História - Curso e Colégio Acesso
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Comentários dos professores Márcio Santos e Pedro Alexandre, do curso<br />
Apogeu, sobre a prova de <strong>História</strong>, da segunda fase do vestibular da<br />
Universidade Federal do Paraná:<br />
01) Considere a seguinte afirmação sobre o termo bizantino:<br />
“É essencial lembrar que bizantino não tem conotação étnica, mas<br />
civilizacional (...). O termo bizantino foi vulgarizado apenas a partir do<br />
século XVI, depois do desmembramento do império, que, em vida, se via<br />
como herdeiro e continuador do império Romano.” (FRANCO JR., Hilário;<br />
ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. O Império Bizantino. SP: Brasiliense,<br />
1987, p. 7-8)<br />
Em que medida o Império Bizantino pode ser considerado herdeiro e<br />
continuador do Império Romano? Estabeleça as diferenças entre esses dois<br />
impérios entre os séculos V e VII.<br />
O Império Romano Oriental, como também era chamado, herdou na divisão<br />
do Império Romano do Ocidente em 395dc o Direito, dando origem ao<br />
Corpus Juris Civilis, dividido em quatro partes: Digesto, Código, Novela e<br />
Institutas. O Cristianismo nascido no primeiro século do Império Romano<br />
consolidou-se no Oriente através do Cesaropapismo; e ganhou<br />
características diferenciadas a partir do Cisma do Oriente em 1054 d.c, com o<br />
surgimento da Igreja Ortodoxa Grega.<br />
Uma das diferenças fundamentais reside no fato de que o Império Ocidental<br />
fragmentou-se e ruralizou-se, enquanto o Império Oriental manteve-se coeso<br />
em sua urbanização.<br />
02) Durante o período das Cruzadas, São Bernardo de Claraval (1090-1153)<br />
escreveu:<br />
“Mas os soldados de Cristo combatem confiantes nas batalhas do Senhor,<br />
sem nenhum temor de pecar por pôr-se em perigo de morte e por matar o<br />
inimigo. Para eles, morrer ou matar por Cristo não implica qualquer crime,<br />
pelo contrário, traz a máxima glória. (...) Em outras palavras: o soldado de<br />
Cristo mata com a consciência tranquila e morre com a consciência mais
tranquila ainda.” (São Bernardo de Claraval apud COSTA, Ricardo da.<br />
Apresentação: A Cruzada Renasceu? BLASCO VALLÈS, Almudena, e COSTA,<br />
Ricardo da (coord.). Mirabilia 10. A Idade Média e as Cruzadas. jan.-jun.<br />
2010/ISSN 1676- 5818, p. XIII)<br />
No que se refere às Cruzadas no período medieval, determine quem eram<br />
esses soldados de Cristo referenciados no trecho acima, quais as<br />
motivações para empreender suas batalhas e quais as suas consequências<br />
para o mundo ocidental daquele período.<br />
Os europeus mencionados no texto eram os homens medievais<br />
“teocentrizados”, ou seja, fanáticos religiosos que aceitavam a Guerra Santa<br />
como uma ordem de Cristo. Munidos deste espírito religioso, convocados<br />
pelo papa Urbano II, seguiram para Jerusalém com a finalidade de libertar a<br />
Terra Santa das mãos dos infiéis islâmicos.<br />
Como consequência do movimento cruzadista, podemos mencionar: o início<br />
de um processo de enfraquecimento da Igreja Católica, a reabertura do<br />
Mediterrâneo para o comércio, a decadência do sistema feudal, o<br />
renascimento comercial e urbano, dentre outros.<br />
03) Considere os dois extratos de documentos abaixo:<br />
1. Ilustrações publicadas na obra “De humani corporis fabrica”, do<br />
médico belga André Vessálio (1543).<br />
2. “Aconselho-te, meu filho, a que empregues a tua juventude em tirar bom<br />
proveito dos estudos e das virtudes (...) Do direito civil quero que saibas de<br />
cor os belos textos e que mos compare com filosofia. Enquanto ao<br />
conhecimento das coisas da natureza, quero que a isso te entregues<br />
curiosamente (...) depois (...) revisita os livros dos médicos gregos, árabes e<br />
latinos, sem desprezar os talmudistas e cabalistas, e por frequentes<br />
anatomias adquire perfeito conhecimento do outro mundo [o<br />
microcosmos] que é o homem.” (RABELAIS, François. Pantagruel [1532]. In:<br />
FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de <strong>História</strong>. Lisboa: Plátano,<br />
1976, v. 11)<br />
Considerando os documentos acima, além dos conhecimentos sobre o<br />
período, disserte sobre as principais características do Renascimento,<br />
relacionando-as com as transformações sociais em curso na Europa.
