CARTA ABERTA DE TONI REIS AO JOSÉ SERRA Prezado ... - Anis
CARTA ABERTA DE TONI REIS AO JOSÉ SERRA Prezado ... - Anis
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<strong>Prezado</strong> José Serra,<br />
<strong>CARTA</strong> <strong>ABERTA</strong> <strong>DE</strong> <strong>TONI</strong> <strong>REIS</strong> <strong>AO</strong> <strong>JOSÉ</strong> <strong>SERRA</strong><br />
Tenho 48 anos, sou gay e atualmente sou presidente da ABGLT – Associação Brasileira<br />
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Sou casado oficialmente com<br />
David Harrad há 23 anos e somos os pais legais de Alyson Miguel Harrad Reis. Quando<br />
eu era adolescente na escola meu comportamento também era considerado por algumas<br />
pessoas “impróprio e ridículo” só pelo fato de eu ser gay, prejudicando-me pela<br />
marginalização imposta por uma condição sobre a qual não tive escolha. Foi o que me<br />
motivou a ser um ativista pelo respeito à diversidade sexual, para que outros e outras<br />
adolescentes não sofressem o que eu sofri na escola, na família e na sociedade nessa<br />
fase da minha vida. Foi o impulso que me fez estudar, de modo que hoje sou professor<br />
formado em letras, especialista em sexualidade humana, mestre em filosofia na área de<br />
ética e sexualidade, e doutor em educação, sendo que minha tese de doutorado é<br />
justamente sobre a homofobia no ambiente escolar. Cito algumas falas dos/das<br />
profissionais de educação e estudantes entrevistados na pesquisa que fundamentou a<br />
tese, para evidenciar o quanto a homofobia está presente nas escolas e o pouco que se<br />
faz para amenizá-la:<br />
(se um filho meu fosse gay) “não ia querer, eu ia expulsar, ou batia nele e fazia<br />
ele virar homem” (estudante).<br />
“A homossexualidade é um pecado, é contra a natureza e as leis de Deus. Deus<br />
fez o homem para a mulher e a mulher para o homem”. (professor)<br />
“Na verdade a escola ignora [a homofobia] porque ela não quer trazer mais<br />
essa questão pra resolver” “(Grupo focal com professores(as))<br />
“E a escola não trabalha com isso. Não trabalha, nem quer.” (Grupo focal com<br />
professores(as))<br />
Estes exemplos não são isolados e recorrem repetidamente em todas as entrevistas.<br />
Junto com diversos outros estudos, estes dados concretos servem para respaldar a<br />
necessidade urgente de se ter um trabalho – apoiado por materiais educacionais<br />
específicos – de promoção do respeito à diversidade sexual nas escolas.<br />
José Serra, você tem sido um grande defensor dos direitos humanos, um dos melhores<br />
ministros da saúde que o Brasil já teve, que inclusive soube preservar a laicidade do<br />
Estado nas questões ligadas ao direito das pessoas à saúde. Sou testemunha ocular disso.<br />
Você lutou na ditadura militar pelo reestabelecimento da democracia, foi presidente da<br />
União dos Estudantes do Brasil, foi deputado estadual e federal e senador, entre outros<br />
destaques de sua carreira.<br />
Durante seus mandatos como prefeito da Cidade de São Paulo e governador do Estado<br />
de São Paulo, você liderou várias iniciativas de vanguarda na promoção do respeito à<br />
diversidade sexual e às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais<br />
(LGBT). Entre elas pode-se citar:
A criação da CADS – Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual, dentro<br />
da estrutura da Prefeitura em 2007;<br />
a criação da Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de<br />
São Paulo junto à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, por meio do<br />
Decreto nº 54.032, de 18 de fevereiro de 2009;<br />
a inauguração do Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais no<br />
dia 09 de junho de 2009;<br />
a certificação pelo governo paulista, em 18 de agosto de 2009, de diversas<br />
empresas e ações com o Selo da Diversidade, no reconhecimento de seus<br />
esforços em contribuir para a superação do preconceito e da discriminação, e<br />
para a promoção da igualdade e inclusão social de segmentos da sociedade<br />
tradicionalmente marginalizadas;<br />
O reconhecimento do nome social (tratamento nominal) das pessoas transexuais<br />
e travestis nos órgãos públicos do Estado de São Paulo, por meio do Decreto nº<br />
55.588, de 17 de março de 2010.<br />
