21.05.2014 Views

digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...

digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...

digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Letras</strong><br />

d i g i t a i s<br />

Teses e Dissertações originais <strong>em</strong> formato digital<br />

Das Margens do Corpo a o<br />

Corpo <strong>de</strong> Linguag<strong>em</strong>:<br />

A Incorporação n a Poética <strong>de</strong><br />

Gilberto d e Mendonça Teles<br />

Val<strong>de</strong>n i<strong>de</strong>s Cabral d e Araújo Dias<br />

1999<br />

<strong>Programa</strong> <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação<br />

<strong>em</strong> <strong>Letras</strong>


Ficha Técnica<br />

Coor<strong>de</strong>nação do Projeto <strong>Letras</strong> Digitais<br />

Angela Paiva Dionísio e Anco Márcio Tenório Vieira (orgs.)<br />

Consultoria Técnica<br />

Augusto Noronha e Karla Vi<strong>da</strong>l (Pipa Comunicação)<br />

Projeto Gráfico e Finalização<br />

Karla Vi<strong>da</strong>l e Augusto Noronha (Pipa Comunicação)<br />

Digitalização dos Originais<br />

Maria Cândi<strong>da</strong> Paiva Dionízio<br />

Revisão<br />

Angela Paiva Dionísio, Anco Márcio Tenório Vieira e Michelle Leonor <strong>da</strong> Silva<br />

Produção<br />

Pipa Comunicação<br />

Apoio Técnico<br />

Michelle Leonor <strong>da</strong> Silva e Rebeca Fernan<strong>de</strong>s Penha<br />

Apoio Institucional<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />

<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> <strong>Letras</strong>


Apresentação<br />

Criar um acervo é registrar uma história. Criar um acervo digital é dinamizar a<br />

história. É com essa perspectiva que a Coor<strong>de</strong>nação do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

<strong>em</strong> <strong>Letras</strong>, representa<strong>da</strong> nas pessoas dos professores Angela Paiva Dionisio e Anco<br />

Márcio Tenório Vieira, criou, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006, o projeto <strong>Letras</strong> Digitais: 30<br />

anos <strong>de</strong> teses e dissertações. Esse projeto surgiu <strong>de</strong>ntre as ações com<strong>em</strong>orativas<br />

dos 30 anos do PG <strong>Letras</strong>, programa que teve início com cursos <strong>de</strong> Especialização<br />

<strong>em</strong> 1975. No segundo s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 1976, surgiu o Mestrado <strong>em</strong> Linguística e Teoria<br />

<strong>da</strong> Literatura, que obteve cre<strong>de</strong>nciamento <strong>em</strong> 1980. Os cursos <strong>de</strong> Doutorado <strong>em</strong><br />

Linguística e Teoria <strong>da</strong> Literatura iniciaram, respectivamente, <strong>em</strong> 1990 e 1996. É<br />

relevante frisar que o <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> <strong>Letras</strong> <strong>da</strong> <strong>UFPE</strong>, <strong>de</strong> longa<br />

tradição <strong>em</strong> pesquisa, foi o primeiro a ser instalado no Nor<strong>de</strong>ste e Norte do País. Em<br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2008, contava com 455 dissertações e 110 teses <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s.<br />

Diante <strong>de</strong> tão grandioso acervo e do fato <strong>de</strong> apenas as pesquisas <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s a partir<br />

<strong>de</strong> 2005 possuir<strong>em</strong> uma versão digital para consulta, os professores Angela Paiva<br />

Dionisio e Anco Márcio Tenório Vieira, autores do referido projeto, <strong>de</strong>cidiram<br />

oferecer para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> acadêmica uma versão digital <strong>da</strong>s teses e dissertações<br />

produzi<strong>da</strong>s ao longo <strong>de</strong>stes 30 anos <strong>de</strong> história. Criaram, então, o projeto <strong>Letras</strong><br />

Digitais: 30 anos <strong>de</strong> teses e dissertações com os seguintes objetivos:<br />

(i) produzir um CD-ROM com as informações fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong>s 469<br />

teses/dissertações <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s até <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006 (autor, orientador, resumo,<br />

palavras-chave, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa, área <strong>de</strong> concentração e nível <strong>de</strong> titulação);


(ii) criar um Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, digitalizando<br />

todo o acervo originalmente constituído apenas <strong>da</strong> versão impressa;<br />

(iii) criar o hotsite <strong>Letras</strong> Digitais: Teses e Dissertações originais <strong>em</strong> formato<br />

digital, para publicização <strong>da</strong>s teses e dissertações mediante autorização dos<br />

autores;<br />

(iv) transportar para mídia eletrônica off-line as teses e dissertações digitaliza<strong>da</strong>s,<br />

para integrar o Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, disponível<br />

para consulta na Sala <strong>de</strong> Leitura César Leal;<br />

(v) publicar <strong>em</strong> DVD coletâneas com as teses e dissertações digitalizados,<br />

organiza<strong>da</strong>s por área concentração, por nível <strong>de</strong> titulação, por orientação etc.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento do projeto prevê ações <strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns, tais como:<br />

(i) <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>rnação <strong>da</strong>s obras para procedimento alimentação automática <strong>de</strong><br />

escaner;<br />

(ii) tratamento técnico <strong>de</strong>scritivo <strong>em</strong> meta<strong>da</strong>dos;<br />

(iii) produção <strong>de</strong> Portable Document File (PDF);<br />

(iv) revisão do material digitalizado<br />

(v) procedimentos <strong>de</strong> reenca<strong>de</strong>rnação <strong>da</strong>s obras após digitalização;<br />

(vi) diagramação e finalização dos e-books;<br />

(vii) backup dos e-books <strong>em</strong> mídia externa (CD-ROM e DVD);<br />

(viii) <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> rotinas para regularização e/ou cessão <strong>de</strong> registro <strong>de</strong><br />

Direitos Autorais.<br />

Os organizadores


Das Margens do Corp o ao<br />

Corpo <strong>de</strong> Linguag<strong>em</strong>:<br />

A Incorporação na Poética <strong>de</strong><br />

Gilberto <strong>de</strong> Mendon ça Teles<br />

V al<strong>de</strong>ni<strong>de</strong>s Cabral <strong>de</strong> Araújo Dias<br />

1999<br />

Copyright © Val<strong>de</strong>ni<strong>de</strong>s Cabral <strong>de</strong> Araújo Dias, 1999<br />

Reservados todos os direitos <strong>de</strong>sta edição. Reprodução proibi<strong>da</strong>, mesmo parcialmente,<br />

s<strong>em</strong> autorização expressa do autor.


~A5 MARG~N5 ~O CORl'O AO CORl'O ~.~ LINGUAG~M:<br />

: A INCO~l'O~A~AO NA PO~"leA ~~ GILa~~,.O M~N"PON~A"~L~S<br />

Disserta~ao apresentaoa ao Proerarna oe P6s-GraoM~aO <strong>em</strong> <strong>Letras</strong> e LingiUstica oa<br />

UniversioaOe Feoeral oe Pernambuco para obten~ao 00 grau oe Mestre <strong>em</strong> Teoria<br />

oa Literatura.<br />

'Redfe<br />

1999


«<br />

U<br />

F<br />

U)<br />

U)<br />

UJ<br />

, ...•<br />

.• UJ<br />

: ::E t-<br />

:<br />

;5<br />

UJ«<br />

:t) t.r<br />

t)<br />

:c( Z<br />

:t) A<br />

:z: Z<br />

: ...• - ~ UJ<br />

:uJa<br />

:A t-<br />

:0 f£<br />

:~ uJ<br />

:f£ CQ<br />

:U 5<br />

;0 uJ<br />

:c( A<br />

:~ U<br />

:f£ F<br />

: O'uJ<br />

:tJ a<br />

:0 ~<br />

:A «<br />

;U) Z<br />

:z: a<br />

:uJ1«<br />

'2: U :t)<br />

«<br />

t.r<br />

:f£«<br />

:c( f£<br />

:::> «<br />

: ::E a<br />

f£<br />

...• ~<br />

: "'. f£<br />

t)<br />

:c( a<br />

f£<br />

a :A tJ<br />

~ ' -«<br />

a<br />

U !i •..•<br />

:::>alLJ<br />

CQ1« U)<br />

~ t.r «<br />

«C«Cf£<br />

zUtf£-lLJ<br />

lLJ~ •..•<br />

lLJ ~~~<br />

alLJ<br />

A<br />

•••• Ua<br />

«C UJ1«<br />

f£U)t.r<br />

UJUJ«<br />

At-:::><br />

UJf£A<br />

J.h«C«<br />

UJUJf£<br />

AAt)<br />

«au)<br />

e f£,a<br />

U)t-~<br />

f£ZUJ<br />

UJUJ A<br />

Z ~<br />

: :::> a<br />

:0 •...•<br />

:0 «<br />

:Z<br />

lI)<br />

« iso<br />

,'d«ft:<br />

xt)<br />

« o~:z:<br />

~<br />

«<br />

lJJ<br />

~<br />

-4<br />

'lJJ<br />

«<br />

lI)<br />

~« ft:<br />

o<br />

t) lI)<br />

lI) lI)<br />

lJJ lJJ<br />

~ »..<br />

ZlJJ<br />

~ ~<br />

-4 eC<br />

« o~«)-<br />

?<br />

lJJ<br />

F<br />

lI)<br />

(i)<br />

«<br />

o ft:<br />

u ()l<br />

(» ()l<br />

ft: ••<br />

~()l<br />

:z:<br />

lJJ<br />

~ o


UMIV~~~I'PA1)~T'~'P~~A.1. 'P~1"~~MAMBUCO<br />

C~M1~O'P~A~1~~ ~ COMUMICA~Ao<br />

1"~Oa~AMA 'P~1"O~-a~A1)UA~AO~M .1.~1~A~~ l.IMaOi~1ICA


Fara Celio e Olivia Augusta,<br />

<strong>da</strong>is mundos <strong>de</strong> forc;a e <strong>de</strong> sonhos: minha razao <strong>de</strong> viver e<br />

amar;<br />

A minha familia, companheira na disttincia, soli<strong>da</strong>ria nos momentos dificeis. Uni<strong>da</strong>,<br />

s<strong>em</strong>pre uni<strong>da</strong> e mais ama<strong>da</strong>;<br />

Aos companheiros<br />

<strong>da</strong> Graduac;ao: Espedito, Milton, Delcimar, Fe. Neto, Maria Soares,<br />

Neves, Socorro, Juracy, Grac;as Leal;<br />

Fara Maria <strong>de</strong> Fatima Falmeira, <strong>da</strong>s minhas primeiras<br />

Cacimbas;<br />

lic;oes abertas no chao <strong>da</strong>s


Ao professor Sebastien Joachim, guia nas buscas e entendimentos <strong>da</strong>s coisas do<br />

corpo e <strong>da</strong> alma: "niio e li9iio nenhuma, apenas poe abaixo / os <strong>em</strong>pecilhos a uma boa<br />

li9iio,/ e essa aos <strong>de</strong> outra, e ca<strong>da</strong> uma a ca<strong>da</strong> outra ";.<br />

Aos professores Lourival Holan<strong>da</strong>, Ivaldo Bittencourt, Luis Antonio Marcuschi,<br />

Luzila Gonyalves, Maria Teresa Leal, Vera Lucia Luna, Nelly Carvalho, 0<br />

reconhecimento <strong>da</strong> importancia <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> liyao recebi<strong>da</strong>;<br />

Ao poeta Gilberto Mendon~a Teles, cujo corpo <strong>de</strong> palavras me <strong>de</strong>ixou explorar<br />

e <strong>de</strong>le retirar 0 tesouro dos sentidos e dos nao sentidos: "uma pedra no meio do<br />

caminho,/ ou apenas um rastro, niio importa"'/ Este poeta e meu;<br />

Ao professor Roland Walter, pela leitura atenta <strong>de</strong>ste trabalho e pelas sugestoes<br />

enriquecedoras;<br />

A Secretaria <strong>da</strong> P6s-Graduay3.o<br />

<strong>em</strong> <strong>Letras</strong> e Lingiiistica, nas pessoas <strong>de</strong> Eraldo e<br />

Aos companheiros <strong>de</strong> curso: Silvia, Jaqueline, Fabiana, Paulo Cesar, Alci<strong>de</strong>s,<br />

Gilvano, Roberta e Bruno, amigos para s<strong>em</strong>pre;<br />

A UFRN, particularmente ao CERES - Campus <strong>de</strong> Caic6, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhei as<br />

minhas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s profissionais.<br />

se llllCla.<br />

Ao Campus <strong>de</strong> Currais Novos, pelo acolhimento nesta nova fase profissional que


SUMARIO<br />

INTRODUQAO 08<br />

1.1 Entre 0 Espac;o e 0 T<strong>em</strong>po.................................... 19<br />

1.2 Ato <strong>de</strong> Pensar Ato <strong>de</strong> Criar 24<br />

1.2.1 0 Fundo <strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong> 27<br />

1.2.2 Exercicio para Mao Esquer<strong>da</strong> 30<br />

1.3 A Casa 36<br />

1.4 0 Espac;o Al<strong>em</strong> <strong>da</strong> Mascara do T<strong>em</strong>po 42<br />

11- A CORPOREIDADE 48<br />

2. 1 0 Corpo.............................................................. 50<br />

2.2 Corpo <strong>de</strong> Linguag<strong>em</strong> 52<br />

2.2.1 A Sintaxe VisiveL 53<br />

2.2.2 Sons e Sentidos: 0 cio <strong>da</strong>s vogais e<br />

consoan tes. ........ . .. ... ... ..... ......... 58<br />

2.2.3 Todos os Sentidos 63<br />

2.2.4 "Aventurras" Neo-fono-Logicas 75<br />

2.2.5 Outros Corpos 86<br />

2.3 0 Corpo e suas Margens <strong>de</strong> Sentido 93<br />

2.3.1 0 Corpo Erotico e suas Zonas 95


Nossa analise teve como objetivo mostrar como se <strong>da</strong> 0 processo <strong>de</strong><br />

incorporayao textual na poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles, mais especificamente, nos<br />

livros Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong> Sombras.<br />

Seguimos aqui 0 percurso <strong>de</strong> sua escriturayao, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0 ate <strong>de</strong> pensar a sua poesia<br />

ate 0 momenta <strong>em</strong> que se oferece ao leitor como corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, primeiro: as<br />

armadilhas <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> e <strong>da</strong> lingua, a <strong>de</strong>vorayao <strong>da</strong> palavra e sua digestao, a sonora e<br />

sensual-i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s palavras no momenta <strong>de</strong> sua "escalavraC;ao". Depois, como corpo<br />

er6tico a circular <strong>de</strong>ntro do corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>: 0 lance <strong>de</strong> <strong>de</strong>dos, a fragmentayao, 0<br />

<strong>de</strong>scontinuo do corpo, as suas margens e zonas; 0 melhor <strong>da</strong> mulher-palavra-poesia e <strong>de</strong><br />

sua transgressao<br />

dita par urn hom<strong>em</strong>.<br />

Do encontro <strong>de</strong>sses dois corpos resulta a saturayao e a superayao dos limites do<br />

pleno e do vazio: ha 0 transbor<strong>da</strong>r<br />

<strong>da</strong> essencia humana <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> poesia, coisa que<br />

Gilberto Mendonya Teles consegue repassar a n6s, leitores e criticos <strong>de</strong> sua obra. "Das<br />

Margens do Corpo ao Corpo <strong>de</strong> Linguag<strong>em</strong>" e uma travessia dificil e inicial <strong>de</strong>ntro do<br />

que ele <strong>de</strong>fine como materia intransitiva e escura. S6 mesmo pelo silencio e possivel<br />

transpor essa ponte que flui entre 0 <strong>de</strong>sejo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> e 0 <strong>de</strong>sejo do corpo.


INTRODUvAo<br />

E bastante significativa a analise que v<strong>em</strong> sendo feita <strong>da</strong> poetica <strong>de</strong> Gilberto<br />

Mendonya Teles, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0 inicio <strong>de</strong> sua obra ate as ultimos livros publieados. E urn<br />

escritor que se divi<strong>de</strong> entre a poesia e a critica, sendo reconhecido<br />

<strong>em</strong> ambos os campos.<br />

o poeta e urn goiano resi<strong>de</strong>nte no Rio <strong>de</strong> Janeiro, cujo reeonheeimento como<br />

eritico e como poeta, principalmente, valeu-lhe uma classificayao <strong>de</strong> sua obra <strong>em</strong> fases<br />

distintas - municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral - chegando hoje a alcanyar, pelo conjunto <strong>de</strong> sua<br />

obra, urn espayo universal, tomando-se uma figura liteniria "que se projeta como<br />

sintese <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as vertentes <strong>da</strong> poesia universal do seculo XX <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as literaturas".<br />

A poesia veio antes <strong>da</strong> critica, iniciando-se <strong>em</strong> 1955 com a livro Alvora<strong>da</strong>, e<br />

prosseguindo <strong>em</strong> 1956 com Estrela D' Alva e <strong>em</strong> 1958 com Planicie, sendo os tres<br />

eonsi<strong>de</strong>rados pela critica portadores <strong>de</strong> uma t<strong>em</strong>citica ain<strong>da</strong> com sabor pamasiano. Com<br />

Fabula <strong>de</strong> Fogo(1961), sua poesia foi adquirindo contomos mo<strong>de</strong>rnist as e trayos <strong>de</strong> urn<br />

trabalho <strong>de</strong> eriayao bastante individual. Essa peeuliari<strong>da</strong><strong>de</strong> marea todos as seus trabalhos<br />

subsequentes - Passaro <strong>de</strong> Pedra (1962), Sintaxe Invisivel (1967), A Raiz <strong>da</strong> Fala (1972),<br />

Arte <strong>de</strong> Armar (1977).<br />

Segundo a eritica, e com Saeiologia Goiana (1982) que Gilberto Mendonya<br />

Ieles<br />

atinge a patamar dos gran<strong>de</strong>s poetas, resumindo neste livro to do urn pensamento<br />

mo<strong>de</strong>rnista brasileiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a S<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>ma ate entao. Esta ai retrata<strong>da</strong> a<br />

ruptura <strong>de</strong> tudo 0 que signifiea, para 0 poeta, perteneer<br />

a uma "gerG(;ao". Eneontra-se<br />

nele imbrica<strong>da</strong> uma critiea soeio-politico-eultural intensifiea<strong>da</strong> pelo usa eonstante <strong>da</strong><br />

linguag<strong>em</strong> popular <strong>em</strong> eonfronto<br />

com a linguag<strong>em</strong> eulta. E urn "proso<strong>em</strong>a ", para b<strong>em</strong><br />

usar as palavras do poeta, au uma "ebobeia" <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong> Goias, cujas narrativas sac<br />

viveneia<strong>da</strong>s e eonta<strong>da</strong>s par urn saci, insaeiavel no seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> seduyao e <strong>da</strong>nayao.


Por duas vezes teve ja os seus po<strong>em</strong>as reunidos: primeiro numa ediyao <strong>de</strong> 1978,<br />

com 0 titulo Po<strong>em</strong>as Reunidos e <strong>em</strong> 1986 com 0 titulo Hora Aberta. Neste periodo<br />

Gilberto Mendonya Teles publicou mais dois livros: Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong><br />

Sombras, os quais serao objetos <strong>de</strong> analise especificos nesta dissertayao e serao<br />

<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente abor<strong>da</strong>dos no fmal <strong>de</strong>sta apresentayao.<br />

Em 1993 v<strong>em</strong> a publicayao <strong>de</strong> Nominais, uma experiencia com a posmo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

trazendo po<strong>em</strong>as concretos, fractais e criayoes completamente nominais,<br />

<strong>em</strong> sua maioria. Nominais tamb<strong>em</strong> traz dois importantes estudos: 0 primeiro, <strong>de</strong> Joao<br />

Ricardo Mo<strong>de</strong>rno, colocando 0 leitor £rente a questao <strong>da</strong> economia estetica utiliza<strong>da</strong> por<br />

Gilberto Mendonya Teles, 0 que faz com que 0 vejamos como urn poeta experimental.<br />

A analise <strong>de</strong> Ricardo Mo<strong>de</strong>rno v<strong>em</strong> <strong>de</strong> encontro a epigrafe utiliza<strong>da</strong> pelo poeta na<br />

abertura <strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> Estilistica, que e uma <strong>da</strong>s partes do livro, quando diz que "en poesia<br />

la juventud s610 se alcanza con los ailos". 0 segundo estudo, <strong>de</strong> Jose Fernan<strong>de</strong>s,<br />

analisando os po<strong>em</strong>as do ponto <strong>de</strong> vista visual, mostra a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> que tern 0 poeta <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brar 0 mundo <strong>em</strong> palavras, <strong>de</strong> produzir imagens, <strong>de</strong> fazer, por meio <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>struiyao, a materializayao <strong>de</strong> sua poesia.<br />

Ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1993, numa seleyao <strong>de</strong> Luiz Busatto,<br />

teve os seus Melhores Po<strong>em</strong>as<br />

reunidos. Conforme Busatto,<br />

0 que norteou a escolha <strong>de</strong>stes po<strong>em</strong>as foi a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r melhor a obra do autor partindo <strong>de</strong> sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que fosse<br />

possivel captar 0 que ele <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> "trepi<strong>da</strong>r;ilo vital ", essa constante busca <strong>de</strong><br />

criayao apesar do tumulto do mundo e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

1998 trouxe a coletanea Sonetos, on<strong>de</strong> 0 proprio poeta prefacia 0 livro fazendo<br />

tres observayoes distintas - t<strong>em</strong>po, forma/fOrma e para uma teoria do po<strong>em</strong>a -<br />

explicitando os motivos que 0 levaram a escrever essa forma fixa, tao antiga, mas<br />

revaloriza<strong>da</strong> e impregna<strong>da</strong> <strong>de</strong> novos ritmos, rimas, imagens. Segundo 0 poeta, 0 que 0<br />

leva a pnitica <strong>de</strong>sta forma fixa e "a maior a<strong>de</strong>quar;ilo <strong>de</strong> sua forma<br />

e <strong>de</strong> sua estrlltura ao<br />

meu sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>de</strong> ar;ilo, quando 0 t<strong>em</strong>po (que e, ate pelo titulo, uma constante<br />

estilistica <strong>de</strong>ste livro) e sonido com to<strong>da</strong> sofreguidilo, exaustivamente. Ha, portanto,<br />

uma relac;ilo entre () dinamismo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rna e a forma po<strong>em</strong>atica". 0 livro mostra


uma retrospectiva, iniciando com sonetos <strong>de</strong> 1998 e fechando com sonetos <strong>de</strong> 1955,<br />

numa especie <strong>de</strong> eterno retorno as fontes primitivas <strong>de</strong> sua criayao poetica.<br />

Dois <strong>de</strong>staques para a poesia telesiana publica<strong>da</strong> fora do Brasil. Trata-se,<br />

primeiramente, <strong>da</strong> ediyao bilinglie portugues/frances, L' Animal, edita<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1990, pela<br />

L ,Harmattan, Paris, cuja maioria dos po<strong>em</strong>as pertenc<strong>em</strong> ao Plural <strong>de</strong> Nuvens.<br />

Neste livro, Jean-Clau<strong>de</strong> ELIAS, como prefaciador, refere-se <strong>de</strong>sse modo ao poeta:<br />

"Ce n 'est pas la competence universitaire qui inspirera au poete um<br />

savoir-faire poetique, mais au contraire 1'instinct poetique qui conduit<br />

"l'animal" lvlend-om;a a flairer la poesie partout oil elle se cache: ~4u<br />

creux <strong>de</strong> 1'ombre sans caverne '."<br />

Tamb<strong>em</strong> a antologia poetica <strong>em</strong> espanhol, Casa <strong>de</strong> Vidrio , lanya<strong>da</strong> este ano, pela<br />

Luso-Espanola <strong>de</strong> Ediciones, <strong>de</strong> Salamanca, reunindo po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> outras antologias,<br />

alguns <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens e <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras. Deste ultimo, tomou urn dos<br />

po<strong>em</strong>as fun<strong>da</strong>dores para 0 entendimento do t<strong>em</strong>po e do espayO <strong>da</strong> corporei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> obra<br />

telesiana a que nos propomos<br />

estu<strong>da</strong>r no primeiro capitulo. A respeito disso, diz Angel<br />

Marcos no prefacio:<br />

"La imagen <strong>de</strong> la casa 0 <strong>de</strong> su campo s<strong>em</strong>imtico es una<br />

constante en la poesia <strong>de</strong> Gilberto y 10persigue en varios<br />

po<strong>em</strong>as.·'<br />

Resta-nos, portanto, situarmos os dois livros que irao fun<strong>da</strong>mentar todo 0<br />

trabalho <strong>de</strong> dissertayao: Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong> Sombras.<br />

Plural <strong>de</strong> Nuvens como & Cone <strong>de</strong> Sombras reun<strong>em</strong> os po<strong>em</strong>as escritos na<br />

<strong>de</strong>ca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, epoca <strong>em</strong> que a produyao literaria no Brasil ostentava uma t<strong>em</strong>atica<br />

erotica. Basta l<strong>em</strong>brar que essa escolha t<strong>em</strong>atica, com tudo que girava <strong>em</strong> torno <strong>de</strong>la, foi<br />

atribui<strong>da</strong> a to<strong>da</strong> uma probl<strong>em</strong>


prosa que na poesIa. S6 para citar alguns nomes <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque t<strong>em</strong>os Dalton Irevisan<br />

com A Polaquinha, Caio Fernando Abreu com Morangos Mofados, Rub<strong>em</strong> Fonseca<br />

com A Gran<strong>de</strong> Arte, Haroldo Maranhao com As Peles Frias, entre outros. Na poesia 0<br />

<strong>de</strong>staque vai para 0 Amor Natural, <strong>de</strong> Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, a cujos<br />

manuscritos 0 poeta teve acesso na <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, <strong>em</strong>bora s6 publicado p6s-morte, <strong>em</strong><br />

Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong> Sombras serao tornados numa analise conjunta,<br />

numa tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelar a quintessencia do auter - que e a palavra,<br />

"escrava e livre,<br />

a se exilar par <strong>de</strong>ntro" <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> texto. Nestes dois livros estao reunidos seus<br />

experimentos, seus estranhos habitos <strong>de</strong> invenyao e inversao <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, on<strong>de</strong> foi<br />

criado urn pacta verbal que the possibilita encontros constantes com a<br />

"melhorpalavra<br />

", com a "mulher-palavra". Irat<strong>em</strong>os, pois, <strong>de</strong> virar pelo avesso a construyao<br />

<strong>da</strong> poetica te1esianae tent<strong>em</strong>os ler 0 que se encontra subscrito. Me1hor mesmo e tentar<br />

infiltrarmo-nos por entre as nuvens e as sombras e prosseguirmos al<strong>em</strong> <strong>da</strong> luz que se<br />

<strong>de</strong>ixa filtrar atraves <strong>de</strong>sse cone - icone plural. Melhor, entrarmos no jogo <strong>de</strong>sse cntico e<br />

poeta <strong>em</strong> potencial que <strong>de</strong>monstra a ca<strong>da</strong> nova obra 0 que e po<strong>de</strong>r ir alt~mdo que se<br />

po<strong>de</strong> fazer com a palavra.<br />

Ler 0 que esta subscrito, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar que algo escape ao nosso olhar, para nao<br />

<strong>de</strong>sviar dos caminhos aqui trayados para leitura e analise. S6 abrindo 0 Aurelio, esse<br />

sedutor - como fez Leila Perrone-Moises 1 -<br />

numa tentativa <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r os <strong>de</strong>svios <strong>de</strong><br />

sentido que adquir<strong>em</strong> as palavras quando toma<strong>da</strong>s por esse liter-rato <strong>em</strong> sua liter-atura.<br />

Com ares <strong>de</strong> sufixo, 0 dicionario nos diz <strong>de</strong> 'rato' como algo confirmado, reconhecido,<br />

ratificado;<br />

atura v<strong>em</strong> do verbo aturar, como ate continuado e persistente. Melhor<br />

dizendo, 0 que torna Gilberto Mendonya Ie1es urn liter-rato e esse ato continuo e<br />

persistente que, ao longo <strong>de</strong> sua<br />

obra, v<strong>em</strong> experimentando com as palavras, tirando-a<br />

do lugar-comum, <strong>de</strong>sdobrando-a numa Liter-atura capaz <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>r mo<strong>de</strong>los preexistentes<br />

s<strong>em</strong>, no entanto, <strong>de</strong>spreza-los.<br />

i Cf. Leila PERRONE-MOISES, <strong>em</strong> Flores cia Escrivaninha, quando fala do diciomirio como um "tr<strong>em</strong>endo<br />

sedutor" . p. 13.


A analise <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong> Sombras que ora <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>mos<br />

encontra-se dividi<strong>da</strong> <strong>em</strong> duas gran<strong>de</strong>s partes. Na primeira, tratamos <strong>de</strong> questoes<br />

relevantes aeerea do ato eriador e <strong>de</strong> todo 0 seu processo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0 momenta anterior a<br />

escrita. Como se <strong>de</strong>senha a cenografia do texto e como este se faz palco pelas maos do<br />

poeta - sujeito <strong>da</strong> enunciayao, para a eneenayao do eorpo <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a plenitu<strong>de</strong> do ser. 0<br />

T<strong>em</strong>po e 0 Espayo <strong>da</strong> Corporei<strong>da</strong><strong>de</strong> reline el<strong>em</strong>entos ligados ao ser <strong>da</strong> poesia,<br />

indissociavel do ser do poeta: t<strong>em</strong>po, espayO e existencia formando uma ca<strong>de</strong>ia transformadora<br />

<strong>de</strong> urn corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sdobnivel.<br />

A tarefa aqui e <strong>de</strong> tomar as duas obras poeticas <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles ,<br />

Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong> Sombras, para fazer uma analise <strong>de</strong>sse corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong> e seus <strong>de</strong>sdobramentos. Cabe aqui "penetrar 0 impenetravel momento <strong>de</strong><br />

poesia" e tentar ir ao "mais obscuro sonho <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>" <strong>de</strong>sse poeta que se faz s<strong>em</strong>pre<br />

dinfunieo e, pela palavra, vai eriando "imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> outra imag<strong>em</strong>", atravessando "os<br />

instantes s<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po" e existindo "<strong>em</strong> ca<strong>da</strong> coisa, como uma nuv<strong>em</strong> interdita, uma<br />

beleza s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>seja<strong>da</strong>": urn corpo.<br />

abor<strong>da</strong>r<br />

Na segun<strong>da</strong> parte, referindo-se a Corporei<strong>da</strong><strong>de</strong>, propriamente dita, tratamos <strong>de</strong><br />

urn t<strong>em</strong>a ate entao pouco explorado <strong>em</strong> sua poesia, que e a questao <strong>da</strong><br />

linguag<strong>em</strong> torna<strong>da</strong> eorpo e <strong>de</strong> urn corpo tactilizante, erotizado, sensual a <strong>em</strong>ergir <strong>de</strong>sse<br />

corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>. Primeiro, a analise <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua materializac;ao sonora<br />

influenciando a sintaxe, a melodia frasal e a propria criayao e escolha lexical que ira<br />

conformar esse eorpo textual. Em segui<strong>da</strong>, tratamos do corpo <strong>em</strong>ergente <strong>de</strong>sse eorpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong>: 0 eorpo f<strong>em</strong>inino evi<strong>de</strong>nciado <strong>de</strong>ntro do corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> telesiano, com<br />

to<strong>da</strong>s as suas implicayoes amorosas - sua fragmentayao, seu silencio provocador do<br />

erotismo e <strong>da</strong> sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Nas entrenuvens dos textos ha sombras, mas ha urn cone invertido ( oco,<br />

portanto, f<strong>em</strong>inino, conforme Freud ) a verter 0<br />

"caos <strong>da</strong> orig<strong>em</strong> / a materia <strong>da</strong>s<br />

nuvens ". a linguag<strong>em</strong> do eorpo e 0 eorpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>. "Gota a gota ", 0 passaro do


eal "fechou 0 livro <strong>de</strong> teoria<br />

abriu as veias" e, num "resmungo <strong>da</strong> lingua ", refugiouse<br />

na linguag<strong>em</strong>. Atravessou a caverna e se fez todo <strong>de</strong>sejo. E quando tudo <strong>em</strong> Gilberto<br />

Mendon9a Teles<br />

e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, a magia verbal se faz corpo. V<strong>em</strong> entao Barthes<br />

(1973: 78 ) e diz que 0 escritor mant<strong>em</strong> uma rela9ao constante <strong>de</strong> prazer com a lingua<br />

materna. Segundo ele, "0 escritor e algu<strong>em</strong> que brinca com 0 corpo <strong>da</strong> mile: para 0<br />

glorificar, para 0 <strong>em</strong> belezar, ou para 0 <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brar, para 0 levar ate 0 limite <strong>da</strong>quilo<br />

que do corpo po<strong>de</strong> ser reconhecido<br />

(...) uma <strong>de</strong>sfigurac;ilo <strong>da</strong> lingua".<br />

o corpo escreve 0 que percebe e 0 que <strong>de</strong>seja. Nos dois livros analisados<br />

perceb<strong>em</strong>os que ha esse mergulho <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo do corpo no corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> que<br />

retorna <strong>de</strong>sdobravel. E urn corpo <strong>de</strong>sejando <strong>de</strong>scobrir 0 que ha por tras <strong>da</strong>s sombras que<br />

se projetam <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> caverna-corpo e ganham vi<strong>da</strong> nos espa90S do texto. E sac<br />

basicamente esses pontos que preten<strong>de</strong>mos atingir neste estudo, tomando como<br />

referencia te6rica os processos que envolv<strong>em</strong> a incorpora9ao textual, <strong>de</strong>senvolvidos por<br />

Dominique Maingueneau ( 1995 ). Para ele, a incorpora9ao textual liga-se ao etos e e<br />

por ele que a obra toma corpo. Etos aqui entendido nao como a Ret6rica Antiga 0<br />

entendia, ligando-se apenas ao aspecto <strong>da</strong> orat6ria, mas como algo que relaciona a voz<br />

<strong>de</strong> urn enunciador a uma certa<br />

<strong>de</strong>terrnina9ao do corpo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma dimensao espacia1.<br />

Via etos, a incorpora9ao se <strong>da</strong> <strong>em</strong> tres fases distintas, <strong>em</strong>bora indissociaveis: ha urn<br />

fiador, responsavel por <strong>da</strong>r corpo a obra, urn co-enunciador<br />

que incorpora uma forma <strong>de</strong><br />

se relacionar com 0 mundo e uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> imaginaria, constitui<strong>da</strong> do corpo <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que faz uso <strong>da</strong> obra. E urn processo que passa pela insta-ncia criadora e<br />

atravessa a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como urn ser representativo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> tornado ser. A<br />

incorpora9ao textual constitui-se, portanto, a partir do momento <strong>em</strong> que pensarmos 0<br />

texto como urn ser <strong>de</strong> palavras criado por algu<strong>em</strong>, urn autor. Esse autor torna-se<br />

responsavel por conferir ao texto uma materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> ser pressenti<strong>da</strong> por qu<strong>em</strong> 0<br />

Ie. Completando 0 pensamento <strong>de</strong> Maingueneau, varios outros te6ricos serao<br />

apresentados no <strong>de</strong>correr dos capitulos, como Michel Foucault, George Bataille, Pierre<br />

Guiraud, Gaston Bachelard, entre outros.


