retornara. Esse movimento<br />

ciclico e explicado por Schleiermacher, na visao <strong>de</strong> Paz, "<strong>de</strong> sentimento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia" . Esse sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia por urn ser superior e algo<br />

"original e fundamental do espirito, algo que nao se <strong>de</strong>fme a nao ser por si<br />

mesmo" (PAZ, 1982, p. 173). Obtem-se 0 sagrado por inferencia do homem<br />

sentir-se a si mesmo, da sensa9ao <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> algo do criador.<br />

De acordo com as palavras <strong>de</strong> Paz, como a religiao, a poesia parte<br />

da condi9ao hurnana original - 0 estar ai, 0 saber atirar nesse ai que e 0 mundo<br />

hostil ou indiferente - e do fato que a torna precaria: sua temporarieda<strong>de</strong>, sua<br />

finitu<strong>de</strong>.


"0 poeta chega a margem da linguagem por uma via que e<br />

negativa. Essa margem e <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> silencio que se<br />

compara a urn lago. Dentro <strong>de</strong>le as palavras acham-se<br />

submersas, esperam, por isso, aguardam. A palavra poetica<br />

nasce <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito sofrimento. Na acepc;ao <strong>de</strong> Paz<br />

afirma "a vida <strong>de</strong>sta vida". In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do conteudo do<br />

dizer poetico, e urn ato que constitui urna revelac;ao da<br />

condic;ao hurnana. Falando do amor, da vida, da morte, da<br />

inocencia e do pecado, a palavra poetica e ritmo,<br />

temporalida<strong>de</strong> manando-se e reengendrando-se sem cessar."<br />

(Paz, 1982, p. 179)<br />

A palavra poetica e revelacao da condic;ao do homem no mundo;<br />

condic;ao original seja qual for 0 sentieto imediato ou concreto das palavras no<br />

poema. Sobre a condic;ao original, Hei<strong>de</strong>gger citado por Paz, afirma que "e<br />

atraves da angtistia e do medo (duas vias, inimigas e paralelas) que se abre e se<br />

cerra respectivamente 0 acesso a ela" (1991, p. 175).<br />

Bau<strong>de</strong>laire, anunciado por Paz, <strong>de</strong>c1ara que a angtistia nao e a Unica<br />

via que leva ao encontro do homem. Ele se refere as revelac;6es do tedio:<br />

"0 uruverso fiui a <strong>de</strong>riva como urn mar cinzento e sUJO,<br />

enquanto a c()nsciencia encalhada nao refiete senao 0 bater<br />

monotono das ondas. Nao acontece nada (...) e com efeito, 0<br />

nada e a unica COlsa que brilha sobre 0 mar marta da<br />

consciencia. "


o que se <strong>de</strong>ixa claro e que 0 homem se sente separado do mundo,<br />

da multidao. 0 vazio que vai se abrindo em sua consciencia 0 leva para u..m<br />

imenso abismo. Este abismo 0 <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>riva para a morte .<br />

Em todos estados <strong>de</strong>sta natureza ha uma especie <strong>de</strong> onda ritmica<br />

que e a revelayao da nulida<strong>de</strong> do homem que se transforma na <strong>de</strong> seu ser:<br />

Morrer, viver: vivendo morre-se, morre-se vivendo. A revelayao da nulida<strong>de</strong> do<br />

homem leva-o a criayao do ser. 0 homem se cria lanyando-se para 0 nada.<br />

A experiencia poetica e sempre resolvida numa criayao: a do<br />

proprio homem. 0 ato <strong>de</strong> revelar nao se preocupa com 0 que esta extemo,<br />

distante, a margem, mas com a criayao do que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scoberto: 0 Ser. Dessa<br />

forma, 0 poeta cria 0 ser, porque e algo feito, apoia-se em si, cria-se a cada<br />

instante. Ao mesmo tempo que 0 homem e carencia <strong>de</strong> ser e tambem conquista<br />

<strong>de</strong> ser. A condiyao primeira do homem direciona-se para nomear e criar 0 ser.<br />

Logo, a condiyao original nao se resume so em carencia, nem so em fartura, mas<br />

em possibilida<strong>de</strong>.<br />

o poeta revela 0 homem, consequentemente "o'mundo" criando-o.<br />

A palavra poetica e a palavra religiosa saD confundidas ao longo da<br />

historia pelo fato <strong>de</strong> ambas apresentarem<br />

origem comum, como poemas, mitos,<br />

orayoes, exorcismos, hinos, representayoes teatrais, ritos, etc., ambas, sao,<br />

enfim, experiencias da outrida<strong>de</strong> constitutiva do homem.<br />

A revelayao religiosa constitui a interpretayao<br />

do ato original, ao<br />

contnirio, a poesia e revelayao da condiyao do ser e, por isso mesmo, criayao do<br />

mundo pela imagem. Nao s6 as sagradas escrituras, concordam no dizer <strong>de</strong> Paz,<br />

que constroem 0 homem, pois se apoiam na palavra poetica. A poesia e 0 ato<br />

pelo qual 0 homem se funda e revela a si mesmo. Por isso, se diz que, a<br />

revelayao da condiyao do homem e igualmente a cria


Logo, diz-se cada que cada poema e unico. Em toda obra encontrase<br />

a poesia que abre uma possibilida<strong>de</strong> que nao se diz que ''(~vida etema nem a<br />

morte, mas um viver que implica e contem urn morrer".<br />

No poetico, nem a angustia, nem a exalta


individual <strong>de</strong> wn material lingiiistico comum com que se constitui a emmCiay<strong>30</strong><br />

e que transforma 0 poema, e consequentemente<br />

pregava<br />

a poesia em algo valoroso.<br />

Desta forma, a lingua poetica nao e particular, 0 que 0 classicismo<br />

era que existia urn lexico proprio da poesia. E como nao existe urn<br />

lexico proprio, segundo Paz, nao ha indice particular reservado a poesia. 0<br />

lirismo po<strong>de</strong> ser manifestado durante todo 0 poema, e nao somente quando 0<br />

pronome eu e exprimido. 0 aspecto subjetivo manifesta-se em todo 0 poema, e<br />

sempre wn eu que se apresenta e que se <strong>de</strong>staca tanto pela presenya do pronome<br />

pessoal eu quanta uma maneira unica <strong>de</strong> construir urn complemento verbal.<br />

Logo, nao existe wn lexico poetico, nem pessoa poetica e nem<br />

sintaxe poetica. Consequentemente, nao ha elemento lingiiistico que seJa<br />

inerente ao discurso poetico. Para a analise do poema, po<strong>de</strong>-se abordar todas as<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagem que 0 comnoem, como fonema, a silaba, lexica, sintaxe.<br />

Para a analise do poema e necessario wna analise do discurso.<br />

Pelo discurso enten<strong>de</strong>-se que 0 poema se constitui nwn sistema<br />

lingiiistico em primeiro plano: logo todos os elementos' que entram em sua<br />

composiyao mantem relayoes proximas para produzir seu significado.<br />

Mais que outros discursos,<br />

0 poema consiste ser wna aventura da<br />

linguagem, pois supoe wna atenyao a todos os elementos da linguagem (fonema,<br />

silabas, sintaxe, lexica, grafismos, ritmo), requer "wna solicitayao maxima dos<br />

recursos lingiiisticos em relayao com 0 significado e, alem disso, com 0 sujeito e<br />

a socieda<strong>de</strong>.<br />

Por estabelecer wna relayao com a socieda<strong>de</strong>, a linguagem e social<br />

e envolve pelo menos duas pessoas. Desta forma a palavra <strong>de</strong> todas os dias nao<br />

esta <strong>de</strong>ntro nem fora do mundo, esta no proprio poeta, por que faz parte <strong>de</strong>le. A<br />

linguagem e 0 ser,e para 0 Ser ser ele mesmo <strong>de</strong>ve ser 0 outro: recorre it<br />

imagem, ao adjetivo,<br />

ao ritmo, a tudo aquilo que a faz diferente. Assim, as<br />

palavras do poeta sao suas e nao sao.


