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I. O mito de Portugal nas suas raízes culturais - Acidi

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I O MITO DE PORTUGAL NAS SUAS RAÍZES CULTURAIS<br />

No que ao primeiro problema diz respeito, o <strong>mito</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, compreendido<br />

na sua substância <strong>de</strong> encarnação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais colectivos, tem conteúdo histórico<br />

e existencial, por nele se exprimirem, por forma contínua e variada, os<br />

sentimentos, as paixões e as aspirações <strong>de</strong> um povo, a par das <strong>suas</strong> narráveis<br />

acção, visão, compreensão e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação do mundo. Como<br />

fenómeno cultural, o <strong>mito</strong> conserva, ou melhor, coinci<strong>de</strong> com os i<strong>de</strong>ais da<br />

na cionalida<strong>de</strong>, do ser português na origem para a sua vocação tardia: <strong>nas</strong>ce<br />

com a consciência do povo português, corporiza-lhe o sentimento terrantês,<br />

ou matricial, e a emoção colectiva da pertença pátria, insinua a união da<br />

gesta com a esperança e a promessa, mas também a contradição da vida gloriosa<br />

com os páramos árduos da <strong>de</strong>cadência.<br />

O <strong>mito</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, tal como aqui o interpreto, constitui um sistema <strong>de</strong><br />

representações vitais, uma organização <strong>de</strong> valores mentais, afectivos, gnosiológicos,<br />

éticos e espirituais que se foi formando sob o efeito das injunções da<br />

história e ao longo das circunstâncias dos Portugueses na história, que se<br />

confun<strong>de</strong> com a i<strong>de</strong>ia da nacionalida<strong>de</strong> e sua permanência no tempo. Daí a<br />

resposta ao segundo problema. O núcleo vivo do <strong>mito</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> está na<br />

permanente abertura <strong>de</strong> si à hermenêutica das gerações, e à sua epifania<br />

<strong>de</strong>ve regressar continuamente o português, a braços com a sua própria<br />

imagem e <strong>nas</strong> crises <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional.<br />

2. História concisa do <strong>mito</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong><br />

«Os <strong>mito</strong>s históricos são uma forma <strong>de</strong> consciência fantasmagórica<br />

com que um povo <strong>de</strong>fine a sua posição e a sua vonta<strong>de</strong> na história do mundo.»<br />

ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA 3<br />

Para <strong>de</strong>finir o <strong>mito</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> basta tão-só a História <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, pelo que<br />

ele é extensivo no espaço e intensivo no tempo. Extensivo, por não coincidir<br />

com a geografia do cantão peninsular, seja embora este a terra da formação<br />

do <strong>mito</strong> e da sua gestação, antes tendo por fronteiras os limites físicos<br />

do próprio mundo. Intensivo, porque ao longo das aportações históricas<br />

que foi recebendo do imaginário português, o tempo cronológico, que<br />

marca o ciclo das culturas e das civilizações, foi sendo progressivamente substituído<br />

pelo tempo do espírito, pelo qual se concebem os possíveis e o<br />

futuro.<br />

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