Pierre Guiraud (1991:42) esta <strong>de</strong> acordo com a proposta <strong>de</strong> Maingueneau<br />

quando diz que falamos com 0 corpo e 0 nosso corpo fala <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s formas e<br />

<strong>em</strong> niveis diversos. E pelo corpo que a linguag<strong>em</strong> fiui e forma urn "corpo anaI6gico", a<br />

ponto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarmos a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as palavras r<strong>em</strong>ontar<strong>em</strong> a imagens<br />

corporais. Conforme Guiraud, 0 "corpo <strong>em</strong>presta suas formas, fim90es e estados a<br />

conceitos <strong>em</strong> que <strong>de</strong>ixa sua marca, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que lhes dd nome ".<br />

Nos seus estudos<br />

sobre a imag<strong>em</strong> do corpo Paul Schil<strong>de</strong>r (1994: 185) <strong>da</strong> dicas<br />

para uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> psicossocial do corpo .. Para ele, 0 nosso corpo age e respon<strong>de</strong> a<br />

a


eal, 0 segundo ao corpo simb6lico e 0 terceiro ao corpo <strong>de</strong> imagens.<br />

Conforme Lacan (1988),0<br />

possiveis afetado:<br />

corpo e habitado pela linguag<strong>em</strong>, sendo <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as maneiras<br />

'jalo com meu corpo, e isso, s<strong>em</strong> saber. Assim, s<strong>em</strong>pre digo mais do<br />

que set'. Por esse motivo, <strong>em</strong> alguns pontos <strong>de</strong>ste trabalho, 0 pensamento lacaniano<br />

se fara presente, <strong>em</strong> especial na segun<strong>da</strong> parte que tratara do corpo f<strong>em</strong>inino,<br />

fragment ado, como objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, como objeto er6tico e servira como reforyo a<br />

concepyao tripartite <strong>de</strong> George Bataille (1988) acerca do erotismo como campo <strong>da</strong><br />

violayao, <strong>da</strong> transgressao<br />

<strong>da</strong>s normas.<br />

Fazer essa analise conjunta <strong>da</strong>s duas obras, reporta-nos a urn trecho <strong>de</strong><br />

Sophia <strong>de</strong> Mello Breyner<br />

An<strong>de</strong>rssen ( 1975:233 ), on<strong>de</strong> a mesma se refere ao po<strong>em</strong>a<br />

como sendo "um circulo on<strong>de</strong> 0 passaro do real fica preso". Mas, que passaro do real<br />

Gilberto Mendonya Teles aprisionou? Chegar<strong>em</strong>os a uma resposta?<br />

Junto a tal interrogayao nos ocorre 0 pensamento <strong>de</strong> Terry Eagleton (1983: 82 )<br />

acerca <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> Recepyao, quando se refere ao leitor como concretizador <strong>da</strong> obra<br />

literaria, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que lhe acrescenta "hipoteses construtivas" sobre 0 seu<br />

significado. Ca estamos a tentar, nao s6 acrescentar<br />

tais hip6teses, mas abrir uma nova<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura, consi<strong>de</strong>rando s<strong>em</strong>pre 0 que se tern escrito sobre 0 autor e sua<br />

obra. Ir urn pouco al<strong>em</strong>, na busca <strong>de</strong> respostas que venham<br />

aumentar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ja<br />

existentes.<br />

Cumpre, portanto, chamarmos a atenyao para 0 fato <strong>de</strong> que a referenciayao<br />

te6rica encontra<strong>da</strong> no corpo <strong>de</strong>ste trabalho, apesar <strong>de</strong> ampla, e essencial para confirmar e<br />

assegurar reflexoes feitas <strong>em</strong> torno <strong>da</strong>s obras analisa<strong>da</strong>s, principalmente no que se refere<br />

a probl<strong>em</strong>litica <strong>da</strong> corporei<strong>da</strong><strong>de</strong> do texto e sua relayao com 0 corpo ai inscrito.<br />

Entretanto, <strong>em</strong> alguns momentos, val<strong>em</strong>o-nos do direito <strong>da</strong> livre expressao do<br />

pensamento<br />

como leitor, <strong>em</strong> relayao a obra literaria, direito este conferido pela Estetica<br />

<strong>da</strong> Recepyao, para fun<strong>da</strong>mentarmos nosso juizo a respeito do assunto, uma<br />

vez que, conforme Jauss (1994:25), "ela e, antes, como umapartitura volta<strong>da</strong> para a


essonancia s<strong>em</strong>pre renova<strong>da</strong> <strong>da</strong> leitura, libertandoo texto· <strong>da</strong> materia <strong>da</strong>s palavras e<br />

conferindo-Ihe existencia atual. "


---------.""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""".""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""1<br />

TEMPO ·EESPAc;O· DA CORPOREIDADE


"On<strong>de</strong> termina a.sombra que come£a,<br />

On<strong>de</strong>eosolofirme e a abismo:<br />

Eis 0 lugar<strong>de</strong>.todos as lugares,<br />

Pais tudo v<strong>em</strong> <strong>da</strong> sombra e nelafin<strong>da</strong>:<br />

A sombra naoe a alma que sonha.··<br />

Al<strong>em</strong> dixquetranscen<strong>de</strong> o.olhar humano,<br />

Nodmago<strong>de</strong>ca<strong>da</strong> sere coisa,<br />

Jti espreita 0 niio-ser,que lhe.e catillo.<br />

A sombra epura alma, seu rejlexo.<br />

Eela algomaisquea Huslia<br />

Do seT:Poisela Ii, s<strong>em</strong>pre sera<br />

Contraponto do ser,·principio alivo.<br />

A sambra Ii tudo isla, epar fim,<br />

A Harmonia que v<strong>em</strong> <strong>da</strong> divergencia<br />

Dos contriJrios,e sua uniiio<br />

No po<strong>em</strong>a, que IiFogo s<strong>em</strong>pre vivo. "


"Em seus mil alveolos 0 espa


casa, ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, cavi<strong>da</strong><strong>de</strong> sac os "alviolos" <strong>de</strong> urn espayo<br />

pensado e criado para abrigar<br />

urn ser <strong>de</strong> palavras. Muito <strong>em</strong>bora percebarnos que a intenyao clara do poeta e fazer uso<br />

<strong>de</strong>le <strong>de</strong> forma nipi<strong>da</strong>, mas intensa. 0 t<strong>em</strong>po telesiano, fugaz, nos convi<strong>da</strong><br />

it pnitica <strong>de</strong><br />

coisas que se possarn tomar et<strong>em</strong>as, que the sobrevivarn.<br />

A sugestao do poeta e que se rnergulhe nesse contiguo espayo-ternpo do texto e<br />

se permita, <strong>de</strong>ssa relavao, fazer ernergir 0 lugar do fenorneno litenirio. A esse lugar,<br />

Maingueneau (1995:121) <strong>de</strong>norninou <strong>de</strong> "c<strong>em</strong>irio literario". 0 texto, por sua vez,<br />

apresenta urn c<strong>em</strong>irio <strong>de</strong> palavras vali<strong>da</strong>do pela enunciayao, cujo <strong>de</strong>senvolvimento se<br />

toma possivel <strong>em</strong> presenya <strong>de</strong> urn enunciador e <strong>de</strong> urn co-enunciador. Desse modo, a<br />

obra passa a possuir urna cenografia dornina<strong>da</strong> pelo cenario litenirio, 0 qual "conjere 0<br />

contexto pragmatico it obra, associando uma posi9iio <strong>de</strong> autor e uma posi9iio <strong>de</strong><br />

publico, cujas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s variam <strong>de</strong> acordo com as ipocas e as socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s."<br />

A cenografia correspon<strong>de</strong> ao entrelayarnento ternpo/espayo, enunciador/coenunciador.<br />

No texto telesiano essa cornposiyao se <strong>de</strong>fine pela presenya <strong>de</strong> urn eu que<br />

enuncia, <strong>de</strong> urn tu que capta essa enunciayao e <strong>de</strong> urn t<strong>em</strong>po ilirnitado a circular <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> urn espayo estabelecido, que e 0 espayo do poerna. Espayo este que se <strong>de</strong>ixa<br />

traspassar<br />

par urna "nevoa ", urn "lado obscuro ". por urn ser rnais vasto e rnais intenso<br />

que 0 atravessa e se constitui no ser <strong>da</strong> poesia, no ser que se faz nesse ternpo/espayo.<br />

Gilberto Mendonya Teles vali<strong>da</strong> 0 c<strong>em</strong>lrio do seu texto <strong>de</strong> duas formas: atraves<br />

<strong>de</strong> indicayoes paratextuais e atraves <strong>de</strong> cenarios enunciativos pre-existentes. Como<br />

indicayao paratextual ele utiliza 0 poerna <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> prefacio do livro, lanyando a<br />

partir <strong>de</strong>le coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s <strong>de</strong> leitura, tais como apresentayao <strong>da</strong>s partes constitutivas do<br />

livro - "Na Contraluz", "No Curso dos Dias" e "Na Foz do Rio" - e portando 0 seu<br />

proprio titulo. Em relayao ao cenario pre-existente, faz alusao it cav<strong>em</strong>a platonica,<br />

assunto que tocarernos rnais adiante.<br />

a poerna & Cone <strong>de</strong> Sombras<br />

(13) segue os rnesrnos carninhos para a vali<strong>da</strong>yao<br />

do cenario. E urn poerna-prefacio que encerra 0 titulo do livro. Sua cenografia se<br />

<strong>de</strong>termina par urn t<strong>em</strong>po in<strong>de</strong>finido - "algum momento" - que se <strong>de</strong>sloca <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

urn espayo <strong>de</strong> sugestao, <strong>de</strong> insinuayao, ain<strong>da</strong> por se <strong>de</strong>finir, que e 0 "espa90 reticente <strong>da</strong>


vi<strong>da</strong>". Mas ha urn cone, "icone <strong>de</strong> sombras e penumbras", a cav<strong>em</strong>a as avessas, por<br />

on<strong>de</strong> e filtrado a "nevoa", 0 "lado obscuro" que toma 0 po<strong>em</strong>a <strong>de</strong>nso, cheio <strong>de</strong>ssa<br />

forma que ain<strong>da</strong> vai acontecendo. 0 po<strong>em</strong>a & Cone <strong>de</strong> Sombras legitima 0 que<br />

Maingueneau <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> antiespelho. E a "leitura do verso <strong>da</strong> me<strong>da</strong>lhd'. 0 poeta<br />

busca contrastar as i<strong>de</strong>ias que guiarao a leitura <strong>de</strong> sua poesia fazendo uma inversao dos<br />

signos correspon<strong>de</strong>ntes. Vejamos, primeiramente, os po<strong>em</strong>as na integra e, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>,<br />

representados<br />

no grafico que confirma 0 acirna dito:<br />

Se hit um plural <strong>de</strong> nuvens e se hit sombras<br />

projeta<strong>da</strong>s no texto <strong>da</strong>s cavernas,<br />

por que nao mergulhar, tentar nas on<strong>da</strong>s<br />

a reftm;ao dos peixes e <strong>da</strong>s pedras?<br />

Hit s<strong>em</strong>pre alguma nevoa, um lado obscuro<br />

que atravessa 0po<strong>em</strong>a. Hit s<strong>em</strong>pre um saldo<br />

<strong>de</strong> formas laterais, um como escudo<br />

que nao resiste muito a teu assalto.<br />

Se alguma luz na contraluz se esbate,<br />

se hit no curso dos dias sol e vento,<br />

talvez na foz do rio outra ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

venha no teu olhar amanhecendo.<br />

Importa e caminhar, colher florzinhas,<br />

somar os (im)possiveis e parcel as,<br />

criar no t<strong>em</strong>po algumas coisas fin<strong>da</strong>s,<br />

algumas ilus8es e primaveras.<br />

Importa e ler <strong>de</strong> perto a cavi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>s nuvens e espiar os seus nao-ditos:<br />

o mais SaDarmas para 0 teu combate,<br />

falsos alarmes para os teus sentidos.


Um lcone <strong>de</strong> sombras e penumbras<br />

esta a teu alcance algum momenta<br />

como um sinal, uma dicr;iio, alguma<br />

forma que ain<strong>da</strong> vai acontecendo.<br />

Um cone apenas restani: 0 espar;o<br />

reticente <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e suaforr;a<br />

silensual: sellS tropos, seus acasos,<br />

sua quota <strong>de</strong> len<strong>da</strong> <strong>em</strong> conta-gota.<br />

Tamb<strong>em</strong> a conexiio <strong>de</strong> alguns requintes,<br />

<strong>de</strong> sugestiio na meia-Iuz contraria:<br />

alguns raros meandros e melindres,<br />

a leitura do verso <strong>da</strong> me<strong>da</strong>lha.<br />

Se um eclipse anular teu privilegio<br />

<strong>de</strong> percepr;iio <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> retorci<strong>da</strong>'<br />

e que no fundo a taxa <strong>de</strong> misterio<br />

continua por <strong>de</strong>ntro, na saliva,<br />

no resmungo <strong>da</strong> lingua e na viag<strong>em</strong><br />

que <strong>em</strong> si mesma se faz, quando 0 caminho,<br />

s<strong>em</strong> margens <strong>de</strong> sentido, e pura praxe,<br />

simples figurar;iio do <strong>de</strong>scontinuo.<br />

PLURAL DE NUVENS ~~ & CONE DE SOMBRAS<br />

JJ<br />

JJ<br />

nuvens ~ sombras<br />

sombras ~ penumbras<br />

cavern as ~ cone<br />

saldo <strong>de</strong> formas ~ quota <strong>de</strong> len<strong>da</strong><br />

contraluz ~ meia-Iuz contniria<br />

refravao ~ imag<strong>em</strong> retorci<strong>da</strong><br />

carninhar ~ vlag<strong>em</strong><br />

nao-ditos ~~ taxa <strong>de</strong> rnisterio<br />

ler ~ resmungo<br />

sentidos ~ s<strong>em</strong> sentido


Nao se trata <strong>de</strong> uma simples reproduc;:ao cenogrifica as avessas. Mas, se<br />

tomarmos os dois po<strong>em</strong>as po<strong>de</strong>mos perceber que ha uma ten<strong>de</strong>ncia do poeta para a<br />

espacializac;:ao do t<strong>em</strong>po, atraves do uso <strong>de</strong> express5es nominais, predominant<strong>em</strong>ente.<br />

Em Plural <strong>de</strong> Nuvens, por ex<strong>em</strong>plo, t<strong>em</strong>os "no curso dos dias ", "venha<br />

amanhecendo", "algumas coisas fin<strong>da</strong>s", to<strong>da</strong>s acentua<strong>da</strong>s<br />

pelo uso do verba infinitivo,<br />

consi<strong>de</strong>rado por alguns gramaticos como sendo substantivo; <strong>em</strong> & Cone <strong>de</strong><br />

Sombras<br />

t<strong>em</strong>os "forma que ain<strong>da</strong> vai acontecendo", "a taxa <strong>de</strong> misterio continua por<br />

<strong>de</strong>ntro", "quando 0 caminho s<strong>em</strong> marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> sentido".<br />

Em ambos os po<strong>em</strong>as estas express5es sao reveladoras <strong>de</strong> urn t<strong>em</strong>po por se<br />

completar. Mas ha indicaC;:5es<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po passado - "no texto <strong>da</strong>s cavernas"- e tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po presente. Em relac;:aoao t<strong>em</strong>po, Octavio paz (1990:228)<br />

diz que "0 po<strong>em</strong>a e um<br />

produto historico, filho <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> um lugar". Par ser hist6rico, e social; por<br />

apresentar uma t<strong>em</strong>porali<strong>da</strong><strong>de</strong> especial - arquetipica - "<strong>da</strong> <strong>de</strong> beber a itgua <strong>de</strong> um<br />

perphuo presente que e tamb<strong>em</strong> 0 mats r<strong>em</strong>oto passado e 0futuro mais imediato".<br />

o ponto <strong>em</strong> que a cenografia <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras avanc;:a<strong>em</strong> relac;:aoa <strong>de</strong><br />

Plural <strong>de</strong> Nuvens e no aspecto <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> leitura e tamb<strong>em</strong> na conformac;:ao do<br />

ser <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, pontos que tocar<strong>em</strong>os mais adiante. Este ultimo parte <strong>da</strong>s conex5es<br />

que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s para 0 entendimento do po<strong>em</strong>a, apesar dos misterios<br />

reservados pela lingua. 0 primeiro, mesmo <strong>de</strong>terminando<br />

as partes do livro, nao estipula<br />

uma leitura mais seria: vale mais pela subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> - "importa e colher florzinhas".<br />

& Cone <strong>de</strong> Sombras, ao contrario, permite ao leitor caminhar seguro pelo espac;:o do<br />

texto <strong>em</strong> busca <strong>de</strong>ssa "vi<strong>da</strong>" que surge com "suafor9a silensual". Juntos integram, no<br />

espac;:oe no t<strong>em</strong>po, uma forma peculiar <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> criar urn corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, <strong>de</strong><br />

modo a atingir 0 leitor por uma forma <strong>de</strong> leitura "cujas chaves mitgicas abr<strong>em</strong> nofundo<br />

<strong>de</strong> nos mesmos a porta <strong>da</strong>s mora<strong>da</strong>s on<strong>de</strong> mio saberiamos penetrar ", conforme Proust<br />

(1989:35)


"recolhei meu pobre acervo,<br />

alongai meu sentimento<br />

o que escrevi niio conta.<br />

o que <strong>de</strong>sejei e tudo.<br />

Retomai minhas palavras,<br />

me us bens, minha inquieta(jiio. "<br />

o espac;odo texto telesiano nos fomece duas chaves para ne1e penetrarmos. A<br />

primeira se refere ao ate do pensar poetico; a segun<strong>da</strong>, ao ato mesmo <strong>da</strong> criac;aopoetica.<br />

Mas, existini urn pensar poetico? Em havendo, on<strong>de</strong> se localiza na poesia <strong>de</strong> Gilberto<br />

Mendonya Te1es? Esse poeta que, fazendo a exegese <strong>de</strong> seus pr6prios po<strong>em</strong>as,<br />

<strong>de</strong>monstra <strong>de</strong> on<strong>de</strong> e retira<strong>da</strong> a "melhor-palavra": <strong>da</strong> "cavi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s nuvens", dos<br />

"niio-ditos", "aqu<strong>em</strong> do texto", do "poriio", do ''jundo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>", ain<strong>da</strong><br />

impronuncia<strong>da</strong>, silenciosa. Do ate <strong>de</strong> pensar ao ate <strong>de</strong> criar, basta, para ele, que 0 "no"<br />

<strong>da</strong> inspirayao se <strong>de</strong>sate. E <strong>de</strong> la que "surge a luz", num "<strong>de</strong> repente ", como se tudo ja<br />

estivesse prestes a explodir, como <strong>em</strong> Inspira~ao (6), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens:<br />

"E 0 que t<strong>em</strong>forc;a, a que acontece,<br />

e como um dia que estivesse<br />

s<strong>em</strong> calendilrio e previsiio".<br />

Em Gilberto Mendonya Te1es 0 pensamento brota e se converte <strong>em</strong> palavras,<br />

exteriorizando-se, <strong>de</strong> modo a preencher 0 vazio do espayo <strong>em</strong> branco <strong>da</strong> forma mais<br />

intensa, <strong>em</strong> movimentos teatrais, para nao <strong>da</strong> marg<strong>em</strong> a duvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que elas se


teatro, segundo Antonin Artaud(l984:20). 0 po<strong>em</strong>a Entr<strong>em</strong>es (17), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong><br />

Sombras, vai <strong>de</strong> encontro as suas palavras no sentido <strong>em</strong> que 0 poeta duplica essa<br />

sombra <strong>da</strong> primeira estrofe para a ultima. Vejamos:<br />

"Por tras <strong>da</strong> sombra, a cortina;" ( primeiro verso)<br />

"por tras <strong>da</strong>s sombras, 0 susto; " ( penultimo verso)<br />

E ain<strong>da</strong> Antonin Artaud que afirma: "a arte se instala a partir do momenta <strong>em</strong><br />

que 0 escultor que mo<strong>de</strong>la acredita liberar uma especie <strong>de</strong> sombra cuja existencia<br />

dilacerara seu repouso". No espayo on<strong>de</strong> se ensaia a obra-prima na<strong>da</strong> se encontra <strong>em</strong><br />

repouso. Dai 0 "seu palco <strong>de</strong> susto" inicial colocado no fim do po<strong>em</strong>a por tn1s <strong>da</strong>s<br />

sombras. A cortina que no primeiro momento impedia a visualizayao <strong>de</strong>sse palco e, por<br />

Em, coloca<strong>da</strong> al<strong>em</strong> <strong>da</strong>s sombras e do susto. Se para Antonin Artaud 0 teatro e 0 unico a<br />

se utilizar <strong>da</strong>s sombras, po<strong>de</strong>mos dizer que a poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles e para<br />

ser representa<strong>da</strong>. A sombra telesiana, como a sombra do teatro, nao suporta<br />

limitayoes. 0 poeta faz <strong>de</strong>la, que povoa 0 seu espayO poetico urn ator "que niio refaz<br />

duas vezes 0 mesmo gesto, mas quefaz gestos, se mexe, s<strong>em</strong> dilvi<strong>da</strong> brutaliza as formas,<br />

e atraves <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>struir;iio, ele alcanr;a aquilo que sobrevive as formas e produz a<br />

continuar;iio<strong>de</strong>las. ,..<br />

Do ensaio nos bastidores a encenayao no palco urn retrato existencial <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />

soube cavar 0 seu espayo poetico para al<strong>em</strong> <strong>da</strong>s fronteiras.<br />

Sendo malabarista, <strong>da</strong>nyando<br />

conforme a musica, conseguiu na sua arte <strong>de</strong> poetar unir 0 simples 'a pericia dos gran <strong>de</strong>s<br />

poetas, e ultrapassa-los, no sentido <strong>em</strong> que a sua poesia junta-se 0 prazer <strong>de</strong> ser vista.<br />

Entr<strong>em</strong>es e urn po<strong>em</strong>a que cria 0 cenano do teatro para atualizar 0 cenario do pensar e<br />

do fazer po6tico. As cinco primeiras estrofes mostram exatamente<br />

a formayao <strong>da</strong> obra,<br />

do pensar ao ve-la pronta~ as cinco estrofes restantes, a sua recepyao pelo publico, 0 seu


<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho diante do leitor. Como no teatro, a obra poetica tanto po<strong>de</strong> ser aplaudi<strong>da</strong><br />

como rejeita<strong>da</strong>.<br />

Entre 0 ate <strong>de</strong> pensar e 0 ate <strong>de</strong> criar <strong>da</strong>-se uma fissura no t<strong>em</strong>po e no espayo,<br />

colocando 0 poeta numa tensao ag6nica, cuja transposiyao para os po<strong>em</strong>as reflet<strong>em</strong> seu<br />

estado <strong>de</strong> impaciencia, como <strong>em</strong> Ars Longa (9), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens:<br />

"Seguramente as <strong>de</strong>uses estiio dorm indo<br />

quando gasto a manhii proeurando pesear<br />

as paiavras ariseas que se eseon<strong>de</strong>m<br />

nas ioeas do silblcio ".<br />

Para ele, a manha e imensa, e 0 sono dos <strong>de</strong>uses dura uma eterni<strong>da</strong><strong>de</strong>, tornando<br />

as "ioeas do silencio" quase que intransponiveis. La, nas locas, estao guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s as<br />

palavras ariscas, havendo, portanto, linguag<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> por se converter. Ela se oferece<br />

como num labirinto a ser percorrido e a ser resgata<strong>da</strong>. 0 poeta insiste na questao do<br />

t<strong>em</strong>po que se mant<strong>em</strong> retido e que se apresenta conflituoso para ele. A insistente<br />

utilizayao do adverbio "ain<strong>da</strong>" indica que ate 0 presente momenta as palavras nao<br />

flu<strong>em</strong>, nao se mostram para que 0 po<strong>em</strong>a se faya. Esse mesmo procedimento se<br />

"Ain<strong>da</strong>, a sua orig<strong>em</strong>, seu mais intima<br />

sileneio:<br />

(. ..)<br />

Ain<strong>da</strong>, esta mora<strong>da</strong>, a seu preeioso<br />

espa90 interior, a aiumbramento<br />

<strong>da</strong> forma <strong>em</strong> <strong>de</strong>satino, a <strong>de</strong>seontinua<br />

perspeetiva do ser na travessia".


ha urn vir-a-ser. No po<strong>em</strong>a Can~ao (21), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras, 0 poeta volta a<br />

insistir nesse t<strong>em</strong>po in<strong>de</strong>finido, usando mais uma vez 0 adverbio, el<strong>em</strong>ento indiciador <strong>de</strong><br />

urn espayo tamb<strong>em</strong> por se <strong>de</strong>finir:<br />

"Aqu<strong>em</strong> <strong>da</strong> fala<br />

a voz resvala<br />

na escuridilo:<br />

(..)<br />

Mas 0 que excita<br />

a forma escrita<br />

na minha milo,<br />

o que foi lido<br />

ou pressentido<br />

no sim, no nilo,<br />

ain<strong>da</strong> resvala<br />

al<strong>em</strong> <strong>da</strong>fala<br />

na escuridiio. "<br />

A primeira parte <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens nos fomece<br />

a senha para enten<strong>de</strong>rmos<br />

como se processa<br />

0 ate <strong>de</strong> pensar <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> poetica telesiana. Ato <strong>de</strong> pensar que vale<br />

para to<strong>da</strong> a sua obra, nao somente para as aqui analisa<strong>da</strong>s. Tanto e que <strong>em</strong> varios pontos<br />

ter<strong>em</strong>os <strong>de</strong> nos reportarmos aos seus livros anteriores. 0 proprio po<strong>em</strong>a Plural <strong>de</strong><br />

Nuvens (2), e urn po<strong>em</strong>a cuja luz se busca por tras <strong>da</strong>s sombras, <strong>da</strong>s cav<strong>em</strong>as, <strong>da</strong><br />

nevoa, do "espac;o espesso". E uma busca ao contrario, na contraluz <strong>de</strong> tudo 0 que<br />

impossibilita 0 ato <strong>de</strong> pensar e do atravessa-10, indo <strong>de</strong> encontro a criayao poetica.<br />

Mas a palavra continua la, no lodo, no porao, no limbo, prestes a explosao, como se<br />

encontra escrito no po<strong>em</strong>a Inspira',:ao (6):


"tudo esta mesmo e nos neur6nios,<br />

num jeito interno <strong>de</strong> pressiio. "<br />

Em Ars Longa (9), 0 poeta volta a insistir nessa condivao <strong>de</strong> ser angustiado com<br />

um pensar ain<strong>da</strong> pre so as profun<strong>de</strong>zas,<br />

por <strong>em</strong>ergir. Sabe que ha algo escondido e que<br />

necessita ser <strong>de</strong>svelado, <strong>em</strong>bora se encontre distante e quase impedido <strong>de</strong> chegar ate la:<br />

<strong>de</strong> cima do barranco,<br />

algu<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>pla 0fundo <strong>da</strong> lingua g<strong>em</strong><br />

na superftcte do papel <strong>em</strong> branco)"<br />

Emmanuel Carneiro Leao (1988: 11) questionando 0 sentido do pensar<br />

heid<strong>de</strong>geriano, diz que ita arte <strong>de</strong> pensar e <strong>da</strong><strong>da</strong> por um modo extraordinario <strong>de</strong> sentir e<br />

escutar 0 silencio do sentido nos discursos <strong>da</strong>s realiza{:oes". Nao e dificil sentir e<br />

escutar 0 silencio <strong>de</strong> sentido na obra telesiana como um todo, mas a primeira parte<br />

<strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens esta plena <strong>de</strong>sse silencio. 0 po<strong>em</strong>a Cicio (5), por ex<strong>em</strong>plo,<br />

permite que sintamos e escut<strong>em</strong>os 0 silencio <strong>de</strong> um sentido ain<strong>da</strong> por se fazer.<br />

Atraves <strong>de</strong> um jogo antitetico <strong>de</strong> palavras, Gilberto Mendonya Teles traya os rumos<br />

do pensar que antece<strong>de</strong> 0 momento precise <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> pronuncia<strong>da</strong>, do proprio ate<br />

criador. Dentro do po<strong>em</strong>a que se compoe <strong>de</strong> sete estrofes, tn~s <strong>de</strong>las nos <strong>da</strong> a exata<br />

medi<strong>da</strong> do silencio, <strong>de</strong>marcado estilisticamente no po<strong>em</strong>a pelo uso dos parenteses, mas,<br />

<strong>de</strong> forma mais intensa, pela espacializayao configura<strong>da</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uma:<br />

( Aqu<strong>em</strong> do texto, na ventania<br />

do espa{:o <strong>em</strong> branco, tudo prediz<br />

e compromete, como 0 aprendiz<br />

que pinta 0 sete.)<br />

(..)<br />

( Al<strong>em</strong> do texto, que se irradia,<br />

o espa{:o pleno se contradiz<br />

e se reflete - luz e v<strong>em</strong>iz<br />

no azul do sete.)


( Dentro do texto, na travessia<br />

do espa


se ao cosmos. Ele nao e, contrariando 0 pensamento <strong>de</strong> Bachelard (1996: 165), 0<br />

sonhador diante <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> do fogo, <strong>da</strong> terra, <strong>da</strong> agua, do ar. Ele e, simpIesmente, a<br />

conjunyao <strong>de</strong>sses quatro el<strong>em</strong>entos mais a linguag<strong>em</strong>. Sendo 0 proprio cosmos, 0 ser<br />

atinge a plenitu<strong>de</strong> criadora, universalizando, <strong>de</strong>sse modo, a sua obra.<br />

"To<strong>da</strong> a mao que agarra <strong>de</strong>ve primeiro<br />

escolher a sua presa. To<strong>da</strong> a mao que<br />

toca <strong>de</strong>scobre que a superficie e 0 Umiar<br />

<strong>de</strong> uma profun<strong>de</strong>za que permanece<br />

inacessivel. "<br />

( Jean Brun - A Mao e 0 Espirito )<br />

Na meia-luz contrana uma mao trabalha. De to<strong>da</strong>s as formas e <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

posiyoes. Vai pondo or<strong>de</strong>m ao pensamento, encorpando 0 signo, ex(er)citando a<br />

palavra. Se pensarmos no sentido que a palavra mao tern na poesia te1esianacomo<br />

urn todo, po<strong>de</strong>mos imediatamente nos reportar ao que diz Alfredo Bosi (1972:55):<br />

"Seria urn nunca acabar dizer tudo quanta a mao consegue fazer<br />

quando a pr%ngar e potenciar os instrurnentos que 0 engenho hurnano foi<br />

inventando na contra<strong>da</strong>nr;:a<strong>de</strong> precisoes e <strong>de</strong>sejos. "<br />

"Entre palmas e maos postas ", 0 poeta consegue exibir 0 seu codigo, que, por<br />

mats que 0 preten<strong>da</strong> erotico ( e por isso nomeia a mao esquer<strong>da</strong> - "s<strong>em</strong>pre erotica no<br />

seu t<strong>em</strong>po e viraC;ao''), beira 0 sagrado. Em Plural <strong>de</strong> Nuvens, nas ultimas partes que<br />

compo<strong>em</strong> 0 po<strong>em</strong>a Gera~ao (19), t<strong>em</strong>os a mao <strong>de</strong>tentora do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criar, mais<br />

proxima, pois, <strong>da</strong> mao divina. Num primeiro momenta 0 poeta come9a apenas


querendo manuscrever<br />

0 nome <strong>da</strong> ama<strong>da</strong> - Maria / poesia - nas entrelinhas do po<strong>em</strong>a,<br />

mas ao iniciar 0 "manejo <strong>da</strong> pluma" (21), cria po<strong>de</strong>res universais, transformando-se <strong>em</strong><br />

urn <strong>de</strong>us que tudo po<strong>de</strong> fazer com e por aquele nome (con)sagrado<br />

ao seu amor. Como<br />

urn adivinho, ele vai <strong>de</strong>terminando, pelo uso abun<strong>da</strong>nte do verbo no presente, os<br />

caminhos que <strong>da</strong> it sua poesia. No entanto, it presentificayao verbal, sobrepoe-se 0<br />

passado <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> espaciali<strong>da</strong><strong>de</strong>: 0 papiro, 0 pergaminho, as pedras, lugares<br />

on<strong>de</strong> consegue grafar 0 nome, registrar , r<strong>em</strong>etendo para urn t<strong>em</strong>po que se<br />

encontra<br />

marcado na m<strong>em</strong>oria <strong>de</strong>ste poeta s<strong>em</strong> gerayao, como diz, mas que carrega na<br />

palma <strong>da</strong> mao as marc as <strong>de</strong> seus antecessores. Como se a sua mao, registrasse, ain<strong>da</strong><br />

que <strong>de</strong> modo enigmcitico e passivel <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrayao, os diferentes itinerarios par ele<br />

seguidos, absorvidos e transformados, mas nunca esquecidos. Num segundo momento, 0<br />

poeta se comporta<br />

como urn magico que tenta codificar esse nome <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s<br />

formas e idiomas. Pela magia <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> consegue atingir a maxima excitayao dos<br />

sentidos do nome: 0 orgasmograma acontece. E, entao, tudo v<strong>em</strong> it tona ern rapidos<br />

lances <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>yao, cujos registros van sendo feitos numa linguag<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> confusa e<br />

<strong>de</strong>lirante, soletra<strong>da</strong>, mas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn novo estilo - 0 seu proprio estilo - <strong>de</strong><br />

escritu(r)ayao palimpsestica, que 0 salva <strong>da</strong> marca visive1 <strong>da</strong>s gerayoes, mas que a<br />

partir <strong>de</strong>las, mesmo tendo entrado<br />

"num tr<strong>em</strong> qualquer, na contramiio ", conseguiu:<br />

" Ler os genios antigos, ler os novos<br />

( Ban<strong>de</strong>ira e Cassiano, ler Cabral,<br />

ler Mario, ler Drummond) ejuntar ovos<br />

<strong>de</strong> Duro para um estilo nacional".<br />

(Gera~iio, 20, Plural <strong>de</strong> Nuvens )<br />

A mao <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>us canhoto <strong>de</strong> nascenya revel a a sua interiori<strong>da</strong><strong>de</strong> marca<strong>da</strong><br />

pela relayao com 0 mundo. Gilberto Mendonya Teles manuscreve a sua individuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

enquanto poeta, mas subscreve, passa a limpo e lavra to<strong>da</strong> uma coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />

assirnilou. No<br />

correr do seu estilo, a mao busca atingir 0 leitor <strong>de</strong> seus po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> modo


ir6nico. 0 po<strong>em</strong>a Exegese (23) e uma panibola, uma narrayao aleg6rica do fazer poetico<br />

e <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura que <strong>de</strong>le se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r. Tomando como termo<br />

parodiador 0 velho proverbio "Deus escreve certo par linhas tortas ", 0 poeta explica 0<br />

que nao e 0 po<strong>em</strong>a: 0 lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> brotam as mesmas interpretayoes s<strong>em</strong>pre. Ao<br />

contnirio, 0 po<strong>em</strong>a e a sombra<br />

que se vai formando na superficie do papel, tomando a<br />

espessura <strong>de</strong> urn corpo, uma imag<strong>em</strong> unica, <strong>de</strong>ns a, ensimesma<strong>da</strong>,<br />

que par mais marcas<br />

intertextuais que possua, e unico <strong>em</strong> seu fazer, <strong>em</strong> seu t<strong>em</strong>po e lugar.<br />

A primeira parte <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras e to<strong>da</strong> ela volta<strong>da</strong> para a questao do ato<br />

eriador <strong>em</strong> si. Exercicio para Milo Esquer<strong>da</strong> eo transbor<strong>da</strong>mento do pensar poetico, a<br />

excitayao supr<strong>em</strong>a do verbo anteriormente pressentido, agora came, escritura. Em<br />

Gilberto Mendonya Teles a mao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha as mais diversas funyoes: reza, aplau<strong>de</strong>,<br />

pren<strong>de</strong>, toea, tateia, une-se a outra, acaricia, cava, escreve, sobretudo ... <strong>da</strong>i ser a poetica<br />

telesiana eonsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong><br />

tactili,zante. E uma poesia <strong>de</strong> toques, <strong>de</strong> caricias, <strong>de</strong> sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A mao que toea esse corpo <strong>de</strong>itado na superficie do papel, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>seja ir<br />

al<strong>em</strong>: e uma mao lanya<strong>da</strong> a aventura <strong>da</strong> penetrayao, on<strong>de</strong> nao e permitido viajar "par<br />

fora a seu percurso ", e fazer a <strong>de</strong>-composiyao <strong>em</strong> corpo e alma, <strong>de</strong>spi-la, para entao<br />

recebe-la s<strong>em</strong> reservas, uma vez que<br />

"Ningu<strong>em</strong> tateia a penug<strong>em</strong> <strong>de</strong> suas letras,<br />

s<strong>em</strong> enre<strong>da</strong>r-se na forma rasa do anagrama<br />

e perceber no fundo a limiar do eterno. "<br />

( Fonte, 22, & Cone <strong>de</strong> Sombras )<br />

Mas e a mao esquer<strong>da</strong> a responsavel<br />

por imprimir no corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> 0 seu<br />

lado erotizado. Julius Evola (1976: 164) trata <strong>da</strong> como<br />

"ascetica, <strong>de</strong>struidora e dissolutiva ", po<strong>de</strong>ndo ser assimila<strong>da</strong> a < Via <strong>da</strong> Mao Direita><br />

ao aspecto criador positivo. Na poetica <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles sentimos<br />

a fusao<br />

<strong>da</strong>s duas vias, pois se trata <strong>de</strong> urn ato criador por excelencia. 0 seu lado asceta


nao toma 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>svaloriza-lo; ao contnirio, a<br />

licenciosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>le e <strong>de</strong>struidora ate 0 ponto <strong>em</strong> que, <strong>da</strong> <strong>de</strong>struiyao, surja algo mais<br />

intenso e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro: 0 poeta trabalha 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> como se escultor fosse, e,<br />

apaixonado pela forma cria<strong>da</strong>, maquina meios <strong>de</strong> torna-la mais viva, como no po<strong>em</strong>a<br />

Constru~ao (27), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras:<br />

"melhor mesmo e <strong>de</strong>slizar para<br />

dos estatutos e soletra-Ios<br />

<strong>de</strong> seus artigos e capitulos<br />

<strong>da</strong> forma <strong>de</strong> corrompe-Ios por<br />

ser como uma doenr;a<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong><br />

umafome incessante <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong><br />

um vazio se fazendo <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong><br />

um silencio fluindo <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong><br />

e por <strong>de</strong>ntro no amago que 0<br />

Ie <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro seu nao <strong>de</strong> s<strong>em</strong><br />

e t<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro talvez 0 unico<br />

posto <strong>de</strong>ntro do encantado e<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> se faz 0<br />

<strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>sejo vibra outro<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse outro v<strong>em</strong> 0 que<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s letras <strong>da</strong> palavra<br />

<strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>ntro<br />

fruta<br />

fruta<br />

fruta<br />

fruta<br />

sentido<br />

sentido<br />

sentido<br />

sentido<br />

<strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong>se.jo<br />

mas a palavra so vale se por <strong>de</strong>ntro<br />

houver um verme com <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fruta<br />

um que comece roer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0 centro<br />

o no do sentido na escrita <strong>da</strong> gruta"<br />

o que 0 poeta <strong>de</strong>str6i na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> sao as formas prontas <strong>de</strong> fazer poesia<br />

obe<strong>de</strong>cendo cegamente a gramcitica: suspen<strong>de</strong> uso <strong>de</strong> maiuscula, <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong><br />

pontuayao e ain<strong>da</strong> distribui as palavras nos versos <strong>de</strong> uma maneira que l<strong>em</strong>bra os<br />

concretistas. Mas, acima <strong>de</strong> todos os estatutos gramaticais, predomina 0 envolvimento<br />

sensual do poeta com as palavras. Tomamos aqui, a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> resumir 0 po<strong>em</strong>a e


te<strong>da</strong> a relaC;ao do poeta com 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, introduzindo a pontuac;ao <strong>em</strong> urn<br />

dos versos que 0 comp5e:<br />

Jean Brun (1991: 152) compara<br />

a mao a uma ponte que se lanc;a atravessando<br />

abismos e distancias. Preenchendo<br />

0 vacuo num gesto <strong>de</strong> et<strong>em</strong>a procura. E quando nao<br />

encontra a outra estendi<strong>da</strong>,<br />

"A milo <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> um dos seus gestos, esculpe no vazio 0 lugar <strong>de</strong> uma<br />

presenr;a,invocando qualquer carne que possa povoa-lo. "<br />

Exerdcio Para Milo Esquer<strong>da</strong> faz vibrar to<strong>da</strong> uma poesia, cujo amor se<br />

<strong>de</strong>spren<strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> para atingir <strong>em</strong> cheio esse <strong>de</strong>us canhoto e tomar 0 lugar vazio,<br />

ser presenc;a pelo tate que quase vira visao no po<strong>em</strong>a Do Ponto Atras (45), <strong>em</strong> Plural <strong>de</strong><br />

Nuvens:<br />

HE na ponta dos <strong>de</strong>dos ( peixe e polva )<br />

que tateio teu corpo - esses sinais,<br />

algas marinhas, esta rima <strong>em</strong> ulva,<br />

este navio que .ficou s<strong>em</strong> eais. "<br />

A < Via <strong>da</strong> Mao Esquer<strong>da</strong> > na poesia telesiana s6 revaloriza 0 corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong> no tocante ao erotismo presente. 0 orgasmo provocado peia mao do poeta e<br />

uma caricia verbal <strong>em</strong> todos os sentidos. E pura melodia que se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

partitura responsave1 pelo compasso do amor soli<strong>da</strong>rio e solitario: soli<strong>da</strong>rio quando no<br />

fim do ato ha urn corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> a compartilhar; solitario quando nao consegue<br />

formar esse corpo que the escapa. Mas e s6 por algum instante que a soli<strong>da</strong>o, reti<strong>da</strong> no<br />

"<strong>de</strong>svao do espac;o" faz 0 poeta bolinar a lingua s<strong>em</strong> atingir 0 seu objetivo, dcdilhando


"as sombras do intervalo." Mas a lingua, para 0 poeta, sera s<strong>em</strong>pre seu objeto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong> seduyao. Por isso e trata<strong>da</strong> como uma donze1a a ser <strong>de</strong>spi<strong>da</strong> e <strong>de</strong>vora<strong>da</strong> no<br />

fogo do orgasmograma: no prazer <strong>de</strong> dizer e <strong>de</strong> acha-la:<br />

"S<strong>em</strong>pre jresca e virente e s<strong>em</strong>pre bela,<br />

teu corpo <strong>de</strong> meu corpo nao se furte ...<br />

Quisera ser romdntico, donzela,<br />

e amar-te, amer-te, amir-te, amor-te, amur-te".<br />

(Intertexto, 102, & Cone <strong>de</strong> Sombras)


"... a casa s<strong>em</strong>janelas n<strong>em</strong> portasera<br />

0 que eu ambicionava. S<strong>em</strong> no<br />

t<strong>em</strong>po terminar?"<br />

(J. G. Rosa. Tutameia)<br />

o espac;o na poetica <strong>de</strong> Gilberto Mendonc;a Teles esta, por fun, configurado e<br />

nomeado. Ja nao ha mais forma<br />

n<strong>em</strong> ser <strong>em</strong> <strong>de</strong>satino, como no po<strong>em</strong>a Signo (17), <strong>de</strong><br />

Plural <strong>de</strong> Nuvens. Ha uma casa, a "minha casa". Mora<strong>da</strong> do ser e do nome, a casa, com<br />

seus compartimentos<br />

todos e integra<strong>da</strong> no t<strong>em</strong>po, forma uma "re<strong>de</strong> espa90-t<strong>em</strong>poral",<br />

conforme Maingueneau (1995: 130 ), pois "hil lugares que tamb<strong>em</strong> sao t<strong>em</strong>po". Tal re<strong>de</strong><br />

atravessa, valendo-se <strong>da</strong> fimc;ao integradora <strong>da</strong> cenografia, os varios conjuntos textuais<br />

<strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong> Sombras, vali<strong>da</strong>ndo urn cenario que, por vezes, r<strong>em</strong>ete<br />

ao azul do ceu, inatingivel, e outras, ao azul <strong>da</strong>s aguas, ambiente profundo e rnisterioso.<br />

o espa90 azul do poeta e, por excelencia, 0 abrigo segura do corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, mas e<br />

tamb<strong>em</strong> abrigo do proprio corpo no momento posterior a criayao poetica, posterior<br />

tamb<strong>em</strong> ao ato amoroso. E 0 momenta <strong>em</strong> que 0 corpo e a alma do criador cont<strong>em</strong>pla,<br />

<strong>em</strong> plena harmonia, a criatura-ser-<strong>de</strong>-palavras e a ama<strong>da</strong> restabeleci<strong>da</strong> na calma e<br />

silenciosa linguag<strong>em</strong> do <strong>de</strong>sejo satisfeito.<br />

Em Plural <strong>de</strong> Nuvens, 0 po<strong>em</strong>a Telha <strong>de</strong> Menos (42) mostra, atraves do uso <strong>de</strong><br />

express5es farniliares, a casa como urn ser que vive <strong>em</strong> constante estado <strong>de</strong> confusao<br />

mental:<br />

"!vfinha casa t<strong>em</strong> uma telha <strong>de</strong> menos<br />

e uns macaquinhos brincando no satao ".


Em <strong>de</strong>sequilibrio, a casa prossegue e se estabelece <strong>em</strong> seus compartimentos<br />

conforme estes sejam marcados por alguns fen6menos t<strong>em</strong>porais. Cotidianamente a casa<br />

vai a<strong>da</strong>ptando-se<br />

ao t<strong>em</strong>po com tudo 0 que ele traz: ca<strong>da</strong> fen6meno t<strong>em</strong>poral - chuva,<br />

sol, vento - e responsavel por urn acontecimento preciso, somente alterado algumas<br />

vezes por el<strong>em</strong>entos externos ao ambiente. Neste espa90, 0 poeta tenta encaixar-se, e<br />

comeya a <strong>de</strong>screver a casa fazendo a inversao <strong>da</strong>s polari<strong>da</strong><strong>de</strong>s: e pelo telhado que<br />

Gilberto Mendonya Teles visualiza a casa; principalmente pela 'faha' <strong>da</strong> telha. Por essa<br />

falha no espayo 0 t<strong>em</strong>po se torna perceptivel ao poeta, tirando-Ihe a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

ambiente, mostrando-lhe 0 que ha aMm <strong>de</strong>le - passaro, borboleta, aviao, nuv<strong>em</strong> - ain<strong>da</strong><br />

que raramente.<br />

A sala, <strong>em</strong> sua quietu<strong>de</strong>, e corta<strong>da</strong> por urn "peixe <strong>de</strong> luz" que 0 sol <strong>de</strong>ixa<br />

escapar pela telha que faha. Ha, nesse ponto do po<strong>em</strong>a, urn jogo intencional dos signos<br />

"peixe" / "r<strong>em</strong>ansos", <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adores <strong>de</strong> urn <strong>de</strong>vaneio erotizado, provocado pelo<br />

calor que a luz do sol irradia <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala. A sala, como agua <strong>em</strong> estado <strong>de</strong> repouso,<br />

e<br />

<strong>de</strong>sperta pelo peixe que, segundo Mircea Elia<strong>de</strong> (1977:236) acumula todo urn<br />

simbolismo er6tico, e que <strong>em</strong> outras passagens no <strong>de</strong>correr<br />

<strong>de</strong> nossa analise, sera visto<br />

como representativo<br />

do f<strong>em</strong>inino na poesia telesiana. 0 peixe, feixe <strong>de</strong> sonhos acor<strong>da</strong>do<br />

que 0 vento se encarrega <strong>de</strong> <strong>em</strong>purrar para 0 "quarto", 0 espayo do <strong>de</strong>sejo, mas tamb<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> sua cessa9ao. No quarto, 0 vento provoca a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e trata <strong>de</strong> acomo<strong>da</strong>r<br />

a urn s6<br />

t<strong>em</strong>po e lugar sonhos e pesa<strong>de</strong>los,<br />

atraves <strong>da</strong> musica que se espalha s<strong>em</strong> dissipa-los-; ao<br />

contririo, fun<strong>de</strong>-os, fundindo-se, tamb<strong>em</strong> a eles. Para Durand (1977: 225) a sonori<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

musical, cara aos poetas romanticos, e senti<strong>da</strong> profun<strong>da</strong>mente como fusao <strong>de</strong> urn<br />

"macro" com urn "microcosmo", isto e, pela musica, 0 hom<strong>em</strong> se equilibra <strong>em</strong> rela9ao<br />

ao set! universo, a ele integra-se. No po<strong>em</strong>a, 0 sujeito <strong>da</strong> enunciayao tenta integrar-se ao<br />

seu universo sonhado a partir do real.<br />

A casa do poeta, por mats que tent<strong>em</strong>os <strong>da</strong>r-lhe uma referencia cotidiana,<br />

sera s<strong>em</strong>pre a cas~ oonha<strong>da</strong>. Casa esta que, contrariando a visao bachelardiana, e


oniricamente incompleta, pOlS nao apresenta nenhum indicio <strong>de</strong> que nela haja algum<br />

subterraneo, a nao ser 0 dos corpos que nela habitam. Os seus espa


A regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> construyao e marca<strong>da</strong> pela estrutura do po<strong>em</strong>a, que se distribui<br />

<strong>em</strong> sels quartetos octossilabicos. Feita <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> lei, a casa se ergue,<br />

s<strong>em</strong> ser compartimenta<strong>da</strong> como a <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, s<strong>em</strong> limites horizontais que a<br />

<strong>de</strong>marqu<strong>em</strong>. Apenas 0 telhado, 0 chao<br />

e uma janela ( olho magico e mistico ) posta <strong>em</strong><br />

lugar in<strong>de</strong>terrninado. A preocupayao do poeta liga-se diretamente it parte mais alta do<br />

telhado - cumeeira - nas tres primeiras estrofes, e ao chao. Principalmente ao que <strong>de</strong>le<br />

po<strong>de</strong> brotar - palavra - e se fazer resistente, portentosa, nas tres ultimas estrofes.<br />

Mais uma vez Gilberto Mendonya Teles retoma as imagens ja utiliza<strong>da</strong>s<br />

anteriormente<br />

- ceu, asa, sol, chao - para reiterar a sua realizayao pela poesia. Seguindo<br />

Mircea Elia<strong>de</strong> (1977: 294), quando se refere ao par primordial Ceu-Terra, po<strong>de</strong>mos<br />

dizer que tal representayao<br />

na poetica telesiana, <strong>em</strong> particular nos po<strong>em</strong>as cujo t<strong>em</strong>a e a<br />

casa, liga a Terra ao mais profun<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu ser poetico, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele faz brotar 0 Ser <strong>de</strong><br />

palavras, que 0 impulsiona para 0 alto. Pela palavra apreendi<strong>da</strong><br />

"algo se diI ", ocorrendo<br />

assim 0 momenta transcen<strong>de</strong>ntal que 0 eleva ao Ceu, it luz do conhecimento pleno. E <strong>da</strong><br />

Terra - "chao batido"- que surge a sombra e 0 cheiro <strong>da</strong> palavra, interpondo-se num<br />

jogo ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> claro e escuro, ain<strong>da</strong> s<strong>em</strong> autonomia, s<strong>em</strong> contomos pr6prios. Para<br />

<strong>de</strong>senlaya-Ia <strong>de</strong>sse chao 0 poeta encontra uma sai<strong>da</strong>: a musica <strong>da</strong> flauta e presa pelo<br />

"novelo" ( fio <strong>de</strong> Ariadne ), que se encarrega <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>-Ia a sair, <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r-se do "ermo<br />

<strong>da</strong> materia", fazendo-se sucinta, existindo. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> percebe-se aqui todo urn jogo<br />

que impulsiona a palavra a <strong>de</strong>sligar-se<br />

do mundo <strong>da</strong>s sombras para chegar por fim a se<br />

tomar<br />

essencia, a ser.<br />

o po<strong>em</strong>a 2, trata <strong>da</strong> casa ja como habitayao. 0 sujeito <strong>da</strong> enunciayao passa viver<br />

naquele espayo e busca a a<strong>da</strong>ptayao. Redobrado, este passa a perceber-se num espayo<br />

restrito e chega a consciencia <strong>de</strong> sua provisorie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

como ser t<strong>em</strong>poral que e. Isso nos<br />

envia para a filosofia hei<strong>de</strong>ggeriana <strong>da</strong> finitu<strong>de</strong> ll . Acuado <strong>em</strong> seu espayo, sente-se<br />

estranho, experimenta a sensayao do duplo jogo ser-nao-ser. Da casa ele mentaliza 0 que<br />

nao e, s<strong>em</strong> conseguir viver 0 que e. A transparencia <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vidro perrnite a<br />

transcen<strong>de</strong>ncia<br />

do ser que se espr<strong>em</strong>e ao ser que se exprime. Pela expressao 0 sujeito <strong>da</strong>


enunciayao alya vao ( mais uma vez a reiterayao <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> <strong>da</strong> nuv<strong>em</strong> e <strong>da</strong> asa ),<br />

porque atraves <strong>de</strong>la diz 0 ser <strong>da</strong>s coisas, <strong>de</strong>ixa transparecer 0 ser, uma vez que mora na<br />

linguag<strong>em</strong> - "mu<strong>de</strong>i-me para <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> palavra" - a casa do ser. Nela tenta se proteger<br />

e ultrapassar 0 t<strong>em</strong>po, rumo ao <strong>de</strong>sconhecido. Por ser <strong>de</strong> vidro, a casa <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>ixar<br />

transparecer<br />

0 seu interior com tudo 0 que ela cont<strong>em</strong>, no entanto, 0 vidro e apenas urn<br />

pretexto do poeta que, num jogo <strong>de</strong> aparente mostra-escon<strong>de</strong>, risca a janela e <strong>de</strong>seja<br />

escrever nas pare<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> modo a toma-las opacas, ve<strong>da</strong>ndo a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

lurninosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Desse modo, mostra 0 ser que se faz <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> casa, mas escon<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> a<br />

sua essencia, os seus contornos formais. Ele mesmo mesmo entra no jogo: e "tudo e<br />

na<strong>da</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po ", e "aquele que se espr<strong>em</strong>e entre as silabas" e 0 outro, 0 "que<br />

se exprime " e <strong>de</strong>ixa s<strong>em</strong>pre no vacuo do travessao 0 indizivel, urn "sentido qualquer, "<br />

que e possivel que se encontre <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse espayo transparente, invisivel ain<strong>da</strong> que<br />

visivel, mas que s6 possa ser entendido se quebra<strong>da</strong>s as "pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vidro <strong>de</strong>sta casa ".<br />

Finalmente, no po<strong>em</strong>a 3, Gilberto Mendonya Teles chega a casa <strong>de</strong>finitiva, a<br />

mora<strong>da</strong>,<br />

pelo soneto, a forma fixa, medi<strong>da</strong> exata do fazer poetico <strong>em</strong> geral, exigencia<br />

vital <strong>de</strong> seu pr6prio fazer poetico 12 . Na primeira estrofe h3. to<strong>da</strong> uma recapitulayao dos<br />

po<strong>em</strong>as anteriores, numa tentativa <strong>de</strong> expressar como se <strong>da</strong> 0 seu projeto <strong>de</strong><br />

produyao, ou construyao poetica. Habitando ja a linguag<strong>em</strong> ( surgi<strong>da</strong> <strong>de</strong>ssa relayao casacorpo<br />

) <strong>da</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao po<strong>em</strong>a, estabelecendo uma relayao nas tres estrofes restantes<br />

entre 0 pensar, agir e ser atraves <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> que e "essencia do verba" , <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

irrompe todo 0 seu processo criador. Passo a passo os adverbios e os verbos vao<br />

<strong>de</strong>marcando 0 processo t<strong>em</strong>poral, fundindo os t<strong>em</strong>pos no t<strong>em</strong>po, mas possibilitando 0<br />

<strong>de</strong>sdobramento do espayO pela "nova linguag<strong>em</strong> repeti<strong>da</strong> ", e pela criayao <strong>de</strong>sse<br />

"mundo".<br />

A terceira estrofe mostra 0 momento <strong>em</strong> que, tomando conta <strong>da</strong> folha <strong>em</strong> branco,<br />

o po<strong>em</strong>a se vai fazendo, <strong>de</strong>marcando a sua area <strong>de</strong> superficie e servin do <strong>de</strong><br />

suporte para<br />

o que brota do mais intimo <strong>da</strong> alma do poeta. Vai-se <strong>de</strong>svelando 0 ser <strong>de</strong> palavra, h3. 0<br />

<strong>de</strong>socultamento do ser que sai do mais profundo, ain<strong>da</strong> sombra, mas com forma <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>


"<strong>de</strong> peixe", acompanha<strong>da</strong> pela canyao. A imag<strong>em</strong> do peixe, referi<strong>da</strong> anteriormente no<br />

po<strong>em</strong>a Telha <strong>de</strong> Menos, <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, volta aqui com mais intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois<br />

que a ele atrelou-se a canyao. A forma <strong>em</strong>ergente nao e somente uma forma, e tamb<strong>em</strong><br />

A canyao, 0 som, junta-se a forma, tomando-a audivel e <strong>de</strong>nsa. 0 po<strong>em</strong>a, por<br />

fim, ganha ritmo, sonori<strong>da</strong><strong>de</strong>. E melodia. Toma-se urn ser capaz <strong>de</strong> ser ouvido.<br />

Configurados assim, signo e som, recorr<strong>em</strong>os ao pensamento <strong>de</strong> Alfredo Bosi (1972:35),<br />

quando diz que 0 som, juntamente com seus ecos a<strong>de</strong>nsam a face concreta do po<strong>em</strong>a.<br />

Mais adiante, ele afirma que 0 som do signa, para existir, faz uma "viag<strong>em</strong> notuma<br />

pelos corredores do corpo". Desse modo, 0 som, no po<strong>em</strong>a, possibilita compor "0<br />

enredo <strong>de</strong> outra vi<strong>da</strong>" atraves <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> que se repete apcs sair do mais profun<strong>da</strong><br />

do<br />

ser e atingir 0 seu pleno sentido.<br />

A ultima estrofe coloca 0 poeta face a face com 0 passado<br />

pela forma poetica<br />

escolhi<strong>da</strong> para representar analogicamente a mora<strong>da</strong> do ser, e tamb<strong>em</strong> pelas etapas<br />

venci<strong>da</strong>s na composiyao <strong>de</strong>sse ser <strong>de</strong> palavras. E pela face do passado que <strong>de</strong>scobre 0<br />

seu estado constante <strong>de</strong> busca para atingir a perfeiyao do ser. No soneto, 0 poeta<br />

trabalha, imprime-lhe modificayoes formais, metricas, ritmicas e rimicas, fazendo-o no<br />

presente como se nao fosse. Mas a face do passado tamb<strong>em</strong> retrata a existencia<br />

cotidiana, cujo amor, corroido pelo t<strong>em</strong>po, transformou-se <strong>em</strong> pura rotina, como se na<strong>da</strong><br />

se fizesse <strong>de</strong> novo, ou se tudo 0 que fosse feito na<strong>da</strong> representasse. Em outras palavras,<br />

o que Gilberto Mendonya Teles consegue <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta t<strong>em</strong>lhica <strong>da</strong> casa e relacionar os<br />

t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste espayo criado para ser habitado por urn corpo-ser-<strong>de</strong>-palavras.<br />

Consegue imprimir ao po<strong>em</strong>a, conforme Bahktin (1997: 151), "a marca substancial e<br />

viva do passado no presente", incluindo no "t<strong>em</strong>po ciclico todos as t<strong>em</strong>pos... "


1.40 ESPAC;O ALEM DA MAsCARA DO TEMPO<br />

o esparyo que se forma na poetica telesiana <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, basicamente,<br />

<strong>da</strong>s oscilary5es<br />

t<strong>em</strong>porais. Urn t<strong>em</strong>po duvidoso e suspensivo, cheio <strong>de</strong> 'ses' e 'quandos', <strong>de</strong> 'ain<strong>da</strong>s' e<br />

'<strong>de</strong>pois', <strong>de</strong> 'talvez'. 0 instantaneo poetico <strong>em</strong> Gilberto Mendonya Ieles e dificil <strong>de</strong><br />

precisar. E permeado por uma anglistia <strong>de</strong> querer viver int<strong>em</strong>alizando as coisas que lhe<br />

sao preciosas e que exist<strong>em</strong> no espayO ext<strong>em</strong>o a sua volta. E 0 t<strong>em</strong>po e 0 espayO real do<br />

poeta interpondo-se ao t<strong>em</strong>po e espayO poetico com to<strong>da</strong>s as referencias cotidianas. Nao<br />

se trata <strong>de</strong> uma relac;ao puramente autobiognilica, mas <strong>de</strong> uma experiencia <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong>buti<strong>da</strong> no ate criador. 0 que ocorre na poesia telesiana e urn fenomeno <strong>de</strong>norninado<br />

par Maingueneau 1 <strong>de</strong> "Bio/grafta", isto e, quando 0 escritor consegue inserir a sua<br />

experiencia <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> na obra <strong>de</strong> forma criativa. De modo que po<strong>de</strong>mos ver no texto<br />

telesiano a sua vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> professor,<br />

<strong>de</strong> critico, <strong>de</strong> poeta, <strong>de</strong> amante <strong>de</strong> tudo 0 que faz,<br />

especialmente. A sua vi<strong>da</strong> subscrita <strong>em</strong> sua poesia, vi<strong>da</strong> esta, "dilacera<strong>da</strong> pela<br />

exigencia <strong>de</strong> criar, <strong>em</strong> que 0 espelho ja se encontra na existencia que <strong>de</strong>ve refletir. "<br />

Quando tomamos, por ex<strong>em</strong>plo, a segun<strong>da</strong> parte <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, No Curso<br />

dos Dias, v<strong>em</strong>os a ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> cotidiana do poeta tentando apreen<strong>de</strong>r as coisas a sua volta.<br />

A flui<strong>de</strong>z cotidiana faz que sintamos a poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa<br />

dimensao dupla: e referencial e metaf6rica.<br />

0 curso dos dias, com seus acontecimentos<br />

divi<strong>de</strong>m-no na hora <strong>de</strong> compor e <strong>de</strong> ocupar os espayOS e 0 t<strong>em</strong>po poetico. Mas a<br />

ten<strong>de</strong>ncia e a fuga dos espac;os reais, <strong>de</strong> po-Ios <strong>em</strong> contato com 0 t<strong>em</strong>po<br />

mitico, <strong>de</strong> tamb<strong>em</strong> mitifica-los. No Curso dos Dias, t<strong>em</strong>os urn t<strong>em</strong>po a correr <strong>de</strong><br />

encontro a urn espac;o real que permanece na m<strong>em</strong>oria do poeta, para se presentificar e,


metaforicamente, apontar para urn futuro sombrio e saudoso. E entao 0 t<strong>em</strong>po se<br />

vai internalizando nesse espayo uno e plural, nebuloso e conico - iconico.<br />

Tom<strong>em</strong>os <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens apenas 0 po<strong>em</strong>a No Curso dos Dias (61),<br />

para<br />

verificarmos como se processa essa transformayao do espayO referencial para 0 espayO<br />

metaforico. No referido po<strong>em</strong>a a leitura <strong>de</strong>ve ser feita <strong>em</strong> sentido inverso, <strong>da</strong> ultima para<br />

a primeira estrofe: "Goias"<br />

e a referencia toma<strong>da</strong> pelo poeta para simbolizar 0 profun<strong>da</strong><br />

vinculo com a terra natal; esta, encontra-se<br />

entranha<strong>da</strong> na sua vi<strong>da</strong>, na sua hist6ria. Mas<br />

° t<strong>em</strong>po e 0 olhar poetico se encarregam <strong>de</strong> recriar urn outro espayo, a imag<strong>em</strong> do real<br />

que the ficou na m<strong>em</strong>oria, internalizado. Para 0 poeta, Goias vai se tornando<br />

"longinqua ", "raiz noturna ", "centro", "cerrado", para se transformar, por fim, no<br />

espayO do possivel que e a "estra<strong>da</strong>" a the apontar para 0 futuro, mas e tamb<strong>em</strong> a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> retorno:<br />

"Agora que me vou e que me <strong>de</strong>ixo<br />

ficar perdi<strong>da</strong>mente nesta estra<strong>da</strong>:<br />

vou numa ro<strong>da</strong>-viva, mas s<strong>em</strong> eixo,<br />

numa coisa futura, mas passa<strong>da</strong>. "<br />

Em<br />

& Cone <strong>de</strong> Sombras 0 poeta se ve diante <strong>da</strong>s mas transformayoes<br />

por que passa 0 mundo. Transformayoes mas e estranhamente intransferiveis; <strong>de</strong>las e<br />

impossivel se <strong>de</strong>svencilhar. Entao ele luta interiormente contra essas perturbayoes<br />

externas. Mas, como ser humano, esta muito atento a rapi<strong>de</strong>z do t<strong>em</strong>po, que dificulta a<br />

visualizayao e 0 entendimento <strong>de</strong> tudo que ocorre, tornando quase que imperceptiveis a<br />

hora apocaliptica, como <strong>em</strong> S<strong>em</strong>iologia I (76):<br />

"Quando tudo estiver b<strong>em</strong> proximo e houver<br />

perturbac;iio na or<strong>de</strong>m cosmica, comec;arao<br />

a perceber a estranha exatidiio<br />

dos acontecimentos inadiaveis. "


E<strong>em</strong>S<strong>em</strong>iologia<br />

II (77), quando 0 fim inadiave1 chega, comeya a luta corpo a<br />

corpo. Nessa luta se imprim<strong>em</strong> as marcas do t<strong>em</strong>po no corpo<br />

do poeta. E dos cortes<br />

maiores, 0 me1hor pr<strong>em</strong>io, a cabeya <strong>de</strong>cepa<strong>da</strong>, para silenciar 0 corpo que <strong>de</strong>nuncia sua<br />

estranha e sensual relayao com tudo 0 que the e significante e the <strong>de</strong>sperta a paixao e 0<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> dizer s<strong>em</strong>pre mais e melhor a melhor palavra e tudo 0 que <strong>de</strong>la po<strong>de</strong> extrair<br />

s<strong>em</strong> trai-la na sua trajet6ria poetica. A notar pela primeira e a ultima estrofe, 0 corpo do<br />

poeta foi marcado nas suas partes mais essenciais, na tentativa <strong>de</strong> cala-lo para s<strong>em</strong>pre, 0<br />

que ele resiste:<br />

"Algu<strong>em</strong> vai afiando um tipo <strong>de</strong> arma branca<br />

para me <strong>de</strong>golar e <strong>de</strong>ixar no meu corpo<br />

as marcas do que fui, do que se foi mu<strong>da</strong>ndo<br />

na solidfio <strong>da</strong> travessia.<br />

(..)<br />

_0 corte vertical, como um apendice<br />

nos limites do ventre.<br />

_ A ruga horizontal, como uma cor<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> lomo do pescoc;o.<br />

_ A elipse na testa, como um timel<br />

para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim.<br />

A travessia solitaria no t<strong>em</strong>po inscreve 0 espayo fun<strong>da</strong>dor <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a obra poetica<br />

telesiana que e 0 corpo. Corpo este que v<strong>em</strong> mascarado pelo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> forma <strong>de</strong><br />

cav<strong>em</strong>a, gruta, cavi<strong>da</strong><strong>de</strong>, nuv<strong>em</strong>, cone, casa, s<strong>em</strong>pre mostra<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> seu interior.<br />

Quando mencionamos anteriormente a i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> cav<strong>em</strong>a platonica presente ja no<br />

po<strong>em</strong>a Plural <strong>de</strong> Nuvens e porque ja a viamos, inevitavelmente,<br />

como 0 fio condutor<br />

para chegarmos it essencia <strong>da</strong> poetica <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles. A alegoria <strong>da</strong><br />

cav<strong>em</strong>a cobre todo esse espayo corpo-enunciador<br />

que na travessia do t<strong>em</strong>po foi tamb<strong>em</strong><br />

ele atravessado pela contraluz para s6 <strong>de</strong>pois conseguir atingir 0 "perfdto equilibrio<br />

<strong>da</strong> luz na luz. "Seu corpo, como cone, foi filtrando e compartimentando todo urn


conhecimento do fazer poetico, <strong>de</strong> sua rela


o diabo mesmo e que hi on<strong>de</strong> fala 0 Gilberto, tamb<strong>em</strong> fala 0 poeta como<br />

"persona" mascarando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo vies metaf6rico, criando imagens especulares no<br />

sentido <strong>em</strong> que reflete a sua vi<strong>da</strong>, a sua hist6ria e tamb<strong>em</strong> no sentido <strong>em</strong> que essas<br />

imagens sac expostas <strong>em</strong> suas poesia como in<strong>da</strong>gayao minuciosa <strong>da</strong> sua pr6pria<br />

existencia <strong>em</strong> relayao ao mundo, ao seu t<strong>em</strong>po, ao seu espayO como poeta e ao t<strong>em</strong>po e<br />

espayO dos outros. 0 seu t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> principio, <strong>de</strong> fim, <strong>de</strong> "vao no meio", represent a a sua<br />

linguag<strong>em</strong>, com a palavra <strong>em</strong> si eo seu jeito <strong>de</strong> dizer 0 mundo pressentido e escalavrado<br />

no seu pr6prio corpo e transportado<br />

para a superficie do papel. E a ca<strong>da</strong> momento <strong>em</strong><br />

que isso se <strong>da</strong>, surge 0 po<strong>em</strong>a, brota a poesia, urn novo corpo e <strong>de</strong>sperto, fazendo que 0<br />

poeta <strong>de</strong>sligue-se <strong>da</strong> t<strong>em</strong>porali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

para viver a et<strong>em</strong>a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> paIavra poetica, como<br />

<strong>em</strong> No Espa~o (54), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras:<br />

"Sinto que sou levado pelas on<strong>da</strong>s<br />

a flutuar no t<strong>em</strong>po, a rolar nas esferas,<br />

como se houvesse um ima ou uma concha<br />

na transparencia 00 janela.<br />

E como se eu an<strong>da</strong>sse a voar pelo mundo<br />

00 lua, <strong>em</strong> pleno sonho:<br />

astronauta no ceu, pisando nuvens<br />

e pegando as estrelas pelas pontas. "<br />

o diabo mesmo e que 0 t<strong>em</strong>po telesiano esbarra no seu espayo ut6pico,<br />

penetrando-o, encobrindo, obscurecendo-o s<strong>em</strong>pre. 0 espal(o telesiano nunca se mostra<br />

"nas solur;oes mais faceis 00 leitura". Talvez por isso 0 poeta prefira penetra-Io "na<br />

cala<strong>da</strong> 00 noite ", "nas horas resistentes do anoitecer", b<strong>em</strong> "mais tar<strong>de</strong>", pois "s6 a<br />

noite sabe organizar<br />

melhor 0 sentido <strong>da</strong>s horas. " E a hora mais propicia a todos os<br />

atos <strong>de</strong> penetra9ao: recolhe-se<br />

a casa, ao quarto, ao leito, refazendo to<strong>da</strong> uma trajet6ria<br />

interior para, por fim, "violentrar" a sombra do papel, 0 corpo <strong>da</strong> ama<strong>da</strong>, <strong>da</strong> melhor-


palavra, chegar ao intimo escrit6rio <strong>da</strong> mulher-palavra e comeyar, int<strong>em</strong>amente, "a<br />

escrever <strong>em</strong> silencio 0 seu po<strong>em</strong>a <strong>de</strong>finitivo" e int<strong>em</strong>poral.


:-".---------"""-----"--------"-"----".".- - - - - -." " - --. - .-.- - - -..- - -.........•.... ----._ --..- -.. ".- - - -..-.-..-...•........... ---" -"--.----.----------..- -.- - - - " -I<br />

: • A ·CORPQREIDADE . . .<br />

, .... -.. - - _.. .. .... - ..... - .. -. -.-<br />

!


"Assim 0 amor ganha 0 impacto dos fon<strong>em</strong>as<br />

certos<br />

no momento certo, entre uivos e gritos liturgicos,<br />

quando a lingua efalo, e verbo a vulva,<br />

e as aberturas do corpo, abismos lexicais on<strong>de</strong> se restaura<br />

aface int<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> Eros ... "<br />

( C. D. Andra<strong>de</strong>. - 0 Amor Natural)


Sobre 0 entendimento <strong>da</strong> dimensao corporal <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens e &<br />

Cone <strong>de</strong> Sombras, salientamos que, <strong>em</strong> ambos, a sua representayao encontra-se explicita<br />

<strong>em</strong> todos os pIanos. Quando falamos <strong>em</strong> pIanos estamos assim <strong>de</strong>finindo <strong>de</strong>ntro do texto<br />

telesiano tipos <strong>de</strong> incorporayao pela linguag<strong>em</strong>: ao corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> propriamente<br />

dito, ao corpo que escreve e ao corpo f<strong>em</strong>inino inscrito na linguag<strong>em</strong>. 0 trato com tais<br />

pIanos, <strong>em</strong> se tratando <strong>da</strong> poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles, e sutil e complexo,<br />

<strong>de</strong>vendo ser revisto, portanto, atraves <strong>de</strong> uma breve retrospectiva <strong>de</strong> sua obra poetica.<br />

S6 assim chegar<strong>em</strong>os aos ( <strong>de</strong>s) dobramentos do corpo.<br />

Para penetrarmos nesse corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> elaborado por Gilberto Mendonya<br />

Teles, necessario se faz tomarmos urn termo utilizado por Luiz Busatt0 2 quando diz<br />

sentir neste poeta uma "trepi<strong>da</strong>rao vital" e urn misterio <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> alocados nas palavras,<br />

ca<strong>da</strong> vez mais elabora<strong>da</strong>s, obra ap6s obra. E a palavra telesiana pulsa. Des<strong>de</strong> 1955,<br />

quando, abrindo as "veias ", comeyou por <strong>da</strong>r forma, corporificar a linguag<strong>em</strong>,<br />

tomando-se a urn s6 t<strong>em</strong>po, "voyeur" e ator do seu ate poetico. Ja <strong>em</strong> Planicie ( 1958 ),<br />

po<strong>de</strong>mos perceber que 0 poeta vai formando uma "imag<strong>em</strong>" <strong>de</strong> algo que sabe existir<br />

fora <strong>de</strong>le, como no Soneto do Incontentado 3 e que vai se chegando, alegoricamente,<br />

com trac;:osquase <strong>de</strong>finidos <strong>em</strong> Fabula <strong>de</strong> Fogo ( 1961 ), <strong>em</strong> po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mesmo nome:<br />

"Vens limpi<strong>da</strong> no t<strong>em</strong>po, iluminando<br />

a tristeza <strong>da</strong>s pedras e <strong>da</strong>s arvores.<br />

2 Ver prefacio aos Melhores Po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Gilberto Mendon


Entao, to<strong>da</strong>s as coisas se iluminam<br />

e se <strong>de</strong>ixam tangiveis, receptivas<br />

a mensag<strong>em</strong> do mundo que me ponho<br />

loucamente a gritar que nunca 0 t<strong>em</strong>po<br />

foi tao cheio <strong>de</strong> luz <strong>em</strong> minha vi<strong>da</strong>".<br />

E 0 misterio <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que enchia, ja par esses t<strong>em</strong>pos, as palavras, transformou-as<br />

<strong>em</strong> objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo. No Sintaxe Invisivel ( 1967 ), tomou posse <strong>da</strong>s palavras, caminhou<br />

seguro entre elas, no po<strong>em</strong>a Linguag<strong>em</strong> 4 ,<br />

"... no cio <strong>de</strong>ste oficio <strong>de</strong> buscar-te<br />

na usura <strong>de</strong> ti,<br />

nu<strong>de</strong>z segura<br />

absoluta can9i10<br />

e vozperene<br />

inicial".<br />

Nos seus po<strong>em</strong>as, as palavras, essas que ele diz "engendrar<strong>em</strong> suas pr6prias<br />

aventuras no espa90",<br />

vao buscar na Raiz <strong>da</strong> Fala ( 1972 ) 0 sinal <strong>de</strong> sua evoluyao para<br />

a Me <strong>de</strong> Armar ( 1977 ), quando realmente <strong>da</strong> "um saito mortal" no seu discurso, no<br />

que se refere a inovayoes no campo lexical, principalmente. No po<strong>em</strong>a Orig<strong>em</strong> se<br />

<strong>de</strong>clara uma "milicia verbal" e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, "impulso" e "excesso <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes",<br />

Por isso mesmo recebe a visita constante "dos <strong>de</strong>uses ou <strong>de</strong>m6nios ".<br />

Esse poeta que sabe como ningu<strong>em</strong> perturbar "a hora <strong>de</strong> recreio <strong>da</strong>s palavras ",<br />

<strong>em</strong> suas armayoes poeticas diz nao saber, mas sabe <strong>de</strong>finir e b<strong>em</strong> "0 passaro s<strong>em</strong> pena"<br />

que voa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le, e no "escuro do texto", Tanto sabe que vai <strong>de</strong>ixando marcas<br />

pelo seu "pobre corpo <strong>de</strong> palavras",<br />

vai fazendo amor com elas, "<strong>de</strong>scolibrindo "-lhes a<br />

forma, "a cor, 0 som, algum sinal, algo <strong>de</strong> travesso ou <strong>de</strong> in<strong>de</strong>cente" que 0 transporte a


'J; las palabras<br />

brillaban en su copa inagotable,<br />

opacas 0 sonoras,<br />

fecun<strong>da</strong>s en la fron<strong>da</strong> <strong>de</strong>llenguage,<br />

carga<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ver<strong>da</strong>d y <strong>de</strong> sonido. "<br />

( Pablo Neru<strong>da</strong> - O<strong>da</strong> al Diccionario )<br />

Quando Maingueneau se refere a corporali<strong>da</strong><strong>de</strong> que 0 texto apresenta, fala<br />

tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> material. Para justificar -se, cita urn trecho <strong>de</strong> Platao que diz ser 0<br />

discurso urn ser vivo, portador <strong>de</strong> urn corpo pr6prio e proporcional <strong>em</strong> suas partes. As<br />

partes aqui entendi<strong>da</strong>s como sendo os "recortes discursivos" que, integrados<br />

harmonicamente, produz<strong>em</strong> a incorporayao textual.<br />

Outros criticos tratam <strong>de</strong>sse assunto atraves <strong>de</strong> estudos sobre a metafora. E 0<br />

caso <strong>de</strong> Greimas ao analisar 0 espayo <strong>da</strong> figura, com base no pensamento<br />

<strong>de</strong> Genette.<br />

Para ele, 0 discurso nao seria propriamente<br />

urn corpo, mas possuiria, nas suas maneiras<br />

<strong>de</strong> significar e exprimir, analogias com as diferentes formas e tra90s encontrados nos<br />

corpos reais. E 0 reconhecimento <strong>da</strong> quase-corporei<strong>da</strong><strong>de</strong> verificar-se-ia no texto<br />

sobretudo atraves <strong>da</strong> a<strong>de</strong>rencia do som ao sentido.<br />

Analogicamente,<br />

0 corpo do autor se faz sentir intimamente no ate mesmo <strong>de</strong> sua<br />

enunciayao. Nas duas obras <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles analisa<strong>da</strong>s, po<strong>de</strong>mos dizer que<br />

hi urn funcionamento perfeito entre os recortes discursivos que se articulam, formando<br />

essa totali<strong>da</strong><strong>de</strong> material, essa corporali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A corporali<strong>da</strong><strong>de</strong> do texto telesiano liga-se<br />

diretamente as representayoes erotiza<strong>da</strong>s do ser que atravessa a linguag<strong>em</strong> e se faz<br />

visivel atraves <strong>da</strong> "melhor-palavra ", <strong>da</strong> "mulher-palavra". Hi no texto urn corpo<br />

"literal" a <strong>em</strong>prestar as suas margens <strong>de</strong> sentido, <strong>de</strong> sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao corpo er6geno que<br />

se <strong>de</strong>ita no papel. Hi vi<strong>da</strong> a pulsar no texto.


