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CHAPEUZINHO VERMELHO DIALOGANDO EM CINCO VERSÕES ...

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Título: <strong>CHAPEUZINHO</strong> <strong>VERMELHO</strong> <strong>DIALOGANDO</strong> <strong>EM</strong> <strong>CINCO</strong> VERSÕES<br />

Área Temática: Educação e Ensino Fundamental<br />

Autora: MARIA IVONE LAZZAROTTO (1)<br />

Instituição: Unijuí<br />

Os Fundamentos da Pesquisa<br />

A história de Chapeuzinho Vermelho, a que jamais esqueceremos, faz<br />

parte do grupo chamado história para crianças, pois vem há séculos<br />

encantando gerações e povoando o universo infantil. Por isso, ainda hoje<br />

surgem inúmeras versões modernizadas, não menos fascinantes que as<br />

histórias tradicionais.<br />

O fato de perceber que a personagem Chapeuzinho Vermelho vem<br />

avançando nas suas relações com o mundo instigou-me a selecionar cinco<br />

versões da história dessa menina para tentar compreender o porquê do<br />

avanço, além de observar também de que recursos a Literatura Infantil vem se<br />

servindo para transformar a Chapeuzinho da narrativa tradicional, de caráter<br />

conformador numa personagem mais emancipada, uma vez que a menina<br />

demonstra em sua trajetória sua conquista de espaço revelando, pois, maior<br />

grau de maturidade nas obras consideradas emancipacionistas. Contudo, a<br />

evolução no comportamento dessa personagem permeia a questão ideológica<br />

do conformismo à emancipação, evidenciadas pela leitura das obras escritas<br />

em diferentes épocas sociais. Para tanto, foi necessário recorrer aos ensaios<br />

de Regina ZILBERMANN e Lígia Cademartori MAGALHÃES que abordam o tema:<br />

Literatura Infantil: Autoritarismo e Emancipação.<br />

A releitura do mesmo tema realizada por tão diferentes autores, em<br />

inúmeras versões, são indicadores de intertextualidade na literatura. Em virtude<br />

disso, precisei recorrer às obras que tratam desse recurso, inscrevendo o<br />

dialogismo como centro das análises, por isso o estudo sobre Questões de<br />

Literatura e de Estética: A Teoria do Romance de Mikhail BAKHTIN foi<br />

imprescindível, como também houve recorrência à obra Poétique – Revista de<br />

Teoria e Análises Práticas – Intertextualidade : A Estratégia da Forma, de


2<br />

Laurent JENNY e Paródia, Paráfrase & Cia., de Affonso Romano de SANT’ANNA e<br />

ainda Literatura Comparada, de Tania Franco CARVALHAL.<br />

Sendo assim, escolhi para compor o corpus da análise, cada uma com<br />

motivo particular de escolha, as obras abaixo, sendo que as mesmas no<br />

decorrer da pesquisa foram referidas pelas abreviaturas que estão entre<br />

parênteses, imediatamente posterior ao título de cada obra.<br />

Chapeuzinho Vermelho -(CVP)- , de Charles PERRAULT, datada de 1697<br />

ao ser contrastada com as obras posteriores chegando até os nossos dias,<br />

possibilita a compreensão da dimensão do espaço conquistado pela<br />

personagem Chapeuzinho Vermelho nessa tão longa trajetória.<br />

Chapeuzinho Vermelho -(CVG)- (1812), dos Irmãos GRIMM, distanciada<br />

da matriz há mais de um século, evidencia avanço, ainda que mínimo, na sua<br />

luta por conquista de espaço social, apesar de a obra ter a mesma<br />

característica moralista da primeira citada.<br />

Fita Verde no Cabelo -(FVG)- (1970), acrescida do subtítulo Nova Velha<br />

História acena para a idéia de recriação do antigo conto de fadas- O<br />

Chapeuzinho Vermelho, de Charles PERRAULT. A pretensão do estudo desta<br />

obra esteve diretamente relacionada à marca que se imprime ao seu autor,<br />

João Guimarães ROSA, um reinventor da linguagem, e ainda mais porque ele<br />

escreveu a história inicialmente para adultos; depois, reaproveitaram-na para<br />

crianças, por isso mesmo é merecedora de atenção especial.<br />

A Melhor Amiga do Lobo -(AMEAL)- (1990), de Deonísio da SILVA foi<br />

também escolhida em virtude de estar evidente no texto a intenção do narrador<br />

em decodificar as metáforas do clássico O Chapeuzinho Vermelho, de Charles<br />

PERRAUT, explicitando-as em relações sociais conflituosas em que<br />

Chapeuzinho Vermelho busca escapar à marginalidade a que fora relegada por<br />

sua orfandade. Mais tarde é resgatada ao convívio social pela mão do caçador,<br />

