CONCRETOS ESPECIAIS - SET - USP
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ISSN 1413-9928<br />
(versão impressa)<br />
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />
<strong>CONCRETOS</strong> <strong>ESPECIAIS</strong><br />
2003
ISSN 1413-9928<br />
(versão impressa)<br />
Departamento de Engenharia de Estruturas<br />
Escola de Engenharia de São Carlos – <strong>USP</strong><br />
Av. do Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />
13566-590 – São Carlos – SP<br />
Fone (16) 273-9455 Fax (16) 273-9482<br />
http://www.set.eesc.usp.br
SUMÁRIO<br />
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya 1<br />
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e<br />
endurecido e aplicação em pré-moldados leves<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr. 27<br />
Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento com<br />
concreto de alto desempenho<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai 59<br />
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob<br />
flexo compressão reta<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo 81<br />
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à<br />
compressão simples<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo 107<br />
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de concreto<br />
de alta resistência armado com fibras de aço e armadura transversal de pinos<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai 131<br />
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras<br />
metálicas submetidos à compressão centrada<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo 167
ANÁLISE EXPERIMENTAL DE PILARES<br />
DE CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO<br />
Flávio Barboza de Lima 1 , José Samuel Giongo 2 & Toshiaki Takeya 3<br />
RESUMO<br />
Em função das características do material o uso do concreto de alto desempenho no<br />
Brasil torna-se irreversível; as resistências à compressão são superiores àquelas<br />
comumente usadas nas estruturas de edifícios de concreto armado. Este trabalho<br />
apresenta um estudo teórico-experimental desenvolvido para analisar o comportamento<br />
de pilares moldados com concreto de alta resistência, solicitados à compressão<br />
centrada e à flexão normal composta. Para a compressão centrada ficou caracterizado<br />
que o estado limite último dos pilares foi atingido por ruptura da seção transversal<br />
mais solicitada e comprovado que as rupturas ocorrem quando o núcleo, definido pelo<br />
perímetro caracterizado pelos eixos dos estribos se rompem. Próximo do colapso os<br />
pilares têm os seus cobrimentos rompidos definindo, a partir daí, situações de<br />
resistências dos núcleos. Na flexão normal composta os resultados dos ensaios<br />
mostraram que as hipóteses de distribuição de tensões na seção transversal (relações<br />
constitutivas) utilizadas para concreto de resistência Classe I não devem ser<br />
consideradas para concreto de alta resistência (Classe II). O trabalho propõe relação<br />
tensão x deformação e apresenta resultados comparativos com trabalhos realizados por<br />
outros autores. As forças normais determinadas experimental e teoricamente ficaram<br />
iguais, enquanto que para os momentos fletores os valores experimentais ficaram muito<br />
acima dos teóricos.<br />
Palavras-chave: concreto de alto desempenho; pilares; experimentação.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O termo concreto de alto desempenho é atribuindo ao concreto que apresenta<br />
características especiais de desempenho, às quais não poderiam ser obtidas se<br />
fossem usados apenas os materiais convencionais, com procedimentos usuais de<br />
mistura, lançamento e adensamento. Neste trabalho o atributo principal foi a alta<br />
resistência à compressão, que foi obtida adotando-se mistura com baixo fator<br />
água/cimento, adição de sílica ativa e aditivo superplastificante para possibilitar<br />
condições de lançamento e adensamento.<br />
1<br />
Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Estrutural - EES-CTEC-UFAL, fblima@ctec.ufal.br<br />
2 Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, jsgiongo@sc.usp.br<br />
3 Professor Assistente do Departamento de Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, totakeya@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
2<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
O uso de concreto de alta resistência à compressão se constitui em tendência<br />
irreversível, em função das vantagens que apresenta, em relação aos concretos de<br />
resistência Classe I, segundo a NBR 8953/92, principalmente na execução de pilares<br />
de edifícios, pois, as áreas das seções transversais podem ser reduzidas com várias<br />
vantagens econômicas. AGOSTINI(1992) apresenta um estudo experimental de<br />
pilares de concreto de alta resistência com sílica ativa, solicitados a compressão<br />
centrada, no qual foi constatado a necessidade de armadura transversal de<br />
confinamento afim de ductilizar a ruptura frágil observada nos ensaios iniciais. Os<br />
pilares estudados apresentavam seção transversal quadrada de 120mm x 120mm e<br />
altura de 720mm, com armaduras longitudinais de diâmetro igual a 6,3mm e<br />
transversais de diâmetro igual a 4,2mm. Nas extremidades foram colocadas placas de<br />
aço de 5,0mm de espessura com a finalidade de proteger esses locais da ruptura<br />
prematura por efeito de ponta das barras longitudinais.<br />
PAIVA(1994), estudou o comportamento de pilares de concreto de alta<br />
resistência de seção transversal retangular solicitados à compressão simples; as<br />
dimensões empregadas foram 80mm x 40mm x 1480mm e 80mm x 120mm x 480mm,<br />
concluindo que para taxas de confinamento lateral de 2,20% (armadura transversal) e<br />
taxa de armadura longitudinal de 3,20%, obtém-se ductilidade no pilar sendo o núcleo<br />
resistente definido por estas armaduras.<br />
Analisando os resultados das pesquisas de AGOSTINI (1992) e PAIVA<br />
(1994), percebeu-se a necessidade de realizar ensaios em pilares com dimensões<br />
maiores, solicitados à compressão simples, com seções transversais quadradas e<br />
retangulares, com o objetivo de se verificar a formação do núcleo resistente de<br />
concreto, definido pelas armaduras, e qual a forma de ruptura.<br />
No Brasil um primeiro estudo experimental de pilares de concreto de alta<br />
resistência sob ação de flexão normal composta foi apresentado por<br />
AGOSTINI(1992), que buscava obter informações sobre o comportamento da<br />
armadura de confinamento. Os dois pilares ensaiados tinham seção transversal<br />
quadrada com 12cm de lado e 72cm de altura com taxas volumétricas, em relação a<br />
área da seção transversal total, de armadura longitudinal de 5,29% e transversal de<br />
1,5%. Segundo AGOSTINI(1992) a taxa de armadura de confinamento de 1,5% foi<br />
suficiente para garantir uma ruptura dúctil, porém, sugerindo estudar novos critérios<br />
para definição da armadura de confinamento.<br />
Neste trabalho estudaram-se experimentalmente pilares sendo que, a partir<br />
da análise das possibilidades de execução, em função das altas ações envolvidas e<br />
limitações da estrutura de reação, bem como da preocupação com a extensão dos<br />
resultados para pilares de dimensões usuais em edifícios, optaram-se por seções<br />
transversais de 20cm x 20cm, 15cm x 30cm e 12cm x 30cm, com alturas de 120cm,<br />
90cm, 174cm e 247cm, respectivamente, também limitadas pelos dispositivos de<br />
ensaio. Na compressão centrada foi mantida a mesma relação entre a menor<br />
dimensão e altura dos modelos ensaiados por aqueles autores. A resistência média à<br />
compressão estabelecida foi de 80MPa.<br />
Em uma primeira parte foi desenvolvida metodologia para a dosagem dos<br />
materiais, seguida ao longo do trabalho, para a obtenção deste nível de resistência,<br />
com os materiais da região de São Carlos, definindo-se o traço usado, que foi<br />
caracterizado e controlado quando da execução dos modelos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
3<br />
2 EXPERIMENTAÇÃO<br />
2.1 Materiais utilizados<br />
Optou-se pela utilização do cimento Portland de alta resistência inicial CP V<br />
ARI e sílica ativa não densificada, SILMIX ND que para fins de dosagem, seguindo<br />
indicação do fabricante, considerou-se massa específica de 2222kg/m 3 .<br />
Foi utilizado aditivo superplastificante RX 1000A, com densidade de<br />
1,21kg/dm 3 .<br />
Como agregado miúdo foi usado areia de origem quartzosa. Em função do<br />
módulo de finura, a areia era classificada como grossa, portanto, adequada para<br />
concreto de alto desempenho. O agregado graúdo usado foi pedra britada de origem<br />
basáltica com diâmetro nominal de 12,5mm.<br />
A resistência média fixada para o concreto foi de 80MPa aos 15 dias, tempo<br />
escolhido para realização dos ensaios, imaginando-se que já estivesse se<br />
desenvolvido, em sua maioria, a reação pozolânica da adição mineral e também por<br />
questões de programação dos ensaios no Laboratório. Seguem os consumos de<br />
materiais resultantes dos ajustes efetuados principalmente na relação água/cimento e<br />
teor de superplastificante, valores em kg/m 3 : cimento CP V ARI, 480,00; sílica ativa,<br />
48,00; areia, 577,92; pedra britada, 1198,09, superplastificante, 17,43 e água, 160,60.<br />
Como pode ser observado o consumo de sílica ativa foi de 10%, valor também<br />
recomendado por outros autores. A relação água/cimento resultante foi de 0,36. Deve<br />
ser observado que o teor de superplastificante foi de 3% do consumo de cimento, que<br />
pode ser considerado um valor muito alto.<br />
No consumo da água era descontada a água contida no aditivo admitida ser<br />
de 70% da massa. Caso se considere relação água/material cimentante chega-se a<br />
0,33. O procedimento de cura usado foi manter os modelos úmidos durante os sete<br />
primeiro dias.<br />
A tabela 1 apresenta as características geométricas e mecânicas das barras<br />
das armaduras utilizadas, sendo as áreas e os diâmetros efetivos obtidos a partir da<br />
massa de um comprimento conhecido, sendo a massa específica do aço de<br />
7850kg/m 3 .<br />
TABELA 1 - Resultados experimentais dos ensaios de tração das barras de aço<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
4<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
2.2 Modelos ensaiados<br />
2.2.1 Modelos ensaiados à compressão centrada<br />
Foram ensaiadas 4 séries com 3 pilares cada, houve uma repetição da<br />
primeira série de ensaios, perfazendo um total de 15 ensaios de modelos de pilares<br />
solicitados à compressão simples.<br />
Foram projetadas fôrmas de madeira compensada plastificada de 12mm de<br />
espessura, de tal modo a possibilitar a moldagem dos três modelos de cada série em<br />
uma só operação de concretagem.<br />
Os modelos foram moldados verticalmente e os adensamentos foram feitos<br />
usando vibrador de agulha. As séries 1 e 2 necessitaram de duas operações de<br />
mistura do concreto em função da capacidade da betoneira, as demais apenas uma.<br />
Em cada moldagem foram executados 6 corpos-de-prova cilíndricos (100mm<br />
x 200mm), que eram ensaiados 2 com 7 dias, para se ter uma idéia do progresso da<br />
resistência, e os demais no dia do ensaio, sendo 2 com controle de força e 2 com<br />
controle de deformação radial, os resultados estão apresentados na tabela 2.<br />
Foram tomados todos os cuidados com os posicionamentos das armaduras<br />
nas fôrmas, garantindo-se os cobrimentos especificados por espaçadores de<br />
argamassa e também de nylon.<br />
Após a moldagem os pilares permaneciam nas fôrmas, sendo curados com<br />
uso de manta de espuma de borracha molhada e cobertos com lona plástica, durante<br />
7 dias. Em seguida eram desmoldados e colocados no ambiente do Laboratório até as<br />
datas dos ensaios.<br />
A estrutura de reação era um pórtico espacial metálico convenientemente<br />
ancorado, por meio de tirantes, na laje de reação em concreto armado do Laboratório<br />
de Estruturas do Departamento de Engenharia de Estruturas, EESC-<strong>USP</strong>. O pórtico<br />
era composto de 4 colunas e uma grelha horizontal fixada por meio de parafusos. A<br />
capacidade nominal era de 5000kN e permitia a movimentação da grelha ao longo da<br />
altura das colunas, possibilitando a variação da altura dos modelos estudados.<br />
A aplicação de forças foi efetuada por meio de macaco hidráulico com<br />
capacidade nominal de 5000kN, acionado por bomba hidráulica de ação manual ou<br />
elétrica, de mesma capacidade. Como a massa do macaco hidráulico era de 700kg,<br />
optou-se por deixá-lo apoiado na laje de reação. A célula de carga por sua vez foi<br />
fixada nas vigas centrais da grelha, por meio de uma placa de aço parafusada nas<br />
mesmas.<br />
Para se evitar ruptura fora da área de estudo, um trecho de 20cm nas<br />
extremidades dos pilares foram confinadas por meio de um conjunto de chapas<br />
metálicas com 13mm de espessura parafusadas, além de que, nestas regiões, o<br />
espaçamento entre os estribos também foi reduzido.<br />
A partir do valor da força última prevista, aplicaram-se incrementos de 10%<br />
dessa força, com um escorvamento efetuado na segunda etapa de carga.<br />
Tentando evitar ao máximo o aparecimento de excentricidades durante os<br />
ensaios de compressão centrada, os modelos eram aprumados em cima do macaco e<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
5<br />
a extremidade superior devidamente nivelada, colando uma chapa de aço com massa<br />
plástica. Mesmo com o ensaio cercado de cuidados na sua execução, pequenas<br />
excentricidades foram observadas em todos os ensaios, que foram desprezadas por<br />
ocasião da análise dos resultados.<br />
O controle das forças foi feito por célula de carga com capacidade nominal de<br />
5000kN. As medidas de deformações e deslocamentos foram feitos por<br />
extensômetros elétricos, tipo strain gage, e transdutores de deslocamentos a base de<br />
strain gages.<br />
Os pilares eram instrumentados internamente, nas armaduras, com strain<br />
gage KFG 5, para as barras longitudinais e nos quatro ramos do estribo posicionado<br />
na metade da altura. Externamente, nas quatro faces, na mesma posição do estribo<br />
instrumentado mediam-se as deformações no concreto com strain gage do tipo KFG<br />
10.<br />
Instalaram-se, também, quatro conjuntos formados por bases coladas, haste<br />
metálicas e transdutor de deslocamento, um em cada face do pilar, medindo-se o<br />
encurtamento, observado para cada etapa de carga, e posteriormente, dividindo-se<br />
este pelo comprimento da haste, obtinham-se as deformações do pilar. Todas as<br />
leituras, em cada incremento de força, foram feitas automaticamente com um sistema<br />
de aquisição de dados, que registrava, em disquete e por meio de impressora, os<br />
valores das ações, dos deslocamentos e das deformações.<br />
O sistema era controlado por computador e, após a execução dos ensaios, os<br />
dados gerados eram convertidos em planilha que, posteriormente, era lida e<br />
manipulada pelo software Excel 5.0 da Microsoft, para geração de relatórios e<br />
diagramas.<br />
A figura 1 apresenta o esquema estático e instrumentação de um dos<br />
modelos ensaiados e as seções transversais com a configuração de estribo adotada.<br />
Na figura 1a observa-se o pilar posicionado sobre o macaco hidraúlico, a célula de<br />
carga na parte superior, os conjuntos montados para medir as deformações no pilar, o<br />
confinamento utilizado nas extremidades e as chapas de aço com 20mm de<br />
espessura posicionadas entre o modelo e o macaco e entre o modelo e a rótula da<br />
célula de carga para uniformização da ação aplicada. Esta figura corresponde aos<br />
modelos das séries 1 e 2 com altura do pilar de 120cm nas séries 3 e 4 a altura foi de<br />
90cm.<br />
Na figura 1b observam-se as dimensões da seção transversal e detalhamento<br />
do estribo usado nos modelos das séries 1 e 2 alterando-se apenas o espaçamento,<br />
vêem-se ainda o posicionamento de strain gages na armadura longitudinal que são 1,<br />
2, 3 e 4; e no concreto A, B, C e D. Mesmas características são apresentadas na<br />
figura 1c para os modelos das séries 3 e 4. Um resumo de todas as características<br />
dos modelos ensaiados pode ser observado na tabela 3. Maiores detalhes sobre os<br />
ensaios realizados são encontrados em GIONGO, LIMA & TAKEYA (1996).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
6<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
TABELA 2 - Características dos modelos ensaiados a compressão centrada e força última<br />
experimental observada<br />
TABELA 2 – continuação<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
7<br />
b) Seção transversal e estribo dos modelos da<br />
séries 1 e 2.<br />
c) Seção transversal e estribo dos modelos da<br />
séries 3 e 4<br />
a) Esquema estático e instrumentação<br />
Figura 1 - Características dos pilares ensaiados à compressão simples<br />
( dimensões em milímetros )<br />
2.2.2 Modelos ensaiados à flexão normal composta<br />
Foram ensaiadas 5 séries com 2 modelos de pilares cada solicitados à flexão<br />
normal composta.<br />
A tabela 3 apresenta os resultados das resistências médias à compressão, os<br />
módulos de elasticidade tangente e as deformações correspondentes às resistências<br />
máximas dos concretos de cada modelo. Estes valores foram determinados em<br />
ensaios em corpos-de-prova cilíndricos de 100mm x 200mm nos dias dos ensaios dos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
8<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
modelos. Os procedimentos para as curas foram manter os modelos úmidos durante<br />
os sete primeiro dias.<br />
TABELA 3 - Resultados dos ensaios de compressão em corpos-de-prova<br />
Os modelos foram moldados horizontalmente em função dos alargamentos<br />
das extremidades para possibilitarem as excentricidades das ações e, também, pelo<br />
fato da concentração das armaduras adicionais de confinamento na base e no topo.<br />
Na montagem do ensaio o eixo do modelo era deslocado até o valor da<br />
excentricidade, com relação à linha que passava pelo eixo do macaco e da célula de<br />
carga, de tal forma que as forças aplicadas nas chapas atuavam de forma excêntrica<br />
nas duas extremidades do pilar. Optou-se por não utilizar um cilindro nas<br />
extremidades para aplicação da ação por causa das dificuldades de posicionar o<br />
modelo e por medida de segurança. Os ensaios se desenvolveram com<br />
acompanhamento de deformações e de deslocamentos no monitor do sistema de<br />
aquisição de dados, sendo observada perfeita simetria em relação aos deslocamentos<br />
próximos das extremidades e no centro. Foi detectada também coerência entre as<br />
deformações e a posição da força aplicada que provocava compressão maior em um<br />
dos lados do pilar e menor no outro, característica de flexão normal composta com<br />
pequena excentricidade.<br />
A tabela 4 apresenta as características geométricas e mecânicas,<br />
identificando-se as diferenças entres os modelos ensaiados. Na figura 2 observa-se o<br />
esquema estático dos ensaios e a instrumentação utilizada. As seções transversais<br />
foram retangulares de 15cm x 30cm e de 12cm x 30cm com alturas de 174cm e<br />
247cm, respectivamente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
9<br />
Pilar<br />
b<br />
cm<br />
TABELA 4 - Características geométricas dos modelos ensaiados<br />
h<br />
cm<br />
l<br />
cm<br />
A c<br />
cm 2<br />
Arm.<br />
longit.<br />
A s<br />
cm 2<br />
ρ l<br />
%<br />
f y<br />
MPa<br />
ρ w<br />
%<br />
estribo<br />
P5/1 30 15 174 450 8φ12,5 10,16 2,26 543,3 2,52 6,3c/5 15<br />
P5/2 30 15 174 450 8φ12,5 10,16 2,26 543,3 2,52 6,3c/5 15<br />
P6/1 30 15 174 450 8φ16 15,54 3,45 710,5 2,52 6,3c/5 15<br />
P6/2 30 15 174 450 8φ16 15,54 3,45 710,5 2,52 6,3c/5 15<br />
P7/1 30 15 174 450 8φ10 5,69 1,26 681,2 1,68 6,3c/7,5 15<br />
P7/2 30 15 174 450 8φ10 5,69 1,26 681,2 1,68 6,3c/7,5 15<br />
P8/1 30 15 174 450 8φ10 5,69 1,26 681,7 1,68 6,3c/7,5 25<br />
P8/2 30 15 174 450 8φ10 5,69 1,26 681,2 1,68 6,3c/7,5 25<br />
P9/1 30 12 247 360 8φ10 6,03 1,67 676,4 2,73 6,3c/6 30<br />
P9/2 30 12 247 360 8φ10 6,03 1,67 676,4 1,32 6,3c/12 30<br />
E<br />
mm<br />
Figura 2 - Esquema estático e instrumentação dos pilares ensaiados<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
10<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
3.1 Compressão centrada<br />
Na tabela 2 podem ser observadas além das características dos modelos<br />
ensaiados à compressão centrada os valores das forças últimas experimentais<br />
registradas visualmente no monitor de controle do sistema de aquisição de dados. Os<br />
ensaios se estenderam de maio a agosto de 1996. Após cada etapa de aplicação de<br />
força havia, além da gravação em disquete, a impressão dos dados lidos.<br />
A partir dos dados lidos e arquivados pelo sistema de aquisição, foram<br />
elaboradas planilhas e em seguida diagramas força x deformação e força x<br />
deslocamento para cada modelo.<br />
Estão apresentados, nas figuras de 3 a 6, os diagramas obtidos a partir das<br />
médias das deformações medidas, nos modelos de cada série submetidos a ação de<br />
compressão centrada. São apresentados um diagrama com curvas força x<br />
deformação do pilar, em seguida força x deformação medida apenas no concreto e<br />
finalmente força x deformação na armadura longitudinal.<br />
Força - kN<br />
Força - kN<br />
Força - kN<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação do pilar - %o<br />
P1/3r<br />
P1/2r<br />
P1/3<br />
P1/2<br />
P1/1<br />
P1/3r<br />
P1/2r<br />
P1/3<br />
P1/2<br />
P1/1<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação no concreto - %o<br />
P1/3r<br />
P1/2r<br />
P1/3<br />
P1/2<br />
P1/1<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação %o (arm. longitudinal)<br />
Força - kN<br />
Força - kN<br />
Força - kN<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação do pilar - %o<br />
P 2/3<br />
P 2/2<br />
P 2/1<br />
P 2/3<br />
P 2/2<br />
P 2/1<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação no concreto - %o<br />
P 2/3<br />
P 2/2<br />
P 2/1<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação %o (arm. longitudinal)<br />
Figura 3 - Diagramas força x deformações Figura 4 - Diagramas força x deformações<br />
médias dos pilares da série 1 médias dos pilares da série 2<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
11<br />
Neste trabalho experimental os ensaios foram feitos em idades inferiores a 28<br />
dias e com ações que puderam ser consideradas de curta duração, existindo apenas<br />
a resistência medida nos corpos-de-prova cilíndricos de 100mm de diâmetro da base<br />
e 200mm de altura, para avaliar a resistência do concreto da estrutura. A correlação<br />
entre a resistência do concreto do modelo e a determinada para os corpos-de-prova<br />
foi feita por meio do coeficiente k mod = 0,90, com base na bibliografia e ensaios de<br />
correlação efetuados durante o estudo de dosagem desenvolvido.<br />
Força - kN<br />
Força - kN<br />
Força - kN<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
P3/3<br />
P3/2<br />
P3/1<br />
0 1 2 3 4 5<br />
Deformação do pilar - %o<br />
P3/3<br />
P3/2<br />
P3/1<br />
0 1 2 3 4 5<br />
Deformação no concreto - %o<br />
P3/3<br />
P3/2<br />
P3/1<br />
0 1 2 3 4 5<br />
Deformação %o (arm. longitudinal)<br />
Força - kN<br />
Força - kN<br />
Força - kN<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação do pilar - %o<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação no concreto - %o<br />
4/3<br />
4/2<br />
4/1<br />
4/3<br />
4/2<br />
4/1<br />
4/3<br />
4/2<br />
4/1<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Deformação %o (arm. longitudinal)<br />
Figura 5 - Diagramas força x deformações Figura 6 - Diagramas força x deformações<br />
médias dos pilares da série 3 médias dos pilares da série 4<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
12<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
Desta forma para análise em estado limite último dos valores teóricos<br />
calculados a resistência à compressão no concreto foi assumida como 0,90f c , sendo<br />
f c a resistência média do concreto no dia do ensaio, obtida em ensaios de corpos-deprova<br />
cilíndricos de 100mm x 200mm.<br />
3.1.1 Análise da seção resistente<br />
A verificação da força última em modelos de pilares solicitados por compressão<br />
simples pode ser feita pela expressão (1):<br />
onde:<br />
F u = (A c -A s ).f c + A s .f y (1)<br />
f c<br />
= resistência média do concreto no dia do ensaio, obtida a partir do ensaio de<br />
corpos-de-prova;<br />
f y = resistência média de escoamento da armadura longitudinal, obtida a partir do<br />
ensaio de tração;<br />
A s = soma das áreas das barras da armadura longitudinal;<br />
A c = área total da seção transversal do pilar.<br />
Quando se considera apenas a área da seção transversal do núcleo tem-se (2):<br />
onde:<br />
F un = (A cn -A s ).f c + A s .f y (2)<br />
A cn = área total da seção transversal do núcleo do pilar, região limitada pelo eixo da<br />
armadura transversal mais externa.<br />
A análise dos resultados dos pilares ensaiados à compressão simples foi feita<br />
observando-se a tabela 5, onde F teo e F teo,n foram calculados usando as equações 1 e<br />
2 respectivamente e apresentam-se relações entre as forças teóricas e a força última<br />
experimental obtida nos ensaios.<br />
A relação entre a força última experimental e a força última calculada<br />
considerando-se a área total foi sempre menor que 1, independente do tipo de seção<br />
ou taxa de armadura. Quando se compara com valores obtidos considerando-se<br />
apenas a área do núcleo confinado, definida como a área calculada pelo perímetro<br />
formado pelos eixos do estribo mais externo, encontram-se valores maiores ou iguais<br />
a unidade, ou seja, presume-se que nos pilares de concreto de alta resistência<br />
(80MPa ), a seção resistente é a seção transversal do núcleo de concreto.<br />
Confirmam-se, desta forma, conclusões de AGOSTINI(1992) e PAIVA(1994),<br />
lembrando que neste trabalho os pilares têm dimensões mais próxima das usuais.<br />
Esta conclusão também foi encontrada por CUSSON e PAULTRE (1993).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
13<br />
TABELA 5 - Análise teórico-experimental dos modelos ensaiados a compressão centrada<br />
[LIMA(1997)]<br />
Modelo<br />
A c<br />
cm 2<br />
A cn<br />
cm 2<br />
f c<br />
MPa<br />
0,90f c<br />
MPa<br />
A s<br />
cm 2<br />
f y<br />
MPa<br />
P1/1 400 251,9 83,8 75,4 10,16 543,3<br />
P1/2 400 251,9 83,8 75,4 10,16 543,3<br />
P1/3 400 251,9 83,8 75,4 10,16 543,3<br />
P1r/2 400 251,9 85,1 76,6 10,16 543,3<br />
P1r/3 400 251,9 85,1 76,6 10,16 543,3<br />
P2/2 400 251,9 87,4 78,7 10,16 543,3<br />
P2/3 400 251,9 92,0 82,8 10,16 543,3<br />
P3/1 450 257,9 94,9 85,4 10,16 543,3<br />
P3/2 450 257,9 94,9 85,4 10,16 543,3<br />
P3/3 450 257,9 94,9 85,4 10,16 543,3<br />
P4/1 450 257,9 80,5 72,5 10,16 543,3<br />
P4/2 450 257,9 80,5 72,5 10,16 543,3<br />
P4/3 450 257,9 80,5 72,5 10,16 543,3<br />
Modelo<br />
F exp<br />
kN<br />
TABELA 5 - continuação<br />
F teo<br />
kN<br />
F teo,n<br />
kN<br />
F exp /<br />
F teo<br />
F exp /<br />
F teo,n<br />
P1/1 2630 3492 2375 0,75 1,11<br />
P1/2 2701 3492 2375 0,77 1,14<br />
P1/3 2834 3492 2375 0,81 1,19<br />
P1r/2 3063 3538 2403 0,87 1,27<br />
P1r/3 2820 3538 2403 0,80 1,17<br />
P2/2 2950 3618 2454 0,82 1,20<br />
P2/3 3210 3780 2554 0,85 1,26<br />
P3/1 3415 4309 2668 0,79 1,28<br />
P3/2 3750 4309 2668 0,87 1,41<br />
P3/3 3230 4309 2668 0,75 1,21<br />
P4/1 3000 3739 2347 0,80 1,28<br />
P4/2 2650 3739 2347 0,71 1,13<br />
P4/3 2610 3739 2347 0,70 1,11<br />
3.1.2 Capacidade resistente segundo COLLINS et al. (1993)<br />
Analisaram-se os valores teóricos das forças usando expressão apresentada<br />
por COLLINS et al. (1993) para a determinação da capacidade resistente de pilares<br />
de concreto de alto desempenho. Segundo COLLINS et al. (1993), a capacidade de<br />
absorver força axial em pilares com estribos ou com espirais e com cobrimento, pode<br />
ser expressa por:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
14<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
Fteo = k3f c ' (Ac − A s) + fyAs<br />
(3)<br />
onde:<br />
A c = área da seção transversal do pilar;<br />
f y<br />
= resistência de escoamento das barras da armadura longitudinal;<br />
A s = área da seção transversal das barras da armadura longitudinal.<br />
O fator k 3 leva em conta as diferenças nos tamanhos e formas entre o pilar de<br />
concreto armado e o corpo-de-prova, considerando as diferenças nas moldagens do<br />
concreto, vibração e cura e as diferenças nas velocidades de carregamentos. Os<br />
pilares são carregados tipicamente muito mais lento do que os cilindros.<br />
Os valores de k 3 são obtidos a partir de uma expressão que aproxima a<br />
tendência de resultados experimentais de vários autores, e varia com a resistência do<br />
concreto. Essa expressão é:<br />
k3 = 06 , +<br />
10<br />
'<br />
; f’ c em MPa e k 3 ≤ 0,85 (4)<br />
f c<br />
Para averiguação, os modelos ensaiados à compressão centrada também<br />
foram analisados utilizando as equações (3) e (4). Observa-se que a expressão da<br />
equação (3) permite a consideração da seção integral do pilar.<br />
Como nos ensaios a resistência do concreto foi determinada a partir de<br />
ensaios de compressão em corpos-de-prova cilíndricos de 100mm de diâmetro da<br />
base por 200mm de altura, foi adotada uma redução de 0,95fc como correlação para<br />
corpos-de-prova de 15cm x 30cm, respectivamente.<br />
A tabela 4 apresenta a análise efetuada para cada pilar ensaiado, como<br />
também os valores de k3 calculados com a equação (4) usando o valor da resistência<br />
reduzida. Os demais valores necessários para a utilização da equação (3) são obtidos<br />
na tabela 2.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
15<br />
TABELA 6 - Análise dos modelos ensaiados segundo COLLINS et al. (1993)<br />
Modelo<br />
F exp<br />
kN<br />
0,95f c<br />
MPa<br />
k 3<br />
F teo<br />
kN<br />
F exp /F teo<br />
P1/1 2630 78,9 0,727 2788 0,94<br />
P1/2 2701 78,9 0,727 2788 0,97<br />
P1/3 2834 78,9 0,727 2788 1,02<br />
P1r/2 3063 80,8 0,724 2832 1,08<br />
P1r/3 2820 80,8 0,724 2832 1,00<br />
P2/2 2950 83,0 0,720 2882 1,02<br />
P2/3 3210 87,4 0,714 2985 1,08<br />
P3/1 3415 90,1 0,711 3370 1,01<br />
P3/2 3750 90,1 0,711 3370 1,11<br />
P3/3 3230 90,1 0,711 3370 0,96<br />
P4/1 3000 76,5 0,731 3012 1,00<br />
P4/2 2650 76,5 0,731 3012 0,88<br />
P4/3 2610 76,5 0,731 3012 0,87<br />
A média das relações entre os valores experimentais divididos pelos teóricos,<br />
calculados a partir das expressões apresentadas por COLLINS et al. (1993), resultou<br />
igual a 1.<br />
Deste modo os resultados obtidos por GIONGO, LIMA & TAKEYA(1996),<br />
considerando apenas os núcleos confinados dos pilares, e por COLLINS et al. (1993)<br />
são iguais, confirmando o modelo adotado.<br />
3.2 Flexão normal composta<br />
Na verificação da segurança das estruturas, no estado limite último de ruptura<br />
do concreto, admite-se que possa atuar a tensão de compressão igual a 0,85f cd .<br />
Como explicado por FUSCO (1995), trata-se da aplicação de um coeficiente de<br />
modificação k mod = 0,85, que é resultante do produto de três outros, que levam em<br />
conta o acréscimo de resistência do concreto após os 28 dias de idade, a resistência<br />
medida em corpos-de-prova cilíndricos de 15cm x 30cm é superestimada, pois se<br />
sabe que a resistência medida em corpos-de-prova de tamanho maior seria menor,<br />
por haver menos influência do atrito do corpo-de-prova com os pratos da prensa de<br />
ensaio e, finalmente, o efeito deletério da ação de cargas de longa duração.<br />
Em se tratando de concreto de alta resistência a evolução da resistência a<br />
partir da idade de 28 dias é menor provavelmente pela menor quantidade de água<br />
livre que permita o prosseguimento da hidratação. PINTO JUNIOR (1992) apresenta<br />
um diagrama para a evolução da resistência com a idade para concretos com<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
16<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
resistências variando de 40MPa a 80MPa medida em corpos-de-prova cilíndricos de<br />
100mm por 200mm onde se observa que esta evolução após os 28 dias é<br />
insignificante. No estudo de dosagem desenvolvido nesta pesquisa experimental, para<br />
escolha do traço que foi usado na confecção dos pilares, observou-se uma relação de<br />
1,04 para a idade de 63 dias e de 1,07 para 92 dias, em relação a idade de 28 dias.<br />
Portanto o coeficiente k mod,1 pode ser reduzido para 1,1 ou até mesmo 1,0.<br />
A resistência à compressão medida em corpos-de-prova cilíndricos de 100mm<br />
por 200mm, que se apresenta como alternativa para controle da resistência em<br />
função da capacidade dos equipamentos disponíveis, superestima o valor em relação<br />
aos cilindros padronizados. CARRASQUILLO et al. (1981) estudou este efeito e<br />
encontrou um coeficiente próximo a 0,90 para a conversão independente da<br />
resistência que variou de 20MPa a 80MPa e da idade de ruptura. METHA et al. (1994)<br />
apresenta um gráfico do qual se determina uma relação de 0,95 para a conversão. No<br />
estudo de dosagem desenvolvido observou-se uma correlação de 0,96 entre<br />
resistências medidas em corpos-de-prova cilíndricos de 15cm x 30cm e 10cm x 20cm,<br />
desta forma pode-se admitir uma redução de 5% no coeficiente k mod,2 passando a ser<br />
de 0,90.<br />
Segundo PINTO JUNIOR (1992), nos concretos de alta resistência<br />
submetidos a carregamento de longa duração, a redução da resistência é da ordem<br />
de 15% a 20%, se for assumido uma redução de 20% o coeficiente k mod,3 passa a ser<br />
de 0,80.<br />
Desta forma, para concreto de alta resistência, o coeficiente de modificação<br />
seria alterado para 0,72. Para este trabalho, observa-se que, em geral, os ensaios<br />
foram feitos a idades inferiores a 28 dias e para ações de curta duração, sendo,<br />
portanto, desprezados os coeficientes k mod,1 e k mod,3 existindo apenas a relação entre a<br />
resistência medida nos corpos-de-prova cilíndricos de 100mm x 200mm e a estrutura<br />
expressa pelo coeficiente k mod,2 = 0,90.<br />
Desta forma para análise da situação última dos valores experimentais<br />
obtidos a resistência à compressão do concreto foi assumida como 0,90f c sendo f c a<br />
resistência média do concreto no dia do ensaio.<br />
A análise dos resultados dos ensaios dos modelos submetidos a esforços<br />
oriundos da compressão excêntrica consistiu na determinação da força e momento<br />
fletor resistentes, a partir dos valores das deformações medidas em uma determinada<br />
seção e das características mecânicas do aço da armadura e do concreto também<br />
determinados experimentalmente. Os valores dos esforços resistentes foram então<br />
comparados com os respectivos valores experimentais.<br />
Por hipótese admitiu-se que as seções planas permaneciam planas depois de<br />
deformadas assim, conhecido o valor das deformações nas faces 1 (menos<br />
comprimida) e 2 (mais comprimida), pode-se determinar a variação ao longo da altura<br />
h da seção transversal do pilar. A maneira de considerar os valores das deformações<br />
definiu duas outras situações para análise.<br />
Em uma ( situação 1 ), a partir dos valores médios das deformações medidas<br />
nas faces dos pilares, utilizando-se extensômetros elétricos e conjuntos formados por<br />
transdutores de deslocamento e hastes metálicas, permitiu determinar a variação das<br />
deformações na seção transversal pela expressão 5.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
17<br />
⎛ ε<br />
ε( x)<br />
= ⎜<br />
⎝<br />
− ε<br />
h<br />
c1 c2<br />
⎞<br />
⎟ x + ε<br />
⎠<br />
c2 (5)<br />
onde:<br />
ε c2 = deformação média medida na face mais comprimida, em valor absoluto;<br />
ε c1 = deformação média medida na face menos comprimida, em valor absoluto;<br />
h<br />
= altura da seção transversal, em metro.<br />
Na tabela 7, apresentam-se os valores das deformações médias obtidas nas<br />
barras de aço calculadas a partir da equação 5, tomando por base as deformações<br />
medidas nas faces dos pilares, para a etapa onde atuava a força última.<br />
TABELA 7 - Variação das deformações na seção transversal na situação 1<br />
Pilar ε s1 ε s2 ε c1 ε c2 ε (x)<br />
P5/1 0,001670 0,0026300 0,001139 0,00232 -0,007870x+0,00232<br />
P5/2 0,001481 0,0026530 0,001220 0,00230 -0,007200x+0,00230<br />
P6/1 0,001695 0,0024365 0,000979 0,00216 -0,007870x+0,00216<br />
P6/2 0,001780 0,0032600 0,001450 0,00250 -0,007000x+0,00250<br />
P7/1 0,001730 0,0023800 0,001388 0,00220 -0,005410x+0,00220<br />
P7/2 0,001910 0,0033600 0,001915 0,00292 -0,006730x+0,00292<br />
P8/1 0,001700 0,0029400 0,001419 0,00269 -0,008467x+0,00269<br />
P8/2 0,001830 0,0025700 0,001310 0,00272 -0,009400x+0,00272<br />
P9/1 0,001260 0,0025240 0,000864 0,00230 -0,011960x+0,00230<br />
P9/2 0,001317 0,0025220 0,000910 0,00287 -0,016330x+0,00287<br />
A outra situação ( situação 2 ) a análise das deformações consistiu em<br />
considerar apenas as medições feitas nas armaduras, admitindo-se que estas eram<br />
mais confiáveis que as medições no concreto; com as deformações médias das<br />
armaduras determinam-se a variação da deformação ao longo da seção pela equação<br />
6.<br />
ε<br />
⎛ εs1−<br />
εs2⎞<br />
εs2. d−<br />
εs1. d'<br />
() x = ⎜ ⎟ x +<br />
⎝ d−<br />
d'<br />
⎠ d−<br />
d'<br />
(6)<br />
onde:<br />
ε s2 = deformação média medida na armadura mais comprimida, em valor absoluto;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
18<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
ε s1 = deformação média medida na armadura menos comprimida, em valor absoluto;<br />
d<br />
= altura útil do pilar em metro;<br />
d’ = altura da seção transversal menos a altura útil, em metro.<br />
Na tabela 8, apresentam-se os valores das deformações médias obtidas em<br />
cada ensaio e sua respectiva variação a partir da equação 6, além dos valores das<br />
deformações médias medidas nas armaduras, para a etapa onde atuava a força<br />
última.<br />
TABELA 8 - Variação das deformações na seção transversal para a situação 2<br />
Pilar ε s1 ε s2 ε c1 ε c2 ε s (x) para ε c<br />
P5/1 0,001670 0,0026300 0,001305 0,003000 -0,01130x+0,003000<br />
P5/2 0,001481 0,0026530 0,001030 0,003100 -0,01380x+0,003100<br />
P6/1 0,001695 0,0024365 0,001383 0,002750 -0,00911x+0,002750<br />
P6/2 0,001780 0,0032600 0,001150 0,003880 -0,01820x+0,003880<br />
P7/1 0,001730 0,0023800 0,001500 0,002610 -0,00740x+0,002610<br />
P7/2 0,001910 0,0033600 0,001399 0,003870 -0,01650x+0,003874<br />
P8/1 0,001700 0,0029400 0,001261 0,003379 -0,01412x+0,003379<br />
P8/2 0,001830 0,0025700 0,001665 0,002930 -0,008430x+0,00293<br />
P9/1 0,001260 0,0025240 0,000577 0,003210 -0,02194x+0,003210<br />
P9/2 0,001317 0,0025220 0,000665 0,003175 -0,02092x+0,003175<br />
3.2.1 Esforços resistentes na compressão excêntrica<br />
Conhecendo-se a variação das deformações ao longo da seção transversal, e<br />
admitindo-se uma relação tensão x deformação para o concreto, foi estabelecida a<br />
variação da tensão normal ao longo da altura da seção em estudo do pilar, podendose,<br />
por integração, obter o esforço normal resistente teórico e o respectivo momento<br />
fletor, usando as equações de equilíbrio 7 e 8.<br />
N ∫ σ cdA Asi σ si<br />
(7)<br />
A i<br />
= +∑<br />
M ∫ σ cxdA Asi σ sixi<br />
(8)<br />
= +∑<br />
A<br />
i<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
19<br />
A figura 8 apresenta as hipóteses admitidas para a distribuição das<br />
deformações e das tensões nos pilares ensaiados e submetidos a compressão<br />
excêntrica com a força aplicada ao longo do eixo paralelo à menor dimensão.<br />
Figura 8 - Hipótese de distribuição de deformações e de tensões nos pilares<br />
Aplicando-se as equações de equilíbrio 7 e 8 para a seção transversal da<br />
figura 8 têm-se:<br />
h<br />
Nu<br />
= b∫ c x dx+ As s + A<br />
0<br />
σ ( ) 1 σ 1 s2 σ s2 (9)<br />
h h<br />
h<br />
Mu<br />
= b∫ σ c( x).( − xdx ) + ( As σ s −As σ s ).( −d')<br />
0 2 2<br />
2 2 1 1 (10)<br />
Considerando as situações estabelecidas, em função da distribuição de<br />
deformações admitida ao longo da seção, foram determinados a força normal e<br />
momento fletor resistentes, para uma relação tensão x deformação proposta e outra<br />
apresentada por COLLINS et al. (1993).<br />
3.2.2 Proposta de relação tensão x deformação do concreto [LIMA(1997)]<br />
Para cada modelo foram feitos ensaios de corpos-de-prova cilíndricos de<br />
100mm x 200mm, para determinação da resistência à compressão e correspondente<br />
deformação e o módulo de elasticidade. Os ensaios dos corpos-de-prova de concreto<br />
foram realizados no Laboratório de Mecânica das Rochas do Departamento de<br />
Geotécnia, EESC-<strong>USP</strong>. Eram ensaiados 2 corpos-de-prova com controle de força<br />
axial obtendo-se os parâmetros já citados e mais 2 com controle de deformação<br />
radial. Observaram-se grande dispersão nos resultados dos ensaios com controle de<br />
deformação, sendo que os valores da tensão máxima eram sempre menores.<br />
A proposta de relação tensão x deformação, consistiu em uma aproximação<br />
da relação tensão x deformação obtida no ensaio por uma função polinomial de 3. o<br />
grau. A equação que representa a curva teórica proposta tem a seguinte forma:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
20<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
y = k1x 3 + k2 x 2 + k3<br />
x<br />
A partir das condições de contorno, determinaram-se os valores das<br />
constantes k 1 , k 2 e k 3 , e tem-se como relação tensão (σ c ) x deformação (ε c ) do<br />
concreto a equação 11.<br />
σ<br />
c<br />
( 2f E ε ) ( 3f − 2E<br />
ε )<br />
c<br />
c c0<br />
= − + 3<br />
εc<br />
+<br />
ε<br />
c0<br />
3 c c c0<br />
2<br />
εc0<br />
ε<br />
2<br />
c<br />
+ E<br />
ε<br />
c c<br />
(11)<br />
A tabela 9 apresenta as características mecânicas do concreto e do aço<br />
utilizados nos ensaios, sendo que estes elementos são necessários para a análise<br />
dos resultados experimentais obtidos para a força última. Considerando-se a proposta<br />
de relação tensão x deformação da expressão 11 e substituindo-se ε c pela<br />
correspondente variação da deformação apresentada nas tabelas 7 para a situação 1<br />
e 8 para a situação 2 e, aplicando-se as equações 9 e 10, calcularam-se os valores de<br />
F teo e M teo cujos resultados são apresentados na tabela 10, que apresenta também<br />
comparações entre valores experimentais e teóricos nas diversas situações.<br />
TABELA 9 - Características mecânicas do concreto e do aço utilizados<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
21<br />
TABELA 10 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação proposta<br />
[LIMA(1997)]<br />
M exp /<br />
Pilar F exp M exp F teo,a, M teo,a F exp / F teo,b, M teo,b F exp / M exp /<br />
kN kN.cm kN kN.cm F teo,1 M teo,1, kN kN.cm F teo,2 M teo,2<br />
P5/1 2842 4263 2818 2106 1,01 2,02 3197 2239 0,89 1,90<br />
P5/2 2806 4209 2790 1993 1,01 2,11 3008 2787 0,93 1,51<br />
P6/1 3227 4840 2842 2293 1,13 2,11 3383 2158 0,95 2,24<br />
P6/2 3218 4827 3452 2287 0,93 2,11 3688 2917 0,87 1,65<br />
P7/1 3012 4518 2837 1374 1,06 3,28 3110 1585 0,97 2,85<br />
P7/2 3118 4677 3772 1335 0,84 3,12 3672 1785 0,85 2,62<br />
P8/1 3252 8130 3127 1896 1,04 4,29 3251 2456 1,00 3,31<br />
P8/2 3250 8125 3414 1856 0,95 4,37 3619 1506 0,90 5,39<br />
P9/1 2388 7164 2263 1920 1,05 3,73 2513 2875 0,95 2,49<br />
P9/2 2143 6438 2428 1891 1,01 3,40 2115 2287 1,01 2,81<br />
3.2.3 Análise considerando a relação tensão x deformação indicada por<br />
COLLINS et al. (1993)<br />
A mesma análise para os esforços resistentes relativa às duas situações<br />
estabelecidas de deformações foi desenvolvida para se averiguar os resultados<br />
obtidos com a relação constitutiva indicada por COLLINS et al. (1993), que pode ser<br />
escrita pela expressão 12.<br />
σc<br />
=<br />
nfc<br />
' ε<br />
εco εc εc nk c<br />
( n − 1 + ( / ) )<br />
(12)<br />
Na tabela 9 podem ser obtidos os valores de 0,90f c e de ε’ c que corresponde a<br />
ε co ; os valores de k, indicados por COLLINS et al. (1993) para considerar a variação<br />
das resistência, resultaram todos iguais a 1, pois, observaram-se que ε c é menor do<br />
que ε co , exceto nas etapas de ações últimas dos pilares P6/2, P7/1, P8/1 e P9/2 para<br />
os quais foram feitas aproximações no valor de k.<br />
Na tabela 11, seguindo mesma seqüência utilizada nas análises dos pilares<br />
considerando a relação tensão x deformação proposta, estão apresentadas as<br />
análises efetuadas com o modelo de COLLINS et al. (1993).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
22<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
TABELA 11 - Análise dos resultados dos esforços solicitantes [ COLLINS et al. (1993) ]<br />
Pilar F exp,<br />
kN<br />
M exp<br />
KN.cm<br />
F teo,a,<br />
kN<br />
M teo,a<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo,1<br />
M exp /<br />
M teo,1<br />
F teo,b,<br />
kN<br />
M teo,b<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo,2<br />
M exp /<br />
M teo,2<br />
P5/1 2842 4263 2690 2194 1,06 1,94 3110 2465 0,91 1,73<br />
P5/2 2806 4209 2658 2089 1,06 2,01 2022 2808 1,39 1,50<br />
P6/1 3227 4840 2649 2305 1,22 2,10 3226 2368 1,00 2,04<br />
P6/2 3218 4827 3308 2442 0,97 1,98 3603 3210 0,89 1,50<br />
P7/1 3012 4518 2663 1452 1,13 3,11 2969 1771 1,01 2,55<br />
P7/2 3118 4677 3679 1584 0,85 2,95 3577 2074 0,87 2,26<br />
P8/1 3252 8130 3018 2052 1,08 3,96 3156 2745 1,03 2,96<br />
P8/2 3250 8125 3271 2134 0,99 3,80 3511 1809 0,93 4,49<br />
P9/1 2388 7164 2089 4662 1,14 1,54 2385 6205 1,00 1,15<br />
P9/2 2143 6438 2048 4659 1,05 1,38 2047 5061 1,05 1,27<br />
Para as forças normais as relações entre F exp / F teo são praticamente iguais a<br />
unidade (variando entre 1,01 e 1,09) quando se considera o modelo com a<br />
distribuição de tensões na seção transversal indicado por COLLINS et al. (1993).<br />
Quando comparados com os valores médios, obtidos pelo modelo adotado<br />
por LIMA, tabela 10 os de COLLINS ficaram muito pouco acima; média de 1,05 com<br />
as expressões de COLLINS e 0,97 com as expressões dos Autores.<br />
Para as análises das relações entre os valores dos momentos fletores<br />
experimentais e teóricos, pode-se perceber que os resultados obtidos com o modelo<br />
de COLLINS são melhores que os apresentados pelos Autores. As médias entre<br />
todos os valores de M exp / M teo resultaram iguais a 3,06 (LIMA) e 2,64 (COLLINS).<br />
Os valores apresentados nas tabelas 10 e 11 indicam que, para qualquer<br />
análise considerando ação de colapso ou 80% do valor desta e situações diferentes<br />
das deformações - casos 1 e 2, há consistência nos resultados. Pode-se observar que<br />
as mesmas tendências observadas quando se usaram as indicações do Autor se<br />
comparam com as de COLLINS et al. (1993).<br />
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O estudo de dosagem desenvolvido, com escolha cuidadosa dos materiais<br />
componentes, levou à obtenção do concreto com a alta resistência desejada, ou seja,<br />
resistência média à compressão de 80MPa aos 15dias. Para isto, o consumo de<br />
cimento foi de 480kg/m 3 e o de sílica ativa igual a 10% deste. Estes valores são<br />
inferiores aos adotados por outros pesquisadores para resistências equivalentes.<br />
Analisando a tabela 5 pode-se perceber que, para todos os modelos<br />
ensaiados à compressão centrada, as relações entre a força última experimental e a<br />
força última teórica, considerando a seção do núcleo, resultou em média 1,21;<br />
variando entre 1,11 e 1,41. Com isto pode-se afirmar que a seção resistente é<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
23<br />
formada pelo núcleo, ou seja, a região limitada pelo eixo da armadura transversal<br />
mais externa. Estes resultados confirmam as conclusões obtidas por<br />
AGOSTINI(1992), CUSSON & PAULTRE(1994) e PAIVA(1994).<br />
Um dos objetivos deste trabalho era analisar o efeito do aumento da seção<br />
transversal e o confinamento do núcleo, já que AGOSTINI(1992) e PAIVA(1994)<br />
trabalharam com seções transversais de menor área. Cabe ressaltar que as taxas de<br />
armaduras longitudinais e transversais adotadas neste trabalho são menores do que<br />
as indicadas nas conclusões daqueles Pesquisadores. Quanto a preocupação que se<br />
tinha de que ao mudar a seção transversal de quadrada para retangular haveria<br />
alteração no comportamento do núcleo, analisando a tabela 5, modelos 1 e 2 -<br />
quadrados e 3 e 4 - retangulares, não são identificadas grandes alterações no<br />
comportamento dos pilares.<br />
A simples diminuição do espaçamento entre estribos, mantendo-se o seu<br />
diâmetro, não interferiu de maneira significativa na relação F u,exp /F un , indicando que é<br />
melhor arranjar os estribos de forma a evitar a flambagem das barras longitudinais,<br />
conforme indicado na figura 9.<br />
O valor médio das relações entre a força última experimental e a força última<br />
teórica, sem considerar a área do núcleo resultaram igual a 0,79 ( ver tabela 5 ), com<br />
variação entre 0,70 e 0,87.<br />
O modelo apresentado por COLLINS et al. (1993) expressa bem a capacidade<br />
resistente de pilares de concreto de alto desempenho solicitados por ação centrada e<br />
permite a consideração da seção integral do pilar.<br />
A média das relações entre os valores experimentais divididos pelos teórico,<br />
calculados a partir das expressões apresentadas por COLLINS et al. (1993), resultou<br />
igual a 1, o que confirma a eficiência do uso do coeficiente k, que permite analisar a<br />
resistência do pilar considerando a área integral da seção transversal e as<br />
resistências da classe II, segundo a NBR 8953/92.<br />
Deve ser ressaltado que para análise dos resultados não se considerou o<br />
efeito da deformação lenta por serem os ensaios realizados com ação de curta<br />
duração.<br />
Analisando os valores das deformações nas barras da armadura longitudinal,<br />
para uma mesma ação aplicada, para os modelos das séries 1 e 2, ( figuras 3 e 4 )<br />
observam-se que permaneceram praticamente iguais enquanto as taxas de armadura<br />
transversal dobraram. Este fato deve-se aos ainda baixos valores da taxa de<br />
armadura transversal adotados, fica claro que para aumentar a ductilidade deve-se<br />
aumentar tanto a taxa de armadura transversal quanto a longitudinal.<br />
Figura 9 - Configurações de estribos para seções quadradas e retangulares que possibilitam<br />
um melhor confinamento<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
24<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
Comparando as deformações últimas dos modelos ensaiados, com os<br />
resultados de AGOSTINI(1992) e PAIVA(1994), observam-se que os valores são<br />
semelhantes, lembrando que as taxas de armaduras adotadas por estes<br />
pesquisadores eram de 3,55% e 4,44% - longitudinal e 1,5% a 3,5% - transversal,<br />
portanto, superiores as aqui utilizadas ( tabela 2 ). Aqueles Autores afirmam que deve<br />
ser adotada uma taxa de 2,2% de armadura transversal e 3,5% longitudinal para<br />
garantir ductilidade.<br />
Os resultados dos ensaios feitos nesta pesquisa mostram que a ductilidade foi<br />
alcançada com menores taxas de armaduras, como pode ser confirmado nos ensaios<br />
dos modelos da série 4 ver figura 6.<br />
Para os modelos ensaiados a flexão normal composta observou-se que as<br />
análises foram feitas considerando as variações de tensões no concreto nas seções<br />
transversais dos pilares com as equações propostas por LIMA(1997) e por COLLINS<br />
et al. (1993). Assim optou-se para justificar a consistência dos resultados<br />
experimentais obtidos tanto em etapas distintas dos colapsos do modelo proposto<br />
quanto por processos de análise indicados.<br />
Analisando a tabela 10, modelo proposto pelos Autores, pode-se perceber<br />
que ambas as relações entre os valores das forças experimentais e teóricas<br />
resultaram praticamente idênticas, tanto para o caso das deformações medidas<br />
durante os ensaios (situação 1), quanto para a situação 2, onde as deformações no<br />
concreto foram calculadas a partir das deformações medidas nas barras de aço.<br />
Os valores das relações F exp / F teo , para as duas situações de etapas de<br />
aplicação de forças e para as duas situações de deformações, foram tais que, para a<br />
hipótese 2 de consideração de deformações, os valores resultaram menores que<br />
quando se considerou a hipótese 1. Isto mostra que houve consistência na<br />
determinação experimental das deformações nas barras da armadura e no concreto<br />
nas faces externas dos pilares.<br />
As relações entre os momentos fletores experimentais e teóricos, em qualquer<br />
situação, ficaram muito acima da unidade. Evidencia-se assim que as excentricidades<br />
geométricas, medidas antes dos inícios dos ensaios, que caracterizavam os<br />
momentos fletores experimentais atuantes nas seções transversais de meias alturas<br />
dos pilares não ocorreram na sua integridade.<br />
Condições de vinculações diferentes consideradas nos modelos teóricos,<br />
junto as extremidades, ocorreram durante os ensaios realizados. Isto se deu pelo fato<br />
de terem ocorrido engastes parciais dos pilares nas faces inferiores junto ao macaco<br />
hidráulico. Nas faces superiores dos pilares, junto a célula de carga, por deficiência na<br />
rótula, devem ter sido introduzidas ações horizontais.<br />
Para as várias situações analisadas nas tabelas 10 e 11, embora os<br />
resultados não estejam de acordo com o esperado, pode-se perceber que as relações<br />
médias ficaram das mesmas ordens de grandeza indicando consistência nos<br />
resultados.<br />
Cumpre ressaltar que os modelos da série 8, como pode ser visto na tabela<br />
10, não apresentaram momentos fletores teóricos compatíveis com os resultados dos<br />
demais modelos. Isto alterou de modo significativo a relação M exp / M teo , modificando<br />
para mais os valores médios. Quando não se considerou os resultados dos modelos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho<br />
25<br />
da série 8 os valores médios foram sempre menores, em ambos modelos da série<br />
observaram descolamentos de extensômetros, sendo que no modelo 8/1 os dois<br />
extensômetros colados na armadura menos comprimida foram perdidos, o critério<br />
adotado de estimar o valor da deformação a partir da deformação na outra face não<br />
surtiu o efeito desejado, coincidentemente estes modelos apresentavam<br />
excentricidades maiores que os anteriores.<br />
Porém, é preciso notar que há consistência nos resultados apresentados<br />
pelas tabelas 10 e 11 pois, com considerações de deformações diferentes - situações<br />
1 e 2, e na etapa em que ocorreu o colapso e para uma ação igual a 80% da ação<br />
última, as relações entre M exp / M teo foram praticamente idênticas.<br />
5 AGRADECIMENTOS<br />
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, por Auxílio à<br />
Pesquisa, processo número 95/2458-4, à Coordenadoria de Aperfeiçoamento de<br />
Pessoal de Nível Superior, pela concessão de bolsa PICD, ao Grupo Camargo Corrêa<br />
S. A e à Reax Indústria e Comércio Ltda.<br />
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1992). NBR 8953 – Concreto<br />
para fins estruturais: classificação por grupos de resistência. Rio de Janeiro.<br />
AGOSTINI, L. R. S. (1992). Pilares de concreto de alta resistência. São Paulo. Tese<br />
(Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.<br />
CARRASQUILLO, R. L.; NILSON, A . H.; SLATE, F. O . (1981). Properties of high<br />
strength concrete subject to short-term loads. Journal of A.C.I., v. 78, n. 3, p. 171-178,<br />
May-June.<br />
COLLINS, P. M.; MITCHELL, D.; MACGREGOR, J. (1993). Structural design<br />
consideratios for high-strength concrete. Concrete International, p. 27-34, May.<br />
CUSSON, D.; PAULTRE, P. (1994). High-strength concrete columns confined by<br />
rectangular ties. Journal of Structural Engineering, ASCE, v.120 n.3, p.783-804,<br />
Mar.<br />
FUSCO, P. B. (1989). O cálculo de concreto armado em regime de ruptura.. In:<br />
SIMPÓSIO EP<strong>USP</strong> SOBRE ESTRUTURAS DE CONCRETO. Anais. São Paulo.<br />
Escola Politécnica – <strong>USP</strong>. v. 1.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
26<br />
Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya<br />
GIONGO, J. S.; LIMA, F. B.; TAKEYA, T. (1996). Estudo experimental de pilares de<br />
concreto armado de alto desempenho solicitados à compressão simples e flexão<br />
normal composta. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos – <strong>USP</strong>.<br />
(Relatório apresentado à FAPESP).<br />
LIMA, F. B. (1997). Pilares de concreto de alto desempenho: fundamentos e<br />
experimentação. São Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São<br />
Carlos, <strong>USP</strong>.<br />
METHA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. (1994). Concreto: estrutura, propriedade e<br />
materiais. São Paulo, Pini.<br />
PAIVA, Nadjara M. B. (1994). Pilares de concreto de alta resistência com seção<br />
transversal retangular solicitados à compressão simples. Campinas. Dissertação<br />
(Mestrado) – Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas.<br />
PINTO JR., N. O. (1992). Flexão de vigas de concreto de alta resistência. São<br />
Paulo. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.