Posto isto, conhecendo pelo menos parte de seu histórico, fiquei muito entristecido pelo<br />
uso indevido do debate sobre as políticas públicas de combate à homofobia como uma<br />
arma eleitoral, referindo-se ao material educativo do projeto Escola Sem Homofobia<br />
como um “KIT GAY” com “ASPECTOS RIDÍCULOS E IMPRÓPRIOS” para<br />
crianças.<br />
Esta declaração somente pode ser considerada uma manifestação do legítimo préconceito<br />
– um conceito antecipado, uma vez que o julgamento do material como sendo<br />
“ridículo e impróprio” foi feito em relação a algo inacabado, que ainda não está em sua<br />
versão final, que ainda não teve a aprovação do Ministério da Educação.<br />
Ademais, o material é destinado a educadoras e educadores do ensino médio, para<br />
trabalhar a homofobia no ambiente escolar (entre professores/as, funcionárias/os e<br />
estudantes).<br />
Não é correto se referir ao “kit gay” em se tratando destes materiais educativos. É um<br />
desrespeito aos/às profissionais que trabalharam na sua elaboração. Este termo<br />
politicamente incorreto foi cunhado por um deputado federal de conduta ética duvidosa,<br />
cujo histórico de atuação e declarações públicas são testemunhas de seu desprezo pela<br />
democracia e pela pluralidade da sociedade, a quem – a título de exemplo – são<br />
atribuídas as seguintes falas, entre muitas outras: ‘O grande erro da ditadura foi não<br />
matar vagabundos e canalhas como Fernando Henrique;’ em programa exibido pela<br />
Band, o deputado sugeriu o fechamento do Congresso e afirmou que durante a ditadura<br />
militar deveriam ter sido fuzilados ‘uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente<br />
Fernando Henrique Cardoso’. Ou seja quem usa a denominação “kit gay” está<br />
concordando com este parlamentar preconceituoso: “Conhecereis a verdade e a verdade<br />
vos libertará.”<br />
Informo também que o projeto Escola Sem Homofobia foi resultado de uma emenda<br />
parlamentar da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados
destinada para a área da educação federal, para execução por uma organização não<br />
governamental, e não pelo Ministério da Educação. Neste sentido, pode ser encontrada<br />
abaixo e no link http://www.abglt.org.br/port/basecoluna.phpcod=246 a Nota Oficial<br />
sobre o Projeto Escola Sem Homofobia, que descreve com maior detalhamento suas<br />
ações, as quais não se restringiram apenas aos materiais educativos, mas também<br />
envolveram seminários, capacitações e uma pesquisa em escolas em 11 capitais<br />
brasileiras abrangendo as cinco regiões do país.<br />
São diversas as pesquisas realizadas nas escolas brasileiras por instituições de renome,<br />
como a UNESCO, que demonstram que a necessidade de ações educativas nas escolas<br />
contra a homofobia é inegável. Na falta de uma ação governamental contundente neste<br />
sentido, o material didático do Projeto Escola Sem Homofobia visa contribuir para<br />
suprir esta lacuna. A proposta do material foi elaborada pela organização não<br />
governamental ECOS - Comunicação em Sexualidade, e foi avaliado e adequado de<br />
forma coletiva e democrática pelos/pelas 509 profissionais que participaram dos<br />
seminários e capacitações do Projeto, antes de ser entregue ao Ministério da Educação<br />
para adequação final e aprovação.<br />
Ainda, o material educativo foi analisado pelo Departamento de Justiça, Classificação,<br />
Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça, que faz a "classificação indicativa" (a<br />
idade recomendada para assistir a um filme ou programa de televisão). O vídeo Medo<br />
de Quê recebeu indicação para 12 anos, o Boneco na Mochila, 10 anos e o Torpedo<br />
(com 3 histórias) indicação livre.<br />
O conjunto de materiais foi avaliado pelo Conselho Federal de Psicologia, pela<br />
UNESCO e pelo UNAIDS, e teve parecer favorável das três instituições. Recebeu o<br />
apoio declarado do CEDUS – Centro de Educação Sexual, da União Nacional dos<br />
Estudantes, da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, e foi objeto de uma<br />
audiência pública promovida pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, cujo<br />
parecer também foi favorável. Ainda, teve uma moção de apoio aprovada pela<br />
Conferência Nacional de Educação, da qual participaram três mil delegados e delegadas<br />
representantes de todas as regiões do país, estudantes, professores e demais<br />
