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Artigo 22 em pdf - Faculdade de Psicologia e de Ciências da ...

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algoritmos incorpora<strong>da</strong>s nos tel<strong>em</strong>óveis. Tendo as calculadoras substituído as operações<br />

manuais e a aplicação <strong>da</strong> tabua<strong>da</strong>, não há oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para um treino periódico, n<strong>em</strong> para<br />

a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>. A surpresa por um <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho tão baixo po<strong>de</strong> muito b<strong>em</strong><br />

confinar-se a uma perturbação geracional.<br />

A nível cultural, há alguns valores antagónicos. Uns serão o resultado do reduzido número<br />

<strong>de</strong> cientistas e a sua visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública <strong>em</strong> comparação com os agentes <strong>da</strong> cultura literária<br />

e artística; outras resultam <strong>da</strong> mensag<strong>em</strong> enviesado <strong>de</strong> alguns programas televisivos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> audiência, como “Qu<strong>em</strong> quer ser milionário”. Por que é que não se inclu<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

programas <strong>de</strong>ste tipo, por ex<strong>em</strong>plo, questões <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática (ou <strong>de</strong> ciências) mais simples<br />

ou mais complexas, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> perguntas sobretudo <strong>de</strong> literatura, geografia, televisão ou<br />

<strong>de</strong>sporto, algumas <strong>de</strong>las <strong>de</strong> uma parolice confrangedora? Será que os profissionais dos<br />

meios <strong>de</strong> comunicação social, ou as direcções que os administram, ignoram ou fog<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />

cultura científica? É curioso que sendo Portugal às vezes <strong>de</strong>signado <strong>de</strong>preciativamente<br />

como um país <strong>de</strong> poetas, um dos nossos maiores poetas tenha afirmado: “O binómio <strong>de</strong><br />

Newton é tão belo como a Vénus <strong>de</strong> Milo. / O que há é pouca gente para <strong>da</strong>r por isso.”<br />

Fernando Pessoa, Poesias <strong>de</strong> Álvaro <strong>de</strong> Campos, 15-1-1928.<br />

Por último, a nível pe<strong>da</strong>gógico e educativo há também uma falha e não vale a pena ficar<br />

espantado com este tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho escolar. Des<strong>em</strong>penhos <strong>de</strong>ste tipo são o resultado do<br />

sist<strong>em</strong>a escolar <strong>de</strong> avaliação. Estou convencido que as tarefas <strong>de</strong>ste questionário são<br />

simples e que os alunos universitários as consegu<strong>em</strong> realizar a um nível <strong>de</strong> 100%. Se<br />

algumas tarefas <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong> básica, como já acontece indirectamente com o saber ler e<br />

escrever, assim como gran<strong>de</strong>s t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional constass<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma lista cuja<br />

recor<strong>da</strong>ção perfeita fosse exigi<strong>da</strong> no acesso aos graus escolares superiores <strong>em</strong> exames<br />

nacionais, os alunos fariam o esforço necessário para obter um <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho perfeito,<br />

ultrapassando ao longo do percurso escolar aqueles que não se dispusess<strong>em</strong> a fazê-lo. Não<br />

havendo lista <strong>de</strong> conteúdos escolares básicos à prova <strong>de</strong> ignorância, n<strong>em</strong> questões<br />

eliminatórias <strong>em</strong> exames nacionais, resultados <strong>de</strong>ste tipo continuarão a verificar-se <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>pos a t<strong>em</strong>pos não só <strong>em</strong> jovens estu<strong>da</strong>ntes universitários, mas também <strong>em</strong> professores<br />

catedráticos e políticos profissionais quando confrontados subitamente com perguntas<br />

astuciosas feitas por jornalistas.<br />

Deste modo é preciso l<strong>em</strong>brar aos pe<strong>da</strong>gogos, professores e todos aqueles que têm<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> política educativa que não pod<strong>em</strong> ignorar algumas contribuições<br />

básicas <strong>da</strong> psicologia cognitiva, <strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória e <strong>da</strong>s ciências do cérebro sobre a<br />

consoli<strong>da</strong>ção do conhecimento escolar e o seu acesso posterior (e.g., Pinto, 1998; Pinto,<br />

2001; S<strong>em</strong>b e Ellis, 1994). Defen<strong>de</strong>r e propagar que a aprendizag<strong>em</strong> consiste na <strong>de</strong>scoberta<br />

significativa e na interiorização e assimilação dos conhecimentos, esquecendo os<br />

mecanismos <strong>de</strong> funcionamento <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória e do esquecimento, é afirmar apenas uma meia<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Estou convencido que os alunos <strong>da</strong> amostra que erraram nestas questões <strong>de</strong><br />

escolari<strong>da</strong><strong>de</strong> básica foram capazes <strong>de</strong> “interiorizar e assimilar estes conhecimentos” no<br />

período escolar <strong>em</strong> que foram aprendidos. Então porque esqueceram e têm agora um mau<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho? Pela simples razão <strong>de</strong> que qualquer aprendizag<strong>em</strong>, mesmo perfeita no<br />

momento actual, não se mantém perfeita no futuro.<br />

Encerrado o capítulo do exame e <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> “aprendizag<strong>em</strong> interioriza<strong>da</strong> e<br />

significativa” no final do respectivo ano escolar, e não havendo situações quotidianas,<br />

momentos culturais e actos avaliativos no sist<strong>em</strong>a escolar nos anos seguintes que permitam<br />

reactivar, consoli<strong>da</strong>r ou avaliar este tipo <strong>de</strong> aprendizagens básicas, acontece que as leis do

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