Conf.ª do Prof. João Filipe Bugalho - Beja Digital
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Exposição “O Coração da Terra” encerra com chave de ouro<br />
a 10 de Janeiro<br />
Conseguir um equilíbrio entre o desenvolvimento e a defesa <strong>do</strong>s valores<br />
permanentes associa<strong>do</strong>s ao mun<strong>do</strong> rural, eis o desafio <strong>do</strong> futuro. A proposta é <strong>do</strong> <strong>Prof</strong>.<br />
<strong>João</strong> <strong>Filipe</strong> <strong>Bugalho</strong>. Sempre polémico, este cientista e pintor, o mais reputa<strong>do</strong><br />
especialista português em fogos florestais, traça uma panorâmica <strong>do</strong>s problemas que<br />
se colocam actualmente no âmbito da conservação da natureza e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> rural,<br />
fazen<strong>do</strong> a ponte com o mun<strong>do</strong> da arte. Uma conferência a não perder.<br />
A Associação Portas <strong>do</strong> Território e o Património de <strong>Beja</strong><br />
O Departamento <strong>do</strong> Património Histórico e Artístico da Diocese de <strong>Beja</strong><br />
e a Câmara Municipal de <strong>Beja</strong> conjugaram recentemente esforços para<br />
promover a salvaguarda e a valorização <strong>do</strong>s monumentos <strong>do</strong> centro histórico<br />
da cidade, através de uma parceria que conduziu ao surgimento da Associação<br />
de Desenvolvimento Regional Portas <strong>do</strong> Território (APT). Esta entidade tem,<br />
como objectivos fundamentais, recuperar edifícios emblemáticos <strong>do</strong> património<br />
bejense e torná-los acessíveis ao público. De facto, uma das grandes<br />
dificuldades para o desenvolvimento de um turismo cultural e religioso em <strong>Beja</strong><br />
consiste nos obstáculos cria<strong>do</strong>s à livre-circulação <strong>do</strong>s visitantes, que se<br />
deparam muitas vezes com os principais monumentos da cidade fecha<strong>do</strong>s ou<br />
com horários muito limita<strong>do</strong>s.<br />
Sen<strong>do</strong> dirigida actualmente por uma equipa formada pelo <strong>Prof</strong>. Arqt.º<br />
José António Falcão (Presidente), Eng.º <strong>João</strong> Margalha (Tesoureiro) e Doutor<br />
Rui Mateus (Tesoureiro), a APT está a dar a um contributo positivo para<br />
ultrapassar esta situação. Sob a sua tutela processa-se já a abertura de <strong>do</strong>is<br />
monumentos, a Igreja de Nossa Senhora <strong>do</strong>s Prazeres/Museu Episcopal e as<br />
Ruínas Romanas da Rua <strong>do</strong> Sembrano/Museu de Sítio. Num futuro próximo<br />
estuda-se o alargamento deste trabalho ao Castelo e ao Museu <strong>do</strong> Seminário<br />
de <strong>Beja</strong>.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a Associação Portas <strong>do</strong> Território candidatou ao<br />
INALENTEJO, no âmbito <strong>do</strong> QREN (Quadro de Referência Estratégica<br />
Nacional), o restauro de três importantes edifícios religiosos de <strong>Beja</strong>, hoje com<br />
severos problemas de deterioração: a igreja de Nossa Senhora de ao Pé da<br />
Cruz (Imóvel de Interesse Público), a capela de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário,<br />
anexa à igreja de Santa Maria da Feira (Monumento Nacional) e a catedral de<br />
<strong>Beja</strong> (antiga igreja de Santiago, na área de protecção <strong>do</strong> Castelo, classifica<strong>do</strong><br />
como Monumento Nacional).<br />
A esta tríade somou-se a ermida de Santo André (Monumento Nacional),<br />
situada numa das principais entradas da cidade, mas permanentemente<br />
fechada ao público, por não dispor de algumas infra-estruturas indispensáveis<br />
ao seu funcionamento.
As candidaturas, com um montante de investimento na ordem <strong>do</strong>s 100<br />
000 euros, foram aprovadas há poucos meses, preven<strong>do</strong>-se o lançamento das<br />
obras, em diversas fases, a partir <strong>do</strong> primeiro trimestre de 2008.<br />
Abrir e Dinamizar, uma Estratégia Coerente<br />
Embora a recuperação <strong>do</strong>s monumentos e a sua abertura regular sejam<br />
tarefas prioritárias, o trabalho não pode ficar por aqui. É fundamental a<br />
dinamização. Com efeito, uma preocupação da APT consiste na realização de<br />
iniciativas que possam ajudar a dar nova vida ao centro histórico da cidade,<br />
articulan<strong>do</strong> esta actividade com as entidades mais directamente presentes no<br />
terreno.<br />
Ten<strong>do</strong> em conta isto, a Associação Portas <strong>do</strong> Território delineou um<br />
conjunto de exposições temáticas de grande qualidade que dão a conhecer<br />
não só alguns aspectos-chave <strong>do</strong> património regional, mas também outros<br />
aspectos da vida cultural <strong>do</strong> país e da Europa, incidin<strong>do</strong> com particular atenção<br />
nos âmbitos da herança religiosa, paisagística e imaterial.<br />
A primeira destas exposições, intitulada “O Coração da Terra – Aspectos<br />
<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Rural na Arte Europeia (Séculos XVII-XX)”, abriu ao público, no<br />
passa<strong>do</strong> mês de Outubro, na Galeria <strong>do</strong>s Escudeiros, em pleno coração de<br />
<strong>Beja</strong>. Reúne cerca de meia centena de peças de diversas escolas europeias,<br />