profissionais da área.<br />
Ou seja, tem-se comprovado, por diversas fontes devidamente qualificadas e<br />
respeitadas, com base em informações científicas, que o material estava perfeitamente<br />
adequado para o Ensino Médio, a que se destinava.<br />
Assim, eu peço, para uma boa política comprometida com o respeito a toda a população,<br />
como tem sido a marca de sua atuação nos cargos que ocupou, que continue dando<br />
ênfase à promoção indiscriminada da cidadania e da inclusão social, e que a população<br />
de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) não seja utilizada para<br />
gerar polêmica em época eleitoral, ou em qualquer outra época. Isto só serve para<br />
validar, banalizar e incentivar a homofobia e manter a esta população à margem da<br />
cidadania.<br />
<strong>Prezado</strong> José Serra, não manche sua biografia. Não rife nossos direitos. Uma sugestão é<br />
seguir o grande exemplo do Supremo Tribunal Federal, que em 5 de maio de 2011<br />
reconheceu inequívoca e unanimemente os princípios da igualdade, da liberdade e da<br />
dignidade humana da população LGBT. É isso que nós queremos.
Toni Reis<br />
Presidente da ABGLT<br />
Doutor em Educação<br />
Mestre em Filosofia<br />
Especialista em Sexualidade Humana<br />
Formado em Letras pela UFPR<br />
Nota Oficial sobre o Projeto Escola Sem Homofobia<br />
Diante de fatos e notícias sobre o Conjunto de Material Educativo do Projeto Escola<br />
Sem Homofobia, vimos a público informar de que se trata o material.<br />
O que foi o Projeto Escola Sem Homofobia<br />
O Projeto Escola Sem Homofobia, apoiado pelo Ministério da Educação/Secretaria de<br />
Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (MEC/SECADI), teve por<br />
objetivo “contribuir para a implementação do Programa Brasil sem Homofobia pelo<br />
Ministério da Educação, através de ações que promovessem ambientes políticos e<br />
sociais favoráveis à garantia dos direitos humanos e da respeitabilidade das orientações<br />
sexuais e identidade de gênero no âmbito escolar brasileiro”. A justificativa do projeto e<br />
suas atividades se encontram ao final deste documento.<br />
O Projeto foi planejado e executado em parceria entre a rede internacional Global<br />
Alliance for LGBT Education – GALE; as organizações não governamentais Pathfinder<br />
do Brasil; ECOS – Comunicação em Sexualidade; Reprolatina – Soluções Inovadoras<br />
em Saúde Sexual e Reprodutiva; e ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays,<br />
Bissexuais, Travestis e Transexuais. Todas as etapas de seu planejamento e execução<br />
foram amplamente discutidas e acompanhadas pelo MEC/SECADI.<br />
Produtos do Projeto Escola Sem Homofobia<br />
O Projeto teve dois produtos específicos, a fim de alcançar o objetivo acima<br />
mencionado:<br />
1) Um conjunto de recomendações elaborado para a orientação da revisão, formulação e<br />
implementação de políticas públicas que enfoquem a questão da homofobia nos<br />
processos gerenciais e técnicos do sistema educacional público brasileiro, que se baseou<br />
nos resultados de duas atividades:<br />
a) Realização de 5 seminários, um em cada região do país, com a participação de<br />
um total de 206 pessoas, entre elas profissionais da educação, gestores e<br />
representantes da sociedade civil, para obter um perfil da situação da homofobia<br />
na escola, a partir da realidade cotidiana dos envolvidos.<br />
b) Realização de uma pesquisa qualitativa sobre homofobia na comunidade<br />
escolar em 11 capitais das 5 regiões do país, envolvendo 1406 participantes,
entre secretários(as) de saúde, gestores(as) de escolas, professores(as),<br />
estudantes e outros integrantes das comunidades escolares. A metodologia da<br />
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp.<br />
2) A incorporação e institucionalização de uma estratégia de comunicação para<br />
trabalhar as manifestações da homo/lesbo/transfobia em contextos educativos e que<br />
repercuta nos valores culturais atuais. A estratégia compreendeu:<br />
a) Criação de um conjunto de materiais educativos com conteúdos teóricos e<br />
sugestões de atividades que ajudam a identificar e erradicar a homo-lesbotransfobia<br />
do ambiente escolar, direcionado para gestores(as) e educadores(as).<br />
