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a aprendizagem interativa e as relações com os processos de auto ...

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A APRENDIZAGEM INTERATIVA E AS RELAÇÕES COM OS PROCESSOS DE<br />

AUTO-REGULAÇÃO-METACOGNITIVA<br />

Luciana d<strong>os</strong> Sant<strong>os</strong> R<strong>os</strong>enau ##<br />

RESUMO<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa é analisar a mediação pedagógica <strong>com</strong>o favorecedora d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva d<strong>os</strong> aprendizes durante o processo ensino-<strong>aprendizagem</strong>. Os participantes<br />

da pesquisa foram estudantes do Curso <strong>de</strong> Pedagogia, <strong>de</strong> uma Instituição <strong>de</strong> Ensino Superior, localizada<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba. Para o <strong>de</strong>senvolvimento da investigação <strong>de</strong> campo, foram proporcionad<strong>os</strong> três<br />

encontr<strong>os</strong> mensais para <strong>os</strong> estudantes <strong>de</strong>bateram sobre su<strong>as</strong> preferênci<strong>as</strong> e procediment<strong>os</strong> ao estudarem, e<br />

relatarem sobre <strong>com</strong>o foi realizar uma <strong>auto</strong>-observação <strong>de</strong> si mesmo enquanto aprendiz. Após esses<br />

moment<strong>os</strong> foi aplicada uma pergunta para <strong>os</strong> estudantes manifestarem o que <strong>os</strong> <strong>de</strong>bates coletiv<strong>os</strong> haviam<br />

proporcionado em relação a<strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva. Ressalta-se que <strong>os</strong> diálog<strong>os</strong><br />

coletiv<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> <strong>com</strong>o procediment<strong>os</strong> <strong>de</strong> pesquisa parecem ter contribuído para auxiliar a percepção<br />

d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> <strong>de</strong> estudar e para <strong>de</strong>senvolver <strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva. Consi<strong>de</strong>ra-se<br />

relevante ampliar essa pesquisa a outr<strong>os</strong> níveis <strong>de</strong> ensino além do superior, o que requer o<br />

pr<strong>os</strong>seguimento da investigação para analisar <strong>com</strong>o se <strong>de</strong>senvolvem <strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva no ensino fundamental e médio.<br />

Palavr<strong>as</strong>-chaves: Aprendizagem; Interação; Mediação; Auto-Regulação-Metacognitiva.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa é analisar a mediação pedagógica <strong>com</strong>o favorecedora d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva d<strong>os</strong> aprendizes durante o processo ensino-<strong>aprendizagem</strong>. Os participantes<br />

da pesquisa foram estudantes do Curso <strong>de</strong> Pedagogia, <strong>de</strong> uma Instituição <strong>de</strong> Ensino Superior, localizada<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se que a <strong>aprendizagem</strong> por interação <strong>com</strong> o meio físico e social gera a <strong>aprendizagem</strong><br />

significativa, portanto, o processo <strong>de</strong> mediação é um vali<strong>os</strong>o <strong>com</strong>ponente para enriquecer <strong>os</strong> moment<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> interação durante a <strong>aprendizagem</strong>. Assim, adotou-se <strong>com</strong>o fundamento <strong>de</strong>ssa pesquisa, a perspectiva<br />

vygotskiana <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong>.<br />

A justificativa <strong>de</strong> essa pesquisa <strong>as</strong>sumir alguns d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> sobre o <strong>de</strong>senvolvimento do sistema<br />

cognitivo humano <strong>de</strong> Vygotsky, é por ser a teoria que mais se aproxima d<strong>as</strong> crenç<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> da<br />

pesquisadora, e por ser a <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva uma área nova relacionada à teoria <strong>de</strong><br />

<strong>aprendizagem</strong> <strong>de</strong> Vygotsky.<br />

Neste contexto, acredita-se que analisar a mediação pedagógica <strong>com</strong>o favorecedora d<strong>os</strong> process<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva d<strong>os</strong> aprendizes durante o processo ensino-<strong>aprendizagem</strong>, é relevante<br />

para contribuir <strong>com</strong> estud<strong>os</strong> que abordam a perspectiva da <strong>aprendizagem</strong> por construção.