(Fonte:<br />
ttp://www.nlm.nih.gov/exhibition/historicalanatomies/vesalius_ho<br />
me.html). A partir das imagens e do texto é possível depreender o<br />
Humanismo, o Racionalismo e o Classicismo. O Mundo da transição<br />
feudo-capitalista, da Idade Média para a Moderna, por conta da<br />
decadência do poder feudal e clerical abriu espaço para novas<br />
mentalidades, que incluíam as características acima citadas. Percebese<br />
um mundo novo, curioso, empírico que se abre aqueles que<br />
buscam na erudição o conhecimento censurado pela chamada “Idade<br />
das Trevas” (termo este que foi utilizado pelos humanistas para<br />
caracterizar a época anterior a eles).<br />
As imagens e o texto nos sugerem a transição de um mundo feudal<br />
(teocêntrico), para um mundo racional (antropocêntrico), onde a<br />
virtude da ciência entra em choque com o transcendental medieval.<br />
Inspirando-se na Antiguidade Clássica, percebemos pelo texto que o<br />
Renascimento é uma mudança de mentalidades onde o homem passa<br />
a ser o centro das atenções e de suas ações, valorizando-se o<br />
naturalismo, racionalismo, classicismo, empirismo, etc.<br />
04) Considere a afirmação do historiador Pedro Paulo Funari:<br />
“A guerra do Peloponeso não deixou de ser, até os nossos dias, uma<br />
narrativa histórica maior. Pode parecer espantoso ver como recorrente um<br />
uso político contemporâneo de um conflito tão distante no tempo e<br />
concernente a uma realidade histórica tão específica quanto a das cidades<br />
gregas. Com efeito, os primeiros a lerem, relerem e a se inspirarem em<br />
Tucídides foram as elites britânicas. Desde os primórdios da Inglaterra<br />
moderna, nascida dos conflitos com o continente, os ingleses abandonaram<br />
todas as pretensões de potência terrestre europeia, em proveito da<br />
conquista dos mares.” (FUNARI, Pedro Paulo. Usos da Guerra do<br />
Peloponeso. Revista Brasileira de <strong>História</strong> Militar. Ano II, n. 4, abril de 2011)
Com qual cidade-Estado os ingleses se identificaram nos relatos de<br />
Tucídides sobre a Guerra do Peloponeso? Justifique sua resposta,<br />
explicando o que foi a Guerra do Peloponeso, no que se refere aos<br />
principais envolvidos, a suas motivações e às consequências para o mundo<br />
grego.<br />
A Inglaterra identifica-se com o imperialismo grego, no que diz respeito ao<br />
domínio comercial marítimo ateniense no século V a.C. Em relação a Guerra<br />
do Peloponeso, identificamos a formação de duas confederações a de Delos<br />
fundada por Atenas e a do Peloponeso fundada por Esparta; o conflito<br />
envolvendo as duas confederações ocorre por rivalidades nos campos<br />
econômico, político e cultural entre outros, pela hegemonia no mundo grego<br />
que ficou enfraquecido com esta guerra fratricida, permitindo Filipe II da<br />
Macedônia dominar a Grécia.<br />
05) Leia o trecho do discurso do presidente da República Bolivariana da<br />
Venezuela, Hugo Chávez, na 60ª assembleia da ONU, em 2005:<br />
“Pois bem, nós lutaremos pela Venezuela, pela integração latino-americana<br />
e pelo mundo. Reafirmamos aqui nesse salão, nossa infinita fé no homem,<br />
hoje sedento de paz e de justiça para sobreviver como espécie. Simón<br />
