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BRASIL<br />
ALÉM DO COMUM<br />
KILIAN<br />
JORNET<br />
O cara mais<br />
insano das<br />
montanhas<br />
ÁFRICA<br />
VIRGEM<br />
Quilômetros<br />
de praias<br />
com ondas<br />
intocadas<br />
19<br />
MANEIRAS<br />
de mudar<br />
o mundo e a<br />
si mesmo<br />
MADS MIKKELSEN<br />
O ator europeu de maior sucesso na atualidade fala de vida,<br />
morte e da nova temporada da série Hannibal<br />
JANEIRO DE 2015CANIBAL
A energiA<br />
de red Bull em três<br />
novos sABores.<br />
crAnBerry lime BlueBerry<br />
www.redBull.com.Br
50<br />
ESTILO AFRICANO<br />
O fotógrafo da África do Sul<br />
Alan van Gysen abre seu<br />
portfólio espetacular<br />
JANEIRO DE 2015<br />
KENNETH WILLARDT/CORBIS OUTLINE (COVER), ALAN VAN GYSEN, MATT GEORGES<br />
BEM-VINDO<br />
Algum dia você imaginou que subir montanhas<br />
gigantes – as mais altas do mundo – em alta<br />
velo cidade e descê-las também deste modo<br />
seria algo possível Pois um esportista colocou<br />
esse desafio diante de toda a comunidade<br />
montanhista: Kilian Jornet pode ser chamado<br />
de maluco, mas ninguém pode negar que o que<br />
ele faz está quebrando os limites dos esportes<br />
de alta resistência. O Red Bulletin foi bater<br />
um papo franco com o catalão (pág. 24) – mas<br />
não paramos por aí. Viajamos ao México para<br />
contar como foi a etapa final do Red Bull<br />
Cliff Diving World Series (pág. 40) e também<br />
bis bilhotamos os arquivos do fotógrafo Alan<br />
van Gysen, que tem registros alucinantes de<br />
algumas das melhores – e menos frequentadas<br />
– ondas da África (pág. 50). Vamos nessa<br />
“Existem<br />
várias maneiras<br />
de encarar uma<br />
montanha.”<br />
KILIAN JORNET, PÁG. 24<br />
THE RED BULLETIN 5
O MUNDO DE RED BULL<br />
NESTE MÊS<br />
GALERIA<br />
10 GALERIA As melhores fotos do mês<br />
34<br />
MADS MIKKELSEN<br />
O astro da série Hannibal<br />
fala da fama e de sua<br />
paixão por bicicletas<br />
74<br />
30 HORAS DE FESTA<br />
Música eletrônica sem fim, gente<br />
animada e mulheres interessantes:<br />
tudo numa única balada em Londres<br />
40<br />
A PRÓXIMA GERAÇÃO<br />
Quem será o próximo rei do Red Bull Cliff<br />
Diving World Series Orlando Duque,<br />
atual detentor do posto, tem sua opinião<br />
64<br />
MALAS PRONTAS<br />
Tiveram uma ideia muito boa:<br />
colocar uma pipa de paraglider<br />
junto com o snowboard<br />
48<br />
STÉPHANE PETERHANSEL<br />
Hexacampeão com as motos e penta<br />
com os carros no Rally Dakar: Stéphane<br />
Peterhansel, 49 anos, é um mestre<br />
BULLEVARD<br />
16 MUDANÇAS Como mudar<br />
o mundo e nós mesmos<br />
DESTAQUES<br />
24 Kilian Jornet<br />
Loucura Novos limites Show de<br />
resistência Conheça Kilian Jornet<br />
34 Mads Mikkelsen<br />
Entrevistamos o maior ator europeu<br />
da atualidade<br />
40 Red Bull Cliff Diving<br />
Fomos ao México registrar a última<br />