CONCRETO COM AGREGADO GRAÚDO<br />
RECICLADO: PROPRIEDADES NO ESTADO<br />
FRESCO E ENDURECIDO E APLICAÇÃO EM<br />
PRÉ-MOLDADOS LEVES<br />
Luciano M. Latterza 1 & Eloy Ferraz Machado Jr. 2<br />
Resumo<br />
Este trabalho relata a influência do agregado graúdo, reciclado de entulhos de<br />
construção e demolição, nas propriedades físicas e mecânicas do concreto fresco e<br />
endurecido, observada durante a investigação do potencial de utilização de rejeitos de<br />
obras, como agregado graúdo no preparo de concretos de baixa e média resistências.<br />
O agregado reciclado utilizado na pesquisa foi resultante da trituração de entulhos de<br />
obra, na Estação de Reciclagem de Entulhos da cidade de Ribeirão Preto-SP. Foi<br />
utilizada a graduação D máx igual a 9,5 mm. Para isto foram analisados concretos com<br />
substituição de 100% e 50% de agregado graúdo natural, utilizado no concreto de<br />
referência. Ensaios de perda do abatimento, massa específica no estado fresco,<br />
resistência à compressão, com determinação do módulo de elasticidade, tração na<br />
compressão diametral e tração na flexão, mostraram a influência do reciclado no<br />
desempenho, frente ao concreto de referência. Comprovou-se, também, a resistência à<br />
abrasão em função da dureza superficial dos concretos. Por fim, o material concreto<br />
com agregados reciclados foi utilizado em uma aplicação prática, na fabricação de<br />
painéis leves de vedação, avaliando-se seu desempenho estrutural à flexão. Tanto o<br />
programa experimental para a realização dos ensaios, quanto os resultados obtidos,<br />
são também apresentados. Concluiu-se, assim, pela viabilidade do emprego de<br />
agregado graúdo reciclado em substituição, total ou em parte, ao equivalente natural<br />
em concretos estruturais de baixa e média resistências.<br />
Palavras-chave: agregados reciclados; resíduos de construção e demolição;<br />
reciclagem de entulhos; concreto com agregados graúdos reciclados.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A não muito distante conscientização, por parte da indústria da Construção<br />
Civil, do conhecido problema do desperdício nas obras civis, tem estimulado ações no<br />
sentido da implantação de programas de gestão da qualidade, que procuram acabar,<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong><br />
2 Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, efemacjr@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
28<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
ou diminuir, a geração de rejeitos decorrentes da construção. Por outro lado, a<br />
estabilidade econômica tem provocado um considerável crescimento na produção e<br />
comercialização de materiais de construção, fato que tem sido divulgado nas matérias<br />
econômicas da imprensa brasileira. Notadamente, o crescimento na comercialização<br />
vem se verificando no pequeno e médio varejo, localizado, na maior parte, na periferia<br />
urbana dos municípios de grande e médio porte.<br />
Conseqüentemente, apesar dos programas de gestão da qualidade e de<br />
gestões ambientais, a geração de resíduos sólidos inertes, popularmente conhecidos<br />
como entulhos de obra, tem crescido assustadoramente, refletindo-se na perda da<br />
qualidade ambiental dos espaços urbanos, através do descarte clandestino dos<br />
rejeitos em terrenos baldios, nas margens de pequenos cursos d’água e ao longo das<br />
vias públicas periféricas. Além da degradação ambiental, tais descartes oneram as<br />
administrações municipais com o custo do gerenciamento das disposições irregulares,<br />
traduzido pelo espalhamento, transporte e combate às zoonoses que proliferam nos<br />
ambientes propícios das “montanhas” de entulho.<br />
Recentemente, algumas administrações de municípios de médio e grande<br />
porte estão procurando equacionar o problema instalando usinas de processamento<br />
de entulhos, para o reuso do material reciclado em pavimentação urbana, fabricação<br />
de blocos de vedação e outras aplicações. De acordo com PINTO (1997), a<br />
participação dos resíduos de construção no total dos resíduos sólidos urbanos,<br />
tomados em massa, pode chegar a valores entre 50% e 80%, em cidades de grande e<br />
médio porte. Parte de todo este material, reciclado em estações de processamento,<br />
pode significar uma fonte emergente de agregado para a Construção Civil,<br />
notadamente àquela destinada à população de baixa renda.<br />
Mostrar a viabilidade da utilização da fração graúda, do reciclado, como<br />
material de construção para concretos estruturais de baixa e média resistências, e<br />
consequentemente, sua influência nas propriedades do concreto fresco e endurecido,<br />
e também a aplicação deste material em painéis leves de vedação, constitui-se o<br />
propósito desse trabalho.<br />
2 IMPORTÂNCIA DA PESQUISA<br />
Ao contrário do volume crescente de resíduos gerados pela construção e<br />
demolição, as jazidas de agregados naturais, para concreto, estão se tornando muito<br />
escassas, fazendo com que se busque este material em lugares cada vez mais<br />
distantes, aumentando seus custos de produção e comercialização. O reflexo no<br />
custo total da construção é considerável, incidindo com maior peso nas obras<br />
destinadas às faixas de menor renda. Estimulando, ainda mais, o reuso do entulho<br />
reciclado, está a constatação de que o custo da reciclagem, por tonelada, é menor<br />
que o custo para gerenciar as disposições irregulares. Procurando definir usos para<br />
os reciclados graúdos, como agregado para concreto de baixa e média resistências,<br />
com os devidos cuidados e restrições, a pesquisa pretende formular sugestões e<br />
recomendações técnicas para a aplicação deste novo material de construção.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
29<br />
3 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />
Com o objetivo inicial de investigar a influência do agregado graúdo reciclado,<br />
proveniente de entulho de construção e demolição, nas propriedades físicas e<br />
mecânicas do concreto fresco e endurecido, três concretos foram preparados para a<br />
graduação 0 (D máx = 9,5 mm), da NBR 7211/83. Em cada concreto variou-se o tipo de<br />
agregado graúdo, tendo-se assim, um concreto de referência, com 100% de agregado<br />
graúdo natural, um com 100% de agregado graúdo reciclado e outro com metade de<br />
agregado graúdo natural e metade reciclado.<br />
4 MATERIAIS<br />
4.1 Agregados naturais<br />
Os agregados, miúdo e graúdo, naturais utilizados no trabalho foram obtidos<br />
na região de São Carlos-SP. O agregado miúdo era uma areia, de origem quartzosa,<br />
proveniente do rio Mogi-Guaçu, com módulo de finura (MF) igual a 2,34 e dimensão<br />
máxima característica (D máx ) igual a 2,4 mm, classificada como areia fina a média.<br />
Para o concreto de referência foram utilizados agregados graúdos de origem<br />
basáltica, com D máx igual a 9,5 mm.<br />
As características físicas, determinadas de acordo com as normas NBR<br />
7251/82, NBR 7810/83 e NBR 9776/87, são apresentadas na Tabela 1, e as curvas<br />
granulométricas dos agregados estão mostrados nas Figuras 1 e 2:<br />
TABELA 1 - Características físicas dos agregados miúdo e graúdo naturais<br />
Características físicas areia natural agregado graúdo<br />
D máx = 2,4 mm D máx = 9,5 mm<br />
Massa unitária estado solto (kg/dm 3 ) 1,46 1,34<br />
Massa unitária estado compactado (kg/dm 3 ) - 1,53<br />
Massa específica (kg/dm 3 ) 2,60 2,92<br />
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30<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
100<br />
90<br />
Porc. retida acumulada<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0<br />
0.15<br />
0.3<br />
0.6<br />
1.2<br />
Abertura das peneiras (mm)<br />
2.4<br />
4.8<br />
Figura 1 - Curva granulométrica do agregado miúdo<br />
100<br />
90<br />
Porc. retida acumulada<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
2.4<br />
4.80<br />
6.30<br />
Abertura das peneiras (mm)<br />
9.50<br />
12.5<br />
Figura 2 - Curva granulométrica do agregado graúdo natural, D máx = 9,5 mm<br />
4.2 Agregados reciclados<br />
A Estação de Reciclagem de Entulho de Ribeirão Preto-SP, em operação<br />
desde o final de 1996, produz agregados reciclados oriundos de rejeitos de<br />
construção e demolição, sem peneiramento, em bica corrida. Diversas amostras<br />
foram analisadas a partir do início das operações, podendo-se afirmar que,<br />
aproximadamente, 50% do reciclado é material miúdo, passante na peneira 4,8 mm, e<br />
aproximadamente 70% do material graúdo está compreendido entre as peneiras 19,0<br />
mm e 4,8 mm.<br />
O material graúdo é composto por pedaços de argamassa, pedaços de<br />
concreto, britas, cerâmica porosa e cerâmica lisa, tendo-se, também, observado na<br />
sua composição, entre 0,5 % e 1,0 % de outros materiais como: papéis, farpas de<br />
madeira e isopor. As Figuras 3 e 4 mostram a curva granulométrica do reciclado em<br />
bica corrida e a natureza da composição, respectivamente:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
31<br />
100<br />
90<br />
Porc. retida acumulada<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0.00<br />
0.15<br />
0.30<br />
0.60<br />
1.20<br />
2.40<br />
4.80<br />
6.30<br />
9.50<br />
12.50<br />
19.00<br />
25.00<br />
32.00<br />
38.00<br />
Abertura das Peneiras (mm)<br />
Figura 3 - Curva granulométrica do agregado graúdo reciclado, bica corrida<br />
Cerâmica<br />
15.0%<br />
Outros<br />
0.5%<br />
Brita<br />
22.5%<br />
Argam<br />
47.9%<br />
Concreto<br />
14.1%<br />
Figura 4 - Composição característica do agregado graúdo reciclado,bica corrida<br />
Os agregados graúdos, reciclados, utilizados neste trabalho foram os<br />
passantes na peneira 9,5 mm e retidos na 4,8 mm, caracterizados como graduação 0<br />
da NBR 7211/83. Esta escolha deve-se ao fato que além de estarem entre a maior<br />
parcela do graúdo reciclado, as britas 0 são bastante utilizadas em concretos para<br />
pré-moldados de pequena espessura.<br />
Os agregados reciclados, assim classificados, foram submetidos à análise<br />
granulométrica e natureza da composição e suas características físicas foram<br />
determinadas de acordo com as normas brasileiras pertinentes.<br />
A Tabela 2 mostra as propriedades físicas determinadas e as Figuras 5 e 6<br />
mostram as curvas granulométricas dos reciclados e a natureza da composição.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
32<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
TABELA 2 - Características físicas dos agregados graúdos reciclados<br />
Características físicas<br />
agregado graúdo<br />
Dmáx = 9,5 mm<br />
Massa unitária estado solto (kg/dm3) 1,10<br />
Massa unitária estado compactado (kg/dm3) 1,26<br />
Massa específica (kg/dm 3 ) 2,36<br />
100<br />
90<br />
Porc. retida acumulada<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
2.4<br />
4.8<br />
6.3<br />
9.5<br />
12.5<br />
Abertura das peneiras (mm)<br />
Figura 5 - Curva granulométrica do agregado graúdo reciclado, D máx = 9,5 mm<br />
Cerâmica<br />
12%<br />
Outros<br />
2%<br />
Brita<br />
16%<br />
Argam<br />
58%<br />
Concreto<br />
12%<br />
Figura 6 - Composição característica do agregado reciclado, D máx = 9,5 mm<br />
5 CONCRETO NO ESTADO FRESCO<br />
Em pesquisa anteriormente realizada utilizando-se os mesmos materiais,<br />
naturais e reciclados, do trabalho aqui apresentado, foram preparadas misturas para<br />
uma resistência característica, do concreto de referência, de 15 MPa. Os ensaios,<br />
então realizados, mostraram que a simples substituição, em massa, dos agregados<br />
graúdos naturais pelos reciclados, com pequeno acréscimo na água de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
33<br />
amassamento, produziram concretos moldáveis, mas com abatimento praticamente<br />
nulo.<br />
Nesta fase tinha-se como objetivo inicial a investigação da influência do<br />
agregado reciclado nas propriedades do concreto fresco e endurecido. A partir das<br />
misturas anteriores todos os concretos foram, então, ajustados para um abatimento<br />
de (60 ± 10) mm, para um mesmo fator água/cimento, ainda com f ck = 15 MPa para o<br />
concreto de referência.<br />
A Tabela 3 mostra as quantidades de materiais, em massa, por metro cúbico<br />
de concreto fresco, adotadas neste trabalho:<br />
TABELA 3 - Quantidade de materiais utilizado em cada concreto<br />
Quantidades de Materiais<br />
D máx<br />
tipo de agregado<br />
graúdo<br />
cimento<br />
CP II F-32<br />
( kg/m 3 )<br />
areia natural<br />
agregado graúdo<br />
água<br />
( kg/m 3 )<br />
( kg/m 3 )<br />
( kg/m 3 )<br />
natural 358 909 755 269<br />
9,5 mm 50% natural +<br />
50% reciclado<br />
360 882 734 266<br />
100% reciclado 344 843 702 261<br />
5.1 Perda do abatimento (NBR 10342/88)<br />
Sucintamente, o ensaio consiste em se determinar o abatimento, pelo método<br />
do tronco de cone, a cada 15 minutos a partir da primeira determinação. O ensaio é<br />
considerado encerrado quando o concreto apresentar abatimento de (30 ± 10) mm.<br />
Nestes ensaios, devido a pequena quantidade de materiais, os concretos<br />
foram misturados manualmente em amassadeira de chapa.<br />
Os resultados estão representados graficamente, como tempo decorrido<br />
contra percentagem da perda de abatimento, em relação à primeira leitura.<br />
Os ensaios foram conduzidos até um abatimento de (20 ± 10) mm, com o<br />
objetivo de se ter um maior número de pontos para o traçado das curvas. A Figura 7<br />
mostra os resultados individuais e a comparação entre eles, para cada concreto com<br />
agregado graúdo D máx = 9,5 mm.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
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Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
10 0<br />
natural<br />
10 0<br />
100% reciclado<br />
abatimento em relação a primeira<br />
leitura(%)<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130<br />
tempo (min)<br />
abatimento em relação a primeira<br />
leitura (%)<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130<br />
tempo (min)<br />
abatimento em relação a primeira<br />
leitura(%)<br />
10 0<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
50% natural + 50% reciclado<br />
abatimento em relação a primeira<br />
leitura(%)<br />
10 0<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
natural<br />
reciclado<br />
50% rec e 50% nat<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130<br />
tempo (min)<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130<br />
tempo (min)<br />
Figura 7 - Curvas de perda do abatimento individuais e comparação entre as curvas.<br />
Concretos com agregados graúdos com graduação 4,8mm < D < 9,5mm<br />
5.2 Massa específica do concreto fresco (NBR 9833/87)<br />
O ensaio consiste na determinação da massa por unidade de volume do<br />
concreto fresco através da divisão da massa de concreto, em recipiente, adensado de<br />
acordo com a norma, pelo volume do recipiente, normalizado e compatível com a<br />
dimensão máxima característica do agregado graúdo.<br />
Os ensaios foram realizados com os mesmos concretos da moldagem dos<br />
exemplares utilizados na pesquisa, portanto, devido a maior quantidade de materiais<br />
envolvidos, as misturas foram mecânicas.<br />
Os resultados podem ser vistos na Tabela 4:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
35<br />
TABELA 4 - Massa específica do concreto fresco e condições ambiente durante o ensaio<br />
D máx tipo de agregado<br />
graúdo<br />
temperatura<br />
ambiente<br />
umidade<br />
relativa<br />
abatimento<br />
inicial<br />
massa<br />
específica<br />
( ºC ) ( % ) ( mm ) ( kg/dm 3 )<br />
natural 28,9 57 49 2,292<br />
9,5 mm 50% natural + 28,9 55 68 2,250<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 29,1 54 75 2,192<br />
5.3 Análise dos resultados e comentários<br />
Como pode-se perceber da análise das curvas individuais de perda do<br />
abatimento, para os concretos com D máx igual a 9,5 mm, apesar de apresentarem<br />
inclinações das curvas maiores, e portanto, perda mais rápida, os concretos com<br />
reciclados tiveram comportamento semelhante ao concreto de referência. O ensaio<br />
encerrou-se com abatimento de 18 mm para o concreto de referência, após 121<br />
minutos da adição de água; com 21 mm, após 96 minutos, para o concreto com 100%<br />
de substituição e com 20 mm, após 93 minutos, para o concreto com 50% de<br />
substituição. Estes abatimentos representam, respectivamente, 29%, 34% e 31% da<br />
leitura inicial.<br />
Comparando-se as curvas, para um tempo próximo a 100 minutos, o<br />
abatimento representa 38% para o concreto de referência contra 34% e 31% para os<br />
outros dois.<br />
Os resultados constatam, com clareza, a influência da maior absorção do<br />
agregado graúdo reciclado na perda do abatimento do concreto fresco,<br />
comportamento semelhante ao observado nos concretos com agregados graúdos<br />
leves.<br />
Com relação à massa específica no estado fresco, pode-se constatar a<br />
influência da menor densidade do agregado reciclado nos resultados obtidos. A<br />
massa específica do concreto com 100% de agregados reciclados está situada nas<br />
proximidades do limite superior dos concretos leves e no limite inferior dos concretos<br />
normais. A massa específica no estado fresco, estabelecendo uma analogia com os<br />
concretos leves NEVILLE (1997), pode ser uma boa aproximação para o cálculo do<br />
peso próprio de concretos com agregados graúdos reciclados.<br />
6 CONCRETO NO ESTADO ENDURECIDO<br />
6.1 Ensaios realizados e número de exemplares<br />
Para estabelecer a influência do agregado reciclado no comportamento<br />
mecânico do concreto endurecido foram programados ensaios para determinação da<br />
resistência à compressão axial, com determinação do módulo de elasticidade<br />
tangente, resistência à tração na compressão diametral e módulo de ruptura à flexão.<br />
Os exemplares eram cilíndricos, de (100 x 200) mm, para realização dos ensaios de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
36<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
compressão axial e diametral, e prismáticos, de (150 x 150 x 750) mm, para os<br />
ensaios de flexão.<br />
A Tabela 5 mostra o número de exemplares, por ensaio, para cada concreto<br />
analisado:<br />
TABELA 5 - Número de exemplares para cada tipo de ensaio<br />
D máx<br />
tipo de<br />
agregado<br />
graúdo<br />
compressão<br />
axial<br />
Número de Exemplares por Tipo de Ensaio<br />
compressão módulo de<br />
diametral ruptura à<br />
módulo de<br />
elasticidade<br />
flexão<br />
7 d 28 d 28 d 28 d 28 d<br />
natural 2 3 3 2 3<br />
9,5 mm 50%natural + 3 3 3 2 3<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 3 3 3 2 3<br />
Os concretos foram misturados mecanicamente, sem que tenha havido<br />
imersão prévia dos agregados graúdos reciclados, que estavam secos ao ar. A<br />
técnica para lançamento do material na misturadora foi a mesma adotada para os<br />
agregados naturais. Após a adição total da água os concretos foram misturados<br />
durante três minutos. Todos os exemplares foram moldados sob as mesmas<br />
condições de temperatura ambiente e umidade relativa, tendo sido adotado o<br />
adensamento mecânico, com vibrador de agulha, de acordo com a NBR 5738/84.<br />
Após 24 horas da moldagem os exemplares foram desmoldados e mantidos imersos<br />
em água até a data dos ensaios.<br />
6.2 Resistência à compressão e módulo de elasticidade (NBR 5739/80)<br />
A Tabela 6 mostra os resultados médios, obtidos com os concretos ensaiados,<br />
para resistência à compressão e módulo de elasticidade:<br />
TABELA 6 - Resistência à compressão e módulo de elasticidade<br />
D máx tipo de agregado<br />
graúdo<br />
resistência à compressão<br />
( MPa )<br />
módulo de elasticidade<br />
( Gpa )<br />
7 d 28 d 28 d<br />
natural 16,0 24,7 (1,00) 13,1<br />
9,5 mm 50% natural +<br />
50% reciclado<br />
21,3 29,2 (1,18) 12,8<br />
100% reciclado 21,0 29,0 (1,17) 13,4<br />
6.2.1 Análise dos resultados e comentários<br />
O concreto de referência atingiu a resistência de dosagem prevista aos 28<br />
dias. Entre os concretos com agregados reciclados, não houve diferenças<br />
significativas, no entanto, superaram os valores de resistência do concreto de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
37<br />
referência em 17% e 18%. Isto se deve à quantidade de água retirada, da água de<br />
amassamento, pela alta absorção do agregado reciclado. A água retida nos poros<br />
destes agregados não está disponível para a hidratação do cimento, mas na fase de<br />
endurecimento da pasta, provavelmente, a água no interior do agregado reciclado<br />
contribui para a hidratação, como se fosse uma “cura úmida interna”, conforme<br />
descreve NEVILLE (1997), ao se referir aos concretos de agregados leves de alto<br />
poder de absorção.<br />
Quanto ao módulo de elasticidade, não se observou variação entre o concreto<br />
de referência e os contendo 100% e 50% de graúdos reciclados; isto pode ser devido<br />
à pasta que penetra nos poros superficiais dos reciclados, garantindo maior interação<br />
entre a pasta e o agregado. A “cura úmida interna” também pode favorecer a<br />
aderência entre a matriz de cimento e o agregado.<br />
Para D máx = 9,5 mm o comportamento, quanto às propriedades elásticas, foi<br />
semelhante para os três concretos, como pode-se observar na Figura 8:<br />
40.00<br />
D<br />
máx.<br />
= 9,5mm<br />
32.00<br />
TENSÃO AXIAL (MPa)<br />
24.00<br />
16.00<br />
8.00<br />
Agreg.graúdo<br />
100% reciclado<br />
Agreg.graúdo<br />
natural<br />
Agreg.graúdo 50<br />
%nat.+50% rec.<br />
0 2.50 5.00 7.50 10.00<br />
DEFORM.AXIAL (mstr)<br />
Figura 8 - Gráfico Tensão × Deformação<br />
6.3 Resistência à tração (NBR 7222/83 e ASTM C 78-94)<br />
Para avaliar o desempenho frente ao concreto convencional de mesma<br />
classe, quanto à resistência à tração, foram realizados ensaios à compressão<br />
diametral, em corpos-de-prova cilíndricos e à flexão, com carregamento nos terços do<br />
vão, em corpos-de-prova prismáticos.<br />
Os ensaios foram conduzidos de acordo com as prescrições da NBR 7222/83<br />
(compressão diametral) e da ASTN C 78-94 (flexão com carregamento nos terços).<br />
Os resultados, apresentados pelos valores médios, são mostrados na Tabela<br />
7. A Figura 9 ilustra o ensaio de flexão:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
38<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
TABELA 7 - Resistência à tração<br />
D máx<br />
tipo de<br />
agregado<br />
graúdo<br />
Resistência à Tração<br />
por compressão<br />
na flexão<br />
diametral<br />
( MPa )<br />
( MPa )<br />
28 d 28 d<br />
natural 2,3 3,3<br />
9,5 mm 50% natural +<br />
2,5 3,4<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 2,2 3,3<br />
Figura 9 - Aparato para ensaio à flexão<br />
6.3.1 Análise dos resultados e comentários<br />
No ensaio de compressão diametral a ruptura ocorre por tração horizontal<br />
através do fendilhamento segundo o plano diametral vertical do carregamento. A<br />
teoria da elasticidade bi-dimensional fornece a expressão da tensão de tração<br />
horizontal, em um elemento plano, infinitesimal, do diâmetro vertical do corpo-deprova,<br />
como sendo:<br />
onde:<br />
f tD = 2P<br />
πDL<br />
P = força máxima no ensaio;<br />
L = altura do corpo-de-prova;<br />
D = diâmetro do corpo-de-prova.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
39<br />
No ensaio de flexão, com carregamento nos terços, a tensão de tração<br />
máxima na face tracionada do corpo-de-prova é dada pela teoria elementar da flexão,<br />
e é conhecida como módulo de ruptura.<br />
A ASTM C 78-94 prescreve o cálculo do módulo de ruptura como PL<br />
bd , se a<br />
2<br />
ruptura ocorrer no terço médio. Se a ruptura ocorrer fora do terço médio, não mais<br />
que 5% do vão, o módulo é calculado como 3 Pa<br />
2<br />
bd<br />
sendo:<br />
P = força máxima no prisma;<br />
L = vão;<br />
b = largura da seção transversal;<br />
d = altura da seção transversal;<br />
a = distância média da linha de ruptura, na face tracionada, ao apoio mais próximo.<br />
Analisando a Tabela 7, percebe-se que a qualidade do agregado graúdo não<br />
influenciou os resultados dos ensaios na graduação estudada. Os concretos com<br />
agregados reciclados tiveram desempenho igual, ou ligeiramente superior, caso do<br />
concreto com 50% de substituição. Este fato, certamente, é devido à boa aderência<br />
entre a pasta e o agregado, anteriormente comentada. Reforçando essa hipótese,<br />
pode-se citar que durante os ensaios, tanto de compressão diametral, quanto de<br />
flexão, observou-se que as rupturas davam-se através dos agregados.<br />
As relações teóricas, baseadas em resultados de ensaios, entre resistência à<br />
tração direta (f tT ) ( considerada o valor real da tensão de tração no concreto),<br />
resistência à tração na compressão diametral (f tD ), resistência à tração na flexão (f tF ) e<br />
resistência à compressão (f c ), encontradas por RAPHAEL (1984), como também as<br />
propostas de revisão da NB1/78, comprovam que os concretos com agregados<br />
graúdos reciclados seguem as mesmas leis. Uma constatação gratificante, verificada<br />
durante a comparação entre os resultados experimentais e teóricos, é que a<br />
resistência à tração na compressão diametral, quando o ensaio é bem conduzido,<br />
pode representar, ela mesma, a resistência à tração direta do concreto. A Tabela 8<br />
apresenta as comparações entre os resultados experimentais e os teóricos de<br />
Raphael e, em seguida, apenas para a resistência à tração por compressão diametral,<br />
esses valores são também comparados com os da proposta de revisão da NB1/78,<br />
Tabela 9:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
40<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
TABELA 8 - Relações entre valores teóricos e experimentais<br />
D máx<br />
tipo de<br />
agregado<br />
graúdo<br />
EXPERIMENTAL<br />
Valores de Resistência à Tração<br />
f c f tD f tF f tF =<br />
2/3<br />
0,44 f c<br />
TEÓRICO (Raphael)<br />
f tT =<br />
2/3<br />
0,33 f c<br />
f tT =<br />
0,75 f tF<br />
(mm) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa )<br />
natural 24,7 2,3 3,3 3,7 2,8 2,5<br />
9,5 50% natural +<br />
50% reciclado<br />
onde:<br />
29,2 2,5 3,4 4,2 3,1 2,6<br />
100% reciclado 29,0 2,2 3,3 4,2 3,1 2,5<br />
f c<br />
f tD<br />
f tF<br />
f tT<br />
= resistência à compressão axial aos 28 dias<br />
= resistência à tração por compressão diametral<br />
= resistência à tração na flexão (módulo de ruptura)<br />
= resistência à tração direta<br />
TABELA 9 - Resistência à tração aos 28 dias - Comparação entre os valores experimentais de<br />
resistência à tração por compressão diametral, RAPHAEL e proposta da revisão da NB-1/78<br />
D máx<br />
Valores de Resistência à Tração<br />
f =<br />
EXPERI-<br />
TEÓRICO<br />
MENTAL<br />
tipo de compressão Raphael Revisão da NB - 1/78<br />
agregado diametral<br />
graúdo f tD f tT =<br />
f tT = f tT = f tT =<br />
0,75 f tF<br />
tT<br />
0,33 f c 0,9 f tD 0,7 f tF 0,3 f 2/3<br />
c<br />
2/3<br />
(mm) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa )<br />
natural 2,3 2,5 2,8 2,1 2,3 2,5<br />
9,5 50% natural +<br />
50% reciclado<br />
2,5 2,6 3,1 2,3 2,4 2,8<br />
100% reciclado 2,2 2,5 3,1 2,0 2,3 2,8<br />
Observa-se na tabela 9 que os valores de resistência à compressão diametral,<br />
obtidos experimentalmente, são praticamente idênticos aos propostos pela revisão da<br />
NB-1/78, tomando-se a resistência à tração direta em relação à resistência à tração<br />
na flexão (módulo de ruptura). Para melhor visualização, apresentamos esses valores<br />
separadamente na Figura 10:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
41<br />
Resistência à Tração (MPa)<br />
4,00<br />
3,80<br />
3,60<br />
3,40<br />
3,20<br />
3,00<br />
2,80<br />
2,60<br />
2,40<br />
2,20<br />
2,00<br />
1,80<br />
1,60<br />
1,40<br />
1,20<br />
1,00<br />
2,5 2,5 2,6<br />
2,5<br />
2,3 2,3 2,4<br />
2,3<br />
2,2<br />
Natural 50% + 50% 100%<br />
ftD Experim<br />
ftT=0,7 ftF (Rev.NB-1)<br />
ftT=0,75 ftF (Raphael)<br />
Figura 10 - Gráfico comparativo de resistência à tração- D máx = 9,5 mm<br />
A atual, e ainda em vigor, NB-1/78 estabelece uma relação de 0,85 entre os<br />
valores de resistência à tração direta e os obtidos por compressão diametral, para<br />
concretos. Mesmo propondo alteração deste coeficiente de 0,85 para 0,90 (vide<br />
Tabela 9), estes valores ainda se mantêm conservadores. A proposição da RILEM<br />
(1993), (Tabela 10-reproduzida aqui para melhor visualização), propõe que a relação<br />
entre tração direta e tração por compressão diametral, mesmo que para concretos<br />
com agregados reciclados, seja diretamente proporcional (relação 1:1). Este fato pôde<br />
ser verificado e constatado pelos resultados obtidos, também para concretos que<br />
utilizaram agregados reciclados em suas misturas.<br />
TABELA 10 - Coeficientes de relação propostos por RILEM (1993)<br />
Valores de Projeto Tipo I Tipo II Tipo III<br />
resistência à tração 1 1 1<br />
módulo de elasticidade 0,65 0,8 1<br />
6.4 Resistência à abrasão do concreto com agregado graúdo reciclado<br />
Para avaliar indiretamente a resistência à abrasão dos concretos com<br />
agregados reciclados, valeu-se da relação direta entre a abrasão e a dureza<br />
superficial, SADEGZADEH, M.; KETTLE, R. (1986). Foram, portanto, realizados<br />
ensaios esclerométricos, com finalidade apenas comparativa, no concreto de<br />
referência e nos concretos com reciclados.<br />
Os exemplares para execução do ensaio foram os prismas utilizados nos<br />
ensaios de flexão. No total foram realizados seis ensaios esclerométricos nos<br />
concretos com D máx igual a 9,5 mm.<br />
Os resultados da avaliação, conduzidos segundo a NBR 7584/95, estão<br />
apresentados na Tabela 11:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
42<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
TABELA 11 - Valores dos índices esclerométricos<br />
D máx<br />
9,5 mm<br />
tipo de agregado<br />
graúdo<br />
n o do<br />
prisma<br />
idade<br />
(dias)<br />
índice<br />
esclerométrico<br />
natural 1 29 18,9<br />
2 29 19,1<br />
50% natural + 3<br />
29<br />
22,6<br />
50% reciclado 4<br />
29<br />
22,8<br />
100% reciclado 5 29 20,8<br />
6 29 20,6<br />
6.4.1 Análise dos resultados e comentários<br />
A uniformidade dos valores, para cada grupo, demonstra a homogeneidade<br />
do concreto dos exemplares ensaiados.<br />
Os resultados maiores, nos concretos com reciclados, correspondem à maior<br />
resistência à compressão dos mesmos e indicam dureza superficial, no mínimo, igual<br />
aos concretos de referência.<br />
7 APLICAÇÃO DO CONCRETO COM AGREGADO RECICLADO NA<br />
FABRICAÇÃO DE PAINÉIS LEVES DE VEDAÇÃO<br />
A fim de dar uma aplicação prática aos estudos até agora conduzidos e,<br />
dados os bons resultados apresentados pelo material reciclado, nesta fase propôs-se<br />
um modelo de painel nervurado com o objetivo de se realizar ensaios para análise do<br />
desempenho à flexão. Os painéis confeccionados com concreto utilizando-se<br />
agregado graúdo reciclado, foram avaliados comparando o seu desempenho frente a<br />
um painel de referência moldado com concreto confeccionado com agregados<br />
naturais.<br />
O componente utilizado faz parte de um ante-projeto para confecção de<br />
painéis leves pré-moldados para construção de habitações populares. As<br />
configurações construtivas para o posicionamento do painel em uma parede são<br />
apresentadas mais adiante.<br />
Os fundamentos teóricos utilizados na análise dos painéis foram os fornecidos<br />
pela Teoria Elementar da Flexão. O dimensionamento das peças foi realizado para o<br />
estado limite último e as verificações para o estado limite de utilização compreendem<br />
determinação do momento fletor de fissuração e do estado de deformação excessiva.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
43<br />
7.1 Teoria elementar da flexão<br />
Por simplificação, os painéis foram considerados, como se fossem vigas<br />
submetidas a um carregamento uniforme. Utilizando-se o Princípio dos Trabalhos<br />
Virtuais (PTV), pode-se determinar o deslocamento no meio do vão de uma viga.<br />
A seguir são dadas as expressões finais do deslocamento no meio do vão<br />
para uma viga simplesmente apoiada, de comprimento L com força uniformemente<br />
distribuída, e também com força concentrada aplicada nos terços do vão:<br />
- Viga com carregamento uniformemente distribuído q ao longo do<br />
comprimento L do vão. Para o deslocamento tem-se:<br />
δ = 5 4<br />
qL<br />
384EI<br />
- Viga com carregamento concentrado F/2 aplicado nos terços do vão teórico.<br />
Para o deslocamento tem-se:<br />
δ = 23 3<br />
FL<br />
1296 . EI<br />
7.2 Dimensionamento dos painéis<br />
No dimensionamento dos painéis nervurados foi utilizada a teoria usual do<br />
concreto armado, considerando-se a seção transversal de maneira simplificada com<br />
relação à sua geometria.<br />
As hipóteses de cálculo utilizadas foram as prescritas pela NBR 6118/78<br />
“Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado”.<br />
Para o Estado Limite de Utilização, são feitas as verificações considerando-se<br />
os carregamentos, ou seja, as solicitações de serviço, previstos para o uso normal de<br />
peças do tipo das estudadas neste trabalho. As hipóteses de cálculo utilizadas são as<br />
mesmas adotadas para peças fletidas de concreto armado prescritas pela NBR<br />
6118/78.<br />
7.3 Programa experimental<br />
Os painéis foram submetidos a ensaios de flexão, aos 7 dias, com<br />
carregamento aplicado nos terços do vão até que eles atingissem a ruptura. Corposde-prova<br />
para ensaios de resistência à compressão, resistência à tração,<br />
determinação do módulo tangente de elasticidade, absorção, índice de vazios e<br />
massa específica do concreto endurecido, foram moldados para cada tipo de<br />
agregado graúdo utilizado nas misturas.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
44<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
7.4 Dimensões dos componentes<br />
Os painéis possuem dimensões de 400 mm de largura e 2.500 mm de<br />
comprimento, definindo-se um vão teórico de 2.450 mm. A espessura total do painel é<br />
de 50 mm, sendo a mesa com 20 mm e a parte das nervuras acrescidas de 30 mm.<br />
Os componentes adotados possuem 3 nervuras; 2 nas extremidades laterais com 20<br />
mm de largura e uma na parte central com 40 mm de largura final.<br />
Na Figura 11 é apresentada a seção típica do painel utilizado contendo as<br />
dimensões totais e das nervuras. Em seguida, na Figura 12, apresentam-se as<br />
configurações do sistema construtivo, inicialmente proposto para construção de<br />
habitações populares, mostrando o posicionamento do painel nos encontros de<br />
parede:<br />
Figura 11 - Dimensões do painel e da seção típica<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 12 - Posicionamento do painel: (a) encontro no meio da parede; (b) encontro no canto<br />
da parede<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
45<br />
7.5 Fôrmas e armaduras para os painéis<br />
Para a moldagem dos painéis, foram utilizadas fôrmas metálicas. No<br />
dimensionamento das peças de concreto utilizou-se uma força total distribuída de 58<br />
N/m, considerando-se a utilização de um concreto classe C-15 e uma taxa de<br />
armadura de 60 kg/m 3 .<br />
Adotou-se 1 fio de aço, do tipo CA 60 - B, com diâmetro de 3,2 mm colocado<br />
na parte inferior e superior das nervuras, e 2 fios de mesmo diâmetro colocados na<br />
mesa para efeito de distribuição. Os estribos foram espaçados a cada 25 cm. O<br />
cobrimento mínimo das armaduras foi de 6 mm. O alojamento das armaduras e o seu<br />
arranjo está mostrado na Figura 13:<br />
N 1= 11 0 3,2 c/25 L = 250,4<br />
174,4<br />
38 38<br />
8 0 3,2 L = 248<br />
6<br />
10,8<br />
38<br />
24,2<br />
6 15<br />
150 150<br />
614<br />
5<br />
5 5<br />
11,6 16,8 11,6<br />
2500<br />
250 250 250 250 250 250 250 250 250 250<br />
Figura 13 - Arranjo da armadura no painel<br />
7.6 Materiais utilizados nos ensaios<br />
Os agregados reciclados utilizados para confecção dos painéis foram os<br />
coletados na estação de reciclagem de Ribeirão Preto em meados de abril de 1997.<br />
Devido às pequenas dimensões do painel, adotou-se agregado graúdo com dimensão<br />
máxima característica D máx = 9,5 mm (brita 0).<br />
Os painéis foram moldados com concreto preparado na proporção 1:2,83:2,33<br />
para agregado natural e, a partir deste, os traços foram ajustados para agregados<br />
reciclados, tentando-se manter as mesmas proporções e fator água/cimento (em torno<br />
de 0,68). O cimento utilizado foi o CP II E- 32, com um consumo de cimento da ordem<br />
de 335 kg/m 3 de concreto. Como agregado miúdo utilizou-se a areia natural do rio<br />
Mogi-Guaçu, na região de São Carlos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
46<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
7.7 Ensaio à flexão dos painéis<br />
Os agregados graúdos natural e reciclado, e o agregado miúdo, utilizados<br />
para confecção dos painéis, foram submetidos a ensaios para determinação da<br />
absorção, índices de vazios e massa específica no estado seco e saturado superfície<br />
seca, tendo suas características apresentadas anteriormente.<br />
Apresenta-se a seguir como foram realizados os ensaios à flexão e as<br />
diversas etapas envolvidas.<br />
7.7.1 Moldagem, adensamento e cura<br />
A Figura 14 mostra a seqüência de moldagem dos painéis. O adensamento foi<br />
realizado através de mesa vibratória. O painel permaneceu em cura úmida por 24<br />
horas, na fôrma. Após a desforma foi curado ao ar, em ambiente protegido. Todos os<br />
ensaios foram realizados com idades de 7 dias.<br />
(a) (b) (c)<br />
Figura 14 - (a) fôrma do painel com armadura alojada; (b) preenchimento das nervuras;<br />
(c) fôrma totalmente preenchida<br />
7.7.2 Esquema estático e de carregamento<br />
Os protótipos foram submetidos à ação de uma força concentrada, aplicada<br />
de cima para baixo, substituindo-se a força uniformemente distribuída por 2 forças<br />
concentradas, aplicadas aproximadamente nos terços do vão, segundo o esquema<br />
estático e de carregamento mostrado na Figura 15.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
47<br />
F/2 F/2<br />
816,7mm 816,7mm 816,7mm<br />
2450 mm<br />
Figura 15 - Esquema estático e de carregamento do painel<br />
A força atuante foi aplicada através de um cilindro hidráulico de capacidade<br />
200 kN acoplado a uma bomba hidráulica de acionamento manual, Figura 16:<br />
Figura 16 - Aparelhagem para aplicação de força<br />
7.7.3 Instrumentação<br />
Para se fazer aplicação e medição da força utilizou-se uma célula de carga<br />
com capacidade de 50 kN.<br />
Os deslocamentos transversais do painel foram medidos por meio de<br />
transdutores elétricos com sensibilidade de 0,5 mm e curso de 100 mm, posicionados<br />
em 4 pontos ao longo do painel: 2 na seção transversal média e 2 junto aos apoios,<br />
como mostrado na Figura 17:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
48<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
D 1<br />
D 1<br />
D 2<br />
F/2<br />
D 3 F/2<br />
D 4<br />
Planta<br />
2500<br />
F/2 F/2<br />
D 4<br />
D 2<br />
816,7 816,7 816,7<br />
2450<br />
Figura 17 - Localização dos transdutores elétricos no painel ensaiado<br />
7.8 Ensaio de avaliação do comportamento à flexão dos painéis<br />
Durante a aplicação da força, foram registrados os deslocamentos ocorridos e<br />
os valores relativos a elas. Um sistema de aquisição de dados computadorizado<br />
registrou as leituras indicadas pela célula de carga e pelos transdutores. No decorrer<br />
dos ensaios foram anotadas as forças responsáveis pela primeira fissura e o<br />
surgimento das fissuras posteriores conforme os acréscimos de carregamento. A<br />
Figura 18 mostra o aparato de ensaio utilizado (a) e um detalhe do apoio móvel (b).<br />
O valor da força total para execução do ensaio foi de 1080 N. Os incrementos<br />
de carga foram da ordem de 100 N.<br />
(a)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
49<br />
(b)<br />
Figura 18 - Aparato de ensaio à flexão com detalhe do apoio móvel<br />
A seguir são apresentados os resultados dos ensaios à flexão realizados nos<br />
painéis e comentários são efetuados.<br />
8 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS<br />
8.1 Considerações gerais<br />
É importante observar que os estudos realizados nos painéis foram efetuados<br />
logo no início das pesquisas, quando do recebimento do material em abril de 1997.<br />
Assim, as determinações de algumas das características físicas dos agregados foram<br />
concluídas posteriormente à data da realização dos ensaios nos painéis.<br />
As quantidades de materiais utilizadas nos concretos dos painéis foram<br />
apenas substituídas em massa, em função dos ensaios iniciais, acrescentando-se<br />
mais ou menos água à mistura, sem que houvesse ajuste nos traços. A Tabela 12<br />
apresenta os valores do abatimento e fator água/cimento para os concretos utilizados<br />
nos painéis:<br />
TABELA 12 - Fator água/cimento e abatimento dos concretos dos painéis<br />
tipo de concreto natural 50% natural + 100% reciclado<br />
(D máx = 9,5 mm)<br />
50% reciclado<br />
abatimento (mm) 7 12 29<br />
fator a/c 0,64 0,68 0,74<br />
Para o concreto com 100% de agregados graúdos reciclados, devido aos<br />
estudos preliminares, acrescentou-se mais água à mistura, resultando um fator<br />
água/cimento maior.<br />
Para o concreto utilizando-se agregados naturais, foi estimado um valor de<br />
3% para a umidade da areia, diminuindo-se da mistura a quantidade de água<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
50<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
equivalente. Pode-se explicar, em decorrência deste fato, o menor abatimento deste<br />
concreto em relação aos outros.<br />
8.2 Análise dos resultados e comentários<br />
Juntamente com a moldagem dos painéis, corpos-de-prova cilíndricos de 10<br />
cm de diâmetro e 20 cm de altura, correspondentes a cada tipo de concreto, foram<br />
submetidos a ensaios de compressão, axial e diametral, determinando-se as<br />
resistências médias e o módulo de elasticidade na data dos ensaios dos painéis e aos<br />
28 dias.<br />
Os resultados dos ensaios nos corpos-de-prova correspondentes aos<br />
concretos dos painéis com agregados naturais e reciclados podem ser vistos na<br />
Tabela 13:<br />
TABELA 13 - Corpos-de-prova cilíndricos. Média dos resultados<br />
idade tipo de<br />
concreto<br />
compressão<br />
axial<br />
compressão<br />
diametral<br />
módulo de elast.<br />
tangente<br />
(dias) (D máx = 9,5 mm) (MPa) (MPa) (MPa)<br />
natural 21,0 (1,00) 2,35 (1,00) 9.826 (1,00)<br />
7 50% natural + 20,0 (0,95) 2,12 (0,90) 11.349 (1,15)<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 16,0 (0,76) 1,29 (0,55) 8.725 (0,89)<br />
natural 32,8 (1,00) - 16.948 (1,00)<br />
28 50% natural + 27,4 (0,84) - 15.323 (0,90)<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 21,2 (0,65) - 12.295 (0,73)<br />
Observando-se a Tabela 13 pode-se perceber que a resistência à<br />
compressão aos 7 e aos 28 dias, para o concreto com 100% de agregado graúdo<br />
reciclado, chegou a um valor médio em torno de 16 MPa e 21,2 MPa, ficando 24% e<br />
35% abaixo dos valores do concreto de referência. O concreto com 50% de reciclados<br />
apresentou-se 5% e 16% menor, aos 7 e aos 28 dias.<br />
A resistência à tração do concreto com 100% de agregado graúdo reciclado,<br />
medida no ensaio por compressão diametral, foi aproximadamente a metade dos<br />
outros dois concretos.<br />
Os valores dos módulos de elasticidade foram aproximadamente iguais para<br />
os três tipos de concretos, aos 7 dias, e com valores decrescentes em relação ao<br />
concreto de referência, aos 28 dias, como era esperado.<br />
Para o concreto endurecido, foram também efetuados ensaios, aos 28 dias,<br />
para determinação da absorção, índice de vazios e massa específica, segundo a NBR<br />
9778/87 “Argamassa e Concreto Endurecidos - Determinação da Absorção de Água<br />
por Imersão - Índice de Vazios e Massa Específica”, e os resultados estão<br />
apresentados na Tabela 14:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
51<br />
TABELA 14 - Absorção, índice de vazios e massa específica dos concretos<br />
tipo de<br />
concreto<br />
absorção<br />
índice de<br />
vazios<br />
(%)<br />
(%)<br />
(kg/m 3 ) (kg/m 3 ) (kg/m 3 )<br />
natural 5,23 (1,00) 11,82 (1,00) 2.259 (1,00) 2.377 (1,00) 2.562 (1,00)<br />
50% natural + 6,51 (1,24) 13,92 (1,18) 2.139 (0,95) 2.278 (0,96) 2.485 (0,97)<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 8,04 (1,54) 16,19 (1,37) 2.013 (0,89) 2.175 (0,92) 2.402 (0,94)<br />
γ s<br />
γ sss<br />
γ<br />
onde:<br />
γ s<br />
γ sss<br />
γ<br />
= massa específica da amostra seca;<br />
= massa específica da amostra saturada superfície seca;<br />
= massa específica real.<br />
Observa-se na Tabela 14 que a absorção e o índice de vazios do concreto<br />
com 50% de agregado graúdo reciclado foram, respectivamente, 1/4 e 1/5 maiores<br />
que o de referência, dobrando a relação para o concreto com 100% de substituição.<br />
A massa específica seca do concreto contendo 100% de agregado reciclado<br />
(2.013 kg/m 3 ), está situada no limite superior dos concretos leves (γ s =1.900 kg/m 3 ), e<br />
inferior dos concretos normais (γ s =2.100 kg/m 3 ). O concreto com 100% de agregado<br />
graúdo reciclado, apresentou absorção de 8%, que é o máximo admissível para tubos<br />
de concreto armado segundo a NBR-9794/87 e postes de concreto armado pela NBR-<br />
8451/85.<br />
O desempenho, à flexão, dos painéis moldados utilizando-se concreto<br />
preparado com agregado graúdo reciclado, frente ao painel de referência, pode ser<br />
avaliado através das curvas Força X Deslocamento transversal, que estão<br />
apresentadas na Figura 19:<br />
2500<br />
2000<br />
Força (N)<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
0 20 40 60 80 100<br />
Deslocamento (mm)<br />
natural<br />
100% reciclado<br />
50% natural +<br />
50% reciclado<br />
Figura 19 - Gráfico força x deslocamento transversal, aos 7 dias<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
52<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
O painel preparado com agregados naturais apresentou início de fissuração<br />
visível com uma força de aproximadamente 350 N, conferindo uma flecha<br />
experimental de 8 mm. Para os concretos com 50% e 100% de reciclados, a<br />
fissuração visível deu-se para forças de 400 N e 200 N, conferindo flechas respectivas<br />
de 10 mm e 4 mm. A fase de fissuração pode ser notada graficamente (Figura 19)<br />
pela mudança de inclinação logo no início das curvas.<br />
Após a fissuração, para os 3 tipos de concretos, as curvas apresentaram um<br />
comportamento praticamente linear, até as forças de 1.150 N, 1.400 N e 1.000 N,<br />
para concretos com agregados naturais, 50% reciclados e 100% reciclados, com<br />
flechas de aproximadamente 50 mm, 47 mm e 41 mm respectivamente, onde<br />
presume-se, pela nova mudança de inclinação das curvas, que houve escoamento da<br />
armadura.<br />
O desempenho inferior do painel com 100% de agregado graúdo reciclado,<br />
está de acordo com os resultados apresentados na Tabela 13, relativos aos ensaios<br />
de resistência à compressão e tração. As curvas obtidas, estão perfeitamente de<br />
acordo com os respectivos módulos de elasticidade, na data dos ensaios dos painéis<br />
aos 7 dias.<br />
Os momentos fletores últimos obtidos experimentalmente foram comparados<br />
com os momentos fletores últimos teóricos calculados utilizando-se aproximação de<br />
concreto armado convencional. Nesta aproximação a armadura nas nervuras é<br />
assumida escoada por causa dos altos deslocamentos últimos obtidos nos painéis.<br />
Para painéis rompidos à flexão, a aproximação com concreto convencional parece<br />
predizer a capacidade última à flexão com razoável acuidade.<br />
É apresentado na Tabela 15 a comparação entre os valores dos momentos<br />
fletores de fissuração experimentais, teóricos com valores de f t7 experimental e<br />
teóricos de projeto, bem como os valores experimentais e teóricos de projeto para os<br />
momentos fletores últimos. A comparação entre os valores das flechas, seguindo a<br />
mesma sistemática, encontra-se na Tabela 16:<br />
TABELA 15 - Comparação entre os momentos fletores teóricos e experimentais<br />
tipo de<br />
concreto<br />
D máx = 9,5 mm experimental<br />
Momento fletor de fissuração<br />
(kN.cm)<br />
teórico com<br />
valores<br />
experimentais<br />
teórico<br />
de<br />
projeto<br />
Momento fletor último<br />
(kN.cm)<br />
experimental<br />
teórico de<br />
projeto<br />
natural 14,29 (0,50) 28,72 13 46,96 (1,23) 38,27<br />
50% natural +<br />
50% reciclado<br />
100%<br />
reciclado<br />
16,33 (0,64) 25,66 13 57,17 (1,49) 38,27<br />
8,17 (0,50) 16,36 13 40,83 (1,07) 38,27<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
53<br />
TABELA 16 - Comparação entre as flechas experimentais e teóricas<br />
tipo de<br />
concreto<br />
FLECHA para momento<br />
fletor de fissuração<br />
(mm)<br />
D máx = 9,5 mm experimental teórica com<br />
valores<br />
experimentais<br />
teórica de<br />
projeto<br />
FLECHA para momento<br />
fletor último<br />
(kN.cm)<br />
experimental<br />
teórica de<br />
projeto<br />
natural 8 (0,67) 12,0 2 50 (1,30) 38,5<br />
50% natural + 10 (0,65) 15,3 2 47 (1,22) 38,5<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 4 (0,13) 31,5 2 41 (1,06) 38,5<br />
Para o painel contendo concreto com agregados naturais e com 100% de<br />
agregado reciclado, os valores dos momentos fletores de fissuração atingiram a<br />
metade dos momentos fletores teóricos com valores experimentais. Para o concreto<br />
com 50% de reciclados o momento ficou 36% menor do que o valor teórico utilizandose<br />
f t7 experimental. Em relação ao momento último os valores experimentais<br />
superaram os valores teóricos de projeto em todos os casos.<br />
Quanto aos valores das flechas, os painéis atingiram 67% e 65% dos valores<br />
teóricos utilizando-se f t7 experimental, para concreto com agregados naturais e 50%<br />
de substituição. Para o concreto com 100% de graúdo reciclado a flecha ficou 87%<br />
menor. Todos os valores de flechas para momento fletor último atingiram valores<br />
maiores do que os teóricos de projeto.<br />
As curvas Tensão × Deformação do concreto sob compressão, estão<br />