guardião da família e, por extensão, da ordem social, apesar de que nessa<br />

obra o élan do herói salvador se corrompe na sua inserção concreta ao seio<br />

familiar, na condição de pai redimido.<br />

O Gatinho Nicolau, Chapeuzinho Vermelho e o Lobo -(OGN)- (1995), de<br />

Aurélio de Oliveira, obra escolhida porque contém característica atualmente<br />

pouco explorada na Literatura Infanto-Juvenil. O entrecruzamento de histórias


3<br />

proposto pelo primeiro narrador que detém o comando do sentido na narrativa<br />

primeira, se afirma e se valoriza pela abertura do diálogo interno, permitindo<br />

que os demais narradores expressem seus pontos de vista nas suas épocas.<br />

O objetivo do estudo foi tentar conhecer o fenômeno estético e<br />

ideológico que se imprime nas cinco obras para melhor compreender e avaliar<br />

a qualidade da produção literária à disposição das crianças. Se por um lado, é<br />

positivo que a literatura esteja sendo produzida em abundância e com<br />

variedade, por outro lado, é preocupante porque a nossa sociedade, hoje, pode<br />

ser caracterizada como consumista, não só de bens materiais, mas também de<br />

idéias, valores e comportamentos. Partindo desse pressuposto, é importante<br />

que na escolha do livro de Literatura Infantil se priorizem obras de caráter<br />

emancipacionista. Buscar maior compreensão no sentido de avaliar esse<br />

material, foi o principal motivo da pesquisa, visto ser o livro o documento que<br />

conserva a expressão do conteúdo de consciência humana e social, por isso<br />

mesmo inspira cuidados nas suas relações com o receptor-mirim, um ser ainda<br />

em desenvolvimento.<br />

A metodologia configurou-se a partir de estudos sobre sentimento de<br />

infância, literatura para crianças e intertextualidade na literatura. Depois,<br />

realizei leitura vertical a partir da aplicação de um roteiro de análise das cinco<br />

obras literárias, para compreender a denominação dada à personagem<br />

protagonista da história, as suas características físicas e psicológicas, as suas<br />

relações familiares e socioculturais, o seu lugar ocupado no discurso e sua<br />

visão de mundo (expressa ao longo da trajetória). E, por último, realizei leitura<br />

horizontal, cotejando cada um desses itens de cada obra com o texto primeiro,<br />

considerando-o a partir de então como texto matriz, além de averiguar o<br />

diálogo interno e externo às obras.<br />

A criança e a literatura<br />

Sentimento de infância<br />

Partindo do pressuposto de que a maior necessidade do homem é<br />

encontrar significado para a própria vida é que procurei compreender, num


4<br />

primeiro momento, a razão de a infância, atualmente, ser apontada como uma<br />

das fases mais importantes da vida humana. O adulto, hoje, tem a tarefa de<br />

ajudar a criança a crescer no seu amplo sentido. Há uma convicção por parte<br />

de estudiosos de que à medida que a criança se desenvolve, seguramente,<br />

adquire condições de se entender melhor e de se tornar mais capaz de<br />

relacionar-se com os outros e consigo mesma. Por conseguinte, já se tornou<br />

lugar comum privilegiar a afeição como elemento indispensável ao<br />

desenvolvimento físico e emocional dessa criança. No entanto, o conceito do<br />

homem de outras épocas diverge e até se opõe a essa visão contemporânea.<br />

Por isso, no primeiro momento, busquei compreender o que é infância à<br />

luz de Philippe ARIÈS, pois esse autor revela que até por volta do século XII, a<br />

arte medieval desconhecia a infância ou não a representava. Já no século XIII,<br />

surgem representações de crianças mais próximas do sentimento moderno. A<br />

imagem da criança frágil, portadora de uma vida delicada, merecedora de<br />

desvelo absoluto dos pais, é uma imagem recente. Até o século XIX, portanto,<br />

ela permaneceu prisioneira do papel social de filho. Sua posição sentimental<br />

refletia a posição que a criança desfrutava na casa. É pela conquista de espaço<br />

em diferentes contextos que a infância passa a ser considerada uma fase da<br />

vida com características peculiares, recebendo, pois, bens culturais<br />

específicos. E isto se reflete na literatura infantil , pois esta na perspectiva de<br />

novos rumos vem tentando representar e dar voz à criança desde o surgimento<br />

do sentimento de infância na sociedade.<br />

Sendo assim, muitos escritores já se ativeram a representar essa<br />

criança, caracterizando-a de acordo com a concepção do contexto e do tempo<br />

em que estão situados. Essas produções, bem como as inquietações de<br />

estudiosos da área, são matéria para realizações de congressos, simpósios,<br />

seminários; ocasião em que afloram interrogações quanto à natureza e ao<br />

objeto da literatura. No entanto, percebe-se que cada época compreendeu e<br />

produziu Literatura de acordo com padrões específicos. Faz-se necessário<br />

conhecer o modo, a singularidade de cada momento da longa marcha da<br />

humanidade, em sua constante evolução, a fim de compreender a importância<br />

social da literatura, o seu papel político, a porta de comunicação que se abre<br />

para o mundo, para a formação do pensamento crítico, para a reflexão, uma


5<br />

vez que ela pode questionar, através da linguagem, a hegemonia do discurso<br />

oficial e o consenso estabelecido pela ideologia dominante.<br />

Literatura para crianças<br />

Na visão de Regina ZILBERMAN, a Literatura Infantil possibilita<br />

desencadear o alargamento da dimensão de compreensão e a aquisição de<br />

linguagem, produto da recepção da história como audição ou leitura e da<br />

decodificação da mesma. Essa autora avalia a complexidade desse gênero, o<br />

qual ainda hoje é tido por alguns críticos como polêmico. Ressalte-se que a<br />