oferecen<strong>do</strong> uma panorâmica extremamente diversificada das relações entre o<br />
Homem e a Natureza no meio rural. Estas obras são provenientes de museus e<br />
colecções <strong>do</strong> Baixo Alentejo.<br />
“O Coração da Terra” constitui, de certo mo<strong>do</strong>, o retrato de uma Europa<br />
cujas raízes rústicas, profundamente ligadas à agricultura, foram sen<strong>do</strong><br />
destruídas pela civilização industrial e urbana. Mais <strong>do</strong> que a nostalgia, porém,<br />
o fio condutor <strong>do</strong> discurso museográfica desta iniciativa propõe uma reflexão<br />
sobre o destino da sociedade, as relações com o mun<strong>do</strong> natural e as opções<br />
inteligentes por uma ligação profunda entre os seres humanos e o habitat em<br />
que se inserem. Algo muito actual, num momento de clivagem <strong>do</strong>s modelos<br />
socioeconómicos tradicionais em que se impõe uma clara “mudança de<br />
paradigma” no relacionamento com a Natureza.<br />
A exposição da Galeria <strong>do</strong>s Escudeiros, que dispõe de um catálogo de<br />
eleva<strong>do</strong> nível científico e estético, tem regista<strong>do</strong> considerável afluência <strong>do</strong><br />
público, sem esquecer a visita de escolas de diversas regiões <strong>do</strong> país, e<br />
mereceu referências na imprensa da especialidade, nacional e estrangeira, o<br />
que mostra a importância de um trabalho continua<strong>do</strong> na promoção de <strong>Beja</strong><br />
como destino <strong>do</strong> turismo patrimonial e artístico.<br />
“A Arte, a Conservação da Natureza e o Mun<strong>do</strong> Rural”: conferência <strong>do</strong><br />
<strong>Prof</strong>. <strong>João</strong> <strong>Filipe</strong> <strong>Bugalho</strong>, cientista e pintor<br />
A Câmara Municipal de <strong>Beja</strong>, a Associação Portas <strong>do</strong> Território e o<br />
Departamento <strong>do</strong> Património Histórico e Artístico assinalam o encerramento da
exposição, no próximo dia 10 de Janeiro, com uma conferência de <strong>João</strong> <strong>Filipe</strong><br />
<strong>Bugalho</strong>, professor jubila<strong>do</strong> <strong>do</strong> Instituto Superior de Agronomia de Lisboa e<br />
artista plástica, subordinada ao título: “A Arte, a Conservação da Natureza e o<br />
Mun<strong>do</strong> Rural”.<br />
Natural de Castelo de Vide, o <strong>Prof</strong>. Eng.º <strong>João</strong> <strong>Bugalho</strong> dedicou toda a<br />
sua vida profissional à gestão <strong>do</strong>s recursos bravios e à conservação da<br />
natureza, quer na actividade técnica, quer na carreira pública, onde<br />
desempenhou cargos de Director de Serviços e de Subdirector-Geral na<br />
Direcção Geral de Florestas, quer ainda na carreira <strong>do</strong>cente, que desenvolveu<br />
sobretu<strong>do</strong> no Instituto Superior de Agronomia. Desempenhou também diversas<br />
funções a nível internacional, sen<strong>do</strong> membro de The Game Conservancy Trust<br />
e da Association National des Chasseurs de Gibier d’Eau e funda<strong>do</strong>r da<br />
Euroducks (Associação Europeia para a Conservação das Aves Aquáticas e<br />
<strong>do</strong>s seus Habitats). Procuran<strong>do</strong> aliar o progresso teórico ao desenvolvimento<br />
prático, coordenou continuamente trabalhos de equipa, sempre com o intuito de<br />
estimular nas camadas mais jovens o gosto pela inovação e pela busca da<br />
verdade, da coerência entre a economia e a ecologia, pon<strong>do</strong> ambas ao serviço<br />
<strong>do</strong> Homem.<br />
Cientista com vasta obra publicada nas áreas da silvicultura, da<br />
entomologia e <strong>do</strong>s recursos cinegéticos, é o mais reputa<strong>do</strong> especialista<br />
português em fogos florestais. Ao trabalho como investiga<strong>do</strong>r e técnico juntou<br />
sempre um grande interesse pela arte, destacan<strong>do</strong>-se como pintor. Segun<strong>do</strong><br />
ele próprio explicou num apontamento autobiográfico, “nasci em Lisboa, em<br />
1942, mas ce<strong>do</strong> fui leva<strong>do</strong> para Castelo de Vide, <strong>do</strong>nde é originária grande<br />
parte da minha família. Aí vivi toda a infância e o início da a<strong>do</strong>lescência, o que<br />
me ligou para sempre a essa vila alentejana, bem como às suas paisagens,<br />
onde regresso frequentemente. Desenhei e pintei com alguma regularidade até<br />
aos vinte anos, ten<strong>do</strong> praticamente suspendi<strong>do</strong> tais actividades durante a<br />
frequência <strong>do</strong> Instituto Superior de Agronomia, onde me formei, em 1965, como<br />
Engenheiro Silvicultor. Retomei, finalmente, a pintura em 1998. Com<br />
entusiasmo e em busca <strong>do</strong> tempo perdi<strong>do</strong>.”<br />
<strong>João</strong> <strong>Filipe</strong> <strong>Bugalho</strong> tem realiza<strong>do</strong> em importantes exposições individuais<br />
e colectivas no país e no estrangeiro, continuan<strong>do</strong> a associar as actividades<br />
como agricultor e técnico florestal a uma intensa actividade publicística e<br />
pictórica.<br />
L
<strong>Prof</strong>. Eng.º <strong>João</strong> <strong>Filipe</strong> <strong>Bugalho</strong><br />
Uma das obras de referência da exposição “O Coração da Terra”:<br />
Cordeiro junto de Cerca, por Karel Du Jardin (1653)