As marcas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> se faz<strong>em</strong> tangiveis no corpo <strong>da</strong> letra que vai trayando 0 estilo<br />

do poeta ao longo <strong>de</strong> sua obra. Uma vez articulado <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> discurso poetico,<br />

esse<br />

corpo, realyado pelas experiencias individuais, concretiza-se, atraves <strong>de</strong> aspectos, nao s6<br />

lingUisticos, mas tamb<strong>em</strong> psicol6gicos, psicanaliticos, s6cio-hist6ricos, entre outros. Pela<br />

experiencia estilistica, a obra telesiana se individua entre as <strong>de</strong>mais, transformando-se<br />

num organismo complexo e misterioso. Essa forma misteriosa e magica <strong>de</strong> dizer 0<br />

indizivel por meio do 6bvio encontra eco na acepyao <strong>de</strong> Damaso Alonso(1987:482)<br />

acerca do que significa estilo. Para ele,<br />

"EI "estilo"es la "ohra" literaria, es <strong>de</strong>cir, con nuestra terminologia, el "signo ", en<br />

cuanto tmico, la misteriosa manifestaci6n concreta, el misterioso "fen6meno", en Ie que se<br />

ligan significado y significante, forma interior y forma exterior: un cosmos <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

espirituales, intuitivamente selecionados y ahorna<strong>da</strong>s y un complejo <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s fisicas<br />

concretas ( fon<strong>em</strong>as ° su representaci6n grafica ) que ahora ya cuhre, representa y<br />

magicamente evoca aquel cosmos. "<br />

No seu corpo <strong>de</strong> palavras Gilberto Mendonya Teles imprimiu esse ar <strong>de</strong> misterio<br />

e magia sensual. Brincando com 0 "corpo <strong>da</strong> mile" lingua, ele consegue <strong>de</strong>senvolver urn<br />

processo criador que envolve um vasto conhecimento<br />

gerador <strong>de</strong> uma produyao infinita<br />

<strong>de</strong> novas frases e express5es lingtiisticas e ic6nicas. Dentro <strong>de</strong> seu processo criador<br />

analisar<strong>em</strong>os alguns aspectos <strong>de</strong> estilo do ponto <strong>de</strong> vista ronico, este, interferindo na<br />

escolha sintatica, lexical e no modo <strong>de</strong> referenciar.<br />

A sua criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> frasal nos faz envere<strong>da</strong>r <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> lingua por caminhos basicos<br />

que nos levam it formayao <strong>de</strong>sse corpo <strong>de</strong> iinguag<strong>em</strong> tao b<strong>em</strong> estruturado. A<br />

principio, po<strong>de</strong>mos tomar 0 padrao sintatico utilizado peio poeta, muitas vezes violado


<strong>em</strong> sua poesla. Nao se trata aqui <strong>de</strong> analisarmos os processos coor<strong>de</strong>nativos e<br />

subordinativos <strong>de</strong> sua poesia. Interessa-nos, <strong>de</strong> modo particular, a disposiyao <strong>da</strong>s<br />

palavras nas frases e 0 sentido que <strong>da</strong>i se po<strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele <strong>de</strong>smonta a<br />

estrutura normal <strong>da</strong> frase atraves <strong>de</strong> trayos originais e expressivos, fazendo surgir uma<br />

tipologia frasal especificamente mel6dica. E disso que tratar<strong>em</strong>os a seguir.<br />

Pierre Guiraud ( 1991:90 ) diz haver uma melodia sintatica e outra expressiva. A<br />

pnmelra, ligando-se a estrutura do enunciado e as suas rupturas <strong>de</strong> construyao; a<br />

segun<strong>da</strong>, responsavel por introduzir e modificar a primeira atraves <strong>de</strong> trayos <strong>de</strong><br />

expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sao cortes mais perceptiveis na lingua fala<strong>da</strong>. No caso <strong>da</strong> poesia <strong>de</strong><br />

Gilberto Mendonya Teles , a curva mel6dica dos versos veicula 0 seu modo pessoal <strong>de</strong><br />

interpretar, <strong>de</strong> explicar 0 mundo com suas coisas to<strong>da</strong>s, int<strong>em</strong>alizando-o e ext<strong>em</strong>ando-o,<br />

muitas vezes por meio <strong>de</strong> imagens fantasiosas, abstratas, <strong>em</strong> versos mais longos, como<br />

"Eu sou noturno quando comer;o,<br />

sou meia-noite <strong>de</strong> horas redon<strong>da</strong>s ".<br />

ou no po<strong>em</strong>a Telha <strong>de</strong> Menos (32), do mesmo livro, on<strong>de</strong> 0 poeta, fechado <strong>em</strong> si<br />

mesmo, rnanifesta as suas ernoyoes, 0 seu estado <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> alt<strong>em</strong>ando versos curtos e<br />

longos:<br />

"e quando hit vento,<br />

a musica se esparrama pelo quarto<br />

<strong>em</strong>balando alguns sonhos e pesa<strong>de</strong>los ".<br />

ou ain<strong>da</strong> no poerna Indio (49), <strong>de</strong><br />

longos:<br />

& Cone <strong>de</strong> Sombras, ern versos ca<strong>da</strong> vez rnais<br />

"sou capaz <strong>de</strong> escutar 0 vao do inseto<br />

e a canr;ao <strong>da</strong> s<strong>em</strong>ente germinando ".


Violando as normas ele vai (<strong>de</strong>s) articulando 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, a ponto <strong>de</strong> 0<br />

sentido do po<strong>em</strong>a ser percebido pela melodia impressa no conjunto dos versos e tamb<strong>em</strong><br />

por certos <strong>da</strong>dos contidos na situayao enuncia<strong>da</strong>. E 0 que ocorre com 0 po<strong>em</strong>a 7<br />

Resmungos (11), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, on<strong>de</strong> algumas estrofes sac estrutura<strong>da</strong>s s<strong>em</strong><br />

el<strong>em</strong>entos coesivos, s6 completando<br />

0 sentido porque se trata <strong>de</strong> palavras utiliza<strong>da</strong>s para<br />

encantayoes. Vejamos, por ex<strong>em</strong>plo, duas estrofes on<strong>de</strong> esses fatos se enquadram:<br />

"Ervas, jUtros, pedras, fontes,<br />

fogo do ceu, brasa do sol, hulhas do mar!<br />

(..)<br />

Nuv<strong>em</strong> preta, asa <strong>de</strong> borboleta,<br />

buraco negro no manto do ceu,<br />

<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> rato, cau<strong>da</strong> <strong>de</strong> cometa,<br />

coisas <strong>de</strong> cartola e <strong>de</strong> chapeu. "<br />

Nessa violac;ao sutil <strong>da</strong> lingua, Gilberto Mendonc;a Teles aplica-lhe urn<br />

abraca<strong>da</strong>bra e se liberta e liberta 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong> "tensiio" do padrao chissico<br />

<strong>da</strong> lingua e alcanya, na poesia, efeitos conseguidos na prosa <strong>de</strong> Guimaraes Rosa, <strong>de</strong><br />

Clarice Lispector 5 ,<br />

que e essa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recriar a palavra, <strong>de</strong> conferir-lhe uma nova<br />

representayao, 0 que provoca, muitas vezes, urn certo hermetismo. No po<strong>em</strong>a Elipse<br />

(66) , <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, ele tenta explicar a sua construyao frasal:<br />

"Vim recolher esta umi<strong>da</strong> sintaxe<br />

que foi al<strong>em</strong><br />

e nao poupou a rigi<strong>de</strong>z <strong>da</strong> lingua<br />

que ficou s<strong>em</strong>. "<br />

5 Criticos especializados ja chamaram a atenc;ao para esse fato. Cf. Poesia & Critica. coleU1nea <strong>de</strong><br />

textos sobre Gilberto Mendonc;a Teles. organiza<strong>da</strong> par Dulce M. Viana.


amaciando" com 0 t<strong>em</strong>po e se romantizando. Aproveitando-se disso, ele cui<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

marcar esse corpo com pausas mel6dicas mais expressivas que 16gicas, ressaltando<br />

s<strong>em</strong>pre a flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> lingua:<br />

"um elastico assim como e a vi<strong>da</strong><br />

que nunca volta ao ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>. "<br />

o mais importante nesse jogo duplo <strong>de</strong> sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> ( 0 que toma sua poesia<br />

muito mais mel6dica ) e 0 fato <strong>de</strong> 0 poeta tratar a lingua como objeto <strong>de</strong> amor.<br />

Para ele,<br />

cad a letra, cad a palavra que usa para compor a sua tecitura poetica se vai transmutando<br />

<strong>em</strong> urn ser que ama e se <strong>de</strong>ixa amar por ele. E neste ser que, no po<strong>em</strong>a Susto (67), <strong>de</strong><br />

Plural <strong>de</strong> Nuvens, ele esten<strong>de</strong> a "cota9iio do sensual"<br />

e se surpreen<strong>de</strong>, reagindo a algum<br />

possivel observador ( no caso, 0 leitor ):<br />

"E como se algu<strong>em</strong>, <strong>de</strong> relance,<br />

me pegasse fazendo amor<br />

com as palavras e me <strong>de</strong>ixasse<br />

s6 com minha fome e paixiio ".<br />

A fome e a paixao <strong>de</strong> dizer, <strong>de</strong> possuir a palavra nas suas mais varia<strong>da</strong>s formas,<br />

<strong>de</strong> escre(vi)ve-Ias, tomam conta do poeta, absorvendo-o espontaneamente, imantando-o<br />

para 0 centro <strong>da</strong> lingua, somando-se a ela, pela penetrayao, como acontece no po<strong>em</strong>a<br />

Soma (70), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens:<br />

"E ca<strong>da</strong> vez vou-me <strong>de</strong>ixan<strong>da</strong> inteira,<br />

corpo e alma, no centro <strong>de</strong>ssa soma:<br />

ta<strong>da</strong> a sojreguidiio <strong>de</strong> um brasileiro<br />

na sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> do idiama".


No po<strong>em</strong>a As <strong>Letras</strong> (24), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras, po<strong>de</strong>mos perceber a<br />

jun


Representando atraves do gnilico, v<strong>em</strong>os aSSlm a melodia quebra<strong>da</strong> nesta parte do<br />

po<strong>em</strong>a:<br />

A melodia, encontram-se atrelados 0 ritmo, a rima, to<strong>da</strong> uma ca<strong>de</strong>ncia sonora<br />

marca<strong>da</strong> par intervalos sucessivos. Criando essa melodia especifica, Gilberto Mendonya<br />

Teles trouxe para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua poesia, tanto a <strong>de</strong> verso livre quanta a <strong>de</strong> forma fixa,<br />

efeitos sonoras que inci<strong>de</strong>m nos <strong>de</strong>mais sentidos valorizando 0 significado e a ele se<br />

juntando para tomar consistente 0 organismo textual.<br />

Tais efeitos na poetica telesiana saltam do texto e se estabelecern, <strong>da</strong>ndo ao signa<br />

uma feiyao palpavel. Seria 0 caso <strong>de</strong> dizer aqui que a poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles<br />

chega a ser 0 que Barthes (1988: 115) chamou <strong>de</strong> "escrita <strong>em</strong> voz alta". 0 tipo <strong>de</strong><br />

escrita que se faz notar assim:<br />

"Pelo grao <strong>da</strong> voz, que e um misto erotica <strong>de</strong> timbre e <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> (...) revesti<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

pele, um texto on<strong>de</strong> se possa ouvir 0 grao <strong>da</strong> garganta, a patina <strong>da</strong>s consoantes, a<br />

voluptuosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s vogais, to<strong>da</strong> uma estereofonia <strong>da</strong> came profun<strong>da</strong>: a articular;ao<br />

do como <strong>da</strong> limlua ",


Nesse sentido, 0 poeta, no seu fazer puramente individual, vale-se <strong>da</strong><br />

expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> sonora <strong>da</strong>s vogais e consoantes para <strong>de</strong>ixar exalar a voluptuosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

atraves <strong>de</strong> representayoes que envolv<strong>em</strong> os sentidos e os nao-sentidos que <strong>da</strong> palavra se<br />

possa <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r.<br />

Jose L<strong>em</strong>os Monteiro(1991:99)<br />

ao analisar 0 simbolismo fonetico mostra que os<br />

movimentos <strong>de</strong> articulayao produzidos pelos fon<strong>em</strong>as estao todos ligados as vibrayoes<br />

do organismo "que reage as <strong>em</strong>oc;oes ou sensac;oes". Seguindo, <strong>de</strong>sse modo, 0<br />

pensamento <strong>de</strong> Merleau-Ponty (1971), para qu<strong>em</strong> as palavras exprim<strong>em</strong> a essencia<br />

<strong>em</strong>ocional dos objetos que representam<br />

Urn inventario <strong>da</strong> expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e nao a sua exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

fonetica na poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles<br />

nos leva a par 0 ouvido a escuta <strong>de</strong>ssa voz alta que nos surpreen<strong>de</strong><br />

na busca <strong>da</strong> carne<br />

profun<strong>da</strong>. 0 som, a pele que conforma esse corpo, provoca as mais diversas sensayoes.<br />

Sendo 0 som urn dos componentes que mais contribui para a conformayao <strong>de</strong>sse corpo,<br />

po<strong>de</strong>mos recorrer aos estudos <strong>de</strong> L<strong>em</strong>os Monteiro, acima citado, para confronto e<br />

constatayao <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> poesia telesiana. A comeyar pelas vogais, ha, <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as<br />

analisados uma predominancia niti<strong>da</strong> do uso <strong>da</strong> vogal nasala<strong>da</strong> a sugerir distanciamento e<br />

uma certa melancolia <strong>em</strong> relayao as coisas que acontec<strong>em</strong> a sua volta. E 0 caso aqui <strong>de</strong><br />

citarmos como ex<strong>em</strong>plo urn trecho do po<strong>em</strong>a Ars Longa (9), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, on<strong>de</strong><br />

o poeta constata e lamenta 0 distanciamento<br />

entre 0 t<strong>em</strong>po e a vi<strong>da</strong>:<br />

"Quando olho a fundura <strong>de</strong> um poc;o <strong>de</strong> sombras<br />

e vejo a linha se esticando na fisga<strong>da</strong>,<br />

comec;o a perceber que 0 t<strong>em</strong>po ficou boiando<br />

num r<strong>em</strong>anso <strong>de</strong> espuma e re<strong>de</strong>moinhos. "<br />

ou como no po<strong>em</strong>a Regresso (79), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras quando 0 efeito <strong>de</strong><br />

distanciamento<br />

se intensifica pelo uso do anaf6rico, s<strong>em</strong>pre ligado a palavra com vogal<br />

nasala<strong>da</strong> - cavando, tranc;ando, compondo,<br />

criando - ate que 0 sentido <strong>da</strong> palavra salta<br />

<strong>de</strong> urn passado referido a algo que se presentifica, a medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que se eterniza na<br />

penultima estrofe do po<strong>em</strong>a:


"Algu<strong>em</strong>passou por aqui<br />

efoi cavando as cavernas<br />

efoi tran~ando os an<strong>da</strong>imes<br />

efoi compondo os <strong>de</strong>senhos<br />

efoi criando a espessura<br />

<strong>de</strong> seu viver e passaro<br />

Algu<strong>em</strong> passou por aqui<br />

efoi <strong>de</strong>ixando os seus rastos<br />

no perfil <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong><strong>de</strong>. "<br />

Em rela9ao as vogais orais, po<strong>de</strong>mos concluir, tomando 0 conjunto dos po<strong>em</strong>as<br />

<strong>da</strong>s duas obras <strong>em</strong> estudo, que <strong>em</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens ha uma ocorrencia marc ante <strong>da</strong><br />

vogal u <strong>em</strong> quase todos os po<strong>em</strong>as. Segundo Ni1ce Sant'Anna Martins (1989:32) - este<br />

pensamento tamb<strong>em</strong> e aceito por L<strong>em</strong>os Monteiro - a vogal u <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s palavras tern a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> "imitar sons profundos, cheios, graves, ruidos surdos, e sugere i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

fechamento, redon<strong>de</strong>za, escuridfio, tristeza, medo, morte." Fazendo urn levantamento<br />

<strong>em</strong> alguns po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, t<strong>em</strong>os nuvens, escudo, mergulhar, obscuro,<br />

noturno, fundo, fundura, buraco, furnas, profun<strong>da</strong>s, murmitrios, diilivios, suspiros,<br />

solu90S, subterfiigios, oculta, vulto, entre outras. Ja <strong>em</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras 0 que<br />

ocorre e a liberta9ao do poeta <strong>de</strong>sse fechamento interior e <strong>da</strong> tristeza, passando a ver as<br />

coisas mais niti<strong>da</strong>s, mais claras e equilibra<strong>da</strong>s. Dessa forma ha uma inci<strong>de</strong>ncia muito<br />

maior <strong>da</strong> vogal a, portadora <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias expressamente claras e amplas, <strong>de</strong> brancura, <strong>de</strong><br />

alegria, como <strong>em</strong> plumag<strong>em</strong>, labare<strong>da</strong>s, auroras, trasla<strong>da</strong>r paisag<strong>em</strong>, dildiva, asas,<br />

janela, grar;a,aguas, aura, arag<strong>em</strong>, area, ala<strong>da</strong>s, casa,fa<strong>da</strong>s, harpas, aerea, algodfio,<br />

Iii, passaros, transparencia, maravilha, ar;itcar, carnaval, alma, vastidfio, citaras,<br />

luares e outras mais.<br />

Quanto as consoantes,<br />

ha <strong>em</strong> alguns po<strong>em</strong>as dos dois livros, uma escolha lexical,<br />

supomos, consciente ( objetivando uma maior expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> sonora ), que privilegia<br />

alguns fon<strong>em</strong>as consonantais, como e 0 caso do Ir/. Em Plural <strong>de</strong> Nuvens t<strong>em</strong>os 0


po<strong>em</strong>a Gera~ao (19) a abusar <strong>da</strong> expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> sonora do r, <strong>de</strong>monstrando uma<br />

tentativa <strong>de</strong>sespera<strong>da</strong> do poeta <strong>de</strong> escrever 0 nome <strong>da</strong> ama<strong>da</strong> <strong>de</strong> qualquer forma:<br />

"No grafteo te gravo e te abrevio,<br />

tefac;o <strong>em</strong> sigla, te componho <strong>em</strong> grifo,<br />

te relato, te tombo, te sublinho<br />

e te averbo no trafo <strong>da</strong> mbriea. "<br />

o poeta utiliza-se <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas e <strong>de</strong> todos os codigos<br />

on<strong>de</strong> 0 fon<strong>em</strong>a r<br />

aparece - criptogramas, i<strong>de</strong>ogramas, pictogramas, anagramas, graf<strong>em</strong>as, caligramas -<br />

para atingir, por fim, dois momentos <strong>de</strong> intensa excita


"Nas silabas <strong>de</strong> um So que se Ie<br />

e seler;ao <strong>de</strong> algum sinal,<br />

cila<strong>da</strong>,<br />

talvez silepse ou silex <strong>de</strong> um lance<br />

soletra<strong>da</strong> <strong>em</strong> silencio.<br />

o que se quer, 0 que sequer se escon<strong>de</strong><br />

o secso (sic),<br />

o que se que bra,<br />

seco,<br />

talvez queira secreto a que se escan<strong>de</strong><br />

como um saco.<br />

Eo que se <strong>de</strong>r<br />

(0 que ce<strong>de</strong>u),<br />

si<strong>de</strong>reo,<br />

no <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rio <strong>de</strong> se <strong>da</strong>r s<strong>em</strong> acido,<br />

talvez se consi<strong>de</strong>re a se<strong>da</strong> e 0 sido<br />

Mas 0 que nao se ve, 0 que, severo,<br />

se vai do verossimil se livrando,<br />

este serviu ao verbo e mais servira,<br />

se nao silvasse tanto. "<br />

A partir do <strong>de</strong>sdobrar dos corpos 0 gozo se completa pelo jogo <strong>de</strong><br />

palavras que se opo<strong>em</strong> pela uni<strong>da</strong><strong>de</strong> minima sonora, pravocando uma musicali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

intensa , oscilando entre 0 abafado <strong>da</strong> nasala9ao e ruido <strong>da</strong>s sur<strong>da</strong>s e vibrantes<br />

( escon<strong>de</strong> / escan<strong>de</strong>, seco / soco, si<strong>de</strong>reo / <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rio, acido /0 sido /a se<strong>da</strong> ). Assim,<br />

o texto se apresenta com uma mascara que revela muito mais do que oculta, porque<br />

revela outro sentido ao permitir <strong>de</strong>sdobrar os seus sons:<br />

secso =><br />

severo =><br />

ce<strong>de</strong>u =><br />

sexo<br />

se e vera<br />

se <strong>de</strong>u


Gilberto Mendonya Te1es termina 0 po<strong>em</strong>a ironizando 0 seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criayao,<br />

parodiando urn soneto camoniano. Se e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, se e vero 0 que nao se ve claramente,<br />

continu<strong>em</strong>os parodiando Cam6es para enten<strong>de</strong>rmos Esse po<strong>em</strong>a: para tao longo amor<br />

pela lingua ( que nao e nenhum Jacob para 0 poeta, e sim, Raque1 ), a ela se <strong>de</strong>u e<br />

"ce<strong>de</strong>u" aos seus encantos. E mais servira e servini, enquanto persistir entre os dois<br />

Esse sinal <strong>de</strong> seduyao. 0 "se", a duvi<strong>da</strong> impressa, e a cila<strong>da</strong> <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> ama e fica cioso<br />

com tanto silvo,<br />

"Aimla mais quando 0 termo,<br />

<strong>de</strong> tao pesado e polido,<br />

se toma ambiguo: vertentes<br />

<strong>de</strong> uma sonora uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

cindi<strong>da</strong> apenas no gosto<br />

<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scobrir, e dizer. "<br />

( Data, p. 51 - & Cone <strong>de</strong> Sombras )<br />

o ambiguo na poesla <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles e recorrente, ain<strong>da</strong> malS<br />

quando e possivel <strong>de</strong>tectar <strong>de</strong>ntro dos textos 0 seu prazer <strong>de</strong> jogar duplo com a lingua,<br />

com a t<strong>em</strong>atica <strong>em</strong> questao e, conseqi.ient<strong>em</strong>ente, consigo mesmo.<br />

"Amar <strong>de</strong> corpo e alma, contra 0 t<strong>em</strong>po<br />

contra todo 0 argumento ... todos os<br />

sentidos alerta - ver, tocar, cheirar .<br />

experimentar 0 sabor que 0 amor t<strong>em</strong> "<br />

As palavras, it medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que penetramos 0 po<strong>em</strong>a telesiano, dinamizam-se,<br />

mu<strong>da</strong>m <strong>de</strong> significados, ganham novos, ampliam-se. Isso se <strong>de</strong>ve a uma preocupayao do


poeta no que diz respeito a formayao <strong>de</strong> campos s<strong>em</strong>anticos e <strong>de</strong> sua relayao estreita<br />

com a expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> sonora. Dai insistirmos <strong>em</strong> dizer que ha to do urn processo <strong>de</strong><br />

escolha, <strong>de</strong> elaborac;ao consciente do lexico a ser utilizado, se nao no ate <strong>da</strong><br />

criayao, mas numa releitura do po<strong>em</strong>a ain<strong>da</strong> por terminar. Esse e 0 aspecto mats<br />

relevante <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua poesia: e a via <strong>de</strong> acesso a dimensao corporal do texto.<br />

o processo <strong>de</strong> incorporayao atinge 0 seu grau maximo quando encontramos 0<br />

seu ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> que e a referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>. E <strong>de</strong>la que brotam os caminhos, mas<br />

tamb<strong>em</strong> nos leva as encruzilha<strong>da</strong>s do texto, aos seus "s<strong>em</strong>-sentidos". E urn trabalho <strong>de</strong><br />

elaborayao do lexico que se "<strong>de</strong>rrama" texto a texto, produzindo urn myel <strong>de</strong><br />

metaforizayao a partir do modo <strong>de</strong> referenciayao, fazendo <strong>em</strong>ergir <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> urn ser<br />

co-movente.<br />

Antonio Sergio Buen0 6 <strong>em</strong> sua critica ao livro Plural <strong>de</strong> Nuvens diz ser nele que<br />

a "nossa lingua portuguesa vive momentos privilegiados <strong>de</strong> beleza plastica e sonora ",<br />

po<strong>de</strong>ndo ca<strong>da</strong> po<strong>em</strong>a ser lido "como mettijora <strong>da</strong>s diversas articulac;oesdos po<strong>em</strong>as,<br />

jormando figuras moveis e milltiplas". Gilberto Mendonya Teles vai arquitetando urn<br />

bor<strong>da</strong>do textual que faz l<strong>em</strong>brar a dimensao "quasi corporea" que a metafora e 0 outros<br />

tropos se encarregam <strong>de</strong> prover 0 discurso, conforme discorre Paul Ricoeur 7 a respeito<br />

do pensamento <strong>de</strong> Genette. Nos po<strong>em</strong>as ha uma referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> latente, intencional, na<br />

superficie do texto entrelac;a<strong>da</strong> a uma metaforizayao, tamb<strong>em</strong> intencional, num<br />

jogo <strong>de</strong> disfarces on<strong>de</strong> a poesia <strong>de</strong>sdobra os seus sentidos numa imag<strong>em</strong> Dutra, cujas<br />

s<strong>em</strong>elhanyas com 0 cOrpo f<strong>em</strong>inino encontra-se fort<strong>em</strong>ente marca<strong>da</strong> pela escolha lexica.<br />

Selecionamos , entao, <strong>de</strong>ntrD dDs dois livros ora analisados, quatro po<strong>em</strong>as - tres <strong>de</strong><br />

Plural <strong>de</strong> Nuvens e urn <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras - para apontarmos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les essas<br />

quest5es.<br />

Em Plural <strong>de</strong> Nuvens, 0 po<strong>em</strong>a Signo (17), por ex<strong>em</strong>plo, carrega uma<br />

referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> intencional na superficie do texto atraves <strong>de</strong> palavras como cabelos,<br />

alma, corpo, ser, provocando 0 aparecimento <strong>de</strong> uma imag<strong>em</strong> que surge a partir <strong>da</strong><br />

6 Antonio Sergio BUENO. A Estrutura cIaLibercIa<strong>de</strong> <strong>em</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens ( texlO mimeografado ).<br />

- Paul RICOEUR. a Processo Metaf6rico como Cogni~ao, Imagina~ao e Sentimento. In.: Da Metafora<br />

(org) Sacks. Sheldon.


segun<strong>da</strong> estrofe, media<strong>da</strong> pelos verbos existir e haver, elipticos no po<strong>em</strong>a, para <strong>da</strong>r maior<br />

concisao, apesar do anaf6rico "ain<strong>da</strong>" reverter tal efeito. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<br />

abrange, 0 anaf6rico restringe essa imag<strong>em</strong> <strong>da</strong> poesia que ate agora e al<strong>em</strong> disso e essa<br />

mulher com todos os seus misterios, encerra<strong>da</strong> nesse espayO interior que se Val<br />

consumindo com 0 passar do t<strong>em</strong>po, sofrendo mutayoes, aperfeiyoando-se<br />

e fazendo-se<br />

permanecer na travessia <strong>de</strong> "to<strong>da</strong>s as formas liricas do mundo ":<br />

"Ain<strong>da</strong> existe a rosa nos cabelos<br />

vermelhos <strong>da</strong> poesia.<br />

Ain<strong>da</strong> hilfor9a<br />

no azul do seu misterio, no seu canto.<br />

no eixo <strong>de</strong> sua aerea encruzilha<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong>, esta mora<strong>da</strong>, 0 seu precioso<br />

espa90 interior, 0 alumbramento<br />

<strong>da</strong> forma <strong>em</strong> <strong>de</strong>satino, a <strong>de</strong>scontinua<br />

perspectiva do ser na travessia.<br />

E ain<strong>da</strong> a sua imag<strong>em</strong>:<br />

lago. espelho,<br />

alma e corpo submerso, 0 in<strong>de</strong>Ievel<br />

estribilho do amor e seu disfarce,<br />

e seus pontos <strong>de</strong> cruz na superficie ".<br />

No po<strong>em</strong>a Percep~ao (39), Gilberto Mendonya Teles continua a completar essa<br />

mulher que se encontra agora <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn espayo externo - 0 quarto - responsavel<br />

por seus movimentos. 0 olhar, os pes, as viagens, todos os <strong>de</strong>sejos volv<strong>em</strong> para<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesma num eterno retorno. Por todos os lados este ser se encontra ro<strong>de</strong>ado,


comprimido, restrito <strong>em</strong> seu mundo. Mas ha uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fuga, e esta se <strong>da</strong> pelo<br />

espelho que the oferece uma outra imag<strong>em</strong>, "os possiveis <strong>de</strong> outros pianos":<br />

"0 mundo te ro<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cercas e <strong>de</strong>sejos,<br />

te comprime no refugio <strong>de</strong> teu quarto<br />

e te restringe it lamina <strong>da</strong>s coisas<br />

no seu fino acontecer.<br />

Ve como as cortinas disfarfam 0 teu olhar,<br />

como as ruas se enrodilham aos teus pes<br />

e como algumas vere<strong>da</strong>s vilo <strong>de</strong>saparecendo<br />

nos teus <strong>de</strong>sertos e viagens.<br />

Que seria <strong>de</strong> ti s<strong>em</strong> os teus espelhos?"<br />

o soneto Da Figura (45) acaba por fomecer<br />

0 mol<strong>de</strong> perfeito <strong>de</strong>sse corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong>, cuja inscriyao <strong>em</strong> po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> forma fixa traya 0 perfil <strong>de</strong>sse ser <strong>de</strong> palavras -<br />

princesa - nomeado, ampliado <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, mas nao totalmente revelado "nas<br />

solufoes<br />

mais faceis <strong>da</strong> leitura":<br />

"Atravessei 0 azul <strong>da</strong> noite para<br />

te inscrever num po<strong>em</strong>a, mas, no fundo,<br />

queria ver tamb<strong>em</strong> como ficara<br />

Queria achar uma palavra rara<br />

para te <strong>da</strong>r, algum sinal profundo<br />

que, atraves <strong>de</strong> teu nome, atravessara<br />

to<strong>da</strong>s as formas liricas do mundo ".