etapa do campeonato<br />
46 Banda do Mar<br />
A nova banda de Marcelo Camelo<br />
e Mallu Magalhães<br />
48 Stéphane Peterhansel<br />
Um mestre do Rally<br />
50 Alan van Gysen<br />
O portfólio de um dos maiores<br />
fotógrafos de surf<br />
AÇÃO!<br />
64 MALAS PRONTAS Snowboard no ar<br />
65 MINHA CIDADE Gdansk, na Polônia<br />
66 EM FORMA Força no basquete<br />
67 WFL Corrida noturna<br />
68 RELÓGIOS Oris<br />
70 BALADA Casa92<br />
71 MÚSICA Ariel Pink<br />
72 GAMES Universe Sandbox 2<br />
73 ENTRETENIMENTO Luz, câmera, ação<br />
74 VIDA NOTURNA Fabric<br />
80 NA AGENDA Dicas de janeiro<br />
84 MOMENTO MÁGICO Montanha lilás<br />
KENNETH WILLARDT/CORBIS OUTLINE, ALEX DE MORA, GETTY IMAGES, SAMO VIDIC /RED BULL CLIFF DIVING, FLAVIEN DUHAMEL/RED BULL CONTENT POOL<br />
6 THE RED BULLETIN
NOSSO TIME<br />
QUEM FEZ<br />
A EDIÇÃO DESTE MÊS<br />
“A modéstia<br />
e a veia competitiva<br />
aliadas<br />
aos seus feitos<br />
extraordinários<br />
fazem dele<br />
um cara único.”<br />
Norman Howell sobre o montanhista<br />
Kilian Jornet (pág. 24)<br />
NORMAN<br />
HOWELL<br />
O jornalista apaixonado por<br />
esportes de montanha já<br />
entrevistou diversos atletas.<br />
Mas nenhum foi tão natural<br />
e carismático quanto o catalão<br />
Kilian Jornet, atleta de<br />
endurance que corre e esquia<br />
nas maiores montanhas do<br />
mundo. “Quando o fotógrafo<br />
pediu que ele corresse até<br />
uma encosta íngreme entre<br />
mato, raízes e buracos, ele<br />
o fez com tranquilidade, sem<br />
esforço, como se deslizasse<br />
sobre o chão”, diz Howell.<br />
“Ele tem uma relação<br />
espi ritual com a natureza.”<br />
Conheça Jornet na página 24.<br />
ALAN<br />
VAN GYSEN<br />
No começo, na escola de salvavidas<br />
júnior, ele tinha medo<br />
das ondas. Mas não demorou<br />
para o fotógrafo sul-africano<br />
Alan van Gysen superar seus<br />
medos e começar a captar<br />
a arte do mundo do surf ao seu<br />
redor. Nos últimos 15 anos<br />
ele viajou pelos litorais da<br />
África e do Oceano Atlântico,<br />
atrás do desconhecido e com<br />
a esperança de encontrar dias<br />
perfeitos e ondas perfeitas.<br />
“Uma coisa é fazer esses<br />
registros direto no lugar.<br />
E é bom demais juntar tudo<br />
e reviver as experiências.”<br />
Confira a partir da página 50.<br />
WERNER<br />
JESSNER<br />
Os caminhos de Werner<br />
Jessner e do campeão do<br />
Dakar Stéphane Peterhansel<br />
se cruzaram várias vezes<br />
nos últimos 20 anos. Numa<br />
delas, Jessner foi a um passeio<br />
exclusivo na antiga fábrica<br />
da Mitsubishi. Peterhansel<br />
foi entrevistado enquanto<br />
pilotava a 160 km/h. Ao se<br />
deparar com um entroncamento,<br />
não diminuiu a velocidade.<br />
Jessner ficou tenso<br />
e Peterhansel apenas sorriu<br />
e foi com tudo. Dessa vez,<br />
a entrevista foi consideravelmente<br />
mais tranquila. Confira<br />
o resultado na página 48.<br />
THE RED BULLETIN<br />