apresentadas na Figura 20 (a) e (b), aos 7 e aos 28 dias, respectivamente. As curvas,<br />
para todos os concretos são lineares até aproximadamente 0,0007 mm . As curvas<br />
Tensão × Deformação para concretos contendo agregado reciclado estão próximas<br />
daquelas do concreto de controle.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
54<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
25<br />
natural<br />
35<br />
natural<br />
20<br />
50% natural + 50% reciclado<br />
100% reciclado<br />
30<br />
50% natural + 50% reciclado<br />
100% reciclado<br />
25<br />
Tensão (MPa)<br />
15<br />
10<br />
Tensão (Mpa)<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
5<br />
0<br />
0<br />
0 0.001 0.002 0.003 0.004<br />
0 0.001 0.002 0.003<br />
Deformação (mm/mm)<br />
Deformação (mm/mm)<br />
a) b)<br />
Figura 20 - Gráficos Tensão x Deformação: (a) aos 7 dias ; (b)aos 28 dias<br />
Os gráficos apresentam-se semelhantes para ambos os casos. Aos 7 dias, as<br />
curvas demonstram-se coincidentes até aproximadamente 12 MPa onde a curva, para<br />
concreto com 100% de agregado reciclado, começa a desviar-se das demais. Para os<br />
concretos contendo 50% de reciclados e materiais naturais, as curvas Tensão ×<br />
Deformação, começam a se afastar próximo aos valores de 17 MPa.<br />
Nos ensaios realizados aos 28 dias, apesar da curva para concreto com 100%<br />
de agregado reciclado possuir, inicialmente, maior valor de tensão, para uma mesma<br />
deformação, a inclinação da curva apresentou-se menor em relação às outras duas,<br />
conferindo menor valor para o módulo de elasticidade, como pode ser verificado na<br />
Tabela 13 reproduzida a seguir para melhor apreciação:<br />
TABELA 13 - Corpos-de-prova cilíndricos. Média dos resultados<br />
idade tipo de<br />
concreto<br />
compressão<br />
axial<br />
compressão<br />
diametral<br />
módulo de elast.<br />
tangente<br />
(dias) (D máx = 9,5 mm) (MPa) (MPa) (MPa)<br />
natural 21,0 (1,00) 2,35 (1,00) 9.826 (1,00)<br />
7 50% natural + 20,0 (0,95) 2,12 (0,90) 11.349 (1,15)<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 16,0 (0,76) 1,29 (0,55) 8.725 (0,89)<br />
natural 32,8 (1,00) - 16.948 (1,00)<br />
28 50% natural + 27,4 (0,84) - 15.323 (0,90)<br />
50% reciclado<br />
100% reciclado 21,2 (0,65) - 12.295 (0,73)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
55<br />
8.3 Sugestões e recomendações<br />
Baseados nos resultados experimentais deste estudo, o entulho reciclado<br />
usado como agregado graúdo para concreto pôde prover resistências próximas<br />
àquelas do concreto com agregado natural. Entretanto, a fim de melhor compreender<br />
seu desempenho, é recomendado que ensaios de durabilidade e características de<br />
fluência dos concretos contendo agregados reciclados sejam desenvolvidos.<br />
9 CONCLUSÕES<br />
9.1 Considerações finais<br />
Este estudo foi conduzido para investigar o potencial do entulho reciclado<br />
como agregado graúdo na confecção de concreto. Ensaios para determinação das<br />
características físicas foram desenvolvidos nos agregados reciclado e natural e os<br />
resultados foram comparados. Para determinação da resistência à compressão<br />
simples e compressão diametral foram conduzidos ensaios em corpos-de-prova<br />
cilíndricos, e, para determinação da resistência à flexão foram realizados ensaios em<br />
painéis, utilizando-se concretos com 50% de agregados graúdos reciclados em<br />
substituição ao agregado natural e em concretos com 100% de entulho reciclado<br />
como agregado graúdo. Os resultados foram comparados com aqueles concretos<br />
contendo agregados naturais.<br />
Os resultados mostram, sem sombra de dúvidas, a viabilidade técnica e<br />
econômica de se empregar reciclados, de construção e demolição, como agregados<br />
graúdos para concretos de baixa e média resistências.<br />
Os resultados deste estudo incluem melhor compreensão do comportamento<br />
do “novo” concreto confeccionado com agregados de entulho reciclado pelo processo<br />
de britagem. Este conhecimento reduz significativamente o risco associado ao uso de<br />
tal concreto na prática, e irá encorajar mais profissionais da área a utilizarem esse<br />
material em obras de concreto de média e baixa resistências com as devidas<br />
restrições que lhes cabem.<br />
9.2 Conclusões<br />
Baseado nos resultados das investigações conduzidas, as seguintes<br />
conclusões podem ser obtidas:<br />
A utilização dos agregados graúdos provenientes da reciclagem do entulho de<br />
construção e demolição apresenta-se totalmente viável no tocante ao preparo de<br />
concretos classe C-15, com agregados na graduação “brita 0” da NBR-7211/83.<br />
Dadas as suas características físicas apresentadas, o agregado graúdo<br />
reciclado pode ser considerado, com certa aproximação, como sendo um agregado<br />
leve.<br />
A absorção e índice de vazios influem significativamente na trabalhabilidade<br />
do concreto preparado com agregado reciclado. Esta influência se dá pelo aumento<br />
da velocidade de perda do abatimento, constatada nos estudos e que, pelos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
56<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
resultados apresentados, pode-se considerar que um concreto permaneça com boa<br />
trabalhabilidade durante, apenas 60 min. Por outro lado, este fenômeno diminui a<br />
água livre da mistura, conferindo com isto um aumento na resistência à compressão,<br />
contribuindo ainda para uma “cura interna” do concreto.<br />
A “procedência” do agregado (natural ou reciclado) não influencia a<br />
resistência à tração, conferindo ao concreto reciclado um comportamento que<br />
obedece as mesmas relações nas propriedades mecânicas entre resistência à tração<br />
por compressão diametral, à tração na flexão e resistência à compressão simples, que<br />
os concretos convencionais de mesma classe.<br />
A massa específica do concreto é influenciada pela massa específica menor<br />
do agregado reciclado, fazendo com que o concreto situe-se no limite entre concretos<br />
leves e convencionais.<br />
Não houve diferenças significativas entre o módulo de elasticidade do<br />
concreto com agregados reciclados e naturais, entretanto o concreto com reciclados<br />
pode apresentar valores de deformações bem mais elevados.<br />
A dureza superficial, que possui uma relação direta com a resistência à<br />
abrasão dos concretos, apresentou-se, neste caso, semelhante à dos concretos<br />
convencionais, de mesma classe de resistência.<br />
A teoria de concreto armado convencional usada para painéis com agregado<br />
graúdo graduação brita 0, prediz a capacidade do momento último com limites<br />
razoáveis.<br />
O material entulho reciclado possui um grande potencial de utilização, porém<br />
estudos mais profundados devem ser conduzidos. A continuidade das pesquisas<br />
certamente fornecerá o respaldo final para utilização em larga escala deste material<br />
alternativo de construção.<br />
Finalmente podemos concluir que ao se investir numa conscientização para<br />
reutilização dos resíduos de uma forma geral, e mais especificamente para utilização<br />
de agregados graúdos reciclados em concretos estruturais de baixa e média<br />
resistências, estar-se-á contribuindo com a qualidade ambiental, considerando-se a<br />
não deposição clandestina do entulho na malha urbana e ainda podendo significar a<br />
redução de custos nas obras destinadas às classes sociais de baixa renda.<br />
10 AGRADECIMENTOS<br />
Os autores agradecem ao DERMURP e à Estação de Reciclagem de Entulhos<br />
de Ribeirão Preto, S.P., pelo fornecimento do entulho reciclado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido...<br />
57<br />
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1984). NBR 5738 -<br />
Moldagem e cura de corpos de prova de concreto, cilíndricos ou prismáticos.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1980). NBR 5739 - Ensaios<br />
de compressão de corpos de prova cilíndricos de concreto.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983). NBR 7211 - Agregado<br />
para concreto.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1982). NBR 7251 - Agregado<br />
em estado solto. Determinação da massa unitária.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983). NBR 7810 - Agregado<br />
em estado compactado seco. Determinação da massa unitária.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1987). NBR 9776 -<br />
Agregados - Determinação da massa específica de agregados miúdos por meio<br />
do frasco de Chapman.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1987). NBR 9937 -<br />
Agregados - Determinação da absorção e da massa específica de agregado<br />
graúdo.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1988). NBR 10342 -<br />
Concreto fresco. Perda de abatimento.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1987). NBR 9833 - Concreto<br />
fresco - Determinação da massa específica e do teor de ar pelo método<br />
gravimétrico.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1995). NBR 7584 - Concreto<br />
endurecido - Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983). NBR 7222 -<br />
Argamassas e concretos - Determinação da resistência à tração por compressão<br />
diametral de corpos de prova cilíndricos.<br />
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (1994). C 78 - Standard test<br />
method for flexural strength of concrete (using simple beam with third- point<br />
loading).<br />
DERMURP (1997). Diagnóstico da central de reciclagem de resíduo de construção<br />
civil de Ribeirão Preto, S.P.<br />
GIONGO, J.S. (1991). Argamassa armada: exemplo de cálculo de uma viga calha.<br />
São Paulo, ABCP.<br />
KHALOO, A. R. (1995). Crushed tile coarse agregate concrete. Cement, Concrete<br />
and Agregates, v. 17, n 2, p 119-125, Dec.<br />
LATTERZA, L.M. (1998). Concreto com agregado graúdo proveniente da<br />
reciclagem de resíduos de construção e demolição: um novo material para<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
58<br />
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.<br />
fabricação de painéis leves de vedação. Dissertação (Mestrado) – Escola de<br />
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.<br />
NEVILLE, A. M. (1997). Propriedades do concreto. 2 . .ed. São Paulo, Pini.<br />
PINTO, T. P. (1997). Resultados da gestão diferenciada. Téchne, São Paulo, n.31,<br />
p.1-34, nov/dez.<br />
RAPHAEL, J. M. (1984). Tensile strength of concrete. ACI Journal, v. 81, n. 2, p. 158-<br />
165, Mar/Apr.<br />
RILEM TC 121-DRG (1994). Specifications for concrete with recycled aggregates.<br />
Materials and Structures, v.27, p.557-559.<br />
SADEGZADEH, M; KETTLE, R. (1986). Indirect and non-destructive methods for<br />
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n.137, p. 183 - 190, Dec.<br />
ZORDAN, S. E. (1997). A utilização do entulho como agregado, na confecção do<br />
concreto. Campinas. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas -<br />
UNICAMP.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.
REFORÇO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO<br />
POR MEIO DE ENCAMISAMENTO COM<br />
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO<br />
Adilson Roberto Takeuti 1 & João Bento de Hanai 2<br />
RESUMO<br />
Apresentam-se os resultados de uma investigação experimental realizada por TAKEUTI<br />
(1999), constituída de três séries de ensaio, cada uma envolvendo dois modelos: um<br />
pilar básico de concreto armado, representando o pilar a ser reforçado e um pilar<br />
básico reforçado por camisas de concreto de alto desempenho com várias<br />
características. Tem-se ainda uma quarta série envolvendo pilares de concreto de<br />
resistência de 25 MPa a 35 MPa. Os pilares foram submetidos à compressão axial por<br />
meio de uma máquina universal hidráulica servo-controlada. A fim de realizar os<br />
ensaios com controle de deslocamento foi adotada uma velocidade de 0,005mm/s.<br />
A força aplicada e a deformação continuaram sendo medidos após o alcance da força<br />
de ruína para avaliar o comportamento pós-pico, até uma força residual de cerca de<br />
50% da força de pico. Modelos teóricos de cálculo da resistência última dos pilares<br />
reforçados foram analisados. Também foram testados modelos de análise do<br />
confinamento e da ductilidade para os elementos reforçados.<br />
Palavras-chave: concreto de alto desempenho; pilares; reforço; encamisamento; fibras<br />
de aço.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
De tempos em tempos a comunidade técnica se depara com casos de ruína<br />
de pilares por falha de projeto, de execução ou de uso, chegando-se às vezes à<br />
medida extrema de implosão de prédios. Uma solução para esse tipo de incidente<br />
poderia eventualmente ser o reforço das estruturas, para o que seria imprescindível o<br />
conhecimento mais preciso possível do comportamento estrutural dos reforços, para<br />
se chegar a uma solução viável e principalmente segura.<br />
Contudo, os métodos e técnicas de reabilitação das estruturas de concreto,<br />
apesar do rápido desenvolvimento, ainda se baseiam na experiência empírica<br />
acumulada, devido ao caráter artesanal e incomum dos processos de reabilitação,<br />
uma vez que cada problema enfrentado tem suas próprias características.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas, Aluno de Doutorado na EESC-<strong>USP</strong>, atakeuti@sc.usp.br<br />
2 Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jbhanai@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
60<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
Visando contribuir à melhor compreensão do comportamento estrutural das<br />
estruturas reabilitadas, o presente trabalho enfatiza o estudo de pilares de concreto<br />
armado reforçados por meio de encamisamento com concreto de alto desempenho,<br />
procurando-se explorar os atributos de alta resistência à compressão dos concretos<br />
com adição de sílica ativa ou de maior tenacidade no caso de concretos com fibras de<br />
aço.<br />
Utilizou-se o reforço de elementos estruturais com concreto armado pelo fato<br />
dele ser um material muito empregado devido às suas vantagens econômicas e<br />
rapidez de execução. Porém, possui, dentre outras desvantagens, a de produzir<br />
elementos finais de dimensões muito superiores às iniciais, previstas no projeto. No<br />
entanto, o uso do concreto de alto desempenho no reforço, pode resultar na adoção<br />
de uma espessura da camisa relativamente pequena, não alterando muito as<br />
dimensões iniciais do pilar.<br />
2 ANÁLISE EXPERIMENTAL<br />
Utilizou-se dois modelos para a análise experimental, sendo o primeiro um pilar<br />
de referência de dimensões (15x15x120)cm, com armadura longitudinal de 4 barras<br />
de 8 mm de diâmetro e estribos de 6,3 mm de diâmetro espaçados a cada 9 cm. O<br />
segundo modelo trata-se de um pilar idêntico ao de referência, reforçado com camisas<br />
de 3 e 4 cm de espessura, utilizando-se uma ou duas camadas de tela soldada como<br />
armadura transversal e 4 barras de 8 mm de diâmetro como armadura longitudinal.<br />
Apresenta-se na Figura 1 um esquema da armação dos modelos ensaiados.<br />
PILAR DE REFERENCIA<br />
15<br />
PILAR REFORÇADO<br />
4 15 4<br />
80 20<br />
11<br />
11<br />
15<br />
12.0<br />
Armadura longitudinal<br />
4 Ø 8,0mm c=117cm<br />
3.0<br />
12.0<br />
5<br />
Estribos<br />
9 Ø 6,3 c/ 9cm c=58cm<br />
2.5 2.5<br />
3.0<br />
20<br />
80<br />
20<br />
22.0<br />
Estribos<br />
40 Ø 6,3 c/ 1,5cm c=104cm<br />
TELAS DA ARMADURA DE REFORÇO<br />
1 camada<br />
2 camadas<br />
Malha - EQ120(Ø 2,76mm)<br />
23<br />
Armadura longitudinal<br />
4 Ø 8,0mm c=117cm<br />
Armadura de fretagem<br />
22.0<br />
8<br />
23<br />
Malha - EQ120(Ø 2,76mm)<br />
20<br />
Armadura de fretagem<br />
54 Ø 6,3 c/ 2cm c=70cm<br />
Obs.: medidas em cm<br />
20<br />
20 19<br />
20<br />
20<br />
altura 117cm<br />
largura 60cm<br />
19<br />
20<br />
19<br />
altura 117cm<br />
largura 57cm<br />
20<br />
20<br />
19<br />
20<br />
Figura 1 - Dimensões e armaduras dos elementos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
61<br />
Foram ensaiadas 4 séries de modelos, perfazendo no total 18 ensaios de<br />
pilares solicitados à compressão axial, sendo 11 pilares de referência e 7 pilares<br />
reforçados por meio de encamisamento com concreto de alto desempenho, conforme<br />
consta do resumo apresentado na Tabela 1.<br />
Empregou-se Cimento Portland da classe CP-II-E-32, proveniente da<br />
Companhia Eldorado, para o concreto com resistência aproximada de 18 MPa aos 14<br />
dias. No caso do concreto de alto desempenho, empregou-se o Cimento Portland<br />
CPV-ARI-PLUS da fábrica CIMINAS.<br />
O superplastificante empregado foi o REAX-1000A da Reax Indústria e<br />
Comércio Ltda, e a sílica ativa foi cedida pela Camargo Correâ Cimentos S.A.<br />
Foi utilizado como agregado graúdo no concreto de alto desempenho,<br />
pedrisco proveniente da região de Ribeirão Preto-SP, e no concreto de resistência<br />
normal, pedra britada número 1 da região de São Carlos. A areia utilizada foi<br />
proveniente do Rio Mogi-Guaçú.<br />
As fibras empregadas nos modelos foram a fibra de aço do tipo DRAMIX RL<br />
45/30 BN, doada pela BEMAF- Belgo-Mineira/Bekaert Arames Finos Ltda, sendo<br />
utilizada uma taxa de 0,5% do volume de concreto.<br />
TABELA 1 - Descrição das séries<br />
SÉRIES<br />
1<br />
utiliza-se uma camisa de reforço<br />
com espessura de 3cm e 1 ou 2<br />
camadas de telas soldadas, sem<br />
adição de fibras.<br />
2<br />
utiliza-se uma camisa de reforço<br />
com espessura de 4cm e 1 ou 2<br />
camadas de telas soldadas, sem<br />
adição de fibras.<br />
3<br />
utiliza-se uma camisa de reforço<br />
de concreto de alta resistência<br />
com fibras metálicas e de<br />
espessura de 4cm.<br />
4<br />
trata-se de uma série<br />
complementar de pilares<br />
(15x15)cm de concretos de<br />
resistência f cm = 25 e 35 MPa,<br />
com o objetivo de observar o<br />
comportamento de concretos com<br />
resistência próxima aos limites do<br />
concreto de alta resistência.<br />
MODELOS<br />
S1C1R e S1C2R: pilares de referência<br />
(15x15)cm.<br />
S1C1S e S1C2S: pilares reforçados (21x21)cm.<br />
S2C1R e S2C2R: pilares de referência<br />
(15x15)cm.<br />
S2C1S e S2C2S: pilares reforçados (23x23)cm.<br />
S3C1S: utiliza só armadura longitudinal sem<br />
qualquer tipo de armadura transversal<br />
(23x23)cm;<br />
S3C2S: utiliza 1 camada de tela soldada<br />
(23x23)cm;<br />
S3C3S: utiliza armadura transversal mínima<br />
para pilares (23x23)cm.<br />
S4C1R/S4C2R: utilizam concreto de resistência<br />
f cm = 25 MPa.<br />
S4C3R/S4C4R: utilizam concreto de resistência<br />
f cm = 35 MPa.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
62<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
Partindo-se de um traço base e após várias correções, obteve-se um concreto<br />
com resistência à compressão aos 7 dias da ordem de 65 MPa e um índice de<br />
consistência de cerca de 250mm para o concreto do reforço. Pode-se observar na<br />
Tabela 2 o consumo de materiais ( em kg/m3).<br />
Na Série 3, foram adicionadas fibras de aço ao concreto, com volume relativo<br />
de 0,5%, sendo apenas modificada a relação a/c para 0,40, mantendo-se os demais<br />
valores e obtendo-se uma boa trabalhabilidade.<br />
Para a determinação do traço a ser empregado na execução do pilar a ser<br />
reforçado, partiu-se de um traço base em que se utiliza brita número 1 como agregado<br />
graúdo, para obtenção de um concreto com resistência à compressão aos 14 dias em<br />
torno de 25 MPa. Após várias correções e traços testados, obteve-se um traço de<br />
concreto com resistência à compressão aos 14 dias da ordem de 20 MPa e um índice<br />
de slump de cerca de 170mm. Pode-se observar na Tabela 2 o consumo de materiais<br />
( em kg/m3).<br />
TABELA 2 - Descrição dos traços de concreto utilizados<br />
Material<br />
(Kg/m3)<br />
Traço<br />
Pilar de referência<br />
Traço<br />
Camisa de reforço<br />
Traço com fibras<br />
Camisa de reforço<br />
Cimento CP V ARI Plus - 627,00 627,00<br />
Cimento CP II E 32 271,00 - -<br />
Areia 813,00 627,00 627,00<br />
Brita 1 1219,50 - -<br />
Pedrisco - 940,50 940,50<br />
Água 172,15 262,08 250,80<br />
Sílica Ativa - 62,70 62,70<br />
Superplastificante 2,71 18,81 18,81<br />
Fibras de Aço<br />
- - 39,25<br />
DRAMIX RL 45/30 BN<br />
Total 2490,49 2538,10 2566,06<br />
Cabe ressaltar que para a execução do pilar reforçado não se escarificou o<br />
pilar de referência (núcleo), para evitar a introdução de uma variável difícil de<br />
controlar, que é a dimensão final do núcleo.<br />
Para que a aplicação da carga ocorresse simultaneamente no núcleo original<br />
e no reforço, foram feitas chapas de aço com contenções laterais posicionadas nas<br />
extremidades de topo e base do modelo, conforme a Figura 2. Para a regularização<br />
da superfície foi aplicada massa plástica polimérica de endurecimento rápido (massa<br />
de funileiro) a fim de garantir uma deformação simultânea do conjunto.<br />
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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
63<br />
VISTA SUPERIOR<br />
A<br />
200mm<br />
2<br />
200mm<br />
176<br />
barra quadrada<br />
2<br />
chapa<br />
A<br />
massa plástica<br />
CORTE A-A<br />
barra quadrada<br />
solda<br />
chapa<br />
núcleo<br />
camisa<br />
barra quadrada<br />
chapa<br />
barra quadrada<br />
chapa ( 200 x 200 x 25,4)mm<br />
Figura 2 - Detalhe das chapas de aço nas extremidades dos modelos<br />
Para facilidade de execução dos modelos foram preparadas fôrmas com<br />
enchimento lateral para os pilares de referência a serem reforçados (Foto 1a). Para os<br />
pilares reforçados, adotou-se como processo construtivo a moldagem da camisa com<br />
uso de fôrmas, com enchimento pelo topo (Foto 1b). Em ambas as moldagens as<br />
fôrmas foram fixadas a uma mesa vibratória.<br />
( 1a ) ( 1b )<br />
Fotos 1a e 1b - Fôrmas utilizadas<br />
A instrumentação do modelo reforçado consistiu na utilização de 8<br />
extensômetros elétricos de resistência modelo KFG-S-120-C1-11 da marca KYOWA,<br />
instalados em algumas barras longitudinais e transversais, e transdutores de<br />
deslocamento marca KYOWA com curso nominal de 10 mm e resolução de 0,01 mm,<br />
nas quatro faces do elemento. No pilar de referência a única diferença em relação aos<br />
pilares reforçados, foi a utilização de apenas 4 extensômetros elétricos de resistência.<br />
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64<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
A instrumentação utilizada nos dois elementos ensaiados pode ser vista no esquema<br />
da Figura 3.<br />
Máquina de<br />
ensaio<br />
Modelo<br />
Sistema de<br />
Aquisição de<br />
dados<br />
Foto 2 - Esquema de ensaio<br />
O ensaio das séries foi feito com o controle de deslocamento do topo da peça,<br />
utilizando-se a máquina de ensaio servo-hidráulica INSTRON modelo 8506, com<br />
controle digital por computador, com capacidade máxima de 2500 kN e espaço de<br />
ensaio de (822x514x4000) mm, a qual pode ser observada na Foto 2.<br />
A medição das deformações foi feita por meio de extensômetros elétricos,<br />
com o emprego do sistema de aquisição de dados SYSTEM 5000, da Measurements<br />
Group.<br />
Os ensaios iniciaram-se aplicando-se a força com uma velocidade de<br />
deslocamento de 0,005 mm/s até o ponto de 80% da força de ruptura estimada, daí<br />
mudando-se a velocidade para 0,003 mm/s até o final do ensaio, para que se pudesse<br />
estudar o comportamento dos modelos anteriormente e posteriormente à ruptura.<br />
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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
65<br />
Pilares de referência<br />
Pilares reforçados<br />
C<br />
11<br />
4<br />
2<br />
12<br />
1<br />
3<br />
D<br />
9<br />
A<br />
11<br />
C<br />
8<br />
D 12<br />
1<br />
4 3<br />
2<br />
5<br />
7<br />
9<br />
A<br />
10<br />
B<br />
extensômetros longitudinais<br />
extensômetros transversais<br />
9 10 11 12<br />
transdutores de deslocamento<br />
canal 1: barra longitudinal<br />
canal 2: barra longitudinal<br />
canal 3: estribo<br />
canal 4: estribo<br />
canal 9: face externa A<br />
canal 10: face externa B<br />
canal 11: face externa C<br />
canal 12: face externa D<br />
1<br />
2<br />
3 4<br />
6<br />
10<br />
B<br />
extensômetros longitudinais<br />
extensômetros transversais<br />
9 10 11 12<br />
transdutores de deslocamento<br />
1<br />
2<br />
3 4<br />
7 8<br />
canal 1: barra longitudinal/núcleo<br />
canal 2: barra longitudinal/núcleo<br />
canal 3: estribo/núcleo<br />
canal 4: estribo/núcleo<br />
canal 5: barra longitudinal/camisa<br />
canal 6: barra longitudinal/camisa<br />
canal 7: tela soldada/sentido transversal<br />
canal 8: tela soldada/sentido transversal<br />
canal 9: face externa A<br />
canal 10: face externa B<br />
canal 11: face externa C<br />
canal 12: face externa D<br />
5<br />
6<br />
Figura 3 - Esquema da instrumentação<br />
3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS<br />
Na Tabela 3 podem ser observados os valores das forças últimas<br />
experimentais registradas pelo sistema de aquisição de dados, bem como a<br />
resistência à compressão dos concretos utilizados nos modelos e as datas de ensaio.<br />
Para a obtenção dos valores da resistência das barras e telas de aço, foram<br />
executados ensaios com controle de deformação em cada amostra de material,<br />
obtendo-se curvas tensão versus deformação, sendo possível avaliar com precisão a<br />
parcela de resistência oferecida pelas barras e telas em cada ensaio.<br />
No trabalho experimental os ensaios foram executados em idades inferiores a<br />
28 dias e com ações de curta duração, e as resistências dos concretos foram medidas<br />
em corpos-de-prova cilíndricos de 100 mm de diâmetro da base e 200 mm de altura.<br />
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66<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
A correlação entre a resistência do concreto do modelo e a determinada para os<br />
corpos-de-prova foi feita através do coeficiente k = 0,90, conforme indicações da<br />
bibliografia. Os valores contidos na Tabela 3 já foram convertidos.<br />
TABELA 3 - Dados experimentais obtidos para cada modelo ensaiado<br />
Modelo f c (núcleo)<br />
MPa<br />
f c (camisa)<br />
MPa<br />
f y (barra)<br />
MPa<br />
f y (tela)<br />
MPa<br />
Ruína<br />
(kN)<br />
S1C1R 18,39 - 427,8 - 488<br />
S1C1S 18,39 68,35 441 672,8 1540<br />
S1C2R 16,89 - 548,5 - 483<br />
S1C2S 16,89 63,34 401,8 649,7 1749<br />
S2C1R 17,43 - 470 - 517<br />
S2C1S 17,43 67,21 566,9 733,5 1850<br />
S2C2R 15,55 - 548,5 - 422<br />
S2C2S 15,55 65,57 384,5 636,5 1840<br />
S3C1R 17,34 - 441 - 512<br />
S3C1S 17,34 68,66 401,8 - 2200<br />
S3C2R 13,67 - 427,8 - 421<br />
S3C2S 13,67 60,94 463,0 685,3 1920<br />
S3C3R 12,92 - 410,4 - 490<br />
S3C3S 12,92 68,95 384,5 - 2210<br />
S4C1R 23,03 - 463,1 - 651<br />
S4C2R 23,03 484,1 - 639<br />
S4C3R 33,64 - 441,1 - 749<br />
S4C4R 33,64 - 470,1 - 715<br />
A partir dos dados obtidos pelo sistema de aquisição, foram elaboradas<br />
planilhas e em seguida diagramas força x deformação (Figura 4 e Figura 5) e força x<br />
deslocamento para cada modelo ensaiado.<br />
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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
67<br />
Força Aplicada (kN)<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
S4C4R<br />
S3C1R<br />
S4C3R<br />
S3C2R<br />
S2C1R<br />
Gráfico Força x Deformação<br />
Pilares de Referência<br />
S4C2R<br />
S2C2R<br />
S4C1R<br />
S1C2R<br />
S1C1R<br />
S3C3R<br />
S1C1R<br />
S1C2R<br />
S2C1R<br />
S2C2R<br />
S3C1R<br />
S3C2R<br />
S3C3R<br />
S4C1R<br />
S4C2R<br />
S4C3R<br />
S4C4R<br />
0<br />
0 2 4 6 8<br />
Deformação ( o / oo<br />
)<br />
Figura 4 - Diagrama força x deformação dos pilares de referência<br />
Força Aplicada (kN)<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
S3C1S<br />
S2C1S<br />
S1C1S<br />
Gráfico Força x Deformação<br />
Pilares reforçados<br />
S3C2S<br />
S3C3S<br />
S2C2S<br />
S1C1S<br />
S1C2S<br />
S2C1S<br />
S2C2S<br />
S3C1S<br />
S3C2S<br />
S3C3S<br />
S1C2S<br />
0<br />
0 2 4 6 8 10 12 14<br />
Deformação ( o / oo<br />
)<br />
Figura 5 - Diagrama força x deformação dos pilares reforçados<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
68<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
Nos gráficos dos pilares de referência (Figura 4), verifica-se que os modelos<br />
de uma mesma classe de resistência apresentaram comportamento semelhante.<br />
Verifica-se também a influência da resistência do concreto no comportamento dos<br />
modelos, salientando-se que os modelos com a maior resistência do concreto<br />
apresentam uma queda mais acentuada na força residual do que os modelos de<br />
menor resistência.<br />
No caso dos pilares reforçados, pode-se constatar na Figura 5 o<br />
comportamento semelhante dos modelos reforçados com 1 camada de tela soldada,<br />
nos quais se verifica uma queda acentuada da força residual. O mesmo ocorreu no<br />
modelo S3C1S, que não apresentava armadura transversal de reforço, mas conta<br />
com concreto com fibras de aço na camisa.<br />
Nos pilares reforçados com 2 camadas de telas observou-se um<br />
comportamento semelhante para todos, notando-se que ocorreu uma queda menos<br />
acentuada em relação aos modelos com 1 camada de tela, o que evidencia a<br />
influência direta da armadura transversal no comportamento mais dúctil dos modelos.<br />
Apesar da máquina de ensaios ter-se desligado automaticamente no final do ensaio<br />
do modelo S3C3S, verifica-se que provavelmente seria um modelo mais dúctil em<br />
relação aos modelos com 2 camadas, devido à maior taxa de armadura transversal.<br />
Observa-se nas Fotos 3a até a 3g o modo de ruína dos pilares reforçados,<br />
sendo possível descrever para cada série o que ocorreu em seus ensaios:<br />
• na Série 1, o pilar S1C1S apresentou fissuras inclinadas e um destacamento do<br />
cobrimento após uma queda acentuada da força aplicada depois de atingir a<br />
força máxima de ensaio. O pilar S1C2S apresentou após atingida a força<br />
máxima de ensaio uma queda na força aplicada lenta, mostrando um<br />
comportamento dúctil do modelo, e ocorreu um destacamento do cobrimento na<br />
extremidade superior do pilar e as fissuras surgiram na direção vertical, o que<br />
representa a predominância da compressão no ensaio;<br />
• na Série 2, o modelo S2C1S apresentou fissuras inclinadas na seção média<br />
caracterizando a existência de flexão no ensaio, e ocorreu a queda acentuada<br />
da força aplicada após a força máxima de ensaio. O pilar S2C2S ocorreram<br />
quedas súbitas da força aplicada em alguns trechos, conforme Figura 5, fato<br />
este talvez ocasionado pelo rompimento de alguns trechos de tela que foram<br />
detectados após o ensaio.<br />
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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
69<br />
( 3a ) S1C1S ( 3b ) S1C2S ( 3c ) S2C1S<br />
( 3d ) S2C2S ( 3e ) S3C1S ( 3f ) S3C2S ( 3g ) S3C3S<br />
Fotos 3a até 3g - Modo de ruína dos pilares reforçados<br />
• Na Série 3, no pilar S3C1S o colapso foi ocasionado pela flambagem das barras<br />
longitudinais, devido a não existência da armadura transversal, o que ocasionou<br />
uma queda acentuada da força aplicada. No modelo S3C2S ocorreram fissuras<br />
inclinadas na seção média, indicando a presença de flexão. No pilar S3C3S<br />
ocorreram fissuras inclinadas na extremidade superior, após a queda da força<br />
aplicada, neste ensaio a máquina se desligou automaticamente, devido ao<br />
aquecimento da bomba hidráulica, prejudicando a fase final do ensaio.<br />
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70<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
4.1 Capacidade resistente<br />
A questão do cálculo da capacidade resistente em pilares reforçados é<br />
problemática, pois os pilares são elementos estruturais que absorvem ações oriundas<br />
de diversos pavimentos e na maioria das vezes não é possível aliviar o pilar destas<br />
ações.<br />
No trabalho experimental simulou-se o pilar descarregado na introdução do<br />
reforço, na tentativa de identificar os mecanismos resistentes dos modelos.<br />
Para determinar a capacidade resistente dos pilares reforçados, utilizou-se a<br />
equação de equilíbrio das forças verticais, supondo-se a perfeita solidariedade entre o<br />
concreto e a armadura:<br />
F u = A ccad f ccad +A c f cnu +A sb f yb +A st f yt<br />
onde:<br />
F u = capacidade resistente do modelo;<br />
A ccad = área de concreto da camisa de reforço;<br />
f ccad = resistência à compressão do concreto da camisa de reforço;<br />
A c = área de concreto do pilar original;<br />
f cnu = resistência à compressão do concreto do pilar original;<br />
A sb = área das armaduras longitudinais do pilar original e camisa de reforço,<br />
considerando só as barras de aço;<br />
f yb = resistência do aço medida no gráfico tensão x deformação das barras de aço;<br />
A st = área das telas de reforço no sentido longitudinal;<br />
f yt = resistência do aço medida no gráfico tensão x deformação das telas de aço.<br />
No caso de uso de concreto de alta resistência na camisa de reforço,<br />
conforme outros estudos realizados, pode-se também considerar apenas a área<br />
confinada pela armadura transversal de reforço:<br />
F un = A cconf f ccad +A c f cnu +A sb f yb +A st f yt<br />
onde A cconf é a área confinada da camisa, delimitada pela armadura transversal de<br />
reforço.<br />
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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
71<br />
Os valores obtidos pelas duas hipóteses de cálculo são apresentados na<br />
Tabela 4, onde constam também as relações entre valores teóricos e experimentais.<br />
TABELA 4 - Comparação dos resultados teóricos e experimentais da capacidade resistente dos<br />
modelos reforçados<br />
Modelo F exp (kN)<br />
( I )<br />
F u (kN)<br />
( II )<br />
F un (kN)<br />
( III )<br />
Relação<br />
( I / II )<br />
Relação<br />
( I / III )<br />
S1C1S 1540 2104,7 1305,0 0,73 1,18<br />
S1C2S 1749 1997,5 1256,4 0,87 1,39<br />
S2C1S 1850 2709,1 1842,1 0,68 1,01<br />
S2C2S 1840 2594,3 1748,5 0,71 1,05<br />
S3C1S 2200 2634,7 -* 0,83 -<br />
S3C2S 1920 2390,4 1604,2 0,80 1,20<br />
S3C3S 2210 2524,2 1634,7 0,87 1,35<br />
* Obs.: o modelo não apresentava armadura transversal<br />
Observa-se que nas Séries 1 e 3, os modelos apresentam valores<br />
experimentais bem superiores aos do modelo teórico considerando a seção delimitada<br />
pela armadura transversal do reforço. Isto pode ser conseqüência de uma<br />
configuração de seção resistente diferenciada no caso de camisas de espessura de 3<br />
cm, no caso da Série 1. Na Série 3, pode-se talvez atribuir a esta diferença a uma<br />
participação das fibras curtas de aço na resistência, ou ao aumento da seção<br />
resistente dos pilares.<br />
Para os pilares de referência foram obtidos os seguintes valores apresentados<br />
na Tabela 5.<br />
TABELA 5 - Comparação dos resultados teóricos e experimentais da capacidade resistente dos<br />
pilares de referência<br />
Modelo<br />
f cj<br />
(kN/cm 2 )<br />
Força de ruína<br />
experimental (kN)<br />
( I )<br />
Valor do Modelo de<br />
Cálculo Total (kN)<br />
( II )<br />
Relação<br />
(I/II)<br />
S1C1R 1,839 488 495,7 0,984<br />
S1C2R 1,689 483 486,3 0,993<br />
S2C1R 1,743 517 482,7 1,071<br />
S2C2R 1,555 422 456,5 0,924<br />
S3C1R 1,734 512 474,9 1,078<br />
S3C2R 1,367 421 390,4 1,078<br />
S3C3R 1,292 490 370,2 1,324<br />
S4C1R 2,303 651 606,2 1,074<br />
S4C2R 2,303 639 610,4 1,047<br />
S4C3R 3,364 749 838,4 0,893<br />
S4C4R 3,364 715 844,2 0,847<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
72<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
Ao analisar a capacidade resistente dos pilares de referência, verificou-se que<br />
o modelo de cálculo utilizando a seção integral dos modelos, foi eficiente na maioria<br />
dos casos. Porém nos modelos S4C3R e S4C4R, observou-se uma variação<br />
significativa, da ordem de 15%, o que pode talvez caracterizar um comportamento<br />
intermediário entre os concretos de resistência normal e os concretos de alta<br />
resistência, sendo preciso uma pesquisa mais detalhada sobre pilares de concreto<br />
com resistência à compressão na faixa de 35 MPa.<br />
Traçando-se um gráfico comparativo da capacidade resistente experimental<br />
dividida pela teórica versus a resistência à compressão dos concretos dos pilares<br />
(Figura 6), verifica-se que, à medida que se aumenta a resistência à compressão dos<br />
concretos, o cálculo teórico em que se considera a seção integral de concreto passa a<br />
fornecer valores cada vez mais contra a segurança.<br />
1,4<br />
Relação (Experimental/Teórica)<br />
1,3<br />
1,2<br />
1,1<br />
1<br />
0,9<br />
0,8<br />
10 15 20 25 30 35<br />
Resistência à compressão (MPa)<br />
Figura 6 - Gráfico comparativo da capacidade resistente dos pilares de referência<br />
4.2 Confinamento<br />
O efeito de confinamento nos pilares reforçados foi calculado conforme os<br />
modelos de CUSSON & PAULTRE(1993), SAATACIOGLU & RAZVI(1992) e<br />
FRANGOU et al.(1995). Todos estes modelos levam em consideração as<br />
características das armaduras longitudinais e transversais, sendo que os valores<br />
obtidos devido ao confinamento dos pilares é avaliado considerando a distribuição de<br />
pressões laterais f l produzidas pelas armaduras as quais são apresentadas na Figura<br />
7.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
73<br />
CONCRETO<br />
k.f l<br />
CONCRETO NÃO CONFINADO<br />
As<br />
fymáx<br />
real<br />
média<br />
= =<br />
f l<br />
Asf ymáx<br />
equivalente<br />
k.f l<br />
Figura 7 - Configuração da pressão lateral<br />
Resolveu-se adotar duas áreas de concreto confinado, conforme Figura 8,<br />
sendo a primeira considerando-se o efeito da armadura de reforço (Área 1) e a outra<br />
considerando-se o confinamento da armadura do pilar original (Área 2).<br />
ÁREA 1<br />
ÁREA 2<br />
( a ) seção transversal ( b ) vista tridimensional<br />
Figura 8 - Áreas de confinamento adotadas para o pilar reforçado<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
74<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
Os valores obtidos pelo efeito de confinamento, exercido pelas armaduras<br />
transversais e longitudinais existentes nos pilares, foram somados com o valor da<br />
capacidade resistente obtida pelo modelo de cálculo considerando a área delimitada<br />
pela armadura transversal, e os valores finais para cada modelos são apresentados<br />
em forma gráfica na Figura 9.<br />
2500<br />
EXPERIMENTAL CUSSON & PAULTRE SAATCIOGLU & RAZVI FRANGOU et al.<br />
1540<br />
1338<br />
1376<br />
1339<br />
1749<br />
1287<br />
1376<br />
1305<br />
1850<br />
1877<br />
1944<br />
1908<br />
2210<br />
Força (kN)<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
1840<br />
1801<br />
1850<br />
1795<br />
1920<br />
1645<br />
1703<br />
1684<br />
1647<br />
1688<br />
1804<br />
500<br />
0<br />
S1C1S S1C2S S2C1S S2C2S S3C2S S3C3S<br />
Figura 9 - Diagrama de comparação dos modelos de confinamento<br />
Observando-se o gráfico da Figura 9 verifica-se que não ocorreu um aumento<br />
significativo da resistência por efeito de confinamento, o que era esperado devido à<br />
utilização de pequenas taxas de armadura transversal na camisa de reforço e no pilar<br />
de referência. Porém ao se aplicar o processo de cálculo para os pilares de<br />
referência, conforme Figura 10, notou-se a validade do uso dos modelos de cálculo na<br />
quantificação do efeito de confinamento para os pilares ensaiados.<br />
900,00<br />
Ruína CUSSON & PAULTRE SAATCIOGLU & RAZVI FRANGOU et al.<br />
800,00<br />
700,00<br />
Força (kN)<br />
600,00<br />
500,00<br />
400,00<br />
300,00<br />
200,00<br />
100,00<br />
0,00<br />
S1C1R S1C2R S2C1R S2C2R S3C1R S3C2R S3C3R S4C1R S4C2R S4C3R S4C4R<br />
Figura 10 - Diagrama comparativo do efeito de confinamento nos pilares de referência<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
75<br />
4.3 Ductilidade<br />
Ductilidade é uma medida da capacidade de absorção de energia de um<br />
elemento, e por este motivo é usada para caracterizar a capacidade de deformação<br />
plástica do elemento estrutural após a força última. Não existem normas específicas<br />
para calcular, quantificar e avaliar o comportamento da ductilidade dos elementos de<br />
concreto armado. No entanto, existem normas como a ACI 544.2R-89 (1989), ASTM<br />
C1018-94 (1994) e JSCE SF5 (1984), que calculam índices de tenacidade para os<br />
concretos armados com fibras de aço em peças solicitadas à flexão.<br />
Fu<br />
A<br />
B<br />
Pilar de referência ou reforçado<br />
Modelo Elasto-plástico<br />
C<br />
D<br />
I<br />
I<br />
I<br />
5<br />
10<br />
30<br />
Area OABG<br />
=<br />
Area OAH<br />
Area OABCF<br />
=<br />
Area OAH<br />
Area OABCDE<br />
=<br />
Area OAH<br />
Força<br />
Aref<br />
O<br />
H<br />
δ<br />
G<br />
F<br />
3δ 5,5δ<br />
Deslocamento<br />
E<br />
15,5δ<br />
Figura 11 - Adaptação do modelo da ASTM C1018(1994)<br />
Na avaliação da ductilidade dos modelos ensaiados, fez-se uma adaptação do<br />
modelo utilizado pela ASTM C1018(1994), que originalmente consiste no cálculo de<br />
índices de tenacidade (I 5 , I 10 , etc.) obtidos pela divisão da área do gráfico força versus<br />
deslocamento em pontos de deslocamento pré-definidos. O modelo original é utilizado<br />
na determinação da tenacidade de peças fletidas executadas com concreto com<br />
adição de fibras. A adaptação ocorreu na consideração do deslocamento<br />
correspondente à primeira fissura como sendo aquele que corresponde ao final do<br />
trecho elástico linear do gráfico força x deslocamento de um modelo elasto-plástico<br />
linear, traçado a partir do trecho linear do modelo, conforme a Figura 11.<br />
Aplicando o modelo adaptado da ASTM C1018 (1994), obteve-se os<br />
resultados da Tabela 6.<br />
Analisando os resultados, tem-se:<br />
• os modelos S1C1S, S2C1S, S3C1S e S3C2S não apresentaram condições<br />
para o cálculo dos índices de ductilidade, o que pode classificá-los como<br />
modelos frágeis;<br />
• ao avaliar os modelos S1C2S, S2C2S e S3C3S, verifica-se que os índices de<br />
ductilidade calculados são coerentes com os gráficos força x deformação dos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
76<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
elementos. No caso do modelo S1C2S, verifica-se os maiores valores, o que se<br />
confirma no seu gráfico força x deformação, tendo sido o modelo com maior<br />
capacidade de deformação dos ensaios. Já no modelo S3C3S, a sua avaliação<br />
foi prejudicada por um problema de desligamento automático da máquina de<br />
ensaio, sendo que o modelo poderia apresentar ótimos índices de ductilidade;<br />
• verifica-se que a adaptação feita no modelo da ASTM para o cálculo dos índices<br />
de ductilidade, nos pilares reforçados, mostra-se coerente com os gráficos de<br />
força x deformação dos modelos.<br />
TABELA 6 - Índices de ductilidade dos pilares reforçados<br />
Modelo I 5 I 10<br />
S1C1S -o- -o-<br />
S1C2S 4.40 7.41<br />
S2C1S -o- -o-<br />
S2C2S 4.17 6.20<br />
S3C1S -o- -o-<br />
S3C2S -o- -o-<br />
S3C3S 3.87 -o-<br />
5 CONCLUSÕES<br />
A utilização de camisas de reforço de pequena espessura, com emprego de<br />
concretos de alto desempenho, mostrou-se interessante e merecedora de maior<br />
atenção, uma vez que com um acréscimo relativamente pequeno das dimensões dos<br />
pilares, aumentou-se consideravelmente a sua capacidade resistente. No entanto,<br />
observou-se também que alguns cuidados devem ser tomados para que se consiga,<br />
nos pilares reforçados, adequados níveis de resistência e de ductilidade.<br />
Nos modelos ensaiados, observou-se um aumento da capacidade resistente<br />
dos pilares reforçados em torno de 3 a 5 vezes o valor obtido para os pilares de<br />
referência, para um aumento da largura do pilar de 15cm para 21 cm ou 23 cm.<br />
Ao se analisar a eficiência dos arranjos de armaduras de reforço, confirmando<br />
informações dadas por outros pesquisadores, constatou-se a grande influência da<br />
taxa de armadura transversal na resistência e na deformabilidade dos pilares. O uso<br />
de maiores taxas de armadura transversal, adequadamente disposta, proporciona um<br />
melhor confinamento da parte interna da seção, que inclui a seção do pilar original, a<br />
qual continua a contribuir na capacidade resistente, pelo menos neste estudo em que<br />
não se considera o efeito de pré-carregamento.<br />
Ao avaliar a capacidade resistente dos pilares ensaiados por meio dos<br />
diversos modelos teóricos, verificou-se que:<br />
• a consideração da seção resistente como sendo apenas a área de concreto<br />
delimitada pelas armaduras transversais de reforço, fornece os valores mais<br />
conservativos, isto é, sempre a favor da segurança;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
77<br />
• os modelos da Série 1 apresentam valores teóricos ainda mais inferiores, o que<br />
pode ser um efeito da pequena espessura, sendo que neste caso a seção<br />
resistente real poderia estar sendo maior que a teórica;<br />
• na Série 3, verifica-se que a diferença entre os valores experimentais e teóricos<br />
estimados foi maior do que na Série 2, mesmo tratando-se de modelos<br />
semelhantes, o que pode estar evidenciando um aumento da seção contribuinte<br />
devido à presença das fibras de aço;<br />
• a aplicação dos modelos de cálculo que levam em consideração o efeito de<br />
confinamento mostraram resultados que em geral podem ser considerados<br />
bons.<br />
A adição de fibras de aço ao concreto da camisa de reforço apresentou<br />
resultados que ainda não se mostram satisfatoriamente esclarecedores, sugerindo a<br />
realização de outros ensaios, visto que:<br />
• observou-se uma tendência de aumento da capacidade resistente dos pilares<br />
reforçados com CAF, considerando-se que o modelo S3C2S mostrou uma<br />
capacidade resistente maior que a do seu similar S2C1S, de concreto sem<br />
fibras, embora este último apresentasse concretos de resistências superiores às<br />
do primeiro, tanto no núcleo como na camisa;<br />
• verificou-se também que a capacidade resistente calculada pelos modelos<br />
teóricos, no caso de camisas de CAF, mostrou-se sempre menor que a<br />
observada experimentalmente;<br />
• por outro lado, não se verificou um melhor desempenho quanto à ductilidade,<br />
talvez pela utilização de uma taxa pequena de fibras, ou por um direcionamento<br />
das fibras, decorrente da pequena espessura de camisa.<br />
Na análise da ductilidade, verificou-se que:<br />
• os índices obtidos pelo método baseado na ASTM C1018-94 apresentaram<br />
valores coerentes, quando analisados em conjunto com os gráficos força x<br />
deformação dos modelos reforçados.<br />
6 SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS<br />
O campo de estudo sobre reforço de pilares é complexo e sujeito a um grande<br />
número de variáveis e difíceis condições de realização, mas importantes avanços têm<br />
sido alcançados nos últimos anos, e algumas sugestões de pesquisas futuras são<br />
resumidas a seguir:<br />
• estudo da introdução do reforço em pilares onde não ocorre o<br />
descarregamento, a fim de avaliar o comportamento nesta situação, que é a<br />
mais próxima da situação real de execução;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
78<br />
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai<br />
• análise da interferência das deformações dependentes do tempo tais como<br />
retração e fluência do concreto no elemento estrutural reabilitado como um<br />
todo. Estes fatores podem afetar a eficiência do reparo ou reforço, pois a<br />
estrutura a ser reabilitada normalmente já foi submetida a carregamentos que<br />
geram deformações, enquanto os materiais utilizados no reforço ainda não<br />
sofreram estes tipos de solicitações e acomodações, devendo-se ainda<br />
considerar a diferença de qualidade, interação e do tempo de carregamento dos<br />
diversos materiais;<br />
• análise de reforços parciais, ou seja, em uma, duas ou três faces, sem o efeito<br />
de confinamento;<br />
• variação da forma da seção tranversal, estudando-se os efeitos de<br />
confinamento produzido pelas camisas de reforço;<br />
• estudo da influência de diversas taxas de fibras de aço;<br />
• aprimoramento de modelos de avaliação da ductilidade no caso de pilares;<br />
• estudo das ligações laje/viga/pilar, analisando-se o efeito interação de esforços<br />
nesta ligação.<br />
7 AGRADECIMENTOS<br />
Os autores manifestam sua gratidão à FAPESP-Fundação de Amparo à<br />
Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo financiamento dos ensaios realizados, e ao<br />
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela<br />
concessão de bolsa de estudo, às empresas Reax Indústria e Comércio Ltda,<br />
Camargo Corrêa Cimentos S.A. e à BEMAF- Belgo-Mineira/Bekaert Arames Finos<br />
Ltda., pela doação dos materiais para execução dos ensaios.<br />
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Committee 544 (1989). ACI 544.2R-89:<br />
Measurement of properties of fiber reinforced concrete. Detroit, USA. 11p.<br />
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (1994). ASTM C1018:<br />
Standard test method for flexural toughness and first crack strength of fiber reinforced<br />
concrete. Book of ASTM Standards. ASTM, Philadelphia.<br />
CUSSON, D. ; PAULTRE, P. (1993). Confinement model for high-strength concrete<br />
tied columns. Universtity of Sherbrooke, SMS-93/02, October. 54p.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento...<br />
79<br />
FRANGOU, M.; PILAKOUTAS, K; DRITSOS, S.E. (1995). Structural<br />
repair/strengthening of R.C. columns. Construction and Building Materials, v. 9, n.5,<br />
p.259-265.<br />
JAPAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS (1984). Method of test for compressive<br />
strength and compressive toughness of steel fiber reinforced concrete. JSCE-<br />
SF5. Concrete Library of JSCE. Part III-2 Method of tests for steel fiber reinforced<br />
concrete. N. 3, June p-63-66.<br />
SAATCIOGLU, M.; RAZVI, S. R. (1992). Strength and ductility of confined concrete.<br />
Journal of Structural Engineering, v. 118, n. 6, p.1590-1607.<br />
TAKEUTI, A. R. (1999). Reforço de pilares de concreto armado por meio de<br />
encamisamento com concreto de alto desempenho. São Carlos. Dissertação<br />
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.
