02.09.2014 Views

29 BIENAL DE SÃO PAULO - Instituto Moreira Salles - Uol

29 BIENAL DE SÃO PAULO - Instituto Moreira Salles - Uol

29 BIENAL DE SÃO PAULO - Instituto Moreira Salles - Uol

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Algumas considerações sobre<br />

a prática educativa em exposições<br />

Em uma exposição, mais do que estar entre a obra de arte<br />

e o público, o educador deve estar com a obra de arte e<br />

o público. Afinal, o educador não é um transformador de<br />

linguagens, um tradutor de imagens cuja função seria<br />

explicar as obras aos visitantes, mas alguém que pode<br />

estimular uma possível experiência 1 a partir do contato do<br />

visitante com a obra. A diferença das preposições “entre”<br />

e “com” está no lugar que cada uma designa ao educador.<br />

Quando o imaginamos entre a obra e o visitante, pensamos<br />

num caminho de mão única em que o relacionamento<br />

do público com a obra é necessariamente mediado pelo<br />

educador. Mas quando o vemos como um terceiro elemento<br />

dessa relação, os caminhos se multiplicam e os movimentos<br />

ocorrem em variados sentidos e direções. É como se esse<br />

relacionamento se estabelecesse num formato de rede,<br />

cujas conexões partem de todos os envolvidos.<br />

A possibilidade de o visitante ter ou não uma experiência<br />

com uma obra depende de muitos fatores que nem<br />

sempre o educador pode controlar ou atingir por meio<br />

de suas ações. São questões extremamente pessoais<br />

ou fortuitas: o gosto individual, o humor do momento, a<br />

vontade de estar naquele lugar naquela hora... Além disso,<br />

o educador não pode fazer com que o visitante tenha uma<br />

experiência. Ele só pode tentar propiciar essa experiência,<br />

criar uma atmosfera estimulante para que ela aconteça, se<br />

não naquele instante, em outro momento.<br />

Cada pessoa se relaciona de um modo diferente<br />

com uma obra ou exposição, pois cada um é afetado de<br />

maneira distinta, de acordo com os seus conhecimentos,<br />

referências, personalidade e história de vida. As propostas<br />

do educador são determinantes, porque ajudam o visitante<br />

a construir pontes entre aquilo que ele está vendo (a obra)<br />

e suas referências pessoais, e podem também ensejar<br />

experiências para o próprio educador, já que este lida com<br />

as múltiplas percepções, reflexões e abordagens do público,<br />

as quais são capazes de despertar nele novos sentimentos<br />

em relação a uma obra ou mesmo modificar suas concepções<br />

sobre ela. Por isso, é importante que o educador tenha<br />

uma formação sólida e contínua, já que ele precisa estar<br />

atualizado e sintonizado com o público para estabelecer<br />

amarrações em diferentes contextos sobre o conteúdo<br />

exposto. Isso permitirá que a visita seja não apenas informativa<br />

e discursiva, como um texto pronto a ser reproduzido,<br />

mas aberta e reflexiva.<br />

Uma visita é um ato criativo do educador, e o ideal é<br />

que ela possa ser um ato criativo também para o visitante.<br />

Criar espaços e situações para a interação do público com<br />

a obra permite que haja autonomia nessa relação e deve<br />

ser parte daquilo que se busca em uma visita educativa.<br />

Demonstrar ao visitante que ele pode ser autônomo é<br />

ampliar suas perspectivas de vivência em exposições. É<br />

diferente ver um trabalho com e sem um educador, e se o<br />

visitante perceber essa diferença e se der conta de que o<br />

educador e suas propostas não são imprescindíveis para<br />

que ele se relacione com os objetos expostos, talvez retorne<br />

a essa ou outras exposições com um novo olhar sobre o seu<br />

próprio papel enquanto espectador. Ao escutar e valorizar<br />

a fala do visitante, o educador o estimula a se aproximar<br />

da obra por si só, sem que tenha de ser conduzido por ele.<br />

Além disso, abrem-se novos horizontes para o educador<br />

durante a visita, que podem representar uma resposta a<br />

essa ação compartilhada entre ele, o público e a obra.<br />

É necessário planejar as visitas, levando em consideração<br />

o perfil do grupo e suas expectativas, assim como os<br />

objetivos do educador. Mas é importante também encaminhá-las<br />

de acordo com os interesses e o envolvimento<br />

de ambos, percebidos no ato da visita, o que conferirá<br />

organicidade ao encontro. Em outras palavras, é interessante<br />

desenvolver uma estrutura-base para as visitas,<br />

mas somente uma postura flexível permitirá atender às<br />

especificidades de cada grupo. Para a criação de propostas<br />

educativas, é importante pensar sobre o que seria desafiador<br />

o suficiente para instigar a curiosidade dos visitantes e<br />

sua vontade de investigar o objeto observado. Apreciar uma<br />

exposição, um conjunto de obras ou apenas um trabalho<br />

é ativar, aguçar e ampliar nossos repertórios. Entender,<br />

estimular, nomear, compartilhar e estabelecer múltiplas<br />

relações são algumas das diversas formas de interagir<br />

com o espaço expositivo e com as obras nele presentes. É<br />

possível realizar atividades orais, com exercícios de leitura;<br />

lúdicas, com jogos e brincadeiras; ou atividades criativas,<br />

de construção poética. O importante é que a atividade seja<br />

sempre uma proposição e que não traga respostas prontas,<br />

mas permita que elas sejam construídas em conjunto ao<br />

longo do processo, para fazer com que o grupo as perceba<br />

como múltiplas e não únicas.<br />

A reflexão e a investigação propostas aos visitantes são<br />

também essenciais à prática do educador, seja em seu contato<br />

com as obras, seja ao desenvolver atividades e ferramentas<br />

para interagir com o público. Alguns questionamentos,<br />

como os sugeridos a seguir, podem ser úteis nesse momento,<br />

mas cada educador possui suas próprias inquietações e<br />

interesses, que enriquecem e norteiam seu modo de trabalhar,<br />

e é importante que ele tenha em vista esses aspectos<br />

para a formulação de questões que sejam relevantes para si e<br />

que dialoguem com suas ações e intenções.<br />

Em encontro para professores,<br />

atividade de desenho de observação<br />

da paisagem feita em acetato<br />

através da janela do ônibus, 2008<br />

Foto: Equipe educativo IMS<br />

Coleção: Acervo educativo IMS<br />

10 11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!