PELO MUNDO<br />
O Red Bulletin é publicado<br />
em 11 países. Acima, a capa<br />
da edição dos EUA<br />
BASTIDORES<br />
Balada sem fim<br />
por Alex de Mora<br />
O Red Bulletin já o mandou<br />
a um chuvoso festival<br />
no sul da Inglaterra para<br />
fotografar uma aranharobô<br />
gigante, o que foi<br />
um teste de maratonista<br />
para o fotógrafo londrino<br />
especializado em música<br />
e moda. Mas desta vez<br />
Confira a balada de 30 horas na pág. 74 fomos além: “Uma balada<br />
aberta por 30 horas é<br />
loucura – e fotografar isso é mais louco ainda”, diz De Mora<br />
sobre sua maratona na Fabric, em Londres.<br />
Alex de Mora (à direita)<br />
com o repórter Florian<br />
Obkircher, do Red Bulletin<br />
8 THE RED BULLETIN
DESERTO DO KALAHARI, SUL DA ÁFRICA<br />
FAÍSCA INICIAL<br />
“Você, seu carro e o horizonte.” Com este slogan, a Kalahari Desert<br />
Speedweek vem atraindo os fãs de carros antigos do mundo inteiro<br />
para a savana desde 2012. A promessa: acelerar sem regras de<br />
trânsito – tanto em máquinas tradicionais como em motos.<br />
A caça ao recorde de velocidade começa na parte sul-africana<br />
do deserto. Vantagem do local: o dobro do tamanho da Espanha.<br />
Ou seja, espaço para se soltar à vontade.<br />
www.speedweeksa.com<br />
Foto: Tyrone Bradley<br />
11
LONDRES, INGLATERRA<br />
STREET STYLE<br />
A ideia por trás do Red Bull Local Hero Tour é muito<br />
simples: quatro feras do BMX viajam pela Grã-Bretanha<br />
em busca de pistas de skate e de talentos locais. Se não<br />
há pistas, é preciso improvisar. Na Westminster Bridge<br />
em frente ao Parlamento Britânico, por exemplo. As marcações<br />
das ciclovias ganham uma interpretação muito livre,<br />
como demonstram os feras [da esq. para a dir.] Anthony<br />
Perrin, Simone Barraco, Bruno Hoffmann e Kriss Kyle.<br />
www.redbull.com/bike<br />
Foto: Rutger Pauw/Red Bull Content Pool<br />
12
YUCATÁN, MÉXICO<br />
ESTUDO SOBRE<br />
A QUEDA<br />
Uma piscina gigante no meio da selva Os cenotes,<br />
típicos do México, se formam quando tetos de cavernas<br />
de rocha calcária desmoronam e os orifícios formados<br />
se enchem de água doce. Local perfeito para a final do<br />
Red Bull Cliff Diving World Series 2014. Na foto, os saltos<br />
de aquecimento dos atletas. Eles saltaram de uma altura<br />
de 19 metros. Gary Hunt (ING), que levaria o título mais<br />
tarde, é o segundo da esquerda.<br />
www.redbullcliffdiving.com<br />
Foto: Romina Amato/Red Bull Cliff Diving<br />
14
BULLEVARD<br />
REVOLUÇÃO!<br />
AGORA É<br />
A SUA VEZ!<br />
O orador controverso<br />
agora é escritor: Russell<br />
Brand quer estimular<br />
o ativismo político<br />
Ele já foi ao trabalho vestido<br />
de terrorista, foi depen dente<br />
de heroína e contava publicamente<br />
suas aventuras sexuais.<br />
Hoje ele mudou e parece que<br />
está iluminado. O multitalento<br />
britânico é adepto do veganismo<br />