2<br />

2. METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO<br />

Para a pesquisa bibliográfica foram consultad<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> que abordam o estudo da<br />

metacognição e <strong>auto</strong>-regulação. Observa-se que a maioria d<strong>as</strong> investigações sobre metacognição e<br />

<strong>auto</strong>-regulação mencionam <strong>com</strong> maior intensida<strong>de</strong> a concepção <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>de</strong> J. Piaget. Ainda,<br />

<strong>de</strong>staca-se que Flavell é consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o um d<strong>os</strong> iniciadores da área <strong>de</strong> pesquisa em Metacognição<br />

<strong>com</strong> fundament<strong>os</strong> n<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> piagetian<strong>as</strong>. Assim, utilizaram-se bibliografi<strong>as</strong> que conceitu<strong>as</strong>sem a<br />

metacognição, e também aquel<strong>as</strong> que contribuíssem para relacionar esse conceito <strong>com</strong> a perspectiva<br />

vygotskiana.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento da investigação <strong>de</strong> campo, foram proporcionad<strong>os</strong> três encontr<strong>os</strong> mensais<br />

para <strong>os</strong> estudantes <strong>de</strong>bateram sobre su<strong>as</strong> preferênci<strong>as</strong> e procediment<strong>os</strong> ao estudarem, e para darem<br />

<strong>de</strong>poiment<strong>os</strong> sobre <strong>com</strong>o foi realizar uma <strong>auto</strong>-observação <strong>de</strong> si mesmo enquanto aprendiz. Após esses<br />

moment<strong>os</strong> foi aplicada uma pergunta para <strong>os</strong> estudantes manifestarem o que <strong>os</strong> <strong>de</strong>bates coletiv<strong>os</strong> haviam<br />

proporcionado em relação a<strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva.<br />

3. CONCEITOS TEÓRICOS SOBRE OS PROCESSOS DE<br />

AUTO-REGULAÇÃO-METACOGNITIVA<br />

Flavell (1999) em 1970, é o primeiro <strong>auto</strong>r a referir-se à metacognição, <strong>de</strong>finindo-a <strong>com</strong>o o<br />

conhecimento que o sujeito tem sobre o seu próprio conhecimento.<br />

Para Flavell (1999, p.125), “qualquer conhecimento ou ativida<strong>de</strong> cognitiva que é monitorada e<br />

regulada po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada por metacognição”, por exemplo, monitorar e avaliar <strong>as</strong> própri<strong>as</strong><br />

capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> memória. Explica que ela é chamada “Meta-cognição” porque seu sentido essencial é<br />

“cognição acerca da cognição. Para ele, a maior parte do que é consi<strong>de</strong>rado metacognição se refere ao<br />

conhecimento metacognitivo, ao monitoramento e à <strong>auto</strong>-regulação metacognitiva.<br />

Para Ribeiro (2003, p.110), parece ainda não existir uma <strong>de</strong>finição única quanto ao que vem a ser<br />

metacognição, enfatizando que <strong>de</strong>vido à amplitu<strong>de</strong> da utilização do termo na literatura psicológica, ele é<br />

mal <strong>com</strong>preendido, pois, o conceito se <strong>de</strong>lineia conforme a perspectiva da corrente teórica, gerando<br />

diferentes orientações <strong>de</strong> investigação.<br />

Assim, Couceiro Figueira (199-, p.02) diz que:<br />

(...) enquanto <strong>auto</strong>res (...) abordam a metacognição enfatizando quer o conhecimento do próprio conhecimento<br />

(metaconhecimento), conhecimento d<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> process<strong>os</strong> cognitiv<strong>os</strong> e su<strong>as</strong> form<strong>as</strong> <strong>de</strong> operação, quer o<br />

controle executivo ou <strong>auto</strong>-regulação do pensamento (grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação, regulação ou monitorização<br />

cognitiva), isto é, capacida<strong>de</strong> para controlar esses process<strong>os</strong>, outr<strong>os</strong> atribuem importância somente a uma d<strong>as</strong><br />

dimensões, afirmando a sua in<strong>de</strong>pendência, enfatizando ou o controle executivo ou o conhecimento.


3<br />

Portanto, alguns <strong>auto</strong>res caracterizam a metacognição <strong>com</strong>o o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> consciência<br />

da sua <strong>aprendizagem</strong>. A regulação seria o modo <strong>com</strong>o o sujeito controla, muda e adapta su<strong>as</strong> ações para<br />

obter o resultado <strong>de</strong>sejado (GRÉGOIRE, 2000, p. 161). A <strong>auto</strong>-regulação metacognitiva, vai além pois o<br />

sujeito <strong>de</strong>senvolve seu processo <strong>de</strong> regulação consciente <strong>de</strong> seu próprio processo <strong>de</strong> conhecer, isto é<br />

regula sua melhor forma, produz a <strong>auto</strong>-avaliação. Ou seja, ao <strong>auto</strong>-avaliar-se o sujeito produz a<br />

regulação e toma consciência <strong>de</strong> seus process<strong>os</strong> cognitiv<strong>os</strong>, tudo ao mesmo tempo. É um processo<br />

dinâmico que po<strong>de</strong> ser iniciado em qualquer um d<strong>os</strong> seus <strong>com</strong>ponentes. Outr<strong>os</strong> <strong>auto</strong>res <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a<br />

metacognição é apen<strong>as</strong> um <strong>de</strong>sses moment<strong>os</strong>.<br />