ANÁLISE EXPERIMENTAL DE PILARES DE<br />
CONCRETO ARMADO DE ALTA RESISTÊNCIA SOB<br />
FLEXO COMPRESSÃO RETA<br />
Romel Dias Vanderlei 1 & José Samuel Giongo 2<br />
RESUMO<br />
Com este projeto obtiveram-se informações sobre o comportamento de pilares sob<br />
compressão excêntrica, executados com concreto de alta resistência, com resistência<br />
média à compressão de 80MPa. Os pilares tinham seção transversal retangular 15cm x<br />
30cm com comprimento livre de 174cm. Foram analisados seis pilares, onde as<br />
variáveis foram as taxas de armaduras transversais e longitudinais. Os pilares foram<br />
ensaiados sob a ação de duas forças aplicadas de modos independentes. Uma força era<br />
aplicada na direção do eixo longitudinal do pilar e outra, paralela a esse, com<br />
excentricidade definida. Foram montados dispositivos de vinculações e sistema de<br />
transferências de forças nos pilares, procurando aproximar as situações de ensaios às<br />
do modelo teórico pretendido. Os pilares com menores taxas de armadura transversal,<br />
tiveram ruptura frágil da seção transversal central com flambagem das barras das<br />
armaduras longitudinais. Os pilares com maiores taxas de armadura transversal,<br />
apresentaram ruptura com ductilidade e esmagamento do concreto do lado mais<br />
comprimido. As deformações lidas nas barras posicionadas no lado mais comprimido,<br />
no instante da ruptura, ficaram entre 2,3‰ e 3‰. Utilizaram-se modelos teóricos<br />
propostos na literatura para obter os valores estimados das forças últimas e momentos<br />
fletores últimos, e comparou-os com os encontrados experimentalmente.<br />
Palavras-chave: concreto de alta resistência; pilares; flexo compressão.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O conceito de Concreto de Alta Resistência - CAR - tem variado ao longo dos<br />
anos, o que pode ser confirmado no boletim 197 CEB-FIP(1990), no qual consta a<br />
evolução na máxima resistência de projeto, sendo recomendado como limite superior<br />
da resistência característica do concreto à compressão 80MPa, no entanto, nas<br />
normas brasileiras, os modelos de verificação da segurança apresentados são válidos<br />
para resistência de até 50MPa. Após o advento da sílica ativa, o cimento deixou de<br />
ser o fator limitante para a obtenção de maiores resistências, que passam a depender<br />
1<br />
Professor Assistente do Depto. de Engenharia Civil da UEM, Doutorando EESC-<strong>USP</strong>, romel@sc.usp.br<br />
2<br />
Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jsgiongo@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
82<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
mais diretamente das propriedades dos agregados, que variam de região para região,<br />
em função da grande variabilidade das rochas existentes.<br />
Nos Estados Unidos e países da Europa, considera-se um concreto como de<br />
alta resistência, se apresentar uma resistência característica à compressão entre<br />
40MPa e 85MPa. No Brasil, conforme a NBR 8953 (1992), seriam os concretos C40 e<br />
C50 de Classe I, e Classe II ( C55 - C80).<br />
A obtenção do CAD com tais níveis de resistências requer um programa rígido<br />
de qualidade que inclui a seleção prévia dos materiais, execução adequada e perfeito<br />
controle.<br />
Os pilares se destacam no estudo da aplicação de concreto de alta<br />
resistência, pois são elementos estruturais utilizados para transpor as ações dos<br />
pavimentos das estruturas para as fundações, solicitadas basicamente à tensões<br />
normais de compressão, sob ação de força centrada ou excêntrica. São de extrema<br />
importância na construção de edifícios, pois todas as ações atuantes nas lajes e vigas<br />
são sustentadas pelos pilares, tornando-se, quando muito solicitado, de grandes<br />
dimensões. O uso de concreto de alta resistência nesses elementos vieram solucionar<br />
essa questão, podendo-se construir elementos submetidos à compressão com<br />
pequenas dimensões otimizando o espaço arquitetônico.<br />
As crescentes aplicações destes concretos, conduzem à necessidade de<br />
revisões nos parâmetros para implementação dos modelos de cálculo, e<br />
recomendações construtivas indicadas nas normas atuais ou, até mesmo, elaboração<br />
de novas normas que reflitam melhor o comportamento destes materiais.<br />
2 OBJETIVOS DA PESQUISA<br />
Analisaram-se os comportamentos de pilares moldados com CAR submetidos<br />
à esforços oriundos da flexo compressão reta, para que se possa futuramente, chegar<br />
a conclusões que podem ser utilizadas na rotina de projetos estruturais que garantam<br />
confiabilidade e segurança às estruturas feitas com CAD.<br />
Para isso, viabilizou-se modelo experimental de pilar, em concreto de alta<br />
resistência (f c = 80MPa), submetido à flexo compressão reta, de tal modo a se<br />
obterem resultados experimentais compatíveis com os resultados teóricos.<br />
Com relação à análise teórica, o modelo de verificação de equilíbrio da seção<br />
transversal para pilares de CAR, é o mesmo adotado para Concreto de Resistência<br />
Usual - CRU. A forma do diagrama tensão x deformação para o CAR difere do CRU,<br />
então, um dos objetivos era verificar a segurança da seção transversal, adotando os<br />
diagramas obtidos em ensaios de corpos-de-prova com o mesmo material dos<br />
modelos.<br />
Sabe-se que os pilares em CAR podem apresentar colapso frágil. Sendo<br />
conveniente que a ruína apresente características dúcteis, é necessário que se<br />
verifiquem os valores das taxas de armaduras longitudinais e transversais.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
83<br />
3 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />
3.1 Modelos ensaiados<br />
Em pesquisa desenvolvida por VANDERLEI (1999), foram ensaiados um total<br />
de 6 modelos, todos tinham seção transversal retangular 15cm x 30cm com<br />
comprimento livre de 174cm e resistência média à compressão do concreto aos 15<br />
dias de idade era de aproximadamente 80MPa. Os ensaios foram divididos em três<br />
séries, onde para cada uma destas, pretendeu-se avaliar o comportamento dos<br />
modelos com relação às armaduras adotados para cada pilar. A tabela 1 traz os<br />
detalhes dos modelos de pilares que se adotaram neste trabalho, com as respectivas<br />
resistências médias à compressão do concreto (f c ) medida em corpos-de-prova<br />
cilíndricos de 10cm de diâmetro e 20cm de altura, taxas de armaduras longitudinais<br />
(ρ L ) e transversais (ρ t ), quantidades e diâmetros das barras das armaduras<br />
longitudinais e os diâmetros e espaçamentos dos estribos. Os modelos são<br />
identificados pela sigla Pi/j, onde i = número da série, e j = número do pilar na série.<br />
TABELA 1 - Características dos modelos<br />
Pilar<br />
b<br />
cm<br />
h<br />
cm<br />
L<br />
cm<br />
f c<br />
MPa<br />
ρ L<br />
%<br />
Arm.<br />
Longit.<br />
ρ t<br />
%<br />
Estribo<br />
P1/1 30 15 174 88,9 2,26 8φ12,5 1,58 φ6,3c/5<br />
P1/2 30 15 174 85,7 2,26 8φ12,5 0,79 φ6,3c/10<br />
P1/3 30 15 174 82,6 2,26 8φ12,5 0,53 φ6,3c/15<br />
P2/1 30 15 174 90,1 1,26 8φ10,0 0,79 φ6,3c/10<br />
P2/2 30 15 174 89,6 1,26 8φ10,0 1,58 φ6,3c/5<br />
P3/1 30 15 174 87,4 3,45 8φ16,0 0,79 φ6,3c/10<br />
Como exemplo, o detalhamento da armadura e do pilar P1/1 é mostrado na<br />
figura 1.<br />
Armadura de<br />
fretagem<br />
Armadura de<br />
fretagem<br />
Estribos - Ø6,3<br />
Armadura de<br />
Fretagem - Ø6,3<br />
medidas em centímetros<br />
Figura 1 - Detalhes do modelo P1/1<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
84<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
Como armadura transversal, foram utilizados dois estribos superpostos para<br />
melhorar o confinamento do núcleo dos pilares. A armadura de fretagem foi usada nas<br />
extremidades dos pilares, em função da grande concentração de tensões nessas<br />
regiões, onde foi adotado arranjo de armadura proposto por LIMA, GIONGO &<br />
TAKEYA (1997), que mostrou grande eficiência, ou seja, não houve ruptura ou<br />
fissuração excessiva nas extremidades dos modelos.<br />
Inicialmente foi feito um modelo piloto para se ter idéia de como seria seu<br />
comportamento com relação às deformações das barras de aço, do concreto e os<br />
deslocamentos, além de se verificar as dificuldades que se teria na construção,<br />
moldagem, montagem no pórtico de reação e instrumentação do modelo.<br />
Com a série 1 teve-se o objetivo de definir taxa de armadura transversal que<br />
promovia melhor ductilidade dos modelos para uma taxa de armadura longitudinal de<br />
2,26%; com isto moldaram-se três modelos com diferentes taxas de armadura de<br />
confinamento.<br />
Na série 2, utilizou-se a taxa de armadura de confinamento mais efetiva da<br />
série 1 e verificou-se a sua eficiência com a diminuição da taxa de armadura<br />
longitudinal para 1,26%, sendo, para isto, ensaiados dois modelos com taxas de<br />
armaduras transversais diferentes.<br />
Na série 3 aumentou-se a taxa de armadura longitudinal para 3,45%, e usouse<br />
a melhor taxa de armadura transversal encontrada para as séries 1 e 2.<br />
As moldagens foram feitas com fôrmas de madeira posicionadas na<br />
horizontal, com adensamento por meio de mesa vibratória e adotou-se cobrimento de<br />
concreto nas armaduras transversais de 2cm de espessura. As curas dos modelos<br />
foram feitas envolvendo-os com esponja embebida em água por sete dias, logo após<br />
faziam-se as desformas onde os modelos eram secos no ambiente do laboratório até<br />
o dia do ensaio que se dava com 15 dias de idade.<br />
Para determinar a resistência média à compressão do concreto, moldaram-se<br />
corpos-de-prova cilíndricos de 10cm x 20cm, usando para adensamento mesa<br />
vibratória. Um dia depois da moldagem, os corpos-de-prova eram desmoldados e<br />
submersos em água até o sétimo dia de idade, onde eram retirados da água e<br />
colocados para secar no ambiente do laboratório. Eram feitos ensaios de compressão<br />
axial aos 7 dias e 15 dias; de compressão diametral aos 15 dias e também com<br />
deformação controlada para se determinar o módulo de deformação longitudinal do<br />
concreto e a deformação correspondente a tensão máxima de compressão.<br />
3.2 Propriedades dos materiais<br />
Os materiais utilizados para obtenção do concreto foram caracterizados<br />
segundo as normas da ABNT. Para alguns materiais foram seguidas as<br />
especificações dos fabricantes.<br />
Foi utilizado o cimento Portland de alta resistência inicial CP V ARI pela<br />
possibilidade de realização de ensaios dos elementos com idades menores. A sílica<br />
ativa utilizada foi a não densificada, SILMIX ND; seguindo indicação do fabricante, a<br />
massa específica era de 2222kg/m 3 . O aditivo superplastificante usado foi o RX 3000,<br />
com densidade de 1,16g/cm 3 .<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
85<br />
Foram escolhidos agregados, miúdo e graúdo, disponíveis na região de São<br />
Carlos, por meio de ensaios de granulometria, massa específica e massa unitária. A<br />
areia utilizada foi do tipo quartozita, classificada como média, com módulo de finura<br />
de 2,4, dimensão máxima característica igual a 2,4mm, a massa específica de<br />
2,68kg/dm 3 e a massa unitária igual a 1,44 kg/dm 3 . O agregado graúdo adotado foi<br />
pedra britada de origem basáltica, a massa específica foi de 2,86kg/dm 3 , massa<br />
unitária de 1,48kg/dm 3 e dimensão máxima característica de 19mm.<br />
Utilizaram-se como armadura longitudinal, barras de aço de diâmetro nominal<br />
de 10,0mm, 12,5mm e 16,0mm. Como armadura transversal, foram usadas barras de<br />
6,3mm de diâmetro. A tabela 2 apresenta a caracterização das barras das armaduras<br />
utilizadas.<br />
TABELA 2 - Caracterização das armaduras<br />
φ nominal<br />
mm<br />
A s<br />
cm 2<br />
E s<br />
MPa<br />
f y<br />
MPa<br />
ε y<br />
‰<br />
f u<br />
MPa<br />
6,3 0,31 194.674 595,6 3,37 877,7<br />
10,0 0,78 194.060 623,0 3,47 725,7<br />
12,5 1,23 168.841 502,1 2,99 826,5<br />
16,0 2,01 194.388 622,8 3,26 851,2<br />
3.3 Método de ensaio<br />
Baseados nos ensaios realizados por IBRAHIM & MAC GREGOR (1996),<br />
AZIZINAMINI & KEBRAEI (1996) e LIMA et al. (1997), elaborou-se sistema de ensaio<br />
que possibilitou a aplicação de duas forças independentes com excentricidade<br />
definida em relação ao eixo longitudinal do pilar, facilitando assim a aplicação e o<br />
controle das forças para que a distribuição de tensões fosse de acordo com o<br />
esperado no modelo teórico adotado.<br />
Para a aplicação das forças foram criados dois consolos, um no topo e outro<br />
na base dos modelos. Estes tiveram que ser projetados de modo que não ocorressem<br />
rupturas, pois o elemento que seria ensaiado era o pilar, e não o consolo. O<br />
detalhamento é mostrado na figura 2.<br />
medidas em centímetros<br />
Figura 2 - Detalhamento do consolo<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
86<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
A força centrada foi aplicada no eixo longitudinal do pilar, por meio de atuador<br />
hidráulico com capacidade de 5000kN agindo na base do pilar, acionados por bomba<br />
elétrica. A reação era dada por uma estrutura metálica na qual os modelos eram<br />
posicionados. A força excêntrica era aplicada nos consolos por dois atuadores<br />
hidráulicos de 300kN cada, acionados por bomba manual, e a ação era transmitida de<br />
um consolo para o outro por duas cordoalhas de aço de 12,5mm de diâmetro cada,<br />
como mostra a figura 3. Estas, atravessavam os consolos por meio de furos deixados<br />
na estrutura utilizando tubos de pvc de diâmetro de 19mm. Para facilitar o transporte<br />
do modelo foi deixado um furo na parte superior, localizado próximo ao centro de<br />
massa do pilar, para que se pudesse passar uma barra de aço por esse e assim içá-lo<br />
com ponte rolante.<br />
Célula de Carga<br />
5000kN<br />
Apoio Elástico<br />
4000kN<br />
Ancoragem<br />
da Cordoalha<br />
Cordoalha<br />
Ø12,5mm<br />
Apoio Elástico<br />
4000kN<br />
Atuador Hidráulico<br />
5000kN<br />
Atuador<br />
Hidráulico<br />
300kN<br />
Célula de Carga<br />
300kN<br />
Figura 3 - Sistema de ensaio<br />
Em se tratando da vinculação, era considerado no modelo teórico, pilar<br />
rotulado na base e no topo. Para se ter isso em laboratório, foram adotados aparelhos<br />
de apoio usados comumente para apoios em pontes, com capacidade de 4000kN,<br />
posicionados na base e no topo do pilar.<br />
As forças foram aplicadas em etapas onde a força excêntrica era 5% da força<br />
centrada. O pilar recebia ações conjuntas de modo que os esforços de flexão atuavam<br />
desde o início do ensaio procurando-se, assim, reproduzir situação real de edifícios<br />
onde os esforços normais e os momentos fletores atuavam simultaneamente e de<br />
forma gradual.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
87<br />
3.4 Instrumentação<br />
As forças foram controladas por células de carga, uma com capacidade de<br />
5000kN e outras duas com capacidade de 300kN para medirem as forças aplicadas<br />
pelos atuadores de mesma capacidade.<br />
As medidas das deformações e deslocamentos foram feitas por<br />
extensômetros elétricos de resistência, e transdutores de deslocamentos à base de<br />
extensômetros elétricos de resistência. As barras das armaduras longitudinais<br />
escolhidas foram as quatro centrais e o estribo era o que ficava na metade da altura<br />
do pilar, figura 4. As quatro barras longitudinais foram escolhidas na região central da<br />
seção transversal, onde esperava-se melhor distribuição das tensões nessa região,<br />
não se preocupando com eventuais excentricidades que causariam flexão oblíqua.<br />
As deformações no concreto foram medidas com extensômetros elétricos de<br />
resistência, posicionados na seção central do pilar, nas faces mais e menos<br />
comprimidas. Em cada face foram colocados dois extensômetros no sentido<br />
longitudinal do pilar, na mesma posição dos colados nas barras longitudinais, para<br />
que se pudessem comparar os resultados. Foram colocados também extensômetros<br />
no sentido transversal, nas mesmas posições dos instalados nos estribos, como<br />
mostra a figura 4.<br />
Célula de Carga<br />
5000KN<br />
Defletômetro<br />
LVDT<br />
Extensômetro<br />
Extensômetro nos<br />
estribos<br />
Células de Carga<br />
300KN<br />
Figura 4 - Detalhamento da instrumentação do pilar<br />
A deformação do pilar foi medida por meio de defletômetros, onde a região<br />
observada media 57cm. Os deslocamentos horizontais na região superior, inferior e<br />
no meio do pilar; e os verticais nas extremidades dos consolos foram medidos com<br />
transdutores de deslocamentos - LVDT, figura 4.<br />
Todas as leituras, em cada etapa do ensaio, foram feitas automaticamente<br />
utilizando um sistema de aquisição de dados, que registrava os valores das ações,<br />
dos deslocamentos e das deformações.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
88<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
4 RESULTADOS DOS ENSAIOS<br />
Foram obtidos nos ensaios dos modelos valores das forças máximas<br />
centradas e excêntricas, bem como as deformações correspondentes a tais forças,<br />
lidas nas armaduras longitudinais. O momento experimental (M exp ) foi tomado igual a<br />
força máxima excêntrica vezes a excentricidade geométrica de 38cm. A força máxima<br />
excêntrica (F exc ), resultava da soma das duas forças aplicadas nas extremidades dos<br />
consolos no instante da ruptura. A força máxima centrada (F exp ), resultava da soma da<br />
força máxima excêntrica com a força máxima aplicada no eixo longitudinal do pilar.<br />
Considerou-se que a força aplicada excentricamente encaminhou-se para o segmento<br />
de pilar de 70cm de altura, atuando de forma conjunta com a força aplicada no eixo<br />
longitudinal.<br />
A tabela 3 apresenta os valores das forças máximas centradas e excêntricas,<br />
bem como as deformações correspondentes a tais forças, lidas nas armaduras<br />
longitudinais. Os pilares Piloto e P1/1 foram excluídos da análise dos resultados em<br />
função da grande quantidade de problemas que aconteceram durante sua execução,<br />
não sendo possível aquisição de dados confiáveis para estes modelos.<br />
TABELA 3 - Deformações, força centrada e excêntrica de ruptura e momento experimental de<br />
ruptura<br />
Pilar<br />
ε s1<br />
(‰)<br />
ε s2<br />
(‰)<br />
F exp.<br />
(kN)<br />
F exc.<br />
(kN)<br />
M exp.<br />
(kNcm)<br />
P1/1R 1,402 2,983 3.157,0 156,0 5.928,0<br />
P1/2 1,374 2,354 2.825,8 125,8 4.780,4<br />
P1/3 2,481 2,481 2.967,8 117,8 4.476,4<br />
P2/1 1,2905 2,524 2.788,9 189,9 7.216,2<br />
P2/2 1,407 2,292 2.902,2 153,2 5.821,6<br />
P3/1 1,3705 2,922 3.307,6 157,6 5.988,8<br />
Foram montados diagramas relacionando a força total aplicada, ou seja, a<br />
soma da força aplicada no eixo longitudinal e a força aplicada excentricamente, com<br />
as deformações lidas nas armaduras longitudinais e transversais, no concreto e no<br />
pilar; também foram relacionadas com os deslocamentos dos pilares.<br />
Os comportamentos das barras das armaduras longitudinais do modelo P1/2<br />
podem ser vistos com o diagrama força x deformação apresentado na figura 5. Os<br />
canais 3 e 4 mediam as deformações nas armaduras do lado menos comprimido,<br />
enquanto que os canais 5 e 6 mediam as deformações nas armaduras do lado mais<br />
comprimido. Observou-se que as deformações das armaduras do lado menos<br />
comprimido apresentaram deformações bem próximas e de pequena intensidade,<br />
enquanto que as barras instrumentadas do lado mais comprimido, apresentaram<br />
deformações bem próximas, mas com grande intensidade, caracterizando assim, caso<br />
de flexo compressão reta com pequena excentricidade. Observou-se também que os<br />
canais 3 e 4 apresentaram leituras quase que idênticas, o mesmo aconteceu com os<br />
canais 5 e 6, notando-se assim um efeito muito pequeno, ou quase nulo, de flexão<br />
oblíqua. A deformação média das barras da armadura, do lado mais comprimido do<br />
pilar P1/2, correspondente a força última, foi 2,35‰. Percebeu-se também em todos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
89<br />
os modelos, uma pequena descontinuidade na curva dos diagramas, como por<br />
exemplo no modelo P1/2, onde isto ocorreu quando a força estava próxima de<br />
1400kN, que correspondia a aproximadamente 50% da força última alcançada pelo<br />
pilar.<br />
A figura 6 mostra o diagrama força x deformação medida no concreto das<br />
faces do pilar, este apresentou deformações coerentes com as deformações das<br />
barras da armadura. Os dois extensômetros apresentaram deformações compatíveis<br />
até o fim do ensaio.<br />
3000<br />
3000<br />
2700<br />
2700<br />
2400<br />
2400<br />
2100<br />
2100<br />
Força - kN<br />
1800<br />
1500<br />
1200<br />
900<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
Força - kN<br />
1800<br />
1500<br />
1200<br />
900<br />
9<br />
10<br />
11<br />
12<br />
600<br />
600<br />
300<br />
300<br />
0<br />
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3,0<br />
Deformações -‰<br />
0<br />
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3,0<br />
Deformações - ‰<br />
Figura 5 - Diagrama força x deformação Figura 6 - Diagrama força x deformação<br />
na armadura longitudinal do modelo P1/2 longitudinal no concreto do modelo P1/2<br />
As figuras 7 e 8 mostram os diagramas força x deformação das barras da<br />
armadura longitudinal do modelo P2/2. Estes confirmam os efeitos da flexo<br />
compressão reta, e apresentam uma pequena acomodação da estrutura no início do<br />
ensaio. A deformação das barras da armadura, do lado mais comprimido,<br />
correspondente a força última, foi 2,30‰. A descontinuidade na curva dos diagramas<br />
ocorreu quando a força estava próxima de 1600kN, que correspondeu a<br />
aproximadamente 55% da força máxima alcançada pelo pilar.<br />
Força - kN<br />
3000<br />
2700<br />
2400<br />
2100<br />
1800<br />
1500<br />
1200<br />
900<br />
600<br />
300<br />
0<br />
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7<br />
Deformações -‰<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
Força - kN<br />
3000<br />
2700<br />
2400<br />
2100<br />
1800<br />
1500<br />
1200<br />
900<br />
600<br />
300<br />
0<br />
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3,0 3,3<br />
Deformações - ‰<br />
9<br />
10<br />
11<br />
12<br />
Figura 7 - Diagrama força x deformação<br />
Figura 8 - Diagrama força x deformação<br />
na armadura longitudinal do modelo P2/2 longitudinal no concreto do modelo P2/2<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
90<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
A figura 9 apresenta o diagrama força x deformação do estribo de maior<br />
comprimento localizado na metade da altura do pilar do modelo P1/1R. A figura 10<br />
mostra o diagrama força x deformação transversal do concreto medida nas faces do<br />
modelo P1/1R. No entanto, percebeu-se que quando a força se aproximou de<br />
2600kN, o extensômetro colocado na face do modelo do lado mais comprimido, canal<br />
14, começou a perder aderência, ficando suas leituras seguintes prejudicadas. Para o<br />
modelo P1/1R, a descontinuidade observada nos diagramas aconteceu quando a<br />
força estava próxima de 57% da força última, e a deformação máxima das barras da<br />
armadura longitudinal, do lado mais comprimido, foi de 2,98%.<br />
3200<br />
3200<br />
2800<br />
2800<br />
2400<br />
2400<br />
Força - kN<br />
2000<br />
1600<br />
1200<br />
7<br />
8<br />
Força - kN<br />
2000<br />
1600<br />
1200<br />
13<br />
14<br />
800<br />
800<br />
400<br />
400<br />
0<br />
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0<br />
0<br />
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2<br />
Deformações - ‰<br />
Deformações - ‰<br />
Figura 9 - Diagrama força x deformação<br />
na armadura transversal do modelo P1/1R<br />
Figura 10 - Diagrama força x deformação<br />
transversal no concreto do modelo P1/1R<br />
A relação entre a força e a deformação medida no estribo e nas faces do<br />
modelo P1/2 são mostradas nas figuras 11 e 12. Se comparadas as deformações nos<br />
estribos dos modelos P1/1R e P1/2, observa-se consistência nos resultados. Na figura<br />
12 pode-se observar problema ocorrido no extensômetro do canal 14, apresentando<br />
grandes deformações a partir da força de 2200kN, tornando incompatíveis com as<br />
deformações dos estribos.<br />
Força - kN<br />
3000<br />
2700<br />
2400<br />
2100<br />
1800<br />
1500<br />
1200<br />
900<br />
600<br />
300<br />
0<br />
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0<br />
Deformações - ‰<br />
7<br />
8<br />
Força - kN<br />
3000<br />
2700<br />
2400<br />
2100<br />
1800<br />
1500<br />
1200<br />
900<br />
600<br />
300<br />
0<br />
0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8<br />
Deformações - ‰<br />
13<br />
14<br />
Figura 11 - Diagrama força x deformação Figura 12 - Diagrama força x deformação<br />
na armadura transversal do modelo P1/2 transversal no concreto do modelo P1/2<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
91<br />
Os resultados das deformações do pilar podem ser vistos no diagrama força x<br />
deformação, figura 13, onde os extensômetros apresentaram uma acomodação do<br />
modelo no início do ensaio, mas mostrando características de flexo compressão reta.<br />
Os deslocamentos horizontais da parte inferior, central e superior do pilar, foram lidas<br />
pelos canais 19, 20 e 21 respectivamente, de acordo com figura 14, onde percebe-se<br />
que as extremidades do modelo sofreram pequenos deslocamentos, quase<br />
desprezíveis, enquanto que o deslocamento da seção transversal central aumentou<br />
com a aplicação da força.<br />
3000<br />
2700<br />
3000<br />
2700<br />
2400<br />
2400<br />
Força - kN<br />
2100<br />
1800<br />
1500<br />
1200<br />
900<br />
600<br />
300<br />
0<br />
-0,2 0,2 0,6 1,0 1,4 1,8 2,2 2,6 3,0 3,4<br />
15<br />
16<br />
17<br />
18<br />
Força - kN<br />
2100<br />
1800<br />
1500<br />
1200<br />
900<br />
600<br />
300<br />
0<br />
-4,0 -3,5 -3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5<br />
19<br />
20<br />
21<br />
Deformação - ‰<br />
Deslocamentos - mm<br />
Figura 13 - Diagrama força x deformação Figura 14 - Diagrama força x deslocamentos<br />
do pilar modelo P2/2 do pilar P2/2<br />
5 FORMA DE RUPTURA DOS MODELOS<br />
Os modelos ensaiados tiveram formas de rupturas diferentes em função das<br />
taxas de armaduras adotadas, como ilustradas na figura 15 e descrita na tabela 4.<br />
P1/1R P1/2 P1/3<br />
P2/1 P2/2 P3/1<br />
Figura 15 - Modo de ruptura dos modelos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
92<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
A análise da forma de ruptura dos modelos levou a confirmar que esta<br />
depende do trabalho conjunto das armaduras transversais e longitudinais, e quanto<br />
maior a taxa de armadura mais dúctil se torna o modelo. No entanto, a quantidade de<br />
ensaios realizados foram insuficientes para maiores conclusões sobre as taxas<br />
mínimas de segurança.<br />
TABELA 4 - Forma de ruptura dos modelos e suas taxas de armaduras<br />
Pilar<br />
f c<br />
MPa<br />
ρ L<br />
%<br />
Arm.<br />
Longit.<br />
ρ t<br />
%<br />
Estribo<br />
Forma de Ruptura<br />
P1/1 88,9 2,26 8φ12,5 1,58 φ6,3c/5 destacamento do cobrimento<br />
P1/2 85,7 2,26 8φ12,5 0,79 φ6,3c/10 destacamento do cobrimento<br />
P1/3 82,6 2,26 8φ12,5 0,53 φ6,3c/15 colapso da seção<br />
P2/1 90,1 1,26 8φ10,0 0,79 φ6,3c/10 colapso da seção<br />
P2/2 89,6 1,26 8φ10,0 1,58 φ6,3c/5 destacamento do cobrimento<br />
P3/1 87,4 3,45 8φ16,0 0,79 φ6,3c/10 destacamento do cobrimento<br />
6 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DO CONCRETO<br />
As características mecânicas do concreto utilizado nos modelos, foram<br />
analisadas para se ter um comparativo com os resultados obtidos com as expressões<br />
indicadas em artigos e normas técnicas internacionais.<br />
A resistência média à compressão do concreto (f c ) dos modelos, foi tomada<br />
como média de 6 corpos-de-prova, três de cada mistura, para a idade de 15 dias.<br />
6.1 Resistência à tração<br />
A resistência à tração experimental (f t ), foi obtida com corpos-de-prova<br />
cilíndricos de 10cm x 20cm, ensaiados à compressão diametral.<br />
As normas técnicas NBR 6118/78, MC90 CEB-FIP/91, NS 3473E/92 e o artigo<br />
publicado por CARRASQUILLO et al. (1981), trazem expressões que estimam a<br />
resistência à tração na falta de dados experimentais.<br />
Apesar da resistência à tração não ter sido usado nesta pesquisa, procurouse<br />
fazer uma análise entre os valores obtidos experimentalmente, e os encontrados<br />
nas expressões das referências citadas. Os resultados das resistências à tração estão<br />
expostos na tabela 5.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
93<br />
TABELA 5 - Valores da resistência à tração experimental e sugeridos pelas bibliografias.<br />
Modelos<br />
f c<br />
(MPa)<br />
f t<br />
(MPa)<br />
NBR<br />
(MPa)<br />
CEB<br />
(MPa)<br />
NS<br />
(MPa)<br />
Carrasquillo<br />
(MPa)<br />
Piloto 89,61 5,25 6,08 6,01 4,45 5,11<br />
P1/1 81,00 5,17 5,56 5,62 4,19 4,86<br />
P1/1R 88,89 4,52 6,03 5,98 4,43 5,09<br />
P1/2 85,68 5,42 5,84 5,83 4,33 5,00<br />
P1/3 82,61 4,75 5,66 5,69 4,24 4,91<br />
P2/1 90,07 4,72 6,10 6,03 4,47 5,12<br />
P2/2 89,61 5,2 6,08 6,01 4,45 5,11<br />
P3/1 87,41 4,64 5,94 5,91 4,39 5,05<br />
Para melhor avaliar a precisão dos valores teóricos fornecidos pelas<br />
expressões indicadas pelos vários Autores consultados, fez-se a relação entre o valor<br />
experimental e o teórico, onde está exposto na tabela 6.<br />
TABELA 6 - Relação entre os valores experimentais e teóricos da resistência à tração do<br />
concreto.<br />
Modelos NBR CEB NS Carrasquillo<br />
Piloto 0,86 0,87 1,18 1,03<br />
P1/1 0,93 0,92 1,23 1,06<br />
P1/1R 0,75 0,76 1,02 0,89<br />
P1/2 0,93 0,93 1,25 1,08<br />
P1/3 0,84 0,83 1,12 0,97<br />
P2/1 0,77 0,78 1,06 0,92<br />
P2/2 0,86 0,87 1,17 1,02<br />
P3/1 0,78 0,79 1,06 0,92<br />
A comparação dos valores da resistência à tração, também podem ser feita<br />
pela figura 16.<br />
7<br />
Resistência à tração - MPa<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
Piloto<br />
P1/1<br />
P1/1R<br />
P1/2<br />
P1/3<br />
P2/1<br />
P2/2<br />
P3/1<br />
Experimental<br />
NBR<br />
CEB<br />
NS<br />
Carrasquillo<br />
Modelos<br />
Figura 16 - Valores teóricos e experimentais da resistência à tração do concreto<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
94<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
De acordo com os valores da tabela 6 e a figura 16, pode-se avaliar a<br />
precisão das expressões propostas. Observa-se que as expressões da NBR 6118/78<br />
e do MC90 CEB-FIP/91 apresentam a mesma precisão, com valores bem próximos<br />
um do outro, entretanto, um pouco acima dos valores obtidos experimentalmente. A<br />
NBR 6118/78 ainda não foi revisada, e sua expressão não foi elaborada para<br />
concretos de alta resistência, por isso, a diferença encontrada. No entanto, o CEB-<br />
FIP/91 está atualizado, e a expressão para a resistência à tração é válida para<br />
concretos de alta resistência até f c = 80MPa, logo, sua expressão não apresentou, em<br />
nossa pesquisa, bons valores para a resistência à tração, sendo de baixa precisão.<br />
Os valores da expressão proposta pela NS 3473E/92 foram, em sua maioria,<br />
menores que os valores encontrados experimentalmente. Esta norma é bem<br />
atualizada e mostrou-se um pouco conservativa para os resultados encontrados nesta<br />
pesquisa.<br />
A expressão proposta por CARRASQUILLO et al. (1981), apresentou boa<br />
precisão em relação aos valores experimentais. Pode ser indicada, como a melhor<br />
expressão para se prever valores da resistência à tração, quando utilizados os<br />
procedimentos de mistura e materiais com características semelhantes ao adotados<br />
nesta pesquisa. A expressão que prevê a resistência à tração do concreto proposto<br />
por CARRASQUILLO et al. (1981) é :<br />
f<br />
tk =<br />
0,54<br />
f<br />
ck<br />
(MPa)<br />
6.2 Módulo de deformação longitudinal<br />
O módulo de deformação longitudinal (E c ), foi obtido em ensaios de<br />
compressão axial, com deformação controlada, em corpos-de-prova cilíndricos de<br />
10cm x 20cm.<br />
As normas técnicas NBR 6118/78, ACI 318/94, MC90 CEB-FIP/91, NS<br />
3473E/92 e o artigo publicado de CARRASQUILLO et al. (1981), trazem expressões<br />
que estimam o módulo de deformação longitudinal, na falta de dados experimentais.<br />
Procurou-se analisar a eficiência das expressões das referências<br />
bibliográficas, comparando-se com os valores obtidos experimentalmente. Os<br />
resultados dos módulos de deformação longitudinal estão expostos na tabela 7.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
95<br />
TABELA 7 - Módulos de deformação longitudinal experimental e propostos nas bibliografias<br />
Modelos<br />
f c<br />
(MPa)<br />
E c<br />
(MPa)<br />
NBR<br />
(MPa)<br />
ACI<br />
(MPa)<br />
CEB<br />
(MPa)<br />
NS<br />
(MPa)<br />
Carrasquillo<br />
(MPa)<br />
Piloto 89,61 43.017,00 63.685,73 44.775,39 55.251,75 36.595,74 38.327,97<br />
P1/1 81,00 36.492,00 60.669,76 42.570,00 53.576,94 35.503,33 36.780,00<br />
P1/1R 88,89 39.728,00 63.439,01 44.595,15 55.115,56 36.507,28 38.201,46<br />
P1/2 85,68 41.915,00 62.327,21 43.782,53 54.500,05 36.106,67 37.631,08<br />
P1/3 82,61 41.797,00 61.245,01 42.990,99 53.898,08 35.713,58 37.075,49<br />
P2/1 90,07 41.931,00 63.842,85 44.890,17 55.338,41 36.652,00 38.408,53<br />
P2/2 89,61 45.988,00 63.685,73 44.775,39 55.251,75 36.595,74 38.327,97<br />
P3/1 87,41 41.645,00 62.928,85 44.222,34 54.833,49 36.323,86 37.939,78<br />
Os resultados teóricos provenientes das expressões das referências citadas,<br />
foram avaliados por meio da relação entre o valor experimental e o teórico, tabela 8,<br />
como feito para as expressões da resistência à tração.<br />
TABELA 8 - Relação entre os valores experimentais e teóricos do módulo de deformação<br />
longitudinal<br />
Modelos NBR ACI CEB NS Carrasquillo<br />
Piloto 0,68 0,96 0,78 1,18 1,12<br />
P1/1 0,60 0,86 0,68 1,03 0,99<br />
P1/1R 0,63 0,89 0,72 1,09 1,04<br />
P1/2 0,67 0,96 0,77 1,16 1,11<br />
P1/3 0,68 0,97 0,78 1,17 1,13<br />
P2/1 0,66 0,93 0,76 1,14 1,09<br />
P2/2 0,72 1,03 0,83 1,26 1,20<br />
P3/1 0,66 0,94 0,76 1,15 1,10<br />
A comparação dos valores da resistência à tração, também podem ser feita<br />
pela figura 17.<br />
De acordo com os valores da tabela 8 e da figura 17, pode-se avaliar a<br />
precisão das expressões propostas.<br />
Constatou-se que a expressão da NBR 6118/78, apresentou valores bem<br />
acima dos obtidos experimentalmente, cerca de 30% a 40%. Isto se dá, pois esta<br />
norma ainda não foi revisada, e sua expressão não foi elaborada para concretos de<br />
alta resistência.<br />
Os valores resultantes da expressão proposta pelo MC90 CEB-FIP/91, não<br />
apresentaram boa precisão, com valores superando o experimental em torno de 30%.<br />
Logo, sua expressão não apresentou, em nossa pesquisa, bons valores para o<br />
módulo de deformação longitudinal, sendo de baixa precisão.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
96<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
Os valores das expressões propostas pela NS 3473E/92 e por<br />
CARRASQUILLO et al. (1981), tiveram boa precisão e apresentaram valores bem<br />
próximos entre si. Estas expressões apresentaram valores ligeiramente menores que<br />
os valores encontrados experimentalmente, sendo consideradas satisfatória, para<br />
pesquisas feitas com procedimentos de mistura e materiais com características<br />
semelhantes aos adotados nesta pesquisa.<br />
70.000<br />
Módulo de eslaticidade - MPa<br />
60.000<br />
50.000<br />
40.000<br />
30.000<br />
20.000<br />
10.000<br />
Experimental<br />
NBR<br />
ACI<br />
CEB<br />
NS<br />
Carrasquillo<br />
0<br />
Piloto<br />
P1/1<br />
P1/1R<br />
P1/2<br />
P1/3<br />
P2/1<br />
P2/2<br />
P3/1<br />
Modelos<br />
Figura 17 - Valores teóricos e experimentais do módulo de deformação longitudinal<br />
A expressão proposta pelo ACI 318/94, apresentou boa precisão em relação<br />
aos valores experimentais. Esta pode ser indicada como a melhor expressão para se<br />
prever valores do módulo de deformação longitudinal, quando utilizados os<br />
procedimentos de mistura e materiais com características semelhantes aos adotados<br />
nesta pesquisa. A expressão prevê o módulo de deformação longitudinal do concreto<br />
proposto pelo ACI 318 é:<br />
E<br />
c<br />
= 4730 f<br />
ck<br />
(MPa)<br />
7 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
Para análise dos valores últimos experimentais, a resistência à compressão<br />
do concreto foi assumida como 0,90fc, sendo o coeficiente 0,90 adotado para levar<br />
em conta as relações entre resistências à compressão, determinados em corpos-deprova<br />
cilíndricos de 10cm x 20cm e 15cm x 30cm e, entre estes e o modelo.<br />
As características geométricas e físicas dos modelos ensaiados e analisados<br />
estão apresentadas na tabela 9.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
97<br />
TABELA 9 - Características dos modelos analisados<br />
Pilar<br />
b<br />
cm<br />
h<br />
cm<br />
f c<br />
MPa<br />
0,90f c<br />
MPa<br />
ε c<br />
(‰)<br />
E c<br />
MPa<br />
A s<br />
cm2<br />
f y<br />
MPa<br />
E s<br />
MPa<br />
P1/1 30 15 88,9 80,0 2,61 39.728 9,84 502,1 168.841 2,26 1,58<br />
P1/2 30 15 85,7 77,1 2,32 41.915 9,84 502,1 168.841 2,26 0,79<br />
P1/3 30 15 82,6 74,3 2,31 41.797 9,84 502,1 168.841 2,26 0,53<br />
P2/1 30 15 90,1 81,0 2,35 41.931 6,28 623,0 194.060 1,26 0,79<br />
P2/2 30 15 89,6 80,7 2,49 45.988 6,28 623,0 194.060 1,26 1,58<br />
P3/1 30 15 87,4 78,7 2,39 41.645 16,08 622,8 194.388 3,45 0,79<br />
ρ L<br />
%<br />
ρ t<br />
%<br />
Para análise dos resultados, foram determinadas as forças e momentos<br />
fletores resistentes a partir dos valores das deformações medidas na seção<br />
intermediária, e das características mecânicas do aço da armadura e do concreto<br />
obtidas em ensaios.<br />
A análise teórica do modelo foi feita em duas fases de aplicação de forças,<br />
uma considerando a ação última, onde foi possível se medirem as deformações<br />
próximo ao colapso, e outra considerando cerca de 80% da força última, onde a<br />
estrutura encontrava-se em serviço.<br />
Os valores experimentais obtidos para força normal e momento aplicado,<br />
tanto para a força última quanto para 80% desta, estão mostrados na tabela 10.<br />
TABELA 10 - Forças normais e momentos aplicados nos modelos<br />
Força última<br />
80% força última<br />
Modelo F exp, cent<br />
kN<br />
F exp, exc<br />
kN<br />
M exp<br />
kN.cm<br />
F exp, cent<br />
kN<br />
F exp, exc<br />
kN<br />
M exp<br />
kN.cm<br />
P1/1 3.157,0 156,0 5.928,0 2.539,0 138,0 5.244,0<br />
P1/2 2.825,8 125,8 4.780,4 2.253,9 106,9 4.062,2<br />
P1/3 2.967,8 117,8 4.476,4 2.364,1 116,1 4.411,8<br />
P2/1 2.788,9 189,9 7.216,2 2.165,5 161,5 6.137,0<br />
P2/2 2.902,2 153,2 5.821,6 2.350,3 146,3 5.559,4<br />
P3/1 3.307,6 157,6 5.988,8 2.681,8 131,8 5.008,4<br />
7.1 Análise das deformações<br />
Admitindo-se hipótese de que as seções planas permaneciam planas depois<br />
de deformadas, pôde-se determinar a variação da deformação ao longo da altura h da<br />
seção transversal do pilar. Para isso, foi preciso saber o valor das deformações nas<br />
barras da armadura junto as faces 1 (face menos comprimida) e 2 (face mais<br />
comprimida) e utilizar a expressão 1.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
98<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
⎛ εs1<br />
− εs2<br />
⎞ εs2<br />
⋅ d − εs1<br />
⋅ d′<br />
ε (x) = ⎜ ⎟x<br />
+<br />
(1)<br />
⎝ d − d′<br />
⎠ d − d′<br />
onde:<br />
ε s1<br />
ε s2<br />
d<br />
= deformação média medida na armadura menos comprimida;<br />
= deformação média medida na armadura mais comprimida;<br />
= altura útil do pilar;<br />
d’ = altura da seção transversal menos a altura útil.<br />
As deformações médias obtidas em cada ensaio, e sua respectiva variação a<br />
partir da equação 1, tanto para a força última quanto para 80% da força última, podem<br />
ser vistas , respectivamente, na tabela 11.<br />
TABELA 11 - Variação das deformações<br />
Força última<br />
80% força última<br />
Modelo ε s1 ε s2<br />
ε s1 ε s2<br />
(‰) (‰) ε(x)<br />
(‰) (‰) ε(x)<br />
P1/1R 1,402 2,983 -0,014373x + 0,003270 1,117 1,963 -0,007695x + 0,002117<br />
P1/2 1,374 2,354 -0,008909x + 0,002532 1,075 1,665 -0,005364x + 0,001772<br />
P1/3 2,481 2,968 -0,010036x + 0,002682 1,680 2,364 -0,005941x + 0,001799<br />
P2/1 1,291 2,524 -0,011214x + 0,002748 1,084 1,595 -0,004641x + 0,001688<br />
P2/2 1,407 2,292 -0,008050x + 0,002454 1,068 1,673 -0,005500x + 0,001783<br />
P3/1 1,371 2,922 -0,014109x +0,003205 1,077 1,878 -0,007277x + 0,002024<br />
7.2 Esforços resistentes<br />
Conhecendo-se as variações das deformações ao longo da altura da seção<br />
transversal do pilar, mostrada na tabela 11, as características da seção do pilar, do<br />
concreto e da armadura, mostradas na tabela 9, e admitindo-se uma relação tensão x<br />
deformação para o concreto, pode-se utilizar as expressões 2 e 3, para calcular os<br />
esforços normais resistentes teóricos e os respectivos momentos fletores, das seções<br />
dos modelos ensaiados.<br />
N<br />
h<br />
u, teo<br />
b σ<br />
x<br />
( x)<br />