Entre 0 Ser e 0 Nome (28), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras, <strong>de</strong>termina 0 ser como<br />

sintese <strong>da</strong> poesia. Atraves <strong>de</strong>sse ser as coisas se tornam possiveis, adquir<strong>em</strong> forya e<br />

majesta<strong>de</strong> - ser po<strong>de</strong>roso, "rainha" capaz <strong>de</strong> unir e ultrapassar 0 seu espayO, <strong>de</strong><br />

estabelecer suas fronteiras violentando a sombra do papel, penetrando-o, mas<br />

conseguindo<br />

"trasla<strong>da</strong>r-se":<br />

"NCioha poesia fora do nome e do ser<br />

que 0 con<strong>de</strong>nsa e contorna silencioso.<br />

Ate 0 timbre <strong>de</strong> uma silaba me excita<br />

a sensac;iio <strong>da</strong> trajet6ria interior.<br />

Eat tudo e possivel. Ese entrelac;am<br />

o gesto <strong>de</strong> conter-se e 0 trasla<strong>da</strong>r-se<br />

para aI<strong>em</strong> <strong>da</strong> paisag<strong>em</strong>, no castelo<br />

penetrar como um signo e seu <strong>de</strong>signio,<br />

sua liC;iio<strong>de</strong> forc;a e majesta<strong>de</strong>,<br />

ressondncias <strong>de</strong> flautas nos cabelos,<br />

perfume violentrando a sombra do papel ".<br />

Nos quatro po<strong>em</strong>as converg<strong>em</strong>, fun<strong>da</strong>mentalmente, linguag<strong>em</strong> e mulher, palavra<br />

e corpo. Segundo Ricoeur, "0 criador <strong>de</strong> metaforas e esse artesiio com habili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

verbal capaz <strong>de</strong> extrair um enunciado significativo para uma nova interpretac;iio que<br />

merec;a ser chama<strong>da</strong> metaf6rica". Gilberto Mendonya Teles e b<strong>em</strong> esse artesao capaz<br />

<strong>de</strong> extrair linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, poesia <strong>da</strong> poesia e fazer jorrar urn novo sentido<br />

metaf6rico. Em sua poesia nenhum signa e <strong>em</strong>pregado ao acaso. Nos citados po<strong>em</strong>as,<br />

notamos uma predomimincia do uso <strong>de</strong> enunciados nominais, it exceyao do ultimo<br />

po<strong>em</strong>a, cujos enunciados verbais sao os responsaveis<br />

pela interligayao <strong>da</strong> imag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>sse<br />

seL E como conseguir <strong>de</strong>monstrar esse fato? Partamos entao do fato <strong>de</strong> que Gilberto<br />

Mendonya Teles se vale do el<strong>em</strong>ento referencial para cavar a face mais secreta do ser, 0


que esta por baixo dos pontos <strong>de</strong> cruz <strong>da</strong> superficie do texto. Por essa combinayao<br />

referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>/metafora uma nova face se forma, urn novo ser se precipita na<br />

encruzilha<strong>da</strong> do espa90 poetico.<br />

No po<strong>em</strong>a Signo, a passag<strong>em</strong> <strong>da</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> - estribilho, forma,<br />

palindromo, figura, palavra, linguag<strong>em</strong> - para a metaforizayao se <strong>da</strong> atraves <strong>da</strong> palavra<br />

"rosa". A principio, essa relayao que se forma parece ser incompativel com 0 termo a<br />

que se refere, que e a poesia. Entretanto, toma-se compative1,pensando s<strong>em</strong>pre que a<br />

referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> poesia e uma referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> outra. A rosa passa a representar a<br />

outra face <strong>da</strong> poesia, a mulher que aflora, formosa e <strong>de</strong>lica<strong>da</strong>: a imag<strong>em</strong> mesma <strong>da</strong><br />

poesia. Vejamos como po<strong>de</strong>mos representar, graficamente, 0 momento <strong>em</strong> que se <strong>da</strong><br />

essa passag<strong>em</strong> <strong>da</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> para a metaforizayao, processo que sera seguido nos<br />

<strong>de</strong>mais po<strong>em</strong>as:<br />

eixo<br />

palfndromo<br />

palavras·<br />

estribilho<br />

, . imag<strong>em</strong>.<br />

alma.<br />

corpo


Nessa travessia, como mostrani 0 segundo grafico, a metifora se fortalece,<br />

trayando um novo risco no bor<strong>da</strong>do. Na encruzilha<strong>da</strong> dos pontos <strong>de</strong> cruz 0 signo se<br />

entrelaya a poesia para penetrar a essencia do ser disfaryado no mais profundo do texto.<br />

A esse momenta na poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles, <strong>de</strong>nominar<strong>em</strong>os <strong>de</strong> entree)spayo<br />

do texto, a brecha por on<strong>de</strong> fiui 0 ser <strong>em</strong> conflito com 0 t<strong>em</strong>po, 0 espayO e com as<br />

coisas to<strong>da</strong>s que 0 cercam. A poesia serve <strong>de</strong> disfarce para 0 misterio que se escon<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro do ser <strong>de</strong> palavras. Tal qual um bor<strong>da</strong>do <strong>em</strong> ponto <strong>de</strong> cruz, on<strong>de</strong> frente e<br />

verso formam um s6 e <strong>de</strong>finitivo bor<strong>da</strong>do, 0 ser atravessa 0 t<strong>em</strong>po, atravessa 0 espayO na<br />

angustia <strong>de</strong> chegar a totali<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />

alma e corpo entrelayados, forma e sentido:<br />

:·····fNriMOi1iSTERIO::'··<br />

·4_.· •.. ~·.~~ .,"" .. :.'0." _ " __0 •.• '_'.-; .• : ' ..••... _ _ ' ~<br />

orig<strong>em</strong><br />

misterio<br />

espafo interior:<br />

lago<br />

espelho<br />

......... -.'~....-•.......-_.-., ..-...-.~.-<br />

travessia<br />

angustia<br />

<strong>de</strong>scontinua<br />

. perspectiva .<br />

:avesso <strong>de</strong> fogo:<br />

--_ -_ - .<br />

.•..•.~<br />

:PONTOSDE:<br />

. .<br />

CRUZ<br />

No po<strong>em</strong>a Percep


e 0 seu conteudo:<br />

a essencia plural <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a poetica telesiana. Nele, 0 ser esta contido<br />

ern urn mundo que the oferece poucas chances <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>: sua percep9ao e tolhi<strong>da</strong> pelo<br />

arnbiente que 0 cerca, mas no seu silencio, ele vai arquitetando<br />

<strong>de</strong> si para si, atraves dos<br />

c6digos fornecidos pela sua irnag<strong>em</strong> refleti<strong>da</strong> no espelho. A jarra <strong>de</strong> flores, juntamente<br />

corn os espelhos, funcionarn como el<strong>em</strong>entos mediad ores <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>vaneios, <strong>da</strong> busca do<br />

sentido <strong>da</strong>s coisas e <strong>da</strong> essencia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: 0 arnor que aprisiona e liberta. E mais uma vez<br />

o poeta reitera 0 seu amor pela lingua, pela palavra , pelo que nela julga obsceno, mas<br />

espetacular:<br />

•• ~. _ • ~ ••. _._" _.,. ,_._. ~ .• __ • __ ,n __ .• _ ..•• _._.' •••••.• _•••••. _".~ .,...,. __ ~",,:<br />

PERCEPC;XO<br />

l"'-.-~ 'C'-' _..,..•-:•.._._.~.,,_.•..- ~.- -~ ....--<br />

,- '<br />

SER<br />

quarto<br />

cercas<br />

cortinas<br />

mesa<br />

ruas<br />

"-'d~~~j~~'-"~<br />

. a/har<br />

pes '.<br />

amor .'<br />

: JARRADE]<br />

FLORES<br />

...' - .•. -- - .:.~- -. - - .- •. - .-. _. - -. '.'. " ,<br />

as possiveis <strong>de</strong> outros pIanos se the ofere cern via subversao <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m<br />

estabe1eci<strong>da</strong>. No quarto as coisas estao ern <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. 0 <strong>de</strong>smanche acontece a partir do<br />

sentido gra<strong>da</strong>tivo dos verbos <strong>da</strong> primeira estrofe - ro<strong>de</strong>ia, comprime, restringe - do<br />

sentido antitetico <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> estrofe e <strong>da</strong> ultima - para s<strong>em</strong>pre e um dia, pren<strong>de</strong>/liberta,<br />

sentidos/unico sentido - tudo isso oa.usado pelo excesso <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que nao the <strong>de</strong>ixa


.:. ..~--_::-.-...<br />

ver muito al<strong>em</strong>. 0 mundo, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e cortante,<br />

como a lamina. Mas hft.os espelhos a<br />

Ihe proporcionar<strong>em</strong><br />

a fuga:<br />

:"os"'possf\!E"isiiE"o6'iROS'PLANOS"j<br />

._ • , ••• _. _ • __ •• _ •• __ • _ •••• ~ ••••• -•• ; ._. _.~ •••• -. ~ _. >._c ..••• ~:_~:.~.--i-._.-~-,~::.:~-<br />

~.:;._:--:.. -~.~.::::-:-.-~-~ .. :. ~:.(<br />

;: •••.•.••• -." "'.' - .-. __ A • __ ~ .• - • - ••• __ A ••..•.•••• __ ..••• ~<br />

CODIGOS<br />

r":"SUBVER:SOES'"'1<br />

~-:,;,~,<br />

-~_:: __:~:-;<br />

-_...;:~_. - -". --~.--.~~<br />

:;-;P~~i;;r<br />

obsceno :<br />

refugio .:<br />

:- - - -- - -..~.~-".._.'--" ~-..,.'-"'--" --~.- ..-~.---- ..._-_.~<br />

ESPELHOS<br />

:..... ~- ~-....-.~...:~-~.-;.,.,. .-..-~:::..:.~--;...-~<br />

o po<strong>em</strong>a Da Figura marca a passag<strong>em</strong> para a metaforizacao pelo termo<br />

"princesa", significando a primeira e mais distinta, a excelente pessoa <strong>de</strong> sangue nobre,<br />

personalizando<br />

a propria poesia:<br />

palavras<br />

formas Uncas<br />

linguag<strong>em</strong> ;<br />

~espa90 <strong>da</strong>jigura :<br />

leitura


o el<strong>em</strong>ento metaforizador motiva to<strong>da</strong> uma escolha lexica: rara, nome, azul.<br />

Principalmente 0 azul que <strong>de</strong>nota nobreza. E pela travessia <strong>da</strong> noite que 0 poeta<br />

consegue 0 contato com 0 ser <strong>da</strong> poesia, a (mica solw;ao possivel pelo distanciamento<br />

a<br />

que se prop5e, uma vez que e vagabundo<br />

a errar <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> lingua <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> palavras<br />

incomuns para nomea-Ia a espessura do azul <strong>da</strong> noite e 0 disfarce fun<strong>da</strong>mental<br />

e a hora<br />

mais propicia para os encontros sigilosos e impossiveis e, quando possiveis, s6 ap6s<br />

vencer muitas barreiras:<br />

." _. ~.-' ..- .,..•.-.._.-",. -.-.---,. ~'''''-.-'---~'-.'''''- ~.-.-.'"-:; --<br />

'NOME,' "<br />

Entre 0 Ser e 0 Nome abre 0 espa~o para 0 entrela~amento<br />

<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> e do<br />

corpo. 0 poeta resolve a sua poesia no papel, tomando a referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> como ponto<br />

fun<strong>da</strong>mental para a <strong>em</strong>ergencia do ser. E a captura do corpo <strong>em</strong> si pelo corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong> tornado poesia, que agora po<strong>de</strong> caminhar livre e majestosa no entrespayo<br />

do<br />

texto, tra~ando a sua trajet6ria eterna. Entre 0 ser e 0 nome resi<strong>de</strong> 0 ser do nome que<br />

penetra e se <strong>de</strong>ixa penetrar gra<strong>da</strong>tivamente pelo silencio do inominado ate a excitayao<br />

supr<strong>em</strong>a do som que 0 <strong>de</strong>nomina e 0 faz existir. A trajet6ria interior se torna possivel<br />

pelo gesto <strong>de</strong> trasla<strong>da</strong>r-se 0 que permite 0 entrela~ar dos corpos: ambos se "violentram"<br />

nessa busca incessante <strong>de</strong> ser e ser poesia:


......... - ~-... _.-_.'.".- .-..-..-..... -'" .•.~....• -..-_ .•..•-.-.~...•- •.....•.-..,..•..•.•....,. ....• '.---..__ .........•.. -..•.-- .. _ .... -- ...• -.~_...-...- ..... _~<br />

ENTRE 0 SEREONOME<br />

poesia<br />

: timbre .<br />

: sililbas .':<br />

:linguag<strong>em</strong>:<br />

. signa .<br />

~'-_..- ..•-..••..-.•..•...•,- .,~-...•-<br />

:.m<strong>em</strong>Jria ..<br />

: ·rainha:<br />

! jor9a :<br />

: frlajesta<strong>de</strong> :<br />

[..,perfume. :<br />

:. cabeJo ,:<br />

'; ~".;:.;"~-. ~->.;.--~- •.~ •..;..: >'<br />

--.- .'•.- .....-..-..,.._--., ..-.'._-, .. -.-,.•..•.... '.'.--- --------'., ..<br />

ENTRELA~AMi<br />

o "lusco-fusco <strong>da</strong> lingua g<strong>em</strong> " interpoe-se entre 0 poeta e 0 ser <strong>da</strong> poesia,<br />

dificultando a trajet6ria do fazer poetico. Entretanto, este consegue veneer 0 que <strong>de</strong><br />

obscure possa impedir sua trajet6ria <strong>de</strong> sonhos:<br />

,.. _ •.•.• ,_ •• -. .•• _._ •. _··' •.. '.· •..• -.~.- •. __-.L. __'_.'._ ..•.•• ••..•••<br />

, CASTELO.·'<br />

~-:. :::-'" '.~"<br />

,<br />

CONTER-SE<br />

trajetoria<br />

interior<br />

<strong>de</strong>signio<br />

con<strong>de</strong>nsa<br />

contorna<br />

silencioso<br />

,.'--' -- ..•.-- .-- ... '.'- _.'<br />

. at<strong>em</strong><strong>da</strong> .<br />

: paisag<strong>em</strong><br />

: sortitegios ,<br />

: esvoat;antes :<br />

sombra


o entree)spac;o do texto telesiano e rnontado atraves <strong>de</strong> urn jogo <strong>de</strong> relac;6es<br />

responsavel por to do 0 misterio que gira <strong>em</strong> tomo <strong>de</strong>ssa rnulher-palavra,<br />

<strong>de</strong>sse corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong> corporifica,<br />

cuja face se <strong>de</strong>ixa refletir no espelho. A seleC;aolexical nos quatro<br />

poernas transparece a atitu<strong>de</strong> narcisista do poeta que esta constanternente retomando ao<br />

seu corpo <strong>de</strong> palavras, numa auto-repetic;ao que nao diminui <strong>em</strong> na<strong>da</strong> 0 ja escrito; ao<br />

contrario, ernbeleza-o ca<strong>da</strong> vez mais. Isto funciona como urn in-saci-avel <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

ultrapassar<br />

as pr6prias fronteiras do seu ato criador. E urn poeta <strong>em</strong>bevecido diante <strong>da</strong><br />

sua criaC;aoque nao e rnais que 0 seu corpo reapresentado<br />

<strong>em</strong> forma <strong>de</strong> escritura.<br />

Ricoeur fala <strong>de</strong> irnagens poeticas que se <strong>da</strong>o a partir <strong>da</strong> produC;ao <strong>de</strong> sentido, isto<br />

e, irnagens interliga<strong>da</strong>s pelo elernento verbal e controla<strong>da</strong>s por ele. Nos poernas acirna, os<br />

esquernas dos enunciados verbais formam ca<strong>de</strong>ias que apontarn t<strong>em</strong>pos distintos,<br />

servindo <strong>de</strong> elo entre as imagens que se VaG formando. as verbos nos diz<strong>em</strong> <strong>de</strong> urna<br />

imag<strong>em</strong> oscilante, duvidosa no t<strong>em</strong>po e no espac;o, ora <strong>em</strong> formac;ao, ora ja forma<strong>da</strong>, ora<br />

simples sombra esboc;a<strong>da</strong> no pape!. Sobretudo, e uma imag<strong>em</strong> que existe e atravessa, que<br />

se arnplia e se escon<strong>de</strong> por tras <strong>da</strong>s nuvens do texto, com forma, sentido, nome: urn ser<br />

<strong>de</strong> palavras. Sintetizando todos os gnificos, t<strong>em</strong>os:<br />

- - - • ~ - - - - •• _. - - - _. - - _. - - - • - - - - - - - • - • • • • ~ - ••• , - - - •• - - - ••• ' •• _. __.• - ••• ~ ••• _. - _. - ._ •• _.4 • _ ". •• _ • •• _. _ •••••• __ • __ •• _ •• , •__ ••• _ •• ~<br />

REFERENCIALIDADE MET AFORIZA


A referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

na poetica telesiana <strong>de</strong>senha os limites <strong>de</strong> seu espayo. Por ser<br />

poesia, requer urn outro nivel referencial e, no caso <strong>em</strong> estudo, uma autoreferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Explicamos: sua poetica e uma constante procura <strong>de</strong>ssa imag<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />

mulher-palavra<br />

que se mostra por inteiro com forma e nome, com essencia, 0 que lhe<br />

proporciona<br />

uma exisH~ncia.Todos esses signos combinados contribu<strong>em</strong> para a formayao<br />

<strong>da</strong> gran<strong>de</strong> metafora dos livros <strong>em</strong> estudo, que e a metilfora <strong>da</strong> "mulher -palavra".<br />

Em Gilberto Mendonya Teles a escolha lexica influencia diretamente na<br />

significayao t<strong>em</strong>iltica <strong>de</strong> sua poesia. Para chegar it significayao t<strong>em</strong>iltica a partir <strong>da</strong><br />

significayao conceptual<br />

( referencial ), 0 poeta, ao longo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> po<strong>em</strong>a, vai distribuindo<br />

varios significados associativos que se juntam para representar<strong>em</strong> 0 s<strong>em</strong>-numero <strong>de</strong><br />

nuanyas <strong>de</strong> sentido. Maria Teresa Bi<strong>de</strong>rman (1971: 146) diz que ao significado<br />

conceptual se atrelam 0 que ela <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> "franjas conotativas", isto e, diversos<br />

tipos <strong>de</strong> significados - conotativo, estilistico, afetivo, refletido, <strong>de</strong> colocar;iio - que,<br />

juntos, objetivam atingir to<strong>da</strong> a significayao possivel <strong>de</strong> urn texto, organizando assim a<br />

significayao t<strong>em</strong>atica. Nao quer dizer que a significayao conceptual se enfraqueya<br />

diante dos diversos tipos <strong>de</strong> significayao encontraveis no texto, ain<strong>da</strong> mais que este<br />

representa e reflete a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> senti<strong>da</strong> e ate pressenti<strong>da</strong> pelo autor.<br />

Por ser 0 lexico consi<strong>de</strong>rado urn sist<strong>em</strong>a aberto, 0 poeta apo<strong>de</strong>ra-se <strong>de</strong>le para<br />

criar suas oposiyoes simples ou complexas <strong>de</strong> significayao. A merce <strong>de</strong>le, 0 lexico se vai<br />

expandindo it medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que novos significantes sao criados e novos sentidos sao<br />

produzidos; tais criayoes transformam<br />

0 lexico numa "galilxia <strong>em</strong> expansiio".<br />

Aproveitando a abertura tamb<strong>em</strong>, do texto literario, novos lex<strong>em</strong>as sao<br />

introduzidos, tornando-se impossivel <strong>de</strong>limitar 0 seu campo <strong>de</strong> significayao.


Principalmente quando se trata <strong>da</strong>s inovayoes lexicais na poesla telesiana, on<strong>de</strong> as<br />

palavras se <strong>de</strong>sdobram realya<strong>da</strong>s pela expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> sonora, como por ex<strong>em</strong>plo,<br />

lumildmpa<strong>da</strong>, lumilepi<strong>da</strong>, lumilimpi<strong>da</strong>, lumil6gica, lumilumina, luxeluz, lumildmina,<br />

lumiluci<strong>da</strong>, to<strong>da</strong>s pertencentes a urn unico po<strong>em</strong>a, Degraus (81), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens e<br />

tantas outras, como alfaberto, calamitoso, serelepido, alibidinoso, ar condicionario,<br />

brilhoteca, to<strong>da</strong>s ja penetrando<br />

os espayOS <strong>da</strong> criayao neol6gica.<br />

Quando dividimos a palavra neo-fono-16gicas,<br />

a intenyao primeira e <strong>de</strong> mostrar<br />

como se processa a formayao do neologismo na poetica telesiana. Apesar <strong>de</strong> Maria<br />

Apareci<strong>da</strong> Barbosa 8 afirmar que 0 discurso literario "reune sincreticamente, certos<br />

aspectos dos <strong>de</strong>mais universos <strong>de</strong> discurso", ain<strong>da</strong> corre as margens,<br />

sendo preterido<br />

pelas teorias lingiiisticas. Entretanto,<br />

a poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles apresenta-se<br />

rica <strong>em</strong> urn dos processos <strong>de</strong> estruturayao vocabular mais facilmente encontrado nos<br />

<strong>de</strong>mais discursos, que e 0 processo <strong>de</strong> criayao neol6gica.<br />

A exceyao dos estudos<br />

<strong>de</strong> criayao vocabular na obra <strong>de</strong> Guimaraes Rosa, com<br />

especial <strong>de</strong>staque para os estudos <strong>de</strong> Nei Leandro <strong>de</strong> Castro (1982), alguns cnticos <strong>da</strong><br />

obra <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles v<strong>em</strong> apontando-o ain<strong>da</strong> que <strong>de</strong> forma indireta, como<br />

urn possivel continuador <strong>da</strong>s artes e manhas vocabulares rosianas. Aquele, na prosa; este<br />

na poesia. Conforme Assis Brasil,9 0 poeta <strong>em</strong> questao e urn "manipulador versatil<br />

dos materiais <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, " capaz <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>r uma "po<strong>de</strong>rosa linguag<strong>em</strong> significante<br />

<strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as" atraves <strong>de</strong> uma reciclag<strong>em</strong> do lexico regional, como b<strong>em</strong> soube fazer<br />

Rosa. Tamb<strong>em</strong> Nelly Carvalho lO faz alusao a criayao vocabular rosiana, como ex<strong>em</strong>plo<br />

maximo <strong>da</strong> criayao neo16gica. Para ela, tais criayoes "<strong>da</strong>o ao seu estilo um colorido<br />

incomum. Utiliza os mais diferentes processos na formar;ao <strong>de</strong> palavras com radicais<br />

gregos, latinos, indigenas, africanos (...). E como 0 abacaxi, inabor<strong>da</strong>vel e espinhoso<br />

por fora, sumarento e doce por <strong>de</strong>ntro. " Assim consi<strong>de</strong>ramos a poesia <strong>de</strong> Gilberto<br />

8 Maria Apareci<strong>da</strong> BARBOSA. Da neologia a neologia literaria, p. 31.<br />

9 Assis BR.A.SIL. In: Poesia & Critica - antologia <strong>de</strong> textos criticos sobre a poesia <strong>de</strong> Gilberto<br />

Mendon~a Teles. p, 339.<br />

10 Nelly CARVALHO 0 que e neologismo, p 29.


Mendonya Teles, para qu<strong>em</strong> a palavra e "fun<strong>da</strong>mental para que 0 hom<strong>em</strong> tome<br />

consciencia <strong>de</strong> si e possa realizar a segun<strong>da</strong> criac;iio do universo, que e a criac;iiopela<br />

lingua g<strong>em</strong> ." E nesse sentido que ele elabora a sua poesia, criando urn universo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong> que the e peculiar.<br />

Para alguns criticos, a sua poesia r<strong>em</strong>ete ao cerebralismo <strong>de</strong> Joao Cabral <strong>de</strong> Melo<br />

Neto,l1 humanizado pelo refinamento e pelo rebuscamento vocabular. Sua arte e fun<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

numa linguag<strong>em</strong> que explora e explo<strong>de</strong> todos os niveis <strong>da</strong> palavra: <strong>da</strong> lingua culta a<br />

popular, dos costumes aca<strong>de</strong>rnicos a cultura goiana. E urn eterno <strong>de</strong>s-monte<br />

<strong>da</strong> palavra<br />

buscando meios <strong>de</strong> chegar a corporei<strong>da</strong><strong>de</strong> textual. Urn <strong>de</strong>sses meios e exatamente a<br />

criayao neol6gica.<br />

Nao se trata aqui <strong>de</strong> analisarmos 0 neologismo partindo <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

lingiiistica, mas a partir <strong>de</strong> urn conjunto <strong>de</strong> textos litenirios ( po<strong>em</strong>as ), pertencentes<br />

a urn<br />

unico escritor. Embora seja criado corn a mesma caracterizayao dos <strong>de</strong>mais, que e a<br />

transrnissao <strong>de</strong> conhecimento<br />

<strong>de</strong> modo inovador, 0 neologismo litenirio se distancia dos<br />

<strong>de</strong>mais por nao apresentar uma funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a nao ser para 0 pesquisador. Mais que<br />

qualquer outro, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do contexto intra-lingiiistico para ser entendido. De sua<br />

formayao vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r 0 seu hermetismo, ou 0 seu carater polissernico.<br />

o que teria levado Gilberto Mendonya Teles a uma criayao tao vasta <strong>de</strong><br />

neologismos ern sua obra? Certarnente como instrumento i<strong>de</strong>ol6gico ern Saciologia<br />

Goiana. 12 Nas <strong>de</strong>mais obras, esse procedimento e sentido como uma experiencia <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong> na lingua materna. Possivelmente,<br />

uma tentativa <strong>de</strong> tornar mais <strong>de</strong>nsa e, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong>sdobravel a sua forma <strong>de</strong> dize-la . Vma fragrnentayao do corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong>, "para 0 glorificar, para 0 <strong>em</strong>belezar, ou para 0 <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brar, para 0 levar<br />

ate 0 limite <strong>da</strong>quilo que, do corpo, po<strong>de</strong> ser reconhecido, " conforme Barthes (1988).<br />

11 Cf. Estudo <strong>de</strong> Sergio GALLO. In: Poesia & Critica - anto1ogia <strong>de</strong> textos criticos sobre a poesia <strong>de</strong><br />

Gilberto Mendon


haver necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 0 poeta utilizar-se dos meios mo<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> comunicayao, uma vez<br />

que esta i<strong>de</strong>ntifica s<strong>em</strong>pre 0 hom<strong>em</strong>. Para ele, Gilberto Mendonya Teles<br />

"oferece a sua poesia como um campo <strong>de</strong> trabalho para si e para 0 lei tor, quando cria<br />

uma linguag<strong>em</strong> literaria, recriando palavras e <strong>de</strong>sestruturando-as, construindo a sua<br />

propria ret6rica do silencio, (.) abusa <strong>da</strong> pesquisa lexico-s<strong>em</strong>dntica e <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

assim como dos simbolos e <strong>da</strong>s metaforas - mas alcan9a um dizer poetico rico e<br />

envolvente, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> concep9iio e acabamento, transformando perigosos<br />

;ogos <strong>de</strong> palavras <strong>em</strong> fascinantes jogos <strong>de</strong> comunica9iio. "<br />

Se e possivel perceber<br />

na poetica telesiana todos esses aspectos, isso se <strong>de</strong>ve ao<br />

seu lado <strong>de</strong> pesquisador. Desse modo, compreen<strong>de</strong> 0 potencial expressivo, 0 caniter<br />

poliss<strong>em</strong>ico <strong>de</strong> tais criayoes e as usa para enriquecimento <strong>de</strong> sua poesia. Esse e 0 ponto<br />

que 0 toma tao proximo a Guimaraes Rosa e 0 distancia dos <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> 'sua gerayao'.<br />

E<br />

urn escritor preocupado<br />

com as palavras, com 0 que <strong>de</strong>las po<strong>de</strong> ser feito e ter efeito. Ele<br />

busca a palavra exata<br />

e urn jeito novo <strong>de</strong> dize-la.<br />

Maria Apareci<strong>da</strong> Barbosa (1996: 173) segue todo urn mo<strong>de</strong>lo trayado por L.<br />

Guilbert (1974), para discorrer sobre os processos<br />

<strong>de</strong> formayao neologica. Ressalta ain<strong>da</strong><br />

a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se caracterizar tais processos no discurso litenirio, uma vez que neste<br />

tipo <strong>de</strong> discurso os neologismos se ligam especificamente a uma situayao <strong>de</strong> enunciayao.<br />

Com a criayao <strong>de</strong> palavras, a ten<strong>de</strong>ncia do discurso litenmo e chegar it expansao plena <strong>da</strong><br />

poliss<strong>em</strong>ia, it multissignificayao. 0 que ela chama <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> e pertinente apenas no<br />

sentido <strong>de</strong> que raros sao os textos litenirios que comportam essa inovayao vocabular. 0<br />

discurso litenirio e visto apenas como uma nova dimensao <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. Entretanto,<br />

al<strong>em</strong> do prazer estetico que produz, ele po<strong>de</strong> ir al<strong>em</strong>, recriando uma nova face para a<br />

palavra comum. Urn trayo <strong>de</strong> peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suma importancia conferido ao texto<br />

litenirio<br />

frente aos <strong>de</strong>mais discursos v<strong>em</strong> <strong>de</strong> Dubois,14 para qu<strong>em</strong>


"0 texto e tamb<strong>em</strong> um objeto e a leitura nao e uma operar;ao puramente<br />

linguistica: qu<strong>em</strong> toma conhecimento <strong>de</strong> um texto, po<strong>de</strong> ser impressionado nao<br />

apenas pela disposir;ao <strong>da</strong>s palavras, mas tamb<strong>em</strong> pelo jormato e a cor dos<br />

caracteres... "<br />

Esse pensamento<br />

aplica-se ao texto telesiano, uma vez que 0 poeta revoluciona<br />

nao so pela disposiyao <strong>da</strong>s palavras. Proce<strong>de</strong> dizer aqui que Gilberto Mendonya Te1es<br />

utiliza-se <strong>de</strong> todos os processos que requer a criayao neologica, <strong>de</strong>senvolvendo-a<br />

principalmente a partir <strong>da</strong> expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> sonora <strong>em</strong> todos os seus <strong>de</strong>sdobramentos. Ele<br />

toma s<strong>em</strong>pre a palavra com urn objetivo claro, como <strong>em</strong> 7 Resmungos (16), <strong>de</strong> Plural<br />

<strong>de</strong> Nuvens:<br />

("Tomar um nome como se par <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>le se ouvisse um retinir <strong>de</strong> espa<strong>da</strong>s,<br />

e como se par fora ca<strong>da</strong> letra,<br />

ca<strong>da</strong> sam au sinal, ca<strong>da</strong> rabisco<br />

valesse como senha au contra-senha<br />

para te conduzir, te iniciar<br />

na anulac;iio <strong>de</strong> todos os sentidos.) "<br />

Aqui, 0 processo referenciado sera 0 fonologico, por ser 0 mais compativel com<br />

as criayoes <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles. Sua poesia e nota<strong>da</strong>mente rica <strong>em</strong> sonori<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

ritmo, estabelecidos atraves do uso consciente dos vocabulos. Dentro do processo <strong>de</strong><br />

criayao do neologismo fonologico, Maria Apareci<strong>da</strong> Barbosa( 1996) diz haver dois<br />

gran<strong>de</strong>s grupos, ca<strong>da</strong> urn incluindo as suas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s. 0 primeiro gran<strong>de</strong> grupo se<br />

refere it criayao neologica propriamente<br />

dita, subdividi<strong>da</strong> <strong>em</strong> criayao ex-nihilo ( <strong>de</strong> maiar<br />

ocorrencia no discurso literario, mais especificamente na poesia dita concreta ) e a<br />

produyao onomatopaica. A primeira referindo-se it criayao <strong>de</strong> urn novo signa nao<br />

<strong>de</strong>corrente <strong>da</strong>s bases lex<strong>em</strong>icas ou mort<strong>em</strong>icas ja existentes, po<strong>de</strong>ndo gerar com isso a<br />

incompreensao do texto; a segun<strong>da</strong> referindo-se it criayao <strong>de</strong> urn signo, cujo som<br />

reproduza 0 mais proximo possivel 0 objeto a que se refere. Com relayao ao primeiro


caso, po<strong>de</strong>mos citar como ex<strong>em</strong>plo raro, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya<br />

Teles,<br />

o po<strong>em</strong>a A raiz ll, que se encontra no livro Arte <strong>de</strong> Armar, <strong>de</strong> 1977: 15<br />

"No fundo do poc;o ou no ./undo<br />

do mundo as coisas niio t<strong>em</strong> nome.<br />

AU se escon<strong>de</strong> tudo e muito<br />

mais: a manica, 0pispislone<br />

e a nena tiste que <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />

a poesia e sua !infa ...<br />

Luci<strong>da</strong> luz meridiana<br />

e musical, a hist6ria ain<strong>da</strong><br />

e comec;o, raiz s<strong>em</strong> pontas<br />

no carre tel, perfil <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>s<br />

esvoac;antes, como ron<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong> borboletras pelo alpendre:<br />

q e t u 0<br />

w r y i P<br />

a d g j I<br />

s f h k C;<br />

z c b m !<br />

x v n ?<br />

Logo abaixo do po<strong>em</strong>a, Gilberto Mendonya Teles transcreve urn trecho <strong>de</strong><br />

Starobinski, visando direcionar a leitura do texto, <strong>em</strong> particular, a <strong>da</strong> ultima estrofe:<br />

o hipograma <strong>de</strong>sliza um nome simples na disposir;ilo complexa <strong>da</strong>s<br />

silabas <strong>de</strong> um verso: a questilo e reconhecer e reunir as silabas condutoras,<br />

como isis reunia 0 corpo <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>r;ado<strong>de</strong> Osiris. "


Consi<strong>de</strong>rando 0 contexte do po<strong>em</strong>a acima, po<strong>de</strong>mos partir do principio <strong>de</strong> que,<br />

pelo titulo, pressupoe-se<br />

a existencia <strong>de</strong> urn po<strong>em</strong>a anterior, <strong>de</strong> mesmo nome. A resposta<br />

encontra-se <strong>em</strong> Raiz <strong>da</strong> Fala,16 quando 0 poeta diz que "antes do nome, os seres se<br />

dispersavam / incognitos nos abismos do Genese," no po<strong>em</strong>a Antes do Nome. No<br />

po<strong>em</strong>a-titulo<br />

ele <strong>de</strong>clara nao haver<br />

"N<strong>em</strong> sinal n<strong>em</strong> sin6nimo,<br />

apenas 0 intervalo<br />

<strong>da</strong> durarao do nome<br />

no vertice <strong>da</strong> fala. "<br />

Partamos <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que raiz r<strong>em</strong>ete a algo oculto, ain<strong>da</strong> subjacente. E nessa raiz<br />

que 0 poeta vai buscar a forma <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> humana primeira, como na fala infantil,<br />

num jogo balbuciante, atropelando as letras <strong>da</strong>s palavras, como manica ( maquina ) e<br />

pispislone ( 0 popular ipsilone ), para mostrar 0 momento prece<strong>de</strong>nte it cria~ao poetica.<br />

Nena tiste tanto po<strong>de</strong> se referir it linguag<strong>em</strong> infantil ( nena significando boneca ), quanta<br />

it composi~ao poetica nenia,17 simbolizando a anglistia que antece<strong>de</strong> 0 fazer poetico, 0<br />

que esta por vir, ain<strong>da</strong> s<strong>em</strong> nexo. 0 sentido <strong>da</strong> primeira estrofe vai, aos poucos,<br />

completando-se<br />

na segun<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> 0 poeta mostra que 0 que existe e simplesmente uma<br />

i<strong>de</strong>ia ain<strong>da</strong> por se <strong>de</strong>senvolver. V<strong>em</strong>, na terceira, 0 hipograma, a cria~ao ex-nihilo<br />

propriarnente<br />

dita. <strong>Letras</strong> soltas que marcarn a zona do silencio <strong>da</strong> poesia e voarn qual<br />

borboletas - borboletras - buscando urn som, urn signa, quase saindo - nos alpendres -<br />

buscando criar pontas, <strong>de</strong>senvolver-se. 0 que po<strong>de</strong>mos captar por tras <strong>de</strong>ssa estrofe<br />

fabulosa? Seguindo 0 conselho <strong>de</strong> Starobinski, 0 misterio se revela: 0 poeta, enquanto a<br />

i<strong>de</strong>ia nao germina, brinca com as teclas <strong>da</strong> maquina <strong>de</strong> escrever.<br />

A pertinencia do que foi dito acima encontra eco mais uma vez nas palavras <strong>de</strong><br />

Dubois,18 quando este se refere aos metaplasmos como uma altera~ao na continui<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

16 Liwo <strong>de</strong> 1972. on<strong>de</strong> 0 poeta come


tOnica ou gnifica <strong>da</strong> mensag<strong>em</strong>. Segundo ele, "a forma lingiiistica po<strong>de</strong> ser manifesta<br />

numa substdncia grafica que se dirige apenas aos olhos. " Nesse sentido, a criayao<br />

telesiana perteneeria ao ehamado plano infralingi.iistico, isto e, "ao nivel dos tra


nuv<strong>em</strong> colhi<strong>da</strong> no oco do mundo<br />

ou mais al<strong>em</strong> ( <strong>em</strong> <strong>em</strong> ).<br />

Sei que ha discllss8es acerca <strong>de</strong>las<br />

mas mesmo assim (im im),<br />

eu bebo a forma mais <strong>de</strong>leitosa<br />

do linguajar comllm (um um ).<br />

Pois para um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong>sse qui/ate,<br />

aura <strong>de</strong> lei ( ei ei),<br />

eu falo firme, tendo-o b<strong>em</strong> fundo,<br />

o no suino <strong>de</strong> heroi cobrado<br />

nas cor<strong>da</strong>s bambas do berimball ( au au ). "<br />

o poeta utiliza os ecos para ironizar 0 ate do b<strong>em</strong> se expressar <strong>em</strong> voz aha,<br />

fazendo que algumas termina


Minhas i<strong>de</strong>ias, como-as com sebo<br />

na enunciar;ao(ao ao),<br />

sao simples trilos,flores <strong>de</strong>feltro,<br />

nuv<strong>em</strong> colhi<strong>da</strong> no cu do mundo<br />

ou mais al<strong>em</strong> (<strong>em</strong> <strong>em</strong>).<br />

Sei que ha discussoes a ser ca<strong>de</strong>las<br />

mas mesmo assim (im im),<br />

como-as com sebo e, porco seguinte,<br />

eu bebo aforma mais <strong>de</strong> leitosa<br />

do linguajar comum ( um um ).<br />

aura <strong>de</strong> lei ( ei ei ),<br />

e 0fain firme, tendo-o b<strong>em</strong>fundo,<br />

o nosso kino <strong>de</strong> keroico obrado<br />

nas cor<strong>da</strong>s bambas do berimbau ( au au) !<br />

o neologismo fono16gico tamb<strong>em</strong> po<strong>de</strong> resu1tar <strong>de</strong> uma mutac;ao que provoca 0<br />

surgimento <strong>de</strong> novas palavras. Trata-se <strong>da</strong> junc;ao <strong>de</strong> varios el<strong>em</strong>entos formadores <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>rivac;ao e composic;ao e suas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A aglutinac;ao e, nota<strong>da</strong>mente 0 recurso<br />

mais utilizado por Gilberto Mendonc;a Teles, <strong>em</strong>bora nos po<strong>em</strong>as anteriores ocorra urn<br />

caso <strong>de</strong> redobro - pispislone. Nilce Sant'Anna Martins(1989:123) diz que ha urn tipo<br />

<strong>de</strong> construc;ao vocabular, 0 amalgama, tamb<strong>em</strong> reconhecido como "palavras<br />

entrecruza<strong>da</strong>s, palavras-montag<strong>em</strong>, compostos fantasistas, mots-valise ( para os<br />

franceses ), palavras port-manteau ( expressao cria<strong>da</strong> por Lewis Carrol )." Como<br />

maior criador <strong>de</strong> palavras, nesse genero, cita Guimaraes Rosa, acrescentando <strong>em</strong> segui<strong>da</strong><br />

que, tamb<strong>em</strong> na poesia, "encontramos mo<strong>de</strong>rnamente, felizes <strong>em</strong>pregos <strong>de</strong><br />

amalgamas, " e cita trecho do po<strong>em</strong>a Falavra 20


AS ex<strong>em</strong>plos que se segu<strong>em</strong> sao apenas ilustrativos. a que motivou a escolha<br />

abaixo fai 0 potencial fono-estilistico e s<strong>em</strong>antico impressa <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> urn; potencial que<br />

revela 0 poeta como urn ar -tesao <strong>da</strong> palavra poetica e er6tica:<br />