Segundo Ferreira (1998), na literatura metacognitiva requer-se saber "o que" se quer obter<br />

(objetiv<strong>os</strong>) e "saber <strong>com</strong>o" se obtém (<strong>auto</strong>-regulação ou estratégi<strong>as</strong>). Esta diferenciação (o que, e <strong>com</strong>o)<br />

<strong>de</strong>staca du<strong>as</strong> dimensões da metacognição: a metacognição <strong>com</strong>o conhecimento d<strong>as</strong> operações mentais e a<br />

metacognição <strong>com</strong>o <strong>auto</strong>-regulação. “Por esta razão uma função <strong>de</strong>riva da outra”, m<strong>as</strong> não<br />

obrigatoriamente nesta or<strong>de</strong>m, o que quer dizer que a metacognição interage na <strong>auto</strong>-regulação e na<br />

percepção <strong>de</strong> si mesmo enquanto aprendiz, e vice-versa (FERREIRA, 1998, p.02).<br />

Demonstrando isso, essa pesquisa preten<strong>de</strong> enfatizar a relação da mediação pedagógica <strong>com</strong> <strong>os</strong><br />

process<strong>os</strong> <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva.<br />

4. MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA COMO FAVORECEDORA DOS PROCESSOS DE<br />

AUTO-REGULAÇÃO-METACOGNITIVA: A EXPERIÊNCIA DOS ALUNOS<br />

Este artigo enfatiza a <strong>aprendizagem</strong> <strong>interativa</strong> e <strong>as</strong> relações <strong>com</strong> <strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>auto</strong>-regulação<br />

metacognitiva. Os resultad<strong>os</strong> são preliminares e foram obtid<strong>os</strong> por meio <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> dissertação<br />

<strong>de</strong> mestrado que investigou “A contribuição d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> metacognitiv<strong>os</strong> na formação do pedagogo”.<br />

Assim, foram express<strong>os</strong> nesse artigo <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> relevantes para analisar a mediação<br />

pedagógica <strong>com</strong>o favorecedora d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva d<strong>os</strong> aprendizes durante o<br />

processo ensino-<strong>aprendizagem</strong>.<br />

Durante toda a pesquisa oportunizou-se a<strong>os</strong> alun<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate, para exp<strong>os</strong>ição coletiva<br />

do que perceberam <strong>de</strong> si própri<strong>os</strong> enquanto aprendizes. A maioria d<strong>os</strong> alun<strong>os</strong> participaram ativamente do<br />

diálogo coletivo, e <strong>de</strong>monstraram muito interesse em se “<strong>auto</strong>-conhecer”. A cada encontro sugeria-se a<strong>os</strong><br />

alun<strong>os</strong>, para se “<strong>auto</strong>-observarem” durante <strong>os</strong> moment<strong>os</strong> <strong>de</strong> estudo, para perceberem <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong><br />

que utilizam para estudar e apren<strong>de</strong>r. Assim, houveram muit<strong>os</strong> relat<strong>os</strong> individuais <strong>de</strong> form<strong>as</strong> <strong>de</strong> estudar,<br />

<strong>os</strong> quais, às vezes, eram coinci<strong>de</strong>ntes <strong>com</strong> outr<strong>os</strong> coleg<strong>as</strong>.<br />

N<strong>as</strong> resp<strong>os</strong>t<strong>as</strong> dad<strong>as</strong> a questão: Em que a consciência <strong>de</strong> <strong>com</strong>o você apren<strong>de</strong> po<strong>de</strong> contribuir para


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sua <strong>aprendizagem</strong>? Apareceu entre <strong>os</strong> indicativ<strong>os</strong> mais recorrentes a <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva.<br />

ação:<br />

Apresenta-se a fala <strong>de</strong> uma aluna do Curso <strong>de</strong> Pedagogia <strong>com</strong>o exemplar da <strong>auto</strong>-regulação em<br />

Na minha consciência o que contribui para eu apren<strong>de</strong>r é ler, ler sempre. Quanto mais eu leio mais eu aprendo e<br />

<strong>com</strong> idéi<strong>as</strong> diferentes, quando leio esqueço <strong>de</strong> tudo inclusive quem está a minha volta, o meu pensamento está<br />

voltado para a leitura, quando não consigo enten<strong>de</strong>r volto e leio o trechinho novamente até enten<strong>de</strong>r, isso faz<br />

<strong>com</strong> que a minha consciência não sinta-se culpada por eu não conseguir enten<strong>de</strong>r o que estou lendo.<br />

Essa idéia parece referir-se ao que Flavell (1999, p.129) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> <strong>auto</strong>-monitoramento e<br />