e pratica meditação transcendental.<br />
E o próximo em<br />
sua lista é o mundo. Em seu<br />
livro Revolution, o portador<br />
da boa nova entre os comediantes<br />
apela a uma mudança<br />
radical no sistema político.<br />
Como Começando por<br />
si mesmo.<br />
DICA: Russell Brand, Revolution<br />
(Editora Cornerstone, 2014)<br />
“VOCÊ PODE<br />
MUDAR O MUNDO.<br />
OU A SI MESMO.<br />
O SEGUNDO É<br />
MAIS DIFÍCIL.” (*)<br />
(*) Disse Mark Twain (que por sinal trocou seu nome)
BULLEVARD<br />
Vira, vira, virou!<br />
TOME A<br />
INICIATIVA !<br />
Está claro: se quer<br />
uma mudança, você<br />
tem que fazer algo.<br />
Mas o quê<br />
SUA ESCOLHA<br />
VOCÊ PRECISA<br />
DE MUDANÇAS<br />
As perguntas mais importantes<br />
na vida têm respostas muito<br />
simples. Se você for sincero<br />
S<br />
VOCÊ É INFELIZ<br />
N<br />
N<br />
APAREÇA!<br />
Manifestantes contra a<br />
Parceria Transatlântica<br />
(TTIP) levam seu frango<br />
desinfetado com cloro.<br />
VOCÊ GOSTARIA<br />
DE SER FELIZ<br />
S<br />
MANTENHA<br />
TUDO IGUAL<br />
S<br />
VOCÊ QUER<br />
MUDAR A<br />
SUA VIDA<br />
N<br />
TIRE A ROUPA!<br />
Andar de bicicleta em<br />
Madri está diferente.<br />
Os ciclistas nus pedem<br />
mais ciclovias.<br />
VOCÊ ESTÁ<br />
PREPARADO PARA<br />
AS DIFICULDADES<br />
DE UM NOVO<br />
COMEÇO<br />
N<br />
DE VERDADE<br />
N<br />
S<br />
S<br />
DEAN CHALKLEY, GETTY IMAGES, FOTOLIA, REUTERS(4), CORBIS<br />
Surpresa! Andreja Pejić é o nome desta modelo<br />
australiana que adora confundir nossos conceitos<br />
sobre o que é masculino e feminino. Ela nasceu e foi<br />
criada como menino, mas na adolescência descobriu<br />
seu lado feminino e acabou conquistando as passarelas<br />
da moda em Paris – tanto em roupas femininas<br />
quanto masculinas. Foi eleita uma das 100 mulheres<br />
mais sexy do mundo pela revista masculina FHM e<br />
hoje, aos 23 anos, vive oficialmente como mulher.<br />
ESPALHE O CHEIRO!<br />
Parlamento de Berlim:<br />
o grupo Attac mostrou<br />
como cheiram esterco<br />
ou riqueza acumulados.<br />
ESCREVA NO CORPO!<br />
O Femen se mobiliza<br />
contra a exploração<br />
sexual das mulheres.<br />
A polícia não tira o olho.<br />
MUDE<br />
DE VIDA!<br />
COMO VEJA<br />
NAS PÁGINAS<br />
SEGUINTES<br />
S Sim N Não<br />
THE RED BULLETIN 17
BULLEVARD<br />
MUDE EM UMA SEMANA<br />
DESCUBRA<br />
SEU VERDA-<br />
DEIRO EU E<br />
DESENVOLVA<br />
TODO SEU<br />
POTENCIAL<br />
Veja como se transformar,<br />
em apenas sete<br />
dias, em uma pessoa<br />
muito, muito melhor<br />
1 2 3<br />
SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA<br />
ENCONTRE<br />
O ERRO<br />
Ninguém é perfeito.<br />
Nem você, não é mesmo<br />
Se você responder a<br />
UMA destas perguntas<br />
com SIM, você ainda tem<br />
seis dias para aprender<br />
a dizer NÃO.<br />
VOCÊ…<br />
…é tímido demais para conversar<br />
com o cara do espelho<br />
…atualiza seu status usando<br />
