Discurso como orador. - Impa
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<strong>Discurso</strong> <strong>como</strong> <strong>orador</strong>.<br />
(Matemática, Unicamp, 2005)<br />
Estamos nos formando bacharéis em matemática. A maneira que pensamos<br />
atualmente foi extremamente influenciada pelo curso, mas não é fácil<br />
explicar o que o curso fez por nós e se fosse preciso resumir em uma palavra<br />
usaria ”fantástico”. É de se pensar então que tudo foi um mar de rosas. Entretanto<br />
se assim o fosse tenho certeza que hoje não estaria aqui dizendo que<br />
valeu tanto a pena. Aprendemos que tudo tem um preço e se hoje ficamos<br />
orgulhosos pelo que passamos, é porque muito suor e lágrima foram deixados<br />
nestes últimos anos.<br />
O curso deveria ficar mais difícil a medida que fossem passando os semestres,<br />
mas a verdade é que os primeiros semestres foram os mais difíceis.<br />
Isto porque no começo há muita mudança, entramos em contato com uma<br />
nova realidade. A maioria dos estudantes vieram de outras cidades, morar<br />
longe de sua família, do conforto de casa e além disso tinhamos que nos adaptar<br />
com esta nova forma de pensar que nos impõe o curso. Era necessário<br />
aprender a estudar mais e melhor. Não eramos capazes de perceber que estavamos<br />
passando por uma mudança drástica, porém muito sutil. A grande<br />
virtude foi termos sido capazes de percebe-la futuramente. Desconheço quem<br />
nunca se perguntou se estava no caminho certo, frequentemente acreditavamos<br />
que talvez mudar de curso fosse a melhor opção. No entanto, toda<br />
essa dificuldade fez parte do nosso crescimento não só pessoal quanto principalmente<br />
matemático. Superando estas dificuldades aprendiamos cada vez<br />
mais a lidar melhor com as nossas próprias frustrações. Essa atitude é a<br />
que deve estar presente, se quisermos ser grandes pesquisadores. Não existe<br />
um grande matemático que não consiga lidar com pressão e frustração. Sem<br />
dúvida adquirimos um pouco dessas habilidades na Unicamp, que é uma<br />
universidade pública. E sendo uma universidade pública, por curiosidade<br />
poderiamos nos perguntar quanto custou nossa formação.<br />
Sem sombra de dúvida se fossemos calcular quanto custou a educação<br />
que nos deram, tendo em vista toda a infra-estrutura que tivemos a nossa<br />
disposição <strong>como</strong> uma boa biblioteca, bons professores, computadores, curso<br />
de lingua, etc. Tenho certeza que ficariamos abismados com o valor que teriamos<br />
que pagar. Isto quer dizer que o mínimo que alguém que entra em uma<br />
universidade pública <strong>como</strong> a Unicamp deveria fazer é levar o curso muito a<br />
sério. Devemos cumprir o nosso papel que é de contribuir para o aprimoramento<br />
do estudo e ensino da matemática no Brasil. Há 60 anos atrás o que<br />
havia de pesquisa em matemática sendo feita no Brasil Praticamente não<br />
existia. Graças a iniciativa de alguns grupos em estudar no Brasil e acreditar<br />
que poderiam desenvolver a matemática do país, fomos aos poucos criando<br />
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grupos de pesquisa em matemática. Em muito pouco tempo conseguimos<br />
atingir uma colocação no mínimo respeitável, todavia ainda há muita coisa<br />
para se fazer. Muitas áreas da matemática não estão sendo desenvolvidas<br />
no Brasil, não por incopentência própria mas porque ainda somos poucos.<br />
Por isso estudamos em uma universidade pública, o governo investiu alto<br />
para que nós pudessemos contribuir para o país. Temos por obrigação contribuir<br />
para o desenvolvimento da matemática e no mínimo retribuir para a<br />
sociedade tudo aquilo que nos foi investido.<br />
Tivemos a oportunidade de entrar para o cursão 1 , que faz parte da história<br />
da matemática no país, faz parte também de nossa obrigação zelar para que<br />
o cursão perdure por muitos e muito anos. No último semestre de curso<br />
nós da matemática, juntamente com a aplicada e física e decidimos realizar<br />
encontros semanais de uma hora, onde cada participante apresentaria o que<br />
havia estudado em sua iniciação científica. Foi muito legal pois revemos<br />
alguns colegas que haviam ido para cursos diferentes e foi muito interessante<br />
ver o que cada um estava estudando. A experiência foi muito produtiva pois<br />
todo mundo sempre perguntava bastante. Acho que seria interessante que<br />
está idéia continuasse e de fato alguns amigos que continuarão seus estudos<br />
na Unicamp já comentaram que irão continuar com as reuniões. Acredito<br />
que faltou uma coisa, estudantes da estatística. Mesmo dividindo o mesmo<br />
instituto existe um distanciamento mútuo entre a matemática e a estatística<br />
que não é saudável.<br />
Um bom aprendizado é algo que envolve muito esforço e justamente por<br />
isso que muitas vezes quando um professor tenta dar um bom curso normalmente<br />
é mal julgado pelos alunos, principalmente quando são matérias de<br />
começo de curso, por isso que aproveito para fazer um profundo agradecimento<br />
aos professores do IMECC.<br />
Lembro também que ninguém chega a lugar nenhum sozinho. O sucesso<br />
de alguém é fruto da ajuda de várias pessoas, além, é claro, do próprio esforço.<br />
Por isso gostaria de explicitamente citar os nomes de alguns excelentes<br />
professores que passaram por nossas vidas. E que sem dúvida contribuem<br />
bastante para o desenvolvimento da matemática no Brasil. São eles: Rigas,<br />
Dessislava, Pedro Catuogno, Brumatti, Jayme Vaz, Boldrini, Marco Antonio,<br />
Lucio dos Santos, Vera Figueiredo. A todos esses ilustres brasileiros, sendo<br />
alguns desses brasileiros não nascidos no Brasil, o nosso muitíssimo obrigado.<br />
José Régis Azevedo Varão Filho<br />
1 Se ingressa no “cursão” e depois o estudante faz a escolha entre matemática,<br />
matemática aplicada e física<br />
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