Poetizar e primordialmente nomear - palavras <strong>de</strong> Paz (1991, po<br />

203). Dar nome significa dar existencia e resistencia a palavra no discurso<br />

poetico.<br />

As palavras, <strong>de</strong>ntro do poema, comportam-se como pe


durante a cria9ao e se mistura, imediatamente, com 0 fluido<br />

animico que vai migrar em dire9ao <strong>de</strong> outros seres~ os<br />

leitores do poema."<br />

(1956, p. 20))<br />

Em outras palavras 0 que Bousofio diz e que a poesla busca<br />

representar 0 objeto <strong>de</strong> forma conceitual, transforma a realida<strong>de</strong> atraves das<br />

emo90es e toca 0 outro pela emo9ao.<br />

Vale ressaltar que a tripla parti9ao sensorial (qualida<strong>de</strong> do objeto),<br />

conceptual (<strong>de</strong>fini9ao do objeto) e sentimental (a emo9ao que 0 objeto provoca)<br />

ostenta, em distinta propor9ao, todo estado <strong>de</strong> alma. Esta fun9ao tripartida e<br />

<strong>de</strong>nominada por Marshall Urban - acrescenta Paz (1991, p. 39) - <strong>de</strong> indicativa,<br />

emotiva e representativa. Acrescenta ainda, que, em cada fun9ao verbal<br />

aparecem as tres fun90es em graus distinto e com intensida<strong>de</strong>s diferentes. Nao<br />

ha representa9ao que nao contenha elementos indicativos e emotivos e 0 mesmo<br />

. se diz da indica9ao e emo9ao.<br />

A fun9ao simb6lica e 0 fundamento das outras duas. Logo, a<br />

essencia da linguagem e a representa9ao - Darstellung - <strong>de</strong> urn elemento <strong>de</strong><br />

experiencia por meio <strong>de</strong> outro, a rela9ao bipolar entre 0 signa ou 0 simbolo e a<br />

coisa significada ou simbolizada, e a consciencia <strong>de</strong>ssa rela9ao.<br />

Voltando-se a <strong>de</strong>fini9ao <strong>de</strong> Bousofio, todos esses elementos<br />

(sensorial, conceptual e sentimental) estao na representa9ao interior do falante,<br />

formando parte <strong>de</strong> seu estado da alma. 0 exemplo citado por Bousono sobre a<br />

minhoca explica muito bem essa representa9ao. A pessoa que ver na fruta que<br />

alguem come urna minhoca, grita: "urna minhoca!" parte da sensa9ao<br />

individualizadora. A minhoca causa repugnancia pessoal e seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que<br />

nenhurna outra pessoa venha come-Ia.<br />

A poesia tern <strong>de</strong> comumcar, atraves <strong>de</strong> apOlos verbais, uma<br />

realida<strong>de</strong> animica tal como e.


Essas realida<strong>de</strong>s<br />

po<strong>de</strong>m conter urn grau muito elevado ou menos<br />

elevado <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong>. Por este aspecto, diz-se que certos escritores (como<br />

Becquer,<br />

como Ruben, Racine ou g6ngora) realizam algo i<strong>de</strong>ntico: comumcam<br />

algo que existe em sua alma. A Unica diferen


8 Nos seus lombos a vida,<br />

9 Que sai.<br />

(Dobal, 1997,p.41)<br />

o termo cinza "aspira" constituir urn significado univoco. Implica<br />

na reflexao e analise, mas ao mesmo tempo reflete urn i<strong>de</strong>al inatingivel, pois a<br />

palavra se nega a ser apenas conceito, a palavra e outra coisa mais" (Paz, 1982,<br />

p. 26). A palavra sugere varias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sentidos. Qualquer que seja a<br />

ativida<strong>de</strong> do homem, poeta ou artista, transforma a materia-prima em cores,<br />

pedras, metais, palavras. Esta operayao transmutadora consiste no seguinte:<br />

os materiais abandonam 0 mundo cego da natureza para ingressar no das obras,<br />

isto e, no mundo das significayoes (Paz, 1982, pg.26).<br />

Sendo instrumento <strong>de</strong> significacoes <strong>de</strong> comunicayao, transformamse<br />

em "outra coisa". Essa mudanya nao implica no abandono da sua natureza<br />

original, mas ser outra coisa. Na opiniao <strong>de</strong> Paz, significa a "mesma coisa: a<br />

coisa mesma, aquilo que real e primitivamente san (1982, p. 26). A titulo <strong>de</strong><br />

exemplo, a palavra cinza, sol, sal, e anteriormente citadas no poema <strong>de</strong> Dobal<br />

san puramente cinza, sol, sal e ceu: encerraram algo que as transfigura e<br />

ultrapassa. Sem per<strong>de</strong>rem seu sentido primeiro, direcionam-se a outra margem, a<br />

outro mundo <strong>de</strong> significados impossiveis <strong>de</strong> serem ditos pela simples linguagem.<br />

A palavra poetica conta com a ambigiiida<strong>de</strong> (primeira caracteristica); e ritmo,<br />

cor, significado, e ainda outra coisa: Imagem. A poesia tern a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transformar cinza, sol, sal, ceu, a palavra e 0 som em imagens (Segunda<br />

caracteristica) e sendo imagens tern 0 po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformar em poemas todas as<br />

obras <strong>de</strong> arte.<br />

Portanto, urna obra <strong>de</strong> arte po<strong>de</strong> ser convertido em poema, mas<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que atendam as duas caracteristicas: a <strong>de</strong> fazerem com que seus materiais<br />

regressem ao que san - materia resplan<strong>de</strong>cente ou opaca - negando-se ao mundo<br />

da utilida<strong>de</strong>; e a <strong>de</strong> transformarem-se -- em imagens e, <strong>de</strong>sse modo, se<br />

37


converterem em comunicayao. 0 poema ealgo<br />

que esta mais alem da linguagem<br />

(1982, p. 27). Mas 0 que esta alem da linguagem so po<strong>de</strong> ser representado<br />

atraves da linguagem. Atraves da linguagem, 0 poeta opera a transfigurayao.<br />

,_<br />

Retomando a questao inicial po<strong>de</strong>-se dizer que 0 poeta utiliza varios<br />

recursos para a representayao do universo poetico. DeI]treQs~~~arios recursos'<br />

<strong>de</strong>staca-se 0 simbolo, como sendo a palavra que emit~~~J?s_.gada palavia<br />

ou grupo <strong>de</strong> palavras e uma metafora. Dessa forma, a metafora e urn instnunento<br />

magico que tern 0 po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformar em outra coisa e <strong>de</strong> modificar aquilo que<br />

toea. Como exemplo cita-se a palavra cinza, que tocada pela palavra sol, tomase<br />

efetivamente <strong>de</strong>struiyao e 0 sol por sua vez se toma elemento <strong>de</strong>struidor, 0<br />

principio da seca.<br />

Portanto a palavra poetica e geradora <strong>de</strong> sentidos e, por isso, faz-se<br />

romunicayao, do contrario nao seria comunicayao.


2. A CENOGRAFIA COMO FORMA DE CONSTRU


Resposta que mlo convence porque 0 que <strong>de</strong>ve ser levado em consi<strong>de</strong>rac;ao e a<br />

obra como dispositivo <strong>de</strong> comunicac;ao e a obra em sua genese.<br />

Enten<strong>de</strong>m-se por cenografia uma situac;ao <strong>de</strong> enunciac;ao que a obm<br />

liteniria estabelece. De acordo com Maingeneau, ela <strong>de</strong>tem as condic;oes <strong>de</strong><br />

enunciador e <strong>de</strong> co-enunciador.<br />

Mas tambem 0 espac;o (topografia) e 0 tempo<br />

(cronografia) atraves dos quais se <strong>de</strong>senvolve a enunciac;ao - sendo este ultimo 0<br />

ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>de</strong>ste capitulo.<br />

A cenografia <strong>de</strong> dada obra e dominada pelo cemirio litenirio; ele e 0<br />

que vem a conferir "0 contexto pragmatico<br />

a obra, associando urnaposic;ao <strong>de</strong><br />

"autor" e <strong>de</strong> "publico" cujas modalida<strong>de</strong>s variam <strong>de</strong> acordo com as epocas e as<br />

socieda<strong>de</strong>s.<br />

o Poeta H. Dobal vale-se da cenografia validada pela lrnguagem<br />

apresentada nos poemas para fazer surg1T urn novo tempo: urn tempo superior ao<br />

tempo do poeta , aquele tempo quese encarrega <strong>de</strong> transportar 0 passado a<br />

construc;ao do presente. 0 presente e 0 tempo do poeta. Urn tempo <strong>de</strong> dor, <strong>de</strong><br />

lembranc;as, <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong> pelo que restou da cida<strong>de</strong>; dos rios, enfun, da sua terra<br />

natal. Lembra-se que nao e somente da cenografia das lembranc;as que a obra<br />

prece<strong>de</strong>, mas tambem cenografia hurnana.<br />

o tempo <strong>de</strong>ntro da literatura vem interessando<br />

as mentes litenirias<br />

atraves das epocas, tendo merecido <strong>de</strong>staque especial na literatura<br />

contemporanea.<br />

o tempo, como diz Kant, segundo MEYER HOFF, "e a mats<br />

caracteristica forma da experiencia". E muito mais geral do que 0 espac;o porque<br />

se esten<strong>de</strong> ao mundo interior das impressoes, emoc;oes e i<strong>de</strong>ias gerais 1976, p.<br />

o tempo e <strong>de</strong> certa forma representativo<br />

para 0 homem porque nao<br />

se esten<strong>de</strong> separado do conceito do eu. Ele nasce da relac;ao do eu com as coisas.<br />

A ~xperiencia do tempo pressupoe uma altera9ao do ser.