Bolívar, pai de nossa pátria e guia de nossa revolução, jurou não dar<br />
descanso a seu braço, nem repouso a sua alma, até ver a América livre. Não<br />
demos nós descanso a nossos braços, nem repouso a nossas almas até<br />
salvar a humanidade.” (CHAVEZ, H. apud SOUZA, Maria de Fátima Rufino<br />
de; MARQUES DA SILVA, Maria Zélia. Bolívar, para além das representações<br />
e discursos políticos. Ameríndia. Vol. 5, número 1/2008, p. 3)<br />
Discorra sobre os problemas de implantação do projeto de<br />
desenvolvimento almejado por figuras políticas como Simón Bolívar e San<br />
Martin para as ex-colônias hispânicas no século XIX. Em seguida, explique<br />
por que e de que forma a figura de Bolívar é lembrada e cultuada nos dias<br />
atuais na política latino-americana.<br />
Na América latina Colonial a luta pela independência, no século XIX, tem em<br />
um dos seus pontos centrais o choque de interesses entre Criollos (Nascidos<br />
na América) e Chapetones (Espanhois com todos os direitos). As
independências latino-americanas foram feitas pelas elites criollas onde<br />
destacam-se as figuras de Simon Bolivar e San Martin. Bolivar é considerado<br />
precursor do Panamericanismo, pois buscava a integração dos países latinos<br />
de língua hispânica, porém os interesses locais (latifundiários) não<br />
permitiram esse projeto.<br />
O Presidente da Venezuela Hugo Chaves tenta aproximar sua imagem<br />
pessoal da idealização criada no personagem Bolivar, para associar o seu<br />
governo na luta contra o imperialismo capitalista distorcendo uma situação<br />
histórica.<br />
06) “A descolonização, essa ‘troca de soberania’, não teve como causa<br />
exclusiva a luta dos povos por sua libertação .” (FERRO, Marc. <strong>História</strong> das<br />
colonizações: das conquistas à independência – séculos XIII a XX. SP: Cia das<br />
Letras, 1996, p. 346)<br />
Comente essa frase, dissertando sobre os fatores que influenciaram de<br />
forma geral os movimentos de emancipação nacional das colônias<br />
europeias na Ásia e na África dos anos 1940 a 1970. Em seguida, explique<br />
por que o autor referiu-se à descolonização como “troca de soberania”.<br />
Ao término da Segunda Guerra Mundial, os países europeus desgastados e<br />
praticamente destruídos não poderiam mais manter colônias nos<br />
continentes Africano e Asiático. Internamente, nasciam nesses continentes<br />
movimentos profundamente nacionalistas e interesses locais, conclamando<br />
o povo para a luta contra as metrópoles europeias, como por exemplo<br />
Gandhi, na Índia. A ideia de troca de soberania surge do fato de que os<br />
europeus lutaram durante a Segunda Guerra contra regimes totalitários,<br />
enquanto na Ásia e na África os vencedores da “liberdade” (Inglaterra e<br />
França) adotavam políticas imperialistas e coloniais ajudando a legitimar o<br />
motivo para as independências.<br />
07) No Brasil, os vinte primeiros anos do século XX foram marcados por<br />
uma série de greves em vários setores produtivos nos nascentes centros<br />
urbanos. Disserte sobre as principais reivindicações dos grevistas naquela<br />
época, a importância dos trabalhadores imigrantes no movimento e os<br />
resultados deste movimento social ao final dos anos 1910.