Literatura Infantil nasceu no século XVIII, por ocasião das mudanças na<br />

estrutura da sociedade, cujos efeitos ainda hoje são sentidos. Contudo, da<br />

visão expressa por vários autores sobre literatura infantil pode-se depreender<br />

que literatura infantil, antes de tudo, deve ser literatura de fato. O adjetivo<br />

infantil é apenas um aceno de que o livro pode ser lido também pelas crianças.<br />

Se estas, ao tomarem-no de uma prateleira, nele se detiverem, não<br />

importando, pois, o que lhe acontece ao redor, significa com certeza que lá<br />

encontraram vozes que lhes expõem sobre questões internas (do seu eu) e<br />

externas(do seu mundo). Esta, então, configura-se a verdadeira literatura<br />

também para crianças.<br />

Intertextualidade na literatura<br />

Affonso ROMANO de SANT’ANNA em sua obra Paródia, Paráfrase & Cia.,<br />

particulariza observações sobre Mikhail BAKHTIN, o qual publicou em 1928, em<br />

seu país, o estudo intitulado Problemas da Obra de Dostoiévski que, traduzido<br />

em 1981, passou a ser referência obrigatória no Brasil, nos estudos sobre<br />

paródia.<br />

Para melhor compreender sobre Intertextualidade na Literatura foi<br />

preciso partir da concepção de texto expressa por esse estudioso russo que<br />

muito contribuiu com os seus estudos socioliterários modernos, fugindo das<br />

concepções do texto fechado dos formalistas. Ele resgata as relações do texto<br />

com a história, concebendo o texto literário como construção polifônica onde<br />

várias vozes se cruzam e se neutralizam num jogo dialógico, permitindo assim


6<br />

expressar várias ideologias. Tal concepção de literariedade é indicadora de<br />

novas maneiras de ler um texto literário produzido nessas condições. Este<br />

estudo das relações entre os textos recebe, portanto, o nome de<br />

intertextualidade, cujo termo foi cunhado por Júlia KRISTEVA, em 1969,<br />

disignando a transposição de um ou vários sistemas em outro. Assim, o texto<br />

literário passa a ser o lugar de fusão dos sistemas de signos originários das<br />

pulsões e do social.<br />

Sendo assim, o diálogo, ou conversa, que um texto faz com outros<br />

textos que existiram antes denota marcas fundamentais da Literatura hoje.<br />

Pode-se entender a intertextualidade como uma citação, um comentário, uma<br />

derivação, uma inversão da proposta do autor. Nota-se que as produções<br />

literárias, sejam elas em verso ou em prosa, têm surgido de forma artesanal.<br />

Cada novo texto aparece feito de fragmentos, de restos de construções que<br />

vão sendo armazenadas num depósito de memórias chamado Cultura Literária.<br />

Percebe-se que toda a arte, nesse processo de construção, consiste na busca<br />

de unidade de sentido, arquitetando harmonicamente os pedaços com os quais<br />

se constrói um novo texto. Novo? Não se pode dar o adjetivo “inocente”, pois a<br />

sua forma e a sua estrutura ostentam uma coletânea que configura-se em um<br />

esforço individual por parte do autor da obra, para apresentar um<br />

empreendimento coletivo, isto é, resultante de um processo de produtividade<br />

coletiva, em que não é mais possível lê-lo como se fosse um discurso<br />

individual, nascido de um sopro mágico. Portanto, não é possível encontrar<br />

nenhum texto que não tenha sofrido contextualizações intertextuais, ainda que<br />

mínimas, de um outro criado anteriormente. O desvio estabelecido nas<br />

relações textuais, maiores ou menores em relação ao texto-base, sempre<br />

existirá. Se o leitor for atento, verá que existe um grau de parentesco entre os<br />

textos e que eles dialogam entre si.<br />

Busca-se um exemplo da afirmação acima no conto O Chapeuzinho<br />

Vermelho, um dos clássicos da literatura para crianças, que foi escrito por<br />