Quando se pergunta 0 que e 0 homem, tem-se como resposta a<br />

pergunta 0 que e 0 tempo. 0 homem, na verda<strong>de</strong>, e mais do que nunca vitima<br />

<strong>de</strong> uma sucessao <strong>de</strong> mudan9as temporais:<br />

1 Nesta la<strong>de</strong>ira, urna meia-morada,<br />

2 Nesta la<strong>de</strong>ira, urna meia-vida.<br />

3 0 meio-homem<br />

4 que sobe e <strong>de</strong>sce<br />

5 pela antiguida<strong>de</strong><br />

6 <strong>de</strong>sta la<strong>de</strong>ira<br />

7 seria urn homem pleno<br />

8 se !he bastassem apenas<br />

9 a suavida<strong>de</strong> da tar<strong>de</strong><br />

10 a vira9ao do mar,<br />

11 a indolencia do tempo.<br />

(Dobal, 1997, p. 168)<br />

Logo, percebe-se no poema abaixo que 0 tempo na experiencia<br />

pessoal e testemunha <strong>de</strong> vcirias transforma90es<br />

e situa90es vivida pelo homem<br />

nurn dado espa90 fisico e psicologico. A medida que 0 homem experimenta 0<br />

tempo, prova-se a si mesmo, que <strong>de</strong> simples espectador<br />

passa a atuar gerando<br />

seu proprio tempo e espa90 autocriando seu drama.<br />

E <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa perspectiva que se busca comprovar a existencia <strong>de</strong><br />

urn outro tempo auxiliado pelo espa90 nos poemas <strong>de</strong> H. Doba!. Passa-se agora,<br />

a citar as divers as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manifesta90es da cenografia atestada em


Como ja fora dito anteriormente, a experiencia do tempo pressupoe<br />

uma altera9ao do ser. Da mesma forma po<strong>de</strong>-se dizer que 0 conhecimento nao<br />

<strong>de</strong>ixa intacto 0 objeto, tambem 0 sujeito se altera em favor <strong>de</strong> uma intera9ao<br />

dinamica entre sujeito-objeto. A medida que 0 poeta experimenta 0 tempo<br />

alimentado pelas lembran9as que se acham registradas na paIsagem, passa a<br />

criar urn outro tempo e espa90.<br />

A cenografia dos poemas <strong>de</strong> H. Dobal aponta urna discussao em<br />

tome da paisagem <strong>de</strong> cinzas que aos poucos for9a 0 nascimento <strong>de</strong> urn outro<br />

tempo.<br />

E interessante <strong>de</strong>stacar 0 efeito quase surreal, quando 0 tempo<br />

atinge, j a nao contendo em si, <strong>de</strong>sabrocha espantosamente para 0 inicio <strong>de</strong> urna<br />

outra vida provocando as vezes urna imagem visionaria para a forma9ao <strong>de</strong> um<br />

tempo superior, principaimente no livro "0 Dia sem Pressagios". Para<br />

exemplificar, veja-se 0 poema abaixo:<br />

1 0 que resta <strong>de</strong> urn homem que vive nos seus ossos<br />

2 <strong>de</strong>senterrados pOf_acaso. A limpeza<br />

3 a pureza dos ossos sobrevive ao pecado<br />

4 da came alegre noutro tempo.<br />

5 os ossos sem ra9a:<br />

6 no oitao da igreja num cemiterio <strong>de</strong> escravos<br />

7 dia e dia <strong>de</strong>scansam<br />

8 os ossos forros.


9 Nos tumulos da chapada,<br />

10 on<strong>de</strong> os tatus cavam seus mneis,<br />

11 0 costume e na lei<br />

12 0 bisavo matador <strong>de</strong> padre.<br />

13 Urn alguidar <strong>de</strong> cinzas:<br />

14 como se nunca urn nome os habitasse<br />

15 se extinguissem nos cemiterios<br />

16 os ossos. Seu po<strong>de</strong>r branco.<br />

17 Noutro tempo<br />

18 0 seu comercio <strong>de</strong> misterios:<br />

19 tao divididos tao djstanciados ou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

20 se libertam <strong>de</strong> toda ligayao com os avos.<br />

(Dobal, 1999 pg.83)<br />

As imagens recorrentes no poema citado estabelecem com 0 espayo<br />

fisico uma dupla relayao atraves dos verbos aparecer e parecer. Segundo Bosi<br />

em 0 Ser e 0 Tempo:<br />

o objeto se manifesta, aparece, abre-se a nos enquanto<br />

aparencia. Ao ser reproduzida esta aparencia ja nao se<br />

parece com 0 que nos pareceu. Dai surge a parecenya que<br />

SaD momentos contiguos que a linguagern rnantern<br />

proximos. A imagern tern urn passado que a constitui; e urn<br />

presente que a mantern viva e que permite a sua recorrencia.<br />

(Bosi, 1997, p. 15 a 16)


Essa dupla relac;ao implica justamente a possibilida<strong>de</strong> da criac;ao do<br />

espac;o da memoria atraves do espac;o fisico. Bosi comenta que:<br />

"A imagem po<strong>de</strong> ser retida e <strong>de</strong>pois suscitada pela<br />

reminiscencia ou pelo sonho. Com a retentiva, comec;a a<br />

correr aquele processo <strong>de</strong> co-existencia <strong>de</strong> tempos que<br />

marca a ac;ao da memoria: 0 agora refaz 0 passado e convive<br />

com ele.<br />

(Bosi, 1997, p. 13).<br />

o que se nos apresenta no poema e urn constante nascer. Esse<br />

nascer <strong>de</strong> novo, provem das cinzas <strong>de</strong>ixadas pelo tempo antigo (0 tempo<br />

passado). Deixa-se bem claro a presenc;a do mito da Fenix. Segundo 0 que<br />

relataram Herodoto e Plutarco, e 0 que diz Chevalier (1999, p. 422), e urn<br />

passaro mitico, <strong>de</strong> origem etiope, <strong>de</strong> urna beleza sem igual, e que tern 0 po<strong>de</strong>r,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se consumir em urna fogueira, <strong>de</strong> renascer <strong>de</strong> suas cinzas. Os aspectos<br />

simbolicos aparecem claramente: ressurreic;ao, imortalida<strong>de</strong> e reaparecimento<br />

ciclico.<br />

o projeto poetico <strong>de</strong> H. Dobal, no que diz respeito a cenografia do<br />

nascimento do tempo, consiste na utilizac;ao dos recursos semanticos que<br />

remontam aos sentidos <strong>de</strong> ruinas prenunciando 0 surgimento da vida, <strong>de</strong>pois da<br />

morte. A urn tempo ruim surge urn tempo born. Tudo isso po<strong>de</strong> ser comprovado<br />

nos versos <strong>de</strong> N2 3 e 4: "(oo.) a pureza dos ossos sobrevive ao pecado/ da came<br />

alegre noutro tempo; e 17 a 20: "noutro tempo/ 0 seu comercio <strong>de</strong> misterio:/ tao<br />

divididos tao distanciados ou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes/ se libertam <strong>de</strong> toda ligac;ao com os<br />

avos.


(...), a cmza extrai seu simbolismo do fato <strong>de</strong> ser, por<br />

excelencia, urn valor residual: aquilo que resta ap6s a<br />

extinyao do fogo e, portanto, antropocentricamente, 0<br />

cadaver, residuo do corpo <strong>de</strong>pois que nele se extinguiu 0<br />

fogo da vida (1999, p. 247).<br />

Na verda<strong>de</strong>, espiritualmente falando, esse valor residual representa,<br />

em face <strong>de</strong> urn visao escatol6gica, a nulida<strong>de</strong> ligada a vida hurnana por causa <strong>de</strong><br />

sua escassez. Todavia, esse simbolismo nao <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> representar outros sentidos<br />

e prolongamento em outras acepyoes.<br />

Portanto, 0 que nao se <strong>de</strong>ve esquecer e que aquilo que esta ligado a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> morte, liga-se, como elo, a simbologia do eterno retorno. A cinza parece<br />

<strong>de</strong>sempenhax uma funyao magica, ligada a germinayao e ao retorno cic1ico da<br />

vida manifestada.<br />

A vida rebenta tambem no poema <strong>de</strong> abertura do livro 0 Tempo<br />

Conseqiiente fazendo parte do campo <strong>de</strong> cinzas - Campo' Maior - inicialmente<br />

pelo termino <strong>de</strong> urna seca que ja se foi. Isto fica evi<strong>de</strong>nte na palavra<br />

transformayao - a seca <strong>de</strong>u lugar a vida.<br />

Veja-se 0 poema:<br />

1 Ai Campos do ver<strong>de</strong> plano<br />

2 Todo alagado <strong>de</strong> carnauba<br />

3 Ai pI<strong>anos</strong> dos tabuleiros<br />

4 tao transformados tao <strong>de</strong> repente<br />

5 nurn vasto ver<strong>de</strong> nurn plano<br />

6 campo <strong>de</strong> flores e <strong>de</strong> babuagem.