copiar e colar<br />
…só se levanta de manhã para<br />
poder se deitar novamente<br />
à noite<br />
…não consegue tocar os dedos<br />
dos pés nem sentado<br />
…acha que uma dieta equilibrada<br />
consiste em alternar entre pizza<br />
e nuggets de frango<br />
…acha que reiniciar só tem a ver<br />
com computador travado<br />
Então, já está mais<br />
do que na hora<br />
de arregaçar<br />
as mangas e fazer<br />
uma melhora<br />
nessa sua vida.<br />
Somente com seu estilo próprio<br />
você poderá se manter sobre<br />
os próprios pés<br />
PROCURE POR<br />
SIGNIFICADO<br />
O autoconhecimento<br />
é o primeiro passo para<br />
a melhora. Questione<br />
sua rotina e seja sincero<br />
com você mesmo.<br />
Completamente sincero.<br />
1. Se você pudesse mudar<br />
algo em você imediatamente,<br />
o que seria<br />
A Meu corpo.<br />
B Meu caráter.<br />
C Minha inteligência.<br />
E você já está<br />
realizando<br />
mudanças em<br />
algum deles<br />
2. Há alguma<br />
coisa que você<br />
sempre quis fazer<br />
mas nunca fez,<br />
apesar de não custar<br />
dinheiro<br />
A Sim.<br />
E o que você está<br />
esperando<br />
B Não.<br />
O quê Você não tem<br />
imaginação<br />
3. Você tem um segredo que<br />
colocaria seu relacionamento<br />
em risco caso viesse à tona<br />
A Sim.<br />
O segredo é que é muito<br />
grave ou o seu relacionamento<br />
é que é muito fraco<br />
B Não.<br />
Seu/sua parceiro(a) é tão<br />
compreensivo(a) assim ou<br />
a sua vida é que é regrada<br />
4. Qual destes destinos você<br />
escolheria<br />
A Famoso, mas infeliz.<br />
B Podre de rico, mas sem<br />
amor.<br />
C Feliz no amor, mas pobre.<br />
E qual deles se parece mais<br />
com a sua vida real C Sinceramente<br />
Tem certeza<br />
ABANDONE<br />
A ROTINA<br />
A vida começa onde a zona<br />
de conforto acaba. Então,<br />
vá lá fora e faça exatamente<br />
o contrário de tudo<br />
que tem feito até agora.<br />
Sinta o vento da mudança.<br />
Infiltre-se num grupo de autoajuda<br />
para antigos membros<br />
de seitas e se apresente<br />
como seu novo líder.<br />
Entre numa loja, tire<br />
todas as suas roupas<br />
no provador, coloqueas<br />
na prateleira ao<br />
lado do caixa, pisque<br />
para a vendedora:<br />
“Sim. É isso<br />
mesmo”. E saia<br />
completamente<br />
nu pela porta.<br />
Diga a seu chefe que<br />
você conside raria<br />
seriamente uma<br />
redução no salário<br />
dele.<br />
Ligue para sua mãe e pergunte<br />
se ela sempre come toda a<br />
comida do prato.<br />
Pergunte à sua namorada<br />
o que ela está pensando.<br />
Se não tem uma, pergunte<br />
à sua terapeuta.<br />
“Todos<br />
pensam<br />
somente<br />
em mudar a<br />
humanidade.<br />
Ninguém<br />
pensa em<br />
mudar a<br />
si mesmo.”<br />
LIEV TOLSTÓI<br />
FOTOLIA(2), REUTERS, CORBIS<br />
18 THE RED BULLETIN
BULLEVARD<br />
4 5 6 7<br />
QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA SÁBADO DOMINGO<br />