"Te reescreva<br />

(...)<br />

para a telex <strong>de</strong>ste orgasmograma. "<br />

( Gera~ao, p. 22 - Plural <strong>de</strong> Nuvens)<br />

"Naa sei se sau Camanga ou se Gilberta,<br />

sei que as minhas sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s SaDas vossas. "<br />

( Mitofagia, p. 90 - Plural <strong>de</strong> Nuvens )<br />

"Esteprasa<strong>em</strong>a e como um ramo <strong>de</strong>flores. "<br />

( Proso<strong>em</strong>a, p. 58 - & Cone <strong>de</strong> Sombras)<br />

"Uma arvore que dit sombra a brilhateca,<br />

que se agita no ar condicionario. "<br />

(Poise, p.72 - & Cone <strong>de</strong> Sombras )<br />

Em Nominais, livro anterior ao & Cone <strong>de</strong> Sombras Gilberto Mendonya Teles<br />

afirma, fechando tres <strong>da</strong>s quatro partes que comp5<strong>em</strong> 0 po<strong>em</strong>a Teologia <strong>de</strong> Bolso: "0<br />

alfabeto <strong>de</strong> Deus e pura verbo", "Deus bra<strong>da</strong>, Deus fala, Deus murmura ", "ta<strong>da</strong><br />

essencia reduz mas Deus amplia. Na ultima, categ6rico, ele <strong>de</strong>clara: "a entusiasmo <strong>de</strong><br />

Deus r6i a linguag<strong>em</strong>." Assim acontecendo, do que sobra, 0 poeta se apo<strong>de</strong>ra,<br />

transformando-a<br />

<strong>em</strong> urn novo ser. "Sob a pele <strong>da</strong>s letras" que sobraram, ele <strong>de</strong>scobriu<br />

que era possivel uma transmutayao. Atraves <strong>de</strong>ssa renovayao lexica, 0 poeta consegue<br />

imprimir <strong>em</strong> sua poesia a beleza do que ain<strong>da</strong> nao havia sido pronunciado.<br />

mesmo <strong>de</strong> C· rIa~ao - 21 , on d e<br />

E urn ato


"no inicio estiio as reticencias<br />

este querer niio-querendo<br />

(..)<br />

No inicio ou no fim (tudo efinicio)<br />

a gente se l<strong>em</strong>bra <strong>de</strong> que estd mesmo com Deus<br />

it espera <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> acontecimento,<br />

mas nunca se dd conta <strong>de</strong> que e preciso<br />

ir roendo,<br />

roendo<br />

um osso duro <strong>de</strong> roer ",<br />

que e a linguag<strong>em</strong>.<br />

o que aqui [oi <strong>de</strong>monstrado e apenas parte <strong>de</strong> uma extensa e rica criayao<br />

vocabular <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles. Ca<strong>da</strong> palavra por ele utiliza<strong>da</strong> e<br />

retira<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu lugar-comum,<br />

esvazia<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua acepyao usual, para <strong>em</strong> segui<strong>da</strong> ganhar<br />

outros, inesperados,<br />

e providos <strong>de</strong> uma imanencia poetica. Po<strong>de</strong>-se tamb<strong>em</strong> dizer, que a<br />

palavra telesiana e retira<strong>da</strong> do sub solo <strong>da</strong>s letras, <strong>da</strong> raiz <strong>da</strong> [ala, chega a vir-a-ser urn<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a sua plenitu<strong>de</strong>.<br />

A poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles carrega <strong>em</strong> si uma preocupayao com a<br />

linguag<strong>em</strong>, com 0 uso <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> palavra, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> som que ela possa evocar. No espayo <strong>da</strong><br />

pagina, os seus po<strong>em</strong>as evolu<strong>em</strong>, s<strong>em</strong>pre buscando urn urn aproveitamento do passado.<br />

Encontra-se ai introjetado uma pesquisa intelectual bastante elabora<strong>da</strong>, <strong>em</strong> constante<br />

confronto com a <strong>em</strong>oyao e com a razao,<br />

produzindo urn corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> com trayos<br />

<strong>de</strong>finidos entre "os riscos do bor<strong>da</strong>do" ja existentes e os seus pr6prios riscos. Entao,


po<strong>de</strong>riamos <strong>de</strong>nominar 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> telesiano <strong>de</strong> corpo amalgamado, isto e,<br />

<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> fonte pressenti<strong>da</strong> <strong>em</strong> sua poesia ele conseguiu enxertar a essencia. A sua<br />

poesia, nesse sentido, vale-se <strong>de</strong> uma intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

vasta e significativa 0 bastante<br />

para percebermos <strong>em</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens como <strong>em</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras, especificamente a<br />

terceira parte <strong>de</strong> ambos, essa sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reunir antigos e novos e produzir urn<br />

texto <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ele consegue, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, firmar urn pacta verbal chamado<br />

'Mitofagia' - a <strong>de</strong>vorayao do mito, literalmente - que nas palavras <strong>de</strong> Haroldo <strong>de</strong><br />

Campos (1983) significa na<strong>da</strong> mais que "a <strong>de</strong>vorac;iio critica do legado cultural<br />

universal (...) uma transculturac;iio: melhor ain<strong>da</strong>, uma transvalorac;iio".<br />

Sab<strong>em</strong>os que por isso mesmo a poesia telesiana diz s<strong>em</strong>pre mais do que se faz<br />

perceber superficialmente. Por isso uma certa critica pensa ter nela encontrado<br />

nao s6 vestigios pamasianos, mas tamb<strong>em</strong> simbolistas, romanticos, b<strong>em</strong> como uma<br />

dimensao classica e trovadoresca. A essas criticas ele respon<strong>de</strong> na terceira parte <strong>de</strong> &<br />

Cone <strong>de</strong> Sombras com po<strong>em</strong>as cujos titulos e conteudos<br />

r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a esses movimentos<br />

literarios, como por ex<strong>em</strong>plo, Safica (95), segui<strong>da</strong> <strong>de</strong> nota explicativa <strong>de</strong>monstrando<br />

ter<br />

seguido 0 ritmo seguido por Safo, repetido por Catulo e aperfeiyoado por Horacio;<br />

t<strong>em</strong>os ain<strong>da</strong> Barrococo (97), Arcadia (100), Centao Simbolista (104), Mo<strong>de</strong>rnismo<br />

(109), entre outros. 0 intertexto telesiano nos oferece uma leitura nao linear, uma leitura<br />

que se dli <strong>em</strong> dimens5es diversas no t<strong>em</strong>po. 0 Trovadorismo, 0 Barroco e os "ismos"<br />

todos se presentificam <strong>em</strong> seus po<strong>em</strong>as e adquir<strong>em</strong> trayos futuristas. Gilberto Mendonya<br />

Teles e esse poeta que nos leva para 0 fundo mesmo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, <strong>da</strong> Literatura<br />

Portuguesa <strong>de</strong> todos os t<strong>em</strong>pos e, na contraluz, vai criando a sua. Vai "<strong>de</strong>scongelando<br />

os pas do t<strong>em</strong>po na pare <strong>de</strong> " e quebrando os valores esteticos anteriores atraves <strong>da</strong><br />

"linguag<strong>em</strong> selvag<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu canto".<br />

A intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> encontra-se presente, principalmente, na terceira fase <strong>de</strong> sua<br />

poesia. Fase esta que comporta nao s6 Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong> Sombras, mas 0<br />

Saciologia Goiana, anterior aos dois. Em Plural <strong>de</strong> Nuvens, por ex<strong>em</strong>plo, a terceira<br />

parte, cujo titulo e Na Foz do Rio, inicia-se com 0 po<strong>em</strong>a Historia (64), mostrando<br />

que<br />

ha urn pre-texto,<br />

urn pretexto para que 0 texto se pronuncie, exista:


HE so virar pelo avesso,<br />

ler 0 que esta subscrito. "<br />

Na Foz do Rio comporta po<strong>em</strong>as, quase<br />

todos eles voltados para Portugal, a<br />

lingua portuguesa, seus escritores, a paisag<strong>em</strong> portuguesa. Mas e <strong>em</strong> Camoes que 0<br />

poeta bebe a fonte mais intensa e por isso mais evi<strong>de</strong>nte it superficie do texto.<br />

Busqu<strong>em</strong>os, portanto, a trajetoria <strong>de</strong> algumas palavras <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> poesia <strong>de</strong> Gilberto<br />

Mendonya Teles que nos levanl ao texto camoniano. As referencias a Camoes<br />

po<strong>de</strong>m ser percebi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os aspectos formais a simples alusoes. Nos trechos abaixo,<br />

pertencentes ao po<strong>em</strong>a Foz (66) <strong>de</strong> Plural e Nuvens, Gilberto Mendonya Teles alu<strong>de</strong> it<br />

obra do poeta portugues, referindo-se diretamente ao Tejo e it propria epopeia<br />

aNafoz do rio, 0 vento <strong>de</strong>senrola<br />

um discurso nunca <strong>da</strong>ntes:<br />

(...)<br />

Na foz do rio aquela voz pr<strong>em</strong>ente<br />

tamb<strong>em</strong> se <strong>de</strong>sdobrou pelo oceano:<br />

seguiu 0 rumo incerto <strong>da</strong> corrente<br />

foi como a espuma <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sgosto humano. "<br />

Nota<strong>da</strong>mente, Gilberto se refere a Camoes e aos Lusia<strong>da</strong>s ( a sai<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vasco <strong>da</strong><br />

Gama do rio Tejo, as errancias <strong>da</strong> viag<strong>em</strong> e a tristeza e <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia do povo portugues.<br />

Em alguns outros po<strong>em</strong>as, 0 poeta apoia-se no eritico para ratificar tomar viva a<br />

presenya <strong>de</strong> Camoes, como no po<strong>em</strong>a Voyeur (70),<br />

"Textos, pretextos, motivos<br />

<strong>de</strong> alguma estranha epopeia,<br />

(...)<br />

formas perdi<strong>da</strong>s na areia<br />

que um olho apenas procura. "


No po<strong>em</strong>a Mitofagia (90), Gilberta Mendon


varios personagens <strong>de</strong> romances brasileiros do seculo passado no po<strong>em</strong>a Novela <strong>da</strong>s<br />

Oito (114), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras e, ironicamente, provoca os encontros mais absurdos<br />

entre eles, ate chegar a par6dia do po<strong>em</strong>a Quadrilha <strong>de</strong> Carlos Drummond<br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.<br />

Vejamos alguns trechos do po<strong>em</strong>a, on<strong>de</strong> 0 erotismo adquire uma feiyao nova:<br />

"<strong>em</strong> paqueta<br />

a moreninha encontrou 0 m090 loiro<br />

numa boa vidinha<br />

puxando fumo<br />

e olhando<br />

abertamente<br />

a mejestosa perna do saci<br />

irac<strong>em</strong>a curtia a sua gravi<strong>de</strong>z<br />

e no sul martim saia com 0 m090 loiro<br />

a visitar as primas cecilia e isabel<br />

moradoiras <strong>de</strong> uma casa-<strong>de</strong>-pensiio<br />

na rua do catete<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algumas peripecias<br />

a moreninha se casa com augusta bred ero<strong>de</strong>s<br />

nome <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong> j. pinto fernan<strong>de</strong>s<br />

e que realmente na<strong>da</strong> tinha aver<br />

com 0 her6i <strong>de</strong>sta hist6ria "<br />

Mas ha urn outro <strong>da</strong>do importante<br />

na poesia telesiana que e a inseryaO <strong>de</strong> seus<br />

pr6prios textos anteriores <strong>em</strong> textos mais recentes. Koch (1997), ao tratar do assunto<br />

intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ra esse tipo <strong>de</strong> intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> no sentido restrito, on<strong>de</strong> nao


ha urn aproveitamento <strong>de</strong> textos alheios, mas <strong>de</strong> textos diversos do mesmo autor.<br />

Segundo ela, alguns autores rotulam esse caso como sendo uma "intra- au autotextuali<strong>da</strong><strong>de</strong>".<br />

Urn caso mesmo <strong>de</strong> reelaborayao do pr6prio trabalho, como po<strong>de</strong>mos<br />

perceber na poesia <strong>de</strong> Gilberta Mendonya Teles . A constante busca <strong>da</strong> perfeiyao poetica<br />

( se e que ela existe ) fa-Io valer-se <strong>de</strong>sse recurso: sua poesia anterior torna-se urn<br />

suporte enriquecedor <strong>da</strong> que se segue, criando, <strong>de</strong>ssa forma, uma t<strong>em</strong>atica amorosa<br />

peculiar, que se <strong>de</strong>fine entre a luz e a sombra <strong>de</strong> sua propria obra e <strong>da</strong> obra do outro,<br />

entre a luz <strong>de</strong> seu pr6prio corpo e a sombra do corpo trans-plantado.<br />

A sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

critica coloca-o frente a frente com as marc as alheias, mas nao 0 impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver as suas<br />

pr6prias marcas construi<strong>da</strong>s ao longo <strong>de</strong> sua obra como se fosse A Cas a (40), <strong>de</strong> &<br />

Cone <strong>de</strong> Sombras, "<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> lei", fazendo-se a "face do passado" atraves <strong>da</strong><br />

enunciayao <strong>da</strong> "viga-mestra" que teve a chance <strong>de</strong> "criar um mundo num relance <strong>de</strong><br />

uma nova linguag<strong>em</strong> repeti<strong>da</strong>". A ver<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

signos-corpo<br />

para 0 escritor,<br />

e que sua obra e urn gran<strong>de</strong> jogo com os<br />

dos outros. Conforme diz Silviano Santiago (1978), as palavras dos outros,<br />

"t<strong>em</strong> a particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se apresentar<strong>em</strong> como objetos que fascinam<br />

seus olhos, seus <strong>de</strong>dos, e a escritura do texto segundo e <strong>em</strong> parte a hist6ria <strong>de</strong> uma<br />

experiencia sensual com 0 signo estrangeiro". Fenomeno que po<strong>de</strong> muito b<strong>em</strong> se aplicar<br />

aos textos <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles.<br />

o que v<strong>em</strong>os na poesia telesiana com relayao a intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e a utilizayao<br />

<strong>de</strong> sse meio para produzir e <strong>da</strong>r sentido ao corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>. E que 0 poeta, sabendo a<br />

"gaia ciencia", toma posse <strong>de</strong> to<strong>da</strong> uma tradiyao literaria, a-traindo-a e tornando-a<br />

visivel nas entrelinhas <strong>de</strong> seu texto. E faz isso <strong>de</strong>s-organizando 0 t<strong>em</strong>po e 0 espayO<br />

literario nas finas dobras <strong>de</strong> sua imaginayao, tentando encontrar , pela sombra, 0 perfeito<br />

equilibrio <strong>da</strong> "luz na luz", oferecendo a senha basica <strong>de</strong> que, Literatura vindo <strong>de</strong><br />

Literatura, v<strong>em</strong>, como <strong>em</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras, <strong>da</strong> Fonte (22). E, somente<br />

"<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do po<strong>em</strong>a e que se alcanfa medir<br />

todo a sell t<strong>em</strong>po, to<strong>da</strong> a sua estirpe<br />

<strong>de</strong> nllvens e engenharias <strong>de</strong> horizontes. "


Buscar a intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a auto-textuali<strong>da</strong><strong>de</strong> na poetica telesiana e aventurarse<br />

na cont<strong>em</strong>playao <strong>de</strong> nuanyas que exige 0 rigor metodico e inquietante do senhor<br />

Palomar,22 quando este cont<strong>em</strong>pla a lua e discerne nela "0 mais mutirvel dos corpos do<br />

universo visivel, e 0 mais regular <strong>em</strong> seus estranhos habitos: jamais falta aos encontros<br />

(...). S6 as nuvens interv<strong>em</strong> para criar a ilusiio <strong>de</strong> uma corri<strong>da</strong> e <strong>de</strong> uma metamorfose<br />

rapi<strong>da</strong>, ou melhor, para <strong>da</strong>r uma vistosa evi<strong>de</strong>ncia <strong>da</strong>quilo que <strong>de</strong> outra forma<br />

escaparia ao nosso olhar." E numa <strong>de</strong>ssas metamorfoses provo cad as por esses<br />

encontros, Gilberto Mendonya Teles viu por entre as nuvens <strong>de</strong> seu texto, as figuras <strong>de</strong><br />

Camoes, <strong>de</strong> Drummond, <strong>de</strong> outros mais, muito mais velhos que ele, que <strong>de</strong>ixaram os<br />

seus rastos no perfil <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong><strong>de</strong> poetica. Por saber do outro, sabe-se. Assim, a poesia<br />

<strong>de</strong>sses poetas transporta <strong>em</strong> seu mundo poetico todo urn universo <strong>de</strong> coisas, to<strong>da</strong>s<br />

digeri<strong>da</strong>s e transforma<strong>da</strong>s pela sua propria dicyao poetica, como encontramos <strong>em</strong><br />

Voyeur (71), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, perpassa<strong>da</strong> pelas<br />

".... espinhas<br />

e os ossos <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong><br />

queja passou <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong> alguns versos <strong>de</strong> Camoes. "


Do corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> telesiano se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> urn outro corpo. Associado<br />

a e1e,<br />

logicamente, mas capaz <strong>de</strong> agir e respon<strong>de</strong>r a a90es <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn contexto<br />

social. Seguindo as palavras <strong>de</strong> Maingueneau,23 esse corpo age <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma dimensao<br />

espacial ( espa90 do discurso ) liga<strong>da</strong> ao etos, este constituido pelas "representa~oes<br />

sociais do corpo ativo <strong>em</strong> mitltiplos dominios. " Esse corpo-texto<br />

que fala <strong>da</strong>s mais<br />

diversas formas e niveis <strong>de</strong>ixa fluir, formando urn "corpo anal6gico" a ponto <strong>de</strong>,<br />

conforme Guiraud,24 haver uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as palavras r<strong>em</strong>ontar<strong>em</strong> a imagens<br />

corporais. Para ele, "0 corpo <strong>em</strong>presta suas formas, fun~oes e estados a conceitos <strong>em</strong><br />

que <strong>de</strong>ixa sua marca, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que Ihes dd nome. "<br />

Dar nome que r<strong>em</strong>ont<strong>em</strong> as imagens corporais e uma preocupa9ao Gilberto<br />

Mendon9a Teles b<strong>em</strong> anterior aos livros Plural <strong>de</strong> Nuvens e & Cone <strong>de</strong> Sombras. A Raiz<br />

<strong>da</strong> Fala (1972) tern diversos po<strong>em</strong>as tratando do momenta anterior ao ate <strong>de</strong> nomea9ao,<br />

"noprincipio quando 0 nome soprava<br />

<strong>da</strong> boca <strong>da</strong>s crateras e 0 halito<br />

<strong>de</strong>fogo fun<strong>da</strong>va os horizontes vazios ".25<br />

"todos os seres viventes amanheceram<br />

sur-presos nas malhas do nome. "<br />

23 Dominique MAINGUENEAU.O Contexto cia Obra Liteniria. p. 139.<br />

24 Pierre GLTIRAUD. A Linguag<strong>em</strong> do Corpo, p. 42.<br />

25 Gi1berto Mendon


Para Gilberto, nomear contagia e nos <strong>de</strong>fine como seres no momenta ja do<br />

Batismo (333)<br />

E a<strong>de</strong>re tanto ao corpo que po<strong>de</strong>mos reconhecer no corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> telesiano a sua<br />

propria marca <strong>de</strong> nomeador,<br />

"sob a luz <strong>da</strong> pele au <strong>da</strong> casca<br />

<strong>de</strong> letras que 0proteg<strong>em</strong> "<br />

mas que 0 <strong>de</strong>nunciam, pois que to do 0 nome que ai se encontra, tern sua "forc;a <strong>de</strong><br />

cancer" , <strong>de</strong> canceriano que e. 0 nome e para ele como 0 sangue "que circula<br />

livr<strong>em</strong>ente no intimo dos homens. " A sua marca <strong>de</strong> nomeador, por mais que se escon<strong>da</strong><br />

e se retraia no interior do texto sera s<strong>em</strong>pre reconheci<strong>da</strong> nos nomes "mais aliciantes".<br />

Nomear e, por fim, urn ate <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rencia total ao objeto nomeado. De outra<br />

forma, 0 objeto nomeado morre e ganha<br />

"as vestes <strong>de</strong>sse corpo<br />

nao sopesado, mas pesado e s6<br />

no chao <strong>de</strong> seu caixao. ,,26<br />

Gilberto Mendonya Te1es teve a sorte ou a ousadia <strong>de</strong> cavar a linguag<strong>em</strong> e a<br />

lingua portuguesa <strong>em</strong> busca <strong>da</strong> palavra certa para nomear a poesia: "mulher ", ser <strong>de</strong><br />

palavra que, <strong>de</strong>tao <strong>de</strong>sejado, fragmenta-se no espa


afastamento, mas urn <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> urn no outro ( do ser <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> e do ser do<br />

hom<strong>em</strong> ), <strong>de</strong> forma que se perceba como 0 "Dutro, 0 Longinquo e tamb<strong>em</strong> 0 mais<br />

Proximo e 0 Mesmo. "<br />

Como se forma e se conforma, entao, esse corpo <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escritura telesiana? E<br />

certo que circula ern sua poesia 0 imagimirio <strong>de</strong> urn corpo tatuado e tateante,<br />

fragment ado, mas po<strong>de</strong>roso, a pulsar ( imaginariamente ) nas brechas do corpo <strong>de</strong><br />

linguagern, pronto para revelar a face mais secreta do poeta.<br />

"NCiovos sigo<br />

porque vos amo<br />

porque sou s<strong>em</strong>en<br />

ventre<br />

entre<br />

tons<br />

falos e grutas. "<br />

( Marize Castro - Marrons Crepons Marfins )<br />

A face mais secreta do poeta <strong>de</strong>ixa entrever, como 0 fez com 0 cOrpO <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong>, 0 imagimirio <strong>de</strong> urn cOrpO fragrnentado. A fragmentayao a nivel <strong>de</strong> cOrpO <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong> e sugeri<strong>da</strong> pelas construyoes<br />

sintaticas, pela escolha lexica e fonetica, e pelos<br />

processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstruyao vocabular, principalmente. A nivel mesmo <strong>de</strong> corpo inscrito<br />

na linguag<strong>em</strong>, a fragmentayao <strong>da</strong>-se atraves <strong>da</strong> relayao corporal vivencia<strong>da</strong> pelo sujeito<br />

<strong>da</strong> enunciayao e pela ama<strong>da</strong>. Da presentificayao <strong>de</strong>ssa fragrnentayao se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> to<strong>da</strong><br />

uma significayao erotica, sensual. To<strong>da</strong>via, 0 poeta<br />

nao se ve apenas diante <strong>de</strong> urn corpo<br />

<strong>de</strong>spe<strong>da</strong>yado, como na len<strong>da</strong> <strong>de</strong> Isis e Osiris. N<strong>em</strong> a sua intenyao e junta-lo para<br />

visualiza-lo e te-lo par inteiro. Gilberto Mendonya Ieles 0 <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>ya para toea-lo no<br />

que ele tern <strong>de</strong> mais profun<strong>da</strong>, <strong>de</strong> mais essencial no ser humano: a alma. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, 0


trabalho <strong>de</strong> Isis cabe ao leitor critico, no sentido <strong>em</strong> que este, ao resgatar 0 corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong> por meio <strong>de</strong> uma interpretayao, nunca chega a atingir a sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

significativa.Po<strong>de</strong>riamos dizer assim que t<strong>em</strong>os imbrica<strong>da</strong>, na poesia telesiana, a len<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

Isis e Osiris, as avessas, on<strong>de</strong> ele mesmo se <strong>de</strong>ixa repartir, para 0 <strong>de</strong>leite <strong>da</strong>s mulheres <strong>de</strong><br />

Goias, como no po<strong>em</strong>a Lira Goiana (120) <strong>de</strong> Saciologia Goian~ com 0 "sexo h<strong>em</strong><br />

enterrado na lama do Meia-Ponte". 0 que faltou encontrar <strong>em</strong> Osiris, esse pe<strong>da</strong>yo ele<br />

sabe on<strong>de</strong> encontra-Io e como b<strong>em</strong> usa-Io. Desse modo, ele ten<strong>de</strong> a privilegiar a parte<br />

mais libidinal <strong>de</strong> seu corpo e do corpo <strong>da</strong> ama<strong>da</strong>, s<strong>em</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> forjar urn<br />

6rgao com na len<strong>da</strong>. Entao po<strong>de</strong>mos encontra-Io por to<strong>da</strong> a obra se fazendo<br />

representar pela "vara <strong>de</strong> pescar", pela "ponta dos <strong>de</strong>dos", <strong>da</strong> "lingua", pela ;'perna<br />

<strong>de</strong> pau ", pela "seta ", pelo ;'pau vermelho", entre outros. Do corpo <strong>da</strong> ama<strong>da</strong>, 0<br />

serao l<strong>em</strong>brados como ex<strong>em</strong>plos <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>. Ra, portanto, urn equilibrio na <strong>de</strong>scri9ao<br />

<strong>de</strong>sses 6rgaos masculino e f<strong>em</strong>inino, representando <strong>em</strong> to<strong>da</strong> sua plenitu<strong>de</strong> re-produtora,<br />

a comum uniao <strong>da</strong> arte <strong>de</strong> amar com a arte <strong>de</strong> b<strong>em</strong> faze-Ia e <strong>de</strong> b<strong>em</strong> dize-Ia<br />

poeticamente.<br />

Em Plural <strong>de</strong> Nuvens como <strong>em</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras, Gilberto Mendonya Teles<br />

ressalta essa fragmentayao dos corpos atraves <strong>de</strong> uma poetica erotiza<strong>da</strong>, louvando Eros,<br />

o <strong>de</strong>us do amor e <strong>da</strong> fon;a vital. Jogando sutilmente com as palavras, <strong>da</strong> superficie <strong>de</strong><br />

seus textos se vao <strong>de</strong>sentranhando, 0 corpo do enunciador atado ao corpo enuneiado,<br />

<strong>em</strong>briagados pela sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> que se instaura nas profun<strong>de</strong>zas do corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e<br />

se <strong>de</strong>ixam toear tamanha e a voluptuosi<strong>da</strong><strong>de</strong> com que se penetram. Notamos, portanto,<br />

que 0 erotismo <strong>em</strong> Gilberto Mendonya Teles nao se encontra ligado exc1usivamenteao<br />

sexo. Por vezes n<strong>em</strong> 0 mostra; apenas sugere que 0 leitor se <strong>de</strong>ixe levar pelo que ha por<br />

tras <strong>de</strong>sta imag<strong>em</strong> que sustenta 0 seu <strong>de</strong>sejo. Po<strong>de</strong>mos dizer que 0 erotismo <strong>em</strong> sua<br />

poesia e marcado pelo suspense, pela espera constante <strong>de</strong> urn surgimento trans-corporal,<br />

<strong>em</strong> meio a sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> que impregna ca<strong>da</strong> palavra. Nao e por<strong>em</strong>, uma linguag<strong>em</strong>


nota<strong>da</strong>mente sexual que caracteriza essa sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> quase metafisica. Traduz melhor 0<br />

que quer<strong>em</strong>os dizer 0 pensamento <strong>de</strong> Gaetan Brulotte 27 , para qu<strong>em</strong>, no erotismo,<br />

"0 sexo e mais preservado, s<strong>em</strong> obsceni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, guar<strong>da</strong>do <strong>de</strong>ntro do tecido <strong>da</strong><br />

linguag<strong>em</strong> fabricado pela sugestao e pela astitcia <strong>da</strong> escritura: e 0 < erotismo s<strong>em</strong><br />

palavras > como disse Sa<strong>de</strong>. Encontra-se, entfio, entre 0 nu e 0 disfarr;:ado:<strong>de</strong>ntro<br />

do veu; entre a exibi9fio e 0 pudor: <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sugestfio; entre a Anarquia e a Lei:<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> regra. "<br />

Gaetan Brulotte parece seguir 0 pensamento <strong>de</strong> Bataille (1987), para qu<strong>em</strong> 0<br />

erotismo nasce <strong>de</strong> uma sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> envergonha<strong>da</strong>, <strong>da</strong>quela que nao se mostra livr<strong>em</strong>ente.<br />

Por isso mesmo 0 convite it transgressao, a persistir <strong>em</strong> ver 0 que se escon<strong>de</strong>, 0 que e<br />

proibido, como se fosse sagrado. Assim <strong>de</strong>duzimos que 0 erotismo telesiano se expan<strong>de</strong><br />

do corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> atravessado<br />

pela sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> lingua e aspira a incorporar-se<br />

no corpo f<strong>em</strong>inino <strong>de</strong>scrito pela mesma lingua. Hi quebra <strong>de</strong> normas, fragmentac;ao <strong>de</strong><br />

corpos, gozo que nao se completa,<br />

silencio f<strong>em</strong>inino, silencio na escrituraC;ao. Tudo isso<br />

se encontra b<strong>em</strong> representado<br />

no po<strong>em</strong>a Constru~ao (27) <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras:<br />

"melhor mesmo Ii<strong>de</strong>slizar para<br />

dos estatutos e soletra-los<br />

<strong>de</strong> seus artigos e capitulos<br />

<strong>da</strong> forma <strong>de</strong> corrompe-los por<br />

(...)<br />

mas a palavra so vale se por<br />

houver um verme com <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

um que comece a roer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0<br />

o no do sentido na escrita <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>ntro<br />

jruta<br />

centro<br />

gruta"<br />

- Gaetan BRULLOTE. Petite Narrato1ogie du recit dit Erotique. In: Poetigue: revue <strong>de</strong> theorie et<br />

d'ana1yse 1iteraires. 85, Paris, 1991: "Le sexe est hI mais confit. sans obscenite, enve10ppe <strong>da</strong>ns 1a soie<br />

du 1angage, feutre par 1asuggestion et par 1esruses <strong>de</strong> l'ecriture: c'est l' < erotisme sans mots >. comme<br />

dit Sa<strong>de</strong>. On se trouve a10rs entre le nu et Ie cache: <strong>da</strong>ns le voile: entre l' exhibition et 1apu<strong>de</strong>ur: <strong>da</strong>ns 1a<br />

suggestion: entre l' Anarchie et la Loi: <strong>da</strong>ns Ia regIe.,.


Havendo, conforme 0 pr6prio Bataille, tres formas <strong>de</strong> erotismo - 0 dos corpos, 0<br />

dos corac;5es e 0 sagrado - po<strong>de</strong>mos encontni-Ios na poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonc;a Teles<br />

separados, ou pelo contnirio, numa especie <strong>de</strong> fusao que nao <strong>de</strong>ixa perceber on<strong>de</strong><br />

termina 0 erotismo dos corpos, on<strong>de</strong> se inicia 0 erotismo dos corac;5es, ou on<strong>de</strong> se fun<strong>da</strong><br />

o erotismo sagrado. Alguns po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras ating<strong>em</strong> esse nivel <strong>de</strong> fusao,<br />

muito mais elaborado que <strong>em</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens on<strong>de</strong> ha uma predominancia<br />

do erotismo<br />

dos corpos. No po<strong>em</strong>a 0 Indio (48), <strong>de</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras, nas estrofes que<br />

comp5<strong>em</strong> a terceira parte, v<strong>em</strong>os claramente esse tipo <strong>de</strong> fusao: 0 indio que se distrai na<br />

conversa <strong>de</strong> amor se transforma no pr6prio Deus <strong>de</strong>le , Tupa , colocado <strong>em</strong> minuscula<br />

no po<strong>em</strong>a, pois que a ele se igualou. Como urn indio, utiliza-se dos cinco sentidos para<br />

captar a essencia <strong>da</strong>s coisas, resumi<strong>da</strong> numa s6 palavra: "tudo". Esse tudo que e<br />

transformar-se<br />

<strong>em</strong> Deus, tocar e ser tocado pelas coisas <strong>da</strong> natureza:<br />

"Sou capaz <strong>de</strong> escutar 0 v60 do inseto<br />

e a can9fio <strong>da</strong> s<strong>em</strong>ente germinando;<br />

meu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> captar 0 longiperto<br />

me transjorma <strong>em</strong> tupfi, <strong>de</strong> vez <strong>em</strong> quando. "<br />

Dos cinco sentidos visiveis neste texto e <strong>em</strong> tantos outros <strong>de</strong> Gilberto Mendonc;a<br />

Teles, 0 tato e 0 mais aguc;ado. E como se ele conseguisse por ele a sintese <strong>de</strong> todos os<br />

outros: as extr<strong>em</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s do corpo - a ponta, s<strong>em</strong>pre - transforma-se <strong>em</strong> olho, <strong>em</strong> lente <strong>de</strong><br />

aumento e <strong>de</strong> transporte para 0 al<strong>em</strong> do palpavel, do "s<strong>em</strong>-nivel" que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>boca nessa<br />

paixao dos sentidos in-domaveis. Esses mesmos sentidos que 0 faz<strong>em</strong> sentir-se urn Deus,<br />

tamb<strong>em</strong> 0 tranforma <strong>em</strong> hom<strong>em</strong>. E, hom<strong>em</strong> sendo, <strong>de</strong>ixa-se tocar e ser tocado pelas<br />

coisas mun<strong>da</strong>nas:<br />

"Pelas pontas dos <strong>de</strong>dos e que enxergo<br />

o outro lado <strong>da</strong>s coisas - 0 s<strong>em</strong>-nivel,<br />

a imag<strong>em</strong> veludosa com seu verbo,<br />

seu corte <strong>de</strong> navalha no invisivel.<br />

(..)