7 Ai rios breves preparados<br />

8 <strong>de</strong> noite e nuvem. Ai rios breves<br />

9 amanhecidos na varzea longa<br />

10 cabe


adjetivay3.o novo tempo n3.o implica necessariamente<br />

a criay3.o <strong>de</strong> urn tempo<br />

born.<br />

Cada lugar experimentado pelo poeta tern-suas particularida<strong>de</strong>s e<br />

oferece novos rumos para sua vida. A fazenda, os rios, a cida<strong>de</strong>, as varzeas, sao<br />

roteiros que a memoria guarda. Penetrar nesse nomes, dispo-los <strong>de</strong> modo a criar<br />

urna trajetoria geo-animica e conferir-lhes 0 espayo e somar-lhes 0 tempo, pois,<br />

sem duvida, afrrma Sant'anna "<strong>de</strong>ntro do homem encontra-se urn lugar e <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> urn lugar se encontra urn ser" (1972, p. 128).<br />

Todos esses nomes, mais tar<strong>de</strong>, revertem nnagens na memoria e<br />

<strong>de</strong>flagram sentimentos metafisicos no sujeito que 0 habitou. Conhecer esses<br />

nomes ja significa conhecer parte do sujeito.<br />

A poesia <strong>de</strong> H. Dobal, em alguns momentos e movida por urn efeito<br />

estetico surrealista. A <strong>de</strong>sarticulay3.o da or<strong>de</strong>m convencional atestada no poema<br />

As Chuvas e apenas mais urn passo para a conquista <strong>de</strong> tempo superior. Essas<br />

observayoes S3.0<strong>de</strong>monstradas nos versos das duas primeiras estrofes:<br />

..-<br />

1 Nas maos do vento as chuvas amorosas<br />

2 vinham cair nos campos <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, e <strong>de</strong> repente a vida<br />

rebentava<br />

4 Nas ramas ver<strong>de</strong>s rebentava a luz<br />

5 e a do


plasticida<strong>de</strong> e novida<strong>de</strong> da imagem. Logo, caracteriza-se, neste poema, 0<br />

processo futurista da montagem e 0 processo surrealista da seqUencia. onIDca.<br />

Ambos combinam-se pelo trac;o comum, associativo, e justapoem-se sintatica e<br />

simbolicamente os dados da imaginac;ao.<br />

Ao longo da leitura que se fez dos poemas (aqui selecionados <strong>de</strong><br />

Obras Completas <strong>de</strong> Dobal) Os Ossos, Campo Maior e As Chuvas,<br />

respectivamente pertencente as obras "0 Dia sem Pressagios, 0 Tempo<br />

Conseqiiente e A Provincia Deserta" po<strong>de</strong>-se verificar 0 tempo que nasce nas<br />

imagens que sao reativadas atraves do re-sentimento <strong>de</strong> todo urn passado que se<br />

faz presente, <strong>de</strong> todo presente que se faz presente e urn presente das coisas<br />

futuras.<br />

)I. pra~a nao tinfia fCores nem<br />

jartfim. Pra~a ")I.ntiCirica.<br />

Pra~a ae drvores mortas".<br />

Segundo Chevalier, a morte, enquanto simbolo, e 0 aspecto<br />

perecivel e <strong>de</strong>strutivel da existencia. Ela indica aquilo que <strong>de</strong>saparece na<br />

evolm;ao irreversivel das coisas e esta ligada ao simbolismo da terra. Mas<br />

tambem e, introdutora aos mundos <strong>de</strong>sconhecidos dos Infernos ou dos Paraisos<br />

(Chevalier, 1999, p.621 a 622), dai 0 seu carater ambivalente.<br />

Para os misticos, <strong>de</strong> acordo com a psicologia e a medicina, 6 da<br />

natureza hurnana a id6ia <strong>de</strong> morte justaposta sempre a id6ia <strong>de</strong> vida. A morte<br />

num dado momento ou lugar e talvez condic;ao essencial para que algo venha a<br />

nascer, constituindo urna vida superior em Qutro myel: 0 espiritual ao contrario


do "material ou bestial" ficando na sombra dos infernos. Esse outro nivel e, nada<br />

mais que a cria


16 on<strong>de</strong> outrO-gado <strong>de</strong> meninos<br />

17 procura restos <strong>de</strong> feira.<br />

18 Nao se procure em laranjeiras<br />

19 Uma pra


1 No olha vazio<br />

2 dos amantes arrependidos<br />

3 na impaciencia<br />

4 dos cavalos do vento.<br />

5 Na serenida<br />

6 que logo se planta<br />

7 na face dos mortos<br />

8 as antiliricas fon;:as<br />

9 que incessantes empurram a vida<br />

10 dia apos dia.<br />

(Dobal, 1999, 236)<br />

Sendo '"l


1 Esta paisagem morta on<strong>de</strong> somente<br />

2 van ruminando as cabras os seus dias,<br />

3 nao se ruminem em mim como lembran


1 Deste lado da morte fica a terra triste<br />

2 aon<strong>de</strong> so os <strong>de</strong>sejos retomam. Terra triste<br />

3 usurpada por outras lembranc;as: seus nos<br />

4 secam na memoria, sua memoria sem lagrima<br />

5 seca no chao salgado.<br />

6 Deste lado fica 0 brejo do sono,<br />

7 os campos on<strong>de</strong> florescem a beleza das cinzas.<br />

8 Deste lado da morte um passaro parado<br />

9 grita seu nome no calor da tar<strong>de</strong>.<br />

10 voa 0 rasga-mortalha.<br />

11 Despreparado <strong>de</strong>ste lado da morte<br />

120 homem conta os seus dias. Seu cansa90<br />

13 reverte ao po <strong>de</strong> outra terra.<br />

(Dobal, 1997, p. 82).<br />

No poema acima, constata-se<br />

a existencia <strong>de</strong> dois lados: 0 lado da<br />

morte, (sempre evi<strong>de</strong>nte); e 0 lado da vida . 0 lado da morte e comprovado pela<br />

natureza que vai parando aos poucos, voltando para sua condic;ao original: 0 po.<br />

Diante da precarieda<strong>de</strong> da vida, a morte sobressai-se como figura <strong>de</strong>struidora.<br />

Observe-se este aspecto nos versos <strong>de</strong> NQ8 a 13.<br />

o lado da morte no poema e 0 lado da vida que 0 tempo <strong>de</strong>stroi; 0<br />

lado da vida e 0 que restou na memoria do poeta, que serve <strong>de</strong> referencia para a<br />

vida que se reformara num tempo futuro: "reverte ao po <strong>de</strong> outra terra."<br />

A cida<strong>de</strong> e outra referencia espacial que 0 poeta utiliza para<br />

rep!:esentac;ao do tempo que morre.


universo" do homem. 13<br />

De acordo com Bachelard (1957, p. 200) a casa e 0 "primeiro<br />

consi<strong>de</strong>rado para ele urn verda<strong>de</strong>iro cosmo. A i<strong>de</strong>ia que<br />

se tern da"casa" e a <strong>de</strong> urn espayo verda<strong>de</strong>iramente habitado "sentido e vivido"<br />

o ser que se abriga sensibiliza os limites <strong>de</strong> seu abrigo. "Ele vive a casa em sua<br />

realida<strong>de</strong> e em sua virtualida<strong>de</strong> atraves do pensamento e dos sonhos.<br />

o sentido da "cida<strong>de</strong>" nos poemas <strong>de</strong> Dobal associa-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

casa e <strong>de</strong> ninho. 0 poeta mais que ninguem vivenciou e valorizou as cida<strong>de</strong>s por<br />

on<strong>de</strong> andou e morou. Ele trouxe consigo urna multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imagens. Essas<br />

imagens saD associadas aos diversos rerugios, que se localizam geograficamente<br />

em alguns pontos do seu universo, resultando no aparecimento <strong>de</strong> urn outro<br />

espayo que se manifesta na memoria.<br />

lniciabnente,<br />

A imagem i<strong>de</strong>ntificada nos poemas <strong>de</strong> Dobal e a da <strong>de</strong>struiyao.<br />

t~m-se a imagem do rio. 0 rio Parnaiba que coma na sua cida<strong>de</strong><br />

natal , nao corre mais entre os barrancos, rio que carrega consigo magoas,<br />

lembranyas:<br />

1 Meu rio Parnaiba feito lem-<br />

Branca<br />

2 nao corre mais entre barrancos.<br />

3 13 urn fio na memoria. Urn<br />

rio esgotado<br />

5 rio risco rio tatuado<br />

6 na <strong>de</strong>siva <strong>de</strong> urna dia perene.


7 Meu rio turvo se-.<strong>de</strong>positando<br />

8 nurn claro engano que nao se<br />

nunca mats<br />

10 <strong>de</strong> outras inffincias ensolaradas.<br />

11 Meu rio largo <strong>de</strong> agua doce<br />

<strong>de</strong> brejo<br />

12 j az 0 seu curso entre coroas<br />

e canaranas,<br />

13 e <strong>de</strong> outros meninos consumidos<br />

14 no sol <strong>de</strong> Sll8.S aguas<br />

15 nurn <strong>de</strong>lta escuro dividido<br />

16 rola 0 dia perene.<br />

(Dobal, 1997, p.25)<br />

Po<strong>de</strong>-se comprovar no poema aClllla a superposi


1 Nao corre<br />

2 nao se renova<br />

3 jaz 0 seu curso<br />

Estes tres referentes temporais saD auxiliados pela i<strong>de</strong>ia da<br />

<strong>de</strong>struic;ao em curso. A <strong>de</strong>struic;ao implica urn fluir, que po<strong>de</strong>ni ser verificado<br />

atraves <strong>de</strong> outros referentes temporais significando a morte continua. Sao eles:<br />

<strong>de</strong>positando, <strong>de</strong>scendo. Enfim, a cida<strong>de</strong> e a propria memoria do poeta em<br />

<strong>de</strong>smonte. Outra imagem que se forma nos poemas <strong>de</strong> Dobal que reporta a i<strong>de</strong>ia<br />

da <strong>de</strong>struic;ao e a cida<strong>de</strong> que se fez habitada no passado e que hoje acha-se<br />

substituida por outra cida<strong>de</strong>: A Cida<strong>de</strong> Substituida - Titulo do seu 5° livro <strong>de</strong><br />

poesias. Esta cida<strong>de</strong> - Sao Luis - ganha outra dimensao na poetica <strong>de</strong> Dobal.<br />

A arquitetura <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong> per<strong>de</strong> a sua nrimitivida<strong>de</strong> e<br />

originalida<strong>de</strong>. 0 tempo novo nao conservou 0 tempo antigo, fIcando a cida<strong>de</strong> a<br />

testemunhar sua fragmentac;ao. Sao Luis e mais urna estrutura da <strong>de</strong>composic;ao<br />

do que urna edificac;ao, po<strong>de</strong>ndo ser constatado no poema seguinte:<br />

1 Indiferente ao movimento da vida,<br />

2 urn canto <strong>de</strong> sabia<br />

3 se <strong>de</strong>speja triste<br />

4 sobre Sao Luis do Maranhao.<br />

5 Canto, pranto, lamentac;ao <strong>de</strong> sabia<br />

6 atravessando 0 dia e a noite,<br />

7 atravessando 0 ceu e a terra.


