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Sistema de Integridade nos Estados Brasileiros - Instituto Ethos

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Participação e controle social por meio dos conselhos<br />

Participação e controle social por meio dos conselhos<br />

Um dos principais dispositivos <strong>de</strong> participação e<br />

controle social no Brasil contemporâneo são os<br />

conselhos gestores <strong>de</strong> políticas públicas. Inaugurados<br />

no contexto da <strong>de</strong>mocratização do regime,<br />

difundiram-se nas décadas seguintes em várias<br />

áreas, em muitos casos constituindo-se como<br />

obrigatórios para o repasse <strong>de</strong> recursos fe<strong>de</strong>rais<br />

para <strong>Estados</strong> e municípios, e tornaram-se peças<br />

importantes não apenas no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />

e <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong>ssas políticas, mas<br />

também no aperfeiçoamento da gestão e como<br />

instrumento <strong>de</strong> fiscalização contra o <strong>de</strong>sperdício<br />

e o <strong>de</strong>svio na aplicação dos recursos públicos.<br />

Os conselhos são, portanto, espaços institucionalizados<br />

voltados para a incidência da socieda<strong>de</strong><br />

sobre a <strong>de</strong>cisão, a implementação e o<br />

monitoramento das políticas públicas, <strong>de</strong> forma a<br />

garantir a <strong>de</strong>mocratização do acesso e o controle<br />

da corrupção. Em sua composição congregam um<br />

conjunto diversificado <strong>de</strong> atores da socieda<strong>de</strong> organizada<br />

– em particular sindicatos, empresas,<br />

universida<strong>de</strong>s, ONGs, movimentos populares, organizações<br />

filantrópicas – e agentes estatais direta<br />

ou indiretamente responsáveis pela gestão <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

área <strong>de</strong> política pública. Embora legalmente<br />

vinculados às secretarias <strong>de</strong> governo, são<br />

em geral <strong>de</strong>finidos como “instituições híbridas”<br />

(Avritzer e Dolabela, 2002) ou “instituições intermediárias”<br />

(Fung, 2004) porque localizados entre<br />

as agências estatais e as associações secundárias.<br />

Dados dos <strong>Instituto</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e<br />

Estatística (IBGE) apontam a existência, em 2001,<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 22 mil conselhos municipais no Brasil,<br />

com <strong>de</strong>staque para os <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (5.426), assistência<br />

social (5.178), <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> direitos da criança e<br />

do adolescente (4.306) e <strong>de</strong> educação (4.072). De<br />

acordo com Carvalho (1995), entre 1991 e 1993 foram<br />

construídos mais <strong>de</strong> 2 mil conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

por todo o país, numa média <strong>de</strong> praticamente dois<br />

novos por dia. Em pesquisa mais recente, Carvalho<br />

(1997) volta a acentuar o fenômeno da proliferação<br />

dos conselhos: “Em julho <strong>de</strong> 1996, uma estimativa<br />

(...) sugere que cerca <strong>de</strong> 65% do universo<br />

dos municípios brasileiros dispõem <strong>de</strong> Conselhos<br />

(...) isso significa a existência <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> conselheiros, número equivalente<br />

ao <strong>de</strong> vereadores” (Carvalho, 1997: 153-154).<br />

Dados do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, em documento<br />

produzido em 1999, indicam a existência<br />

<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 45 mil conselheiros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nas três<br />

esferas <strong>de</strong> governo.<br />

Nos últimos a<strong>nos</strong>, outras áreas <strong>de</strong> políticas públicas<br />

que buscam se estruturar como sistemas<br />

nacionais – como no campo das políticas urbanas<br />

e habitacionais, da segurança, dos direitos huma<strong>nos</strong>,<br />

da segurança alimentar, da cultura – foram<br />

priorizando a criação <strong>de</strong> conselhos, conferências,<br />

fundos e pla<strong>nos</strong>. Também na esfera fe<strong>de</strong>ral houve<br />

acentuado incremento em diversas áreas, o que<br />

atesta a vitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo institucional<br />

como mecanismo <strong>de</strong> participação e controle social<br />

do Estado.<br />

Nesse contexto, procuramos avaliar essa arquitetura<br />

institucional <strong>de</strong> participação e controle<br />

social <strong>nos</strong> <strong>Estados</strong> da Fe<strong>de</strong>ração. Para isso, partimos<br />

<strong>de</strong> duas variáveis.<br />

Primeira variável: grau <strong>de</strong> cobertura<br />

Com base em um levantamento <strong>nos</strong> sites oficiais<br />

dos gover<strong>nos</strong>, buscamos recuperar as informações<br />

sobre os conselhos existentes, por Estado.<br />

A análise foi do tipo “existe” versus “não existe”.<br />

Essa estratégia <strong>nos</strong> permitiu levantar informações<br />

sobre conselhos mais consolidados (como<br />

os <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educação, criança e adolescente) e<br />

conselhos em áreas recentes (como política antidrogas)<br />

ou com pouca tradição <strong>de</strong> diálogo entre<br />

Estado e socieda<strong>de</strong> (caso da segurança pública).<br />

Os dados mostram efetiva variação entre os <strong>Estados</strong><br />

no que se refere ao grau <strong>de</strong> cobertura. I<strong>de</strong>ntificamos<br />

um total <strong>de</strong> 535 conselhos em funcionamento,<br />

uma média <strong>de</strong> 19 conselhos por Estado.<br />

Agrupamos os <strong>Estados</strong> quanto ao grau <strong>de</strong> cobertura:<br />