b) Capacitação de técnicos(as) da educação e de representantes do movimento<br />
LGBT de todos os estados do país para a utilização apropriada do conjunto de<br />
material educativo junto à comunidade escolar.<br />
Conjunto de material educativo Escola sem Homofobia<br />
O material se destina à formação dos/das professores(as) em geral, dando a eles<br />
subsídios para trabalharem os temas no ensino médio.<br />
Não é correto se referir ao “kit gay” em se tratando destes materiais educativos.<br />
Trata-se de um conjunto de instrumentos didático-pedagógicos que visam à<br />
desconstrução de imagens estereotipadas sobre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e<br />
transexuais e para o convívio democrático com a diferença, contribuindo para:<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Alterar concepções didáticas, pedagógicas e curriculares, rotinas escolares e<br />
formas de convívio social que funcionam para manter dispositivos pedagógicos<br />
de gênero e sexualidade que alimentam a homofobia.<br />
Promover reflexões, interpretações, análises e críticas acerca de algumas noções<br />
que frequentemente habitam as escolas com tal “naturalidade” ou que se<br />
naturalizam de tal modo que se tornam quase imperceptíveis, no que se refere<br />
não apenas aos conteúdos disciplinares como às interações cotidianas que<br />
ocorrem nessa instituição.<br />
Desenvolver a criticidade juvenil relativamente a posturas e atos que<br />
transgridam o artigo V do Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual:<br />
“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,<br />
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da<br />
lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”.<br />
Divulgar e estimular o respeito aos direitos humanos e às leis contra a<br />
discriminação em seus diversos âmbitos<br />
Cumprir as diretrizes do MEC; da SECADI; do Programa Brasil sem<br />
Homofobia; da Agenda Afirmativa para Gays e outros HSH e Agenda<br />
Afirmativa para Travestis do Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de<br />
AIDS e das DST entre Gays, HSH e Travestis; dos Parâmetros Curriculares<br />
Nacionais; do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de<br />
LGBT; do Programa Nacional de Direitos Humanos III; das deliberações da 1ª
Conferência Nacional de Educação; do Plano Nacional de Educação em Direitos<br />
Humanos; e outras.<br />
O conjunto de materiais educativos é composto de:<br />
- um caderno<br />
- uma série de seis boletins (Boleshs)<br />
- três audiovisuais com seus respectivos guias<br />
- um cartaz<br />
- cartas de apresentação para o/a gestor(a) e para o/a educador(a).<br />
Segue um resumo dos materiais:<br />
CA<strong>DE</strong>RNO ESCOLA SEM HOMOFOBIA – peça-chave do conjunto de<br />
materiais, articula com os outros componentes (DVDs/audiovisuais, guias que<br />
acompanham os DVDs/audiovisuais, boletins). Traz conteúdos teóricos,<br />
conceitos básicos e sugestões de dinâmicas/oficinas práticas para o/a<br />
educador(a) trabalhar o tema da homofobia em sala de aula/na escola/na<br />
comunidade escolar visando a reflexão, compreensão, confronto e eliminação da<br />
homofobia no ambiente escolar. As propostas de dinâmicas contidas no caderno<br />
têm interface com os DVDs/audiovisuais e boletins.<br />
BOLETINS ESCOLA SEM HOMOFOBIA (BOLESHS) - série de 6 boletins,<br />
destinados às/aos estudantes cada um abordando um assunto relacionado ao<br />
tema da sexualidade, diversidade sexual e homofobia. Trazem conteúdos que<br />
contribuem para a compreensão da sexualidade como construção histórica e<br />
cultural; para saber diferenciar sexualidade e sexo; para reconhecer quando<br />
valores pessoais contribuem ou não para a manutenção dos mecanismos da<br />
discriminação a partir da reprodução dos estereótipos; para agir de modo<br />
solidário em relação às pessoas independente de sua orientação sexual, raça,<br />
religião, condição social, classe social, deficiência (física, motora, intelectual,<br />
sensorial); para perceber e corrigir situações de agressão velada e aberta em<br />
relação a pessoas LGBT.<br />
AUDIOVISUAIS:<br />
a) DVD Boneca na Mochila (Versão em LIBRAS)<br />
Ficção que promove a reflexão crítica sobre como as expectativas de gênero<br />
propagadas na sociedade influenciam a educação formal e informal de crianças,<br />