FA Ç A<br />
CONTATO<br />
Soft skills são dinheiro<br />
vivo: só quem consegue<br />
inspirar as pessoas pode<br />
aumentar seu capital<br />
social. Misture-se.<br />
MEXA SEU<br />
CORPO<br />
Dedique esse dia a seu<br />
corpo. Ande de bicicleta.<br />
Ou nade. Faça flexões.<br />
Ou corra pelo menos<br />
os últimos 10 metros<br />
até o ônibus.<br />
ACEITE SEUS<br />
VÍCIOS<br />
Cinco passos para<br />
a frente e um salto<br />
para trás: adiante-se<br />
ao efeito ioiô. Faça as<br />
pazes com a preguiça.<br />
BEM-VINDO À SUA<br />
NOVA VIDA!<br />
E então Já sente a força<br />
do seu novo eu pulsar<br />
nas suas veias Então<br />
agora descanse e curta<br />
o momento.<br />
Acenda o forno e coloque<br />
dentro dele uma pizza<br />
recheada de nuggets<br />
de frango.<br />
Beba 14 garrafas de vinho<br />
como Gérard Depardieu.<br />
Se ainda for possível ficar<br />
em pé (piscadinha), faça<br />
sexo loucamente.<br />
No fim do dia, escreva uma<br />
carta a si mesmo. Explique<br />
o quanto você já está velho<br />
para a vida que levava antes.<br />
Mostre seu verdadeiro eu, e as pessoas se sentirão atraídas por você<br />
FOTOLIA(2), REUTERS, GETTY IMAGES, NASA<br />
QUEBRA-GELO<br />
Uma entrada silenciosa é a sua<br />
marca registrada Não por<br />
muito tempo. Objetivo do dia:<br />
comece uma conversa com<br />
cinco pessoas desconhecidas.<br />
DICAS PARA QUEBRAR O GELO<br />
Espalhe fatos interessantes.<br />
De preferência sobre o<br />
tempo. Por exemplo: “Você<br />
sabia que 80 por cento das<br />
pessoas atingidas por raios<br />
são homens”<br />
Faça elogios a seu interlocutor.<br />
Por exemplo:<br />
“Que peruca chique!<br />
Posso experimentar”<br />
Perguntas interessantes<br />
garantem a continuidade<br />
do diálogo: “Quando foi<br />
a última vez que você pensou<br />
sobre como a<br />
vida é curta”<br />
RELAXE<br />
COM IOGA<br />
A pose do escorpião em<br />
três passos:<br />
1 Inspire.<br />
2 Expire.<br />
3 Faça a pose do escorpião.<br />
A gente<br />
se vê na<br />
segunda!<br />
THE RED BULLETIN 19
BULLEVARD<br />
MARLON BRANDO<br />
usou em Uma<br />
Rua Chamada<br />
Pecado o que na<br />
época era roupa<br />
de baixo: uma<br />
camiseta branca.<br />
Hoje é a coisa mais<br />
normal do mundo.<br />
DICAS DE<br />
LEITURA<br />
Para carreiristas:<br />
os clássicos que<br />
o guiarão ao poder.<br />
Memorize somente<br />
uma frase de cada<br />
ARTE COM DADOS<br />
SUA NOVA,<br />
VERDADEIRA<br />
SELFIE<br />
É possível fazer coisas<br />
incríveis com os dados<br />
que registram movimento:<br />
crime ou arte<br />
Passos, curtidas, histórico de<br />
buscas: tudo o que fazemos<br />
pode ser quantificado. A artista<br />
Laurie Frick transforma seus<br />
dados em arte com um<br />
aplicativo bem divertido:<br />
NICOLAU MAQUIAVEL:<br />
O PRÍNCIPE<br />
“Os homens são tão<br />
simples e obedecem<br />
tanto às necessidades<br />
presentes, que quem<br />
engana encontrará<br />
