Guardados na Memória - Academia Brasileira de Letras
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<strong>Guardados</strong> da Memória<br />
François Mauriac<br />
Alceu Amoroso Lima<br />
Dificilmente sabemos falar ou escrever sobre aquilo que nos<br />
toca mais <strong>de</strong> perto. As gran<strong>de</strong>s dores ou as gran<strong>de</strong>s alegrias<br />
são silenciosas, exatamente por essa quase impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exprimirmos<br />
o que nos comove ou o que nos pren<strong>de</strong> totalmente. A emoção<br />
é como que um <strong>na</strong>ufrágio, uma forma <strong>de</strong> submersão no inefável<br />
e portanto no inexprimível. Para escrever sobre alguém ou alguma<br />
coisa é preciso não participar <strong>de</strong> sua substância. Porque o amor é<br />
uma perda no objeto amado e portanto uma renúncia à luci<strong>de</strong>z indispensável<br />
para ver e a<strong>na</strong>lisar. A crítica é alimentada, em suas raízes,<br />
pela simpatia, pela afinida<strong>de</strong> inexplicável, pela incli<strong>na</strong>ção invencível,<br />
em suma, pelo amor, ou pelos caminhos que a ele vão ter. Não basta<br />
amar, porém, para compreen<strong>de</strong>r. E, ao contrário, o amor po<strong>de</strong> ser e é<br />
muitas vezes um elemento <strong>de</strong> incompreensão. É uma luz excessiva,<br />
que cega, como todo foco ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>mais. O amor, dizia Faguet, é o<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser amado. Sim, mas ape<strong>na</strong>s no primeiro <strong>de</strong>grau do mais<br />
forte sentimento que po<strong>de</strong> animar o frágil coração humano. O verda<strong>de</strong>iro<br />
amor, ao contrário, é a indiferença a ser amado. O verda<strong>de</strong>i-<br />
Professor, crítico<br />
literário, ensaísta,<br />
polígrafo, tradutor (Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, 1893-1983),<br />
ligado ao movimento<br />
mo<strong>de</strong>rnista <strong>de</strong> 1922.<br />
Convertido ao<br />
catolicismo por<br />
influência direta <strong>de</strong><br />
Jackson <strong>de</strong> Figueiredo,<br />
tornou-se um dos mais<br />
respeitados paladinos da<br />
Igreja Católica no Brasil.<br />
Sua bibliografia é vasta,<br />
a começar por Afonso<br />
Arinos (1922), Estudos,<br />
cinco séries<br />
(1927-1933), Tentativa<br />
<strong>de</strong> Itinerário (1929), Esboço<br />
<strong>de</strong> uma Introdução à<br />
Economia Mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> (1930),<br />
mais <strong>de</strong>ze<strong>na</strong>s <strong>de</strong> títulos.<br />
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