através de situações que, se não aconteceram em alguma escola, com certeza já<br />
foram vivenciadas por famílias no mesmo contexto ou em outros.<br />
Baseado em história verídica, mostra um motorista de táxi que conduz uma<br />
mulher aflita chamada a comparecer à escola onde seu filho estuda, apenas<br />
porque o flagraram com uma boneca na mochila. Durante o caminho,<br />
casualmente, o rádio do táxi está sintonizando um programa sobre<br />
homossexualidade que, além de noticiar o fato que se passa na escola onde<br />
estuda o menino em questão, promove um debate com especialistas em educação<br />
e em psicologia, a respeito do assunto.<br />
b) DVD Medo de quê<br />
Desenho animado que promove uma reflexão crítica sobre como as expectativas<br />
que a sociedade tem em relação ao gênero influenciam a vivência de cada pessoa
com seus desejos, mostrando o cotidiano de personagens comuns na vida real. O<br />
formato desenho animado, sem falas, facilita a comunicação na perspectiva da<br />
inclusão, pois pode ser apreciado por pessoas que não sabem ler ou que tenham<br />
deficiência auditiva<br />
Marcelo, o personagem principal, é um garoto que, como tantos outros, tem<br />
sonhos, desejos e planos. Seus pais, seu amigo João e a comunidade onde vive<br />
mostram expectativas em relação a ele que não são diferentes das que a<br />
sociedade tem a respeito dos meninos. Porém nem sempre os desejos de Marcelo<br />
correspondem ao que as pessoas esperam dele. Mas quais são mesmo os desejos<br />
de Marcelo Essa questão gera medo, tanto em Marcelo quanto nas pessoas que<br />
o cercam.<br />
Medo de quê Em geral, as pessoas têm medo daquilo que não conhecem bem.<br />
Assim, muitas vezes alimentam preconceitos que se manifestam nas mais<br />
variadas formas de discriminação. A homofobia é uma delas.<br />
c) Audiovisual Torpedo<br />
Audiovisual que reúne três histórias que acontecem no ambiente escolar:<br />
Torpedo; Encontrando Bianca e Probabilidade.<br />
Torpedo - animação com fotos, que apresenta questões sobre a lesbianidade<br />
através da história do início do namoro entre duas garotas que estudam na<br />
mesma escola: Ana Paula e Vanessa.<br />
Ana Paula estava na aula de informática com toda a turma vendo na internet<br />
fotos dela e de Vanessa numa festa em manifestações de carinho. A partir daí, as<br />
duas se questionam sobre como as pessoas irão reagir e sobre que atitude tomar.<br />
Após algumas especulações, decidem se encontrar no pátio na hora do intervalo.<br />
Lá, assertivamente, assumem sua relação afetiva num abraço carinhoso assistido<br />
por todos.<br />
Encontrando Bianca - por meio de uma narrativa ficcional em primeira pessoa,<br />
num tom confessional e sem autocomiseração, como num diário íntimo, José<br />
Ricardo/Bianca revela a descoberta e a busca de sua identidade travesti. Sempre<br />
narrada em tempo presente, acompanhamos a trajetória de Bianca e os dilemas<br />
de sua convivência dentro do ambiente escolar: sua tendência a se aproximar e<br />
se identificar com o universo feminino; as primeiras vezes em que se vestiu de<br />
mulher; a primeira vez em que foi para a escola com as unhas pintadas, cada vez<br />
assumindo mais, no ambiente escolar, sua identidade travesti; a dificuldade de<br />
ser chamada pelo nome (Bianca) com o qual se identifica; os problemas por não<br />
conseguir utilizar, sem constrangimentos, tanto o banheiro feminino quanto o<br />
masculino; as ameaças e agressões de um lado e os poucos apoios de outro.<br />
Probabilidade - em tom leve e bem-humorado, o narrador conta a história de<br />
Leonardo, Carla, Mateus e Rafael. Leonardo namora Carla e fica triste quando<br />
sua família muda de cidade. Na nova escola, Leonardo é bem recebido por<br />
Mateus, que se torna um grande amigo. Mas ele só compreende por que a galera<br />
fazia comentários homofóbicos a respeito dele e de Mateus quando este lhe diz<br />
ser gay. Um dia, Mateus convida Leonardo para a festa de despedida de um<br />
primo, Rafael, que também está de mudança.<br />
Durante a festa, Leonardo conversa com Rafael e, depois da despedida, fica<br />
refletindo sobre a atração que sentiu pelo novo amigo que partia. Inicialmente<br />
sentiu-se confuso, porque também se sentia atraído por mulheres, mas ficou<br />
aliviado quando começou a entender sua bissexualidade.