<strong>auto</strong>-regulação: “<strong>auto</strong>-monitoramento envolve saber pelo próprio aluno em quais condições ele está em<br />

relação ao seu objetivo <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong>, e a <strong>auto</strong>-regulação inclui planejar, direcionar e avaliar esse<br />

<strong>com</strong>portamento”.<br />

Deste modo, Valente citado por Couceiro Figueira (199-, p.15), diz que “a metacognição po<strong>de</strong><br />

ser entendida <strong>com</strong>o a capacida<strong>de</strong> chave <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a <strong>aprendizagem</strong>, certamente a mais importante:<br />

apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r”. Consi<strong>de</strong>ra-se que a metacognição é mais que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>com</strong>petênci<strong>as</strong>;<br />

por meio <strong>de</strong>ssa consciência o aluno apren<strong>de</strong> a controlar a sua <strong>aprendizagem</strong>, torna-se mais informado,<br />

mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e persiste no alvo, que á <strong>aprendizagem</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado conteúdo.<br />

Quanto à contribuição da consciência <strong>de</strong> <strong>com</strong>o se apren<strong>de</strong>, <strong>de</strong>staca-se o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> outra aluna<br />

do Curso <strong>de</strong> Pedagogia, que diz percebido encontrado alguns obstácul<strong>os</strong> que g<strong>os</strong>taria <strong>de</strong> superar. Ela diz<br />

que:<br />

Bom, no início não entendia nada, agora tenho mais consciência do que estava acontecendo. Hoje já consigo não<br />

me estressar tanto, m<strong>as</strong> tem du<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> que eu o<strong>de</strong>io na faculda<strong>de</strong>: fazer trabalho em grupo, g<strong>os</strong>to ”individual”;<br />

e apresentação oral, lá na frente. Acho que o meu conceito é: querem me ferrar, então eu continuo e corro atrás,<br />

só que prefiro quebrar a cara sozinha. A minha vida inteira foi <strong>as</strong>sim, não tenho mais medo. As pesso<strong>as</strong>, minha<br />

mãe, pai, irmã<strong>os</strong> me jogam aqui na faculda<strong>de</strong>. Já pensei em <strong>de</strong>sistir vári<strong>as</strong> vezes, por causa <strong>de</strong>ssa apresentação<br />

oral, m<strong>as</strong> <strong>de</strong>pois que vi minh<strong>as</strong> coleg<strong>as</strong> <strong>de</strong> turma dizerem que também não g<strong>os</strong>tavam, m<strong>as</strong> que estão <strong>com</strong>eçando<br />

a g<strong>os</strong>tar, estou também tentando superar.<br />

De acordo <strong>com</strong> esse relato, infere-se que a apresentação oral e trabalh<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> em grup<strong>os</strong> tem<br />

gerado sentiment<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> ao realizar <strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s prop<strong>os</strong>t<strong>as</strong> na faculda<strong>de</strong>, o que, provavelmente,<br />

diminui a <strong>com</strong>preensão do que é estudado, porque a atenção não está voltada apen<strong>as</strong> para o objetivo <strong>de</strong><br />

realizar a ativida<strong>de</strong> e apren<strong>de</strong>r enquanto a realiza.<br />

Segundo Vygotsky (1991, p.148), na medida em que se consi<strong>de</strong>ra o aprendizado <strong>com</strong>o um<br />

processo profundamente social, enfatiza-se a importância do diálogo e d<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> funções da linguagem<br />

na instrução e no <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo mediado.<br />

Parece que a aluna mencionada acima, está <strong>com</strong>eçando a <strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar<br />

oralmente trabalh<strong>os</strong> solicitad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> professores para toda a turma, acredita-se que <strong>as</strong> coleg<strong>as</strong> que


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relataram que “não g<strong>os</strong>tavam e agora g<strong>os</strong>tam”, po<strong>de</strong> ter sido a mediação da qual a aluna PB40, precisava<br />

para aproximar essa prática do seu <strong>de</strong>senvolvimento real para interiorizá-lo, e processualmente,<br />

reconstruí-lo internamente para <strong>de</strong>senvolver seus potenciais.<br />

Para Vygotsky (1991, p.148),<br />

o ensino representa, então, o meio através do qual o <strong>de</strong>senvolvimento avança; em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, <strong>os</strong> conteúd<strong>os</strong><br />

socialmente elaborad<strong>os</strong> do conhecimento humano e <strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> cognitiv<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> para sua internalização<br />

são evocad<strong>os</strong> n<strong>os</strong> aprendizes segundo seus "níveis reais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento".<br />