8 A passagem da lua,<br />

9 a passagem das velas nos canais<br />

10 que a mare transforma e retransforma,<br />

11 a solidao das igrejas,<br />

12 a ameac;:aosoli<strong>de</strong>z <strong>de</strong>stes sobrados,<br />

13 nada po<strong>de</strong> vencer<br />

14 a tristeza <strong>de</strong>ste canto.<br />

15 Este canto nao vem<br />

16 <strong>de</strong> uma palmeira invisivel.<br />

17 Vem da gaiola acima da escala<br />

18 e corta a sala, 0 j ardim, atinge a rua<br />

19 on<strong>de</strong> os onibus soluc;:am.<br />

20 Mais ainda: atinge tudo isto<br />

21 que esta sendo chamado a <strong>de</strong>saparecer.<br />

o estilo mew fragmentado, 0 aCUmulo <strong>de</strong> imagens surrealistas<br />

<strong>de</strong>notam a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong> erguida no tempo, como no poema a seguir:<br />

1 Urn urubu na praia<br />

2 luta contra 0 vento.<br />

3 Paira, plana sobre os quintais <strong>de</strong> areia,<br />

4 on<strong>de</strong> a salsa<br />

5 <strong>de</strong>rrama as suas raizes.<br />

6 Depois se <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> pela imensidao.<br />

7 E urn urubu no azul,<br />

8 ganhador das alturas,


9 contemplando sob suas asas<br />

10 a manha imensunivel,<br />

11 esquecido <strong>de</strong> tudo,<br />

12 tornado pelo puro prazer do voo.<br />

Dentro da nossa cultura oci<strong>de</strong>ntal, especialmente aqui no Piaui, 0<br />

urubu e urna especie <strong>de</strong> aye agourenta que sobrevive dos restos em<br />

<strong>de</strong>composi9aO. Dessa forma ela mantem 0 equilibrio do cosmo contribuindo<br />

com 0 bem estar do meio ambiente. Logo, nao <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser urn passaro<br />

mensageiro e anunciador <strong>de</strong> urn outro tempo.<br />

A arquitetura <strong>de</strong>finha tambem, nos sobradoes que outrora fora casa<br />

noturna requintada, e hoje acham-se prostituidos.<br />

bor<strong>de</strong>l:<br />

0 sobradao transforma-se em<br />

1 0 tempo antigo se <strong>de</strong>str6i<br />

2 nestes sobrados prostituidos.<br />

3 Aqui outrora se falou <strong>de</strong> amor,<br />

4 Se fez amor nestas alcovas<br />

5 On<strong>de</strong> hoje os carinhos se compram.<br />

6 Aqui moravam baroes e baronesas. (...)<br />

7 Hoje SaDsobradoes <strong>de</strong>teriorados<br />

8 Sao bor<strong>de</strong>is. E aqui 0 amor se revoga,<br />

9 0 tempo antigo morre<strong>de</strong> novo.<br />

(Dobal, 1997, p. 176)


A nova cida<strong>de</strong> construida na- acep9ao <strong>de</strong> Dobal, e uma cida<strong>de</strong><br />

esquecida, sem tradi9ao, sem mem6ria:<br />

1 Diferente, <strong>de</strong>formada,<br />

2 sera urna cida<strong>de</strong><br />

3 esquecida <strong>de</strong> si mesma.<br />

4 Tudo tera sido inutil.<br />

5 A brisa nos beirais,<br />

6 a gl6ria dos casar5es coloniais,<br />

7 0 Umido cheiro da noite<br />

8 nos jasmineiros em £lor,<br />

9 a ban<strong>de</strong>ira branca dos domingos<br />

10 estendida sobre a paz dos azulejos.<br />

11 Umcida<strong>de</strong> implacavel<br />

12 suplanta a velha cida<strong>de</strong>.<br />

13 Gutra cida<strong>de</strong><br />

14implacavel imp5e<br />

15 a sua face vulgar<br />

16 nestes lagos e la<strong>de</strong>iras,<br />

17 p.este antigo lugar.<br />

Diante <strong>de</strong>sse amontoado <strong>de</strong> formas sugeridas anteriormente,<br />

registra-se a presen9a da morte <strong>de</strong>ntro do £luxo vital. A cida<strong>de</strong> esvai-se atraves<br />

das imagens que se fragmentam no tempo e espa90.<br />

S6 sobram restos <strong>de</strong> urn passado queentra como tecido da mem6ria<br />

em sua poesia. Cada canto revisitado pela lembran


cronologia topologica: 0 tempo antigo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sao Luis. Tudo isso po<strong>de</strong> ser<br />

comprovado no poema abaixo.<br />

1 Estas velhas pare<strong>de</strong>s nao confessam<br />

2 it brisa sem memoria os seus segredos.<br />

3 A pedra construida sobre a pedra,<br />

4 nurna estranha argamassa reforyada<br />

5 por suor <strong>de</strong> escravo e oleo <strong>de</strong> baleia,<br />

6 como se alguem quisesse levantar,<br />

7 contra 0 sereno da noite,<br />

8 contra a ferrugem do mar,<br />

9 urna alvenaria libertada<br />

10 <strong>de</strong> tudo 0 que a morte corrompe.<br />

11 Mas pouco permanece. Estas pare<strong>de</strong>s<br />

12 vao-se abatendo semi<strong>de</strong>struidas<br />

13 pelo duro movimento dos dias.<br />

14 Bate na tar<strong>de</strong> urn vento claro,<br />

15 bate no peito uma lembranya<br />

16 que estas pare<strong>de</strong>s nao confessam:<br />

17 A vida. A magoa sem remedio. 0jogo do amor,<br />

18 talvez mais·dificil naquele tempo.<br />

A urn tempo que nasce suce<strong>de</strong> outro que morre e que da<br />

continuida<strong>de</strong> ao ciclo da vida. Outro tempo se arquiteta nos poemas <strong>de</strong> Dobal a<br />

ser visto no item a seguir.


o tempo continua a fazer sua trajetoria. A medida que se esta a<br />

contemplar a natureza, a propria vida, ele se manifesta lentamente. E lentamente<br />

reativa as imagens passadas, presentes e futuras atraves <strong>de</strong> uma categoria a<br />

saber: a categoria do presente.<br />

Sobre essa categoria, Santo Agostinho, citado por Sant'anna<br />

acrescenta que:<br />

"nao existem tres categorias divers as <strong>de</strong> tempo, senao urn<br />

presente das coisas passadas, urn presente das coisas<br />

nresente c e urn presente das coisas futuras."<br />

(1972, p. 213)<br />

<strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> duree:<br />

Esse presente continuo da consciencia, Bergson, segundo Sant'anna<br />

Nisso consiste a duree. A duree interior e a vida continua <strong>de</strong><br />

urna memoria que prolonga 0 passado no presente, quer seja<br />

porque 0 presente guarda, <strong>de</strong> forma distinta,a imagem<br />

sempre crescente do passado, quer seja por que ele revela,<br />

pela sua continua mudanya <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, a carga cada vez<br />

mais pesada que arrastamos conosco· a medida que vamos<br />

envelhecendo. Nao havendo esta sobrevivencia do passado<br />

no presente, nao haveria duree, mas somente<br />

instantaneida<strong>de</strong>.<br />

(Sant'anna 1972, p 213)