dx + As<br />
1σ<br />
s1<br />
+ As<br />
2σ<br />
s2<br />
0<br />
= ∫ (2)<br />
M<br />
h<br />
⎛ h ⎞<br />
h<br />
= b∫σ x<br />
( x)<br />
⋅ ⎜ − x⎟dx<br />
+ ( As<br />
2σ<br />
s2<br />
− As<br />
1σ<br />
s1)<br />
⋅ ( − )<br />
(3)<br />
⎝ 2 ⎠<br />
2<br />
,<br />
d ′<br />
u teo<br />
0<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
99<br />
As análises foram feitas considerando-se as variações das tensões nas<br />
seções transversais dos pilares com as expressões propostas por LIMA et al. (1997) e<br />
por COLLINS et al. (1993).<br />
7.3 Relação tensão x deformação proposta por LIMA et al. (1997)<br />
Relação tensão x deformação:<br />
( − 2 f + E ε ) ( 3 f − 2E<br />
ε )<br />
c c co 3 c c co 2<br />
σ<br />
c<br />
=<br />
ε +<br />
ε<br />
c<br />
+<br />
3<br />
c<br />
2<br />
ε<br />
co<br />
ε<br />
co<br />
E ε<br />
c<br />
c<br />
(4)<br />
Os esforços resistentes bem como suas relações entre os valores<br />
experimentais e teóricos, são mostrados na tabela 12.<br />
TABELA 12 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação proposta<br />
por LIMA et al. (1997)<br />
Força última<br />
80% força última<br />
Modelo F teo<br />
kN<br />
M teo<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo<br />
M exp /<br />
M teo<br />
F teo<br />
kN<br />
M teo<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo<br />
M exp /<br />
M teo<br />
P1/1 3.538,0 2.282,0 0,89 2,60 2.438,0 2.420,0 1,04 2,17<br />
P1/2 2.821,0 1.850,0 1,00 2,58 2.377,0 1.833,0 0,95 2,21<br />
P1/3 3.020,0 2.054,0 0,98 2,18 2.751,0 1.764,0 0,86 2,50<br />
P2/1 2.994,0 2.140,0 0,93 3,35 2.489,0 1.642,0 0,87 3,72<br />
P2/2 2.980,0 1.785,0 0,97 3,24 2.468,0 1.795,0 0,95 3,08<br />
P3/1 3.801,0 2.289,0 0,87 2,62 3.198,0 2.668,0 0,84 1,88<br />
Os valores das relações F exp / F teo , para as duas situações de etapas de<br />
aplicação de forças, ficaram próximo da unidade, indicando que os valores teóricos<br />
fornecidos pela equação de equilíbrio dos esforços normais resistentes, utilizando a<br />
relação tensão x deformação proposta por LIMA et al. (1997), representam, com boa<br />
precisão, os valores obtidos experimentalmente. As relações M exp / M teo , ficaram<br />
acima da unidade, com isso, pode-se concluir que a excentricidade responsável pelos<br />
momentos experimentais atuantes nas seções transversais de meia altura dos pilares,<br />
não ocorreram na sua integridade, podendo ter existido excentricidades acidentais<br />
que geravam momentos fletores contrários aos aplicados pelas forças excêntricas.<br />
7.4 Relação tensão x deformação proposta por COLLINS et al. (1993)<br />
Relação tensão x deformação:<br />
fc<br />
c<br />
f ′ = ε<br />
ε′<br />
c<br />
c<br />
n<br />
⎛ ε c<br />
⎞<br />
n − 1+<br />
⎜ ⎟<br />
⎝ ε′<br />
⎠<br />
c<br />
nk<br />
(5)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
100<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
onde k é igual a 1 quando ε c /ε’ c é menor que 1, e quando ε c /ε c ’ excede1, k é um<br />
número maior que 1 dado por:<br />
k<br />
f ′<br />
c<br />
f ′<br />
c<br />
= 0,67<br />
+ (MPa) e n = 0,8<br />
+ (MPa)<br />
(6)<br />
62<br />
17<br />
Para a relação proposta por COLLINS et al. (1993), a análise foi feita usando<br />
os valores experimentais da deformação do concreto (εc) correspondente à força<br />
máxima nos corpos-de-prova, tabela 9. Os valores dos esforços resistentes bem como<br />
suas relações entre os valores experimentais e teóricos, são mostrados na tabela 13.<br />
Os valores das relações F exp /F teo , são praticamente iguais a unidade, tendo, a<br />
relação de COLLINS et al. (1993), uma excelente previsão para os valores<br />
experimentais. As relações M exp /M teo , também ficaram acima da unidade, concordando<br />
com os valores obtidos utilizando a relação proposta por LIMA et al. (1997),<br />
mostrando assim consistência dos resultados.<br />
TABELA 13 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação proposta<br />
por Collins et al. (1993)<br />
Força última<br />
80% força última<br />
Modelo F teo<br />
kN<br />
M teo<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo<br />
M exp /<br />
M teo<br />
F teo<br />
kN<br />
M teo<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo<br />
M exp /<br />
M teo<br />
P1/1 3226,0 4625,0 0,98 1,28 2793,0 2569,0 0,91 2,04<br />
P1/2 2725,0 1888,0 1,04 2,53 2160,0 2111,0 1,04 1,92<br />
P1/3 2483,0 3749,0 1,19 1,19 2726,0 1751,0 0,87 2,52<br />
P2/1 2806,0 1670,0 0,99 4,28 2338,0 1699,0 0,93 3,60<br />
P2/2 2852,0 2158,0 1,02 2,70 2240,0 1921,0 1,05 2,88<br />
P3/1 3370,0 2196,0 0,98 2,72 3066,0 2833,0 0,87 1,77<br />
Os valores das relações F exp /F teo , são praticamente iguais a unidade, tendo, a<br />
relação de COLLINS et al. (1993), uma excelente previsão para os valores<br />
experimentais. As relações M exp /M teo , também ficaram acima da unidade, concordando<br />
com os valores obtidos utilizando a relação proposta por LIMA (1997), mostrando<br />
assim consistência dos resultados, sugerindo que algum problema poderia ter<br />
ocorrido com o sistema de ensaio.<br />
A tabela 14 apresentada as relações entre os valores experimentais e os<br />
teóricos dos esforços resistentes, bem como seus valores médios.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
101<br />
TABELA 14 - Análise dos esforços resistentes para as relações tensão x deformação proposta<br />
LIMA (1997 e COLLINS et al. (1993)<br />
Modelo<br />
LIMA (1997)<br />
Força última<br />
F exp / M exp /<br />
LIMA (1997)<br />
80% força<br />
última<br />
F exp / M exp /<br />
COLLINS et al.<br />
(1993)<br />
força última<br />
F exp / M exp /<br />
COLLINS et al.<br />
(1993)<br />
80% força última<br />
F exp / M exp /<br />
F teo M teo F teo M teo F teo M teo F teo M teo<br />
P1/1R 0,89 2,60 1,04 2,17 0,98 1,28 0,91 2,04<br />
P1/2 1,00 2,58 0,95 2,21 1,04 2,53 1,04 1,92<br />
P1/3 0,98 2,18 0,86 2,50 1,19 1,19 0,87 2,52<br />
P2/1 0,93 3,35 0,87 3,72 0,99 4,28 0,93 3,60<br />
P2/2 0,97 3,24 0,95 3,08 1,02 2,70 1,05 2,88<br />
P3/1 0,87 2,62 0,84 1,88 0,98 2,72 0,87 1,77<br />
Média 0,94 2,76 0,92 2,59 1,03 2,45 0,95 2,45<br />
7.5 Relação tensão x deformação proposta pelo Código Modelo - MC90<br />
CEB-FIP (1991)<br />
O CEB-FIB (1991) sugere para relação tensão x deformação de CAR um<br />
diagrama parábola-retângulo, cujas expressões, são:<br />
2<br />
⎡ ⎛ ε ⎤<br />
c<br />
⎞ ⎛ ε<br />
c<br />
⎞<br />
σ ⎢<br />
⎜<br />
⎟ −<br />
⎜<br />
⎟<br />
cd<br />
= 0,85 f cd<br />
2 ⋅<br />
⎥<br />
(7)<br />
⎢⎣<br />
⎝ ε<br />
c1<br />
⎠ ⎝ ε<br />
c1<br />
⎠ ⎥⎦<br />
⎛ 50 ⎞<br />
ε<br />
c1<br />
= 0,002 e ε 0,0035<br />
⎜<br />
⎟<br />
cu<br />
= ⋅ (MPa)<br />
(8)<br />
⎝ f<br />
ck ⎠<br />
15.<br />
A análise dos esforços resistentes para a força última é mostrada na tabela<br />
TABELA 15 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação sugerida<br />
pelo MC90 CEB-FIP (1991)<br />
Modelo<br />
F teo<br />
kN<br />
M teo<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo<br />
M exp /<br />
M teo<br />
P1/1R 1.543,0 4.314,0 2,05 1,37<br />
P1/2 1.995,0 4.311,0 1,42 1,11<br />
P1/3 1.795,0 4.252,0 1,65 1,05<br />
P2/1 1.832,0 4.626,0 1,52 1,56<br />
P2/2 2.063,0 4.635,0 1,41 1,26<br />
P3/1 1.882,0 3.638,0 1,76 1,65<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
102<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
Os valores das relações F exp / F teo , estão abaixo dos valores experimentais<br />
encontrados. Como essa relação é adotada para cálculo, pode-se considerá-la a favor<br />
da segurança, mas com pouca precisão. Com relação aos momentos fletores M exp /<br />
M teo , são também conservativas, ficando abaixo dos valores experimentais<br />
encontrados. No entanto, esta análise não leva em conta a excentricidade acidental<br />
detectada nos ensaios, podendo essas relações terem valores menores.<br />
7.6 Relação tensão x deformação proposta pelo ACI 318 – M89<br />
O diagrama retangular de tensões assumido pelo ACI, é definido por dois<br />
parâmetros α 1 e β 1 . O parâmetro α 1 é assumido para um valor constante de 0,85. O<br />
parâmetro β 1 é igual a 0,85 para resistência do concreto até 30MPa, e é reduzido<br />
continuamente a uma taxa de 0,08, para cada 10MPa que excede 30MPa. O<br />
parâmetro β 1 não pode ser menor que 0,65.<br />
16.<br />
A análise dos esforços resistentes para a força última é mostrada na tabela<br />
TABELA 16 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação sugerida<br />
pelo ACI 318 - M89, para a ação última<br />
Modelo<br />
F teo<br />
kN<br />
M teo<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo<br />
M exp /<br />
M teo<br />
P1/1R 1.989,0 969,6 1,59 6,11<br />
P1/2 1.917,1 934,6 1,47 5,11<br />
P1/3 1.848,5 901,2 1,61 4,97<br />
P2/1 2.015,3 982,5 1,38 7,34<br />
P2/2 2.005,1 977,5 1,45 5,96<br />
P3/1 1.955,9 953,5 1,69 6,28<br />
O diagrama simplificado sugerido pelo ACI 318, apresenta valores para os<br />
esforços normais, abaixo dos encontrados experimentalmente, como também para os<br />
momentos fletores. Mas, por causa da sua simplicidade, tais valores podem ser<br />
considerados muito bons para utilizar em escritórios de projetos estruturais. Ressalva<br />
deve ser feita com relação aos momentos fletores, que apresentam valores muito<br />
abaixo dos obtidos experimentalmente. No entanto, essa análise não levou em<br />
consideração a provável excentricidade acidental encontrada nos modelos, podendose<br />
assim tornar essas relações bem menores.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo...<br />
103<br />
7.7 Relação tensão x deformação proposta por DINIZ apud<br />
VASCONCELOS (1998)<br />
DINIZ apud VASCONCELOS (1998) propõe um diagrama retangular, onde as<br />
análises dos esforços resistentes para as forças últimas são mostradas na tabela 17.<br />
TABELA 17- Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação proposta por<br />
DINIZ, para a ação última<br />
Modelo<br />
F teo<br />
kN<br />
M teo<br />
kN.cm<br />
F exp /<br />
F teo<br />
M exp /<br />
M teo<br />
P1/1R 2.079,4 1.185,2 1,22 4,42<br />
P1/2 2.004,2 1.142,4 1,12 3,56<br />
P1/3 1.932,5 1.101,5 1,22 4,01<br />
P2/1 2.106,9 1.200,9 1,03 5,11<br />
P2/2 2.096,2 1.194,9 1,12 4,65<br />
P3/1 2.044,8 1.165,5 1,31 4,30<br />
Os valores das relações F exp / F teo e M exp /M teo , apresentaram resultados muito<br />
bons, levando em conta a sua simplicidade. Tais valores se mostraram mais preciso<br />
que os apresentados pelo ACI, podendo ser adotados em projetos estruturais em<br />
CAR.<br />
Com relação aos momentos fletores estarem bem abaixo dos experimentais,<br />
deve-se as mesmas explicações do item anterior.<br />
8 CONCLUSÃO<br />
Os diagramas que relacionaram as forças aplicadas com as deformações dos<br />
pilares, apresentaram, de maneira geral, resultados coerentes com os esperados em<br />
ensaios deste tipo. Os efeitos da flexão oblíqua não foram sentidos nos ensaios, em<br />
função, provavelmente, da proximidade dos pontos onde se fazia a leitura das<br />
deformações longitudinais. Para isso, seria necessário instrumentar as barras da<br />
armadura longitudinal localizadas nas extremidades da seção do pilar, tendo assim,<br />
as prováveis diferenças de deformações e uma situação mais real do que estava<br />
acontecendo na seção.<br />
As deformações últimas de compressão do concreto, na face mais<br />
comprimida do pilar, variaram entre 2,3‰ e 3‰, tendo média de 2,59‰. Confirmando,<br />
assim, a alteração proposta para o diagrama de domínios de deformação, quando se<br />
trata de concreto de alta resistência.<br />
Um ponto interessante na análise dos gráficos força x deformação, foi com<br />
relação as mudança na inclinação da curva, quando a força alcançava em média 55%<br />
da força última. Este fato pode ser proveniente do início do destacamento do<br />
cobrimento de concreto que envolvia a armadura, ocasionando uma acomodação da<br />
estrutura.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
104<br />
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo<br />
A análise da variação das taxas de armadura mostrou que a ductilidade da<br />
seção transversal é função das taxas de armadura transversal e longitudinal e o<br />
aumento dessas taxas torna o pilar mais dúctil. Sugere-se maior número de ensaios<br />
para análise mais precisa a respeito disto.<br />
Na análise dos esforços resistentes, observou-se que as relações F exp / F teo<br />
são praticamente iguais a unidade, tanto para a relação tensão x deformação<br />
proposta por LIMA et al. (1997), quanto para a proposta por COLLINS et al. (1993). As<br />
relações M exp / M teo , ficaram acima da unidade, podendo-se concluir que a<br />
excentricidade geométrica, que era responsável pelos momentos experimentais<br />
atuantes nas seções transversais de meia altura dos pilares, não ocorreram na sua<br />
integridade, podendo existir também excentricidades acidentais que geravam<br />
momentos contrários ao aplicado pelas forças excêntricas. Percebeu-se que os<br />
valores obtidos utilizando a relação tensão x deformação proposta por COLLINS et al.<br />
(1993), apresentou resultados mais próximos do experimental do que a relação<br />
proposta por LIMA et al. (1997), tanto para esforços normais quanto para momentos<br />
fletores. No entanto, as duas propostas apresentam excelente precisão para os<br />
esforços normais.<br />
9 AGRADECIMENTOS<br />
Aos órgãos de fomento à pesquisa, CAPES - Coordenação de<br />
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, e FAPESP - Fundação de Amparo à<br />
Pesquisa do Estado de São Paulo, pelas bolsas de mestrado concedidas; às<br />
empresas CAMARGO CORRÊA CIMENTOS S. A., REAX INDÚSTRIA E COMÉRCIO<br />
LTDA e PROFIP, pelos materiais cedidos para as construções dos modelos.<br />
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Committee 318R (1994). Building code<br />
requirements for reinforced concrete. Detroit.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1992). NBR 8953 - Concreto<br />
para fins estruturais: classificação por grupos de resistências. Rio de Janeiro.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1980). NBR 6118 – Projeto e<br />
execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro.<br />
AZIZINAMINI, A.; KEBRAEI, M. (1996). Flexural capacity of high strength concrete<br />
columns under eccentric loading. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON<br />
UTILIZATION OF HIGH STRENGTH/HIGH PERFORMANCE CONCRETE, 4. Paris,<br />
May. Proceedings. p.863-871.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
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CARRASQUILLO, P. M.; NILSON, A. H.; SLATE, F. O. (1981). Properties of high<br />
strength concrete subject to short-term loads. ACI Materials Journal, p.171-181, May-<br />
June.<br />
CEB (1990). Working Group on High-strength Concrete (1990), High strength concretestate<br />
of the art report. CEB Bulletin d’Information, n.197, Ago.<br />
CEB (1991). CEB-FIP Model Code 1990. Bulletin d’Information, n.203-205, July.<br />
COLLINS, P.M.; MITCHELL, D.; MACGREGOR, J. (1993). Structural design<br />
consideration for high-strength concrete. Concrete International, p. 27-34, May.<br />
IBRAHIM, H. H. H.; MAC GREGOR, J. G. (1996) Tests of eccentrically loaded highstrength<br />
concrete columns. ACI Structural Journal, v. 93, n. 5, Sep.-Oct.<br />
LIMA, F.B.; GIONGO, J.S.; TAKEYA, T. (1997). Pilares de concreto de alto<br />
desempenho submetidos a compressão excêntrica. In: REUNIÃO DO IBRACON, 39.,<br />
São Paulo, 5-8 agosto. São Paulo, IBRACON, 1997. v.2, p.505-519.<br />
LLOYD, N. A.; RAGAN, B. V. (1996). Studies on high-strength concrete columns under<br />
eccentric compression. ACI Structural Journal, v. 93, n. 6, Nov.-Dec.<br />
NS 3473 E (1992). Concrete structures: design rules. 4 ed. Oslo, Norway, Nov.<br />
VANDERLEI, R. D. (1999). Análise experimental de pilares de concreto armado de<br />
alta resistência sob flexo compressão reta. São Carlos. Dissertação (Mestrado) -<br />
Escola de Engenharia de São Carlos - <strong>USP</strong>.<br />
VASCONCELOS, A. C. (1998). Concreto de alto desempenho – CAD. / Material<br />
divulgado na Palestra “A prática de projetos estruturais usando concreto de alto<br />
desempenho” e “Pontos relevantes no Congresso da FIP/98 em Amsterdam -<br />
Holanda” ministrada no Departamento de Estruturas – EESC – <strong>USP</strong>, em 16/09/1998.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.
ANÁLISE EXPERIMENTAL DE PILARES DE<br />
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO SUBMETIDOS<br />
À COMPRESSÃO SIMPLES<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga 1 & José Samuel Giongo 2<br />
RESUMO<br />
O objetivo da pesquisa foi obter subsídios para o projeto de pilares de concreto de alta<br />
resistência, submetidos à compressão simples, com concreto de resistência média à<br />
compressão de 60MPa. O projeto faz parte de um plano mais amplo onde já se têm<br />
resultados experimentais que traduzem o comportamento de pilares moldados com<br />
concreto de resistência média à compressão de 80MPa. Nestes constatou-se a<br />
participação isolada do núcleo de concreto definido pelo eixo das barras da armadura<br />
transversal como seção resistente dos pilares. Na etapa experimental foram ensaiados<br />
pilares com seções transversais quadradas de 200mm x 200mm e retangulares de<br />
150mm x 300mm. As alturas dos pilares eram iguais a 1200mm e 900mm,<br />
respectivamente. Nos modelos de seção quadrada, o valor médio das relações entre<br />
forças últimas experimentais e forças últimas teóricas, considerando a seção total,<br />
resultou igual a 0,82, indicando que a seção resistente não é a seção total. Por outro<br />
lado, a média das relações entre as forças últimas experimentais e as forças últimas<br />
teóricas, considerando apenas a área do núcleo limitada pelo eixo dos estribos,<br />
resultou igual a 1,21, mostrando que a seção resistente pode ser considerada, no<br />
Estado Limite Último, como a seção do núcleo.<br />
Palavras-chave: concreto de alto desempenho; pilares; experimentação.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
1.1 Histórico da pesquisa<br />
No Brasil, pesquisas com pilares de CAR foram desenvolvidas por AGOSTINI<br />
(1992), realizando estudo experimental de pilares de seção quadrada submetidos à<br />
compressão simples, e PAIVA (1995), que estudou pilares de seção retangular<br />
também sujeitos à compressão simples. No âmbito da EESC-<strong>USP</strong> já foram realizados,<br />
e estão em andamento, diversos trabalhos experimentais com elementos moldados<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas na EESC-<strong>USP</strong>, m_queiroga@yahoo.com.br<br />
2 Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jsgiongo@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
108<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
com concreto de alta resistência. Dentre eles citam-se o estudo de pilares de concreto<br />
de alta resistência submetidos à compressão simples e à flexo-compressão, realizado<br />
por GIONGO, LIMA e TAKEYA (1996), que possibilitou a tese de LIMA (1997).<br />
1.2 Análises já realizadas<br />
CLAESON et al. (1996) observaram que, para pilares de CAR, a área de<br />
concreto efetivamente confinada pela armadura é menor do que a área normal do<br />
núcleo limitada pelo perímetro dos estribos e varia em função da configuração e<br />
espaçamento da armadura transversal. A forma do núcleo é, aproximadamente, a da<br />
figura 1.<br />
Figura 1 - Forma aproximada do núcleo resistente de concreto<br />
O comportamento de pilares de CAR submetidos à compressão simples pode<br />
ser descrito por meio do diagrama da figura 2, e apresenta as seguintes<br />
particularidades, quando comparado ao de pilares de concreto de baixa resistência,<br />
como, por exemplo, 20MPa: maior módulo de elasticidade e linearidade do trecho<br />
ascendente do diagrama força x deformação; ruptura frágil, exigindo grandes taxas de<br />
armadura transversal para se obter ductilidade; ruptura prematura do cobrimento;<br />
apresentam menores incrementos de resistência quando comparados a pilares de<br />
concreto de baixa resistência, AL-HUSSAINI et al. (1993).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
109<br />
Figura 2 - Diagrama força x deformação para pilares de CAR<br />
O trecho OA do diagrama é praticamente linear, tornando-se curvo a partir do<br />
início da ruptura do cobrimento. No ponto A do diagrama todo cobrimento já se<br />
encontra destacado do núcleo definido pelas armaduras longitudinais e transversais.<br />
Percebe-se, então, queda na resistência do pilar até o ponto B. Segundo CUSSON e<br />
PAULTRE (1992), o decréscimo de resistência no trecho AB variou de 10% a 15% do<br />
valor máximo da força em A. A partir daí podem se distinguir três comportamentos<br />
distintos para o elemento estrutural, determinados pela eficiência da armadura<br />
transversal:<br />
• baixa eficiência: caracteriza a ruptura frágil. A armadura transversal não é<br />
suficiente para promover acréscimos à resistência do concreto do núcleo; a<br />
armadura transversal não atinge a resistência de escoamento f y ;<br />
• média eficiência: a armadura transversal atinge o patamar de escoamento,<br />
propiciando pressões de confinamento no núcleo, figura 3. O pilar ganha<br />
ductilidade;<br />
• alta eficiência: substanciais acréscimos de resistência são obtidos, podendo o<br />
pilar atingir forças superiores à correspondente ao ponto A do diagrama.<br />
Concreto em estado<br />
triaxial de tensões<br />
(acréscimos de<br />
resistência)<br />
Pressão lateral de<br />
confinamento oriunda<br />
da resistência da<br />
armadura à expansão<br />
lateral do concreto -<br />
Efeito Poisson<br />
Figura 3 - Pressões laterais de confinamento<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
110<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
Das observações de CUSSON e PAULTRE (1994) enumeram-se as<br />
seguintes:<br />
(a) pressão de confinamento diretamente proporcional à quantidade de<br />
armadura transversal;<br />
(b) menor expansão lateral do CAR em relação ao concreto de baixa<br />
resistência, o que se traduz em menor eficiência do confinamento. Os acréscimos de<br />
resistência em pilares com eficiente armadura de confinamento foram maiores em<br />
pilares de CRN do que em pilares de CAR. Ganhos de resistência de 50% e 100% a<br />
mais do que o concreto não confinado, foram observados para os modelos bem<br />
confinados moldados com concreto de 100MPa e 50MPa, respectivamente;<br />
(c) ductilidade do concreto inversamente proporcional ao acréscimo de<br />
resistência. Acréscimos em ductilidade de 10 e 20 vezes foram observados em<br />
modelos bem confinados de CAR de 100MPa e 50MPa, respectivamente;<br />
(d) a importância da configuração adotada para a armadura transversal na<br />
determinação da área de concreto efetivamente confinada, figura 4.<br />
(e) o menor espaçamento entre estribos garante maior área para a seção<br />
crítica do núcleo efetivamente confinado e reduz o risco de flambagem localizada das<br />
barras da armadura longitudinal. A seção crítica do núcleo, situada à meia distância<br />
entre estribos sucessivos, tem sua área definida em função do espaçamento adotado<br />
(figura 5).<br />
Núcleo de<br />
concreto<br />
(área<br />
efetivamente<br />
confinada)<br />
Cobrimento de<br />
concreto<br />
Figura 4 - Efeito da configuração e espaçamento da armadura transversal sobre o<br />
confinamento do núcleo: (a) Configuração de estribos com grande espaçamento; (b)<br />
Configuração de estribos mais eficiente, com pequeno espaçamento, CUSSON e PAULTRE<br />
(1994)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
111<br />
Figura 5 - Efeito do espaçamento entre estribos para a definição da área de concreto<br />
efetivamente confinada, seção crítica, A ec , SHEIKH e UZUMERI (1982)<br />
CUSSON e PAULTRE (1992) concluíram que, para o cálculo da seção<br />
resistente de pilares moldados em CAR, o cobrimento pode ser desprezado e apenas<br />
a área do núcleo definida pela linha-de-centro dos estribos mais externos pode ser<br />
considerada para a contribuição na resistência axial total. O cobrimento, nestes casos,<br />
figura apenas como proteção física da armadura contra a corrosão e o fogo.<br />
Quanto à perda prematura do cobrimento, CUSSON e PAULTRE (1993)<br />
sugerem a seguinte explicação: a baixa permeabilidade do CAD possibilita que<br />
apenas o concreto do cobrimento possa secar-se, enquanto o núcleo permanece<br />
úmido. Em conseqüência disto, tensões de tração se desenvolvem no cobrimento<br />
devido a retração em torno do núcleo impermeável, figura 6(a). Além disso,<br />
considerando a tendência da armadura de impedir a retração do concreto, formam-se<br />
fissuras axiais em torno das barras da armadura longitudinal, figura 6(b). A soma<br />
destes efeitos contribui para o aspecto final da seção, figura 6(c), e conseqüente<br />
perda do cobrimento.<br />
Figura 6 - Causas da ruptura do cobrimento, CUSSON e PAULTRE (1993)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
112<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
Quanto à forma de ruptura de pilares de CAR observou-se que:<br />
- Nos modelos "bem confinados" (suficiente taxa de armadura transversal),<br />
ocorreu ruptura dos estribos situados no terço intermediário da altura do pilar,<br />
CUSSON e PAULTRE (1992);<br />
- Nos modelos com insuficiente taxa de armadura transversal ocorreu<br />
flambagem localizada das barras da armadura;<br />
- Formação de superfícies de cisalhamento dividindo o núcleo em duas<br />
cunhas. A inclinação da superfície de cisalhamento com o plano vertical (θ) variou de<br />
25 o para modelos com baixo confinamento, até 45 o , para modelos com alto<br />
confinamento, CUSSON e PAULTRE (1992).<br />
2 PILARES DE CAR SUBMETIDOS À COMPRESSÃO SIMPLES<br />
ENSAIADOS PELOS AUTORES<br />
2.1 Estudo de dosagem<br />
A dosagem inicial foi adaptada de estudo de DAL MOLIN (1995), que avaliou<br />
a influência da sílica ativa nas diversas propriedades do concreto. Após várias<br />
tentativas, obteve-se uma dosagem (Dosagem 1) que proporcionou concreto com<br />
resistência média à compressão próxima de 60MPa aos 15 dias. A dosagem proposta<br />
por DAL MOLIN (1995) para 60MPa foi 1:0,86:2,44, com fator a/(c+sa) igual a 0,32 e<br />
teor de sílica ativa de 10%. A Dosagem 1, obtida experimentalmente usando os<br />
materiais disponíveis na região de São Carlos, foi de 1:0,9:2,8. O fator água/materiais<br />
cimentantes foi de 0,35. O consumo de sílica ativa foi fixado em 10% do consumo de<br />
cimento, conforme indicado por DAL MOLIN (1995); LIMA (1997). O consumo de<br />
superplastificante correspondia a 1,5% do consumo total de material aglomerante<br />
(cimento + sílica ativa). A tabela 1 traz o consumo de materiais para a Dosagem 1.<br />
Com esta dosagem foram moldados dois modelos com seção transversal<br />
quadrada (Pilares P1 e P2) e doze corpos-de-prova. Em função da reduzida<br />
trabalhabilidade da mistura (slump = 3cm), uma nova dosagem foi estudada<br />
(Dosagem 2), procurando melhorar esta característica do concreto, tabela 2. O ponto<br />
de partida para a segunda dosagem foi a adição de superplastificante em teor de<br />
2,5% (superior ao da dosagem anterior, 1,5%). A tabela 5.2 traz os resultados do<br />
ensaio à compressão para as duas primeiras dosagens. Com a Dosagem 2<br />
moldaram-se todos os demais modelos. O abatimento do cone ficou em torno de 8cm<br />
para a Dosagem 2.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
113<br />
TABELA 1 - Consumo unitário de Materiais (Dosagem 1)<br />
Material<br />
Consumo (kg/m3)<br />
Cimento 430,0<br />
Sílica ativa 43,0<br />
Areia 435,2<br />
Pedra britada 1324,4<br />
Água 165,6<br />
Superplastificante 7,1<br />
TOTAL 2405,2<br />
TABELA 2 - Consumo unitário de Materiais (Dosagem 2)<br />
Material Consumo (kg/m 3 )<br />
Cimento 430,0<br />
Sílica ativa 43,0<br />
Areia 435,2<br />
Pedra britada 1324,4<br />
Água 165,6<br />
Superplastificante 11,8<br />
TOTAL 2410,0<br />
2.2 Características dos modelos<br />
Foram utilizados pilares com seção transversal quadrada (20cm x 20cm) e<br />
retangular (15cm x 30cm) com altura igual a 120cm e 90cm, respectivamente (seis<br />
vezes a menor dimensão da seção transversal). A escolha destas dimensões para os<br />
modelos foi uma forma de aproximá-las às dimensões usuais dos pilares de edifícios,<br />
uma vez que, nas pesquisas anteriores, por causa das limitações dos aparelhos de<br />
ensaio, as dimensões dos modelos eram bem reduzidas.<br />
A armadura dos pilares ensaiados foi estabelecida de tal forma que séries<br />
sucessivas tinham taxas geométricas de armadura transversal (ρ w ) crescentes,<br />
obtidas por menores espaçamentos, ficando o diâmetro das barras inalterado em<br />
todos os modelos. O objetivo destes acréscimos era avaliar qual a taxa mínima de<br />
armadura transversal que garantisse a ductilização do pilar. A armadura longitudinal<br />
(ρ sl ) não variou nos modelos de mesma seção. A tabela 3 traz as características das<br />
armaduras empregadas.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
114<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
TABELA 3 - Características dos modelos<br />
Concreto de resistência média de 60MPa aos 15 dias<br />
Dimensões da seção<br />
Pilares<br />
Estribos<br />
b (cm) h (cm)<br />
SÉRIE 1<br />
P1 20 20 φ6,3c/15<br />
P2 20 20 φ6,3c/15<br />
SÉRIE 2<br />
P3 20 20 φ6,3c/10<br />
P4 20 20 φ6,3c/10<br />
SÉRIE 3<br />
P5 20 20 φ6,3c/5<br />
P6 20 20 φ6,3c/5<br />
SÉRIE 4<br />
P7 15 30 φ6,3c/15<br />
P8 15 30 φ6,3c/15<br />
SÉRIE 5<br />
P9 15 30 φ6,3c/10<br />
P10 15 30 φ6,3c/10<br />
SÉRIE 6<br />
P11 15 30 φ6,3c/5<br />
P12 15 30 φ6,3c/5<br />
Os modelos foram ensaiados na máquina de ensaios INSTRON adquirida<br />
pelo Laboratório de Estruturas da EESC - <strong>USP</strong>, com recursos de Projeto Integrado<br />
FAPESP coordenado pelo professor João Bento de Hanai. Esta máquina hidráulica,<br />
servo-controlada e computadorizada de última geração, pode ser empregada em<br />
ensaios estáticos ou dinâmicos. Possui capacidade de 2.500kN (força estática<br />
máxima), altura útil de ensaio de 4m. A utilização da INSTRON permitiu a aplicação<br />
de deslocamentos com velocidade controlada (mm/s), variando-se a mesma à medida<br />
que as forças últimas teóricas previstas para os modelos se aproximavam.<br />
A aquisição de dados dos instrumentos de medida de deformação (extensômetros) e<br />
deslocamento (relógios comparadores), foi realizada, para a Série 1, por meio do<br />
sistema SYSTEM 4000, e, nas séries seguintes, com o sistema SYSTEM 5000.<br />
Figura 7 - Visão parcial da máquina INSTRON com pilares de seção quadrada e retangular<br />
posicionados para os ensaios<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
115<br />
Figura 8 - Detalhe da aparelhagem utilizada nos ensaios<br />
2.3 Instrumentação utilizada<br />
a. Na armadura<br />
As deformações nas barras das armaduras foram medidas por extensômetros<br />
elétricos fixados à meia altura das barras da armadura longitudinal e nos ramos dos<br />
estribos situados na seção média do pilar, como mostram as figuras 9 e 10.<br />
Figura 9 - Detalhe da seção instrumentada<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
116<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
extensômetros 1 a 4 - armadura longitudinal<br />
extensômetros 5 a 8 - armadura transversal<br />
extensômetros 1 a 4 - armadura longitudinal<br />
extensômetros 5 a 8 - armadura transversal<br />
Figura 10 - Localização dos extensômetros<br />
b. No concreto<br />
Nas faces dos modelos as deformações no concreto foram medidas por<br />
extensômetros elétricos, nas quatro faces do pilar, situados à altura da seção<br />
transversal da armadura instrumentada. Dois extensômetros foram colados por face,<br />
perpendiculares entre si, de tal forma a se determinarem as deformações longitudinais<br />
e transversais no concreto, figura 11.<br />
Figura 11 - Detalhe do posicionamento dos extensômetros em uma face do pilar<br />
A medição dos deslocamentos realizou-se com de defletômetros<br />
posicionados nas quatro faces do pilar, figura 12.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
117<br />
a) Defletômetros – vista lateral b) Extensômetros – vista superior<br />
c) Vista geral da instrumentação<br />
Figura 12 - Esquema de instrumentação do pilar<br />
2.4 Execução das armaduras<br />
a. Armadura longitudinal<br />
Era composta por oito barras de 12,5mm de diâmetro, dispostas como mostra<br />
a figura 13. Utilizaram-se espaçadores de argamassa para garantir o cobrimento da<br />
armadura.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
118<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
a) Modelos com seção quadrada b) Modelos com seção retangular<br />
Figura 13 - Detalhe das armaduras<br />
b. Armadura transversal<br />
Era composta por estribos a 90 o com bitolas e espaçamentos escolhidos para<br />
proporcionar diferentes valores para ρ w (taxa volumétrica de armadura transversal). A<br />
tabela 4 traz os valores para ρ w . As configurações para os estribos nos modelos de<br />
seção transversal quadrada e retangular podem ser vistas na figura 14.<br />
Figura 14 - Configurações para os estribos dos modelos de seção transversal quadrada e<br />
retangular<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
119<br />
TABELA 4 - Taxa geométrica de armadura transversal (ρ w )<br />
Pilares<br />
SÉRIE 1<br />
SÉRIE 2<br />
SÉRIE 3<br />
SÉRIE 4<br />
SÉRIE 5<br />
SÉRIE 6<br />
Concreto de resistência média de 60MPa aos 15 dias<br />
Dimensões da<br />
seção<br />
b (cm)<br />
h (cm)<br />
Estribos<br />
Cobrimento<br />
(cm)<br />
ρ w (%) ρ sl (%)<br />
P1 20 20 φ6,3c/15 1,75 0,34 2,5<br />
P2 20 20 φ6,3c/15 1,75 0,34 2,5<br />
P3 20 20 φ6,3c/10 1,75 0,51 2,5<br />
P4 20 20 φ6,3c/10 1,75 0,51 2,5<br />
P5 20 20 φ6,3c/5 1,75 1,03 2,5<br />
P6 20 20 φ6,3c/5 1,75 1,03 2,5<br />
P7 15 30 φ6,3c/15 2,00 0,34 2,2<br />
P8 15 30 φ6,3c/15 2,00 0,34 2,2<br />
P9 15 30 φ6,3c/10 2,00 0,51 2,2<br />
P10 15 30 φ6,3c/10 2,00 0,51 2,2<br />
P11 15 30 φ6,3c/5 2,00 1,03 2,2<br />
P12 15 30 φ6,3c/5 2,00 1,03 2,2<br />
c. Armadura de fretagem<br />
Foi disposta nas extremidades dos pilares com a finalidade de proteger estes<br />
locais da ruptura prematura por efeito de ponta das barras da armadura longitudinal<br />
(figura 15). As extremidades dos modelos, por serem zonas de aplicação de forças, se<br />
constituem em regiões descontínuas, ou regiões de regularização de tensões,<br />
segundo o princípio de Saint-Venant.<br />
Figura 15 - Armadura de fretagem<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
120<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
3 RESULTADOS E ANÁLISE<br />
3.1 Seção resistente de concreto<br />
Os resultados dos ensaios mostraram que, para forças próximas à força<br />
última, o núcleo de concreto definido pelos eixos dos estribos participa isoladamente<br />
como seção resistente do pilar. Os valores das forças últimas obtidas nos ensaios<br />
(F exp ) situam-se entre os obtidos teoricamente, considerando-se: (1) seção íntegra de<br />
concreto (F teo ), e (2) seção do núcleo de concreto (F teo,n ). Portanto, constata-se que:<br />
F exp /F teo 1, conforme indicado na tabela 5. A figura 16 mostra alguns<br />
modelos após a ruína.<br />
a) b)<br />
Figura 16 - Aspectos dos modelos após a ruína: a) P2 e b) P6<br />
TABELA 5 - Resumo dos resultados dos ensaios<br />
Pilar f c f y F teo (kN) F teo,n (kN) F exp F exp /F teo F exp /F teo,n<br />
P1 59,6 502 2594,1 1769,3 2278 0,88 1,29<br />
P2 64,4 502 2760,8 1870,3 2292 0,83 1,23<br />
P3 53,4 502 2376,4 1637,5 1835 0,77 1,12<br />
P4 53,4 502 2376,4 1637,5 1864 0,78 1,14<br />
P5 55,9 502 2464,2 1690,6 2158 0,88 1,28<br />
P6 55,9 502 2464,2 1690,6 2312 0,94 1,37<br />
P7 66,9 502 3151,3 2086,1 2373 0,75 1,14<br />
P8 66,9 502 3151,3 2086,1 2496 0,80 1,20<br />
P9 63,9 502 3031,7 2014,6 2446 0,81 1,21<br />
P10 63,9 502 3031,7 2014,6 2440 0,80 1,21<br />
P11 65,5 502 3094,7 2052,3 2288 0,74 1,11<br />
P12 65,5 502 3094,7 2052,3 2497 0,81 1,22<br />
MÉDIA 0,82 1,21<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
121<br />
Da observação dos resultados pode-se concluir que, para pilares de concreto<br />
de alta resistência, no caso em torno de 60MPa, a seção resistente é a seção<br />
transversal correspondente ao núcleo de concreto. Desta forma verificam-se as<br />
observações feitas por AGOSTINI (1992), PAIVA (1994), CUSSON e PAULTRE<br />
(1993) e LIMA, GIONGO e TAKEYA (1997) para pilares com concreto de resistência<br />
média à compressão de 80MPa.<br />
3.2 Capacidade resistente segundo COLLINS et al. (1993)<br />
Segundo COLLINS et al. (1993) a capacidade resistente de pilares de<br />
concreto com estribos ou barras espirais, com cobrimento, pode ser expressa por:<br />
F = k<br />
( Ag<br />
− Ast<br />
) + fy<br />
⋅ st<br />
,<br />
3 ⋅ fc<br />
⋅<br />
A<br />
onde:<br />
A g - área da seção transversal do pilar; A st - área da seção transversal das barras da<br />
armadura longitudinal; f y - resistência de escoamento das barras da armadura<br />
longitudinal; f c' - resistência à compressão do concreto; k 3 - coeficiente igual a:<br />
k 3<br />
10<br />
= 0 ,6 + e k<br />
, 3 ≤ 0,85.<br />
f c<br />
Desta forma, COLLINS et al. (1993) utilizam a seção íntegra para o cálculo da<br />
capacidade resistente do pilar e inserem o coeficiente de redução k 3 para considerar a<br />
não participação do cobrimento na seção resistente de concreto. Os resultados<br />
obtidos com a expressão proposta por COLLINS et al. (1993) ficaram próximos dos<br />
valores experimentais, como indicado na tabela 6.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
122<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
TABELA 6 - Resultados com os valores obtidos através da equação proposta por COLLINS et<br />
al. (1993)<br />
Pilar f c (MPa) 0,95f c (MPa) k 3 F teo (kN) F exp (kN) F exp /F teo<br />
P1 59,60 56,62 0,78 2217,0 2278 1,03<br />
P2 64,35 61,13 0,76 2322,6 2292 0,99<br />
P3 53,40 50,73 0,80 2079,2 1835 0,88<br />
P4 53,40 50,73 0,80 2079,2 1864 0,90<br />
P5 55,90 53,11 0,79 2134,8 2158 1,01<br />
P6 55,90 53,11 0,79 2134,8 2312 1,08<br />
P7 66,90 63,56 0,76 2620,0 2373 0,91<br />
P8 66,90 63,56 0,76 2620,0 2496 0,95<br />
P9 63,88 60,69 0,76 2544,2 2446 0,96<br />
P10 63,88 60,69 0,76 2544,2 2440 0,96<br />
P11 65,47 62,20 0,76 2584,1 2288 0,89<br />
P12 65,47 62,20 0,76 2584,1 2497 0,97<br />
MÉDIA 0,96<br />
Os resultados revelam a excelente aproximação obtida com a sugestão de<br />
COLLINS et al.(1993). Além disto está a facilidade em se considerar na formulação do<br />
modelo, a seção total de concreto, sem a necessidade de determinação da área do<br />
núcleo. Recomenda-se, portanto, este método como referência para a previsão da<br />
força última de ruptura em pilares moldados em CAR.<br />
3.3 Ductilidade<br />
Define-se ductilidade como a capacidade do material ou do elemento<br />
estrutural de se deformar inelasticamente sem perda brusca de resistência. Na<br />
presente pesquisa, após a extensa revisão bibliográfica sobre o assunto e com os<br />
resultados dos ensaios realizados, verificou-se a importância do confinamento,<br />
proporcionado pela armadura transversal, para o aumento da capacidade de<br />
deformação do pilar, isto é, a ductilização do mesmo, especialmente em pilares<br />
moldados em CAR. A menor deformação transversal do CAR quando comparado aos<br />
concretos de baixa resistência, proporciona menor solicitação da armadura<br />
transversal, portanto, as tensões laterais resultantes são inferiores. A eficiência do<br />
confinamento e, consequentemente, a ductilidade dos pilares, podem ser avaliadas<br />
segundo os indicadores: Índice de Eficiência do Confinamento e comportamento do<br />
diagrama força x deformação dos pilares.<br />
3.3.1 Índice de eficiência do confinamento<br />
Na avaliação da eficiência do confinamento utilizou-se o índice proposto por<br />
CUSSON e PAULTRE (1993) e calculado pela fórmula a seguir:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
123<br />
I.E.C.<br />
f<br />
= le<br />
,<br />
fco<br />
onde;<br />
onde:<br />
f l - pressão lateral de confinamento:<br />
f ⎛ A ⎞<br />
⎜<br />
shx + Ashy<br />
f =<br />
hcc<br />
⎟<br />
l<br />
,<br />
s ⎜<br />
⎟<br />
⎝<br />
c x + c y ⎠<br />
f hcc é a tensão na armadura transversal correspondente à resistência máxima do<br />
concreto confinado; s é o espaçamento entre estribos; A shx e A shy são as seções<br />
transversais totais das barras laterais perpendiculares aos eixos x e y,<br />
respectivamente; c x e c y são das dimensões do núcleo de concreto paralelas aos<br />
eixos x e y, respectivamente, figura 17.<br />
Figura 17 - Variáveis geométricas para o modelo sugerido por CUSSON e PAULTRE (1993)<br />
f le - pressão efetiva de confinamento;<br />
f<br />
le<br />
= Ke<br />
⋅ fl<br />
, onde;<br />
K e - Coeficiente de confinamento efetivo;<br />
K e<br />
⎛ w<br />
2 ⎞ ,<br />
,<br />
⎜ ∑ i ⎟ ⎛ s ⎞ ⎛ s ⎞<br />
1<br />
⎜1<br />
⎟ ⎜1<br />
⎟<br />
⎜ −<br />
6c x c<br />
⎟ ⋅ − ⋅ −<br />
⋅ y<br />
⎜ 2c x<br />
⎟ ⎜ 2c y<br />
⎟<br />
⎝<br />
⎠ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠<br />
=<br />
( 1− ρc<br />
)<br />
onde;<br />
Σw i 2 é a soma dos quadrados de todos as distâncias livres entre as barras adjacentes<br />
da armadura longitudinal na seção retangular; s' é a distância livre entre estribos<br />
adjacentes; ρ c é a taxa de armadura longitudinal na seção do núcleo. Note que, caso<br />