PERRAULT, em 1697, com o título Capinha Vermelha. Antes de PERRAULT<br />

escrever sua história, descobriu-se a existência de uma história latina do ano<br />

de 1023, de Egberto de LIÉGES, chamada Fecunda Ratis. Nessa versão, uma<br />

menininha é descoberta na companhia de lobos. Ela usa uma manta vermelha,<br />

que é de grande importância para ela. Há também o mito de Cronos


7<br />

(BETTELHEIM, 1980, p. 204), em que ele engole os filhos, mas eles conseguem sair<br />

maravilhosamente inteiros do seu estômago, onde são colocadas pesadas<br />

pedra. Qual das versões teria, então, influenciado PERRAULT a escrever<br />

Capinha Vermelha? Não se sabe. O fato é que esse escritor contribuiu para<br />

que Chapeuzinho Vermelho chegasse até nós, confirmando assim a idéia que<br />

está na raiz das modernas concepções da intertextualidade, que defende que<br />

todo o texto é absorção e transformação de outro texto, assemelhando-se à<br />

acepção de Laurent JANNY, de que “ a intertextualidae designa não uma soma<br />

confusa e misteriosa de influências, mas o trabalho de transformação e<br />

assssimilação de vários textos, operado por um texto centralizador que detém o<br />

comando do sentido” (1979, p. 14).<br />

Analisando, então, a arte literária verifiquei que ela tem se voltado para<br />

um diálogo com a realidade da própria linguagem, tornando-se mais literária,<br />

sobretudo porque entrou em concorrência com algumas formas de linguagem:<br />

jornal, televisão, cinema, E, por essa razão necessitou alargar internamente o<br />

seu espaço, alterando materiais estilísticos e formais. Dessa forma, surge a<br />

paródia como efeito metalingüístico (a linguagem que fala sobre outra<br />

linguagem), e, com isso, é possível distinguir, não apenas uma paródia de<br />

textos alheios (intertextualidade), como também uma paródia dos próprios<br />

textos (intratextualidade).<br />

Nesse aspecto, Affonso Romano de SANT’ANNA, em seu livro Paródia &<br />

Paráfrase evidencia que o termo paródia tornou-se institucionalizado a partir do<br />

século XVII, no entanto, já na Poética de Aristóteles aparece comentário desse<br />

termo, como arte. Hegemon de THASO (século 5 a.C.) usou o estilo épico para<br />

representar os homens não como superiores ao que eram no seu cotidiano,<br />

mas como inferiores, evidenciando-se, portanto, a ocorrência de uma inversão.<br />

A epopéia, gênero que na antigüidade servia para apresentar os heróis<br />

nacionais no mesmo nível dos deuses, sofria uma degradação. A observação<br />

de Aristóteles revela que os gêneros literários eram estratificados quanto às<br />

classes sociais. A tragédia e a epopéia eram reservados a descrições mais<br />

nobres, enquanto a comédia era o espaço da representação popular<br />

(SANT’ANNA, 1995, p.11). Daí que os narrados das histórias contemporâneas ao<br />

parodiarem Chapeuzinho Vermelho de PERRAULT manifestam<br />

intencionalidades de intervenções sociais, no meu ponto de vista.


8<br />

Para o autor acima, o texto parodístico faz exatamente uma<br />

representação daquilo que havia sido recalcado quando apresenta uma nova e<br />

diferente maneira de ler o convencional. É um processo de liberação do<br />

discurso. É uma tomada de consciência crítica. Para ele, a paródia se compara<br />

com um filho rebelde, que quer negar ao pai sua paternidade e quer autonomia<br />

e maioridade. A paródia é uma lente: exagera os detalhes, de tal modo que<br />

pode converter uma parte do elemento focado num elemento dominante,<br />

invertendo, portanto, a parte pelo todo, como se faz na charge e na caricatura.<br />

Refletindo sobre paródia a partir de SANT’ANNA (1995) em Paródia,<br />

Paráfrase & Cia., é válido considerar seu raciocínio de que os jogos<br />

estabelecidos nas relações textuais contêm desvios de diferentes graus em<br />

relação ao texto-base. Por exemplo, a paráfrase surge como mínimo, a<br />

estilização como um desvio tolerável e a paródia como um desvio total. Nessa<br />

perspectiva, entende-se que, dependendo do grau de afastamento entre o<br />

original e a versão posteriormente produzida, ter-se-á ou a paráfrase, ou a<br />

estilização, ou a paródia. Resumindo, a paráfrase e a estilização são a<br />

intertextualidade das semelhanças e a paródia, das diferenças.<br />

Chapeuzinho Vermelho na narrativa infantil<br />

O Chapeuzinho Vermelho : Texto Matriz<br />

Os aspectos teóricos abordados anteriormente serviram de referência<br />

para análise das cinco versões já citadas, sobre as quais foram analisados os<br />

seguintes tópicos: denominação dada à personagem (acrescida de suas<br />

características físicas e psicológicas), relações familiares, relações<br />

socioculturais, lugar ocupado no discurso e visão de mundo expressa pela<br />

personagem Chapeuzinho Vermelho nas diferentes épocas.<br />

Várias são as formas de apresentar a Literatura Infantil à criança. Sua<br />

divisão maior aparece pela poesia ou prosa. Neste último caso, ela surge como<br />