Silva e Sá (1997, p.57), re<strong>com</strong>endam que é necessário o professor i<strong>de</strong>ntificar <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> extern<strong>os</strong><br />

ou intern<strong>os</strong>, que po<strong>de</strong>m ajudar o aluno a <strong>de</strong>senvolver su<strong>as</strong> capacida<strong>de</strong>s. Estratégi<strong>as</strong> cognitiv<strong>as</strong> e<br />

metacognitiv<strong>as</strong>, <strong>de</strong> sentiment<strong>os</strong> p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong>, <strong>de</strong> dicionári<strong>os</strong>, d<strong>os</strong> pais, professores, d<strong>os</strong> coleg<strong>as</strong> e outr<strong>os</strong><br />

po<strong>de</strong>m ajudar <strong>os</strong> alun<strong>os</strong> a encontrar apoio pessoal e social para ajudá-l<strong>os</strong> a ultrap<strong>as</strong>sar <strong>os</strong> obstácul<strong>os</strong><br />

presentes durante sua <strong>aprendizagem</strong>.<br />

Outr<strong>os</strong> <strong>de</strong>poiment<strong>os</strong> relevantes foram às afirmações sobre a consciência <strong>de</strong> <strong>com</strong>o se apren<strong>de</strong><br />

serem benéfic<strong>as</strong> para buscar nov<strong>os</strong> caminh<strong>os</strong> e tentar apren<strong>de</strong>r nov<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong>.<br />

Esse interesse por ampliar su<strong>as</strong> capacida<strong>de</strong>s é retratado n<strong>as</strong> seguintes fal<strong>as</strong>:<br />

Para buscar nov<strong>os</strong> caminh<strong>os</strong> e é claro, fazer cada vez melhor aquilo a que eu me propus.<br />

Para <strong>de</strong>senvolver melhor minha forma <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> é preciso saber qual é o jeito que eu aprendo então ter<br />

a consciência é extremamente importante até para <strong>de</strong>sempenhar meu trabalho <strong>de</strong> professora, tentar outr<strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> <strong>de</strong> melhor apren<strong>de</strong>r.<br />

Conforme Silva e Sá (1997, p.12), o objetivo é aumentar a consciência e responsabilida<strong>de</strong> d<strong>os</strong><br />

alun<strong>os</strong> sobre sua própria <strong>aprendizagem</strong>, encorajando a percepção <strong>de</strong> si mesmo, a <strong>auto</strong>-avaliação e a<br />

<strong>auto</strong>-regulação durante a <strong>aprendizagem</strong>. Se o aluno não <strong>as</strong>sume a responsabilida<strong>de</strong> por sua <strong>aprendizagem</strong>,<br />

tornando-se consciente <strong>de</strong> <strong>com</strong>o apren<strong>de</strong>, percebendo o que é ou não eficiente na sua <strong>aprendizagem</strong>, a<br />

<strong>auto</strong>nomia do aluno para apren<strong>de</strong>r fica difícil <strong>de</strong> acontecer.<br />

Mais um <strong>de</strong>poimento que expressa a <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva é a afirmação <strong>de</strong> que a<br />

consciência <strong>de</strong> <strong>com</strong>o apren<strong>de</strong>m melhora a <strong>aprendizagem</strong>. Exemplificada a seguir:<br />

A consciência <strong>de</strong> <strong>com</strong>o aprendo contribui muito, pois na minha área que é a educacional, tudo o que aprendo<br />

contribui muito para a minha <strong>aprendizagem</strong>. Por ter n<strong>as</strong> aul<strong>as</strong> a união da teoria e da prática.<br />

Sabendo a forma <strong>com</strong>o aprendo melhor, p<strong>os</strong>so colocá-la mais vezes em prática e, <strong>as</strong>sim, estar apren<strong>de</strong>ndo<br />

melhor.<br />

Segundo Grangeat (1999, p.168), a percepção da própria <strong>aprendizagem</strong> po<strong>de</strong>rá melhorar e


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aumentar a <strong>aprendizagem</strong>, à medida que p<strong>os</strong>sibilite ao aluno a avaliação e <strong>auto</strong>-regulação d<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong><br />

que utiliza <strong>com</strong> o objetivo <strong>de</strong> reutilizá-l<strong>as</strong> <strong>com</strong> mais eficiência.<br />

Portanto, para Grangeat (1999, p.168) “a metacognição não consiste em “<strong>de</strong>scer da bicicleta<br />

para se ver a pedalar”, porque, para observar est<strong>as</strong> condut<strong>as</strong>, é <strong>de</strong>sejável que se permaneça montado na<br />

bicicleta!”. Assim infere-se que é <strong>de</strong>sejável a prática da metacognição durante <strong>as</strong> aul<strong>as</strong> e moment<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

estudo para facilitar, estimular e melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> d<strong>os</strong> alun<strong>os</strong>.<br />

Para Doly (1999, p.56), “a metacognição é um conceito pedagógico mais do que psicológico”,<br />

sendo nesta pesquisa adotada a perspectiva <strong>de</strong> Doly, pois, conforme Develay (1999, p.8),<br />

<strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s metacognitiv<strong>as</strong> é oferecer a<strong>os</strong> alun<strong>os</strong> a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tornarem in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes d<strong>as</strong><br />

situações cognitiv<strong>as</strong> que o professor criou, é favorecer, através do <strong>de</strong>scentramento afetivo e da <strong>de</strong>scentração<br />

cognitiva, a distanciação que favorece a tomada <strong>de</strong> consciência.<br />

Busca-se <strong>as</strong>sim, ao professor propiciar situações <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> que incentivem o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> capacida<strong>de</strong>s, acreditando que o aprendizado, a<strong>de</strong>quadamente organizado,<br />

resulta em <strong>de</strong>senvolvimento mental. Pois, segundo Vygotsky (1991, p.101) “o aprendizado é um <strong>as</strong>pecto<br />

necessário e universal do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> funções psicológic<strong>as</strong> culturalmente<br />

organizad<strong>as</strong> e especificamente human<strong>as</strong>”.<br />

5. CONCEPÇÃO DE APRENDIZAGEM DE VYGOSTKY E OS PROCESSOS DE<br />

AUTO-REGULAÇÃO-METACOGNITIVA: INFERÊNCIAS PRELIMINARES<br />

Para esclarecer o ponto <strong>de</strong>cisivo pela preferência da pesquisadora pela concepção <strong>de</strong><br />

<strong>aprendizagem</strong> <strong>de</strong> Vygotsky, apresentam-se algum<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> <strong>de</strong> sua teoria relacionando-a <strong>com</strong> a<br />

metacognição.<br />

Para Vygotsky (1991), o aprendizado <strong>com</strong>eça antes <strong>de</strong> a criança freqüentar a escola. “Qualquer<br />

situação <strong>de</strong> aprendizado <strong>com</strong> a qual a criança se <strong>de</strong>fronta na escola, tem sempre uma história prévia,<br />

pois o aprendizado e <strong>de</strong>senvolvimento estão inter-relacionad<strong>os</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia <strong>de</strong> vida da criança”<br />

(1991, p.94).<br />

Conforme Vygotsky (1991), se o que <strong>de</strong>sejam<strong>os</strong> é conhecer <strong>as</strong> relações reais entre o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado, não po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> n<strong>os</strong> restringir à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Vygotsky (1991, p.95) diz que tem<strong>os</strong> que <strong>de</strong>terminar pelo men<strong>os</strong> dois níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

mental. O nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento real, que “é o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> funções mentais da<br />

criança que se estabeleceram <strong>com</strong>o resultado <strong>de</strong> cert<strong>os</strong> cicl<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento já <strong>com</strong>pletad<strong>os</strong>”. E a<br />

zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal que é a distância entre o nível real e o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento


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potencial, que “é <strong>de</strong>terminado pela resolução <strong>de</strong> problem<strong>as</strong> sob orientação ou em colaboração <strong>com</strong><br />

<strong>com</strong>panheir<strong>os</strong> mais capacitad<strong>os</strong>”. Assim, segundo Vygotsky (1991, p.98), “aquilo que é a zona <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento proximal hoje, será o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento real amanhã, ou seja, aquilo que uma<br />

criança po<strong>de</strong> fazer <strong>com</strong> <strong>as</strong>sistência hoje, ela será capaz <strong>de</strong> fazer sozinha amanhã”.<br />

Diante disso, Vygotsky (1991, p.98), ressalta que, a zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal<br />

permite-n<strong>os</strong> planejar o <strong>de</strong>senvolvimento da criança e su<strong>as</strong> potencialida<strong>de</strong>s, p<strong>os</strong>sibilitando o acesso ao que<br />

já foi atingido e ao que está em processo <strong>de</strong> maturação.<br />

Conforme Vygotsky (1991, p.96), n<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento mental d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>,<br />

consi<strong>de</strong>rava-se que só era sinal <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> mental d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> aquilo que el<strong>as</strong> conseguem fazer<br />

sozinh<strong>as</strong>. Não era consi<strong>de</strong>rado o que a criança consegue fazer <strong>com</strong> a ajuda d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, nem que isso<br />

po<strong>de</strong>ria ser mais revelador sobre seu <strong>de</strong>senvolvimento mental do que <strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s que consegue realizar<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> auxílio.<br />

Para Vygotsky (1991, p. 99), uma profunda <strong>com</strong>preensão do conceito <strong>de</strong> zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

proximal p<strong>os</strong>sibilita a reconsi<strong>de</strong>ração da imitação no aprendizado. Ele diz que<br />

