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I. O mito de Portugal nas suas raízes culturais - Acidi

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I O MITO DE PORTUGAL NAS SUAS RAÍZES CULTURAIS<br />

fé e <strong>de</strong> crença que <strong>Portugal</strong> se há <strong>de</strong> cumprir, como recorda noutra parte: «É<br />

lenha só a Realida<strong>de</strong>: / A fé é a chama.» 66 Visiona-se o regresso do Encober -<br />

to, «um novo verbo oci<strong>de</strong>ntal / Encarnado em heroísmo e glória», que virá,<br />

para lá <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>smentidos, «Precursor do que não sabemos, / Passado<br />

<strong>de</strong> um futuro a abrir» 67 .<br />

A releitura do <strong>mito</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> em Mensagem, expressa no seu misticismo<br />

sim bolista, representa a mais alta manifestação do sebastianismo português<br />

e a altura maximamente subjectiva a que a visão sebástica da História <strong>de</strong><br />

<strong>Portugal</strong> foi capaz <strong>de</strong> elevar-se. Para ela reflui todo o passado profético, antes<br />

<strong>de</strong> Ourique e <strong>de</strong>pois do Bandarra, consubstanciando-se na visão do poeta-<br />

-profeta Fernando Pessoa, que sente, ressente e experiencia os trabalhos e os<br />

dias, as alegrias e as dores que o<br />

Im pério a <strong>Portugal</strong> custou, Portu -<br />

gal que cruzou os mares, mar português<br />

por sofrimento e lágrima<br />

chorada. Pessoa foi intérprete da<br />

história nacional, do seu passado<br />

como do seu <strong>de</strong>stino, da sua<br />

glória e do futuro embrumado.<br />

O drama do povo tenaz e he róico,<br />

que rivaliza com os semi<strong>de</strong>uses da<br />

Grécia Antiga, está su ficientemente<br />

retratado no «Mons tren -<br />

go» 68 . Preenche-lhe o peito a vonta<strong>de</strong><br />

nacional que se perpetua<br />

como eco no i<strong>de</strong>al sebástico do re gresso do rei, que virá, não importa<br />

quando ou como, mas virá, pela candura da crença, do i<strong>de</strong>al que não expira<br />

e pela sauda<strong>de</strong>, tal o dissera já António Nobre, outra das vozes do nosso profetismo:<br />

Virá, um dia, carregado <strong>de</strong> oiros,<br />

Marfins e pratas que do céu herdou,<br />

O Rei menino que se foi aos moiros,<br />

Que se foi aos moiros e ainda não voltou 69 .<br />

História Trágico-Marítima<br />

Vieira da Silva<br />

1944, óleo sobre tela – 81,5 x 100 cm<br />

Museu do Centro <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna – Lisboa, <strong>Portugal</strong><br />

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