conto, lenda, fábula, apólogo, histórias e novela- são as formas mais<br />

representativas. Desde os primórdios, o conto tem-se revelado como forma<br />

privilegiada da Literatura Popular e da Infantil. É como O Chapeuzinho<br />

Vermelho (cujo motivo é a desobediência e as suas conseqüências; e a


9<br />

situação problemática é o passeio pelo bosque e o perigoso encontro de<br />

Chapeuzinho com o Lobo, ao ir visitar à avó doente).<br />

Pode-se dizer que no conto a visão-de-mundo corresponde a um<br />

fragmento-de-vida, a um momento significativo que permite ao leitor intuir o<br />

todo do mundo o qual aquele fragmento representa. A intenção de rever no<br />

todo apenas uma parte corresponde à forma de apresentar à criança uma<br />

estrutura simples e acessível do gênero narrativo. Por isso, em Chapeuzinho<br />

Vermelho tudo é condensado<br />

Dialogando com as obras : uma possível leitura<br />

Chapeuzinho Vermelho : A História do Nome<br />

Segundo estudos sobre a Intertextualidade na Literatura, para BAKHTIN<br />

só é possível captar os sentidos e a estrutura profunda de um texto literário se<br />

o mesmo for confrontado com outros que atuaram sobre ele como modelo.<br />

Seguindo essa ótica, realizei leitura horizontal de cada tópico das cinco obras<br />

em análise vertical, iniciando-se pela tentativa de compreender como é<br />

explicado nas obras o nome dado à personagem sobre a qual faz-se o estudo<br />

de sua trajetória, tomando por base a narrativa-matriz que denomina-se O<br />

Chapeuzinho Vermelho, de Charles PERRAULT.<br />

Assim, constatei, examinando o primeiro item do roteiro: denominação e<br />

características físicas e psicológicas da personagem que na narrativa-matriz, o<br />

nome dado à personagem é Chapeuzinho Vermelho em função de um capuz<br />

vermelho (presente recebido de sua avó) que fica muito bem na menina. Já em<br />

CVG o mesmo nome Chapeuzinho Vermelho é por causa da avó que lhe dá<br />

um chapéu de veludo vermelho que agrada-lhe muito, e como a menina passa<br />

a usá-lo com freqüência, fica conhecida por Chapeuzinho Vermelho. Em FVC,<br />

a própria personagem inventa uma fita verde para o cabelo e passa a ser<br />

referida pelo narrador como Fita-Verde. Em AMEAL, a menina revira o baú de<br />

sua avó e encontra um lindo chapéu vermelho, o qual passa a usar. Por isso<br />

mesmo a mãe a apelida de Chapeuzinho Vermelho. Em OGN, o personagem<br />

Nicolau tem esse nome sem que haja justificativa para o fato. Na história que<br />

ele ouve de sua mãe existe a personagem Chapeuzinho Vermelho, sem que a


10<br />

origem do nome apareça explicada pelo narrador. E na história que o menino<br />

cria a personagem é Touquinha com Capinha Vermelha e não se explicita,<br />

igualmente, nenhuma justificativa para o nome.<br />

O sentido tirado da análise desse primeiro item é que Chapeuzinho<br />

Vermelho do texto fundante é uma menina superprotegida pela avó, tanto que<br />

seu nome é dado em função do presente que ela lhe dá. Moderna e<br />

teoricamente, dir-se-ia, hoje, que houve um assujeitamento da personagem,<br />

pois um nome lhe é dado em função de um objeto, enquanto que esse nome<br />

poderia nascer, por exemplo, em função de uma característica psicológica<br />

própria da personagem. Verifiquei nas versões posteriores que em CVG a<br />

menina continua sendo superprotegida pela avó, no entanto, pode-se perceber<br />

um pequeno avanço no percurso da personagem. Veja-se que cem anos<br />

depois o nome Chapeuzinho Vermelho lhe é dado também em função de um<br />

objeto, com a diferença de que em CVP o chapéu fica bem na menina, o que<br />

deve ser o ponto de vista da avó, enquanto que em CVG a menina gosta muito<br />

do chapéu, passando a usá-lo com freqüência. Note-se que há uma ligeira<br />

tendência a respeitar-se o ponto de vista da criança, ao dar-lhe o nome<br />

Chapeuzinho Vermelho a partir do que ela gosta, embora perceba-se ainda<br />

nessa personagem outras marcas de assujeitamento.<br />

Prosseguindo a releitura da história dos nomes, em FVC a personagem<br />

Fita-Verde tem um nome criado pela própria invenção. O narrador provoca uma<br />

ruptura da personagem Fita-Verde que inventa, com a personagem<br />

Chapeuzinho Vermelho que assujeita-se. Da mesma forma, nota-se em<br />

AMEAL que o nome da personagem é fruto de uma ação da criança, a de<br />

revirar o baú. Ao encontrar um grande e lindo chapéu ela passa a usá-lo tanto,<br />

