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Revista Portfolium | 01

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| |RETRANCA| CRÔNICAS JORNALISTA<br />

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Carta<br />

(por Rodrigo Franco)<br />

Leva o Violão<br />

(por Jocemi Oliveira)<br />

Andava sozinha pela rua movimentada. Atravessava a multidão de pessoas<br />

que seguiam ocupadas para seus afazeres cotidianos. Calçadas<br />

tão lotadas quanto os transportes públicos da cidade. Seguia sozinha<br />

em meio ao caos. Para ela, aquela rua parecia vazia. Não via ninguém a sua<br />

frente, também não sentia o chão em que pisava. Sentia como se estivesse flutuando.<br />

Sentia-se anestesiada com as pontadas de felicidade que lhe percorriam<br />

o corpo. Seu sorriso iluminava a cidade cinza e inundava cada uma das largas<br />

avenidas da metrópole.<br />

Andava abraçada com a carta que escrevera. Apertava-a forte contra o<br />

peito ainda sem acreditar na coragem que tivera ao produzir seu teor. Pedidos<br />

de desculpas e declarações que afirmavam que ela sentia todas as emoções<br />

que o coração permitia carregar.<br />

Mal conseguia acreditar, finalmente tudo daria certo dessa vez. Aquela<br />

carta seria sua salvação. Seria a cura para todos os males. Sentiu a esperança<br />

materializar-se em uma lágrima. Achou melhor enxugá-la antes que escorresse<br />

pelo rosto. Com as mãos nos olhos não percebeu que a calçada chegara<br />

ao fim, também não se deu conta do ônibus que vinha. Sentiu apenas o forte<br />

impacto. Ouviu seu gemido que acompanhou seu arremesso ao chão, de<br />

encontro à faixa de pedestres enquanto seu envelope voava lentamente aos<br />

caprichos do vento. Aquela carta que poderia mudar tudo, nunca foi entregue<br />

para seu destinatário.<br />

Tem sempre aquela canção que lhe faz relembrar um amor. Eu diria até que<br />

são canções no plural, que marcam detalhes de um musical escrito à dois,<br />

cheio de tons e sobretons.<br />

A musicalidade de um romance depende da compatibilidade das partes<br />

interessadas. Não se pode amar Rock se o sentimento é MPB. As notas não<br />

batem, assim como as opiniões.<br />

Existem aqueles camaleões que lhe mostram um capa maravilhosa, tem boa<br />

conversa como as primeiras faixas de um disco, caem na rotina nas canções<br />

tediosas do meio, e ao invés de lhe apresentar faixa extra quando tudo vai mau,<br />

lhe apresenta arranhões irreparáveis.<br />

O amor não é bossa nova, calmo e encantador. Trata-se de um ópera das<br />

mais alucinantes. Alguns o veem como clássico do rock, outros como a mais<br />

pura gafieira. Não sei ao certo qual o ritmo que me escolheu, da última vez era<br />

solo de violão, agora já não sei mais.<br />

Às vezes, tudo da em samba, outras horas torna-se o melhor folk rock que<br />

podemos ouvir na vida; mas uma coisa é certa; o amor é como a música, nunca<br />

conhecemos todas e sempre achamos conhecer o suficiente. Às vezes nos faz<br />

chorar, outras nos tira para dançar, e mesmo que seja quase impossível de ouvila,<br />

ela nunca para de tocar.<br />

Enquanto a letra e a melodia não se encaixam, tenha certeza que você<br />

ainda não encontrou seu ritmo perfeito; mas ele chega, e se não chegar você<br />

samba, até que o amor te ensine que nem corvo voa solo, pois enquanto você<br />

canta alguma melodia se encanta.<br />

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