03.11.2014 Views

I. O mito de Portugal nas suas raízes culturais - Acidi

I. O mito de Portugal nas suas raízes culturais - Acidi

I. O mito de Portugal nas suas raízes culturais - Acidi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

I O MITO DE PORTUGAL NAS SUAS RAÍZES CULTURAIS<br />

gando a Luís António Verney. Diagnosticam, no contexto sócio-político que<br />

é o <strong>de</strong>les, os males da alma e da pátria portugueses. O valor que lhes é dado<br />

reconhecer, como, em particular, para a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência <strong>de</strong> Verney à<br />

Geração <strong>de</strong> 70, advém da preocupação vital que <strong>de</strong>senham, <strong>de</strong> promover ou<br />

interferir na autognose dos Portugueses, sobre a qual já falei acima, embora<br />

os resultados possam vir a ser bem diferentes do proposto, como no caso <strong>de</strong><br />

José Gil.<br />

É necessário ver que esta tradição, se a não quisermos confinar aos arraiais<br />

do pessimismo, impregna-se <strong>de</strong> geopolítica, <strong>de</strong> geossociologia e <strong>de</strong> geocultura,<br />

enquanto motivações maiores do pensamento que é nela agente e que<br />

anuncia aquelas áreas como campos estratégicos <strong>de</strong> solução para as realida<strong>de</strong>s<br />

epocais e mentais do <strong>Portugal</strong> político, económico, social e cultural.<br />

À sintomatologia dos estados <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, como campo hermenêutico da<br />

história pátria, suce<strong>de</strong>-se, não raro, a convicção <strong>de</strong> que a história é pedagogia<br />

– como no exemplo <strong>de</strong> António Sérgio –, «um instrumento <strong>de</strong> educação hu -<br />

manista» 43 capaz <strong>de</strong> «forjar espíritos construtores do Futuro» 44 , embora para<br />

esta linha, e <strong>nas</strong> opções dos autores, o futuro não possua a carga mítica com<br />

que o interpretam as correntes que lhe são contrárias, cuja génese se <strong>de</strong>ve<br />

pro curar no cadinho <strong>de</strong> insatisfações intelectuais das gerações dos finais do<br />

século XIX e princípios do século XX (<strong>de</strong> Sampaio Bruno à Re<strong>nas</strong>cença Por -<br />

tu guesa), que não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> propor soluções estratégicas para o País <strong>nas</strong><br />

áreas indicadas, contudo não <strong>de</strong>negam a pai<strong>de</strong>ia do <strong>mito</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> e a sua<br />

carga imagética propulsora <strong>de</strong> acção.<br />

Deve-se a Antero <strong>de</strong> Quental o ter afirmado que certa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência se<br />

en contra profetizada por Camões, em Os Lusíadas: «Era o futuro velado e<br />

lutuoso que o poeta entrevia num <strong>de</strong>slumbramento profético.» 45 A afirmação<br />

é <strong>de</strong> 1872, mas enraíza no texto das Causas da Decadência dos Povos<br />

Peninsulares nos últimos três séculos, escrito sensivelmente um ano antes da -<br />

queloutro e lido na tribuna que então se formara: as Conferências De mo -<br />

cráticas do Casino lisbonense, que tiveram lugar na Primavera <strong>de</strong> 1871, e<br />

que tinham por objectivo agitar o meio intelectual da capital, abrindo um<br />

espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate e <strong>de</strong> reflexão sobre a vida portuguesa nos seus múltiplos<br />

aspectos 46 .<br />

A conferência <strong>de</strong> Antero, que aponta no Catolicismo tri<strong>de</strong>ntino, no Abso lu -<br />

tismo e <strong>nas</strong> Conquistas as gran<strong>de</strong>s causas da <strong>de</strong>cadência da Península, cons-<br />

36

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!