a ponto de ser apelidada de Chapeuzinho Vermelho. A mãe, ao dar-lhe esse<br />

apelido por causa de seu tamanho, evidencia um grande respeito à criança,<br />

primeiramente porque ela tem acesso aos objetos da mãe, guardados no baú,<br />

depois porque lhe dá, temporariamente, o apelido, enquanto que no texto<br />

matriz Chapeuzinho Vermelho é nome próprio já.<br />

Convém ao leitor observar que ao serem enumeradas as obras nessa<br />

progressiva ordem cronológica evidencia-se cada vez mais a conquista de<br />

espaço da personagem na família. Constatei que em OGN: na história que se<br />

abre acomodando as duas outras tem-se uma personagem do sexo masculino,


11<br />

alterando definitivamente o percurso do feminino analisado até então. Nicolau é<br />

Nicolau sem que haja necessidade de saber-se o porquê. Esse, ao revelar-se<br />

criativo e questionador, abre espaço para outra narrativa que faz ressurgir a<br />

Chapeuzinho, a qual é submetida à comparação à medida que compromete o<br />

leitor implícito à leitura contrastiva com a personagem do texto fundante. Em<br />

seguida cria uma nova personagem que se distancia ainda mais da<br />

personagem de CVP.<br />

O narrador concede-lhe definitivamente a grande marca que se imprime<br />

na personagem Capinha com Touquinha Vermelha, nessa longa trajetória.<br />

Essa nova personagem não tem história do nome mas tem história de vida,<br />

pois indo para a floresta encontra o lobo e diferentemente da Chapeuzinho da<br />

história de PERRAULT não é enganada pelo animal; muito pelo contrário,<br />

Capinha com Touquinha sabe se defender do animal, agindo por iniciativa<br />

própria, pois sua mãe havia lhe preparado para os possíveis perigos. Concluise<br />

dessa forma que através do diálogo que as obras estabeleceram com o<br />

passado, retomando, por exemplo, o sentido do nome dado à Chapeuzinho<br />

Vermelho na obra CVP, foi possível representar o lugar social que a infância<br />

vem conquistando nas diferentes épocas.<br />

Chapeuzinho Vermelho : relações familiares<br />

Na análise do item relações familiares pude verificar que cotejando as<br />

versões CVG,FVC,AMEAL e OGN com a matriz fundante, percebe-se que<br />

todas dialogam com CVP e expressam uma realidade em torno da nova<br />

organização familiar que se estabelece no século XX, quando os papéis da<br />

família são redefinidos: o pai deveria buscar alternativas de renda que não se<br />

opusessem ao bem-estar das crianças; a mãe deixava de ser mera guardiã do<br />

patrimônio da família para tornar-se a iniciadora da educação infantil, por isso a<br />

moral do narrador no final da história CVP, advertindo o leitor implícito dos<br />

perigos de uma moça ser devorada por um lobo travestido de boa educação e<br />

amabilidade.<br />

Do cotejo das obras CVG, FVG, AMEAL e OGN com a obra matriz CVP<br />

pode-se dizer que os diferentes narradores, ao dialogarem com o passado,<br />

vêm representando uma família cuja educação dos filhos é atribuição quase


12<br />

que exclusiva da mãe, apesar de esta também ter sido pouco freqüente no lar<br />

por trabalhar fora. Mesmo sem a presença constante, vê-se que essa figura<br />

materna não desvincula-se do seu papel na educação dos filhos,<br />

principalmente porque os prepara para defenderem-se, as filhas, dos perigos<br />

do mundo moderno, como aparece na obra OGN. Nessa narrativa há um<br />

gatinho chamado Nicolau que recria a história que ouve da mãe apresentando,<br />

na sua nova história, uma personagem que sabe defender-se do lobo apesar<br />

de sua tenra idade.<br />

Chapeuzinho Vermelho : relações socioculturais<br />

Analisando mais este item do roteiro com o objetivo de analisar a<br />

releitura das relações socioculturais de Chapeuzinho Vermelho, manifestadas<br />

pelos narradores das obras que dialogam com CVP trago à luz essas relações<br />

mantidas por Chapeuzinho Vermelho nas diversas versões, pois contrastei com<br />

a relação constante na versão original podendo dizer, então, que os diálogos<br />

nas diferentes versões guardam correspondência com os diálogos do texto<br />

matriz e permitem que o leitor implícito avalie a visão que o gênero feminino,<br />

hoje, tem do sexo oposto. Veja-se que desde CVP a menina vem se mostrando<br />

aberta ao diálogo. Em nenhuma obra revela-se introvertida, por isso mesmo<br />

enfrenta dificuldades nos seus relacionamentos, pois nem todos a vêem<br />

apenas como portadora dessa característica. Sua sensibilidade, sua prontidão<br />

