06.01.2015 Views

olhares de "crianças" sobre gênero, sexualidade e infância - UNESP

olhares de "crianças" sobre gênero, sexualidade e infância - UNESP

olhares de "crianças" sobre gênero, sexualidade e infância - UNESP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

25<br />

Continua o autor a explicar que, também em relação aos trajes, as crianças até o<br />

século XIII usavam cueiros, quando os <strong>de</strong>ixava, suas vestes eram como a dos adultos, <strong>de</strong><br />

acordo com a sua condição social. Já no século XVII, as crianças nobres e burguesas não<br />

eram mais vestidas como aos adultos, elas vestiam um traje peculiar à sua ida<strong>de</strong>. Contudo,<br />

ainda no século XVI era hábito vestir as crianças menores como meninas, suas vestes eram<br />

saia, vestido e avental (i<strong>de</strong>m, p.75).<br />

Por volta <strong>de</strong> 1770, os meninos <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> usar o vestido com gola aos<br />

quatro-cinco anos. Antes <strong>de</strong>ssa ida<strong>de</strong>, porém, eles eram vestidos como<br />

meninas, e isso continuaria até o fim do século XIX: o hábito <strong>de</strong> efeminar<br />

os meninos só <strong>de</strong>sapareceria após a Primeira Guerra Mundial [...] É curioso<br />

notar também que a preocupação em distinguir a criança se tenha limitado<br />

principalmente aos meninos: as meninas só foram distinguidas pelas<br />

mangas falsas abandonadas no século XVIII, como se a infância separasse<br />

menos as meninas dos adultos do que os meninos. (ibi<strong>de</strong>m, p.78).<br />

Ariès (1981) apresenta partes da infância <strong>de</strong> Luís XIII e <strong>de</strong>screve que, até aos seus<br />

7 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, as pessoas com quem convivia se divertiam com suas brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> cunho<br />

sexual, como exibir seu órgão genital, tocar o corpo alheio e satisfazer suas curiosida<strong>de</strong>s. Não<br />

havia rigorosida<strong>de</strong> e repressão em relação à manifestação <strong>de</strong> sua sexualida<strong>de</strong>.<br />

Entretanto, era recorrente o pensamento <strong>de</strong> que a sexualida<strong>de</strong> fosse ausente na<br />

vida das crianças. Pois essa idéia estava arraigada na crença <strong>de</strong> que a inocência infantil jamais<br />

seria conspurcada. Era costume, como mostra a infância <strong>de</strong> Luís XIII, os adultos dormirem<br />

com as crianças, e haver troca <strong>de</strong> carícias entre ambos. Todavia, já nos séculos XV e XVI, os<br />

educadores, moralistas e estudiosos do comportamento sexual das crianças pregavam<br />

sermões, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo que os adultos não tivessem mais contato com as crianças em suas<br />

camas, evitando a promiscuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las com eles.<br />

Heywood (2004) afirma que a história da infância é marcada por “ambivalência e<br />

ambigüida<strong>de</strong>” (p.49). Que, durante séculos, a infância foi marcada por conflitos conceituais,<br />

que conduziam o modo que as crianças seriam representadas pelos adultos, como também as<br />

relações estabelecidas entre os gran<strong>de</strong>s e os pequenos. Várias concepções fundamentaram o<br />

tratamento e a prática que <strong>de</strong>veria ser exercida na educação das crianças, havendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

idéias em que as crianças eram configuradas em forma <strong>de</strong> seres inocentes, como anjinhos, até<br />

aquelas em que eram entendidas como tendo vindo ao mundo já contaminadas pelo pecado<br />

original, sendo seres manipulados pelas forças <strong>de</strong>moníacas. Ou, então, que não passavam <strong>de</strong><br />

folhas brancas, ou <strong>de</strong> uma cera mole que po<strong>de</strong>riam ser moldadas, ou nasceriam com uma<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> características inatas (HEYWOOD, 2004).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!