Olga Rodrigues de Moraes von Simson - Itaú Cultural
Olga Rodrigues de Moraes von Simson - Itaú Cultural
Olga Rodrigues de Moraes von Simson - Itaú Cultural
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
a diversida<strong>de</strong>, ela não analisa as diferenças observáveis apenas,<br />
mas atribui a essa noção um lugar específico na explicação dos<br />
fatos. A antropologia tem como princípio metodológico a asserção<br />
<strong>de</strong> que a diversida<strong>de</strong> não existe em si mesma, como um dado real:<br />
para ela, diferença é uma categoria social e relacional que se<br />
constrói com base em experiências que se <strong>de</strong>frontam, cabendo ao<br />
antropólogo o esforço <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineá-las a partir <strong>de</strong> seu ponto <strong>de</strong><br />
vista teórico. Para essa disciplina, ser diferente pressupõe o autoreconhecimento<br />
e o reconhecimento social como tal. A dimensão<br />
da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (individual ou coletiva) inclui sempre, portanto, a<br />
da alterida<strong>de</strong>. É isso o que <strong>de</strong>fine a bidimensionalida<strong>de</strong> das<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s: o “ser igual, mas <strong>de</strong> outro jeito”, percebendo-se<br />
semelhante aos outros e, ao mesmo tempo, afirmando a própria<br />
diferença enquanto indivíduo ou grupo. Des<strong>de</strong> o século passado<br />
tem havido um enorme esforço da antropologia em <strong>de</strong>monstrar a<br />
unida<strong>de</strong> humana, estudando e comparando culturas e provando<br />
que as diferenças são formas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação estrutural que<br />
correspon<strong>de</strong>m a compreensões, formulações e soluções distintas<br />
<strong>de</strong> questões e <strong>de</strong> problemas semelhantes. No estudo comparativo<br />
das culturas, o problema principal tem sido o <strong>de</strong> elaborar categorias<br />
suficientemente amplas para ser aplicadas a todas as culturas que<br />
se estuda e, ao mesmo tempo, suficientemente específicas para<br />
diferenciá-las ou assinalar similarida<strong>de</strong>s que sejam mais que<br />
“aproximações”. Esse problema <strong>de</strong>u origem a duas posições sobre<br />
a interpretação da “natureza” da cultura: a que sustentava a<br />
relativida<strong>de</strong> das culturas e a que sustentava a universalida<strong>de</strong> das<br />
mesmas. Os relativistas extremados negavam que se pu<strong>de</strong>ssem<br />
elaborar categorias ou proposições que fossem ao mesmo tempo<br />
exatas e universais porque sustentavam que cada cultura era única<br />
e, portanto, <strong>de</strong>via ser analisada mediante suas próprias categorias.<br />
Segundo Franz Boas 1 , cada cultura é única porque é produto em<br />
parte da casualida<strong>de</strong> e em parte <strong>de</strong> circunstâncias históricas<br />
irrepetíveis. Boas também enfatizou a in<strong>de</strong>pendência dos<br />
fenômenos culturais com relação às condições geográficas e aos<br />
1<br />
BOAS, Franz. Race, language and culture.<br />
New York: The Free Press, 1940 [1936].<br />
55