Título: O prazer, princípio e fim da vida feliz, segundo o epicurismo
Título: O prazer, princípio e fim da vida feliz, segundo o epicurismo
Título: O prazer, princípio e fim da vida feliz, segundo o epicurismo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Epicuro rebate essa polêmica posição do pensamento hedonista que lhe<br />
antecede: é fun<strong>da</strong>mental que o <strong>prazer</strong> seja acompanhado de prudência (phronesis) 5 ,<br />
beleza e justiça.<br />
Não existe vi<strong>da</strong> <strong>prazer</strong>osa sem prudência, beleza e<br />
justiça, e não existe prudência, beleza e justiça, sem<br />
<strong>prazer</strong>. A quem falta isso não é possível a vi<strong>da</strong><br />
<strong>prazer</strong>osa.(DIÓGENES LAÉRCIO X, Máxima Principal, V)<br />
O <strong>prazer</strong> acompanhado de prudência, beleza e justiça é riqueza que -e porquepossui<br />
limites. É satisfação que não direciona para um tempo infinito, mas ao<br />
contrário, dedica-se à plenitude do tempo finito. 6 Do mesmo modo, a felici<strong>da</strong>de<br />
(eu<strong>da</strong>imonia) é conquista que se dá dentro destes limites: <strong>da</strong> prudência que orienta<br />
para a escolha do <strong>prazer</strong> <strong>da</strong>s coisas simples, onde a beleza e a justiça são possíveis,<br />
<strong>segundo</strong> a natureza.<br />
E o que dizer <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de, <strong>segundo</strong> a ótica cirenaica? Ora, o <strong>prazer</strong> cinético<br />
precisa ser constantemente buscado ou acrescentado, portanto, a felici<strong>da</strong>de não<br />
poderia ser outra coisa que não o somatório dos <strong>prazer</strong>es experienciados:<br />
O <strong>fim</strong> último na reali<strong>da</strong>de é o <strong>prazer</strong> particular,<br />
enquanto a felici<strong>da</strong>de é o somatório dos <strong>prazer</strong>es<br />
particulares, nos quais se incluem também os <strong>prazer</strong>es<br />
passados e os futuros.<br />
(DIÓGENES LAÉRCIO II, 87)<br />
Não é à toa que Hegésias, um dos mais conhecidos expoentes <strong>da</strong> escola<br />
cirenaica 7 , chegava a afirmar que a conquista <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de era absolutamente<br />
impossível:<br />
É absolutamente impossível alcançar a felici<strong>da</strong>de, pois<br />
o corpo é afetado por muitos sofrimentos, a alma sofre<br />
junto com o corpo e se perturba com ele, e a sorte<br />
impede que se realizem muitas esperanças. De tudo<br />
isso resulta que a felici<strong>da</strong>de não existe.<br />
(DIÓGENES LAÉRCIO II, 94)<br />
5<br />
Optamos pela tradução de phronesis por prudência, em Epicuro. De acordo com PETERS (1974),<br />
p.188, a phronesis sempre teve, no pensamento grego, um colorido prático e ético. Entretanto, em<br />
PLATÃO, observamos seu uso também fazendo referência à contemplação intelectual <strong>da</strong>s idéias (cf.<br />
República, 505a ss.). Será com ARISTÓTELES (cf. Ética a Nicômaco VI, 1140 a-b) que a phronesis<br />
retomará o sentido de sabedoria moral e prática, vindo a ocupar um papel central no <strong>epicurismo</strong>, no<br />
estoicismo e na filosofia de Plotino.<br />
6<br />
Cf. DIÓGENES LAÉRCIO X, Máxima Principal, XIX.<br />
7<br />
Cf. DIÓGENES LAÉRCIO II, 93-95.