em relacionar-se com o sexo oposto, nem sempre é vista com bons olhos pelo<br />

homem(lobo), tendo que muitas vezes pagar preço exageradamente alto pela<br />

sua facilidade de comunicação, até por envolver-se em relacionamentos<br />

amorosos que, mal-sucedidos, poderão resultar em esforço redobrado para<br />

criar um filho, talvez, sem a presença do pai. Conclui-se, a partir do que as<br />

versões contemporâneas representam, que é possível bem relacionar- se com<br />

o sexo oposto, desde que saiba-se em quem confiar.<br />

Chapeuzinho Vermelho : o lugar ocupado no discurso<br />

As versões subsequentes a CVP operaram profunda modificação do<br />

discurso original, no que se refere ao lugar ocupado pela personagem,


13<br />

principalmente, a partir da obra FVC. Em CVG, a personagem, nos seus atos<br />

de fala, apenas realiza um discurso que não lhe é próprio, sendo praticamente<br />

uma imitação do discurso da mãe. Chapeuzinho Vermelho no percurso de sua<br />

trajetória vem conquistando cada vez mais um lugar privilegiado no discurso,<br />

tanto na família como em outros lugares sociais, o que verifiquei nas narrativas<br />

caracterizadas como contemporâneas, assinalando um grande avanço no que<br />

se refere ao lugar da infância na sociedade atual. Hoje, a criança é mais<br />

ouvida, mais respeitada, podendo também fazer contribuições significativas<br />

falando do seu lugar já conquistado, expressando o seu ponto de vista nas<br />

decisões de família, na escola e em tantos outros espaços ocupados por ela<br />

cotidianamente.<br />

Chapeuzinho Vermelho : Visões de Mundo<br />

Como último item do roteiro de análise apresento aqui uma reprodução<br />

do registro realizado na tomada da obra CVP sobre a visão de mundo de<br />

Chapeuzinho Vermelho: essa personagem, observada durante toda a narrativa,<br />

expressa uma visão de mundo essencialmente reducionista, pois inadvertida e<br />

ingenuamente pára para escutar um lobo no caminho da casa da avó. Na obra<br />

CVG não há marcas de ampliação da sua visão de mundo, uma vez que não<br />

manifesta durante a narrativa nenhum posicionamento pessoal, ao passo que<br />

nas obras subsequentes, Chapeuzinho , à medida que vem evidenciando seu<br />

lugar ocupado no discurso expressa já a sua posição. A personagem cada vez<br />

mais vem conseguindo externar sua visão de mundo, própria, genuína e<br />

original, quer pelas suas ações, quer pelo seu discurso.<br />

Intertextualidade: Uma Tentativa de Explicitação<br />

Percebi, neste estudo, que cada um dos novos textos criados, além de<br />

dialogar com o clássico, dialoga também com outros textos, como faz o<br />

narrador em AMEAL, que traz para sua produção personagens protagonistas<br />

de outras histórias como João e Maria, que são personagens da história infantil<br />

de mesmo nome, e as personagens bíblicas Adão e Eva, Caim e Abel. O<br />

narrador, em OGN, contextualiza Chapeuzinho Vermelho com fatos sociais


14<br />

(existência de academias que treinam jovens para defenderem-se da violência<br />

urbana). Também faz alusão à escritora Ághata CHRISTIE, contadora de<br />

histórias, contextualizando com a existência de grupos organizados,<br />

nacionalmente, para tentar o resgate da história contada oralmente. Esses<br />

movimentos tentam criar espaços para pessoas interessadas e com<br />

sensibilidade para reprodução oral. Há projetos que desenvolvem habilidades<br />

de contar histórias através de oficinas organizadas em grandes encontros que<br />

vêm acontecendo em vários Estados do Brasil. Em FVC também há diálogo<br />

entre as personagens Chapeuzinho e Fita-Verde. O narrador contextualiza a<br />

obra através da ilustração do moinho que aparece no clássico CVP. Enfim, há<br />

muitas formas do leitor relacionar os textos que lê com a realidade que vivencia<br />

para poder interpretá-los e, dessa forma, entendê-los, o que torna o texto<br />

polifônico, rico em vozes de outros textos já citados e conhecidos pelo leitor.<br />

Considerações Finais<br />

Chapeuzinho Vermelho, vindo para o mundo moderno, sofre mudança<br />

profunda no que diz respeito ao seu modo de pensar e agir, evidenciando<br />

enorme espaço conquistado nessa longa trajetória. Os autores<br />

contemporâneos transformam a Chapeuzinho, provocando um desvio total da<br />

personagem e imprimindo nela modificação da postura conformista à<br />

emancipacionista, o que evidencia a utilização da paródia dos autores<br />

modernos sobre os autores clássicos.<br />

Sendo assim, a Literatura Infantil Brasileira vem se utilizando dos<br />

diversos recursos intertextuais para expressar o lugar social dessa personagem<br />

na suas épocas. CVP e CVG são de caráter autoritário, conformador,<br />

doutrinador; já FVC, AMEAL e OGN são de caráter emancipacionista, pois há<br />

espaço aberto para o leitor implícito constituir-se como sujeito, o que não<br />

acontece nas obras clássicas; Chapeuzinho Vermelho aparece como<br />

personagem assujeitada, submissa.<br />

Compreendi que a infância tem lugar já conquistado na sociedade e que<br />

os autores contemporâneos, ao alterarem a matéria literária, evidenciam<br />

esforços por transformação da consciência crítica de seu leitor/receptor, além<br />

do prazer e da emoção estética. Além disso, observei que a literatura, de certa


15<br />

forma está em concorrência com as telas luminosas: TV, computador e agora a<br />