Ainda, o material audiovisual foi analisado pelo Departamento de Justiça, Classificação,<br />
Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça, que faz a "classificação indicativa" (a<br />
idade recomendada para assistir a um filme ou programa de televisão). O vídeo Medo<br />
de Quê recebeu indicação para 12 anos, o Boneco na Mochila, 10 anos e o Torpedo<br />
(com 3 histórias) indicação livre.<br />
d) <strong>CARTA</strong>Z E <strong>CARTA</strong>S PARA GESTORA/R E EDUCADORAS/R – o cartaz tem a<br />
finalidade de divulgar o projeto para a escola e para a comunidade escolar e as<br />
cartas apresentam o conjunto de materiais para o/a gestor(a) e educadores(as),<br />
respectivamente.<br />
Capacitação Escola sem Homofobia<br />
Segundo elemento da estratégia, a capacitação teve por objetivo habilitar um grupo de<br />
pessoas a atuar como multiplicadoras na compreensão dos conceitos principais e na<br />
utilização do material educativo do projeto ESH, como instrumento para contribuir para<br />
a erradicação da homofobia no ambiente escolar.<br />
Foram realizadas seis capacitações com cerca de 200 profissionais da educação de todos<br />
os estados no uso dos materiais – três em São Paulo e três em Salvador nos meses de<br />
agosto e setembro de 2010. Estes/estas profissionais serão multiplicadores(as),<br />
responsáveis por capacitar outros(as) profissionais da educação no âmbito local.<br />
A metodologia empregada nas capacitações foi participativa e incorporou técnicas de<br />
educomunicação, além de discussões em grupo, troca de experiências. Utilizou técnicas<br />
e conteúdos teóricos presentes no Caderno Escola sem Homofobia e incorporou os<br />
outros elementos (DVDs/audiovisuais, guias que acompanham os DVDs/audiovisuais,<br />
boletins).<br />
Pesquisa qualitativa do projeto Escola sem Homofobia<br />
Foi realizada uma pesquisa qualitativa com o objetivo de conhecer a percepção das<br />
autoridades educacionais, equipe docente, funcionários/as e estudantes da rede pública<br />
de ensino, sobre a situação da homofobia no ambiente escolar, para dar subsídios ao<br />
programa Brasil sem Homofobia. A pesquisa foi realizada em 11 capitais das 5 regiões<br />
do país e incluiu em cada capital quatro escolas da rede municipal e estadual. O projeto<br />
de pesquisa foi aprovado pelo MEC/SECADI. A metodologia do projeto de pesquisa foi<br />
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da<br />
UNICAMP em 15 de julho de 2008. De acordo à Resolução 196/96 do Conselho<br />
Nacional de Saúde, o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) foi assinado<br />
por todos(as) os(as) participantes em entrevistas em profundidade e grupos focais.<br />
Todos/a os/as estudantes menores de 18 anos tiveram assinado o TCLE pelos pais ou<br />
responsáveis legais. Um total de 1406 participantes de entrevistas e grupos focais que<br />
incluíram Secretários/as Municipal e Estadual de educação, diretores/as de escola,<br />
coordenadores/as pedagógicos, educadores, outros funcionários como guardas,<br />
merendeiras e estudantes de escolas públicas. Os principais resultados da pesquisa<br />
mostraram que existe homofobia na escola e houve consenso de que as atitudes e<br />
práticas de discriminação e violência trazem consequências sérias para os e as
estudantes, que vão desde tristeza, depressão, baixa na autoestima, queda no rendimento<br />
escolar, evasão escolar e até casos de suicídio foram relatados. A pesquisa também<br />
mostrou que embora exista uma política de educação sexual, na opinião de estudantes e<br />
de educadores, não há educação sexual de maneira sistemática na escola e não se<br />
abordam as diversidades sexuais. Entre os motivos apontados está a falta compreensão<br />
sobre a homossexualidade, a falta de preparo de educadores/as sobre o tema sexualidade<br />
e diversidades sexuais, o preconceito que existe na escola sobre o tema, o temor da<br />
reação das famílias e a falta de materiais para trabalhar o tema. Os resultados mostraram<br />