s' ≥ 2c x ou s' ≥ 2c y , a armadura de confinamento torna-se inefetiva. De acordo com<br />
este índice três diferentes classes são definidas (tabela 7). A figura 18 mostra o<br />
esquema para cálculo da pressão lateral de confinamento.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
124<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
TABELA 7 - Classificação segundo a eficiência do confinamento, CUSSON e PAULTRE (1993)<br />
Classe 1 (baixo confinamento)<br />
f<br />
0% < le<br />
fco<br />
Classe 2 (médio confinamento)<br />
f<br />
5% < le<br />
fco<br />
< 5%<br />
< 20%<br />
fle<br />
Classe 3 (alto confinamento)<br />
> 20%<br />
fco<br />
Figura 18 - Esquema para cálculo da pressão lateral de confinamento (f l )<br />
Os resultados para o I.E.C. para os modelos ensaiados estão apresentados<br />
na tabela 8.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
125<br />
TABELA 8 - Índice de Eficiência do Confinamento para os modelos<br />
Pilar s (cm) ρ w (%) f c (MPa) K e F l I.E.C. (%) Classe<br />
P1 15 0,34 59,60 0,26 0,44 0,23 I<br />
P2 15 0,34 64,35 0,26 0,49 0,24 I<br />
P3 10 0,51 53,40 0,44 1,81 1,73 I<br />
P4 10 0,51 53,40 0,44 2,32 2,22 I<br />
P5 5 1,03 55,60 0,65 4,73 6,48 II<br />
P6 5 1,03 55,90 0,65 4,73 6,48 II<br />
P7 15 0,34 66,90 0,26 0,16 0,07 I<br />
P8 15 0,34 66,90 0,26 0,15 0,06 I<br />
P9 10 0,51 63,88 0,30 2,80 1,55 I<br />
P10 10 0,51 63,88 0,30 2,34 1,29 I<br />
P11 5 1,03 65,47 0,49 6,30 5,49 II<br />
P12 5 1,03 65,47 0,49 6,30 5,49 II<br />
Observa-se dos resultados que os modelos com taxas de armadura<br />
transversal iguais a 0,34 e 0,51 apresentam baixa eficiência do confinamento (Classe<br />
I), logo, as respectivas taxas de armadura não conferem acréscimos de resistência e<br />
ductilidade aos pilares.<br />
3.3.2 Diagrama força x deformação dos pilares<br />
De acordo com o comportamento do diagrama força x deformação, ilustrado na<br />
figura 2, pode-se avaliar a eficiência da armadura transversal no confinamento. Para<br />
isto deve-se verificar o trecho descendente do diagrama, isto é, verificar o<br />
comportamento do pilar após o primeiro "pico" de força, correspondente ao ponto A do<br />
diagrama da figura 2. Caso o pilar apresente acréscimos de resistência, caracterizado<br />
por um trecho "pós-pico" horizontal ou ascendente, fica claro que as armaduras<br />
laterais estão proporcionando consideráveis pressões no núcleo. Um trecho<br />
descendente íngreme revela a ineficiência do confinamento para a ductilização da<br />
ruptura do pilar.<br />
Para exemplificar este fato, são mostrados três diferentes comportamentos<br />
para os diagramas força x deformação, verificados a partir dos ensaios dos pilares de<br />
seção quadrada, P1, P4 e P6, figura 19, e retangular, P7, P9 e P12, figura 20. Para<br />
espaçamento entre estribos de 15cm (P1, P7), 10cm (P4, P9) e 5cm (P6, P12), os<br />
aspectos das curvas força x deformação dos pilares assumiram as configurações<br />
correspondentes à baixa e média eficiência da armadura de confinamento.<br />
a. Modelos com seção transversal quadrada<br />
Para o pilar P2 observa-se que, após a força máxima ter sido atingida, não<br />
houve acréscimos de resistência para o modelo. O confinamento não foi suficiente<br />
para promover ruptura dúctil, levando o pilar à ruptura antes que as armaduras<br />
transversais tivessem alcançado o patamar de escoamento. A não existência do<br />
trecho descendente para P1, P2, P7 e P8, todos com ρ w = 0,34%, torna a armadura<br />
transversal adotada (φ6,3c/15) não recomendável à pilares de CAR com mesma<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
126<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
seção, com resistência média à compressão do concreto de 60MPa. O pilar P4<br />
apresentou trecho descendente pouco suave, porém a armadura transversal atingiu a<br />
resistência f y e garantiu ruptura dúctil ao modelo. Para o pilar P6 observa-se o trecho<br />
descendente aproximando-se da horizontal, caracterizando, portanto, a eficiência da<br />
armadura lateral no confinamento do núcleo. A ruptura foi dúctil. Estas observações<br />
concordam com os resultados para o Índice de Eficiência do Confinamento: 0,24%<br />
(P1); 2,22% (P4) e 6,48% (P6).<br />
2500<br />
Pilar P2<br />
2000<br />
Pilar P4<br />
1800<br />
2000<br />
1600<br />
1400<br />
força (kN)<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
deformação (mm/m)<br />
s = 15cm<br />
ρ l = 2,5%<br />
ρ w = 0,34%<br />
f c = 64,35MPa<br />
F u = 2292kN<br />
força (kN)<br />
1200<br />
1000<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
s = 10cm<br />
ρ l = 2,5%<br />
ρ w = 0,51%<br />
f c = 53,40MPa<br />
F u = 1864kN<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
deformação (mm/m)<br />
2500<br />
Pilar P6<br />
2000<br />
força (kN)<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
s = 5cm<br />
ρ l = 2,5%<br />
ρ w = 1,03%<br />
f c = 55,90MPa<br />
F u = 2312kN<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
deformação (mm/m)<br />
Figura 19 - Diagramas força x deformação para os pilares P2, P4 e P6 (valores médios)<br />
b. Modelos com seção transversal retangular<br />
Para os modelos de seção retangular, as observações são semelhantes às<br />
dos modelos de seção quadrada. Para o pilar P7 não se observaram ganhos de<br />
resistência e ductilidade, o que traduz a ineficiência do confinamento. O pilar P9<br />
apresentou patamar para a força máxima e trecho descendente pouco suave, mas<br />
com comportamento dúctil. Para o pilar P12 observa-se o trecho descendente<br />
aproximando-se da horizontal, assim como no pilar P6, caracterizando assim<br />
comportamento dúctil e eficiência da armadura lateral. As observações concordam<br />
portanto com os resultados para o Índice de Eficiência do Confinamento: 0,23% (P7);<br />
1,55% (P9) e 5,49% (P12).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
127<br />
2500<br />
Pilar P7<br />
3000<br />
Pilar P9<br />
2000<br />
2500<br />
Força (kN)<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deformação (mm/m)<br />
s = 15cm<br />
ρ l = 2,2%<br />
ρ w = 0,34%<br />
f c = 66,90MPa<br />
F u = 2373kN<br />
Força (kN)<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deformação (mm/m)<br />
s = 10cm<br />
ρ l = 2,2%<br />
ρ w = 0,51%<br />
f c = 63,88MPa<br />
F u = 2446kN<br />
3000<br />
Pilar P12<br />
2500<br />
Força (kN)<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
s = 5cm<br />
ρ l = 2,2%<br />
ρ w = 1,03%<br />
f c = 65,47MPa<br />
F u = 2497kN<br />
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 20 - Diagramas força x deformação para os pilares P7, P9 e P12<br />
3.4 Armaduras mínimas<br />
A partir do exame dos itens anteriores, pode-se verificar a taxa volumétrica de<br />
armadura transversal (ρ w ) que garantiu ruptura dúctil ao pilar. Segundo AGOSTINI<br />
(1992), para taxas de armadura longitudinal de 2,54% e transversal de 1,03%, os<br />
pilares apresentaram ruptura dúctil. Na presente pesquisa, para conseguir ruptura<br />
dúctil nos pilares foram necessárias taxas de armadura longitudinal de 2,50% (seção<br />
transversal quadrada) e 2,20% (seção retangular) e transversal superiores a 0,51%,<br />
para pilares de seção quadrada e retangular correspondendo a espaçamento entre<br />
estribos de 10cm.<br />
Para os modelos de seção quadrada, observou-se que a configuração simples<br />
de estribos, apesar de contar com oito barras longitudinais, não proporcionava Índices<br />
de Eficiência do Confinamento superiores a 20% (Classe 1), necessitando de<br />
pequenos espaçamentos entre estribos para situarem-se na Classe 2 (média<br />
eficiência), no caso, os modelos das Séries 3.<br />
No caso dos modelos com seção retangular, a configuração sugerida também<br />
não proporcionou resultados satisfatórios. Apenas os modelos da série 6 (P7 e P8)<br />
atingiram I.E.C. superior a 5% (média eficiência do confinamento).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
128<br />
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo<br />
Segundo a NBR 6118 (1978), as barras da armadura lateral que não tiverem<br />
suporte lateral, devem estar afastadas de, no máximo, 20φ t , onde φ t é o diâmetro do<br />
estribo principal. Para os modelos de seção retangular ensaiados, as barras da<br />
armadura longitudinal apresentavam-se afastadas de 7,8cm < 20φ t = 20 × 0,63 =<br />
12,6cm. Logo, segundo a norma em vigor, não seria necessário dispor o estribo<br />
adicional utilizado nos modelos das séries 4 a 6. Esta recomendação, para pilares de<br />
CAR apresenta-se contra a segurança, uma vez que se traduz em perda de<br />
resistência e ductilidade do elemento estrutural.<br />
Para todos os modelos comprovou-se então a necessidade de configurações<br />
mais eficientes para a armadura transversal.<br />
4 CONCLUSÃO<br />
Diante dos resultados e análises feitas até então, torna-se necessário pensar<br />
na possibilidade de mudança dos critérios de detalhamento de pilares, especialmente<br />
no tocante aos valores mínimos para armadura transversal e espaçamentos<br />
máximos. Para a utilização racional do CAR nas edificações, toda tradição de projeto<br />
deve ser revista, uma vez que as exigências até então em vigor, estão baseadas no<br />
comportamento de pilares de concreto de baixa resistência (resistência média à<br />
compressão inferior a 40MPa).<br />
Os pilares ensaiados apresentaram pequenas excentricidades que foram<br />
observadas de imediato pela leitura dos extensômetros posicionados nas armaduras<br />
longitudinais. Em todos os modelos a força última de ruptura (F exp ) ficou situada entre<br />
a força última teórica (para a seção íntegra, F teo ) e a força última teórica para o núcleo<br />
definido pela linha-de-centro dos estribos, F teo,n .<br />
Pode-se observar que a taxa de armadura transversal que garantiu ruptura<br />
dúctil para os pilares foi ρ w = 0,51%, com φ6,3c/10, adotada nos modelos da Série 2 e<br />
5. Este valor é inferior ao valor 2,2% proposto por AGOSTINI (1992) e PAIVA (1994).<br />
A pesquisa mostrou também a importância de uma configuração eficiente da<br />
armadura transversal para garantir acréscimos de resistência e ductilidade ao pilar.<br />
Quanto à eficiência da armadura transversal para o confinamento do núcleo, percebese<br />
que melhores resultados seriam obtidos com o emprego de outras configurações<br />
para a armadura. A configuração de estribos adotada na pesquisa não levou a<br />
acréscimos substanciais de resistência e ductilidade, mostrando-se eficaz apenas<br />
com reduzido espaçamento. Configurações de estribos como as mostradas na figura<br />
21 podem vir a ser mais eficientes quanto a produzir maiores acréscimos de<br />
resistência e ductilidade nos pilares.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ...<br />
129<br />
Figura 21 - Configurações alternativas para os estribos<br />
Os resultados da pesquisa também puseram em relevo a necessidade de<br />
taxas de armadura transversal, superiores às empregadas em pilares de concreto de<br />
baixa resistência. Espaçamentos superiores a 15cm, dependendo da configuração<br />
adotada para estribos, deveriam ser evitados.<br />
5 AGRADECIMENTOS<br />
Aos órgãos de fomento à pesquisa, CAPES - Fundação de Aperfeiçoamento<br />
de Pessoal de Nível Superior e FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do<br />
Estado de São Paulo (processo número 97/13378-7), pelas bolsas de mestrado<br />
concedidas.<br />
Às empresas CAMARGO CORRÊA CIMENTOS S.A., e REAX INDÚSTRIA E<br />
COMÉRCIO LTDA., pelos materiais doados que permitiram a realização da etapa<br />
experimental do trabalho.<br />
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AGOSTINI, L. R. S. (1992). Pilares de concreto de alta resistência. São Paulo. Tese<br />
(Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. (Orientador: Péricles<br />
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of HSC columns under axial load. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON<br />
UTILIZATION OF HIGH-STRENGTH CONCRETE, 3., Norway, 1993. Proceedings.<br />
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execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro.<br />
CLAESON, C.; GYLLTOFT, K.; GRAUERS, M. (1996). Experiments and numerical<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
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COLLINS, M. P.; MITCHEL, D. MACGREGOR, J. G. (1993). Structural design<br />
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confined by retangular ties under concentric loading. Department of Civil<br />
Engineering, Faculty of Applied Sciences, University of Sherbrooke, Aug.<br />
CUSSON, D.; PAULTRE, P. (1993). Confinement model for high-strength concrete<br />
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Carlos, Universidade de São Paulo. (Orientador: José Samuel Giongo).<br />
LIMA, F.B.; GIONGO, J.S.; TAKEYA, T. (1997). Análise experimental de pilares<br />
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REUNIÃO DO IBRACON, 39., São Paulo, 5-8 agosto. São Paulo, IBRACON,<br />
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PAIVA, N. M. B. (1994). Pilares de concreto de alta resistência com seção<br />
transversal retangular solicitados à compressão simples. Dissertação (Mestrado) -<br />
Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas. (Orientador: Luís<br />
Roberto Sobreira de Agostini).<br />
QUEIROGA, M. V. M. (1999). Análise experimental de pilares de concreto de alto<br />
desempenho submetidos à compressão simples. Dissertação (Mestrado) - Escola<br />
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. (Orientador: José Samuel<br />
Giongo).<br />
SHEIKH, S. A.; UZUMERI, S. M. (1982). Analytical Model for Concrete Confinement in<br />
Tied Columns. Journal of Structural Engineering, ASCE, v. 108, p. 2703-2722, Dec.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.
RESISTÊNCIA E DUCTILIDADE DAS LIGAÇÕES<br />
LAJE-PILAR EM LAJES-COGUMELO DE CONCRETO<br />
DE ALTA RESISTÊNCIA ARMADO COM FIBRAS DE<br />
AÇO E ARMADURA TRANSVERSAL DE PINOS<br />
Aline Passos de Azevedo 1 & João Bento de Hanai 2<br />
RESUMO<br />
Analisa-se a resistência à punção e a ductilidade das ligações laje-pilar em doze<br />
modelos de lajes-cogumelo de concreto armado, nas quais se efetuam combinações de<br />
emprego de concreto de alta resistência, diferentes volumes de fibras de aço e uso de<br />
armadura transversal na forma de conectores de aço tipo pino. Todas as lajes são<br />
quadradas com 1160mm de lado e 100mm de espessura. A armadura de flexão foi<br />
composta de barras de aço de 10mm espaçadas de tal forma a resistir a um momento<br />
fletor único em ambas direções. Os conectores, quando utilizados, foram dispostos<br />
radialmente e compostos de barras de aço de 6.6mm soldadas a segmentos de ferro<br />
chato nas duas extremidades. Para avaliar a capacidade resistente dos modelos de<br />
ligação laje-pilar e observar o ganho de ductilidade que as fibras proporcionam, foram<br />
ensaiados segmentos-de-laje, os quais representam uma faixa destes modelos de<br />
ligação laje-pilar. Foi utilizado um sistema de ensaio dotado de atuador hidráulico<br />
servo-controlado, programado para ensaio com deformação controlada e aquisição<br />
contínua dos dados, o que permitiu a avaliação do comportamento pós-pico de<br />
resistência e a realização de medições de resistência residual. Várias hipóteses de<br />
cálculo foram utilizadas para avaliar a resistência última das ligações laje-pilar.<br />
Empregou-se um critério de classificação para caracterizar o tipo de ruptura em:<br />
punção ou flexão predominante ou uma combinação de punção-flexão. Constatou-se<br />
que o emprego de concreto de alta resistência, juntamente com armadura transversal,<br />
aumenta substancialmente a resistência da ligação laje-pilar, e quando combinado com<br />
fibras de aço, consegue-se um considerável aumento da ductilidade.<br />
Palavras-chave: concreto de alta resistência; lajes-cogumelo; punção; ductilidade;<br />
fibras de aço; armadura transversal.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Com o desenvolvimento cultural, científico e econômico, foram surgindo<br />
diversos processos na construção de edifícios de múltiplos andares, entre eles o<br />
sistema estrutural constituído de lajes apoiadas diretamente em pilares.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong><br />
2 Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jbhanai@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
132<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
Quanto às vantagens que as lajes-cogumelos apresentam em relação às<br />
estruturas tradicionais (laje-viga-pilar), destacam-se:<br />
• adaptabilidade a diversas formas ambientais;<br />
• simplificação na execução de fôrmas, armaduras e concretagem;<br />
• armaduras mais simples, possibilitando o emprego de telas soldadas;<br />
• maior facilidade no lançamento, adensamento e desforma do concreto;<br />
• diminuição dos revestimentos;<br />
• redução da altura total do edifício;<br />
• simplificação das instalações.<br />
Com a simplificação e a racionalização das tarefas e dos materiais utilizados,<br />
o sistema estrutural de lajes-cogumelo ou de lajes sem vigas pode melhorar as<br />
condições de execução e utilização de um edifício, como também reduzir o custo da<br />
obra e facilitar uma manutenção futura.<br />
Pode-se ainda notar avanços recentes no sistema construtivo, com o emprego<br />
de novos materiais. A protensão com cordoalhas engraxadas e plastificadas vem<br />
ganhando adeptos na construção de sistemas estruturais constituídos de lajescogumelo.<br />
A cordoalha é envolvida por uma graxa especial que permite a proteção<br />
contra a corrosão, além de uma excelente lubrificação entre a cordoalha e a capa<br />
plástica, reduzindo consequentemente a perda por atrito (coeficiente de atrito – 0,24<br />
para bainhas metálicas e 0,07 no caso de capa plástica). Este sistema de aplicação<br />
tem também como vantagens: maior facilidade e rapidez na colocação das cordoalhas<br />
na fôrma, maior excentricidade possível e ausência da operação de injeção de pasta<br />
de cimento (CAUDURO, 1997).<br />
Não basta, no entanto, que as qualidades e as possibilidades de vantagens<br />
sejam enumeradas para que elas sejam obtidas. É necessário que projetistas e<br />
construtores assimilem toda a tecnologia de projeto e execução, bem como que haja<br />
treinamento de engenheiros, desenhistas, tecnólogos e, principalmente, da mão-deobra<br />
empregada na execução.<br />
As lajes-cogumelo, entretanto, não devem ser vistas como um tipo de<br />
estrutura que pode ser empregada em qualquer situação. Nos edifícios residenciais,<br />
geralmente a disposição dos pilares não é regular, podendo acarretar situações<br />
antieconômicas.<br />
No caso de edifícios altos, a ausência de vigas diminui a estabilidade global<br />
diante de ações horizontais. Portanto, a eficiência de um sistema estrutural laje-pilar<br />
sempre será inferior à de um sistema aporticado, ou seja, de estruturas convencionais<br />
tipo laje-viga-pilar, sendo necessário vincular as lajes sem vigas a núcleos rígidos ou<br />
paredes estruturais, responsáveis pela absorção das ações laterais.<br />
O deslocamento transversal no meio do vão (flechas) das lajes sem vigas é<br />
maior do que aquele encontrado nas lajes sobre vigas. A ocorrência destes<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
133<br />
deslocamentos que ultrapassem determinados limites pode causar desconforto aos<br />
usuários, danos a elementos não-estruturais e interferência no funcionamento da<br />
própria estrutura. Conforme SILVANY (1996), os deslocamentos transversais podem<br />
ser decorrentes de uma série de fatores, tais como: ações de serviço e história do<br />
carregamento, retração e fissuração do concreto, fluência, resistência do concreto,<br />
processo construtivo, entre outros.<br />
Uma outra desvantagem, como já se afirmou, refere-se ao puncionamento da<br />
laje na ligação laje-pilar decorrente da concentração de tensões nesta região.<br />
Por serem apoiadas diretamente sobre os pilares, as lajes-cogumelo têm sua<br />
resistência limitada pela resistência à punção nas seções em torno dos pilares, de<br />
cargas concentradas ou de reações de apoio. Portanto, a ligação laje-pilar torna-se<br />
uma região crítica neste sistema estrutural.<br />
Para garantir que não ocorra ruptura por punção, estas lajes são<br />
dimensionadas em função, justamente, da resistência à punção nas ligações com os<br />
pilares. Logo, é importante que seja dada ênfase ao estudo, não somente da<br />
resistência, mas também da ductilidade desta ligação particular.<br />
Com intuito de aliviar a grande concentração de tensões nas áreas<br />
carregadas e aumentar a resistência ao puncionamento, são empregadas algumas<br />
técnicas, como: utilização de capitéis, aumento da espessura das lajes e utilização de<br />
armadura específica para o cisalhamento.<br />
As armaduras de combate à punção aumentam a resistência da ligação lajepilar<br />
e alguns tipos proporcionam uma certa ductilidade nesta região, mas, para o seu<br />
perfeito desempenho, elas devem contar com efetiva ancoragem nas duas<br />
extremidades e não devem interferir na colocação das outras armaduras, como as de<br />
flexão da laje e as do pilar. Neste trabalho, serão utilizadas armaduras transversais<br />
denominadas de conectores tipo pino, recomendadas pelo Texto-base de revisão da<br />
NB-1 e comentários (1997), em disposição radial, pois, além de obedecerem às<br />
exigências descritas, eles são de fácil instalação, aumentam a resistência e também<br />
conferem ductilidade à ligação, conforme observado em pesquisas anteriores.<br />
Estudos recentes (ZAMBRANA VARGAS, 1997) demonstraram que a<br />
resistência à punção pode também ser aumentada pelo uso de concreto de alta<br />
resistência e de concreto com fibras curtas de aço.<br />
A utilização de concretos de alto desempenho constitui uma alternativa de<br />
grande interesse, particularmente no que diz respeito ao atributo de alta resistência.<br />
Para o caso de estruturas em lajes-cogumelo, o emprego do concreto de alta<br />
resistência pode prejudicar, a princípio, o mecanismo secundário de engrenamento<br />
dos agregados e entre as faces fissuradas na resistência ao cisalhamento. Afinal, a<br />
ruptura por cisalhamento em peças de concreto de alta resistência normalmente se dá<br />
com superfícies lisas que cortam os agregados, ao contrário do caso de concreto de<br />
resistência normal, em que ela é áspera e irregular, contornando os agregados<br />
graúdos, geralmente mais resistentes que a argamassa.<br />
Outro atributo de concretos de alto desempenho a ser explorado é a maior<br />
tenacidade, que pode ser alcançada pela adição de fibras de aço ao concreto.<br />
“A idéia de se reforçar a matriz de concreto e torná-la mais homogênea e mais<br />
dúctil vem desde o século passado, ganhando maior impulso após 1960. A introdução<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
134<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
de fibras curtas melhora as características de ductilidade, a resistência ao impacto e à<br />
fadiga, o controle de fissuração, o comportamento pós-fissuração, tornando menos<br />
súbita a ruptura do material e, em alguns casos, possibilita o aumento da resistência à<br />
tração” (FURLAN, 1995). Por isso, o grande interesse de se utilizar o concreto de alta<br />
resistência reforçado com fibras de aço, para o caso da punção, reside no fato de que<br />
a ruptura por punção via de regra ocorre bruscamente, havendo necessidade de<br />
aumentar a ductilidade da ligação para que seja possível a redistribuição de esforços<br />
ou a tomada de certas providências antes da ruína total.<br />
Entretanto, por ser descontínua, a fibra é menos eficiente que a armadura<br />
contínua de fios e barras na função de resistir aos esforços de tração e de<br />
cisalhamento. Todavia, a partir de determinadas taxas de fibras e em função do<br />
espaçamento reduzido entre elas, sua atuação como obstáculo ao desenvolvimento<br />
das fissuras é superior. Ao interceptar as microfissuras que surgem durante o<br />
endurecimento da pasta, as fibras impedem sua progressão e evitam o aparecimento<br />
prematuro de macrofissuras, inclusive diminuindo a permeabilidade do concreto e<br />
conseqüentemente melhorando as condições de durabilidade. Quando combinadas<br />
com armadura contínua, ambas se tornam mais eficientes, pelo efeito sinergético.<br />
Além de “costurar” as fissuras, as fibras melhoram a aderência do concreto com a<br />
armadura contínua, inibindo a fissuração na região de transferência de forças. Desta<br />
forma, ao invés de substituir a armadura contínua, as fibras podem constituir um<br />
reforço adicional (BENTUR & MINDESS, 1990).<br />
Ficou clara, portanto, a necessidade de se pesquisar a ligação laje-pilar em<br />
lajes-cogumelo, reforçando esta ligação com armadura transversal e utilizando<br />
concreto de alta resistência com fibras de aço juntamente com a armadura de flexão.<br />
2 OBJETIVOS<br />
Esta pesquisa tem como objetivo investigar o comportamento resistente de<br />
lajes-cogumelo de concreto armado, analisando-se as possibilidades de melhoria de<br />
desempenho com relação ao fenômeno de punção, pelo emprego de concreto de alta<br />
resistência, pelo reforço com fibras de aço e pelo uso de armaduras transversais de<br />
combate à punção, por meio de ensaios de modelos de lajes-cogumelo que<br />
representam a ligação laje-pilar para o caso de pilar interno.<br />
Os ensaios foram realizados com deformação controlada, a fim de se obter<br />
uma avaliação mais precisa da ductilidade da ligação laje-pilar, além da utilização de<br />
um sistema de aquisição contínuo de dados (força, deformações e deslocamentos)<br />
para que se pudesse fazer medições de resistência residual.<br />
Procurou-se também obter indicações quanto à melhoria de desempenho das<br />
lajes-cogumelo em função da variação do volume de fibras de aço a ser adicionado,<br />
para se determinar a influência que este produz.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
135<br />
3 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />
O programa experimental constituiu-se do ensaio de doze modelos de lajescogumelo<br />
quadradas de 1160mm de lado e 100mm de espessura. Todas as lajes<br />
foram submetidas a um carregamento aplicado no centro da superfície superior<br />
através de uma placa de aço quadrada de lados iguais a 80mm e espessura de<br />
37mm.<br />
Para determinação da resistência à flexão dos modelos de lajes-cogumelo e<br />
avaliação de quanto as fibras influenciam a ductilidade na flexão, foram ensaiados<br />
seis segmentos-de-laje de dimensões 1160mm de comprimento e 330mm de largura,<br />
representando então uma faixa da laje-cogumelo. Estes segmentos-de-laje foram<br />
distribuídos em dois grupos de três, onde um grupo era moldado com concreto de<br />
baixa resistência e o outro com concreto de alta resistência, variando a porcentagem<br />
de fibras em cada grupo de 0%; 0,75% e 1,50% (Tabela 1)<br />
TABELA 1 - Características dos modelos de ligação laje-pilar e segmentos-de-laje<br />
Série Laje-pilar A sw V f (%) Segmento-de-laje V f (%)<br />
A OSC.S1 - 0 V1 0<br />
A OSC.S2 - 0,75 V2 0,75<br />
A OSC.S3 - 1,50 V3 1,50<br />
A OSC.S4 A sw 0<br />
A OSC.S5 A sw 0,75<br />
A OSC.S6 A sw 1,50<br />
B HSC.S1 - 0 V4 0<br />
B HSC.S2 - 0,75 V5 0,75<br />
B HSC.S3 - 1,50 V6 1,50<br />
B HSC.S4 A sw 0<br />
B HSC.S5 A sw 0,75<br />
B HSC.S6 A sw 1,50<br />
Série A : OSC – Ordinary Strength Concrete (concreto de baixa resistência)<br />
Série B : HSC – High Strength Concrete (concreto de alta resistência)<br />
Vf: volume de fibras, calculado através do peso específico do aço vezes a porcentagem de fibras no<br />
concreto.<br />
A princípio, os segmentos-de-laje deveriam representar os modelos de ligação<br />
laje-pilar também em termos de resistência do concreto para que fosse possível<br />
utilizar o momento fletor último experimental diretamente, para efeito de classificação<br />
do modo de ruptura. Com isso teríamos uma avaliação direta da carga de ruptura por<br />
flexão virtual para cada modelo e assim, poder compará-la com a carga última obtida<br />
no ensaio à punção. Contudo, não houve similaridade entre os concretos referentes<br />
aos segmentos-de-laje e aos modelos de lajes-cogumelo, pois nestes últimos o<br />
concreto foi moldado em misturador planetário, obtendo-se uma mistura mais<br />
homogênea e de melhor qualidade, logo havendo um acréscimo significativo na<br />
resistência do concreto. Os concretos dos segmentos-de-laje foram moldados em<br />
betoneira estacionária, tal qual foi efetuado no período de estudos de dosagem,<br />
obtendo-se as resistências desejadas de 30 e 60 MPa, mas que se mostraram<br />
maiores quando a mistura foi feita no misturador planetário.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
10 10 10 cm cm cm<br />
136<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
Como não foi possível aplicar diretamente o valor experimental da carga<br />
última de flexão para avaliar a ductilidade da peça, efetuou-se uma adaptação de<br />
cálculo com a aplicação da fórmula desenvolvida por Hallgren (1996) para cálculo<br />
teórico da carga última de flexão do modelo, sem a influência das fibras, como se<br />
apresenta mais adiante na análise dos resultados.<br />
4 MATERIAIS<br />
4.1 Armaduras<br />
As lajes foram armadas de tal forma que as armaduras da zona tracionada<br />
nas duas direções resistissem a um momento fletor único, utilizando-se para isso 17<br />
barras numa direção x e 20 barras na direção perpendicular, ambas com diâmetro de<br />
10mm (CA-50). Na zona comprimida foram utilizadas 9 barras de 5mm (CA-60) de<br />
diâmetro nas duas direções (Figura 1).<br />
A armadura transversal escolhida foi o conector tipo pino, recomendado pelo<br />
TB NB-1/97, composta de barras de 6.6mm (CA-25) soldados a segmentos de ferro<br />
chato. Os conectores tipo pino estão em disposição radial a um ângulo de 40º. A taxa<br />
de armadura de flexão dos modelos de lajes-cogumelo é de 1,57%.<br />
Armadura superior<br />
Armadura inferior<br />
9 φ 5.0mm<br />
17 φ 10.0mm<br />
9 φ 5.0mm<br />
20 φ 10.0mm<br />
Seção transversal<br />
14 cm<br />
8 cm<br />
2.3<br />
5.6<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
10 cm<br />
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
137<br />
Obs.: laje moldada na posição inversa.<br />
Figura 1 - Distribuição da armadura de flexão nos modelos de lajes-cogumelo<br />
Os segmentos-de-laje foram armados na zona tracionada com uma malha<br />
composta de 6 φ 10.0mm na direção longitudinal e 20 φ 10.0mm na outra direção,<br />
enquanto que na zona comprimida foram colocadas 3 φ 5.0mm e 9 φ 5.0mm,<br />
representando justamente uma faixa da laje-cogumelo (Figura 2).<br />
Superior<br />
Inferior<br />
Seção transversal<br />
9 φ 5.0mm<br />
17 φ 10.0mm<br />
14 cm<br />
5.6<br />
3 φ 5.0mm<br />
6 φ 10.0mm<br />
Figura 2 - Distribuição das armaduras dos segmentos-de-laje<br />
4.2 Concreto<br />
Empregou-se Cimento Portland Composto de classe CP II F-32, proveniente<br />
da “Companhia de Cimento Portland Itaú” para o concreto de baixa resistência. Para o<br />
concreto de alta resistência empregou-se Cimento Portland de Alta Resistência Inicial<br />
da classe CPV ARI-PLUS da fábrica “CIMINAS”.<br />
O superplastificante utilizado empregado foi o REAX-3000A da “REAX<br />
Indústria e Comércio Ltda.” e a sílica ativa foi a Sílica Fume – SILMIX ND da<br />
“Camargo Corrêa Metais S.A.” (Tabela 2).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
138<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
A mistura do concreto foi feita em betoneira estacionária de eixo inclinado<br />
para moldagem dos segmentos-de-laje e em misturador planetário para os modelos<br />
de lajes-cogumelo devido ao alto volume de material. O adensamento do concreto foi<br />
realizado com auxílio da mesa vibratória, em ambos os casos (Figura 3).<br />
4.3 Fibras de aço<br />
A fibra empregada foi a RC 65/30 BN da DRAMIX. Esta fibra é reta com<br />
ganchos nas duas extremidades, de comprimento total igual a 30mm, diâmetro de<br />
0,45mm, portanto com relação de aspecto (l/d) igual a 67.<br />
5 INSTRUMENTAÇÃO<br />
As deformações da armadura de flexão e da armadura de cisalhamento foram<br />
medidas através de extensômetros de resistência elétrica, os quais foram conectados<br />
a um sistema de aquisição de dados.<br />
Quanto aos modelos de lajes-cogumelo foram posicionados extensômetros<br />
elétricos a fim de observar as deformações nas armaduras de flexão em pontos<br />
distintos, conforme Figura 4.<br />
TABELA 2 - Composição dos concretos<br />
• Concreto de baixa resistência (aos 14 dias)<br />
Traço : 1:1,8:2,5 a/c = 0,50<br />
Componentes Consumo (kg/m 3 )<br />
Cimento CP II F-32 423,15<br />
Areia 760,56<br />
Brita 1 1056,30<br />
Água 211,30<br />
• Concreto de alta resistência (aos 14 dias)<br />
Traço : 1:1,8:2,0 a/c = 0,40<br />
Componentes Consumo (kg/m 3 )<br />
Cimento CPV-ARI 479,07<br />
Sílica ativa 47,91<br />
Areia 862,41<br />
Brita 1 958,33<br />
SP (3000A) 14,45<br />
Água 187,96<br />
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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
139<br />
Figura 3 - Fotografias de moldagem dos modelos de laje-cogumelo<br />
Nos conectores tipo pino foram colados extensômetros ao meio da barra de<br />
6.6mm, ou seja, na metade da altura dos conectores, trecho provavelmente<br />
responsável pelo combate à punção, a fim de observar as deformações nestes<br />
conectores e compará-las com as deformações observadas no ensaio de tração da<br />
barra isolada e no ensaio de avaliação da resistência da solda.<br />
Os transdutores de deslocamento foram posicionados no centro da laje com a<br />
finalidade de registrar as flechas, e ao longo dos apoios em forma de octógono para<br />
verificação dos deslocamentos nestes pontos. Esta forma de octógono foi escolhida<br />
com a finalidade de eliminarmos os momentos volventes encontrados nos cantos dos<br />
modelos, apesar desta solução não ter sido confirmada. Optou-se por esta<br />
instrumentação, com transdutores de deslocamento, pois assim não há interferência<br />
da deformação do pórtico, já que ela independe deste, podendo-se então comprovar a<br />
eficiência do sistema de reação utilizado nos ensaios. Os transdutores também são<br />
conectados a um sistema de aquisição para coleta e registro dos dados.<br />
1160 mm<br />
170<br />
170<br />
110<br />
100<br />
50<br />
30<br />
1160 mm<br />
170<br />
110<br />
50<br />
5<br />
6<br />
7<br />
1 2 3<br />
8<br />
4<br />
170<br />
100<br />
30<br />
9 10 11<br />
13<br />
14<br />
12<br />
15<br />
16<br />
80<br />
80<br />
Zona tracionada<br />
Zona comprimida<br />
Figura 4 - Instrumentação das armaduras de flexão nos modelos de lajes-cogumelo<br />
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140<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
6 SISTEMA DE ENSAIO<br />
O sistema de ensaio adotado para os segmentos-de-laje está representado na<br />
Figura 5. Este sistema foi constituído basicamente de dois conjuntos de apoio<br />
formados por blocos de concreto e perfis metálicos, e dois conjuntos compostos por<br />
duas placas e um rolete formam uma rótula que permite a rotação do segmento-delaje.<br />
A carga foi aplicada por um atuador hidráulico servo-controlado e transmitida<br />
para o segmento-de-laje através de uma viga metálica posicionada no meio deste.<br />
atuador servo-hidráulico<br />
célula de carga<br />
viga I metálica<br />
almofadas de borracha<br />
segmento-de-laje<br />
rótula<br />
perfil metálico<br />
perfil metálico<br />
bloco de concreto<br />
Figura 5 - Sistema de ensaio e aplicação do carregamento para os segmentos-de-laje<br />
O pórtico utilizado para o ensaio dos modelos de lajes-cogumelo foi o mesmo<br />
utilizado para os segmentos-de-laje. O apoio do modelo de ligação laje-pilar é<br />
constituído por um quadro de vigas de aço formando um quadrado de 1160mm de<br />
lado e reforços nos cantos, apoiado em blocos de concreto, disposição esta<br />
empregada com intuito de caracterizar uma linha de apoio poligonal, mais próxima da<br />
circunferência (Figura 6). A aplicação da carga foi transmitida através de uma placa<br />
quadrada de aço de 80mm de lado, posicionada no centro da laje.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
141<br />
atuador servo-hidráulico<br />
célula de carga<br />
laje testada<br />
chapa<br />
chapa de apoio<br />
viga I metálica<br />
bloco de concreto<br />
Figura 6 - Sistema de ensaio e aplicação do carregamento para os modelos de ligação lajepilar<br />
(esquemático)<br />
No procedimento do carregamento tanto para os segmentos-de-laje como<br />
para os modelos de lajes-cogumelo, aplicou-se uma força concentrada por meio de<br />
um atuador hidráulico servo-controlado, controlando-se a velocidade de deslocamento<br />
do pistão. Com este tipo de ensaio, com deformação controlada, pretendeu-se obter<br />
uma curva Força x Deslocamento que permitisse a avaliação da energia absorvida.<br />
Com isso, buscou-se avaliar a ductilidade da ligação laje-pilar, para diferentes<br />
combinações de armaduras transversais e teores de fibras de aço, para o caso das<br />
lajes e a ductilidade que as fibras proporcionam, para o caso dos segmentos-de-laje.<br />
7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
7.1 Segmentos-de-laje<br />
Como foi visto anteriormente, os segmentos-de-laje estão representando uma<br />
parte do modelo de laje-cogumelo ensaiado, no sentido de determinar sua resistência<br />
à flexão. Os resultados experimentais e teóricos estão apresentados na Tabela 3.<br />
Para análise da influência das fibras no acréscimo de carga, no momento<br />
último e na ductilidade que ela fornece, utiliza-se o gráfico da Figura 7. Com isso,<br />
observa-se que:<br />
• À medida que aumenta o volume de fibras no concreto há um aumento da<br />
energia absorvida pela peça, ou seja, ela torna-se mais dúctil;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
142<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
TABELA 3 - Resultados experimentais e teóricos dos segmentos-de-laje<br />
Modelo<br />
f c<br />
(MPa)<br />
f t<br />
(MPa)<br />
F u<br />
(kN)<br />
M u,exp.<br />
(kN.m)<br />
M u,eq.<br />
(kN.m)<br />
M u,H<br />
(kN.m)<br />
Modo de<br />
ruptura<br />
V1 29,98 2,67 83,0 22,0 20,2 20,3 Flexão<br />
V2 33,92 3,37 88,6 23,5 20,7 20,8 Flexão<br />
V3 36,40 4,64 86,9 23,0 21,0 21,0 Flexão<br />
V4 66,77 3,63 90,9 24,1 22,5 22,3 Flexão<br />
V5 64,79 5,42 96,5 25,6 22,5 22,2 Flexão<br />
V6 67,28 7,50 99,0 26,3 22,6 22,3 Flexão<br />
Fu: carga de ruptura dos segmentos-de-laje;<br />
Mu,exp.: momento último experimental;<br />
Mu,eq.: momento último calculado pelas equações (diagrama retangular);<br />
Mu,H: momento último calculado conforme equações utilizadas por HALLGREN (1996).<br />
Figura 7 - Curva carga x deslocamento dos segmentos-de-laje<br />
• Comparando duas peças com mesmo volume de fibras, embora moldadas com<br />
concretos diferentes, isto é, os segmentos-de-laje V1 com V4, V2 com V5 ou<br />
V3 com V6, o aumento da resistência do concreto acarreta o aumento do<br />
momento fletor último observado, enquanto que os deslocamentos finais<br />
permanecem aproximadamente os mesmos;<br />
• Para o concreto tipo A, a carga de ruptura aumentou em 6,8% com adição de<br />
0,75% de fibras e 4,7% com 1,50% de fibras. Já a energia absorvida teve um<br />
acréscimo 88,1% com 0,75% de fibras e 117,2% para 1,50% de fibras, quando<br />
calculada a área sob a curva de cada modelo;<br />
• Para o concreto tipo B, a carga de ruptura aumentou em 6,2% com adição de<br />
0,75% de fibras e 8,9% com 1,50% de fibras. A energia absorvida teve um<br />
acréscimo de 62,0% e 103,7%, para os segmentos-de-laje com 0,75% e 1,50%<br />
de fibras, respectivamente;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
143<br />
• Considerando-se apenas o aumento da resistência à compressão simples do<br />
concreto e mantendo-se o volume de fibras, observa-se que a carga última<br />
aumentou em 8,9% para 0,75% fibras e 13,9% para 1,50% de fibras,<br />
mostrando então que o uso de concretos de alta resistência traz melhores<br />
resultados quando eles estão combinados com volumes maiores de fibras;<br />
• Analisando os resultados experimentais e teóricos dos momentos fletores<br />
últimos, observa-se que há uma certa proximidade entre estes valores. Com<br />
isso, pode-se empregar a equação utilizada por HALLGREN (1996) para<br />
determinar a capacidade resistente à flexão dos modelos de ligação laje-pilar,<br />
embora ela não leve em consideração a presença das fibras (Tabela 3).<br />
Observa-se então que a adição de fibras nos concretos de resistência<br />
convencional e alta resistência aumentam, significativamente, o deslocamento final da<br />
peça, mostrando a ductilidade que elas fornecem, proporcionando às peças uma<br />
considerável deformabilidade antes do colapso.<br />
7.2 Modelos de lajes-cogumelo<br />
7.2.1 Capacidade resistente<br />
A princípio, faz-se uma comparação dos valores experimentais da carga<br />
última com os valores teóricos calculados segundo as expressões normativas. Avaliase<br />
também a influência das fibras, da presença da armadura de cisalhamento e do<br />
aumento da resistência do concreto no acréscimo da capacidade resistente do<br />
modelo.<br />
• TB NB-1 (1997)<br />
