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Oralidade e Prática de Ensino entre os Professores Hupd'äh da ...

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Po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> perceber semelhantes situações <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Hupd'äh. No processo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong><br />

conheciment<strong>os</strong> <strong>entre</strong> <strong>os</strong> indígenas <strong>de</strong>sta região não n<strong>os</strong> parece ser diferente, sempre haverão <strong>de</strong><br />

existir pessoas com essas especiali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ou melhor, pessoas com esse papel <strong>de</strong> assumir a tarefa <strong>de</strong><br />

transmitir o conhecimento, por exemplo, do seu grupo social ao novo membro que não conhece<br />

ain<strong>da</strong> a história do povo <strong>da</strong> qual faz parte. Tendo a memória e as narrativas <strong>da</strong> memória como<br />

central no processo narrativo (LE GOFF, 1996), o sucesso <strong>da</strong> aprendizagem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>ssas<br />

pessoas. A mesma situação é percebi<strong>da</strong> <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Hupd'äh on<strong>de</strong>, <strong>os</strong> responsáveis pela transmissão d<strong>os</strong><br />

conheciment<strong>os</strong> <strong>de</strong> element<strong>os</strong> essenciais <strong>da</strong> cultura são principalmente <strong>os</strong> pais e <strong>os</strong> avôs - as mães<br />

não tanto, em regra geral, por serem provenientes <strong>de</strong> outro clã, e por motivo <strong>da</strong> regras <strong>de</strong> casamento<br />

e <strong>da</strong> organização patrilinear. Os saberes vinculad<strong>os</strong> às tradições <strong>de</strong>ste povo são mantid<strong>os</strong> hoje na<br />

memória d<strong>os</strong> mais velh<strong>os</strong> que se preocupam em transmitir a<strong>os</strong> mais nov<strong>os</strong>, trocam conheciment<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> cultura que ain<strong>da</strong> p<strong>os</strong>suem <strong>entre</strong> <strong>os</strong> parentes mais próxim<strong>os</strong>, por perceberem que são cruciais<br />

para manter a dinâmica <strong>da</strong> estrutura organizacional, o que no passado, foi colocado como um<br />

impecílio na escolarização ofereci<strong>da</strong> missionári<strong>os</strong>, como testemunham Filinto Sabana (1997) e<br />

Garcia (2000).<br />

Nesse trabalho, faço paralel<strong>os</strong> com a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Florestan Fernan<strong>de</strong>s (1976) em seu estudo<br />

sobre <strong>os</strong> Tupinambá, em uma organização “tradicionalista”, “ritualiza<strong>da</strong>” e “fecha<strong>da</strong>”, afirma o<br />

autor, que é importante consi<strong>de</strong>rar o que representa estrutura presentes na or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> organização<br />

social. Nesse sentido, compreen<strong>de</strong>-se a importância d<strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong> sobre a tradição do povo<br />

para reproduzir a sua estrutura organiza<strong>da</strong>, e para isso, <strong>os</strong> Tupinambá <strong>de</strong>senvolveram, conforme este<br />

autor, “mecanism<strong>os</strong> psic<strong>os</strong>sociais e socioculturais que asseguram a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> herança social<br />

através <strong>da</strong> estabilização do padrão <strong>de</strong> equilíbrio dinâmico do sistema societário” (FERNANDES<br />

1976:63). Como assinala Ivo Fontoura (2006:78) <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Talyáseri, que vivem na na mesma região,<br />

e participam <strong>de</strong> um mesmo conjunto cultural que <strong>os</strong> Hupd'äh, o conhecimento d<strong>os</strong> valores <strong>de</strong> sua<br />

cultura está muito próxima a estrutura social organiza<strong>da</strong> do mo<strong>de</strong>lo hierárquico próprio, como<br />

atualmente é percebi<strong>da</strong> em suas narrativas, on<strong>de</strong> <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> a emergirem para este mundo se<br />

encontram na hierarquia mais alta, isto é, se consi<strong>de</strong>ram “irmã<strong>os</strong> maiores” com relação a<strong>os</strong> seus<br />

precursores.<br />

Assim, um d<strong>os</strong> fatores que proporciona a adoção <strong>de</strong> formas específicas no processo<br />

ensino/aprendizagem, tem a ver com a organização social <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> povo, porque p<strong>os</strong>sibilita a<br />

continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e a reprodução cultural em qualquer socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que seja, como esta que o autor<br />

estudou. Neste aspecto, acredita-se importante colocar em evidência as questões aponta<strong>da</strong>s. O<br />

significado do exemplo, nas práticas <strong>de</strong> ensino, foi uma <strong>da</strong>s formas que <strong>os</strong> Tupinambá (ou em<br />

outras socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s indígenas) encontraram para transmitir a sua cultura a<strong>os</strong> nov<strong>os</strong> membr<strong>os</strong>, uma vez<br />

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