Dessa forma fica j ustificado na concep


do sujeito da enunciac;ao, que se dilui no-.-enunciado trazendo a cenografia da<br />

memoria que recria a imagem poetica do tempo revisitado.<br />

Veja-se a passagem seguinte:<br />

urn potro<br />

2 mal preparado pelachuva nova<br />

3 e <strong>de</strong>pois corre pelo campo ver<strong>de</strong><br />

4 como espantado pela vastidao.<br />

5 No chao <strong>de</strong>ste flffi se per<strong>de</strong> 0<br />

potro<br />

6 <strong>de</strong>sembestado pela vida fora,<br />

7 e a noite 0 seu galope ainda<br />

perdura.<br />

8 Em sonho e sonho percutindo os cascos.<br />

9 Mas quando 0 dia se renova 0<br />

potro<br />

10 trazido pela chuva vem <strong>de</strong> novo<br />

11 correr seu sonho sobre as carnaubas.<br />

Outro topico a ser ressaltado no trecho acima e a rememorac;ao - e<br />

o registro subjetivo do tempo vivido. A <strong>de</strong>scriC;ao<strong>de</strong> ambientes, o~jetos, compoe<br />

urn sistema <strong>de</strong> signos, suporte para 0 reencontro<br />

do tempo da lembranc;a.<br />

das impressoes e sentimentos<br />

I Este poem a, como se po<strong>de</strong> conferir, ja foi utilizado<br />

exemplo.<br />

na analise do Tempo que Nasce. Outra vez se toma como


Kant <strong>de</strong>frniu tempo e espayo como condiyoes preliminares do<br />

conhecimento. A sensibilida<strong>de</strong> permite ao homem ter acesso, ao mundo externo,<br />

o entendimento pensa os dados fornecidos pela sensibilida<strong>de</strong>.<br />

o tempo surge como uma possibilida<strong>de</strong>, como urn vetor do<br />

movimento em direyao ao futuro que se organiza a partir do passado. 0 tempo<br />

passado carrega consigo as opyoes feitas, cristalizadas<br />

<strong>de</strong> ser e articular <strong>de</strong> sua conservayao ou superayao.Veja-se:<br />

na escolha <strong>de</strong> urn modo<br />

A Ra.;a<br />

" (...)Sem pressa vai-se formando<br />

urn cansayo raciado.<br />

Urn cruzar <strong>de</strong> sangue urn renitente<br />

nascer <strong>de</strong> novo (...)."<br />

(Dobal, 1997, p. 38)<br />

o tecido da memoria em Dobal constitYi-se daespacializayao do<br />

tempo: cada objeto revisitado pela lembranya obe<strong>de</strong>ce a urna curiosa cronologia<br />

topologica.<br />

"(oo.) E como urn sonho permanece 0 tempo<br />

em seu passado. Lento vai crescendo<br />

na paisagem das cabras urn menino (...)"<br />

(Buc6lica, 1997, p. 34)<br />

Pelas imagens VIsualS e termicas, ele re-experimenta 0 tempo<br />

passado atraves da inffincia <strong>de</strong>spertando<br />

no corpo_ As emo90es dos muitos em<br />

vividos, nurna alquimia <strong>de</strong> imagens espayos-temporais.


Repetir, segundo a etimologia do verbo latino: petere - procurar, ir<br />

buscar <strong>de</strong> novo significa voltar as fontes do ser e circunscrever urn.periplo em<br />

tomo <strong>de</strong> si mesmo atraves da repetiyao.<br />

Em H. Dobal toda tentativa e feita para superar 0 tempo passado a<br />

partir do proprio tempo presente. Ele se repete no intuito <strong>de</strong> se projetar, se<br />

recriar. Expressa tambem urn.anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regenerayao da vida. Ele suspen<strong>de</strong><br />

o tempo e fixa urn.presente continuo. Observe-se 0 poema a seguir:<br />

Os Olhos D' Agua<br />

1 De repente retoma esta lembranya<br />

2 <strong>de</strong> abacateiros junto dos riachos,<br />

3 <strong>de</strong> brej os com seu funido silencio<br />

4 on<strong>de</strong> a manha das aguas renascia.<br />

5 Agua <strong>de</strong> brejo renovando a vida<br />

6 e a sua paz, <strong>de</strong> manhazinha cedo.<br />

7 POyos profundos para 0 banho frio<br />

8 on<strong>de</strong> alma e corpo logo se lavavam.<br />

9 Recomeya outra vez 0 dia puro:<br />

10 na areia branca e [ma os olhos d'agua<br />

11 e os peixinhos dourados se repetem


12 como restos <strong>de</strong> sonhos poluidos<br />

13 parando na lembran9a passageira<br />

14 <strong>de</strong>ste silencio <strong>de</strong>saparecido.<br />

(Dobal, 1997, p. 105)<br />

as referentes temporais da repeti9ao encontram-se <strong>de</strong>marcados<br />

pelos verbos "retomar", "renascer", "renovando", "lavavam", "recome9ar" que<br />

fIxam muito bem a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cicio mostrando<br />

a continua volta a vida em suas<br />

mesmas e diferentes formas.<br />

Em surna, 0 que Dobal preten<strong>de</strong> e reunir vida passada, presente e<br />

futura nurn projeto que aspira a continuida<strong>de</strong> do tempo.<br />

2.3.3 0 TEMPO CONTINUA NA CENOGRAFIA HUMANA ATRA YES<br />

DAMEMORIA<br />

Este item encontra-se relacionado ao tempo que se recupera na<br />

cenografIa da memoria. Esta cenografIa refere-se as lembran9as do Piaui. Ja a<br />

cenografIa hurnana atraves da memoria e como urn momenta especial para 0<br />

poeta. Ele inclui <strong>de</strong>ntro do mundo da <strong>de</strong>scri9ao a lembran9a dos ancestrais,<br />

"daqueles que fIcaram atras - tanto no espa90<br />

(provincia) quanta no tempo (morte) volta<br />

insistentemente a memoria do habitante da metropole.<br />

Vma sensa9ao <strong>de</strong> que algo do poeta se vai per<strong>de</strong>ndo<br />

com aqueles que fIcaram atras."<br />

(Sant'anna. 1972. p. 183)


A morte esta relacionada a imagens <strong>de</strong> pessoas queridas e ilustres<br />

<strong>de</strong>ntro da poesia <strong>de</strong> Dobal.<br />

A comeyar por Leonardo <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores Castelo<br />

Branco que "tomou parte activissima na proclamayao da In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia" (Dobal,<br />

1997, p. 42):<br />

"( ...) 115 E vemos separado<br />

116 sem <strong>de</strong>ixar sobra no tempo<br />

117 poeta inventor soIdado<br />

118 Leonardo<br />

119 Da Senhora das Dores.<br />

120 Castelo Branco<br />

121 habil nas cavalhadas<br />

122 e na mecanica do verso<br />

123 sangue sem fruto guerreiro preso<br />

125 nome escrito<br />

126 na agua mais breve. (...)"<br />

(Dobal, 1997, p. 48)<br />

Outro <strong>de</strong>staque e uma figura que refu1e0 sagrado e 0 profano.<br />

1 Convocava os po<strong>de</strong>res<br />

2 que os outros nao tinham<br />

3 Benzia com rezas<br />

4 que ninguem sabia.


5 Fechava os corpos<br />

6 abria as almas<br />

7 e enganava<br />

8 os <strong>de</strong>senganados.<br />

(Dobal, 1997, p. 135)<br />

1 Outra Maria,<br />

2 assim comC'tantas,<br />

3 usada e abusada,<br />

4 <strong>de</strong>sgastada,<br />

5 frouxa<br />

6 como urn sapato velho.<br />

(Dobal, 1997, pg. 35)<br />

1 Teodoro Gomes,<br />

2 advogado,<br />

3 contador,<br />

4 professor,<br />

5 paraninfo perpetuo


6 <strong>de</strong> todos os formandos,<br />

7 cuspia, bebia,<br />

8 revivia a vida<br />

9 no brilho das conversas.<br />

10 E ficava 0 mesmo,<br />

11 permanecia,<br />

12 enquanto as gerac;oes<br />

se sucediam<br />

1 Nos limites<br />

2 da Casa Amarela,<br />

3 fim-<strong>de</strong>-caminho,<br />

4 comec;o da mina<br />

5 das mulheres da vida<br />

6 ficava 0 politico:<br />

7 Manuel Alves Bezerra,<br />

8 (0 Bezerrao Pessedista)<br />

(Dobal, 1997, p. 139)<br />

Pensar as pessoas do passado estando no presente e uma maneira <strong>de</strong><br />

"estar com os outros" (Sant'anna, 1972, 184)<br />

Dessa forma ele e consciente que se enten<strong>de</strong> nos amigos e recolhe<br />

os anugos em si mesmo. Dessa maneira, vive em comunhao com os que se<br />

foram e continua a erguer seu discurso triste, -dolorido e sofrido:


1 0 homem pobre.<br />

2 0 seu po<strong>de</strong>r nenhurn<br />

3 sobre os bens e os servi


homem chegando ao fun do curso do rio,.-ehega antes a urn fun do que a uma<br />

realiza


c1arida<strong>de</strong>s. Parte sempre do principio para a conquista do tempo, mas <strong>de</strong>scobre<br />

no momenta da conquista que 0 esta per<strong>de</strong>ndo. E atraves <strong>de</strong>ssa perda que<br />

encontrara a perpetua9ao, a propria vida, retirada da vida que se estrutura aMm<br />

da morte. Note-se 0 poema abaixo:<br />

1 Por todo e sempre<br />

embalado<br />

2 nas can90es da noite,<br />

3 urn homem diante<br />

4 dos misterios do mundo.<br />

5 Nos portais do dia<br />

6 os [ogos da manha:<br />

7 urn homem e seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> paz-<br />

8 no escuro espa90<br />

9 alem do ceu.<br />

10 Os caminhos do vento<br />

11 nas planeiras da tar<strong>de</strong>:<br />

12 urnhomem<br />

13 existindo<br />

14 resistindo<br />

15 as vagarosas nuvens do verao.<br />

(Doba~ 1997,p.229)