Pelo gráfico da Figura 8, verifica-se que o TB NB-1/97 superestima a<br />
capacidade resistente destes modelos de laje-cogumelo, chegando a 16%, para o<br />
caso de concreto de baixa resistência e 24% para o caso de concreto de alta<br />
resistência. Evidencia-se portanto, em quanto as expressões deste código estão<br />
contra a segurança, para este caso em particular. Apesar de que MELGES (1995),<br />
comparando os resultados experimentais de GOMES (1991) com os valores teóricos<br />
calculados pelo TB NB-1/97, também observou uma superestimação da carga última<br />
em 14% entre estes valores, no caso de concreto de baixa resistência.<br />
Na formulação teórica não se considera a contribuição das fibras, porém pelos<br />
resultados experimentais, percebe-se que ao introduzi-las no concreto, a capacidade<br />
resistente aumenta, conseguindo ultrapassar a carga prevista em até 26%.<br />
• CEB/90 (1991)<br />
Para o caso do CEB/90, a diferença entre os valores teóricos (Pu,t) e os<br />
experimentais (Pu) se estabelecem, no máximo, em 15%, para o caso de concreto de<br />
baixa resistência e 23%, para o concreto de alta resistência. Esta discrepância se<br />
encontra com valores bem próximos aos valores encontrados pelo TB NB-1/97 devido<br />
à similaridade entre as expressões fornecidas por estes códigos (Figura 9).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
144<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
Nos modelos onde foram introduzidas fibras de aço no concreto, percebe-se<br />
que há um aumento considerável na carga última experimental, chegando a ser maior<br />
que a carga última teórica em 27%, no caso da HSC.S3.<br />
1,4<br />
1,2<br />
1,0<br />
P u<br />
/ P u,t<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
OSC.S1 OSC.S2 OSC.S3 OSC.S4 OSC.S5 OSC.S6 HSC.S1 HSC.S2 HSC.S3 HSC.S4 HSC.S5 HSC.S6<br />
Modelos ensaiados<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13<br />
Figura 8 - Comparação dos resultados observados com os estimados<br />
1,4<br />
1,2<br />
1,0<br />
P u<br />
/ P u,t<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
OSC.S1 OSC.S2 OSC.S3 OSC.S4 OSC.S5 OSC.S6 HSC.S1 HSC.S2 HSC.S3 HSC.S4 HSC.S5 HSC.S6<br />
Modelos ensaiados<br />
Figura 9 - Comparação dos resultados observados com os estimados<br />
• EUROCODE N.2 (1992)<br />
Pela Figura 10, observa-se que para os modelos com concreto de baixa<br />
resistência, as expressões normativas fornecidas por este código estão a favor da<br />
segurança, pois os valores experimentais apresentaram-se superiores aos valores<br />
teóricos.<br />
Entretanto, no caso de modelos com CAR, estas expressões superestimam<br />
em até 21% os valores experimentais. Esta superestimação também foi observada<br />
por HALLGREN & KINNUNEN (1996) e por RAMDANE (1996), o qual encontrou 32%<br />
de discrepância para concreto com resistência à compressão de 101,6 MPa.<br />
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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
145<br />
• ACI 318 (1995)<br />
Pelo gráfico da Figura 11, observa-se que as expressões normativas<br />
subestimam a carga última observada, alcançando 57% para os modelos sem fibras.<br />
RAMDANE (1996) observou que para taxa de armadura de 1,28% o cálculo teórico<br />
subestima os valores experimentais, enquanto que para taxa de armadura de 0,58%<br />
os valores calculados estão contra a segurança. Com isso, percebe-se que a dedução<br />
destas expressões deve incluir uma taxa de armadura previamente fixada, com a qual<br />
o valor experimental se aproxima do valor teórico, já que esta variável nem é<br />
introduzida nas expressões empregadas. GOMES (1991) também observou uma<br />
considerável subestimação dos valores experimentais quando comparados com os<br />
teóricos.<br />
2,0<br />
1,8<br />
1,6<br />
1,4<br />
1,2<br />
P u<br />
/ P u,t<br />
1,0<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
OSC.S1 OSC.S2 OSC.S3 OSC.S4 OSC.S5 OSC.S6 HSC.S1 HSC.S2 HSC.S3 HSC.S4 HSC.S5 HSC.S6<br />
Modelos ensaiados<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13<br />
Figura 10 - Comparação dos resultados observados com os estimados<br />
2,4<br />
2,2<br />
2,0<br />
1,8<br />
1,6<br />
P u<br />
/ P u,t<br />
1,4<br />
1,2<br />
1,0<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
OSC.S1 OSC.S2 OSC.S3 OSC.S4 OSC.S5 OSC.S6 HSC.S1 HSC.S2 HSC.S3 HSC.S4 HSC.S5 HSC.S6<br />
Modelos ensaiados<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13<br />
Figura 11 - Comparação dos resultados observados com os estimados<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
146<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
Como visto anteriormente, são analisadas as capacidades resistentes de cada<br />
modelo em função dos seguintes fatores: volume de fibras, presença da armadura<br />
transversal e resistência do concreto.<br />
Na Tabela 4 são mostrados os valores da carga última observada nos<br />
ensaios. Pode-se constatar que para todos os casos há um acréscimo da carga última<br />
ao introduzir fibras no concreto, sendo este acréscimo mais acentuado ao empregar<br />
também a armadura de cisalhamento.<br />
TABELA 4 - Resultados experimentais<br />
Modelo<br />
V f<br />
(%)<br />
f c<br />
(MPa)<br />
f t<br />
(MPa)<br />
P u<br />
(kN)<br />
OSC.S1 0 43,73 3,76 176,48<br />
OSC.S2 0,75 46,42 4,40 191,96<br />
OSC.S3 1,50 30,80 4,89 197,61<br />
OSC.S4 0 38,84 2,16 270,44<br />
OSC.S5 0,75 37,02 3,51 292,79<br />
OSC.S6 1,50 39,72 4,44 329,56<br />
HSC.S1 0 86,65 3,94 190,72<br />
HSC.S2 0,75 81,85 6,08 206,81<br />
HSC.S3 1,50 79,30 6,85 293,93<br />
HSC.S4 0 82,74 5,35 293,35<br />
HSC.S5 0,75 73,49 6,14 388,67<br />
HSC.S6 1,50 71,46 7,73 439,07<br />
Como a divergência entre os valores das resistências dos concretos<br />
empregados nos diversos modelos se mostrou bastante acentuada, efetua-se uma<br />
análise em que a carga de ruptura é normalizada em função da variável f c ,<br />
procedimento este também empregado nos estudos realizados por HARAJLI et al.<br />
(1995). Entretanto, neste trabalho desconta-se somente a resistência do concreto na<br />
mesma proporção em que ela é empregada nas expressões fornecidas pelo TB NB-<br />
1/97.<br />
Com esta normalização da carga de ruptura, pode-se avaliar, com maior<br />
precisão, o aumento da resistência à punção devido ao volume de fibras adicionado<br />
ao concreto e à presença da armadura de cisalhamento (Tabela 5 e Figura 12).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
147<br />
TABELA 5 - Valores das resistências últimas à punção normalizadas<br />
Modelo V f (%)<br />
Resistência última à punção<br />
normalizada<br />
P / 3<br />
u fc<br />
OSC.S1 0 50,09<br />
OSC.S2 0,75 53,41<br />
OSC.S3 1,50 63,04<br />
OSC.S4 0 79,86<br />
OSC.S5 0,75 87,85<br />
OSC.S6 1,50 96,59<br />
HSC.S1 0 43,10<br />
HSC.S2 0,75 47,63<br />
HSC.S3 1,50 68,42<br />
HSC.S4 0 67,32<br />
HSC.S5 0,75 92,79<br />
HSC.S6 1,50 105,81<br />
R exp : relação da resistência última experimental à punção e da resistência<br />
do concreto conforme apresentada na formulação dada pelo TB NB-1/97.<br />
• Considerando-se o efeito da armadura transversal, nos modelos com CBR, há<br />
um acréscimo da carga de ruptura em 59% para os modelos sem fibras, 64%<br />
com 0,75% de fibras e 53% com 1,50% de fibras. No caso de CAR, o<br />
acréscimo devido à armadura transversal apresentou-se em proporção maior<br />
no caso de 0,75% de fibras (95%), enquanto que para os modelos sem fibras e<br />
com 1,50% de fibras, o acréscimo permaneceu na mesma proporção – 56% e<br />
55%, respectivamente;<br />
• Analisando-se o acréscimo da carga última em função da adição das fibras,<br />
percebe-se que nos modelos com concreto de baixa resistência e armadura de<br />
punção, o aumeto da carga de ruptura tem um comportamento praticamente<br />
linear à medida que se introduz volumes maiores de fibras. Quando empregado<br />
CBR sem armadura de punção, o acréscimo da carga de ruptura é mais<br />
significativo ao aplicar-se 1,50% de fibras (6,6% para 0,75% de fibras e 26%<br />
para 1,50% de fibras em relação ao modelo sem fibras).<br />
• Os acréscimos da carga de ruptura devidos ao incremento do volume de fibras<br />
apresentam-se maiores quando empregados CAR e 1,50% de fibras, com uma<br />
carga de ruptura acrescida em 59% para o modelo sem armadura transversal e<br />
57% para o modelo com armadura transversal. Para uma adição de 0,75% de<br />
fibras, a carga de ruptura cresce em 11% e 38% para os modelos de concreto<br />
de alta resistência sem e com A sw , respectivamente;<br />
• A introdução das fibras é mais eficiente quando utilizada com concreto de alta<br />
resistência, pois observa-se que as curvas de CAR sempre ultrapassam as<br />
curvas de CBR.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
148<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
110<br />
100<br />
Carga de ruptura normalizada<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
CBR<br />
CBR + A sw<br />
30<br />
CAR<br />
CAR + A sw<br />
20<br />
0,00 0,75 1,50<br />
Volume de fibras (%)<br />
Figura 12 - Influência do volume de fibras na carga de ruptura<br />
Para se tentar equacionar a carga última em função direta do volume de<br />
fibras, aplicou-se a mesma análise utilizada anteriormente, porém independentemente<br />
de mais algumas variáveis, como: perímetro da superfície de ruptura, o qual depende<br />
do local da ruptura e a altura útil da seção transversal. Com isso, a resistência última<br />
à punção normalizada transforma-se numa grandeza adimensional, independente<br />
destes parâmetros.<br />
Este procedimento só pode ser aplicado para o caso dos modelos sem a<br />
armadura transversal, pois no cálculo da capacidade resistente dos modelos a parcela<br />
da A sw não é fator direto da resistência do concreto, portanto estes parâmetros não<br />
podem ser diretamente retirados da expressão empregada para cálculo da carga<br />
última normalizada. Na Tabela 6 são mostrados os valores encontrados ao aplicar<br />
este procedimento, empregando-se para isto, a expressão fornecida pelo TB NB-1/97.<br />
De posse destes resultados, encontra-se uma equação linear que relaciona a<br />
carga de ruptura com o volume de fibras adicionado através da melhor aproximação<br />
encontrada segundo estes valores (Figura 13).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
149<br />
TABELA 6 - Valores das resistências últimas à punção normalizadas<br />
Modelo V f (%)<br />
Resistência última à punção<br />
normalizada<br />
⎡ ⎛<br />
⎢<br />
⎜1<br />
+<br />
⎢ ⎝<br />
Pu / ⎢u ⋅d⋅<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎣<br />
20 ⎞<br />
d<br />
⎟<br />
⎠<br />
⋅<br />
10<br />
3<br />
f c<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎦<br />
R exp<br />
R teo<br />
OSC.S1 0 0,18 0,21<br />
OSC.S2 0,75 0,20 0,21<br />
OSC.S3 1,50 0,23 0,21<br />
OSC.S4 0 - -<br />
OSC.S5 0,75 - -<br />
OSC.S6 1,50 - -<br />
HSC.S1 0 0,16 0,21<br />
HSC.S2 0,75 0,17 0,21<br />
HSC.S3 1,50 0,25 0,21<br />
HSC.S4 0 - -<br />
HSC.S5 0,75 - -<br />
HSC.S6 1,50 - -<br />
R exp : relação da resistência última experimental à punção e das variáveis<br />
contidas na expressão dada pelo TB NB-1/97;<br />
R teo : relação da resistência última teórica à punção e das variáveis<br />
contidas na expressão dada pelo TB NB-1/97.<br />
Porém, esta equação é limitada para o tipo e a geometria das fibras utilizadas<br />
nos modelos ensaiados na corrente pesquisa.<br />
A equação que resulta dessa aproximação é portanto:<br />
20<br />
(1 + ) ⋅ 3 fc<br />
d<br />
Pu<br />
(kN) = (0,17 + 0,05 ⋅Vf<br />
) ⋅ [u ⋅ d ⋅<br />
]<br />
(1)<br />
10<br />
onde V f é em %, u e d em cm e f c em MPa.<br />
7.2.2 Fissuração<br />
Primeiramente, surgiram fissuras radiais, que partem da face do pilar e se<br />
estendem em direção às bordas e cantos dos modelos, e após determinado<br />
carregamento, apareceram fissuras tangenciais, indicando a formação de uma fissura<br />
inclinada para cada modelo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
150<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
0,50<br />
0,45<br />
0,40<br />
CBR<br />
CAR<br />
Resistência última à punção<br />
0,35<br />
0,30<br />
0,25<br />
0,20<br />
0,15<br />
0,10<br />
0,05<br />
TB NB-1 / 97<br />
melhor aproximação<br />
0,00<br />
0,00 0,75 1,50<br />
Volume de fibras (%)<br />
Figura 13 - Variação da resistência última à punção normalizada em função do volume de<br />
fibras de aço<br />
Nas Figuras 14 e 15 são apresentados todos modelos de laje-cogumelo<br />
ensaiados nesta investigação experimental. Através delas, observa-se o aumento do<br />
número de fissuras à medida que são empregados volumes maiores de fibras de aço<br />
combinados com armadura transversal tipo pino.<br />
Na Tabela 7 são mostrados os modos de ruptura observados<br />
experimentalmente para cada modelo testado. A identificação preliminar do modo de<br />
ruptura foi baseada nas deformações das armaduras de flexão, número de fissuras<br />
formadas e formato da superfície de ruptura, além do acompanhamento da curva<br />
força x deslocamento vertical durante os ensaios.<br />
TABELA 7 - Modo de ruptura observado (classificação preliminar)<br />
Modelo f c A sw V f ε s,max P u Modo de ruptura<br />
(MPa)<br />
(%) ( o / oo ) (kN)<br />
OSC.S1 43,73 - 0 1,98 176,48 Punção<br />
OSC.S2 46,42 - 0,75 2,24 191,96 Punção<br />
OSC.S3 30,80 - 1,50 2,15 197,61 Punção<br />
OSC.S4 38,84 A sw 0 4,16 270,44 Punção<br />
OSC.S5 37,02 A sw 0,75 14,80 292,79 Flexão<br />
OSC.S6 39,72 A sw 1,50 14,93 329,56 Flexão<br />
HSC.S1 86,65 - 0 1,98 190,72 Punção<br />
HSC.S2 81,85 - 0,75 2,48 206,81 Punção<br />
HSC.S3 79,30 - 1,50 8,33 293,93 Punção<br />
HSC.S4 82,74 A sw 0 13,20 293,35 Punção<br />
HSC.S5 73,49 A sw 0,75 15,81 388,67 Flexão<br />
HSC.S6 71,46 A sw 1,50 15,85 439,07 Flexão<br />
ε s.max : deformação máxima da armadura.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
151<br />
Modelo OSC.S1 – 0% fibras<br />
Modelo OSC.S2 – 0,75% fibras<br />
Modelo OSC.S3 – 1,50% fibras<br />
Modelo OSC.S4 – 0% fibras + A sw<br />
Modelo OSC.S5 – 0,75% fibras + A sw<br />
Modelo OSC.S6 – 1,50% fibras + A sw]<br />
Figura 14 - Face tracionada dos modelos de laje-cogumelo com CBR<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
152<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
Modelo HSC.S1 – 0% fibras<br />
Modelo HSC.S2 – 0,75% fibras<br />
Modelo HSC.S3 – 1,50% fibras<br />
Modelo HSC.S4 – 0% fibras + A sw<br />
Modelo HSC.S5 – 0,75% fibras + A sw<br />
Modelo HSC.S6 – 1,50% fibras+ A sw<br />
Figura 15 – Face tracionada dos modelos de laje-cogumelo com CAR<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
153<br />
7.2.3 Modo de ruptura<br />
Para os modelos OSC.S1 e HSC.S1, o modo de ruptura foi observado como<br />
de punção, pois além da ruptura ter ocorrido bruscamente, a deformação máxima da<br />
armadura não alcançou a deformação de escoamento ocorrida no ensaio da barra de<br />
aço. Já os modelos OSC.S2, OSC.S3 e HSC.S2, apesar da ruptura não ter ocorrido<br />
bruscamente como para os casos sem fibras, a armadura não alcançou a deformação<br />
de escoamento da barra.<br />
No modelo HSC.S3, apenas uma armadura apresentou esta deformação<br />
(8,33%0) e o número de fissuras encontradas permaneceu igual ao dos modelos que<br />
romperam por punção. Nos modelos OSC.S4 e HSC.S4, a deformação máxima<br />
ocorrida na armadura ultrapassou a deformação máxima ocorrida na barra, porém<br />
pôde-se observar durante o ensaio, a falta de ductilidade que estes modelos<br />
ofereceram, pois a ruptura ocorreu bruscamente.<br />
Os outros modelos tiveram o modo de ruptura observado como de flexão, pois<br />
durante o ensaio foi constatada uma considerável ductilidade à ligação laje-pilar, além<br />
das armaduras de flexão deformarem bastante e o número de fissuras ter aumentado<br />
consideravelmente.<br />
Após a ruptura, todas os modelos foram investigados com objetivo de se<br />
determinar a região que ocorreu a ruptura e as inclinações das superfícies de ruptura.<br />
Com intuito de ilustrar esta inclinação, dois modelos foram cortados ao meio e, com<br />
isso identificou-se claramente o ângulo formado pela fissura inclinada, conforme<br />
ilustrado na Figura 16.<br />
Para os outros modelos, o processo de determinação das superfícies de<br />
ruptura foi realizado através da escarificação do concreto.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
154<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
Figura 16 - Superfície de ruptura (modelos OSC.S4 e HSC.S4)<br />
7.2.4 Análise da ductilidade<br />
Para uma análise qualitativa da ductilidade da ligação laje-pilar, analisa-se,<br />
mais adiante, o gráfico força x deslocamento da Figura 17, através do qual se pode<br />
observar o comportamento de cada modelo, e assim identificar o ganho de ductilidade<br />
que cada ligação laje-pilar obteve com a introdução dos seguintes fatores: volume de<br />
fibras e armadura transversal.<br />
Entretanto, torna-se interessante analisar a ductilidade em termos<br />
quantitativos, e para isto, são apresentados aqui alguns destes critérios.<br />
A maior parte do trabalho total exercido para a ruptura do compósito reforçado<br />
com fibras curtas reflete-se na energia dissipada na ruptura da aderência entre a fibra<br />
e a matriz e posterior arrancamento das fibras. Com isso, utiliza-se a quantificação da<br />
energia total absorvida pelo compósito, para avaliação do desempenho das fibras<br />
como reforço, dando a esta energia o nome de tenacidade (BENTUR & MINDESS,<br />
1990).<br />
Hoje em dia, a tenacidade é interpretada como a área sob a curva Carga x<br />
deslocamento vertical, onde o valor desta área é, na realidade, o trabalho exercido<br />
sobre o material devido ao carregamento aplicado. Esta avaliação da tenacidade é<br />
utilizada nas principais normas e recomendações para o concreto reforçado com<br />
fibras de aço (ASTM C1018, 1994; JSCE SF4, 1984b e ACI 544.2R, 1989), através de<br />
ensaio de tração na flexão com carregamento em quatro pontos e deformação<br />
controlada.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
155<br />
7.2.4.1 Deslocamento central<br />
Através dos resultados apresentados no gráfico da Figura 17, pode-se<br />
observar qualitativamente o ganho de ductilidade que os modelos apresentam ao se<br />
introduzir fibras no concreto.<br />
Para o concreto de baixa resistência (CBR), na fase de pré-pico de<br />
resistência, observa-se que ao se introduzir 0,75% de fibras, o modelo apresentou-se<br />
menos rígido do que o modelo sem fibras e ao se introduzir 1,50% de fibras a rigidez<br />
apresenta-se maior. Enquanto isso, no caso de concreto de alta resistência (CAR), os<br />
modelos tornaram-se sempre mais rígidos à medida que foi introduzido volume maior<br />
de fibras de aço, conforme esperado.<br />
Percebe-se que os modelos sem fibras apresentaram um comportamento<br />
bastante frágil quando comparados aos modelos com fibras, além da evidente<br />
eficiência da armadura de cisalhamento, uma vez que a redução das flechas foi<br />
sensível nos modelos com esta armadura, em mesmo nível de carregamento que os<br />
modelos sem armadura de punção.<br />
Procurando-se agora analisar a ductilidade das ligações laje-pilar de modo<br />
independente da resistência alcançada em cada modelo, apresenta-se o gráfico da<br />
Figura 18, onde os deslocamentos estão relacionados com a carga de ensaio dividida<br />
pela carga de pico encontrada em cada ensaio.<br />
Pelo gráfico da Figura 18, foram calculadas as energias absorvidas por cada<br />
modelo, representada pela área sob cada uma das curvas, observando-se que, para<br />
todos os casos, ao introduzir pelo menos 0,75% de fibras, o ganho da energia<br />
absorvida foi maior do que 100%.<br />
Analisando os modelos sem fibras, através da área sob as curvas, calcula-se<br />
que o ganho de ductilidade é de 55% e 62% ao empregar armadura de punção, para<br />
o caso de CBR e CAR, respectivamente.<br />
Ao comparar o acréscimo de ductilidade devido aos parâmetros armadura<br />
transversal e fibras, observa-se que há um maior ganho de ductilidade quando ambos<br />
são aplicados juntamente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
156<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
450<br />
375<br />
300<br />
Gráfico Força x Deslocamento efetivo do modelo OSC.S1 - 43.73<br />
OSC.S2 - 46.42<br />
OSC.S3 - 30.80<br />
OSC.S4 - 38.84<br />
OSC.S5 - 37.02<br />
OSC.S6 - 39.72<br />
HSC.S1 - 86.65<br />
HSC.S2 - 81.85<br />
HSC.S3 - 79.30<br />
HSC.S4 - 82.74<br />
HSC.S5 - 73.49<br />
HSC.S6 - 71.46<br />
Força (kN)<br />
225<br />
150<br />
75<br />
0<br />
0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />
Deslocamento (mm)<br />
Figura 17 - Deflexões no centro dos modelos<br />
F ensaio<br />
/ R pico<br />
1,0 OSC.S1<br />
OSC.S2<br />
OSC.S3<br />
OSC.S4<br />
0,8<br />
OSC.S5<br />
OSC.S6<br />
HSC.S1<br />
HSC.S2<br />
0,6<br />
HSC.S3<br />
HSC.S4<br />
HSC.S5<br />
HSC.S6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
0 5 10 15 20 25 30 35<br />
Deslocamento (mm)<br />
Figura 18 - Avaliação da ductilidade em termos adimensionais da carga de ruptura<br />
7.2.4.2 Caracterização do modo de ruptura<br />
O processo aqui utilizado para determinar a capacidade resistente à flexão é o<br />
utilizado por HALLGREN (1996), onde o autor descreve os resultados desta<br />
estimativa para sete vigas de referência e posteriormente para dez lajes-cogumelo de<br />
concreto armado. A avaliação teórica do momento fletor resistente se baseia no CEB-<br />
90, onde o valor pode ser obtido através da análise do diagrama simplificado<br />
representando os principais esforços atuantes em uma seção retangular de concreto<br />
armado à flexão.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
157<br />
O momento fletor último, para os segmentos-de-laje é dado pela Equação 2 e,<br />
para os modelos de lajes-cogumelo, por unidade de comprimento, é dado pela<br />
Equação 3, sendo ρ a taxa de armadura de flexão e α o fator de minoração da<br />
resistência do concreto, igual a 0,85(1-f ck /250). O coeficiente 0,85 deve ser<br />
considerado no caso de situações próximas das estruturas reais, onde ocorrem<br />
efeitos de ações de longa duração e condições de execução diferentes das do<br />
laboratório.<br />
⎛<br />
f ys ⎞<br />
M<br />
⎜<br />
⎟<br />
u = As<br />
⋅ f ys ⋅ d ⋅<br />
1 − 0, 5 ⋅ ρ ⋅<br />
(2)<br />
⎝ α ⋅ f cc ⎠<br />
M = ⋅ ⋅ ⎛<br />
u<br />
d − ⋅ ⋅ f ⎞<br />
ρ f<br />
2 ys<br />
ys<br />
⎜1 05 , ρ ⎟<br />
(3)<br />
⎝ α ⋅ f ⎠<br />
cc<br />
A carga de ruptura teórica na flexão para lajes armadas em duas direções se<br />
baseia na Teoria das Linhas de Ruptura e tem seu valor de acordo com a Equação 4.<br />
P flex = 2 π M u (4)<br />
Utiliza-se a relação entre a resistência última observada e a resistência à<br />
flexão calculada (P u /P flex = φ) para classificar o modo de ruptura. Esse artifício é<br />
utilizado, nesta pesquisa, para estimar antecipadamente o tipo de ruptura na fase de<br />
dimensionamento. O modo de ruptura é identificado como flexão predominante<br />
quando φ>1, de punção predominante quando φ
158<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
TABELA 8 - Modo de ruptura observado<br />
Modelo f c A sw V f P u P flex Pu<br />
Modo de<br />
(MPa) (%) (kN) (kN)<br />
φ =<br />
P ruptura<br />
flex<br />
OSC.S1 43,73 - 0 176,48 333,95 0,53 Punção<br />
OSC.S2 46,42 - 0,75 191,96 336,26 0,57 Punção<br />
OSC.S3 30,80 - 1,50 197,61 316,80 0,62 Punção<br />
OSC.S4 38,84 A sw 0 270,44 328,88 0,82 Punção<br />
OSC.S5 37,02 A sw 0,75 292,79 326,60 0,90 Punção - flexão<br />
OSC.S6 39,72 A sw 1,50 329,56 329,87 1,00 Punção - flexão<br />
HSC.S1 86,65 - 0 190,72 352,47 0,54 Punção<br />
HSC.S2 81,85 - 0,75 206,81 351,58 0,59 Punção<br />
HSC.S3 79,30 - 1,50 293,93 351,01 0,84 Punção<br />
HSC.S4 82,74 A sw 0 293,35 351,75 0,83 Punção<br />
HSC.S5 73,49 A sw 0,75 388,67 349,52 1,11 Flexão<br />
HSC.S6 71,46 A sw 1,50 439,07 348,92 1,26 Flexão<br />
Pela Tabela 8, pode-se concluir que, neste caso, a combinação de fibras com<br />
armadura de punção garante à ligação laje-pilar uma certa ductilidade, principalmente<br />
ao se empregar concreto de alta resistência, passando-se de uma ruptura por punção<br />
para uma ruptura por flexão pura. Entretanto, observa-se também que para todos os<br />
casos de adição somente de fibras ou presença da armadura de punção, a relação<br />
entre as cargas de ruptura e de flexão aumenta, caracterizando-se um ganho de<br />
ductilidade.<br />
HARAJLI et al. (1995) observaram que nos modelos sem fibras a superfície de<br />
ruptura apresentava um formato próximo do quadrado, e após adição das fibras este<br />
formato aproximava-se de uma circunferência. Na corrente pesquisa, para o caso dos<br />
modelos sem armadura de punção, esta transformação também é observada.<br />
Entretanto, para os modelos com armadura de punção, a superfície de ruptura já tem<br />
um formato circular, mesmo sem fibras, devido à sua distribuição radial, mas ainda<br />
assim pôde-se notar uma circunferência bem mais definida ao se introduzir fibras.<br />
Identificando-se as superfícies de ruptura dos modelos ensaiados, segundo a<br />
nomenclatura dada por GOMES (1991), tem-se que:<br />
• Os modelos OSC.S1 e HSC.S1 tiveram a superfície de ruptura identificada<br />
conforme a Superfície B, partindo do ponto adjacente ao pilar;<br />
• Os modelos OSC.S2, OSC.S3, HSC.S2 e HSC.S3 conforme a Superfície D,<br />
com praticamente a mesma inclinação que a dos modelos sem fibras e sem<br />
A sw , porém partindo de um ponto mais afastado do pilar;<br />
• Os modelos OSC.S4 e HSC.S4 (com A sw ) conforme a Superfície G, partindo do<br />
ponto adjacente ao pilar, mas passando por baixo das armaduras de punção.<br />
Foi desconsiderado o cobrimento, portanto na face de aplicação da carga a<br />
superfície se formou além da região armada, medida esta utilizada para o<br />
cálculo do ângulo de inclinação da superfície de ruptura;<br />
• Os modelos OSC.S5, OSC.S6, HSC.S5 e HSC.S6 conforme a Superfície F,<br />
partindo além da região armada.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
159<br />
7.2.4.3 Índices de tenacidade<br />
A ductilidade das ligações laje-pilar também é analisada, neste trabalho,<br />
segundo os critérios adaptados das recomendações das seguintes normas: ACI<br />
544.2R (1989), ASTM C1018 (1994) e JSCE SF4 (1984).<br />
Para a determinação de índices de tenacidade de concretos com fibras,<br />
conforme os critérios originais, são ensaiados à flexão prismas com dimensões de<br />
(100x100x350) mm 3 , no caso das normas americanas (ASTM C1018 e ACI 544.2R),<br />
e prismas de (150x150x500) mm 3 ensaiados à compressão axial, para o caso da<br />
norma japonesa (JSCE SF4), nesta última para ensaios de compósitos com fibras<br />
com comprimento acima de 40mm.<br />
Os resultados do ensaio, representados pela curva Carga x deslocamento<br />
vertical permitem a caracterização da tenacidade através de índices derivados desta<br />
curva.<br />
Na Tabela 9 são apresentados os índices calculados para os ensaios das<br />
lajes através destas formulações, e observa-se que há uma certa incoerência nestes<br />
resultados, tais como:<br />
• Para o caso de índices calculados conforme a ASTM C1018 e o ACI 544.2R,<br />
os valores limites para cada índice de tenacidade (I 5 =5, I 10 =10, I 20 =20 e I 30 =30<br />
para o modelo elasto-plástico perfeito) não devem ser empregados neste caso,<br />
pois conforme visto nos resultados, se fossem considerados esses valores<br />
limites todos os modelos ensaiados seriam considerados dúcteis. Deve-se<br />
então, analisar a relação entre estes índices, para cada variação do volume de<br />
fibras;<br />
• Na maioria dos casos, à proporção que se introduziu volume maior de fibras,<br />
houve um ganho de ductilidade, ou seja, o índice aumentou. Porém, em alguns<br />
casos ocorreu o inverso, como nos modelos OSC.S5, HSC.S2 e HSC.S6;<br />
• No caso de concreto de baixa resistência, o modelo com armadura de punção<br />
e sem fibras mostrou-se mais dúctil que o modelo sem armadura de punção,<br />
porém com 1,50% de fibras, caso também confirmado ao identificar o modo de<br />
ruptura pela relação entre as cargas de ruptura e de flexão, porém pela análise<br />
dos gráficos Força x deslocamento, observa-se o contrário;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
160<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
TABELA 9 - Índices de tenacidade<br />
Modelo ACI 544.2R ASTM C 1018 JSCE SF-4<br />
I 5 I 10 I 30 I 5 I 10 I 20<br />
OSC.S1 7,35 17,82 - 7,35 17,82 42,11 0,0105<br />
OSC.S2 7,93 22,21 114,62 7,93 22,21 62,83 0,0125<br />
OSC.S3 9,57 23,21 124,33 9,57 23,21 67,81 0,0133<br />
OSC.S4 7,69 34,55 122,00 7,69 34,55 65,90 0,0159<br />
OSC.S5 6,87 19,54 107,17 6,87 19,54 57,48 0,0145<br />
OSC.S6 14,84 43,55 231,51 14,84 43,55 128,64 0,0185<br />
HSC.S1 6,94 22,41 108,14 6,94 22,41 61,50 0,0113<br />
HSC.S2 7,65 18,52 92,91 7,65 18,52 54,45 0,0141<br />
HSC.S3 9,72 27,02 144,05 9,72 27,02 75,71 0,0176<br />
HSC.S4 6,51 17,80 91,81 6,51 17,80 48,33 0,0181<br />
HSC.S5 7,81 24,49 130,06 7,81 24,49 68,65 0,0194<br />
HSC.S6 8,65 21,98 119,75 8,65 21,98 62,44 0,0193<br />
• Também não se comprovou no ensaios a tendência dos índices de que, para<br />
os CAR sem fibras, ao se introduzir a armadura transversal, a ligação laje-pilar<br />
se apresenta menos dúctil que o modelo sem A sw (HSC.S1 e HSC.S4);<br />
• Pela norma japonesa JSCE SF4, o índice de tenacidade sempre aumenta a<br />
medida que se introduz fibras, mostrando o ganho de ductilidade, exceto no<br />
caso do modelo OSC.S5.<br />
Estas discrepâncias entre os valores podem estar acontecendo devido ao fato<br />
de, nesta pesquisa, terem sido utilizados modelos reduzidos das lajes e não prismas<br />
com dimensões pré-determinadas, como nas normas; e os modelos foram submetidos<br />
a esforços totalmente diferentes. Acima de tudo isso, o instante da formação da<br />
primeira fissura não corresponde, nas lajes, a uma alteração tão significativa no<br />
comportamento das peças ensaiadas, como ocorre nos prismas sujeitos à flexão.<br />
Assim, quando se tomou, para cálculo dos índices da ASTM C1018 e do ACI 544.2R,<br />
uma área sob a curva correspondente ao comportamento elástico, ela se mostra com<br />
valor relativamente pequeno ao restante da curva.<br />
Buscando-se encontrar outros índices para quantificar a ductilidade dos<br />
modelos, resolveu-se aplicar mais um modelo, denominado de Modelo Alternativo, em<br />
que o deslocamento de referência não é o correspondente ao deslocamento para 1ª<br />
fissura e nem o deslocamento elástico (Modelo ASTM C1018 Modificado), e sim os<br />
deslocamentos correspondentes a frações da carga última (forças resistentes<br />
residuais).<br />
Foi idealizada uma relação entre as áreas sob as curvas F ensaio /R pico x<br />
deslocamento vertical do modelo experimental e do modelo elasto-plástico perfeito<br />
(Figura 19).<br />
Este método tem como objetivo avaliar a tenacidade do compósito através da<br />
relação entre as áreas sob as curvas, para valores de relação F ensaio /R pico iguais a 1,0,<br />
0,8 e 0,6, valores estes correspondentes à força máxima resistente e a forças<br />
resistentes residuais de 80% e 60% do valor máximo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
161<br />
Area OBC Area OBEF<br />
= I = I =<br />
Area OABC Area OADF<br />
I 100 80 60<br />
Area OBHI<br />
Area OAGI<br />
Procura-se então identificar o quanto o comportamento do modelo ensaiado<br />
se aproxima de um modelo comportamento elasto-plástico perfeito, tendo este a<br />
mesma resistência que o modelo ensaiado. Ilustrando estes cálculos, tem-se<br />
conforme a Figura 19.<br />
F ensaio / R pico<br />
Modelo elasto-plástico perfeito<br />
1.0<br />
A<br />
B<br />
D<br />
IG<br />
0.<br />
E<br />
0.6<br />
H<br />
0.4<br />
0.2<br />
O<br />
J<br />
C F I I<br />
Deslocamento vertical (mm)<br />
Figura 19 - Critério para determinação da tenacidade (Modelo Alternativo)<br />
Uma vez calculados os índices I 100 , I 80 e I 60 , que correspondem à relação entre<br />
o trabalho realizado pela força durante o ensaio e a energia acumulada de um modelo<br />
elasto-plástico para forças resistentes residuais e força máxima, foram feitos os<br />
diagramas mostrados na Figura 20.<br />
Nos gráficos da Figura 20, observa-se que:<br />
• Para 100% da carga máxima, a relação Área sob curva modelo / Área sob<br />
curva elasto-plástico (I 100 ) começa mais elevada e diminui ao introduzir 0,75%<br />
de fibras, para CBR. Isso ocorre pois a fase elástica se mostra mais rígida para<br />
os modelos sem fibras do que para os modelos com 0,75% de fibras, conforme<br />
visto anteriormente. Quando se passa para 1,50% de fibras, essa relação<br />
aumenta sensivelmente e, em proporções maiores, ao introduzir a armadura<br />
transversal;<br />
• Para 80% da carga máxima, as fibras contribuem na energia absorvida por<br />
cada modelo, ou seja, a energia absorvida pelo modelo se aproxima da energia<br />
absorvida pelo modelo elasto-plástico perfeito. Essa contribuição também é<br />
bastante acentuada, neste caso, para volume maior de fibras com A sw ;<br />
• Para 60% da carga máxima, observa-se que o índice I 60 se mostra alto nos<br />
modelos sem fibras. Isso se deve à ruptura frágil que estes modelos tiveram,<br />
pois houve uma queda bastante brusca da carga aplicada e, com isso a área<br />
sob a curva em 100, 80 e 60% permanece na mesma relação. Mas, avaliando<br />
os modelos com fibras, ainda pode-se confirmar o ganho de ductilidade ao<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
162<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
combinar CAR + A sw + 1,50% de fibras, pois as áreas calculadas sob a curva<br />
deste modelo se aproximaram mais das áreas calculadas sob a curva do<br />
modelo elasto-plástico correspondente.<br />
Figura 20 - Influência das fibras na ductilidade de cada modelo<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
163<br />
7.2.4.4 Deformação nas armaduras<br />
Para análise das deformações nas armaduras dos modelos de laje-cogumelo<br />
foram monitoradas algumas barras em pontos determinados. Avaliam-se as<br />
deformações nas armaduras de flexão e de cisalhamento quanto aos seguintes<br />
parâmetros: resistência do concreto, presença da armadura transversal e volume de<br />
fibras adicionado.<br />
Armadura de flexão<br />
Observa-se que somente as armaduras dos modelos com adições de fibras<br />
de aço chegaram ao escoamento, tanto para concreto de baixa resistência (CBR)<br />
quanto concreto de alta resistência (CAR).<br />
A armadura superior da zona tracionada atingiu a tensão de escoamento<br />
somente quando foi empregada A sw . Enquanto isso, a barra inferior tracionada, apesar<br />
da pequena deformação (cerca de 4 o / oo para 0,75% de fibras e cerca de 9 o / oo para<br />
1,50% de fibras), quando comparada às deformações atingidas pelas barras nos<br />
modelos com A sw , alcançou a tensão de escoamento também para o modelo sem a<br />
presença da armadura transversal.<br />
As armaduras dos modelos com CAR tiveram maiores deformações que os<br />
modelos com CBR.<br />
As armaduras que tiveram maiores deformações foram as barras empregadas<br />
nos modelos compostos por: concreto de alta resistência, armadura transversal e<br />
adições de fibras.<br />
Armadura de cisalhamento<br />
Observa-se que as armaduras de cisalhamento atingiram a tensão de<br />
escoamento somente quando foram empregados concreto de alta resistência e fibras<br />
de aço.<br />
Percebe-se que não há uma similaridade nas deformações dos conectores,<br />
pois para o conector 1 as barras que mais deformaram foram as do modelo HSC.S6<br />
(1,50% de fibras + A sw + CAR), enquanto que para o conector 2, elas não alcançaram<br />
nem o escoamento. Porém, observa-se uma similaridade, pois os conectores que<br />
alcançaram o escoamento foram os empregados nos modelos com armadura de<br />
punção, fibras e CAR.<br />
8 CONCLUSÕES<br />
A presente pesquisa teve como princípio colaborar nos estudos referentes à<br />
análise do comportamento da ligação laje-pilar em lajes-cogumelo. Com isso, foram<br />
empregados concretos de diferentes resistências à compressão, volumes diferentes<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
164<br />
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
de fibras de aço e presença ou não da armadura transversal de combate à punção, a<br />
fim de analisar as possibilidades de melhoria no comportamento deste elemento<br />
estrutural.<br />
• Nos modelos sem armadura transversal, a adição de fibras é mais eficiente nos<br />
concretos de alta resistência do que nos concretos convencionais. O aumento<br />
percentual da resistência à punção é maior nas lajes com CAR (59% para<br />
1,50% de fibras) do que nos concretos convencionais – CBR (26% para 1,50%<br />
de fibras), assim como observado por ZAMBRANA VARGAS (1997);<br />
• Para 0,75% de fibras e CAR, o acréscimo da resistência à punção é<br />
percentualmente maior nos modelos com armadura de punção (38%) do que<br />
nos modelos sem A sw (11%), enquanto que para os modelos com 1,50% de<br />
fibras, este acréscimo permaneceu na mesma proporção;<br />
• Em todos os casos, ou seja, concreto de baixa e alta resistência com e sem<br />
armadura transversal, observa-se que o comportamento da carga de ruptura<br />
em função do volume de fibras é crescente, indicando que ao adicionar<br />
volumes maiores de fibras, haverá um acréscimo da capacidade resistente das<br />
lajes;<br />
• O aumento da resistência do concreto influencia o valor da carga de ruptura,<br />
principalmente ao utilizar armadura transversal de combate à punção.<br />
É interessante determinar a carga de ruptura em função do volume de fibras,<br />
já que esta variável ainda não se encontra nas formulações dadas pelas normas.<br />
Tentou-se encontrar uma equação para determinar a carga de ruptura, para os<br />
modelos sem armadura transversal, para o tipo e a geometria das fibras empregadas<br />
nesta pesquisa, chegando-se à seguinte expressão:<br />
Pu<br />
(kN) =<br />
( 0,17 + 0,05 ⋅ V )<br />
f<br />
⎡ ⎛<br />
⎢ ⎜1<br />
+<br />
⎢<br />
⋅<br />
⎝<br />
⎢u<br />
⋅ d ⋅<br />
⎢<br />
⎢<br />
⎣<br />
20 ⎞<br />
⎟ ⋅ 3 f<br />
d<br />
c<br />
⎠<br />
10<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎦<br />
No entanto, ressalta-se que esta expressão não reflete fielmente os<br />
resultados observados nesta pesquisa, afinal é uma aproximação, e nem o conjunto<br />
de dados obtidos por outros pesquisadores. Há necessidade, portanto, de estudos<br />
mais aprofundados.<br />
Com base nos valores das resistências últimas alcançadas, pode-se observar<br />
que as fibras, exclusivamente, não têm tanta influência no acréscimo da carga de<br />
ruptura quando comparadas à presença da armadura transversal e ao emprego de<br />
concreto de alta resistência.<br />
Apesar das fibras não influenciarem tanto na capacidade resistente dos<br />
modelos, elas interferem sensivelmente na ductilidade destas ligações laje-pilar,<br />
podendo até modificar o modo de ruptura de punção pura para uma ruptura<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta...<br />
165<br />
combinada de punção-flexão, no caso de concreto convencional e A sw , e flexão<br />
predominante no caso de concreto de alta resistência e A sw .<br />
Através da energia absorvida pelos modelos, pode-se observar que a<br />
presença exclusiva da armadura de punção não garante uma suficiente ductilidade<br />
(62% no máximo) quando comparada à adição exclusivamente das fibras, que para<br />
pelo menos 0,75% de fibras, em todos os casos o acréscimo maior que 100%. A<br />
adição de 1,50% de fibras com armadura transversal e CAR proporciona ganhos de<br />
ductilidade mais expressivos.<br />
Não foi possível uma determinação quantitativa da ductilidade utilizando<br />
índices de tenacidade, segundo as definições das normas empregadas. Nesta<br />
pesquisa, foram utilizados modelos reduzidos e não prismas com dimensões<br />
determinadas, além das peças estarem submetidas à punção e não à flexão, como<br />
nas normas.<br />
Utilizando-se o Modelo Alternativo, não é possível determinar<br />
quantitativamente a ductilidade de cada ligação laje-pilar, porém para uma análise<br />
entre a relação das áreas de cada modelo com as áreas do modelo elasto-plástico<br />
correspondente, ela se mostrou coerente, apesar de ainda não ter sido totalmente<br />
satisfatória.<br />
Com base nas análises da capacidade resistente e da ductilidade, observa-se<br />
que a presença da armadura transversal e o valor da resistência à compressão do<br />
concreto interferem na carga última obtida em cada ligação laje-pilar, enquanto que a<br />
presença das fibras interfere substancialmente na ductilidade deste. Ao aplicar CAR,<br />
armadura transversal e 1,50% de fibras, o modelo torna-se mais resistente e mais<br />
dúctil.<br />
9 BIBLIOGRAFIA<br />
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coderequirements for structural concrete (ACI 318-95) and commentary (ACI<br />
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DCT. T. 1.141.93-RO, Furnas Centrais Elétricas S.A.<br />
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revisão da NB-1 e comentários.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
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Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai<br />
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de São Carlos, Universidade de São Paulo.<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.