Q baixo: entre 12 e 15 conselhos (= 0,25);<br />

Q médio: entre 16 e 21 conselhos (= 0,50);<br />

Q alto: 22 ou mais conselhos (1).<br />

Dessa forma, foi possível ranquear os <strong>Estados</strong><br />

tendo como critério a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaços institucionais<br />

para o exercício do controle social.<br />

Segunda variável: potencial <strong>de</strong> incidência<br />

O potencial <strong>de</strong> incidência dos conselhos foi<br />

<strong>de</strong>finido com base em dois indicadores:<br />

Função do conselho:<br />

Q <strong>de</strong>liberativo X não <strong>de</strong>liberativo<br />

Forma <strong>de</strong> escolha dos conselheiros<br />

não governamentais (autonomia):<br />

Q governo indica X socieda<strong>de</strong> civil indica<br />

Já é consenso na bibliografia que o <strong>de</strong>senho<br />

institucional dos conselhos é uma variável expressiva<br />

na aferição <strong>de</strong> seus resultados. Uma <strong>de</strong> suas<br />

dimensões remete à função dos conselhos. Cabe<br />

aos Executivos estaduais <strong>de</strong>finir se serão <strong>de</strong>liberativos<br />

(ou seja, com po<strong>de</strong>r legal <strong>de</strong> aprovar metas<br />

e pla<strong>nos</strong> <strong>de</strong> governo, programas e políticas públicas,<br />

prestação <strong>de</strong> contas etc.) ou apenas espaços<br />

<strong>de</strong> consulta ou assessoramento na área da política<br />

Figura 7<br />

Tabela <strong>de</strong> avaliação do <strong>de</strong>sempenho dos conselhos<br />

pública a que se vinculam. A <strong>de</strong>finição legal não<br />

garante o exercício efetivo do controle social, mas<br />

estudos mostram que conselhos consultivos têm<br />

maior dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumpri-lo quando comparados<br />

aos <strong>de</strong>liberativos.<br />

A autonomia em relação ao governo é outro<br />

indicador <strong>de</strong> peso. Vários fatores po<strong>de</strong>m favorecêla<br />

ou limitá-la. A bibliografia tem <strong>de</strong>stacado, por<br />

exemplo, a importância da forma <strong>de</strong> seleção dos<br />

conselheiros não governamentais. Esta é <strong>de</strong>finida<br />

pelas leis <strong>de</strong> criação dos conselhos, e suas variações<br />

po<strong>de</strong>m ser reduzidas a dois tipos: a) os conselheiros<br />

não governamentais são indicados pelas<br />

organizações civis ou por grupos que as representam;<br />

b) o governo reserva para si o direito <strong>de</strong> indicar<br />

seus interlocutores na socieda<strong>de</strong> civil.<br />

Ou seja, os conselhos <strong>de</strong>liberativos e <strong>nos</strong> quais<br />

a socieda<strong>de</strong> civil escolhe seus representantes têm<br />

maior potencial <strong>de</strong> incidência sobre as políticas<br />

públicas do que os conselhos apenas consultivos<br />

ou <strong>de</strong> assessoramento e <strong>nos</strong> quais o governo escolhe<br />

os conselheiros não governamentais.<br />

O potencial <strong>de</strong> incidência é relevante porque<br />

<strong>nos</strong> permite qualificar o investimento dos <strong>Estados</strong><br />

na criação dos conselhos. Afinal, po<strong>de</strong>mos ter<br />

<strong>Estados</strong> on<strong>de</strong> haja um bom indicador <strong>de</strong> cobertura,<br />

mas parte significativa dos conselhos exis-<br />

Estado Função (máx. 0,60) Autonomia (máx. 0,40)<br />

Conselho <strong>de</strong> meio ambiente<br />

Conselho <strong>de</strong> segurança<br />

alimentar<br />

Deliberativo = 0,30<br />

Não <strong>de</strong>liberativo = 0,0<br />

Deliberativo = 0,30<br />

Não <strong>de</strong>liberativo = 0,0<br />

Socieda<strong>de</strong> civil escolhe = 0,20<br />

Governo escolhe = 0,0<br />

Socieda<strong>de</strong> civil escolhe = 0,20<br />

Governo escolhe = 0,0<br />

50 <strong>Sistema</strong>s <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> <strong>nos</strong> <strong>Estados</strong> <strong>Brasileiros</strong><br />

<strong>Sistema</strong>s <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> <strong>nos</strong> <strong>Estados</strong> <strong>Brasileiros</strong><br />

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