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olhares de "crianças" sobre gênero, sexualidade e infância - UNESP

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as crianças a serem interpretadas <strong>de</strong> uma dada maneira: como seres (in)capazes, como (não)<br />

construtoras <strong>de</strong> conhecimento, (não) <strong>de</strong>senvolvidas cognitivamente, assexuadas etc. Trata-se<br />

<strong>de</strong> pressupostos que costumam servir para enquadrar as crianças em mo<strong>de</strong>los e padrões<br />

sociais <strong>de</strong>sejáveis.<br />

Todavia, as explicações dadas para o sucesso das estratégias <strong>de</strong> “enquadramento”,<br />

“controle”, “normatização” e “mo<strong>de</strong>lização” parecem insuficientes para dar conta das análises<br />

do que temos visto, no interior <strong>de</strong> instituições disciplinares, tais como a escola e as prisões.<br />

Como conseqüência, observamos a estupefação das pessoas adultas – e dos profissionais da<br />

escola, em particular, os quais, muitas vezes atônitos e assustados, se <strong>de</strong>claram totalmente<br />

incapazes <strong>de</strong> lidar com a realida<strong>de</strong> das diversas e rápidas mudanças que ocorrem em nossa<br />

socieda<strong>de</strong> e cultura atuais. Nesse contexto, as crianças também aparecem com práticas,<br />

saberes e atitu<strong>de</strong>s inusitadas, que surpreen<strong>de</strong>m e preocupam. Mas, afinal, o mundo estaria<br />

mesmo “<strong>de</strong> ponta cabeça” O que está acontecendo com as crianças Elas po<strong>de</strong>m nos ajudar a<br />

enten<strong>de</strong>r o que estão vivendo e pensando Como tornar compreensíveis os pontos <strong>de</strong> vista das<br />

próprias crianças <strong>sobre</strong> o que sentem, pensam e fazem, em relação aos apelos eróticos cada<br />

vez mais intensos com os quais estão em contato, na cultura contemporânea 12<br />

Ouvir e observar o que dizem e fazem as crianças torna-se o sentido proposto por<br />

esta pesquisa, o que não significa negar que o significado do que falam passará pela nossa<br />

própria leitura <strong>de</strong> pesquisador e <strong>de</strong> adulto, ou <strong>de</strong> que aquilo que falam estaria isento da<br />

presença <strong>de</strong> outras vozes com quem compartilham a experiência da vida social. Trata-se<br />

justamente do entendimento <strong>de</strong> que os sentidos e compreensões que serão propostos, ao final<br />

da investigação, resultarão do encontro <strong>de</strong> várias e diferentes vozes e enunciados. 13 Não<br />

po<strong>de</strong>mos nos consi<strong>de</strong>rar inocentes, portanto, em relação àquilo a que nos remete Walter<br />

Benjamin (1994), quando aborda a distância entre o narrador e aquele que procura traduzi-lo.<br />

O autor valoriza a narrativa, na medida em que ela seria o lugar <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> sentidos<br />

para a experiência do próprio narrador, isto é, para aquilo que por ele é vivido: conforme<br />

assevera Benjamin, “o narrador assimila à sua substância mais íntima aquilo que sabe por<br />

ouvir dizer. Seu dom é po<strong>de</strong>r contar a sua vida; sua dignida<strong>de</strong> é contá-la inteira [...]. O<br />

narrador é a figura na qual o justo se encontra consigo mesmo” (p.221). Cabe ao investigador,<br />

por outro lado, conservar a noção <strong>de</strong> que lhe compete apenas o trabalho <strong>de</strong> reescrever,<br />

incessantemente, as experiências narradas, sabendo que estas serão por ele reapresentadas,<br />

12 Pronunciamento da professora Maria <strong>de</strong> Fátima Salum Moreira, em aula no Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />

Educação da FCT / Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte, no primeiro semestre <strong>de</strong> 2006.<br />

13 I<strong>de</strong>m.

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