ANÁLISE DE PILARES DE CONCRETO DE ALTA<br />
RESISTÊNCIA COM ADIÇÃO DE FIBRAS<br />
METÁLICAS SUBMETIDOS À COMPRESSÃO<br />
CENTRADA<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães 1 & José Samuel Giongo 2<br />
RESUMO<br />
O Concreto de Alto Desempenho (CAD) tem sido extensivamente estudado em muitos<br />
centros de pesquisas porque seu uso tem aumentado de maneira significativa na<br />
construção civil. Mas a fragilidade deste material, quando a resistência à compressão é<br />
alta, tem levado os pesquisadores a estudar maneiras de diminuir esta característica,<br />
como por exemplo aumentando as taxas de armaduras transversal e/ou longitudinal dos<br />
elementos estruturais em concreto armado. Este trabalho trata do uso de fibras<br />
adicionadas ao concreto para uso em pilares submetidos à compressão, visando dar<br />
subsídios técnicos em outra maneira de se obter ductilidade em elementos de concreto<br />
de alta resistência, utilizando taxas usuais de armadura transversal. Apresenta-se um<br />
estudo experimental sobre pilares em concreto de alto desempenho com adição de<br />
fibras metálicas, com seção transversal de 200mm x 200mm e altura de 1200mm,<br />
submetidos à compressão centrada, onde o concreto apresenta uma resistência média à<br />
compressão de 80 MPa. As taxas volumétricas de fibras foram de 0,25%; 0,50%, 0,75%<br />
e 1,00%, adotaram-se taxas volumétricas de estribos de 0,55%, 0,82% e 1,63% e a taxa<br />
geométrica de armadura longitudinal de 2,41% permaneceu a mesma para todos os<br />
pilares. Percebeu-se que a ruptura dos pilares foi mais dúctil quanto maior era a<br />
quantidade de fibras adicionadas ao concreto. Na análise teórica feita com os modelos,<br />
constatou-se que somente a seção transversal do núcleo, ou seja, aquela delimitada<br />
pelos eixos dos estribos, contribui para a resistência dos pilares, para pequenas taxas<br />
de fibras adicionadas ao concreto.<br />
Palavras-chave: concreto de alta resistência; concreto com fibras; fibras metálicas;<br />
pilares; experimentação.<br />
1 Professor Doutor da Faculdade de Engenharia Civil - UNICAMP, paganell@fec.unicamp.br<br />
2 Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jsgiongo@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
168<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O intuito desta pesquisa foi estudar o comportamento dos pilares de concreto<br />
de alto desempenho com adição de fibras metálicas quanto a sua ductilidade, quando<br />
os mesmos estão submetidos à compressão centrada. Para este caso, o atributo<br />
principal do concreto de alto desempenho foi a alta resistência, com resistência média<br />
à compressão prevista para 15 dias, em torno de 80 MPa, obtida com adição de sílica<br />
ativa e aditivos superplastificantes.<br />
As quantidades de fibras utilizadas foram variadas, sem no entanto<br />
ultrapassar as proporções limites indicadas pela literatura técnica, para que o<br />
compósito não perdesse as características do concreto com fibras usuais. Outra<br />
variação feita nesta pesquisa foi a taxa de armadura transversal, para que pudesse<br />
ser estudada a influência das fibras no aumento de ductilidade dada pelos estribos e<br />
quanto ao destacamento do cobrimento antes da ruptura do núcleo dos pilares.<br />
Uma das preocupações foi de se trabalhar com os elementos estruturais<br />
(pilares) o mais próximo possível das dimensões usuais dos edifícios, assim optando<br />
pelas medidas de 20cm x 20cm para a seção transversal. A altura dos modelos foi<br />
fixada em 120cm para que não houvesse o efeito de flambagem, visto que não era<br />
objeto de estudo para este trabalho. Deste modo, a comparação dos resultados<br />
obtidos com a de outros pesquisadores também se tornou viável.<br />
Em princípio não foram estudadas outras formas de seções transversais, tais<br />
como circulares e retangulares, nem pilares confinados por tubos metálicos, que<br />
representam uma possível continuidade desta pesquisa.<br />
O trabalho se torna de extrema importância para o meio técnico como uma<br />
nova alternativa para construção de pilares de edifícios em concreto de alto<br />
desempenho, baseado nos resultados dos ensaios e na bibliografia, referenciada e<br />
indicada.<br />
2 METODOLOGIA E DESCRIÇÃO DOS ENSAIOS<br />
2.1 Obtenção dos CAR com fibras<br />
Para a obtenção do concreto utilizado nesta pesquisa, foram atendidas as<br />
seguintes etapas:<br />
a) Escolha e caracterização dos agregados graúdo e miúdo, disponíveis na região<br />
de São Carlos, com ensaios de granulometria, massa específica e unitária,<br />
índice de forma e material pulverulento, realizados no Laboratório de<br />
Construção Civil do Departamento de Arquitetura e Urbanismo – EESC-<strong>USP</strong>;<br />
b) Estabelecimento de um traço inicial, baseado em trabalhos realizados<br />
anteriormente por outros pesquisadores para obtenção de um CAD;<br />
c) Aprimoramento da argamassa do traço inicial para que à mesma pudessem ser<br />
adicionadas as fibras, sendo estudados:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
169<br />
• abatimento do concreto, usando ensaio com cone de Abrams, para<br />
garantir concreto com condições de lançamento nas fôrmas;<br />
• séries de ensaios de compressão axial em corpos-de-prova cilíndricos de<br />
100mm x 200mm, com variação das taxas de fibras metálicas e de<br />
polipropileno nas proporções de 0,25%, 0,50%, 0,75%, 1,00%, nas idades<br />
de 3, 7, 15 e 28 dias, para que pudessem ser medidas a resistência média<br />
à compressão e o módulo de elasticidade do material aos 15 dias e,<br />
portanto, possibilitar o cálculo dos índices de tenacidades. Estes ensaios<br />
foram realizados no Laboratório de Mecânica das Rochas do<br />
Departamento de Geotecnia da EESC-<strong>USP</strong>.<br />
• execução de ensaios de tração nas barras de aço que foram utilizadas<br />
como armaduras transversal e longitudinal nos modelos de pilares,<br />
realizados no Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeira do<br />
Departamento de Engenharia de Estruturas.<br />
Além dos Laboratórios citados anteriormente, esteve envolvido, colaborando<br />
para o andamento da pesquisa, outro setor da Escola de Engenharia de São Carlos, a<br />
Oficina de Marcenaria, onde foram executadas as fôrmas de madeira para moldagem<br />
dos modelos.<br />
2.2 Experimentação com modelos de pilares<br />
A seguir apresenta-se a metodologia seguida para execução dos ensaios com<br />
os modelos de pilares:<br />
a) Projeto do modelo de pilar;<br />
b) Projeto e execução das fôrmas;<br />
c) Montagem das armaduras, instrumentação das barras - longitudinais e transversais<br />
- e posicionamento nas fôrmas;<br />
d) Moldagem dos modelos, com respectivos lançamento do concreto, adensamento<br />
com mesa vibratória e cura;<br />
e) Desmoldagem dos pilares e posicionamento no pórtico de ensaio;<br />
f) Controle do concreto, por meio de ensaios de compressão axial com controle de<br />
força, com deformação controlada e ensaios de compressão diametral para<br />
medição da resistência média à tração, em corpos-de-prova cilíndricos de 100mm x<br />
200mm;<br />
g) Ensaios em pilares pilotos solicitados à compressão simples, num total de 3<br />
modelos;<br />
h) Ensaios em 13 séries de pilares solicitados à compressão simples, mais uma série<br />
refeita, somando 28 exemplares, onde foram variadas as taxas de fibras (0,25%,<br />
0,50%, 0,75% e 1,00%), o tipo de fibra e os espaçamentos entre os estribos,<br />
adotados de 5cm, 10cm e 15cm. Os ensaios pilotos e definitivos foram realizados<br />
no Laboratório de Estruturas do Departamento de Engenharia de Estruturas –<br />
EESC-<strong>USP</strong>;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
170<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
i) A partir dos dados obtidos pelo sistema de aquisição, elaboração de planilhas com<br />
respectivos diagramas Força x Deformação e Força x Deslocamento.<br />
Foram escolhidas as idades de 15 e 16 dias para os ensaios dos pilares,<br />
sendo que o concreto, na data do ensaio, deveria apresentar resistência média à<br />
compressão em torno de 80MPa.<br />
3 RESULTADOS DOS ENSAIOS<br />
3.1 Ensaios dos modelos de pilares<br />
3.1.1 Modelos Pilotos<br />
• Piloto 1<br />
O modelo de pilar de concreto contendo fibras de polipropileno, teve ruptura<br />
sem desagregações, com o cobrimento sendo descolado no instante da ruptura. Este<br />
permaneceu junto à armadura, sem se destacar completamente. Houve fissuração na<br />
parte superior do pilar junto à face mais comprimida, visto que a força aplicada não<br />
estava exatamente centrada. Esta fissuração ocorreu próxima à extremidade superior<br />
do elemento, quando a força era de 2000kN.<br />
Na figura 1 pode ser visto o comportamento da armadura longitudinal e<br />
transversal por meio dos diagramas tensão x deformação para o pilar Piloto 1.<br />
Os gráficos que estão posicionados na parte negativa do eixo das abscissas<br />
são relativos às barras comprimidas, que foram as barras longitudinais, com os dados<br />
lidos nos canais de 1 a 4, e os gráficos indicados na parte positiva do eixo das<br />
deformações indicam os estribos, nos canais de 5 a 8.<br />
120<br />
100<br />
Tensão (MPa)<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
Barras Estribo<br />
1 5<br />
2 6<br />
3 7<br />
4 8<br />
0<br />
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 1 - Diagramas Tensão x Deformação para o Aço - Piloto 1<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
171<br />
Na figura 2 se apresentam os diagramas tensão x deformação para os canais<br />
numerados de 9 a 12, colocados na face de concreto do pilar em questão. A seção<br />
em que ocorreu a ruptura era próxima à metade da altura do pilar, com força última de<br />
2.402kN e com deformação máxima do concreto de 2,72‰, em uma das leituras.<br />
120<br />
100<br />
Tensão (MPa)<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
Concreto<br />
9<br />
10<br />
11<br />
12<br />
0<br />
0,5 0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 2 - Diagramas Tensão x Deformação para o Concreto - Piloto 1<br />
• Piloto 2<br />
O modelo de pilar de concreto de alta resistência contendo 0,50% de fibras<br />
metálicas e taxa de armadura transversal de 1,63% não teve ruptura com<br />
desagregação do material, mas o cobrimento foi separado da armadura no instante da<br />
ruína. Próximo à etapa de força de 1900kN, houve fissuração na parte superior do<br />
pilar, na região de aplicação da força, como pode ser visto na figura 3.<br />
Figura 3 - Primeiras Fissuras - Piloto 2<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
172<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
Entretanto, a ruptura se deu em seção transversal próxima à metade da altura<br />
do pilar, com força última de 2.216kN e deformação máxima do concreto, em uma das<br />
leituras, de 2,14‰, com configuração final podendo ser vista na figura 4.<br />
Figura 4 - Forma de Ruptura do Pilar Piloto 2<br />
Os diagramas tensão x deformação da armadura longitudinal e transversal<br />
para o pilar 2, podem ser vistos na figura 5.<br />
120<br />
100<br />
Barras Estribo<br />
1 5<br />
2 6<br />
3 7<br />
4 8<br />
Tensão (MPa)<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
-3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 5 - Diagramas Tensão x Deformação para o Aço - Piloto 2<br />
Os diagramas tensão x deformação para o concreto, estão mostrados na<br />
figura 6.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
173<br />
Tensão (MPa)<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
Concreto<br />
9<br />
10<br />
11<br />
12<br />
0<br />
0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 6 - Diagramas Tensão x Deformação para o Concreto - Piloto 2<br />
• Piloto 3<br />
O modelo de pilar de concreto com taxa de fibras metálicas de 1,00% e taxa<br />
de armadura transversal de 0,82% teve ruptura com um pouco de desagregação do<br />
material, mas não houve estilhaçamento do cobrimento.<br />
A força aplicada no pilar piloto 3 estava mais centrada que aquela aplicada<br />
nos outros dois pilares, e na ruína houve a flambagem das barras da armadura<br />
longitudinal na seção próxima à metade da altura. A configuração de ruptura do pilar 3<br />
pode ser vista na figura 7.<br />
Figura 7 - Ruptura do Pilar Piloto 3<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
174<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
A força última foi de 2.432kN e a deformação máxima do concreto foi de<br />
2,38‰, em uma das leituras. Na figura 8 são mostrados os diagramas tensão x<br />
deformação das barras longitudinais e dos estribos para o pilar piloto 3.<br />
120<br />
100<br />
Barras Estribo<br />
1 5<br />
2 6<br />
3 7<br />
4 8<br />
Tensão (MPa)<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 8 - Diagramas Tensão x Deformação para o Aço - Piloto 3<br />
Os diagramas tensão x deformação, observados com os defletômetros<br />
mecânicos instalados nas faces de concreto do pilar, são mostrados na figura 9.<br />
120<br />
100<br />
Tensão (MPa)<br />
80<br />
60<br />
Concreto<br />
9<br />
40<br />
10<br />
20<br />
11<br />
12<br />
0<br />
0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 9 - Diagramas Tensão x Deformação para o Concreto - Piloto 3<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
175<br />
• Resultados teóricos<br />
Para se calcularem as forças últimas teóricas, utilizou-se a expressão 1.<br />
F = ( A − A ) f + A<br />
f<br />
un, teo cn s c s y<br />
(1)<br />
onde:<br />
A cn<br />
A s<br />
f c<br />
f y<br />
= área da seção transversal do núcleo do pilar;<br />
= área de armadura longitudinal;<br />
= resistência média do concreto avaliada no dia do ensaio do modelo,<br />
multiplicado por um coeficiente, adotado igual a 0,9, para se levar em conta as<br />
relações entre as resistências obtidas nos corpos-de-prova e a real que atua<br />
no concreto da estrutura.<br />
= resistência média de escoamento do aço.<br />
A tabela 1 mostra os resultados dos ensaios pilotos, comparando as forças<br />
últimas experimentais com as teóricas.<br />
TABELA 1 - Comparação de F u/exp /F u/teo<br />
Pilar Fibra V f (MPa)<br />
f cm<br />
Estribos<br />
ρ w<br />
(%)<br />
A cn<br />
(cm 2 )<br />
F u,exp<br />
(kN)<br />
F un,teo<br />
(kN)<br />
F u,exp<br />
/F un,teo<br />
Piloto 1 Polip 0,50% 75,46 φ6,3c/5 1,63 236,24 2.402 2.075 1,16<br />
Piloto 2 Aço 0,50% 71,07 φ6,3c/5 1,63 251,86 2.216 1.986 1,12<br />
Piloto 3 Aço 1,00% 68,06 φ6,3c/10 0,82 245,55 2.432 1.924 1,26<br />
Na figura 10, são mostradas as curvas tensão x deformação do concreto para<br />
cada modelo piloto, com as deformações medidas nas faces dos pilares, onde se tem,<br />
como conclusão parcial, que o concreto do pilar contendo mais fibras de aço (piloto 3)<br />
se deformou mais que os outros pilares cujos concretos continham fibras metálicas<br />
em menor quantidade e fibras de polipropileno.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
176<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
120<br />
100<br />
Tensão (MPa)<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
Piloto 1<br />
Piloto 2<br />
Piloto 3<br />
0<br />
0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 10- Diagramas Tensão x Deformação dos Concretos dos 3 Pilares Ensaiados<br />
Na figura 11 podem ser vistos os diagramas Tensão x Deformação dos<br />
pilares, com os respectivos deslocamentos lidos pelos defletômetros mecânicos.<br />
120<br />
100<br />
Tensão (MPa)<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
Piloto 1<br />
Piloto 2<br />
Piloto 3<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 11- Diagramas Tensão x Deformação dos Pilares<br />
Com os resultados obtidos com os ensaios pilotos, pôde-se chegar a algumas<br />
conclusões quanto a necessidade de se fazerem algumas modificações para os<br />
ensaios dos modelos das séries de pilares.<br />
Uma delas foi que as fibras metálicas usadas nesta etapa, não funcionaram<br />
adequadamente, pois percebeu-se a ruptura das mesmas junto com a ruína do<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
177<br />
concreto. Escolheu-se portanto, fibras de comprimento e resistência mecânica<br />
maiores para os modelos subseqüentes.<br />
Outra modificação foi quanto ao posicionamento dos transdutores de<br />
deslocamento.<br />
3.1.2 Séries de pilares<br />
A seguir serão mostrados os resultados dos ensaios com os corpos-de-prova<br />
que foram moldados juntos com os pilares das séries principais, submetidos a ensaios<br />
de compressão axial com controle de força, para que fosse medida a resistência<br />
média à compressão, ensaios à compressão diametral, para que fosse medida a<br />
resistência média à tração, e ensaios à compressão axial com controle de<br />
deformação, para que fosse medido o índice de tenacidade do concreto com fibras, e<br />
definido o módulo de elasticidade.<br />
• Resistência média à compressão<br />
Na tabela 2 pode ser visto um resumo dos valores médios obtidos nos ensaios<br />
dos corpos-de-prova submetidos à compressão.<br />
Esses testes foram feitos em máquina eletrônica, com controle de força, no<br />
Laboratório de Engenharia de Estruturas, a menos dos corpos-de-prova das séries<br />
P2a15 e P2a10, os quais foram testados no Laboratório de Construção Civil.<br />
São mostradas nesta tabela as resistências médias à compressão dos corposde-prova<br />
com 7 dias de idade e com 15 dias, data em que eram feitos os ensaios dos<br />
pilares. O valor médio é resultados do ensaio de três corpos-de-prova.<br />
TABELA 2 - Resistências Médias à Compressão das Séries de Pilares<br />
Série<br />
V f<br />
(%)<br />
f cm (7 dias)<br />
(MPa)<br />
f cm (15 dias)<br />
(MPa)<br />
P1a15 0,25 __ 81,03 (P1) 87,81 (P2)<br />
P1a10 0,25 69,82 85,47<br />
P1a05 0,25 68,51 80,68<br />
P2a15 0,50 61,16 71,85<br />
P2a15-r 0,50 54,75 66,46<br />
P2a10 0,50 61,87 79,98<br />
P2a05 0,50 63,58 77,63<br />
P3a15 1,00 58,91 77,08<br />
P3a10 1,00 48,87 65,02<br />
P3a05 1,00 66,55 69,04<br />
P4a15 0,75 66,47 79,87<br />
P4a10 0,75 72,49 86,45<br />
P4a05 0,75 63,74 75,54<br />
P3p10 0,50 57,36 57,06<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
178<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
• Resistência média à tração<br />
Na tabela 3, pode ser visto um resumo das resistências médias à tração do<br />
concreto dos modelos e a relação entre a resistência média à tração e a resistência<br />
média à compressão, ambos realizados aos 15 dias. As médias são relativas a três<br />
corpos-de-prova.<br />
Os ensaios dos corpos-de-prova submetidos a compressão diametral para<br />
obtenção da resistência média à tração foram feitos no Laboratório de Estruturas, da<br />
Escola de Engenharia de São Carlos, a menos das séries P2a15 e P2a10, cujos<br />
corpos-de-prova foram ensaiados no Laboratório de Construção Civil.<br />
Com os resultados mostrados na tabela 3, pode-se observar que a relação<br />
entre a resistência média à tração e a resistência média à compressão aumenta com<br />
o aumento da quantidade de fibras no concreto.<br />
TABELA 3 - Resistências Médias à Tração das Séries de Pilares<br />
Série<br />
V f<br />
(%)<br />
f ctm (15 dias)<br />
(MPa)<br />
f ctm / f cm<br />
(%)<br />
P1a15 0,25 __ __<br />
P1a10 0,25 5,35 6,26<br />
P1a05 0,25 5,20 6,45<br />
P2a15 0,50 5,87 8,17<br />
P2a15-r 0,50 4,68 7,00<br />
P2a10 0,50 6,27 7,84<br />
P2a05 0,50 5,94 7,70<br />
P3a15 1,00 8,58 11,13<br />
P3a10 1,00 8,40 12,91<br />
P3a05 1,00 7,90 11,45<br />
P4a15 0,75 6,55 8,19<br />
P4a10 0,75 7,98 9,25<br />
P4a05 0,75 6,63 8,77<br />
P3p10 0,50 4,89 8,56<br />
• Ensaios com deformação controlada dos corpos-de-prova<br />
Os valores foram obtidos com a média de quatro corpos-de-prova, a menos<br />
do índice de tenacidade que foi obtido com a média de apenas três. Os ensaios com<br />
os corpos-de-prova foram feitos no mesmo dia dos ensaios dos pilares, mas por<br />
problemas de cronograma do Laboratório de Geotecnia, algumas vezes os ensaios<br />
com os corpos-de-prova eram realizados posteriormente aos dos pilares, em questão<br />
de dias. Por isso a diferença de resultados entre as resistências médias à compressão<br />
da tabela 2 com os resultados mostrados na tabela 4, onde é possível encontrar as<br />
resistências médias à compressão, o módulo de elasticidade médio, o coeficiente de<br />
Poisson médio e o índice de tenacidade médio, seguindo a JSCE-SF5 (1984), para o<br />
concreto de cada série de pilares.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
179<br />
Os resultados indicam um aumento do índice de tenacidade com o aumento<br />
da quantidade de fibras adicionadas ao concreto, mesmo nos ensaios à compressão<br />
dos corpos-de-prova.<br />
Para cada série de pilares foram ensaiados 4 corpos-de-prova com controle<br />
de deformação, mas foram selecionados apenas três resultados para que fosse<br />
medido o índice de tenacidade do material.<br />
TABELA 4 - Ensaios com Deformação Controlada<br />
Corpo<br />
- de -<br />
Prova<br />
Taxa de<br />
Fibras<br />
(%)<br />
Resistência à<br />
Compressão<br />
(MPa)<br />
Módulo de<br />
Elasticidade<br />
(GPa)<br />
Coeficiente<br />
De<br />
Poisson<br />
Índice de<br />
Tenacidade<br />
σ c (MPa)<br />
P1a15 0,25 __ __ __ __<br />
P1a10 0,25 77,40 29,91 0,19 42,10<br />
P1a05 0,25 76,24 28,81 0,11 43,21<br />
P2a15 0,50 64,96 27,41 0,16 43,30<br />
P2a15-r 0,50 __ __ __ __<br />
P2a10 0,50 69,90 29,64 0,17 46,60<br />
P2a05 0,50 86,97 29,18 0,12 52,86<br />
P3a15 1,00 74,78 31,01 0,12 51,80<br />
P3a10 1,00 69,18 28,17 0,16 55,60<br />
P3a05 1,00 76,17 28,73 0,15 53,32<br />
P4a15 0,75 85,57 30,10 __ 57,23<br />
P4a10 0,75 92,30 29,41 0,21 60,25<br />
P4a05 0,75 81,77 28,71 0,15 53,22<br />
P3p10 0,50 63,69 23,86 0,17 35,56<br />
As curvas força x deslocamento escolhidas para o cálculo dos índices de<br />
tenacidade das séries P1a05, P1a10 e P1a15, cujo concreto tinha 0,25% de taxa<br />
volumétrica de fibras de aço, são mostradas na figura 12.<br />
A ruptura dos corpos-de-prova destas séries se mostraram um pouco bruscas,<br />
em função da alta resistência do concreto e da quantidade de fibras, que foi a menor<br />
utilizada na pesquisa. Nas outras séries a ruptura dos corpos-de-prova foi mais dúctil,<br />
por causa do aumento gradativo da adição de fibras, e quanto maior era esta adição,<br />
menos brusca era a ruptura dos corpos-de-prova.<br />
Em GUIMARÃES (1999), é possível encontrar todos os resultados destes<br />
ensaios, sendo as curvas mostradas isoladamente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
180<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
Força (kN)<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
Concreto com 0,25% de Taxa de Fibras de Aço<br />
P1a05-10 P1a10-7 P1a15-4<br />
P1a05-8 P1a10-8 P1a15-5<br />
P1a05-9 P1a10-9 P1a15-8<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00<br />
Deslocamentos (mm)<br />
Figura 12 - Curvas Força x Deslocamentos P1a05, P1a10 e P1a15<br />
Na figura 13 podem ser vistas as curvas dos corpos-de-prova das séries<br />
P2a05, P2a10 e P2a15, que foram escolhidas para o cálculo do índice de tenacidade<br />
das respectivas séries de pilares.<br />
Força (kN)<br />
1000<br />
900<br />
Concreto com 0,50% de Taxa de Fibras de Aço<br />
P2a05-10 P2a10-10 P2a15-4<br />
P2a05-8 P2a10-7 P2a15-5<br />
P2a05-9 P2a10-9 P2a15-7<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00<br />
Deslocamentos<br />
Figura 13 - Curvas Força x Deslocamentos P2a05, P2a10 e P2a15<br />
Na figura 14 estão as curvas usadas para o cálculo do índice de tenacidade<br />
dos concretos das séries de pilares P3a05, P3a10 e P3a15.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
181<br />
Força (kN)<br />
1000<br />
900<br />
Concreto com 1,00% de Taxa de Fibras de Aço<br />
P3a05-10 P3a10-10 P3a15-7<br />
P3a05-7 P3a10-8 P3a15-8<br />
P3a05-9 P3a10-9 P3a15-9<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00<br />
Deslocamentos (mm)<br />
Figura 14 - Curvas Força x Deslocamentos P3a05, P3a10 e P3a15<br />
As curvas usadas para o cálculo do índice de tenacidade das séries P4a05,<br />
P4a10 e P4a15 são mostradas na figura 15.<br />
Força (kN)<br />
1000<br />
900<br />
Concreto com 0,75% de Taxa de Fibras de Aço<br />
P4a05-7 P4a10-10 P4a15-10<br />
P4a05-8 P4a10-7 P4a15-8<br />
P4a05-9 P4a10-8 P4a15-9<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00<br />
Deslocamentos (mm)<br />
Figura 15 - Curvas Força x Deslocamentos P4a05, P4a10 e P4a15<br />
O concreto da última série de pilares ensaiada, P3a10, continha fibras de<br />
polipropileno e as curvas dos ensaios dos corpos-de-prova submetidos à compressão<br />
axial com deformação controlada são mostradas na figura 16.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
182<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
Força (kN)<br />
1000<br />
900<br />
Concreto com 0,50% de Taxa de Fibras de Polipropileno<br />
P3p10-10 P3p10-7 P3p10-9<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00<br />
Deslocamentos (mm)<br />
Figura 16 - Curvas Força x Deslocamentos P3p10<br />
É possível perceber que com o aumento da adição de fibras, a parte<br />
descendente da curva tensão deformação vai se aproximando do comportamento<br />
elasto-plástico perfeito, mudando a característica do concreto de alta resistência de<br />
um material frágil para um material dúctil.<br />
Pode-se perceber ao comparar os índices de tenacidade do concreto com<br />
fibras metálicas com o concreto com fibras de polipropileno contendo a mesma taxa<br />
volumétrica de 0,50%, que o concreto contendo fibras metálicas, possuindo um valor<br />
maior do índice e apresentado curvas com a parte descendente menos inclinada, é<br />
capaz de absorver mais energia na etapa pós-pico, por conta da maior rigidez da<br />
fibra.<br />
• Resultados dos ensaios dos pilares<br />
Na tabela 5 constam os resultados dos ensaios de pilares de todas as séries<br />
que foram ensaiadas ao longo de aproximadamente um ano de trabalho no<br />
Laboratório de Estruturas.<br />
Como descrito anteriormente, as séries eram diferenciadas pela quantidade<br />
de fibras, tipo e espaçamento entre estribos. A taxa de armadura longitudinal<br />
geométrica, com a seção transversal total, foi constante e igual a 2,41%, e a área do<br />
núcleo, pelo fato dos estribos terem sido dobrados em gabarito, foi a mesma para<br />
todos os modelos, igual a 251,86cm 2 .<br />
Para cada série de pilares foram ensaiados dois modelos num pórtico de<br />
reação, e o controle da ação sobre os elementos era dado pelo controle de força.<br />
Apenas os pilares da série P3p10 foram ensaiados com controle de deformação, em<br />
máquina de ensaios universal da marca INSTRON, com capacidade para 3.000kN de<br />
força estática.<br />
A figura 17 mostra o comportamento das forças últimas dos pilares com as<br />
taxas volumétricas de fibras que foram utilizadas neste trabalho. É possível notar que<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
183<br />
não houve influência das fibras nas forças últimas dos pilares, nem com acréscimos,<br />
nem com decréscimos. A variação da taxa de armadura transversal também não<br />
provocou aumento na força resistente experimental. Os valores diferenciados para a<br />
taxa de fibras de 0,50%, ocorreram por conta de fatores de ensaios.<br />
TABELA 5 - Resumo dos Ensaios dos Pilares<br />
0,8F u,exp<br />
(kN)<br />
F u,exp<br />
(kN)<br />
V f<br />
ρ w<br />
ε 0,8Fu,exp<br />
ε u,exp<br />
Pilar Fibras (%) Estribos (%)<br />
‰<br />
‰<br />
P1a15-1 Aço 0,25 φ6,3c/15 0,55 1.958 1,62 2.453 2,07<br />
P1a15-2 Aço 0,25 φ6,3c/15 0,55 2.173 1,50 2.714 2,02<br />
P1a10-1 Aço 0,25 φ6,3c/10 0,82 2.056 1,62 2.581 2,26<br />
P1a10-2 Aço 0,25 φ6,3c/10 0,82 1.864 1,45 2.304 2,06<br />
P1a05-1 Aço 0,25 φ6,3c/05 1,63 1.864 1,53 2.291 2,42<br />
P1a05-2 Aço 0,25 φ6,3c/05 1,63 1.965 1,52 2.449 2,62<br />
P2a15-1 Aço 0,50 φ6,3c/15 0,55 1.763 1,46 2.208 2,09<br />
P2a15-2 Aço 0,50 φ6,3c/15 0,55 1.445 1,23 1.827 1,83<br />
P2a15-1r Aço 0,50 φ6,3c/15 0,55 1.454 1,55 1.840 3,38<br />
P2a15-2r Aço 0,50 φ6,3c/15 0,55 1.457 1,33 1.841 2,31<br />
P2a10-1 Aço 0,50 φ6,3c/10 0,82 2.328 1,47 2.911 2,09<br />
P2a10-2 Aço 0,50 φ6,3c/10 0,82 2.419 1,48 3.028 1,89<br />
P2a05-1 Aço 0,50 φ6,3c/05 1,63 1.987 1,66 2.491 2,48<br />
P2a05-2 Aço 0,50 φ6,3c/05 1,63 2.042 1,74 2.554 2,36<br />
P3a15-1 Aço 1,00 φ6,3c/15 0,55 2.005 1,38 2.509 1,87<br />
P3a15-2 Aço 1,00 φ6,3c/15 0,55 1.870 1,21 2.360 2,03<br />
P3a10-1 Aço 1,00 φ6,3c/10 0,82 1.923 1,47 2.373 2,28<br />
P3a10-2 Aço 1,00 φ6,3c/10 0,82 1.757 1,33 2.164 2,11<br />
P3a05-1 Aço 1,00 φ6,3c/05 1,63 1.856 1,77 2.333 2,91<br />
P3a05-2 Aço 1,00 φ6,3c/05 1,63 1.984 1,55 2.454 2,74<br />
P4a15-1 Aço 0,75 φ6,3c/15 0,55 2.067 1,43 2.584 2,09<br />
P4a15-2 Aço 0,75 φ6,3c/15 0,55 2.091 1,62 2.609 2,30<br />
P4a10-1 Aço 0,75 φ6,3c/10 0,82 2.104 1,38 2.603 1,80<br />
P4a10-2 Aço 0,75 φ6,3c/10 0,82 2.098 1,74 2.598 2,91<br />
P4a05-1 Aço 0,75 φ6,3c/05 1,63 1.754 1,80 2.222 4,97<br />
P4a05-2 Aço 0,75 φ6,3c/05 1,63 1.761 1,69 2.199 2,47<br />
P3p10-2 Polip 0,50 φ6,3c/10 0,82 1.900 3,08 2.391 4,33<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
184<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
Fu<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
c/05-1<br />
c/05-2<br />
c/10-1<br />
c/10-2<br />
c/15-1<br />
c/15-2<br />
0<br />
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25<br />
Taxa de Fibras (%)<br />
Figura 17 - Comportamento das Forças Últimas com as Taxas de Fibras<br />
Na figura 18 é mostrado o comportamento das deformações dos pilares para<br />
as forças últimas, com as diferentes taxas de fibras.<br />
É possível notar a influência da taxa de armadura transversal nas<br />
deformações últimas, indicando ductilidade dada pelos estribos, mesmo com<br />
configuração simples. As fibras tiveram pouca influência quanto às deformações<br />
últimas dos pilares submetidos à compressão axial, o que era esperado.<br />
Deformação (mm/m)<br />
Fu<br />
5,5<br />
5,0<br />
4,5<br />
4,0<br />
3,5<br />
3,0<br />
2,5<br />
2,0<br />
1,5<br />
1,0<br />
0,5<br />
0,0<br />
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25<br />
Taxa de Fibras (%)<br />
c/05-1<br />
c/05-2<br />
c/10-1<br />
c/10-2<br />
c/15-1<br />
c/15-2<br />
Figura 18 - Comportamento das Deformações para as Forças Últimas com as Taxas de Fibras<br />
Para justificar as conclusões obtidas, é mostrado na figura 19 o<br />
comportamento das deformações para força obtida à aproximadamente 80% da força<br />
última, onde o pilar encontrava-se em serviço.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
185<br />
2,50<br />
2,25<br />
2,00<br />
Deformação (mm/m)<br />
80% de Fu<br />
1,75<br />
1,50<br />
1,25<br />
1,00<br />
0,75<br />
0,50<br />
0,25<br />
0,00<br />
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25<br />
Taxa de Fibras (%)<br />
c/05-1<br />
c/05-2<br />
c/10-1<br />
c/10-2<br />
c/15-1<br />
c/15-2<br />
Figura 19 – Comportamento das Deformações à 80% das Forças Últimas com as Taxas de<br />
Fibras<br />
É possível perceber, pela figura 19, um crescimento das deformações com o<br />
aumento da taxa de armadura transversal, como foi mostrado na figura 18. Portanto a<br />
influência das fibras em elementos de concreto submetidos à compressão está na<br />
ductilidade dos mesmos, como se viu no comportamento dos pilares quando as<br />
medidas de deformações foram feitas nas barras longitudinais e nas faces dos<br />
mesmos.<br />
• Curvas representativas dos resultados<br />
Na tese de doutorado de GUIMARÃES (1999), no capítulo 4 da tese, são<br />
mostrados os diagramas Força x Deformação, feitos com as leituras dos strain gages<br />
colados nas barras longitudinais, nas faces do pilar na direção longitudinal, em um<br />
estribo, nas faces do pilar na direção transversal, e dos transdutores de deslocamento<br />
fixados verticalmente nas laterais.<br />
Nos diagramas pode ser notado, nas séries P1a15, P1a10 e P1a05, que com<br />
o aumento da taxa de armadura transversal, há aumento nas deformações tanto do<br />
pilar quanto dos estribos. Nas séries P2a15, P2a10, o aumento das deformações não<br />
foi significativo, mas na série P2a05 houve aumento das deformações em relação à<br />
série P1a05.<br />
Observe-se que as deformações ocorridas nos pilares das séries P3a15,<br />
P3a10 e P3a05 foram maiores, e nestas séries a quantidade de fibras adicionadas ao<br />
concreto foi a maior usada na pesquisa. Percebe-se que as barras das armaduras,<br />
tanto longitudinal quanto transversal atingem o escoamento, havendo portanto bom<br />
uso do material.<br />
Na série P4a15 as deformações permaneceram no mesmo patamar que das<br />
séries onde o espaçamento entre estribos era de 15cm, a menos da série P3a15, mas<br />
as séries P4a10 e P4a05 tiveram deformações maiores, tanto dos pilares, quanto dos<br />
materiais, onde o aço atingiu o patamar de escoamento das barras longitudinais e dos<br />
estribos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
186<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
Ficou evidenciado pelos diagramas que aumentando a ductilidade do concreto<br />
com a adição de fibras, há um aumento significativo nas deformações conjuntas dos<br />
materiais, aço-concreto. Note-se que com o aumento da quantidade de fibras, a<br />
deformação nas barras longitudinais chegou ao escoamento, assim como a<br />
deformação nos estribos, evidenciando melhor aderência aço-concreto.<br />
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
4.1 Análise dos resultados experimentais<br />
A tabela 6 mostra os resultados obtidos experimentalmente, os resultados<br />
obtidos por meio de uma análise teórica, e a relação existente entre eles, onde F u,exp é<br />
a força última experimental, F un,teo é a força calculada considerando a seção<br />
transversal do núcleo e F u,teo é a força calculada considerando a seção transversal<br />
total dos pilares.<br />
TABELA 6 - Análise Teórica dos Resultados dos Ensaios<br />
Pilar<br />
V f<br />
(%)<br />
ρ w<br />
(%)<br />
0,9f cm<br />
(MPa)<br />
F u,exp<br />
(kN)<br />
F u,teo<br />
(kN)<br />
F u,exp<br />
/ F u,teo<br />
F un,teo<br />
(kN)<br />
F u,exp<br />
/ F un,teo<br />
P1a15-1 0,25 0,55 72,93 2.453 3.383 0,73 2.303 1,07<br />
P1a15-2 0,25 0,55 79,03 2.714 3.621 0,75 2.451 1,11<br />
P1a10-1 0,25 0,82 76,92 2.581 3.539 0,73 2.400 1,08<br />
P1a10-2 0,25 0,82 76,92 2.304 3.539 0,65 2.400 0,96<br />
P1a05-1 0,25 1,63 72,61 2.291 3.371 0,68 2.295 1,00<br />
P1a05-2 0,25 1,63 72,61 2.449 3.371 0,73 2.295 1,07<br />
P2a15-1 0,50 0,55 64,67 2.208 3.061 0,72 2.103 1,05<br />
P2a15-2 0,50 0,55 64,67 1.827 3.061 0,60 2.103 0,87<br />
P2a15-1r 0,50 0,55 59,82 1.840 2.871 0,64 1.985 0,93<br />
P2a15-2r 0,50 0,55 59,82 1.841 2.871 0,64 1.985 0,93<br />
P2a10-1 0,50 0,82 71,98 2.911 3.346 0,87 2.280 1,28<br />
P2a10-2 0,50 0,82 71,98 3.028 3.346 0,91 2.280 1,33<br />
P2a05-1 0,50 1,63 69,87 2.491 3.264 0,76 2.229 1,12<br />
P2a05-2 0,50 1,63 69,87 2.554 3.264 0,78 2.229 1,15<br />
P3a15-1 1,00 0,55 69,37 2.509 3.244 0,77 2.217 1,13<br />
P3a15-2 1,00 0,55 69,37 2.360 3.244 0,73 2.217 1,06<br />
P3a10-1 1,00 0,82 58,52 2.373 2.821 0,84 1.954 1,21<br />
P3a10-2 1,00 0,82 58,52 2.164 2.821 0,77 1.954 1,11<br />
P3a05-1 1,00 1,63 62,14 2.333 2.962 0,79 2.041 1,14<br />
P3a05-2 1,00 1,63 62,14 2.454 2.962 0,83 2.041 1,20<br />
P4a15-1 0,75 0,55 71,88 2.584 3.342 0,77 2.277 1,14<br />
P4a15-2 0,75 0,55 71,88 2.609 3.342 0,78 2.277 1,15<br />
P4a10-1 0,75 0,82 77,72 2.603 3.573 0,73 2.421 1,08<br />
P4a10-2 0,75 0,82 77,72 2.598 3.573 0,73 2.421 1,07<br />
P4a05-1 0,75 1,63 67,69 2.222 3.190 0,70 2.183 1,02<br />
P4a05-2 0,75 1,63 67,69 2.199 3.190 0,69 2.183 1,01<br />
P3p10-2 0,50 0,82 51,35 2.391 2.541 0,94 1.780 1,34<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
187<br />
O fato da relação F u,exp / F un,teo ser bem mais próxima de 1,00 do que a relação<br />
F u,exp / F u,teo , indica que a seção resistente do pilar é formada pelo núcleo da seção<br />
transversal, como mostrado por outros pesquisadores, em experiências com pilares<br />
de CAD.<br />
Nesta pesquisa também ficou evidenciado que a resistência última do pilar é<br />
definida pelo núcleo delimitado pelos estribos, quando se adicionam fibras ao CAD.<br />
Para o cálculo da força resistente foi usada a expressão 1, considerando<br />
apenas a seção transversal do núcleo dos pilares.<br />
Para o cálculo da força resistente considerando a seção transversal total,<br />
usou-se a expressão 2.<br />
F = ( A − A ) f + A<br />
f<br />
u, teo c s c s y<br />
(2)<br />
onde:<br />
A c<br />
= área da seção transversal total do pilar.<br />
COLLINS et al. (1993) propõe um coeficiente K 3 , multiplicando a parcela<br />
resistente do concreto, para se levar em conta a seção transversal total do pilar,<br />
sendo a fórmula descrita da seguinte maneira:<br />
F = K3(<br />
A − A ) f + A<br />
f<br />
u, teo c s c s y<br />
(3)<br />
onde:<br />
10<br />
K = 0,6 + para f c ’ em MPa. (4)<br />
3<br />
'<br />
f c<br />
Na tabela 7 pode ser vista uma análise entre os valores obtidos para a força<br />
resistente teórica, utilizando o coeficiente K 3 proposto por COLLINS et al. (1993), com<br />
os resultados experimentais.<br />
A formulação indicada por COLLINS et al. (1993) é baseada na determinação<br />
da resistência à compressão do concreto em ensaios de corpos-de-prova cilíndricos<br />
de 15cm x 30cm. Como nos ensaios realizados para determinação da resistência<br />
média à compressão f cm usaram-se corpos-de-prova de 10cm x 20cm, faz-se um<br />
ajuste em f cm multiplicando-o com o coeficiente 0,95, que é para se levar em<br />
consideração a diferença das dimensões dos corpos-de-prova.<br />
Pode-se perceber pelos resultados que a indicação de COLLINS et al. (1993)<br />
levou a valores contra a segurança, quando comparado com os resultados<br />
experimentais obtidos nesta pesquisa.<br />
A adição de fibras ao concreto diminui sua resistência à compressão, mas<br />
como as taxas de fibras usadas para execução do concreto dos pilares ficaram nos<br />
limites inferiores indicadas pela literatura técnica, não houve diferenciação de uma<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
188<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
resistência ou outra, em função da adição de fibras, sendo necessário um número<br />
maior de ensaios para a indicação de outro coeficiente no lugar de K 3 para o cálculo<br />
da força resistente, considerando a seção transversal total e para que fosse levada<br />
em conta a adição de fibras ao concreto<br />
TABELA 7 - Análise Teórica Segundo COLLINS et al. (1993)<br />
Pilar<br />
V f<br />
(%)<br />
0,95f cm<br />
(MPa) K 3<br />
F u,exp<br />
(kN)<br />
F u,teo<br />
(kN)<br />
F u,exp<br />
/ F u,teo<br />
P1a15-1 0,25 76,98 0,730 2.453 2.730 0,90<br />
P1a15-2 0,25 83,42 0,720 2.714 2.881 0,94<br />
P1a10-1 0,25 81,20 0,723 2.581 2.828 0,91<br />
P1a10-2 0,25 81,20 0,723 2.304 2.828 0,82<br />
P1a05-1 0,25 76,65 0,730 2.291 2.720 0,84<br />
P1a05-2 0,25 76,65 0,730 2.449 2.720 0,90<br />
P2a15-1 0,50 68,26 0,747 2.208 2.527 0,87<br />
P2a15-2 0,50 68,26 0,747 1.827 2.527 0,72<br />
P2a15-1r 0,50 63,14 0,758 1.840 2.405 0,77<br />
P2a15-2r 0,50 63,14 0,758 1.841 2.405 0,77<br />
P2a10-1 0,50 75,98 0,732 2.911 2.707 1,08<br />
P2a10-2 0,50 75,98 0,732 3.028 2.707 1,12<br />
P2a05-1 0,50 73,75 0,736 2.491 2.655 0,94<br />
P2a05-2 0,50 73,75 0,736 2.554 2.655 0,96<br />
P3a15-1 1,00 73,23 0,737 2.509 2.643 0,95<br />
P3a15-2 1,00 73,23 0,737 2.360 2.643 0,89<br />
P3a10-1 1,00 61,77 0,762 2.373 2.374 1,00<br />
P3a10-2 1,00 61,77 0,762 2.164 2.374 0,91<br />
P3a05-1 1,00 65,59 0,753 2.333 2.464 0,95<br />
P3a05-2 1,00 65,59 0,753 2.454 2.464 1,00<br />
P4a15-1 0,75 75,88 0,732 2.584 2.704 0,96<br />
P4a15-2 0,75 75,88 0,732 2.609 2.704 0,97<br />
P4a10-1 0,75 82,13 0,722 2.603 2.851 0,91<br />
P4a10-2 0,75 82,13 0,722 2.598 2.851 0,91<br />
P4a05-1 0,75 71,76 0,739 2.222 2.606 0,85<br />
P4a05-2 0,75 71,76 0,739 2.199 2.606 0,84<br />
P3p10-2 0,50 54,21 0,785 2.391 2.197 1,09<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
189<br />
4.2 Análise dos resultados experimentais e numéricos<br />
4.2.1 Modelagem dos pilares<br />
Foi utilizado o programa ANSYS (1997), que considera o método dos<br />
elementos finitos, para fazer uma análise numérica do comportamento Força x<br />
Deformação dos pilares.<br />
Adotou-se um elemento finito sólido para representar o concreto, o solid45, e<br />
um elemento de barra tridimensional representando as barras longitudinais e os<br />
estribos, o beam3. As dimensões dos pilares foram as mesmas com a seção<br />
transversal de 20cm x 20cm e altura de 120cm.<br />
A vinculação escolhida para simular os ensaios experimentais foi de se<br />
impedir todos os movimentos do elemento em uma das extremidades, ou seja<br />
engastando-a, e na outra foi aplicado um deslocamento na direção paralela ao<br />
comprimento do pilar e mais um impedimento nos 4 pontos que definem a seção<br />
transversal do elemento, para que não houvesse flexão do pilar ao longo do processo<br />
numérico de aplicação da ação.<br />
Foi possível dar ao programa os dados experimentais dos materiais, como as<br />
curvas Tensão x Deformação dos aços, barras de 12,5mm e 6,3mm que foram as<br />
mesmas para todos os modelos, e do concreto, que variou de modelo para modelo.<br />
Na figura 20a, é mostrada a discretização dos modelos de pilares contendo<br />
espaçamento entre estribos de 5cm. A discretização em elementos finitos dos pilares<br />
contendo espaçamento de 10cm entre estribos pode ser vista na figura 20b. E por<br />
último a vista da discretização dos modelos de pilares com espaçamento entre<br />
estribos de 15cm na figura 20c.<br />
Na figura 21 pode ser vista a distribuição das tensões de compressão na<br />
direção longitudinal (eixo z) do pilar representando a série P1a15. Para as outras<br />
séries, a distribuição foi similar na figura citada.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
190<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
(a) (b) (c)<br />
Figura 20 - Discretização dos Pilares conforme o Espaçamento entre Estribos<br />
Na figura 22, mostra-se a composição da armadura, em barras longitudinais e<br />
transversais, onde na figura 22a os estribos estão espaçados 5cm entre si.<br />
A figura 22b mostra os arranjos onde os estribos tem espaçamento de 10cm e<br />
na figura 22c, o espaçamento é de 15cm entre os estribos.<br />
Figura 21 - Distribuição das Tensões - Ilustração Geral<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
191<br />
(a)<br />
(b)<br />
(c)<br />
Figura 22 - Discretização da Armadura<br />
4.2.2 Gráficos ilustrativos<br />
As figuras de 23 a 34 mostram a análise entre os diagramas Força x<br />
Deformação dos pilares obtidos experimentalmente e os resultados obtidos por<br />
análise numérica.<br />
Pode-se perceber que as forças resistentes obtidas com o procedimento<br />
numérico ficaram sempre com valores acima das forças últimas experimentais. Isto<br />
ocorreu porque o processo numérico foi feito considerando-se a seção total do pilar,<br />
enquanto que na análise feita no item 4.1.1, percebeu-se que a seção resistente do<br />
pilar é formada pelo núcleo da seção transversal.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
192<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
Força (kN)<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P1a05-1<br />
P1a05-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 23 - Análise Experimental e Numérica da Série P1a05<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P1a10-1<br />
P1a10-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 24 - Análise Experimental e Numérica da Série P1a10<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P1a15-1<br />
P1a15-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 25 - Análise Experimental e Numérica da Série P1a15<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
193<br />
Força (kN)<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P2a05-1<br />
P2a05-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 26 - Análise Experimental e Numérica da Série P2a05<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P2a10-1<br />
P2a10-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 27- Análise Experimental e Numérica da Série P2a10<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
2500<br />
2000<br />
P1a15-1<br />
1500<br />
P1a15-2<br />
1000<br />
P1a15-1r<br />
500<br />
P1a15-2r<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 28 - Análise Experimental e Numérica da Série P2a15<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
194<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
Força (kN)<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P3a05-1<br />
P3a05-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 29 - Análise Experimental e Numérica da Série P3a05<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P3a10-1<br />
P3a10-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 30 - Análise Experimental e Numérica da Série P3a10<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P3a15-1<br />
P3a15-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 31 - Análise Experimental e Numérica da Série P3a15<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
195<br />
Força (kN)<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P4a05-1<br />
P4a05-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 32 - Análise Experimental e Numérica da Série P4a05<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P4a10-1<br />
P4a10-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 33 - Análise Experimental e Numérica da Série P4a10<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
Força (kN)<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
P4a15-1<br />
P4a15-2<br />
Numérico<br />
0<br />
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />
Deformação (mm/m)<br />
Figura 34 - Análise Experimental e Numérica da Série P4a15<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
196<br />
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo<br />
5 CONCLUSÕES<br />
Após a execução dos ensaios pilotos verificou-se que as fibras metálicas que<br />
foram utilizadas no concreto, com 2,4cm de comprimento, não foram arrancadas e sim<br />
rompidas. Optou-se então por trabalhar com fibras mais longas, de 6,0cm de<br />
comprimento, seguindo indicação que o comprimento das fibras deveria ser de duas a<br />
três vezes o diâmetro máximo do agregado graúdo. Com a mudança das dimensões<br />
das fibras, o concreto passou a ter aumento de tenacidade, e isto foi verificado pela<br />
forma de ruptura dos pilares, que foi mais dúctil, com as fibras sendo arrancadas e<br />
não mais rompidas.<br />
Nos ensaios com deformação controlada dos corpos-de-prova pôde ser<br />
observado que, quanto maior a adição de fibras no concreto, maior o índice de<br />
tenacidade e a resistência à tração também era maior nos ensaios feitos com<br />
compressão diametral.<br />
Isto também foi verificado nos ensaios dos pilares onde, com a<br />
instrumentação colocada no concreto nas faces dos pilares, puderam ser medidas as<br />
deformações na direção transversal. Foi observado que na proximidade da ruína<br />
houve aumento das deformações nos estribos da mesma maneira que no concreto,<br />
ou seja, na proporção crescente com a quantidade de fibras adicionadas ao concreto,<br />
e ficando muito claro para as séries com maior taxa de fibras adotada na pesquisa<br />
(1%), evidenciando assim a ductilização dos pilares.<br />
O aumento da quantidade de fibras no concreto aumentou discretamente a<br />
deformabilidade do pilar como um todo. O aumento das deformações ficou<br />
evidenciado em função do aumento da taxa de armadura transversal.<br />
Foi notado que a armadura longitudinal teve maiores deformações, no estágio<br />
próximo à ruína, e para algumas séries também em serviço, do que as deformações<br />
obtidas em LIMA (1997). Este aumento também pode ser notado comparando-se os<br />
gráficos das séries de pilares desta pesquisa, com relação ao aumento da taxa de<br />
fibras e da armadura transversal.<br />
Percebeu-se nos ensaios que o cobrimento não é destacado antes da ruptura.<br />
As fibras fizeram um elo de ligação não permitindo a ruptura do concreto do<br />
cobrimento com uma força menor que a de ruína, como acontecia com os pilares de<br />
concreto de alto desempenho sem adição de fibras, onde ocorria a ruptura do núcleo<br />
depois da ruptura do cobrimento, como foi observado por AGOSTINI (1995),<br />
CUSSON & PAULTRE (1994) e LIMA, GIONGO & TAKEYA (1997), nos ensaios de<br />
pilares com concreto de alto desempenho, porém, sem adição de fibras.<br />
O ângulo de ruptura do núcleo de concreto confinado varia de 25 o a 45 o ,<br />
dependendo da intensidade do confinamento do núcleo, sendo maior o ângulo quanto<br />
menor o confinamento, e isto foi verificado nos ensaios desta pesquisa, com a maioria<br />
dos casos ocorrendo com ângulos de 45 0 . Isto pode ser observado em GUIMARÃES<br />
(1999).<br />
Assim, como foi verificado por outros pesquisadores, apenas o núcleo dos<br />
pilares, delimitado pelos estribos, formou a seção resistente aos esforços normais de<br />
compressão. Nos pilares feitos com concreto de alta resistência com fibras metálicas<br />
a conclusão não foi diferente, ou seja, apenas o núcleo da seção transversal<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas...<br />
197<br />
contribuiu para absorver a força atuante. Isto pôde ser comprovado também na<br />
análise numérica onde, considerando-se a seção transversal total dos modelos, a<br />
força resistente obtida foi maior que a força última experimental, mostrado nos<br />
diagramas Tensão x Deformação do capítulo 5.<br />
Indica-se o uso de no máximo h/2 para o espaçamento entre estribos, onde h<br />
é a altura da seção transversal do pilar, visto que para os pilares com espaçamento<br />
entre estribos a cada 15cm houve ductilidade na ruptura apenas para a taxa de fibras<br />
de 1%, assim mesmo com a flambagem da armadura longitudinal.<br />
Pôde-se perceber, pelos diagramas das séries de pilares mostrados no<br />
capítulo 4, que à partir da adição de 0,75% de taxa de fibras metálicas, houve ganho<br />
nas deformações das armaduras, que chegaram ao patamar de escoamento.<br />
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AGOSTINI, L. R. S. (1992). Pilares de concreto de alta resistência. São Paulo. Tese<br />
(Doutorado) - EP<strong>USP</strong>.<br />
ANSYS (1997). version 5.4. Houston, USA.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1978). NB 1 – Projeto e<br />
execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro.<br />
COLLINS, M.P.; MITCHELL, D.; MacGREGOR, J.G. (1993). Structural design<br />
considerations for high-strength concrete. Concrete International, v.15, n.1, p.27-34.<br />
CUSSON, D.; PAULTRE, P. (1994). High-strength concrete columns confined by<br />
retangular ties. Journal of Structural Engineering, ASCE, v.120, n.3, p.783-804, Mar.<br />
GUIMARÃES, A.E.P. (1999). Análise de pilares de concreto de alta resistência<br />
com adição de fibras metálicas submetidos à compressão centrada. São Carlos.<br />
Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.<br />
LIMA, F.B. (1997). Pilares de concreto de alto desempenho: fundamentos e<br />
experimentação. São Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São<br />
Carlos, Universidade de São Paulo.<br />
LIMA, F.B.; GIONGO, J.S.; TAKEYA, T. (1997) Análise experimental de pilares de<br />
concreto de alto desempenho solicitados à compressão centrada. In: REUNIÃO DO<br />
INSTITUTO BRASILEIRO DO CONCRETO, 39., São Paulo. Anais.<br />
THE JAPAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS (1984). JSCE-SF5 - Method of tests<br />
for compressive strenght and compressive toughness of steel fiber reinforced<br />
concrete. Part III-2 Method of tests for steel fiber reinforced concrete, n.3, June.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.
CADERNOS DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />
(Números Publicados)<br />
http://www.set.eesc.usp.br/cadernos<br />
N o . Ano<br />
20 2002 ESTRUTURAS METÁLICAS<br />
• MOTTA, L.A.C.; MALITE, M. Análise da segurança no projeto de estruturas: método dos<br />
estados limites.<br />
• ARAÚJO, E.C.; CALIL JR., C. Critérios de dimensionamento de tremonhas piramidais<br />
para silos metálicos elevados.<br />
• SOUZA, A.S.C.; GONÇALVES, R.M. Contribuição ao estudo das estruturas metálicas<br />
espaciais.<br />
• VENDRAME, A.M.; GONÇALVES, R.M. Análise numérica e experimental de estruturas<br />
espaciais constituídas de barras de extremidades estampadas: estudo dos nós.<br />
• MAIOLA, C.H.; MALITE, M. Análise teórica e experimental de treliças metálicas espaciais<br />
constituídas por barras com extremidades estampadas.<br />
• AGUIAR, E.O.; BARBATO, R.L.A. Análise da estrutura de cabos da cobertura do<br />
pavilhão da Feira Internacional de Indústria e Comércio – Rio de Janeiro.<br />
• JAVARONI, C.E.; GONÇALVES, R.M. Perfis de aço formados a frio submetidos à flexão:<br />
análise teórico-experimental.<br />
19 2002 ESTRUTURAS DE CONCRETO<br />
• ALBUQUERQUE, A.T.; PINHEIRO, L.M. Viabilidade econômica de alternativas estruturais<br />
de concreto armado para edifícios.<br />
• PANIAGO, D.G.; HANAI, J.B. Análise estrutural de reservatórios enterrados de<br />
argamassa armada com telas de aço soldadas.<br />
• PRADO, J.F.M.A.; CORRÊA, M.R.S. Estruturas de edifícios em concreto armado<br />
submetidas a ações de construção.<br />
• NASCIMENTO NETO, J.A.; CORRÊA, M.R.S. Análise tridimensional de edifícios em<br />
alvenaria estrutural submetidos à ação do vento.<br />
• TEIXEIRA, P.W.G.N.; HANAI, J.B. Projeto e execução de coberturas em casca de<br />
concreto com forma de membrana pênsil invertida e seção tipo sanduíche.<br />
• OLIVEIRA, R.S.; CORRÊA, M.R.S. Análise de pavimentos de concreto armado com a<br />
consideração da não-linearidade física.<br />
• PINTO, R.S.; RAMALHO, M.A. Não-linearidade física e geométrica no projeto de edifícios<br />
usuais de concreto armado.<br />
• CRESCE, S.H.; VENTURINI, W.S. Internal force evaluation for Reissneir-Mindlin plates<br />
using the boundary element method.<br />
18 2002 ESTRUTURAS DE MADEIRA<br />
• BARALDI, L.T.; CALIL JR., C. Método de ensaio de ligações de estruturas de madeira<br />
por chapas com dentes estampados.<br />
• OKIMOTO, F.S.; CALIL JR., C. Pontes protendidas de madeira.<br />
• STAMATO, G.C.; CALIL JR., C. Resistência ao embutimento da madeira compensada.<br />
• LOGSDON, N.B.; CALIL JR., C. Influência da umidade nas propriedades de resistência e<br />
rigidez da madeira.<br />
• FERREIRA, N.S.S.; CALIL JR., C. Estruturas lamelares de madeira para coberturas.<br />
17 2001 ESTRUTURAS DE CONCRETO PRÉ-MOLDADO<br />
• ARAÚJO, D.L., EL DEBS, M.K. Cisalhamento na interface entre concreto pré-moldado e<br />
concreto moldado no local em vigas submetidas à flexão.<br />
• SOARES, A.M.M.; HANAI, J.B. Análise estrutural de pórticos planos de elementos préfabricados<br />
de concreto considerando a deformabilidade das ligações.<br />
• CASTILHO, V.C.; EL DEBS, M.K, ; GIL, L.S. Contribuição dos painéis pré-moldados de<br />
fechamento no enrijecimento da estrutura principal: estudo de caso.
• FERREIRA, M.A.; EL DEBS, M.K. Procedimentos analíticos para a determinação da<br />
deformabilidade e da resistência de uma ligação viga-pilar com elastômero simples e<br />
chumbador.<br />
• DROPPA JR, A.; EL DEBS, M.K. Análise não-linear de lajes pré-moldadas com armação<br />
treliçada: comparação de valores teóricos com experimentais e simulações numéricas em<br />
painéis isolados.<br />
16 1999 SOUSA JR., E.; PAIVA, J.B. Um aplicativo para o ambiente Windows para<br />
aquisição de dados para análise de pavimentos de edifícios via método dos<br />
elementos finitos.<br />
15 1999 PELETEIRO, S.C.; RAMALHO, M.A. Utilização da formulação livre para<br />
desenvolvimento de um elemento de membrana com liberdades<br />
rotacionais.<br />
14 1999 BOTTURA, H.M.; LAIER, J.E. Uma família de algoritmos hermitianos para<br />
a integração direta das equações de dinâmica das estruturas.<br />
13 1999 BADIALE, R.C.; SÁLES, J.J. Reservatórios metálicos elevados para<br />
aplicação na indústria sucro-alcooleira.<br />
12 1999 MUNAIAR NETO, J.; PROENÇA, S.P.B. Estudo de modelos constitutivos<br />
viscoelásticos e elasto-viscoplásticos.<br />
11 1999 SOARES, R.C.; EL DEBS, A.L.H.C. Otimização de seções transversais de<br />
concreto armado sujeitas à flexão: aplicação a pavimentos.<br />
10 1999 PINHEIRO, R.V.; LAHR, F.A.R. Emprego da madeira do gênero Pinus na<br />
construção de estruturas de cobertura.<br />
9 1999 RIBEIRO, L.F.L.; GONÇALVES, R.M. Comportamento momento-rotação<br />
de ligações com chapa de topo: resultados experimentais.<br />
8 1999 BRANDÃO, A.M.S.; PINHEIRO, L.M. Qualidade e durabilidade das<br />
estruturas de concreto armado: aspectos relativos ao projeto.<br />
7 1999 MACÊDO, A.N.; CALIL JR., C. Estudo de emendas dentadas em madeira<br />
laminada colada (MLC): avaliação de método de ensaio – NBR 7190/1997.<br />
6 1998 NASCIMENTO, J.W.B.; CALIL JR., C. Painéis estruturais para paredes de<br />
silos verticais prismáticos.<br />
5 1998 OLIVEIRA, F.L.; MACHADO JR., E.F. Avaliação da segurança estrutural de<br />
sistemas inovadores: estudo de caso.<br />
4 1998 MAGALHÃES, J.R.M.; MALITE, M. Treliças metálicas espaciais: alguns<br />
aspectos relativos ao projeto e à construção.<br />
3 1998 SILVA, N.A.; VENTURINI, W.S. Aplicação do método dos elementos de<br />
contorno à análise de placas com apoios internos.<br />
2 1998 PARSEKIAN, G.A.; CORRÊA, M.R.S. Cálculo e armação de lajes de<br />
concreto armado com a consideração do momento volvente.<br />
1 1997 HANAI, J.B. ; MINATEL , M.N. Retrospectiva da produção científica e<br />
tecnológica do Departamento de Engenharia de Estruturas: 1955-1996.