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Título: O prazer, princípio e fim da vida feliz, segundo o epicurismo

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Além disso, de acordo com o Filebo, o <strong>prazer</strong> pertence ao gênero ilimitado<br />

(apeiron). 11 Como tal, ele admite a variação (ilimita<strong>da</strong>) entre o mais e o menos,<br />

descrita por Sócrates no exemplo do mais frio e do mais quente 12 : apenas quando é<br />

imposto um limite (peras) ou uma quanti<strong>da</strong>de (poson) a ambos, eles deixam de ser<br />

como tal, quer dizer, deixam de ser mais quente ou frio. 13 Desse modo, conclui-se<br />

que, em tudo aquilo que se manifesta através do gênero ilimitado, inclusive o <strong>prazer</strong>,<br />

não é possível encontrar estabili<strong>da</strong>de ou permanência. 14<br />

Por isso, no Górgias, a famosa comparação que Sócrates faz entre a parte <strong>da</strong><br />

alma que é sede dos desejos (epithymiai) e uma ânfora, descreve uma ânfora fura<strong>da</strong>:<br />

a insaciabili<strong>da</strong>de dos desejos 15 se explica pela impossibili<strong>da</strong>de dos <strong>prazer</strong>es buscados<br />

proporcionarem estabili<strong>da</strong>de e limite. Assim, em uma segun<strong>da</strong> e semelhante<br />

metáfora, Platão compara a vi<strong>da</strong> do intemperante a de um homem que possuísse<br />

muitas ânforas, as quais procurasse sempre manter cheias de mel, vinho, leite e<br />

outros líquidos 16 , mas que, por serem fura<strong>da</strong>s e de má quali<strong>da</strong>de, não reteriam o<br />

conteúdo:<br />

Ele seria obrigado a enchê-los continuamente, dia e<br />

noite, porque, se assim não o fizesse, experimentaria<br />

as maiores dores.<br />

(Górgias, 493e- 494a)<br />

Os argumentos contra a identificação do <strong>prazer</strong> com o bem são categóricos:<br />

Parece improvável retirar o <strong>prazer</strong> <strong>da</strong> condição de instável e ilimitado. Como<br />

conciliar a natureza do <strong>fim</strong> último ou supremo, maior justificativa <strong>da</strong>s escolhas e<br />

ações humanas, com o instável e ilimitado?<br />

Diógenes Laércio relata que a prova aponta<strong>da</strong> por Epicuro a favor do <strong>prazer</strong><br />

como <strong>fim</strong> supremo, encontra-se na disposição natural demonstra<strong>da</strong> pelos seres vivos,<br />

logo após o nascimento, em afastarem-se <strong>da</strong> dor, buscando o <strong>prazer</strong>, sem a<br />

11<br />

PLATÃO, Filebo, 31a.<br />

12<br />

Id. 24 b.<br />

13<br />

Sócrates, partindo dos exemplos do mais frio e do mais quente, ain<strong>da</strong> diz: “acrescenta-lhes agora o<br />

que é mais seco e mais úmido, mais numeroso e menos numeroso, mais rápido e mais lento, maior e<br />

menor, e tudo aquilo que anteriormente incluímos num gênero único, ou seja, a que admite o mais e o<br />

menos.”(Filebo, 25c)<br />

14<br />

A não ser que chamemos de permanente o próprio movimento que caracteriza o ilimitado.<br />

15<br />

PLATÃO, Górgias 493a-b.<br />

16<br />

Podemos interpretar que a varie<strong>da</strong>de de líquidos correspon<strong>da</strong> à multiplici<strong>da</strong>de de “objetos de<br />

desejo”(de <strong>prazer</strong>) que podem ser buscados. Assim, o <strong>prazer</strong> se associa ao múltiplo, como também se<br />

associa ao movimento constante evocado pela imagem <strong>da</strong> água escorrendo <strong>da</strong>s ânforas.

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