Neste poema ele incorporou a transitorieda<strong>de</strong> da vida atraves da<br />

expressao "ephemera". "0 homem se coloca diante dos misterios do mundo" e 0<br />

que ele ve e urn mundo fisico e urn mundo pratico em que a hurnanida<strong>de</strong> vive,<br />

urn mundo <strong>de</strong> aparencias on<strong>de</strong> tudo passa. Por isso fIxa algumas essencias que<br />

nao passam e que SaD etemas. Como exemplo, a fon;a do homem diante dos<br />

obstaculos que 0 mundo fisico oferece, como a propria morte mesmo estando<br />

em vida.<br />

Como se po<strong>de</strong> constatar a cenografIa do tempo que nasce, do tempo<br />

que morre e do tempo que continua constroi a arquitetura poetica <strong>de</strong> H. Doba!.<br />

Como ja fora dito anteriormente na nota introdutoria <strong>de</strong>ste capitulo. Ha urna<br />

or<strong>de</strong>m ciclica caracterizando tempo e espa


Tendo sido comprovado no capitulo anterior A Cenografia<br />

anunciando 0 Tempo que Nast,;f\ 0 Tempo que Morre e 0 Tempo que Continua<br />

na Paisagem, convem, neste terceiro momento, mostrar atraves <strong>de</strong> alguns<br />

processos estilisticos como as superposiyoes, os paralelismos, as rupturas e<br />

outros recursos reestruturam-se na formayao do novo tempo;<br />

Antes, faz-se necessario dizer, que para 0 estudo do tempo e espayO<br />

nao serao levados em consi<strong>de</strong>rayao somente os verbos, mas tambem a <strong>de</strong>scriyao<br />

<strong>de</strong> outros elementos <strong>de</strong>ntro da estrutura da frase que carregam conotayoes<br />

temporalizantes que merecem <strong>de</strong>staque nesta amilise.<br />

Ressaltar que cada poema tern sua estrutura especifica. "Nao ha<br />

receitas para se analisar e interpretar textos" (Goldstein, 1987, p. 59). E neste<br />

sentido que se propoe esta leitura. Outros aspectos po<strong>de</strong>rao ser observados<br />

ficandoa criterio da sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada leitor.<br />

Passa-se, portanto, a analise dos diversos recursos estilisticos.


3.1 AS SUPERPOSI(OES<br />

Quando 0 poeta Dobal diz: Ai Campos <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> plano/ todo<br />

alagado <strong>de</strong> camaubas (...), tem-se ai uma rnetafora, po is todas essas <strong>de</strong>scri


1 Ai rios do Piaui, agua rica <strong>de</strong> peixe<br />

2 <strong>de</strong> couro e <strong>de</strong> escama.<br />

3 De todos rios sobra urna cantiga<br />

4 <strong>de</strong> bem viver. Urn rio preguic;oso<br />

5 se compraz no seu curso. Outro rio<br />

6 subternlneo se afunda no peito.<br />

7 Campo <strong>de</strong> areia, agua viva nos pes,<br />

8 agua-pesada na memoria.<br />

9 Senhor das dimens5es urn rio segue<br />

10 suas margens renovadas, ribanceiras<br />

11 movedic;as. Urn rio move<br />

12 seus habitantes, sellS <strong>de</strong>stmos.<br />

13 Dodo -da Cabeceiras<br />

14-conhecedor dos rios<br />

15 com eles apren<strong>de</strong>u<br />

17 0 seu ritmo irregular urn rio instala<br />

18 Faz a sua propria forc;a. Cava os seus camais<br />

19 seus tributarios arrecada.<br />

20Agua <strong>de</strong> beber, agua <strong>de</strong> lavar,<br />

21 agua <strong>de</strong> nuvem, agua <strong>de</strong> chao.


22 Move!. Migrante. Urn rio.<br />

23 Jamais 0 mesmo.<br />

As montagens que se constroem na poetica <strong>de</strong> H. Dobal saG: 0<br />

presentesobre<br />

0 passado e 0 passado sobre 0 passado.<br />

Mais urna vez se diz que a experiencia<br />

do tempo pressupoe urna<br />

alterac;ao do ser, A m{3r!idaque homem experimenta 0 tempo, prova-se a 81<br />

mesmo, que <strong>de</strong> simples expectador passa a atuar gerando seu proprio drama.<br />

No poema acima 0 poeta passa a viver seu drama a partir do<br />

presente. 0 presente e a referencia logica para a constru9ao <strong>de</strong> urn tempo que<br />

ora acha-se longinquo (passado) mas que esta bem proximo da sua realida<strong>de</strong>. 0<br />

homem <strong>de</strong> hoje narra 0 tempo que passou. Este item po<strong>de</strong> ser observado nos<br />

versos <strong>de</strong> N Q 1 ao <strong>de</strong> N Q 6, em que 0 homem lamenta a precarieda<strong>de</strong> da natureza<br />

pela ac;ao do tempo, culpando-se, em parte, por aquele rio que se compraz no<br />

seu curso.<br />

Portanto, outro tempo e arquitetado no poema atraves da memoria<br />

do homem que presenciou a vida (versos <strong>de</strong> N Q 13 a 16), e, hoje, presencia a<br />

morte (versos <strong>de</strong> NQ22 e 23).<br />

Este tempo presente relaciona-se a urn espac;o Social e Historico. A<br />

constatac;ao <strong>de</strong> tudo que foi essencia <strong>de</strong> urna dada epoca the vem da analise do<br />

espac;o que the e dado a frequentar.


Outro tempo se forma na poesia <strong>de</strong> Dohal. 0 passado <strong>de</strong>ntro do<br />

passado e vivido pelo menino que lemhra dos tempos <strong>de</strong> sua avo, <strong>de</strong> sua infancia<br />

na fazenda:<br />

(...) Ai campos <strong>de</strong> criar. Fazenda<br />

<strong>de</strong> minha avo on<strong>de</strong> outrora<br />

havia banhos <strong>de</strong> leite. Ai lendas<br />

tramadas pelo invemo. Ai latifUndios.<br />

(Campo Maior in Ohra Completa, 1997, p. 25)<br />

As superposi90es temporais concorrem no poema para a forma9aO<br />

do novo tempo, aproveitando,<br />

que freqilenta.<br />

<strong>de</strong>ssa forma, 0 drama do poeta diante do espa90<br />

3.1.2 A SUPERPOSI


1 Antilirica pra9a<br />

2 <strong>de</strong> arvores mortas.<br />

3 Baldio <strong>de</strong> peixes<br />

4 e 0 teu cimento<br />

5 e namorados<br />

6 <strong>de</strong> olhar <strong>de</strong> peixe<br />

7 nas tuas pistas<br />

8 passeiam teu <strong>de</strong>samor.<br />

9 Estes confins a pra9a<br />

10 pren<strong>de</strong>m entre montanhas<br />

11 E tristes tristes <strong>de</strong> tao longe<br />

12 voltam as planicies do Piaui.<br />

13 Ai pra9a, compascuo <strong>de</strong> namorados,<br />

14 pastagem dura <strong>de</strong> cimento<br />

15 sem 0 gado e 0 sol do Piaui,<br />

16 on<strong>de</strong> outro gada <strong>de</strong> meninos<br />

17 procura restos <strong>de</strong> feira.<br />

18 Nt!o se procure em Laranjeiras<br />

19 uma pra9a (on<strong>de</strong> ela esta).<br />

20 Mas nesta vida e por inteira<br />

21 e antilirica em seu estar.<br />

22 E antilivre nos seus restos<br />

23que os ex-meninos vem buscar,.


25 <strong>de</strong> olhar <strong>de</strong> peixe, antipra


1 Estas pedras se gastam com 0 tempo.<br />

2 Vao lentamente se <strong>de</strong>sgastando<br />

3 e 0 tempo lhes sobra para as lembranyas<br />

4 que nao conservam. A caso haveni<br />

5 mais do que ceu e sol mais do que pedra<br />

6 <strong>de</strong>sta seca paragem outra memoria.<br />

7 Aqui 0 ceu e a lembranya mais bela.<br />

8 0 clarazul ceu do Piau! e a <strong>de</strong>stroyada<br />

9 pedra simulayao <strong>de</strong> minas<br />

10 (on<strong>de</strong> os moeos se esron<strong>de</strong>m)<br />

11 on<strong>de</strong> somente as macambiras vingam.<br />

12 Aqui os bois do agreste <strong>de</strong>sgarrados<br />

13 vem pastar osilencio e a calmaria<br />

14 das tar<strong>de</strong>s vem ariscos ruminando<br />

15 a lentidao dos dias 0 repouso<br />

16 dos domingos espalhados na chapada.<br />

20 A paisagem <strong>de</strong> cinza <strong>de</strong>vorada<br />

21 e suminada pelas cabras mansas,<br />

26 E em nos a fome 0 perguntar calado,<br />

27 <strong>de</strong>sembestados cavalos cujo impeto<br />

28 ou voo articulado nestas pedras


<strong>30</strong> 0 tempo gasta estas pedras<br />

31 com mil artificios repetidos.<br />

32 Contra a pedra eo tempo nos afiamos<br />

33 e em nos porfiamos estas lembranyas<br />

34 que se vao <strong>de</strong>sgastando para nunca:<br />

35 estas formas <strong>de</strong> pedra simulacra<br />

36 <strong>de</strong> bichos ou <strong>de</strong> sonhos sao perguntas<br />

37 ao claro azul as arenosas trilhas<br />

38 que aceitamos aqui como os domingos<br />

39 sem sucessao plantados na chapada.<br />

(Dobal, 1997, p. <strong>30</strong>)<br />

Duas situayoes sao tomadas aqui. A situayao precaria da paisagem<br />

do Piau! e as lembranyas que se vao gastando para nunca )que se formul£\a<br />

memoria do poeta.<br />

~ Isto po<strong>de</strong> ser muito bem representado atraves do pronome "nos"<br />

gC . / /<br />

que ora' acha-~li~(expressef claramente, ora subtendidfnos versos do poema.<br />