também uma invisibilidade da população LGBT na escola, houve consenso de que há<br />
mais gays que lésbicas na escola e que travestis e transexuais não estão na escola. As<br />
recomendações feitas incluíram realizar cursos de capacitação para educadores/as sobre<br />
o tema e disponibilizar nas escolas materiais que permitam acabar com a homofobia na<br />
escola.<br />
Posição atual quanto ao material educativo Escola sem Homofobia<br />
Os arquivos eletrônicos com os conteúdos dos materiais estão com o Ministério da<br />
Educação, especificamente a Coordenação-Geral de Educação e Direitos Humanos da<br />
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI),<br />
aguardando o parecer final e aprovação. Uma vez aprovados, o compromisso assumido<br />
pela SECADI é de imprimir/copiar e distribuir o conjunto de materiais para 6.000<br />
escolas.<br />
A versão eletrônica dos materiais, para conhecimento e disponibilização via download<br />
nos sites da ECOS e das ONGs parcerias, somente acontecerá após aprovação e<br />
autorização pelo MEC/SECADI, conforme o Ofício nº 825/2011 – GAB/SECAD/MEC.<br />
Isto significa que qualquer versão dos materiais que esteja circulando hoje não é a<br />
versão definitiva.<br />
Assinam esta Nota Oficial:<br />
ABGLT - Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, bissexuais Travestis e Transexuais<br />
Pathfinder do Brasil.<br />
ECOS - Comunicação em Sexualidade<br />
Reprolatina - Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva<br />
Situação-problema que justificou e justifica a realização do Projeto Escola Sem<br />
Homofobia<br />
Estudos publicados nos últimos cinco anos vêm demonstrando e confirmando cada vez<br />
mais o quão a homo-lesbo-transfobia (medo ou ódio irracionalmente às pessoas LGBT)
permeia a sociedade brasileira e está presente nas escolas. A pesquisa intitulada<br />
“Juventudes e Sexualidade”, realizada pela Unesco no ano 2000 e publicada em 2004,<br />
foi aplicada em 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras. Segundo<br />
resultados da pesquisa, 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um<br />
colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem<br />
um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter<br />
conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de<br />
aula.<br />
O estudo "Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas<br />
Escolas", publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana,<br />
baseada em uma amostra de 10 mil estudantes e 1.500 professores(as) do Distrito<br />
Federal, e apontou que 63,1% dos entrevistados alegaram já ter visto pessoas que são<br />
(ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade dos/das<br />
professores(as) afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais<br />
nas escolas; e 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmaram que não gostariam de<br />
ter colega homossexual na sala de aula.<br />
A pesquisa “Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar” realizada pela<br />
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, e também publicada em 2009, baseou-se<br />
em uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e<br />
funcionários, e revelou que 87,3% dos entrevistados têm preconceito com relação à<br />
orientação sexual.<br />
A Fundação Perseu Abramo publicou em 2009 a pesquisa “Diversidade Sexual e<br />
Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais”, que indicou que<br />
92% da população reconheceram que existe preconceito contra LGBT e que 28%<br />
reconheceram e declarou o próprio preconceito contra pessoas LGBT, percentual este<br />
cinco vezes maior que o preconceito contra negros e idosos, também identificado pela<br />
Fundação.<br />
A pesquisa realizada em escolas de 11 capitais brasileiras por meio do próprio Projeto<br />
Escola Sem Homofobia apontou, entre outras, as seguintes Considerações Finais:<br />