Entao sou mesmo um indio: <strong>de</strong>ito 0 ouvido<br />

na curva <strong>de</strong> teu ventre e a tar<strong>de</strong> inteira<br />

qu<strong>em</strong> sabe se eu nao ando comouvindo<br />

um corac;ao batendo a brasileira. "<br />

Outro caso e 0 do po<strong>em</strong>a Data (51), <strong>de</strong> cujas entrelinhas po<strong>de</strong>mos extrair 0 tom<br />

ambiguo com que 0 poeta trata a questao <strong>de</strong> se viver <strong>em</strong> fun


V<strong>em</strong>os 0 erotismo sagrado tamb<strong>em</strong> nas duas primeiras estrofes ligados a cor<br />

azul ( referente a paz, a tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> espiritual e ao ate mesmo do pensar poetico <strong>em</strong><br />

to<strong>da</strong> a obra telesiana ) e ao resplendor, entendido no po<strong>em</strong>a como brilho, a luz que<br />

resplan<strong>de</strong>ce na cabeya dos santos:<br />

"Na travessia do t<strong>em</strong>po<br />

niio hiJ lugar n<strong>em</strong> sentido<br />

que niio se tenham <strong>de</strong>ixado<br />

toear por seu resplendor. "<br />

o erotismo sagrado e, portanto, misterio ligado ao erotismo dos corayoes pela<br />

paixao e ao erotismo dos corpos pela sedw;:ao e gozo n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre realizado, presente<br />

nas estrofes seguintes. E mais uma vez Gilberto Mendonya Teles retorna a figura do<br />

peixe, duplamente religioso e f<strong>em</strong>inino, voltado para a orig<strong>em</strong>, para as profun<strong>de</strong>zas<br />

do<br />

espirito e tamb<strong>em</strong> para as profun<strong>de</strong>zas <strong>da</strong> alma f<strong>em</strong>inina, esta ultima traspassa<strong>da</strong> pelo<br />

silencio que a torna escorregadia<br />

e, por isso mesmo, impedi<strong>da</strong> <strong>de</strong> ser alcanya<strong>da</strong>:<br />

"Tudo 0 que eonta se conta<br />

e 0 que se eonta se escon<strong>de</strong><br />

na sua propria evasiio,<br />

e peixe <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong>slizando no silencio, "<br />

Mas ha instantaneos poeticos <strong>em</strong> & Cone <strong>de</strong> Sombras <strong>em</strong> que prevalece 0<br />

erotismo dos corpos. 0 po<strong>em</strong>a Erotica I (59), por ex<strong>em</strong>plo, faz triunfar 0 erotismo tanto<br />

do corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> como do proprio corpo ali inscrito. Tratando-se do corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong>, 0 poeta teoriza a respeito <strong>de</strong> algumas palavras <strong>da</strong> lingua consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s<br />

"tabus" e, por ser<strong>em</strong> proibi<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>spertam a paixao <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> pronuncia<strong>da</strong>s e<br />

reverencia<strong>da</strong>s. Na tentativa <strong>de</strong> dize-las mais "doc<strong>em</strong>ente ", ou <strong>de</strong>cent<strong>em</strong>ente, Gilberto<br />

Mendonya Teles trama<br />

urn jogo <strong>de</strong> palavras e tece urn po<strong>em</strong>a, cuja sonori<strong>da</strong><strong>de</strong> ambigua


<strong>em</strong> alguns casos, alu<strong>de</strong> aos orgaos sexuais. Ra, e aqui se confirma, uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 0<br />

poeta marcar 0 corpo e suas saliencias no corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> que se inscreve ja a<br />

partir <strong>da</strong> propria seleyao lexica, nao somente neste po<strong>em</strong>a, mas tamb<strong>em</strong> nos mostrados<br />

anteriormente. E uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> ( ou urn <strong>de</strong>sejo ) <strong>de</strong> ver s<strong>em</strong>pre atados os corpos<br />

amados, por esta parte que e sobretudo fonte, fusao e ponte para to<strong>da</strong> a sua criayao.<br />

Erotica I apresenta uma serie <strong>de</strong> palavras que se correlacionam diretamente,<br />

ligando pela metafora e pela analogia 0 orgao masculino ao f<strong>em</strong>inino. Assim, t<strong>em</strong>os:<br />

verme & fiuta<br />

seta & alvo<br />

faca & concha escarlate<br />

revolver & b<strong>em</strong>-me-quer<br />

<strong>de</strong> urn lado, 0 imperativo falico a prevalecer pela forya significante <strong>da</strong> arma <strong>em</strong> relayao it<br />

r<strong>em</strong>ea, fragil como urn "b<strong>em</strong>-me-quer" e prestes a ser <strong>de</strong>-flora<strong>da</strong>. 0 penis disfaryado<br />

pelo verbo penar coloca 0 corpo masculino <strong>em</strong> contato com 0 corpo f<strong>em</strong>inino, fiuta<br />

penetravel, concha eroticamente escalarte ( maya do paraiso? ) a <strong>de</strong>spertar 0 <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong>sse orgao incontinente e voluvel <strong>em</strong> sua "forma concreta" e, principalmente diante <strong>de</strong><br />

uma mulher:<br />

"man<strong>da</strong>r buscar lima moc;a,<br />

gabar-lhe as ancas morenas,<br />

tirar-lhe a fome e 0 regimen,<br />

<strong>da</strong>r-lhe contudo e alias. "<br />

Em se tratando do corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, 0 poeta tenta quebrar os preceitos <strong>da</strong>s<br />

palavras consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s tabus, buscando formulas mais suaves <strong>de</strong> apresenta-las, <strong>em</strong> relayao<br />

ao corpo f<strong>em</strong>inino. 0 que ele preten<strong>de</strong> mesmo e tirar-lhe a virgin<strong>da</strong><strong>de</strong>, matar-lhe a<br />

"fome" <strong>de</strong> sexo. Por isso a escolha apropria<strong>da</strong> <strong>da</strong> palavra "regimen", entendi<strong>da</strong> na<br />

estrofe a seguir como 0 rompimento<br />

do mmen <strong>em</strong> funyao do ate sexual que, no po<strong>em</strong>a,


"... <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitas festas,<br />

<strong>de</strong> algumas drogas e alcool,<br />

"cerrar 0 vao <strong>da</strong> janela<br />

e abrir a colcha e 0 l<strong>em</strong>;ol. "<br />

Este rito orgiaco se segue no Erotica IT (60), agora muito mais elaborado.<br />

Seguindo a estrutura <strong>de</strong> uma lei, 0 po<strong>em</strong>a cont<strong>em</strong> tres alineas, cujas <strong>de</strong>terrninayoes ai<br />

expostas san toma<strong>da</strong>s como transgressao<br />

a uma lei anterior, nao revela<strong>da</strong> ern sua poesia,<br />

mas supomos ser a <strong>da</strong> poesia s<strong>em</strong> nenhum carater er6tico, puramente lirica. 0 poeta<br />

impoe a sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever urn po<strong>em</strong>a er6tico e quer comprovar a sua existencia<br />

como urn estatistico. Tal comprovayao<br />

se <strong>de</strong>ve <strong>da</strong>r atraves <strong>da</strong> exati<strong>da</strong>o dos graticos, dos<br />

numeros, <strong>da</strong>s evi<strong>de</strong>ncias que vao marcando<br />

0 po<strong>em</strong>a, a forma textual que, pela primeira<br />

vez, e relaciona<strong>da</strong> diretamente como corpo pelo poeta:<br />

"Quero por no graftco<br />

um po<strong>em</strong>a erotico<br />

e medir as curvas<br />

<strong>de</strong> seu corpo e alma. "<br />

A corporali<strong>da</strong><strong>de</strong> presente na poetica <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles encontra-se<br />

associa<strong>da</strong> ao que Maingueneau 28 <strong>de</strong>norninou <strong>de</strong> "etos viri/", aquele <strong>de</strong>marcador do<br />

territ6rio masculino ern relayao ao ferninino, 0 que <strong>de</strong>t<strong>em</strong> a posse, 0 que po<strong>de</strong>,<br />

sobretudo.<br />

Mas, ern relayao ao corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, e tarnb<strong>em</strong> 0 que <strong>de</strong>marca a relayao<br />

entre 0 poeta e a lingua e 0 seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> manipular a palavra como b<strong>em</strong> a <strong>de</strong>seja, na<br />

segun<strong>da</strong> alinea:<br />

"Nao estou querendo<br />

a palavra virg<strong>em</strong>,


timi<strong>da</strong> e pudiea,<br />

a que s<strong>em</strong>pre pica<br />

aforma <strong>da</strong> mao. "<br />

No<br />

po<strong>em</strong>a erotico que quer compor nao cabe qualquer palavra e, para ter acesso<br />

it melhor, ele e capaz <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>r os seus limites, <strong>de</strong> <strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong>, 0 seu maior b<strong>em</strong> e 0<br />

melhor <strong>de</strong> sua criayao poetica, que e 0 ritmo, capaz <strong>de</strong> produzir no corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong><br />

os movimentos <strong>de</strong> erotismo e sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> que 0 corpo f<strong>em</strong>inino exige quando <strong>em</strong><br />

contato com 0 corpo masculino. Basta relacionar, por ex<strong>em</strong>plo, a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

palavras proparoxitonas. 0 uso <strong>de</strong>ssas palavras - grafteo, erotieo, numero, lirieo,<br />

mascaras, limpi<strong>da</strong>s, estatistieas, jambieas, indices, <strong>da</strong>tilieos, formulas, extases, logica,<br />

erogena, intimo, timi<strong>da</strong>, digrafo, umidos - imprim<strong>em</strong> no po<strong>em</strong>a urn ritmo intenso e<br />

breve, 'cioso' <strong>de</strong> querer representar 0 movimento dos corpos amantes no corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong>. E, no subir e <strong>de</strong>scer no calor <strong>da</strong> orgia, v<strong>em</strong>os 0 ritmo intense e breve<br />

influenciando a estrutura formal do po<strong>em</strong>a e ate mesmo a sua disposiyao no centro <strong>da</strong><br />

pagina: uma representayao<br />

do falo que se alonga, que se disten<strong>de</strong> e seduz, incontinente,<br />

como no Erotica I. Esse ritmo e essa disposiyao na pagina <strong>de</strong>senha no po<strong>em</strong>a 0 que<br />

Alfredo Bosi 29<br />

chama <strong>de</strong> "estrato para-s<strong>em</strong>antieo <strong>da</strong> existencia corpora!", momento <strong>em</strong><br />

que 0 po<strong>em</strong>a passa a ter uma fisionomia a partir <strong>de</strong> sua forma, <strong>de</strong> seus sons e ritmos, <strong>de</strong><br />

suas modulayoes e imagens.<br />

As imagens eroticas que se formam tanto <strong>em</strong> ErOtica I quanto <strong>em</strong> ErOtica II<br />

faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> imagens que percorre to<strong>da</strong> a poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya<br />

Teles e se <strong>de</strong>fine neste ultimo po<strong>em</strong>a como "mulher-palavra". Ela existe <strong>em</strong> sua poesia<br />

<strong>em</strong> forma <strong>de</strong> sonho, <strong>de</strong> <strong>de</strong>vaneio,<br />

como urn "Sonherna" (56): algo que lhe v<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

sonho, it noite, e se transforma <strong>em</strong> po<strong>em</strong>a, <strong>em</strong> corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>. Corpo, para ele,<br />

f<strong>em</strong>inino, posto que com ele mant<strong>em</strong> uma relayao amorosa e sensual. Em Por urn Triz<br />

(84), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens, Gilberto Mendonya Teles coloca entre parenteses uma estrofe


inteira, como se segre<strong>da</strong>sse a algu<strong>em</strong> 0 que ocorre entre ele e essa "mulher-palavra ",<br />

"no dngulo do quarto ou do texto":<br />

"E at 0 erotico te aguar<strong>da</strong><br />

na ponta do <strong>de</strong>do e <strong>da</strong> lingua:<br />

o verbo, a carne - a mesa farta -<br />

tudo se dir nas entrelinhas. "<br />

Todos esses fatos nos faz l<strong>em</strong>brar Bachelard 30 ,<br />

quando nos fala sobre 0 sonhador<br />

<strong>de</strong> palavras, <strong>da</strong>s palavras que se amam, <strong>da</strong> doyura que se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> <strong>da</strong>s palavras<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s f<strong>em</strong>ininas e "ate on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> chegar um sonhador <strong>de</strong> letras" como 0 poeta<br />

por ele citado, Edmond Jabes, que viu nas palavras urn corpo dotado <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros,<br />

que<br />

sac as letras, as vogais representando 0 sexo. A poesia telesiana vai <strong>de</strong> encontro a esse<br />

pensamento bachelardiano, e por isso estarmos a todo instante, neste trabalho, tentando<br />

atar as partes <strong>de</strong>sses corpos fragmentados, quase sexo, diriamos, com a expressao mais<br />

f<strong>em</strong>inina <strong>de</strong> sua poesia que e "mulher-palavra",<br />

aque1a pela qual ele e capaz <strong>de</strong> <strong>da</strong>r<br />

tudo,<br />

"0 que mais estimo<br />

<strong>da</strong>rei ilhas, istmo,<br />

o melhor do ritmo<br />

que eu souber compor,<br />

para estar Ires dias<br />

( lima noite ao menos)<br />

ilhados no hotel,<br />

vivendo a poesia<br />

<strong>de</strong>sse corpo-livro<br />

no intimo escritorio<br />

<strong>da</strong> melhor palavra<br />

<strong>da</strong> mulher-palavra. "


Essa "mulher-palavra" telesiana comporta uma sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

implicitas: tern 0 po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> seduzir 0 poeta enquanto se encontra escondi<strong>da</strong> nas locas do<br />

silencio, mas logo que <strong>de</strong>scoberta, toma-se ref<strong>em</strong> dos seus <strong>de</strong>sejos, <strong>de</strong>ixa-se aprisionar<br />

na ponta lingua e, pe1a ponta dos <strong>de</strong>dos toma a forma quase corp6rea, provocando 0<br />

lado irracional, instintivo, que 0 <strong>de</strong>sliga <strong>da</strong>s coisas 16gicas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, animalizando-se:<br />

"Quero a que me fa9a<br />

all<strong>da</strong>r pelos pastos<br />

como um marnui<br />

nos ermos goiallos,<br />

bebelldo 0 silencio<br />

e baballdo 0 gozo<br />

<strong>de</strong> berrar b<strong>em</strong> alto<br />

o seu nome:<br />

Tal atitu<strong>de</strong> nao faz que 0 po<strong>em</strong>a perca<br />

0 seu caniter er6tico, pois a animali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

ai encontra-se<br />

sob 0 patamar do <strong>de</strong>vaneio, <strong>de</strong> uma experiencia individual, int<strong>em</strong>aliza<strong>da</strong>,<br />

"apellas a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um po<strong>em</strong>a erotica ", na<strong>da</strong> <strong>de</strong> realmente concreto.<br />

Em<br />

& Cone <strong>de</strong> Sombras, 0 que po<strong>de</strong>mos perceber e urn erotismo e1aborado <strong>em</strong><br />

cima <strong>de</strong> uma t<strong>em</strong>atica amorosa que v<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras obras <strong>de</strong> Gilberto Mendonya<br />

Teles. Este, sonhador <strong>de</strong> palavras, leitor <strong>de</strong> Ovidio, do Kama Sutra, <strong>de</strong> Cappellanus,<br />

Dom Juan no conhecimento <strong>da</strong>s artes e manhas do amor pela lingua, pelas mulheres, pe1a<br />

musa apaixona<strong>da</strong> e apaixonante que e a sua pr6pria poesia. Poesia engendra<strong>da</strong> nas<br />

nuvens, nas sombras, enriqueci<strong>da</strong> na contraluz<br />

<strong>da</strong> hist6ria dos generos e <strong>da</strong>s ten<strong>de</strong>ncias<br />

litenirias. Urn Proso<strong>em</strong>a (58), misto <strong>de</strong> prosa e po<strong>em</strong>a transmutado <strong>em</strong> "ramo <strong>de</strong> flores<br />

voluptuosamellte reais" e colocado "disfar9a<strong>da</strong>mellte por entre os seios tr<strong>em</strong>ulos,<br />

tr<strong>em</strong>ulos ... " <strong>da</strong> ama<strong>da</strong>' Tal como 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> ou 0 corpo er6tico nele inscrito,<br />

"po<strong>de</strong>ni ser rasgado <strong>em</strong> mil pe<strong>da</strong>90s ", e ain<strong>da</strong> assim, revelara


"a beleza <strong>da</strong>s coisas s<strong>em</strong> palavras,<br />

<strong>de</strong>ssas coisas que viv<strong>em</strong> como se estivess<strong>em</strong> voando<br />

para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesmas. "<br />

Ou ain<strong>da</strong>, urn Sonh<strong>em</strong>a (56), sonho e po<strong>em</strong>a construido na "noite" "umi<strong>da</strong> e<br />

fragmenta<strong>da</strong>", como 0 mundo que "an<strong>da</strong> agora <strong>de</strong> pernas para 0 ar. "<br />

Sobre Plural e Nuvens e sua t<strong>em</strong>atica amorosa, Darcy Franya Den6frio (1997) diz<br />

ser este livro <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles, urn livro <strong>de</strong> amor, cuja revelayao se <strong>da</strong> <strong>de</strong> tres<br />

modos: "0 <strong>de</strong>finitivo, 0fortuito e 0 contingente". 0 fortuito, percebido pela forte carga<br />

er6tica; 0 <strong>de</strong>finitivo, pela referencia a mulher do poeta e, 0 contingente representado<br />

numa parte dos po<strong>em</strong>as on<strong>de</strong> 0 amor se apresenta s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scontinua, nunc a<br />

completa<strong>da</strong>. Consi<strong>de</strong>ramos que essa tripartiyao <strong>em</strong> uma t<strong>em</strong>litica (mica ja provoca, por<br />

si, uma fragmentayao.<br />

0 amor se <strong>da</strong> ao poeta <strong>em</strong> diversos estagios e 0 seu envolvimento<br />

erotico esta, logicamente, mais centralizado, ou servindo <strong>de</strong> ponte, entre 0 amor fortuito<br />

e 0 contingente, pois que 0 <strong>de</strong>finitivo e uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta, encontrando-se protegido<br />

pelo espayO azul <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do poeta.<br />

Em Plural <strong>de</strong> Nuvens 0 amor v<strong>em</strong> pnmelro <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> torna<strong>da</strong> nome,<br />

existindo, sendo corpo <strong>de</strong> palavra. Depois, a palavra e mulher que se <strong>de</strong>bruya no ceu azul<br />

<strong>da</strong> criayao poetica telesiana, que se espraia pela casa <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vidro transparente<br />

como a agua, mas obscura como a noite e suas sombras <strong>de</strong> medo e angustia vin<strong>da</strong>s pela<br />

seus <strong>de</strong>sejos, dividido entre a jaculatoria e a ejaculayao. Dessa alianya permanente, 0 que<br />

tern sentido e pronunciado ou prenunciado. De modo que Maria, a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta <strong>em</strong><br />

sua poesia, entra <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> transformayao. E no ate <strong>de</strong> pronuncia-la<br />

amorosamente, 0 que era uno fragmenta-se pelo excesso <strong>de</strong> paixao, pelo incendio dos<br />

corpos e pela morte e renascer do <strong>de</strong>sejo que resiste aos contra-sensos. A retira<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong>ixa <strong>em</strong> aberto 0 espayO do sonho que transbor<strong>da</strong> <strong>da</strong> alma do poeta<br />

que se faz reconhecer pela ponta <strong>da</strong> lingua ou dos <strong>de</strong>dos e entao passa a tatear e<br />

arquitetar outras marias - musas, secretarias, aeromor;:as, meninas luminosas - e a<br />

<strong>de</strong>soculta-las nas entrelinhas do corpo <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> her6itica, comprometi<strong>da</strong> com


"AU eu te <strong>da</strong>rei mundos efundos,<br />

caricias so dos <strong>de</strong>uses conheci<strong>da</strong>s;<br />

e <strong>de</strong> tal forma te farei poeta<br />

que serei para s<strong>em</strong>pre a <strong>de</strong>seja<strong>da</strong>. "<br />

E assim, entalhando na palavra 0 corpo que the conv<strong>em</strong>, penetra-o<br />

e, incansavel,<br />

tira <strong>de</strong> urn e <strong>de</strong> outro<br />

0 que the <strong>da</strong> prazer ou 0 gozo <strong>de</strong> urn instante, esse algo mais que<br />

lhe ocorre Por urn Triz (84):<br />

"pois a palavra t<strong>em</strong> seus tufos<br />

<strong>de</strong> cabelos entre as vogais:<br />

algum <strong>de</strong>sejo, um pelo avulso,<br />

algo sentido para 0 gasto. "<br />

E via amor fortuito que 0 poeta esboya os fragmentos<br />

<strong>de</strong>sse corpo que se quer<br />

mulher, no caso, "mulher-palavra". Mas 0 que ele busca nao se restringe apenas<br />

ao seu exterior, n<strong>em</strong> a ele recorre pelo simples prazer fisico. Assim como no corpo <strong>de</strong><br />

linguag<strong>em</strong>, pelos fragmentos, pela violayao <strong>da</strong> palavra, Gilberto Mendonya Teles busca<br />

atingir a perfeiyao, a essencia poetica, no corpo <strong>da</strong> mulher, pelo toque, pela penetra


Iinguag<strong>em</strong> fixo - soneto <strong>de</strong>cassihibico - urn corpo que 0 convi<strong>da</strong> a repetiyoes dos<br />

mesmos gestos, numa tentativa <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r 0 indizivel <strong>da</strong> re1ayao amorosa, com to<strong>da</strong>s as<br />

significayoes tateis e a suavi<strong>da</strong><strong>de</strong> e Ieveza que os momentos <strong>de</strong> amor pe<strong>de</strong>m. Mas a<br />

muIher torna-se flui<strong>da</strong> e foge ao seu controIe, 0 que 1he aumenta 0 <strong>de</strong>sejo. Desejo este<br />

que circu1a pe10 texto osci1ando entre a sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a textuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, on<strong>de</strong> 0 sujeito <strong>da</strong><br />

enunciayao v<strong>em</strong> completar esse jogo, impondo-se ao objeto <strong>de</strong>sejado, cuja senha aparece<br />

no primeiro verso do po<strong>em</strong>a - eIa, peixe, escorregadia;<br />

eIe, poIvo, a querer aprisiomi-Ia<br />

<strong>em</strong> seus tentaculos. E a partir <strong>da</strong>i que se <strong>de</strong>senvolve 0 jogo erotico. 0 poeta Ianya mao<br />

<strong>de</strong> to<strong>da</strong> uma ca<strong>de</strong>ia significante a seu favor - ponta dos <strong>de</strong>dos, ponta <strong>da</strong> lingua, ponta <strong>de</strong><br />

lam;a, ponta dos pes - para compor<br />

0 que mais Ihe intriga que e 0 silencio f<strong>em</strong>inino.<br />

Lacanianamente<br />

dizendo, 0 sujeito <strong>da</strong> enunciayao uti1iza-se do significante falico como<br />

razao do <strong>de</strong>sejo, primeiro como uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> que Ihe e inerente; <strong>de</strong>pois, como<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong>, transformando-se <strong>em</strong> prova <strong>de</strong> amor. Duas coisas que no po<strong>em</strong>a se encontra<br />

b<strong>em</strong> dividido. Ha 0 <strong>de</strong>sejo como necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

no verso 8, "como coisas que como e<br />

quero mais", e 0 <strong>de</strong>sejo como <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, quando <strong>da</strong> presenya <strong>da</strong> ama<strong>da</strong> no verso 14,<br />

"estas cenas <strong>de</strong> amor que pe<strong>de</strong>m bis". Por<strong>em</strong>, Lacan (1988) assegura que 0 <strong>de</strong>sejo nao<br />

esta n<strong>em</strong> na necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> n<strong>em</strong> na <strong>de</strong>man<strong>da</strong>: nao e Hn<strong>em</strong> 0 apetite <strong>da</strong> satisfar;iio, n<strong>em</strong> a<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> amor, mas a diferenr;aque resulta <strong>da</strong> subtrar;iiodo primeiro it segun<strong>da</strong>, 0<br />

fen6meno mesmo <strong>de</strong> sua clivag<strong>em</strong>". Pesqu<strong>em</strong>os, entao, no texto, 0 momento <strong>de</strong>s sa<br />

clivag<strong>em</strong>, on<strong>de</strong> nessa triangulayao - sexuaii<strong>da</strong><strong>de</strong>/textuali<strong>da</strong><strong>de</strong>/sujeito <strong>da</strong> enunciayao - se<br />

<strong>da</strong> a diferenya, que e 0 exato momenta<br />

<strong>da</strong> criayao poetica, pe10 que se <strong>da</strong> como causa do<br />

mesmo nos versos 12 e 13:<br />

HE na ponta dos pes que metrifico<br />

compondo 0 teu silblCio - este soneto, "<br />

A causa do <strong>de</strong>sejo na poetica telesiana e atingir a perfeiyao atraves <strong>da</strong> apreensao<br />

<strong>da</strong> pa1avra pura, essa que, tendo-a ante os olhos, nao a quer para urn amor p1at6nico,


pois sua "musa esta no cio / <strong>de</strong>ssas vogais e consoantes". Ele a quer para, num corpo a<br />

corpo ser ele mesmo <strong>de</strong>sejo do <strong>de</strong>sejo do outro e vice-versa.<br />

Cabe aqui retomar 0 significante falico que no po<strong>em</strong>a marca uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e urn<br />

gozo sexual. Existe no texto, esta claro, urn sujeito que goza: tateia imaginariamente<br />

urn<br />

corpo, dissolve a essencia <strong>de</strong> urn nome na ponta <strong>da</strong> lingua, invoca e possui urn fragmento<br />

do corpo <strong>de</strong> mulher que aparece b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finido - vulva, quadris. Ocorre mais precisamente<br />

o que Jorge Al<strong>em</strong>an 31 se refere<br />

quanta ao ate <strong>de</strong> gozar <strong>de</strong> urn corpo, que e 0 <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

aperta-lo, abraya-Io, <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>ya-Io. Esse <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>yamento <strong>de</strong> que ele fala eo utilizado<br />

<strong>em</strong> to<strong>da</strong> a poetica telesiana e <strong>em</strong> na<strong>da</strong> se relaciona com a concepyao<br />

sadiana do corpo<br />

fragmentado. Gilberto Mendonya Te1es nao <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>ya 0 corpo <strong>de</strong> forma libertina, n<strong>em</strong><br />

este corpo esta pre<strong>de</strong>stinado it dor a aniquilayao. 0 fato <strong>de</strong> a sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> encontrar-se<br />

presentifica<strong>da</strong> no po<strong>em</strong>a e diretamente <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelos quadris f<strong>em</strong>inino, serve para<br />

mostrar 0 corpo como se<strong>de</strong> e fonte <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e tamb<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />

autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois que 0 significante falico encontra-se ai inserido como principio<br />

masculino do qual a mulher e totalmente<br />

<strong>de</strong>sprovi<strong>da</strong>.<br />

Lacan<br />

nos fala <strong>de</strong> uma relayao sexual impossivel, nao po<strong>de</strong>ndo jamais ser escrita<br />

enquanto tal, posta que s6 existe urn, 0 masculino e 0 f<strong>em</strong>inino nao se encontra inscrito<br />

na or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. Conseqiient<strong>em</strong>ente, a mulher <strong>de</strong>ve ser pensa<strong>da</strong> como<br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, por ter seu lugar sustentado a partir <strong>de</strong> urn lugar Outro. Dizendo<br />

<strong>de</strong> outro modo,<br />

ha uma forma f<strong>em</strong>inina <strong>de</strong> existir - uma exceyao. Essa exceyao-f<strong>em</strong>inina<br />

goza com urn gozo outro, indizivel. E, enquanto subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

( urn lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> na<strong>da</strong><br />

ou tudo po<strong>de</strong> ser dito ) e reduzido a objeto, como <strong>em</strong> Do Ponto Atras - este soneto -<br />

que v<strong>em</strong> suprir exatamente a falta provoca<strong>da</strong> pelo silencio, isto e, pelo entendimento do<br />

gozo f<strong>em</strong>inino. E mais, e pela escriturayao<br />

do corpo f<strong>em</strong>inino e <strong>de</strong> sua relayao com ele<br />

que 0 <strong>de</strong>sejo e sublimado.<br />

o que v<strong>em</strong>os na maioria dos po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens e a t<strong>em</strong>citica <strong>de</strong>sse<br />

amor fortuito a fluir e refluir s<strong>em</strong> nunca concluir-se. Nos sonetos que se segu<strong>em</strong> ao Do<br />

Ponto Atras confirmam b<strong>em</strong> essa quase posse do corpo <strong>da</strong> ama<strong>da</strong> que acena para novos


encontros, 0 que possibilita a renovac;ao do <strong>de</strong>sejo, a angustia <strong>de</strong> esperar a sua<br />

concretizac;ao e novamente a sua morte perante 0 silencio instaurado a partir do encontro<br />

possivel, como ocorre <strong>em</strong> Do Amor-te (46), on<strong>de</strong> 0 poeta utiliza os verbos, quase todos<br />

<strong>em</strong> sua forma nominal, para <strong>de</strong>marcar a et<strong>em</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

que e a espera <strong>da</strong> realizac;ao do amor,<br />

aqui no po<strong>em</strong>a entendido <strong>em</strong> tres esferas a saber: 0 amor dos corpos, 0 amor <strong>da</strong> alma e 0<br />

amor pela poesia:<br />

"Tudo que tenho, que ja fiz ou fafo<br />

e saber te esperar, ficar tranqiiilo<br />

viver equilibrando t<strong>em</strong>po e espafo,<br />

tentando versos, r<strong>em</strong>oendo estilo. "<br />

A anglistia <strong>de</strong> esperar algo que po<strong>de</strong> nao se concretizar<br />

se disfarc;a no corpo do<br />

texto atraves <strong>da</strong> tranqiiili<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente, do equilibrio <strong>de</strong>monstrado externamente. Mas 0<br />

ato <strong>da</strong> espera se transforma <strong>em</strong> espac;o <strong>de</strong> sugestao, 0 espac;o on<strong>de</strong> 0 poeta se transforma<br />

mesmo <strong>em</strong> voyeur <strong>de</strong> urn corpo que s6 se <strong>de</strong>ixa cont<strong>em</strong>plar<br />

por <strong>de</strong>ntro. De modo que<br />

ocorrendo 0 encontro dos corpos, 0 encontro <strong>da</strong> alma nao acontece, nao ha<br />

comunicac;ao, nao hi epifania possivel, uma vez que a sua imag<strong>em</strong> e imperceptivel,<br />

<strong>em</strong>bora ele a sinta grandiosa. Acontece nao s6 neste po<strong>em</strong>a, mas <strong>em</strong> todos on<strong>de</strong> 0<br />

silencio impera <strong>de</strong> 0 corpo <strong>da</strong> ama<strong>da</strong> apesar <strong>da</strong> fragmentac;ao visivel, tomar-se<br />

infinito<br />

aos olhos do poeta. Nas palavras <strong>de</strong> Octavio paz (1994: 183), 0 corpo abrac;ado<br />

intensifica as sensac;5es, fazendo com que haja a per<strong>da</strong> do corpo f<strong>em</strong>inino, isto e,<br />

"S6 po<strong>de</strong>mos pereeber a mulher ama<strong>da</strong> eomo forma que eseon<strong>de</strong><br />

uma alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> irredutivel au como substaneia que se anula e nos anula".<br />

No po<strong>em</strong>a Do Filtro (47), 0 encontro dos corpos acontece, mas 0 prazer, 0 gozo<br />

e sorvido<br />

lentamente, e rara e a sua articulac;ao pela lingua que continua barra<strong>da</strong> pelo<br />

silencio, impedindo a expansao do amor que cresce, mas nao sai do casulo, por isso se<br />

toma inutil e distante. E entao tudo se <strong>em</strong>bota e 0 prazer e invali<strong>da</strong>do pelo silencio<br />

causador <strong>da</strong> magoa mingua, isto e, <strong>da</strong> carencia. Entra nessa invali<strong>da</strong>c;ao do prazer


urn el<strong>em</strong>ento referencial peculiar e utilizado <strong>em</strong> outros po<strong>em</strong>as, que e 0 signa do poeta,<br />

cancer, tornado neste, como mal incunivel:<br />

"Gota a gota me perco, e e quase nulo<br />

o t<strong>em</strong>po do prazer: 0 meu cachimbo,<br />

a rima recorta - nuv<strong>em</strong>, ingua,<br />

o cancer <strong>de</strong> algum signo que acumulo".<br />

o silencio marca, portanto, 0 espayo do <strong>de</strong>s-encontro amoroso, mas tamb<strong>em</strong><br />

marca a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reativayao do <strong>de</strong>sejo que, como 0 proprio silencio, nao se<br />

esgota. Ao contnm.o incita it <strong>de</strong>cifrayao. Por isso 0 poeta internaliza tudo 0 que e lindo,<br />

para no momento do <strong>de</strong>sencontro<br />

tamb<strong>em</strong> silencioso e <strong>de</strong>sarticulado<br />

valer-se <strong>de</strong>ssa imag<strong>em</strong> e apelar para 0 auto-erotismo,<br />

pela lingua, mas articulado pelo gesto:<br />

"Gota a gota te aceno, e vou saindo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>nfro <strong>de</strong> feu nome: levo um trac;o<br />

uma coisa qualquer na mao canhota".<br />

Esse silencio que 0 impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer as profun<strong>de</strong>zas<br />

do ser ferninino tamb<strong>em</strong><br />

no texto se encontra presente. E 0 que Octavio paz <strong>de</strong>nornina <strong>de</strong> "zona <strong>de</strong> silencio"<br />

<strong>em</strong> poesia, e que Gilberto Mendonya Teles repete no po<strong>em</strong>a ReunHio (83), <strong>de</strong> & Cone<br />

<strong>de</strong> Sombras, 0 po<strong>em</strong>a sendo, no caso, "um organismo produtor <strong>de</strong> silencios". Para ele,<br />

o amor, como a festa ea poesia saD tipos <strong>de</strong> comunicayao concreta, indizivel quando<br />

tornados comunhao. Pela fusao, hci 0 contato com 0 mais profun<strong>da</strong> do ser amado,<br />

contato este que Gilberto Mendonya Teles traduz <strong>em</strong> sua poesia:<br />

"Resta 0 ins6lito<br />

<strong>de</strong> teu silencio, 6 zona <strong>de</strong> poesia"<br />

Se Bachelard ( 1988: 18 ) tinha por urn <strong>de</strong> seus sonhos "reabrir, nas pr6prias<br />

palavras, profull<strong>de</strong>zas f<strong>em</strong>ininas", este, Gilberto Mendonya Teles 0 conseguiu <strong>em</strong> sua


poesia. Teoricamente, 0 poeta nos fala do silencio como <strong>de</strong> urn espayo vazio, <strong>em</strong>bora<br />

cheio <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s significativas. Tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong> suas implicayoes i<strong>de</strong>ol6gicas, suas<br />

ayoes e reayoes, suas mil e uma maneiras <strong>de</strong> dizer muito s<strong>em</strong> dizer na<strong>da</strong>. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, sac<br />

muitas as causas do silencio instaurado na poetica telesiana, mas, interessa-nos aqui<br />

falarmos do silencio fund ador <strong>de</strong> sua poesia ( se e que assim po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>nominar ), que e<br />

o silencio que se estabelece via amor, como 0 que se encontra <strong>em</strong> Percep~ao (39), <strong>de</strong><br />

Plural <strong>de</strong> Nuvens:<br />

"0 amor te pren<strong>de</strong> as palavras e te liberta<br />

na invenc;ao <strong>de</strong> alguns c6digos e silencios. "<br />

Em Gilberto Mendonya Teles 0 silencio advindo do amor nao e<br />

percebido como urn <strong>em</strong>u<strong>de</strong>cimento proposital, tao pouco como ate <strong>de</strong> submissao. Nao<br />

se trata, pois, <strong>de</strong> vermos nesse calar f<strong>em</strong>inino uma relayao <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, on<strong>de</strong> a dominayao<br />

aparece como atributo do hom<strong>em</strong> controlador e dominador. Ao contrario, 0 silencio ai e<br />

<strong>de</strong>marcador dos limites paradoxais vi<strong>da</strong>/morte, <strong>de</strong> urn po<strong>de</strong>r que nao distancia 0 ser<br />

masculino do f<strong>em</strong>inino. Ao contrario,<br />

une-os pelo que e <strong>de</strong> mais sagrado para 0 poeta,<br />

que e a relayao amorosa, <strong>em</strong>bora nessa relayao a mulher precise ser 'manipula<strong>da</strong>', no<br />

sentido <strong>em</strong> que nela resi<strong>de</strong> 0 que ele mais <strong>de</strong>seja. Mas revela<br />

tamb<strong>em</strong> e, principalmente,<br />

o transporte do gozo f<strong>em</strong>inino ao mais al<strong>em</strong> do que 0 conhecimento do sujeito <strong>da</strong><br />

enunciayao possa alcanyar, como po<strong>de</strong>mos notar no soneto Amor-te<br />

(46), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong><br />

Nuvens, on<strong>de</strong> 0 silencio serve para ampliar a visao <strong>da</strong> mulher, <strong>de</strong> engran<strong>de</strong>ce-Ia,<br />

apesar<br />

<strong>de</strong> ser uma sugestao, urn objeto que 0 sujeito <strong>da</strong> enunciayao espera, diz, cont<strong>em</strong>pla, mas<br />

que, cotidianamente,<br />

barra a sua percepyao:<br />

"Sei que tomas 0 ser maior que 0 mundo<br />

e que a tua imag<strong>em</strong> nao se <strong>de</strong>ixa<br />

perceber na ilusao do dia-a-dia.<br />

E tudo que te expressa estCtno fundo,<br />

na curva do silencio au nesta queixa<br />

que te restringe e anula e mais te amplia. "


o mais profun<strong>da</strong> do ser f<strong>em</strong>inino fiui na poesia telesiana atraves <strong>de</strong>sse carpo<br />

fragment ado - belo e excitante - que expressa a <strong>de</strong>sagregayao<br />

fisica. 0 mais profundo do<br />

ser f<strong>em</strong>inino ten<strong>de</strong> a controlar os impulsos do dizer expressivo <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do dizer<br />

impressivo, do silencio que the confere uma integri<strong>da</strong><strong>de</strong> interior. Ocorre como <strong>em</strong> urn<br />

jogo, on<strong>de</strong> 0 par contradit6rio masculino/f<strong>em</strong>inino tivesse apenas uma carta<strong>da</strong> e esta<br />

pertencesse ao f<strong>em</strong>inino, que impoe-se no jogo e nao se <strong>de</strong>ixa dominar, como se<br />

encontra <strong>em</strong> Bala<strong>da</strong> do Nome ( 30 ), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens:<br />

H(..)<br />

No teu perfil vejo a mais pura<br />

raiz, <strong>de</strong> brilho um tanto incerto.<br />

Resguar<strong>da</strong>s 0 sopro <strong>da</strong> arag<strong>em</strong><br />

acima do nome, na linha<br />

<strong>da</strong> germ;ao ou na virag<strong>em</strong><br />

que nao se acaba <strong>de</strong> tfio perto.<br />

(..)<br />

o teu silencio e um ceu aberto,<br />

chuva noturna sobre 0 zinco<br />

<strong>de</strong> tua paz, do meu <strong>de</strong>serto. "<br />

Hi, portanto, urn layo que se estabelece entre 0 ser f<strong>em</strong>inino e 0 silencio que<br />

alcanya 0 seu par contradit6rio. Pelo siIencio, a mulher atinge a plenitu<strong>de</strong>. 0 seu<br />

nao-dizer na<strong>da</strong> e pleno <strong>de</strong> significayao. E urn nao-dizer imanente, a construir e a<br />

constituir to<strong>da</strong> uma significayao, cujo alcance encontra-se impossibilitado no jogo<br />

antitetico, e <strong>de</strong> certo modo, gra<strong>da</strong>tivo,<br />

que comeya pela ampli<strong>da</strong>o do ceu - aberto - ese<br />

vai fechando - notuma - ate tomar-se completamente <strong>de</strong>nso, intransponivel - zinco -<br />

provocando<br />

a soli<strong>da</strong>o do parceiro.


Quando nao basta ao poeta as palavras enunciadoras<br />

explicitas do silencio, este<br />

vale-se <strong>da</strong>s entrelinhas, <strong>da</strong> quebra do verso, <strong>da</strong> propria rima e, particularmente,<br />

<strong>de</strong> uma vasta pontua


<strong>da</strong> enuncia9ao sabe que a sua "musa" cava esse silencio. E e como se 0 gesto <strong>de</strong>la<br />

"fun<strong>da</strong>sse a monarquia <strong>de</strong> outro <strong>de</strong>scobrimento ".<br />

Essa "menina luminosa" que vive a pular os <strong>de</strong>graus do verso do poeta, essa<br />

"mulher-palavra" s<strong>em</strong>pre com a forma <strong>de</strong> uma coisa tactil esta constant<strong>em</strong>ente as voltas<br />

com 0 poeta, como num jogo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>-ganha, <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>-escon<strong>de</strong>. Mas ele mesmo diz<br />

que to<strong>da</strong> historia tern seu texto e tamb<strong>em</strong> "a essencia que mu<strong>da</strong> e permanece cala<strong>da</strong>".<br />

Esse e 0 silencio que 0 assusta e 0 faz come9ar a ver que e preciso experimenta-Io<br />

incessant<strong>em</strong>ente. Pela circulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>de</strong>sejo ele tenta preencher essa falta,<br />

buscando t<strong>em</strong>eroso a diferenya absoluta tanto no plano erotico quanta no poetico. A<br />

impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> palavra nesses dois pIanos representam, nao 0 proibido, 0 tabu, mas<br />

o instantaneo que 0 faz produzir, 0 "momentofecundo, on<strong>de</strong> ° silencio e tamanho que<br />

ate ° universo estanca", conforme Maria Escolastica (1994:152).