<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m imitar uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações que vão muito além d<strong>os</strong> limites <strong>de</strong> su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong><br />

capacida<strong>de</strong>s. Numa ativida<strong>de</strong> coletiva ou sob a orientação <strong>de</strong> adult<strong>os</strong>, usando a imitação, <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> são<br />

capazes <strong>de</strong> fazer muito mais cois<strong>as</strong>. (VYGOTSKY, 1991, p.99)<br />

Assim, consi<strong>de</strong>ra-se a imitação p<strong>os</strong>itiva, não uma imitação robotizada <strong>de</strong> process<strong>os</strong> mecânic<strong>os</strong>,<br />

m<strong>as</strong> sim <strong>com</strong>o uma d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> para apren<strong>de</strong>r, pois psicólog<strong>os</strong> têm <strong>de</strong>monstrado que uma pessoa só<br />

consegue imitar aquilo que está no seu nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A <strong>auto</strong>-regulação-metacogniva preten<strong>de</strong> ser vista nessa pesquisa, <strong>com</strong>o uma capacida<strong>de</strong> a ser<br />

<strong>de</strong>senvolvida em sala <strong>de</strong> aula, <strong>com</strong> o professor <strong>com</strong>o mediador. Segundo Oliveira (1993, p. 38), o<br />

processo pelo qual o indivíduo internaliza o que foi aprendido na sua cultura, não é um processo <strong>de</strong><br />

absorção p<strong>as</strong>siva, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> transformação, <strong>de</strong> síntese.<br />

O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do ser humano, marcado por sua inserção em <strong>de</strong>terminado grupo cultural, se dá<br />

<strong>de</strong> “fora para <strong>de</strong>ntro". Isto é, primeiramente o indivíduo realiza ações extern<strong>as</strong>, que serão interpretad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> a seu redor, <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> <strong>os</strong> significad<strong>os</strong> culturalmente estabelecid<strong>os</strong>. A partir <strong>de</strong>ssa interpretação é<br />

que será p<strong>os</strong>sível para o indivíduo atribuir significad<strong>os</strong> a su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> ações e <strong>de</strong>senvolver process<strong>os</strong><br />

psicológic<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> que po<strong>de</strong>m ser interpretad<strong>os</strong> por ele próprio a partir d<strong>os</strong> mecanism<strong>os</strong> estabelecid<strong>os</strong> pelo<br />

grupo cultural e <strong>com</strong>preendid<strong>os</strong> por meio d<strong>os</strong> códig<strong>os</strong> <strong>com</strong>partilhad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> membr<strong>os</strong> <strong>de</strong>sse grupo.<br />

Diante <strong>de</strong>ssa perspectiva, acredita-se que a percepção da própria <strong>aprendizagem</strong>, bem <strong>com</strong>o o<br />

controle e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> parecem p<strong>os</strong>síveis por meio da<br />

discussão coletiva sobre <strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s escolares realizad<strong>as</strong>. Pois, quando um colega ouve, observa ou<br />

imita a estratégia <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> realizada pelo professor ou por outro colega, ao aprendê-la po<strong>de</strong>rá,<br />

p<strong>os</strong>teriormente, internalizá-la e vir a utilizar esta nova estratégia <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> durante su<strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s


8<br />

escolares também, <strong>de</strong>senvolvendo capacida<strong>de</strong>s diferentes d<strong>as</strong> que já p<strong>os</strong>suía.<br />

Doly (1999, p.32) ao relacionar a metacognição <strong>com</strong> a teoria <strong>de</strong> Vygotsky, enfatiza a importância<br />

da consi<strong>de</strong>ração da zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal do aluno. Para ela<br />

a zona proximal <strong>de</strong>fine a zona <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>de</strong> um indivíduo e a <strong>aprendizagem</strong> “torna-se <strong>as</strong>sim um momento<br />

constitutivo essencial do <strong>de</strong>senvolvimento” (VYGOTSKY, 1985). É sobretudo porque a criança apren<strong>de</strong> <strong>os</strong> seus<br />

saberes na escola sob o efeito <strong>de</strong> fatores extern<strong>os</strong> a ajuda do professor (tutor), o tipo <strong>de</strong> situação, a participação<br />

d<strong>os</strong> coleg<strong>as</strong>, etc, - que ela <strong>de</strong>senvolve a sua inteligência e não o inverso.<br />

Para Doly (1999, p. 30), resi<strong>de</strong> na concepção <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>de</strong> Piaget, o ponto <strong>de</strong> ruptura <strong>com</strong><br />

a metacognição, já que segundo a psicologia piagetiana o <strong>de</strong>senvolvimento da inteligência é <strong>de</strong>finido<br />

<strong>com</strong>o o conjunto d<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> mentais que permitem apren<strong>de</strong>r, prece<strong>de</strong> e permite a <strong>aprendizagem</strong>.<br />

Acredita-se que será por meio da <strong>aprendizagem</strong> por interação <strong>com</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong> atuando<br />

