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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Erwin Theodor<br />

também, sofrer e subir. Em italiano, contudo, salire significa “subir” e subire significa<br />

“sofrer”, tal como em francês (subir).<br />

Outro termo <strong>de</strong> interesse é fracasso (el fracaso, esp.). Recebemos a palavra do<br />

italiano, on<strong>de</strong> “fracassare” significava “arrebentar” e “il fracasso” era “o estrondo”,<br />

“o barulho”.<br />

Também os franceses receberam a palavra do italiano, e no sentido primitivo:<br />

fracasser, le fracas (“il fracassa les plats”) correspon<strong>de</strong> a “lui fracassò i piatti”,<br />

significando “quebrou os pratos”, “estrelló los platos”, “he smashed the dishes”.<br />

“Barulho” e “estrondo” passaram a ser em espanhol e português, no século<br />

XVI, o estrondo da <strong>de</strong>rrota, o fragor da batalha perdida, o que leva à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

traduzir-se a palavra, ao partir do português ou espanhol, para “the failure”,<br />

“l’échec” e “il fiasco”.<br />

O verbo latino sentire transmite, conforme é sabido, as funções dos sentidos.<br />

Em francês significa principalmente cheirar e transmitir um cheiro: “tu sens<br />

bon”, “that’s a won<strong>de</strong>rful scent”. Em italiano significa principalmente ouvir,<br />

tendo superado há muito o uso <strong>de</strong> “udire”: “non ho sentito niente” = “je n’ai<br />

rien entendu”; o português e o espanhol, entretanto, utilizam-se <strong>de</strong> sentire para<br />

indicar compaixão, uso estranho às <strong>de</strong>mais línguas aqui consi<strong>de</strong>radas: “sinto<br />

muito”, “lo siento mucho” = “I’m so sorry”, “je suis désolé”, “mi spiace moltissimo”,<br />

“es tut mir so leid”.<br />

Em latim, morbus equivale a “doença” e originou dois adjetivos: “morbidus”<br />

e “morbosus”. Em italiano, “morbido” significava “doentio”, mas só até a<br />

época da Renascença. A partir <strong>de</strong> então, a aparência doentia veio a revestir-se<br />

<strong>de</strong> matizes especiais e, por extensão, passou a significar “fraco”, “suave”,<br />

“fino”, “acolhedor”, basta lembrar, <strong>de</strong> data muito mais recente, os principais<br />

papéis femininos nas óperas, La Bohème,ouLa Traviata, exemplos <strong>de</strong> la morbi<strong>de</strong>zza,<br />

a representar suavida<strong>de</strong> e elegância, <strong>de</strong> que hoje morbido é qualificativo: capelli<br />

morbidi, la voce morbida. A acepção “doentio” é hoje i<strong>de</strong>ntificada com morboso:<br />

“terrore morboso”, “a morbid fright”, medo mórbido. E, para terminar, algumas<br />

observações acerca <strong>de</strong> finis, em latim “o limite supremo”, complementado<br />

pelo baixo-latim finalis, a “finalida<strong>de</strong>”, termo vulgarizado no século XIX, épo-<br />

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