DESTAQUE LEILÃO 86 Um leilão para a história Moedas preciosas e raras, uma colecção de numismática que estava entre as mais importantes de Portugal, testemunhos da portugalidade, expectativa, interesse de investidores nacionais e estrangeiros e muita atenção dos media. Foi assim o último leilão da Numisma de 2010, que apresentou um conjunto inesquecível de 20 moedas únicas ou das quais se conhecem poucos exemplares. Intitulado “Importante colecção de moedas de ouro de Portugal e do Brasil – colecção Dr. Elmano Costa”, levou à praça 534 lotes, todos pertencentes à colecção, considerada uma das 10 melhores de Portugal. O grande destaque foi o lote 56, uma moeda de ouro de 500 Reais, de D. Filipe I (1580- 1598), não só pelo facto de ser o único exemplar conhecido até hoje mas também pela “estrondosa” valorização: passou de um preçobase de 90.000 euros para 132.500. Uma marca histórica e que simboliza a alta qualidade da moeda e o interesse que despertou entre os investidores e coleccionadores. Esta era a moeda mais rara do leilão e estava na colecção há cerca de 25 anos. Não temos a certeza se será a que foi vendida em Paris, em Outubro de 1875, ano em que foi à praça a colecção Regnault. O catálogo desse leilão, com moedas inglesas, espanholas, portuguesas e americanas, está hoje conservado no Cabinet des Monnaies da capital francesa. O comprador da moeda tê-la-á oferecido a uma enfermeira espanhola, que o acompanhou e tratou até ao fim da vida. Chegou a Portugal através de um comerciante que a comprou a essa enfermeira ou a alguém da família da mesma. Mas se a moeda de 500 Reais foi a cereja no topo do bolo, o leilão ficou marcado por outros momentos altos, com moedas que duplicaram o valor do seu preço-base – como foi o caso da Peça 1777 B, de D. Maria I e D. Pedro II (1777-1786), que passou de 20.000 para 40.000 euros. A segunda moeda mais valiosa da noite foi um Justo, de D. João II (1481-1495), vendida por 100.000 euros. Este leilão foi um momento único na história da numismática portuguesa pois tratou-se de uma das poucas oportunidades para adquirir moedas portuguesas raríssimas – uma situação que, provavelmente, só deverá repetir-se daqui a algumas décadas. Foi, pois, a raridade e também o facto de serem cunhadas em ouro, um metal que tem vindo a valorizar-se todos os dias nos mercados financeiros, que fizeram destas moedas um excelente investimento financeiro. A colecção foi iniciada por Elmano Costa pai que, principalmente a seguir ao 25 de Abril e porque tinha mais tempo livre, lhe deu um forte impulso. Na década de 80 do século passado, o seu filho, Elmano Lerma de Sousa Costa, médico-cirurgião, entusiasmouse pela numismática. Foi graças a ela que, em 1986, se formou um grupo de amigos, que fundaram uma tertúlia, fomentaram o conhecimento, organizaram viagens onde os portugueses foram dominadores e foram a muitos leilões. Elmano Costa recorda-se ainda do primeiro leilão de moedas a que assistiu: na Suíça, onde foi vendida a colecção Abecassis. 6 ABRIL 2011
CARAS&LEILÕES Dr. Manuel Alfredo de Mello folheando o livro «20 Anos – NUMISMA LEILÕES» (em cima) Irlei Soares das Neves fazendo uso da sua expressão habitual: «Tudo joia?...» (à esquerda) Uma visão da sala onde se realizou o leilão da colecção Dr. Elmano Costa que contou com a presença do ilustre historiador Rainer Daehnhardt NUMISMA CARAS & LEILÕES 7