Comprove-se nos versos <strong>de</strong> N Q 26,33 e 38.<br />

As superposiyoes que sao <strong>de</strong>stacadas neste estudo contribuem para<br />

a efetivayao do tempo que morre na poetica <strong>de</strong> Doba!.<br />

expressar uma i<strong>de</strong>ia, urn verso, frase ou -sentenya, e repeti-Ios com palavras


diferentes no verso, frase ou sentenya seguinte. Sua articulayao fundamental e a<br />

binaria, uma especie <strong>de</strong> forma geral do pensar humano (Trevisan, 2000, p. 76).<br />

Os casos mais simples <strong>de</strong>ssa articulayao sao as dobradinhas verbais ou <strong>de</strong> termos<br />

sinonimicos - significado e som semelhantes - distinta das duas duplas verbais<br />

antiteticas.<br />

1 0 paralelismo sinonimico;<br />

2 0 paralelismo antitetico;<br />

3 0 paralelismo sintetico.<br />

vejaLre alguns exemplos <strong>de</strong> paralelismos mals comuns em sua<br />

1 Setembro. A tar<strong>de</strong> repetida<br />

2 contra 0 ceu <strong>de</strong> chumbo.<br />

3 A mesma tar<strong>de</strong>: 0 sol<br />

4 sobre a peninsula suI,<br />

5 0 branco voo das garyas<br />

6 sobre as aguas sujas,<br />

7 os fantasmas do vento<br />

8 soltos na poeira.<br />

9 Esta tar<strong>de</strong> nao passa<br />

10 fica em setembro<br />

11 na turbayao dos horizontes.<br />

12 Mas passam a vida, aamar,


13 0 peito seco, e a paz<br />

14 que nao cresce no planalto.<br />

,J.X"<br />

--<br />

(i ".<br />

(ONV~,\<br />

o poema acima ttrrra=-secle~a paralelismo sinonimico.<br />

o poeta reproduz do 3° verso em diante, 0 que anunciou nos dois<br />

primeiros. "A expressao "A mesma tar<strong>de</strong>" e substituida pela expressao "A tar<strong>de</strong><br />

repetida". Do verso <strong>de</strong> N Q 9 ao <strong>de</strong> N Q 14 concretiza-se mais intensamente a id6ia<br />

exposta do inicio do poema.<br />

Ainda no poema em questao, e i<strong>de</strong>ntificado 0 plano espacial e 0<br />

plano temporal. No plano espacial a imagem que se forma na visao do poeta: "A<br />

tar<strong>de</strong> repetida contra 0 ceu <strong>de</strong> churnbo"; no plano temporal contempla-se a<br />

passagem do tempo atraves d0 enuncj~do "A mesma tar<strong>de</strong>" e "Esta tar<strong>de</strong>". Por<br />

ultimo, 0 poeta envereda pelo aspecto afetivo: ele afirma passar 0 amor, a vida,<br />

o peito seco,enfim, tudo passa, s6 nao cresce no planalto a paz.<br />

Outro caso citado e 0 paralelismo<br />

---<br />

sempre contraposta a afirmativa inicial:<br />

antitetico. Neste, a realida<strong>de</strong> e<br />

1 0 pai <strong>de</strong> linda<br />

2 e urn corredor<br />

3 <strong>de</strong> longa distancia<br />

4 <strong>de</strong> born cora9ao<br />

5 <strong>de</strong> pouca visao. (...)<br />

(Dobal, 1997, p. 125)<br />

As anti<strong>teses</strong> aparecem mais no plano da <strong>de</strong>scrir;ao humana. E pelo<br />

contraste que 0 poeta <strong>de</strong>screve 0 ser hurnano.


o sintetico, outro paralelismo que se <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> gradativo,<br />

progresslvo formal, ou ritmico. Segundo Trevisan, "e quando se reitera urn<br />

tempo ou expressao, ajuntando-se-lhe<br />

foi dito (2000, p. 80):<br />

algum complemento, que acentua 0 que ja<br />

1 Teodoro Gomes<br />

2 advogado,<br />

3 professor,<br />

4 paraninfo perpetuo<br />

5 <strong>de</strong> todos os formandos,<br />

6 cuspia, bebia<br />

7 revivia·a vida<br />

8 no brilho das conversas,<br />

9 na fumaya das conversas. (:..)<br />

(Dobal, 1997, p. 137)<br />

Neste caso, a gradayao esta na <strong>de</strong>scriyao da figura humana Teodoro<br />

Gomes: advogado, contador, professor. E tambem atraves da situayao em que<br />

esta mesma pessoa se encontrava: cuspia, bebia e reVIVla. Este tipo <strong>de</strong><br />

paralelismo se toma mais dificil <strong>de</strong> se <strong>de</strong>scobrir pelo fato <strong>de</strong> apresentar<br />

elementos que nao 0 distinguem das formas prece<strong>de</strong>ntes.


Antes, preten<strong>de</strong>-se dizer que nao e pretensao abordar todos os tipos<br />

<strong>de</strong> ruptura enumerados por Bousoiio,somente alguns serao <strong>de</strong>stacados nos<br />

poemas <strong>de</strong> H. Dobal. Dentre tantos, a Ruptura num sistema <strong>de</strong> representa


3.3.1 RUPTURA NUM SISTEMA DE REPRESENTACAO<br />

Este tipo <strong>de</strong> ruptura po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fmido como 0 contrato estabelecido<br />

pelo poeta entre duas ou mais representa


Portanto, presa limita-se a urn espayo fisico e <strong>de</strong>scoberta ao infinito.<br />

Logo A (presa) e diferente <strong>de</strong> B (<strong>de</strong>scoberta).<br />

1 Pedro Caboco,<br />

2 matador <strong>de</strong> onya,<br />

3 nao era cayador:<br />

4 era contador <strong>de</strong> hist6ria.<br />

(Dobal, 1997, p. 158)<br />

Ocorre que 0 aajetivo "matador" no 2° verso e 0 "cayador" do 3°<br />

verso fun<strong>de</strong>m-se num s6: "contador" do 4° verso. No contexto, a expressao<br />

"matador <strong>de</strong> onya" e diferente da expressao "nao era cayador" . No final do<br />

poema espera-se outra atribuiyao a ser dada ao "Her6i" menos 0 <strong>de</strong> "Contador<br />

<strong>de</strong> Hist6rias". Ocorre portanto, uma ruptura no sistema.


3.3.3 RUPTURA NO SISTEMA DAS CONVEN


unagens, processos, construc;oes, escolha das palavras bem como os que ja<br />

[oram estudados neste capitulo. 0 Trabalho poetico consiste numa maneira nova<br />

<strong>de</strong> traduzir com palavras os sentimentos. Em suma, "a poesia nada mais e que<br />

essa chama. Nada do que [oi vivido <strong>de</strong>sapareceu,<br />

daquele que [ala" (Steban, 1991, p. Ill).<br />

tudo se reconcilia no presente


Ao fmal <strong>de</strong>ste estudo retoma-se alguns pontos discutidos e que sao<br />

<strong>de</strong> capital importancia para 0 nascimento do tempo em H. Doba!.<br />

a primeiro <strong>de</strong>les e 0 fato da poesia ser condi


Nasce na Paisagem, 0 Tempo que Morre na Paisagem eO Tempo que Continua<br />

na Paisagem.<br />

No tempo que nasce, afrrma-se a presen9a- da vida que rebenta na<br />

paisagem <strong>de</strong> cinzas para a forma9ao <strong>de</strong> urn outro tempo; no tempo que morre. a<br />

paisagem se <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong>struir pelo tempo criando condi90es para 0 surgimento do<br />

tempo superior (0 tempo vindouro ). No tempo que contiriua prova-se 0<br />

surgimento da vida apos a morte. Por isso H. Dobal, para a continua9ao do<br />

tempo, ele <strong>de</strong>staca a memoria (recriada imagem poetica do tempo revisitado), a<br />

rememora9ao (registro do tempo vivido), da repeti9ao (supera9ao do tempo<br />

passado pelo presente), da lembran9a da cenografia hurnana (dos que ficaram<br />

para tnis, mas encontram <strong>de</strong>ntro do poeta) e da eternida<strong>de</strong> (simbolo da<br />

intimida<strong>de</strong> do tempo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte). Esses tres tempos comprovados constituem<br />

a arquitetura poetica <strong>de</strong> H. Dobal. Nao se <strong>de</strong>ixa enten<strong>de</strong>r que seu proieto<br />

conclua-se por aqui, porem fica esclarecido que 0 homem chegando perto dofim<br />

do curso da vida, chega antes do flffi, da realiza9ao <strong>de</strong> seus sonhos. Ate la 0<br />

.tempo continua. Ele vai completando sua trajetoria-elclica <strong>de</strong> vida-morte-vida<br />

como po<strong>de</strong> ser verificada em toda obra poetica. 0 tempo continua a se perpetuar<br />

e continuara se perpetuando rumando a urn tempo superior.


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