<strong>com</strong>o mediadores e <strong>com</strong>o aprendizes, que <strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s metacognitiv<strong>as</strong> parecem tornar-se p<strong>os</strong>síveis na<br />

prática. Como exemplifica Doly (1999, p.32),<br />

(...) é preciso conceber sessões <strong>de</strong> reflexão e <strong>de</strong> avaliação d<strong>os</strong> alun<strong>os</strong> sobre <strong>as</strong> su<strong>as</strong> produções e procediment<strong>os</strong>,<br />

primeir<strong>os</strong> que <strong>as</strong> conduzam, <strong>com</strong> a mediação do professor, a p<strong>as</strong>sar <strong>de</strong> uma avaliação intuitiva e imprecisa,<br />

sempre p<strong>os</strong>sível se a situação estiver em zona proximal - do "isto vai" a "isto não vai" - a, uma avaliação<br />

explícita e precisa dizendo porque é que "isto vai" ou "isto não vai". Quer dizer, levá-l<strong>os</strong> a elaborar e a<br />

conceitualizar critéri<strong>os</strong> que dizem simultaneamente respeito ao produto e a<strong>os</strong> procediment<strong>os</strong> e que em seguida<br />

<strong>de</strong>vem servir para a <strong>auto</strong>-avaliação-regulação ou controle da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção ou <strong>de</strong> reprodução, e isto a<br />

partir da sua produção e da localização d<strong>os</strong> seus err<strong>os</strong>.<br />

Nessa perspectiva, para a pesquisadora, o ponto chave <strong>de</strong>ssa relação da metacognição <strong>com</strong> a teoria<br />

<strong>de</strong> Vygotsky, está em confiar que a <strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva po<strong>de</strong>rá ajudar <strong>os</strong> alun<strong>os</strong> a ampliarem<br />

su<strong>as</strong> capacida<strong>de</strong>s para apren<strong>de</strong>rem mais e melhor. Isso se justifica ao se consi<strong>de</strong>rar que, quanto mais<br />

apren<strong>de</strong>m<strong>os</strong>, mais n<strong>os</strong> <strong>de</strong>senvolvem<strong>os</strong>, e vice-versa; então, quanto mais nós form<strong>os</strong> capacitad<strong>os</strong> para<br />

apren<strong>de</strong>r, maior será a <strong>aprendizagem</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Nesse contexto a prop<strong>os</strong>ição <strong>de</strong> relacionar <strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>interativa</strong> no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da <strong>auto</strong>-percepção e <strong>auto</strong>-avaliação enquanto aprendiz parece contribuir para a<br />

<strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva da <strong>aprendizagem</strong>.<br />

Essa experiência <strong>de</strong> discussão coletiva <strong>com</strong> <strong>os</strong> alun<strong>os</strong> sobre seus process<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>auto</strong>-regualaçãometacognitiva, <strong>de</strong>monstraram a mediação <strong>com</strong>o favorecedora da <strong>auto</strong>-avaliação e<br />

<strong>auto</strong>-regulação. Assim, a reflexão sobre a maneira <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r contribui para a <strong>auto</strong>-avaliação daquilo<br />

que já se sabe e do que precisará saber.<br />

Infere-se, portanto, que <strong>os</strong> diálog<strong>os</strong> <strong>de</strong> reflexão coletiva realizad<strong>os</strong> durante esta pesquisa, po<strong>de</strong>m<br />

contribuir para o aluno perceber a si próprio enquanto aprendiz e ampliar su<strong>as</strong> capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>aprendizagem</strong>.


9<br />

Neste c<strong>as</strong>o, me remete a pensar que a zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong><br />

vygotskian<strong>os</strong> constitua o campo <strong>de</strong> interação d<strong>os</strong> alun<strong>os</strong>. A <strong>aprendizagem</strong> <strong>interativa</strong> <strong>com</strong> a mediação pelo<br />

coletivo .<br />

Os dad<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> por meio do diálogo coletivo sobre a <strong>aprendizagem</strong> são riquíssim<strong>os</strong> para serem<br />

analisad<strong>os</strong> e aprofundad<strong>os</strong> em pesquis<strong>as</strong>. Portanto, consi<strong>de</strong>ra-se relevante dar continuida<strong>de</strong> ao estudo da<br />

<strong>auto</strong>-regulação-metacognitiva <strong>as</strong>sociada a teoria da mediação <strong>de</strong> Vyg<strong>os</strong>tsky, bem <strong>com</strong>o ampliá-la a outr<strong>os</strong><br />

níveis <strong>de</strong> ensino além do superior, o que requer o pr<strong>os</strong>seguimento da pesquisa para analisar <strong>com</strong>o se<br />

<strong>de</strong>senvolvem esses process<strong>os</strong> no ensino fundamental e médio.<br />

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