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Constatou-se que existe sim homofobia nas escolas, reconhecida pela grande<br />
maioria das e dos participantes como um problema importante que merece toda a<br />
atenção, não somente das autoridades educacionais, mas de toda a sociedade.<br />
Por outro lado, existe um grande desconhecimento sobre os conceitos básicos de<br />
sexualidade, identidade sexual e diversidades sexuais. Embora o discurso seja,<br />
muitas vezes, de tolerância e aceitação da diversidade, a maioria das pessoas não<br />
aceita a homossexualidade e a rejeita por considerá-la pecado, desvio, perversão,<br />
doença ou, pelo menos, anormalidade.<br />
As consequências da homofobia são muito prejudiciais para adolescentes LGBT<br />
e inclui tristeza, baixa autoestima, isolamento, violência, abandono escolar até o<br />
suicídio.<br />
Especialmente travestis e transexuais não podem continuar na escola por ser a<br />
escola um ambiente hostil para eles/as. As práticas de violência homofóbica
foram relatadas com detalhes, embora nem sempre reconhecidas como<br />
homofobia.<br />
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A grande maioria dos e das estudantes pensa que a homofobia existe, é um<br />
problema importante e que não estão sendo implementadas ações efetivas para<br />
tentar eliminá-la ou, pelo menos, reduzi-la. Os estudantes referem que a escola<br />
esta sendo omissa frente a estudantes LGBT e que ainda que solicitem que sejam<br />
tratados temas como diversidade sexual, homofobia e discriminação, os<br />
professores, em geral, evitam discuti-los.<br />
Há uma grande distância entre a teoria e a prática com relação às políticas de<br />
educação sexual. As e os professores reconhecem que não aplicam muitas das<br />
recomendações estabelecidas nas políticas e planos anuais porque sentem que<br />
não estão preparados para atuar na área das diversidades sexuais e da homofobia<br />
e também porque temem que as famílias se oponham a que esses temas sejam<br />
tratados nas escolas, entre outros motivos declarados, como a falta de tempo e a<br />
sobrecarga de responsabilidades.<br />
Essas diversas e conceituadas fontes não deixam dúvidas de que há muito a ser feito<br />
para diminuir a homo-lesbo-transfobia, e uma das instituições que mais podem<br />
influenciar positivamente nesse processo é a escola. Muito trabalho já vem sendo feito<br />
nessa área e é importante destacar as recomendações aprovadas na Conferência<br />
Nacional de Educação Básica em relação à diversidade sexual, dentre as quais citamos:<br />
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Evitar discriminações de gênero e diversidade sexual em livros didáticos e<br />
paradidáticos utilizados nas escolas;<br />
Ter programas de formação inicial e continuada em sexualidade e<br />
diversidade;<br />
Promover a cultura do reconhecimento da diversidade de gênero, identidade<br />
de gênero e orientação sexual no cotidiano escolar;<br />
Evitar o uso de linguagem sexista, homofóbica e discriminatória em material<br />
didático-pedagógico;<br />
Inserir os estudos de gênero e diversidade sexual no currículo das<br />
licenciaturas.<br />
A Conferência Nacional LGBT (2008) aprovou 561 recomendações para políticas<br />
públicas para pessoas LGBT em diversas áreas, as quais foram sistematizadas no Plano<br />
Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, lançado em 14 de<br />
maio de 2009. O Plano prevê quinze ações a serem executadas pelo Ministério da<br />
Educação e é uma importante ferramenta para a promoção da inclusão e do respeito à<br />
diversidade nas escolas.<br />
A Conferência Nacional de Educação (2010), no seu Eixo Temático VI, aprovou mais<br />
de 20 recomendações relativos a gênero e diversidade sexual.<br />
As pesquisas citadas nesse texto podem ser consultadas em<br />
http://www.abglt.org.br/port/pesquisas.php e em<br />
http://www.reprolatina.org.br/site/html/atividades/downloads/escola_sem_homofobia/R<br />
elatorio_Tecnico_Final.pdf