••• mu. uu u· •• u ••••••••• u •••• m •••• ·{;oNCLUSAO·<br />

mu<br />

u u ••• uu. m •• u. u •••• • •••• m ·1


"Amor - pois que e a palavra essencial<br />

comece esta cam;iio e to<strong>da</strong> a envolva.<br />

Amor guie 0 meu verso, e enquanto 0<br />

guia, reitna alma e <strong>de</strong>sejo, m<strong>em</strong>bra e<br />

vulva. "<br />

Este e, por fim, 0 momento <strong>de</strong> juntarmos os fragmentos dos corpos imagimirios<br />

aqui expostos, para <strong>de</strong>les conseguirmos filtrar alguma essencia <strong>da</strong> que se escon<strong>de</strong> por<br />

t[(1S<strong>da</strong>s nuvens e <strong>da</strong>s sombras do texto telesiano. Corpos <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>yados que oscilam<br />

entre a sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> converti<strong>da</strong> <strong>em</strong> fino erotismo.<br />

Sobre 0 corpo e a sua postura <strong>em</strong> relayao a sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, to<strong>da</strong> a teoria <strong>de</strong> base<br />

utiliza<strong>da</strong> neste estudo nos coloca frente a frente com a questao do etos ao qual se refere<br />

Maingueneau (1995: 139), para qu<strong>em</strong> hi uma forma <strong>de</strong> 0 corpo policiar-se, <strong>de</strong> modo a<br />

a<strong>de</strong>quar -se ao espar;o social que habita. Tudo isso implicando numa etica sexual, garantia<br />

<strong>de</strong> uma "boa conduta sexual", conforme Foucault (1985:141). Segundo ele, Ovidio,<br />

entre outros, recomen<strong>da</strong>va pru<strong>de</strong>ncia a qu<strong>em</strong> queria conservar 0 amor. 0 recolhimento<br />

na hora do ate amoroso seria 0 i<strong>de</strong>al: fugir <strong>da</strong> clari<strong>da</strong><strong>de</strong> do dia, preferindo<br />

a obscuri<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> noite, os lugares reservados,<br />

internos, s<strong>em</strong> exposiyao dos corpos. Tais recomen<strong>da</strong>yoes<br />

faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> representayoes<br />

sociais a que 0 ser humano ai inserido <strong>de</strong>ve<br />

fazer cumprir-se.<br />

Por isso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0 inicio <strong>de</strong>ste trabalho que tentamos fazer a ligayao entre 0 t<strong>em</strong>po<br />

o espayo e 0 corpo que nele habita, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> poetica <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles.<br />

Nessa ligayao encontram-se enre<strong>da</strong>dos el<strong>em</strong>entos sociais, culturais, psicol6gicos, entre


outros, que po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados tanto no corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> quanta no corpo<br />

erotico. Dai po<strong>de</strong>rmos reafirmar 0 carMer experimental que tern a poesia telesiana, 0 seu<br />

alto grau <strong>de</strong> pesquisa e escolha lexica, 0 proprio conhecimento<br />

que 0 poeta tern <strong>da</strong> lingua<br />

utilizando-a artisticamente para re-apresentar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> mais abstrata, menos acessivel a<br />

todos.<br />

Todo 0 primeiro capitulo, versa sobre questoes inerentes it propria construyao<br />

<strong>da</strong><br />

obra - no espayO e no t<strong>em</strong>po - como corpo textual que comeya por se estabelecer mesmo<br />

antes <strong>de</strong> sua escriturayao, no ate <strong>de</strong> pensar. 0 ate <strong>de</strong> pensar <strong>em</strong> Gilberto Mendonya<br />

Teles nos poe <strong>em</strong> contato com to<strong>da</strong> uma probl<strong>em</strong>iitica existencial liga<strong>da</strong> it finitu<strong>de</strong><br />

humana. Dai <strong>em</strong> muitos pontos 0 hermetismo se fazer presente como forma, talvez, <strong>de</strong><br />

proteger-se do mundo <strong>da</strong>s coisas finitas. Mas, e justamente neste hermetismo, que 0<br />

refugia no mais intimo <strong>da</strong>s palavras, que encontramos<br />

a brecha, 0 fragmento por on<strong>de</strong> se<br />

dii 0 transbor<strong>da</strong>mento<br />

dos sentidos ocultos.<br />

Foi entao que comeyamos a enten<strong>de</strong>r, jii neste primeiro capitulo, a presenya <strong>da</strong><br />

fragmentayao do t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> funyao do espayo construido e do corpo feito <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste<br />

espayo. Tal entendimento,<br />

valendo tanto para 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> como para 0 corpo<br />

erotico. Tratamos, pois, <strong>de</strong> distinguir, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> poesia <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles -<br />

que a maioria dos cnticos chamam <strong>de</strong> metapoesia e aqui preferimos enten<strong>de</strong>-la como<br />

sendo uma teoria poetica do corpo resgata<strong>da</strong> na linguag<strong>em</strong> - dois momentos<br />

fun<strong>da</strong>mentais para que vejamos <strong>de</strong>senhar-se a incorporayao: 0 ate <strong>de</strong> pensar, anterior a<br />

escrita e 0 ato <strong>de</strong> transformayao <strong>de</strong>sse pensar <strong>em</strong> objeto verbal que e a escriturayao do<br />

po<strong>em</strong>a. Sao momentos sucessivos, continuos, mas que se cruzam <strong>em</strong> algum ponto <strong>da</strong>s<br />

duas obras estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s - arriscando-nos a dizer tamb<strong>em</strong> nas outras obras <strong>de</strong> Gilberto<br />

Mendonya Teles - para revelar, nesse tipo especial <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, os sentidos e "naosentidos"<br />

<strong>da</strong> propria existencia humana <strong>em</strong> confronto<br />

com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Das sombras na<br />

cav<strong>em</strong>a ao po<strong>em</strong>a, 0 espayo construido<br />

por Gilberto Mendonya Teles tern coisas a dizer<br />

e a silenciar. E quanta mais se <strong>de</strong>ixa revelar na contraluz,<br />

mais significativo se toma <strong>em</strong><br />

relayao ao corpo que 0 habita. Seria pretencioso <strong>de</strong> nossa parte assegurar que do<br />

confronto gerado nesse espayO entre 0 dizer e 0 silenciar surgiu 0 ser <strong>da</strong> poesia plena.


o ato <strong>de</strong> pensar e 0 ato <strong>de</strong> escrever telesianos revelam sobretudo<br />

uma i<strong>de</strong>ologia<br />

estetica impressa no corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e consegui<strong>da</strong> atraves do que ele chama <strong>de</strong><br />

"constrangimentos culturais ,,32 , tais como violac;ao <strong>da</strong>s normas gramaticais e <strong>da</strong><br />

pr6pria tradic;ao poetica, <strong>da</strong>s transformac;5es dos padr5es estabelecidos. Neste estudo,<br />

consi<strong>de</strong>ramos a transgressao <strong>da</strong> t<strong>em</strong>litica amorosa e sua forma <strong>de</strong> exposic;ao, como<br />

fazendo parte <strong>de</strong>sses tipos <strong>de</strong> constrangimentos. Por isso mesmo encontram-se atados,<br />

corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e corpo er6tico,


(..)<br />

Procuro 0 que figura<br />

(...)<br />

Procuro 0 que projeto<br />

(..)<br />

Procuro 0 procurar-te,<br />

o que s<strong>em</strong>pre fiz e niio sei.<br />

Talvez 0 aqui e 0 agora, a parte<br />

do que ficou fora <strong>de</strong> lei. "<br />

Reitera<strong>da</strong><br />

a busca, 0 que ficou fora <strong>de</strong> lei e manejado habilmente pelo poeta que<br />

promove a integrac;ao do corpo lingiiistico que se forma, com 0 corpo erotica nele<br />

inserido. Embora <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>yados, esses corpos buscam uma entrega absoluta e sac<br />

convocados a apresentar<strong>em</strong>-se na sua completu<strong>de</strong> interior. Dai nosso segundo capitulo<br />

trazer imbricados corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e corpo erotico.<br />

Fazendo 0 trabalho <strong>de</strong> isis, t<strong>em</strong>os que partir do corpo do poeta que ja se encontra<br />

disperso na obscuri<strong>da</strong><strong>de</strong> do t<strong>em</strong>po e do espac;o - noite, san;a ar<strong>de</strong>ndo s<strong>em</strong> luz nas<br />

cinzas - mas, onipresente<br />

- aqu<strong>em</strong>, al<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ntro do texto - como se fosse a propria recomposic;ao<br />

do cosmos, como sugere no po<strong>em</strong>a CicIo (5), <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens:<br />

"E sou diutumo, sou qua-t<strong>em</strong>ario:<br />

o fogo, a terra e 0 m 'ar entreabertos,<br />

plural <strong>de</strong> ventos <strong>em</strong> que me espalho<br />

<strong>em</strong> ca<strong>da</strong> face do poliedro. "<br />

o jogo com as palavras espalha<strong>da</strong> nesta estrofe e espelha<strong>da</strong> <strong>em</strong> uma anterior<br />

traduz 0 momento especial na poesia telesiana on <strong>de</strong> ele, como fiador do enunciado se<br />

<strong>de</strong>ixa refletir na sua propria enunciac;ao. Refletindo-se,<br />

reflete 0 mundo e, pela linguag<strong>em</strong><br />

poetica, faz vir a tona um outro mundo, um outro corpo, tamb<strong>em</strong> esfacelado, mas<br />

acrescido <strong>de</strong> sonhos, <strong>de</strong> amores, <strong>de</strong> encontros, <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do ser, cuja existencia<br />

se <strong>da</strong> como travessia do estabelecido ao nao estabelecido, do continuo ao <strong>de</strong>scontinuo.<br />

Travessia que comec;a <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> lingua, par um assalto, como <strong>em</strong> Ludus (4), <strong>de</strong> Plural<br />

<strong>de</strong> Nuvens:


Assalto este, conseguido a custa <strong>de</strong> muita espera e <strong>de</strong> muita procura, na<br />

"tocaia", <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>bosca<strong>da</strong>, apreendi<strong>da</strong> e transforma<strong>da</strong> por urn gesto urn tanto<br />

canibal,<br />

ou "antropofnigil", como <strong>em</strong> Inspirac;ao (6), tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens:<br />

"Pega a palavra, pega e come.<br />

Niio interessa se algum nome<br />

possa te <strong>da</strong>r indigestiio. "<br />

Digerir a palavra no sentido telesiano significa acrescentar-Ihe<br />

novos sentidos ou<br />

ate mesmo "s<strong>em</strong>-sentidos". Se algum nome soar indigesto e sinal <strong>de</strong> que 0 leitor nao<br />

entrou <strong>em</strong> sintonia com 0 processo<br />

<strong>de</strong> 'comedoria' utilizado pelo poeta. Comer e urn<br />

ate constante e liberado para ele: come a palavra, come a mulher -palavra, come 0 corpo<br />

f<strong>em</strong>inino atraves dos sentidos. Libera 0 corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e nele evi<strong>de</strong>ncia 0 seu<br />

"alibidinoso" inscrevendo a sua hist6ria <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> no corpo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. A sua<br />

melhor palavra e mulher e tudo gira <strong>em</strong> tome<br />

<strong>de</strong>la, encontravel entre 0 pensar e 0 dizer,<br />

b<strong>em</strong> no meio do espa


corpos e por ela atinge 0 orgasmograma: a escritu-r-ayao do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> atingir 0 gozo<br />

supr<strong>em</strong>o pelo amor <strong>da</strong> lingua na qual projeta 0 objeto <strong>de</strong>sejado, <strong>em</strong> <strong>de</strong>vaneio, <strong>em</strong><br />

"notas <strong>de</strong>lirantes"<br />

<strong>de</strong> Nuvens:<br />

e po<strong>de</strong> ser pronunciado livr<strong>em</strong>ente, como no Soneto 3 (42), <strong>de</strong> Plural<br />

"Talvez te pronuncie por <strong>de</strong>scuido<br />

durante a viag<strong>em</strong> ou no hotel, dormindo.<br />

Ou sonhando talvez que sou ou fui<br />

do mais intimo instante, do mais lindo"<br />

e <strong>de</strong>terminado nas partes que the conv<strong>em</strong>, no Soneto 4 (43), tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong> Plural <strong>de</strong><br />

Nuvens:<br />

"Tudo se cumpre aqui, na pertinencia<br />

do texto que te in<strong>da</strong>ga e te dilui,<br />

o poesia, limiar <strong>de</strong> contra-sensos,<br />

excesso <strong>de</strong> paixao no fim <strong>da</strong> pagina<br />

aberta sobre nos efolhea<strong>da</strong><br />

ao sabor dos acasos e m<strong>em</strong>orias.<br />

Tudo se cumpre e se esvai na tentativa<br />

do que resiste efala como incendio.<br />

Nas rugas <strong>de</strong>sta ins6nia, a confi<strong>de</strong>ncia<br />

do essencial. Na busca do sentido<br />

o corpo-a-corpo <strong>da</strong> palavra. E no dmago<br />

<strong>de</strong> todos os fragmentos, os suportes,<br />

a confluencia dos quadris, e os term os<br />

<strong>da</strong> espalha<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e precipicio. "<br />

E no corpo-a-corpo com a palavra que Gilberto Mendonya Teles <strong>de</strong>sconstr6i<br />

0 seu espayO poetico. Espa


a cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong><strong>de</strong> eXlge. Por isso verificamos a dilui


Acrescentamos, por firn, que amilise aqui feita, enfatiza apenas alguns aspectos<br />

do corpo textual <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles: a inovayao do fazer poetico partindo do<br />

aspecto fono16gico, este influenciando to<strong>da</strong> a estrutura e significayao , 0 <strong>de</strong>sregramento<br />

<strong>em</strong> busca <strong>da</strong> melhor forma <strong>de</strong> dizer 0 seu mundo cont<strong>em</strong>poraneo,<br />

plural e sombrio ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po. Desse modo, cria urn corpo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> plural e fragmentado<br />

e <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>le faz saltar essa mulher-palavra,<br />

motivo maior <strong>de</strong> sua existencia. Per qu<strong>em</strong> e capaz <strong>de</strong><br />

ser e se ver duplo, nela, que 0 leva a inclinar-se para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si e do t<strong>em</strong>po<br />

Esperamos, com essa tentativa <strong>de</strong> recompor pela leitura 0 corpo textual e er6tico<br />

<strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles, ter contribuido<br />

<strong>de</strong> algum modo para levar aos seus leitores<br />

e criticos outra visao <strong>de</strong>ste corpo que nao e s6 metapoesia, mas poesia impregna<strong>da</strong> do<br />

sentimento do mundo drummondiano, do amor e do erotismo revestido do mais alto<br />

valor estetico que possa ter a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira poesia. Mas, como recomen<strong>da</strong> 0 poeta <strong>em</strong><br />

"Se um eclipse anular teu privilegio<br />

<strong>de</strong> percepc;iio <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> retorci<strong>da</strong>,<br />

e que no fundo a taxa <strong>de</strong> misterio<br />

continua por <strong>de</strong>ntro, na saliva,<br />

no resmungo <strong>da</strong> lingua e na viag<strong>em</strong><br />

que <strong>em</strong> si mesma se faz, quando 0 caminho,<br />

s<strong>em</strong> margens <strong>de</strong> sentido, e pura praxe,<br />

simples figurac;iio do <strong>de</strong>scontinuo. "


1. TELES, Gilberto Mendon9a. Alvora<strong>da</strong>. Goiama: Escola Tecnica <strong>de</strong> Goiama, 1955.<br />

2. . Estrela d'Alva. Goiama: Brasil Central, 1956.<br />

3. __ _ . Planicie. Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 1958.<br />

4. __ _ ~ . Pabula <strong>de</strong> Pogo. SP: Revista dos Tribunais, 1961.<br />

5. . Passaro <strong>de</strong> Pedra. Escola Tecnica <strong>de</strong> Gaiama, 1962.<br />

6. . Sintaxe Invisivel. RJ: Cancioneiro <strong>de</strong> Orfeu,1967.<br />

7. . A Raiz <strong>da</strong> Pala. Rio <strong>de</strong> Janeiro: G<strong>em</strong>asa/ INL, 1972.<br />

8. . Arte <strong>de</strong> Armar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1977.<br />

9. . Po<strong>em</strong>as Reunidos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jose Olympio!<br />

INL,1978.<br />

Olympia, 1986.<br />

12. _ _ . Plural <strong>de</strong> Nuvens. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jose Olympia, 1990.<br />

13. . Nominais. Vit6ria: Nejarim, 1993.<br />

14. . Os Melhores Po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Gilberto Mendonca Teles.<br />

[ sele9ao <strong>de</strong> Luiz Busatto]. Sao Paulo: Global, 1993.<br />

15. . & Cone <strong>de</strong> Sombras. Sao Paulo: Massao 0000<br />

----------<br />

Editor, 1995.


1. TELES, Gilberto Mendon9a. La Palabra Perdi<strong>da</strong> (antologia). Tradu9ao <strong>de</strong><br />

Gaston Figueira. Montevi<strong>de</strong>u: Barreiros y Ramos, 1967.<br />

2. . Plural <strong>de</strong> Nuvens. Porto: Gata <strong>de</strong> Agua, 1984.<br />

3. . Falavra ( antologia poetica ). Lisboa: Dinalivros/<br />

Autores brasileiros, 1990.<br />

4. . L'Animal (anthologie poetique). Paris: Harmattan,<br />

cole9ao poetes <strong>de</strong> cinq continents, 1990.<br />

5. . Casa <strong>de</strong> Vidrio ( antologia poetica). Tradu9ao <strong>de</strong><br />

Gaston Figueira y Dardo Eyherabi<strong>de</strong>. Salamanca: Luso-Espanola <strong>de</strong> Ediciones,<br />

1. TELES, Gilberto Mendon9a. Goias e a literatura. Goiama: Escola Tecnica<br />

<strong>de</strong> Goiama, 1964.<br />

3. . 0 Conto brasileiro <strong>em</strong> Goias. Goiania: Departamento<br />

Estadual <strong>de</strong> Cultura, 1969.<br />

4. Vanguar<strong>da</strong> europeia e mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 1972.<br />

5. . Drummond - a estilistica· <strong>da</strong> repeticao. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Jose Olympio, 1970.<br />

Fun<strong>da</strong>9ao Cultural Casa <strong>de</strong> Rui BarbosaJMEC-DAC, 1973.<br />

7. . A Ret6rica do silencio. Sao Paulo: CultrixfINL, 1979.


_________ . A Critica e 0 romance <strong>de</strong> 30 no Nor<strong>de</strong>ste. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Atheneu Cultura, 1990.<br />

___________ . Estudos gOlanos II. Goiama: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

10. . Intencoes <strong>de</strong> Oficio. Florian6polis: Museu /Arquivo <strong>da</strong><br />

Poesia Manuscrita, 1998.<br />

1. TELES, Gilberto Mendonya. La poesia brasileiia en la actuali<strong>da</strong>d. Trad. Cipriano<br />

C. Vitureira. Montevi<strong>de</strong>u: Editorial <strong>Letras</strong>, 1969.<br />

Almedina, 1985.<br />

3. . "Se souberas falar, tamb<strong>em</strong> falaras" ( antologia<br />

<strong>de</strong> Greg6rio <strong>de</strong> Matos). Lisboa: Imprensa Nacional/Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, 1988.<br />

1. Encic10pedia dos Municipios Brasileiros. Orientayao e Revisao Tecnica. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: ffiGE, 1957 (vo1.XXXVI).<br />

2. Antologia <strong>da</strong> Literatura Brasileira (vol. I, prosa). Coor<strong>de</strong>nayao. Montevi<strong>de</strong>u /<br />

ICUB, 1967.<br />

3. Goncalves Dias (antologia). Planejamento. Montevi<strong>de</strong>u / ICUB, 1967.<br />

4. Seleta <strong>de</strong> Bernardo Ells. Organizayao e estudo final. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jose dlympio,<br />

1974.


5. Tristao <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong> (teoria, critica e hist6ria liteniria). Seleyao e apresentayao. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Livros Tecnicos e Cientificos / INL, 1980.<br />

6. Seleta <strong>em</strong> prosa e verso <strong>de</strong> Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Textos escolhidos por<br />

C. D. Andra<strong>de</strong>, introdw;ao, notas e estudos <strong>de</strong> Gilberto Mendonya Teles . Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro; Jose Olympio, 1971.<br />

7. Seleta <strong>de</strong> Origenes Lessa. Organizayao, estudos e notas. RJ : Jose Olympio, 1973.<br />

8. Poetas goianos I (sec. XIX). Organizayao, estudos e notas. Goiania:<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Cat6lica <strong>de</strong> Goias, 1984.<br />

9. Prefacios <strong>de</strong> romances brasileiros. Organizado com Ir. Elvo Cl<strong>em</strong>ente, He<strong>da</strong> Campos<br />

Moreira. Porto Alegre: Aca<strong>de</strong>mica, 1986.<br />

10. Os melhores po<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Lima [ seleyao e prefacio ]. SP: Global, 1994.<br />

11. Os melhores contos <strong>de</strong> Bernardo Elis. Sao Paulo: Global, 1995.<br />

1. CALLADO, Tereza <strong>de</strong> Castro. Uma nova or<strong>de</strong>nacao do real na poetica <strong>de</strong> Plural<br />

<strong>de</strong> Nuvens. Fortaleza: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceara, 1991. Dissert. <strong>de</strong><br />

Mestrado.<br />

2. DEN6FRIO, Darcy Franya. 0 po<strong>em</strong>a do po<strong>em</strong>a. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Presenya, 1984.<br />

3. . Literatura cont<strong>em</strong>poranea: Gilberto Mendonca Teles -<br />

o regresso as origens. Porto Alegre: Livraria Editora Aca<strong>de</strong>mica Lt<strong>da</strong>., 1987.<br />

4. . Lavras dos gOlases. Goiania: Fun<strong>da</strong>yao Cultural<br />

Pedro Ludovico, 1997.<br />

5. FERNANDES, Jose. 0 poeta <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Presenya, 1983.<br />

6. . 0 po<strong>em</strong>a visual: leitura do imaginario exoterico ( <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

ao seculo XX). Petr6polis, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 1996.


1992; P. 45-156.<br />

8. FILOMENA, Deolin<strong>da</strong>. No rasto <strong>da</strong>s nuvens. Lisboa: Lousanense, 1985.<br />

9. LIMA, Maria <strong>de</strong> Fatima Gonl(alves.O signo <strong>de</strong> Eros na poeSla <strong>de</strong><br />

Gilberto Mendonca Teles. Goia-nia: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goias, 1992.<br />

Dissertal(aO <strong>de</strong> Mestrado.<br />

10. NUBILE, Marilia. A Camavalizacao na Poesia (Estudo <strong>da</strong> Poesia <strong>de</strong> Gilberto<br />

Mendonl(a Teles ). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Universo, 1998<br />

11. SISTEROLLI, Maria Luzia. Da lira ao ludus: travessia. Sao Paulo: Anna<br />

Blume, 1998.<br />

12. UNIVERSIDADE DE CATOLICA DE GOlAs. G.M.T.: 30 anos <strong>de</strong> poeSla.<br />

Goia-nia:UCG, 1986.<br />

13. VASCONCELOS, Clea Ferreira. GMT: Critica e hist6ria literaria. Goia-nia:<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goias, 1992. Dissertal(ao <strong>de</strong> Mestrado.<br />

14. VIANA, Dulce Maria. (Org.) poesia & critica. Antologia dos textos criticos.<br />

Goiama: Secretaria <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> Goias, 1987.<br />

EM JORNAIS<br />

1. BARROSO, Ivo. A alquimiapoetica <strong>de</strong> Mendonca Teles. Rio <strong>de</strong> Janeiro: 0 Globo,<br />

10102/96.<br />

2. BATISTA, Orlando Antunes. Horoscopo poetico <strong>de</strong> Gilberto Mendonca Teles.<br />

Goias: 0 Popular, 13/03/96<br />

3. BORGES, Heloisa Helena. Urn colorido novo na poeSla <strong>de</strong> Gilberto Mendonca<br />

Teles . Goiania: 0 Popular, 20/12/85.<br />

4. . Exercicio Para Mao Esquer<strong>da</strong>. Goia-nia: Jomal Opl(ao,<br />

26/05/96, encarte cultural, p. 1 e 2.


5. HILL, Telenia. A poetizacao <strong>da</strong> existencia <strong>em</strong> Plural <strong>de</strong> Nuvens. Belo Horizonte:<br />

Supl<strong>em</strong>ento Litenirio, 19/08/89, p. 6 e 7.<br />

6. NOVAES, Claudio Cledson. Palavras Plurais. Salvador: A tar<strong>de</strong> Cultural, 19/05/93.<br />

7. MOISES, Carlos Felipe. Plural <strong>de</strong> Nuvens. Sao Paulo: 0 Estado <strong>de</strong> Sao Paulo,<br />

05/01/91.<br />

8. OLIVAL, Mo<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Castro e Silva. As artimanhas do poeta-saci. Goiania: 0P9ao<br />

Cultural, 17 a 23/03/96.<br />

9. PAULA, Alcebia<strong>de</strong>s Viana <strong>de</strong>. Plural <strong>de</strong> Nuvens. Belo Horizonte: SuI <strong>de</strong> Minas,<br />

07/12/95.<br />

10. PY, Fernando. As nuvens e seu rastro (1). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jornal <strong>de</strong><br />

Petr6polis, 30/05/86, p. 4.<br />

Petr6polis, 07/06/86, p. 4.<br />

12. . 0 livro <strong>da</strong> s<strong>em</strong>ana (sobre Plural <strong>de</strong> Nuvens). Petr6polis: Folha<br />

<strong>de</strong> Petr6polis,01/12/90.


1. ALBERONI, Francesco. 0 Erotismo. Traduyao <strong>de</strong> Elia E<strong>de</strong>l. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco,<br />

1988.<br />

2. ALONSO, Damaso. Poesia Espanola: Ensayo <strong>de</strong> Metodos y Limites estilisticos.<br />

Madrid: Gredos, 1987.<br />

3.ANDRADE, Carlos Drummond <strong>de</strong>.<br />

1987.<br />

Rosa do Povo. Sao Paulo: Circulo do Livro,<br />

4.~ ~ ~ . 0 AmorNatural. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 1993.<br />

5. ARTAUD, Antonin. 0 Teatro e seu Duplo. Sao Paulo: Max Limonad, 1984.<br />

6. BACHELARD, Gast6n. A Poetica do Espa90. Tradw;ao <strong>de</strong> Antonio <strong>de</strong> Padua<br />

Danesi. Sao Paulo: Martins Fontes, 1996.<br />

7. . A Poetica do Devaneio. Traduyao <strong>de</strong> Antonio <strong>de</strong> Padua<br />

Danesi. Sao Paulo: Martins Fontes, 1996.<br />

8. BAKHTIN, Mikhail. Estetica <strong>da</strong> Cria9ao Verbal. Traduyao <strong>de</strong> Maria E. Galvao<br />

G. Pereira (Coleyao Ensino Superior). Revisao <strong>da</strong> traduyao <strong>de</strong> Marisa<br />

Appenzeller. Sao Paulo: Martins Fontes, 1997.<br />

9. BARBOSA, Maria Apareci<strong>da</strong>. Lexico, Producao e Criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>: Processos do<br />

Neologismo. Sao Paulo: Pleia<strong>de</strong>, 1996.<br />

10. ~ . Aspectos <strong>da</strong> Dinamica do Neologismo. In: Lingua e<br />

Literatura. Revista do Depto. <strong>de</strong> <strong>Letras</strong> <strong>da</strong> FFLCH-USP, 1981.<br />

11. BARTHES, Roland. 0 Prazer do Texto. Traduyao <strong>de</strong> M. Margari<strong>da</strong> Barahona.<br />

Portugal: Ediyoes 70, 1988.<br />

12. BIDERMAN, Maria Tereza C. Teoria Linguistica: Linguistica Quantitativa e<br />

Computacional. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livros Te6ricos e Cientificos, 1978.


13.BLANCHOT, Maurice. 0 Espaco Litenirio. Tradw:;ao <strong>de</strong> Alvaro Cabral. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Rocco, 1987.<br />

14. BOSI, Alfredo. 0 Ser e 0 T<strong>em</strong>po <strong>da</strong> Poesia. Sao Paulo: Cultrix, 1972.<br />

15. BRULOTTE, Gaetan. Petite Narratologie du Recit dit Erotique. Poetique, Paris, vol.<br />

85, p. 03-15. Fevrier, 1991.<br />

16. BRUN, Jean. A Mao e 0 Espirito. Traduyao <strong>de</strong> Mario R. Almei<strong>da</strong> Matos. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Ediyoes 70, 1991.<br />

17. CAL VINO, !talo. Palomar. Traduyao <strong>de</strong> Ivo Barroso. Sao Paulo: Companhia <strong>da</strong>s<br />

<strong>Letras</strong>, 1994.<br />

18. CASTRO, Marize. Marrons, Crepons, Marfins. Natal: Editora Clima / Fun<strong>da</strong>yao Jose<br />

Augusto, 1984.<br />

19. CARVALHO, Nelly. 0 que e Neologismo. Sao Paulo: Brasiliense, 1983.<br />

21. CESAROTTO, Oscar (org.) I<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Lacan. Sao Paulo: Iluminuras, 1995.<br />

22. COHEN, Jean. Estrutura <strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong> Poetica. Traduyao <strong>de</strong> Alvaro Lorencini e<br />

Anne Arnichand. Sao Paulo: Cultrix, 1978.<br />

23. COLLOT, Michel. Territories <strong>de</strong> Ll'imaginaire. Paris: Seuil, 1986.<br />

24. DELEUZE, Gilles. L6gica do Sentido. Traduyao <strong>de</strong> Luiz R. Salinas<br />

Fortes (Coleyao Estudos, 35), Sao Paulo: Perspectiva, 1974.<br />

25. DUBOIS, Jacques et alii. Ret6rica Geral. Traduyao e Coor<strong>de</strong>nayao <strong>de</strong> Massaud<br />

Moises. Sao Paulo: Cultrix, 1974.<br />

26. DURAND, Gilbert. As Estruturas Antropol6gicas do Imaginario: Iintroduyao a<br />

Arqueologia Geral. Traduyao <strong>de</strong> Hel<strong>de</strong>r Godinho. Sao Paulo: Martins Fontes,<br />

1997.<br />

27. ELIADE, Mircea. Tratado <strong>de</strong> Hist6ria <strong>da</strong>s Re1igi5es. Lisboa: Cosmos, 1977.<br />

28. EVOLA, Julius. A Metafisica do Sexo. Traduyao <strong>de</strong> Elisa Teixeira Pinto. Lisboa:<br />

Ediyoes Afrodite, 1976.


29. FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas: Uma Arqueologia <strong>da</strong>s<br />

Ciencias Humanas. Traduyao <strong>de</strong> Salma Tannus Muchail. Sao Paulo: Martins<br />

Fontes, 1992.<br />

30. . Microfisica do Po<strong>de</strong>r. Traduyao <strong>de</strong> Roberto Machado.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1995.<br />

31. . Hist6ria <strong>da</strong> Sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> I: A Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saber; traduyao<br />

<strong>de</strong> Maria Thereza <strong>da</strong> Costa Albuquerque e 1. A. Guilhon Albuquerque. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Ediy5es Graal, 1997.<br />

32. . Hist6ria <strong>da</strong> Sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> III: 0 Cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> Si; traduyao <strong>de</strong><br />

Maria Thereza <strong>da</strong> Costa Albuquerque e 1. A. Guilhon Albuquerque. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Ediy5es Graal, 1985.<br />

33. FREUD, Sigmund. Al<strong>em</strong> do Principio do Prazer. Traduyao <strong>de</strong> Christiano<br />

Monteiro Oiticica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1998.<br />

34. . Tres Ensaios sabre a Teoria <strong>da</strong> Sexua1i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Traduyao <strong>de</strong><br />

Paulo Dias Correa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1997.<br />

35. GUIRAUD, Pierre. A Lnguag<strong>em</strong> do Corpo. Traduyao <strong>de</strong> L6lio Louren


42. LE GUERN, Michel. S<strong>em</strong>antique <strong>de</strong> la Metaphore e <strong>de</strong> la Metonymie. Paris:<br />

Librairie Larousse, 1973.<br />

43. MAINGUENEAU, Dominique. 0 Contexto <strong>da</strong> Obra Liteniria. Tradu~ao <strong>de</strong> Mariza<br />

Appenzeller. Sao Paulo: Martins Fontes, 1995.<br />

44. MARCUSE, Herbert. Eros e Civiliza9ao: Uma Interpreta~ao Filos6fica do<br />

Pensamento <strong>de</strong> Freud. Tradu~ao <strong>de</strong> Alvaro Cabral. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara<br />

I KOUGAN, sid.<br />

45. MARTINS, Nilce Sant'Anna. Introdu9ao a Estilistica: a Expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> na Lingua<br />

Portuguesa. Sao Paulo: EDUSP, 1989.<br />

46. MASOTA, Oscar. Introdu9ao a Leitura <strong>de</strong> Lacan. Tradu~ao <strong>de</strong> Maria Apareci<strong>da</strong><br />

Balduino Cintra. Campinas, Sao Paulo: Papirus, 1988.<br />

47. MERLEAU-PONTY. Fenomenologia <strong>da</strong> Percep9ao. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Freitas Bastos.<br />

48. MONTEIRO, Jose L<strong>em</strong>os. A Estilistica. Sao Paulo: Atica ( serie Fun<strong>da</strong>mentos-52 ),<br />

1991.<br />

49. NASIO, I.-D. Cinco Li90es sobre a Teoria <strong>de</strong> Jacques Lacan. Tradu~ao <strong>de</strong> Vera<br />

Ribeiro. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar editor, 1993.<br />

50. NERUDA, Pablo. Antologia Poetica. Edi~ao bilingu.e.Tradu~ao <strong>de</strong> Eliane Zagury.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jose Olympio, 1994.<br />

51. NIETZSCHE. 0 Eterno Retorno. Os Pensadores, vol II. Sele~o <strong>de</strong> textos <strong>de</strong><br />

Gerard Lebrun. Traduyao <strong>de</strong> Rubens R1. Filho. Posfacio <strong>de</strong> Antonio<br />

Candido. Sao Paulo: Nova Cultural, 1991.<br />

52. OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires et all. As Ciencias do Lexico: lexicologia,<br />

lexicografia, terminologia. Campo Gran<strong>de</strong>, MS: UFMS, 1998.<br />

53. PAZ, Octavio. Os Signos <strong>em</strong> Rota9ao. Sao Paulo: Perspectiva, 1990.<br />

54. . Convergencia: Ensaio sobre Arte e Literatura. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco,<br />

1991.<br />

55. . A Dupla Chama: Amor e Erotismo. Tradu~ao <strong>de</strong> Wladyr Dupont. Sao<br />

Paulo: Siciliano, 1994.


56. PERRONE-MOISES, Leila. Flores <strong>da</strong> Escrivaninha. Sao Paulo: Companhia <strong>da</strong>s<br />

<strong>Letras</strong>, 1990.<br />

57. PESSOA, Fernando. Antologia <strong>de</strong> Estetica, Teoria e Critica Liteniria.<br />

Coor<strong>de</strong>na9ao e introdu9ao <strong>de</strong> Walmir Ayala.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Tecnoprint,<br />

1988.<br />

58. PLAT.AO.0 Banquete. Os Pensadores. Tradu9ao <strong>de</strong> Jose C. De Souza, Jorge<br />

Paleikat e Joao Cruz Costa. Sao Paulo: Nova Cultural, 1991.<br />

59. PROUST, Marcel. Sobre a Leitura. Tradu9ao <strong>de</strong> Carlos Vogt; Sao Paulo: Pontes,<br />

1989.<br />

60. RICOEUR, Paul. A Metafora Viva. Tradu9ao <strong>de</strong> Joaquim Torres Costa e<br />

Antonio M. Magalhaes. Portugal: Res, 1983.<br />

61. ROSA, Joao Guimaraes. Tutameia: Terceiras Est6rias. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova<br />

Fronteira, 1985.<br />

62. .. _ . 0 Conflito <strong>da</strong>s Interpretacoes: Ensaios <strong>de</strong> Hermeneutica.<br />

Tradu9ao <strong>de</strong> Milton Japiassu. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Imago, 1978.<br />

63. SACKS, Sheldon (org.). Da Metafora. Sao Paulo: Educ / Pontes, 1992.<br />

64. SCHILDER, Paul. A Imag<strong>em</strong> do Corpo. Tradu9ao <strong>de</strong> Rosanne Wert<strong>em</strong>an. Sao<br />

Paulo: Martins Fontes, 1980.<br />

65. SIMANKE, R. Theisen. A Formayao <strong>da</strong>s Teorias Freudianas <strong>da</strong>s Psicoses. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Editora 34, 1994.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!