A República Velha, ou República do Café com Leite, dissociou-se totalmente<br />
do social, tornando-se uma grande República Ruralista, comandada pelas<br />
oligarquias latifundiárias (coronelismo). Isso explica a frase de Washington<br />
Luiz que a questão operária ou de greve era caso de polícia, criminalizando<br />
os nascentes trabalhadores das fábricas, muitos deles vindos da imigração e<br />
trazendo na bagagem ideias marxistas e anarquistas, nascendo assim no<br />
Brasil o movimento operário.<br />
08) “Diria o historiador cearense Gustavo Barroso sobre os cangaceiros:<br />
foram heróis e bandidos. Barroso prefere unir os dois adjetivos com a<br />
conjunção ‘e’ do que usar ‘ou’ para excluir uma das opções” (MILLAN,<br />
Polianna. “Heróis ou bandidos?”. Gazeta do Povo. 12/07/2008.<br />
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=78<br />
6236)<br />
Comente a ideia defendida pelo historiador, explicando o contexto<br />
histórico da atuação dos bandos de cangaceiros do final do século XIX até<br />
1940 e explorando as diferentes interpretações conferidas a esses<br />
personagens.<br />
Geralmente, os cangaceiros eram filhos de sertanejos explorados pelo<br />
coronelismo. Maiores exemplos os bandos de Lampião e Corisco, geralmente<br />
atacavam fazendas e grandes comércios, sendo colocados pela lei a margem<br />
da sociedade como “perigosos bandidos”. O uso do termo “banditismo<br />
social” caracteriza na <strong>História</strong> esses movimentos, vistos muitas vezes como<br />
heróis e, ou vilões dependendo do ponto de vista histórico, pois suas ações<br />
eram frutos da exploração latifundiária.<br />
09) “O processo de construção da unidade territorial e da formação do<br />
Estado no Brasil tem que ser visto como fruto de um longo consolidar de<br />
interesses e projetos em disputa, o que nos leva a concordar com Ilmar R.<br />
de Mattos, quando afirmou a impossibilidade de se conceber a<br />
consolidação do Estado brasileiro antes da década de 1840.” (PEREIRA,<br />
Aline Pinto. O Arquivo Nacional e a <strong>História</strong> Lusa-brasileira. Disponível em:
http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.<br />
exe/sys/start.htm?infoid=1440&sid=128)<br />
Discorra sobre os interesses e projetos em disputa que impediram a<br />
consolidação do Estado nacional antes dos anos 1840.<br />
Alguns fatores que impediram a consolidação do processo foram: a<br />
constituição de 1824, que acabava por centralizar a administração nas mãos<br />
do imperador através do poder Moderador, e a influência portuguesa na<br />
política. Revoltas ocorreram nas províncias, motivadas pela excessiva<br />
centralização do poder. Exemplo: Confederação do Equador, pelo descaso<br />
com os gaúchos gerando a Revolução Farroupilha, pela questão cultural com<br />
o desmembramento da província Cisplatina, atual Uruguai, entre outras. A<br />
pacificação veio com o projeto da maioridade de D. Pedro II em 1840,<br />
iniciando a consolidação do estado brasileiro.<br />
10) Observe a charge de Kalixto publicada na revista “O Malho” de 14 de<br />
abril de 1916, retratando o presidente da República Venceslau Brás e o Tio<br />
Sam, símbolo da política externa norte-americana. Na legenda da charge:<br />
“Tio Sam (professor) – Vosmecês não ter nada que mete nariz nos coisas do<br />
Europa! Vosmecês trata somente de cultiva seu força e seu amizade e de<br />
fazer negócios... só comigo!<br />
Venceslau (Presidente da República) – Entenderam? São palavras de velho<br />
muito sabido... Mais ou menos isto: Para evitar ‘entrosgas’, cada um em<br />
sua casa com sua mulher e seus filhos... E, quanto a negócios, a América<br />
para os americanos... do Norte!<br />
Zé Povo – Confere! E agora só falta uma coisa: escolhermos o molho com<br />
que devemos ser comidos...” (Fonte: Revista Nossa <strong>História</strong>, ano 1, n. 3, jan.<br />
2004, p. 88)<br />
Comente o tipo de relação entre Brasil e Estados Unidos referenciada na<br />
charge ao lado e responda: é possível afirmar que ela tenha ocorrido<br />
durante todo o século XX? Justifique sua resposta com dois eventos<br />
históricos que envolvam as relações entre Brasil e Estados Unidos, e<br />
comente a atual relação entre esses dois países.
Sim, durante o século XX historicamente as relações entre Brasil e EUA foram<br />
muito próximas, pois os americanos viam o Brasil como um país satélite, uma<br />
forma de “Imperialismo Sedutor”. Justifica-se pela charge a declaração do<br />
presidente americano James Monroe “A América para os americanos” e<br />
podemos acrescentar o famoso Big Stick americano do início do século XX<br />
que idealiza a frase a “América para os americanos – do Norte”.<br />
Comentário Geral<br />
Prova acessível, contemplando boa parte do conteúdo exigido, privilegiando<br />
aquele aluno que desenvolveu durante o ano a capacidade reflexiva,<br />
interpretativa e de correlação histórica com processos atuais.