Internet, por isso mesmo vem tentando novos rumos na sua luta pela formação<br />

do leitor.<br />

Pude depreender desse estudo que não existe um dono único,<br />

onipotente, de um texto. Qualquer pessoa, usando da sua inventividade<br />

criatividade pode lançar mão de textos para recriá-los, como fizeram os Irmãos<br />

GRIMM, Guimarães ROSA, Deonísio da SILVA e Aurélio de OLIVEIRA, dando às<br />

obras o sentido que quiseram dar, segundo as suas ideologias. Se por um lado,<br />

as obras clássicas tinham a intenção de moralizar, doutrinar, conformar; por<br />

outro lado, as versões contemporâneas tentam intervir sociologicamente, pois a<br />

sociedade de hoje não é a mesma da época de PERRAULT, por conseguinte, as<br />

intervenções são diferentes.<br />

Quanto às ações da personagem Chapeuzinho Vermelho nos contos<br />

analisados, observei que nas obras clássicas CVP e CVG, bem como nas<br />

versões da história dessa personagem na contemporaneidade, são percebidas<br />

como metáfora da caminhada da mulher através dos tempos, manifestada<br />

pelas atitudes, na infância, em busca de seu espaço como sujeito capaz de<br />

interagir na sociedade moderna.<br />

Das cinco narrativas analisadas, percebi, apenas nas versões de caráter<br />

emancipacionista, isto é, nas obras FVC, AMEAL e OGN que a personagem<br />

obtém uma conquista significativa na caminhada da casa da mãe à casa da<br />

avó. Nesse percurso, processa-se uma maturação. Chegar até a casa da avó<br />

simboliza alcançar a sabedoria e a maturação conquistada durante essa<br />

caminhada através dos tempos.<br />

Observei, nos clássicos de PERRAULT e dos GRIMM, a condição da<br />

mulher submissa, desinformada sobre a sexualidade e despreparada para<br />

enfrentá-la. Essa imagem a respeito da mulher vigeu até há pouco tempo.<br />

Ultimamente, porém, cedeu lugar à mulher mais emancipada, que entende<br />

melhor a sexualidade como sendo algo natural, normal e necessária para a<br />

satisfação física e psicológica e à perpetuação da espécie humana. Não há nas<br />

obras clássicas espaço para o sexo feminino ver o homem como companheiro,<br />

amigo e, sobretudo, para perceber que é também da relação saudável e<br />

harmoniosa entre homem e mulher que resultará mudanças e grandes<br />

transformações sociais.


16<br />

O discurso na história dos GRIMM continua, a exemplo da narrativa de<br />

PERRAULT, sendo monológico. Não há diálogo entre narrador e leitor, isto é,<br />

não há espaço para questionamentos também nessa obra. A intenção do texto<br />

é advertir Chapeuzinho Vermelho do perigo que representa o lobo(homem).<br />

Ele, o astuto, o inteligente, poderá causar-lhe mal. Tudo isso apresentado<br />

simbolicamente representa os valores daquela época, entendidos hoje como<br />

ideologia conformista, conforme análise de Regina ZILBERMAN e Lígia C.<br />

MAGALHÃES.<br />

Percebi, sobretudo, que a sociedade vive grandes transformações<br />

econômicas, políticas e sociais, então, é importante que se produza literatura<br />

para possibilitar que novas maneiras de ver e interpretar a realidade sejam<br />

apresentadas ao leitor. A relação dialógica conferida nas novas versões dos<br />

autores contemporâneos configura o protótipo da criança que quer-se hoje:<br />

questionadora, crítica e criativa. É , pois, no processo de interação do receptor<br />

com os textos que se constituem os sentidos dos mesmos, sendo, por isso,<br />

fundamental que os textos permitam preencher vazios. Portanto, a lição tirada<br />

de Chapeuzinho Vermelho é a de que a mulher continua conquistando lugar;<br />

ela vai evoluindo conforme a infância vai conquistando maior espaço social.<br />

Notas<br />

(1) Endereço: Rua São Francisco 501, Cx. Postal 560 – Ijuí – RS – CEP<br />

98700-000. Fone (055) 332-3640. Fax: (055) 332 9100;<br />

E-mail: poseduca@main.unijui.tche.br<br />

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