04.10.2014 Views

Nov/Dez - Câmara Municipal de Setúbal

Nov/Dez - Câmara Municipal de Setúbal

Nov/Dez - Câmara Municipal de Setúbal

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

As Fronteiras da Vida<br />

Guia | <strong>Nov</strong>embro • <strong>Dez</strong>embro 2012 ANáLISE LETraS<br />

34<br />

Harold Pinter foi prémio Nobel da Literatura<br />

em 2005. Doente, enviou à Aca<strong>de</strong>mia<br />

Sueca um discurso ví<strong>de</strong>o gravado,<br />

que ficou célebre e correu mundo<br />

pelo tom amargo com que olhava a<br />

socieda<strong>de</strong> contemporânea e criticava<br />

com veemência Blair e Bush, as suas<br />

iníquas políticas, a sua hipocrisia. Tratava-os<br />

como dois farsantes facínoras sem<br />

escrúpulos. Um discurso em linha com<br />

o activismo político que sempre pautou<br />

a sua vida.<br />

Pinter foi actor, encenador, poeta e<br />

é um dos gran<strong>de</strong>s dramaturgos do século<br />

XX. Um dos gran<strong>de</strong>s renovadores<br />

da linguagem teatral. Para a comunida<strong>de</strong><br />

literária, a atribuição do Nobel a<br />

Pinter foi tardia. O seu talento <strong>de</strong> dramaturgo<br />

já <strong>de</strong>veria ter sido reconhecido<br />

muito anos antes e não quando<br />

o escritor lutava para sobreviver a doença<br />

grave.<br />

“Os Anões” é o seu único romance. Escrito<br />

nos anos 50, andou pelas gavetas<br />

do escritor, que, <strong>de</strong> quando em quando,<br />

o recolhia para cortar, reescrever,<br />

<strong>de</strong>cidir-se a publicar. Ao lê-lo, as dúvidas<br />

<strong>de</strong> Pinter ficam claras. Quase não<br />

existe narrativa. Os diálogos ocupam<br />

quase todo o texto. Neles se <strong>de</strong>screve<br />

as vidas <strong>de</strong> quatro jovens londrinos na<br />

Inglaterra do pós-guerra. Invadindo a<br />

amiza<strong>de</strong> que une esses três rapazes e<br />

uma rapariga, Pinter <strong>de</strong>staca como as<br />

suas vidas vulgares são moldadas pelas<br />

limitações e fronteiras da sexualida<strong>de</strong><br />

e da moralida<strong>de</strong>, ao mesmo tempo que<br />

põe a nu as profundas verda<strong>de</strong>s existentes<br />

em acontecimentos do quotidiano.<br />

Descobre-se o precipício sob a<br />

conversa fútil do dia-a-dia fechado nas<br />

salas fechadas da opressão.<br />

O autor queria que o livro fosse uma<br />

avalanche que nos alertasse para os riscos<br />

e os constrangimentos que diariamente<br />

cercam as nossas vidas. O texto<br />

é algo alucinatório e ameaça sempre<br />

tornar-se numa peça <strong>de</strong> teatro.<br />

“Os Anões” é um romance divertido,<br />

com o peculiar sentido <strong>de</strong> humor britânico.<br />

Um romance vivo e perturbante.<br />

Manuel Augusto Araújo<br />

Membro do Conselho <strong>de</strong> Redação da “Vértice”<br />

Os Anões<br />

Harold Pinter<br />

Editora: Dom Quixote<br />

Tradução: José Lima<br />

Capa: Atelier Henrique Cayatte<br />

1.ª edição: junho 2006<br />

1.ª edição original: 1990<br />

241 páginas<br />

texto escrito com as regras anteriores<br />

ao novo acordo ortográfico

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!