sempre quem<br />
se deixa enganar.”<br />
O FRICKbits<br />
registra os lugares<br />
onde você<br />
esteve. Quanto<br />
mais você se<br />
movimenta, mais<br />
colorido fica.<br />
SEMPRE TEM UMA PRIMEIRA VEZ<br />
FORAM ELES QUE COMEÇARAM<br />
Correr, lavar as mãos, usar camisetas: sim. Estas coisas<br />
também tiveram que ser inventadas. Graças a três heróis<br />
ROBERT GREENE:<br />
AS 48 LEIS DO PODER<br />
“Qualquer erro cometido<br />
com ousadia é facilmente<br />
corrigido com<br />
mais ousadia. Todos<br />
admiram o corajoso.<br />
Ninguém louva<br />
o tímido.”<br />
Você pode<br />
compartilhar sua<br />
obra de arte com<br />
os amigos. Ou<br />
deletá-la. Junto<br />
com os dados,<br />
esperamos.<br />
IGNAZ SEMMELWEIS<br />
O médico de Budapeste era<br />
criticado por pedir que lavassem<br />
as mãos antes das operações.<br />
JERRY MORRIS<br />
Provou na década de 1950 que<br />
correr regularmente é saudável.<br />
Não é só cansativo.<br />
DALE CARNEGIE:<br />
COMO FAZER AMIGOS<br />
E INFLUENCIAR<br />
PESSOAS<br />
“Fale para as pessoas<br />
sobre elas mesmas<br />
e elas o escutarão<br />
por horas.”<br />
KOBAL COLLECTION, GETTY IMAGES, IMAGO<br />
20 THE RED BULLETIN
BULLEVARD<br />
VIRADA NA CARREIRA<br />
DE VOLTA<br />
AO COMEÇO<br />
Não é toda mudança<br />
de direção que leva<br />
a uma melhora<br />
Só ficamos sabendo das<br />
histórias das pessoas que<br />
mudaram radicalmente<br />
de vida e se deram bem.<br />
Não foi o que aconteceu<br />
com estes famosos. Talvez<br />
porque eles já tivessem<br />
encontrado seu verdadeiro<br />
talento há muito tempo.<br />
NAOMI<br />
CAMPBELL quis<br />
lançar carreira<br />
como cantora,<br />
mas o álbum de<br />
estreia foi um<br />
fiasco. Quem ouviu<br />
sabe por quê.<br />
MICHAEL<br />
JORDAN interrompeu<br />
sua carreira<br />
no basquete<br />
em 1993 para<br />
dedicar-se ao<br />
beisebol. Durou<br />
dois anos.<br />
LUDWIG<br />
WITTGENSTEIN<br />
sentiu um chamado<br />
para ser<br />
professor. Depois<br />
de cinco anos, ele<br />
era novamente<br />
filósofo. Lógico.<br />
“A vida não é fácil<br />
em lugar nenhum.”<br />
LUDWIG WITTGENSTEIN<br />
FRANKIE MUNIZ<br />
decidiu começar<br />
uma carreira de<br />
piloto em 2006.<br />
E ganhou um<br />
prêmio. Dos<br />
colegas, por<br />
jogar limpo.<br />
KAINRATH – DUAS VEZES DOIS SÃO...<br />
GETTY IMAGES(4) DIETMAR KAINRATH<br />
RELAÇÃO<br />
EDUCAÇÃO<br />
THE RED BULLETIN 21
BULLEVARD<br />
Mais futuro para o presente!<br />
Como mudar nossas vidas, se todas essas coisas ainda não existem<br />
Tá... a questão do amor... O amor existe. O que falta é coragem<br />
TELETRANSPORTE<br />
EM VEZ DE VOO<br />
Economia de tempo e talvez de<br />
energia. Mas o lobby do suco de<br />
tomate ainda é muito poderoso.<br />
E STÁ NA<br />
HORA DO<br />
JANTAR<br />
Estas três iguarias vão<br />
mudar você de dentro<br />
para fora. Acredite<br />
UPDATE PARA A VIDA<br />
NÃO TEM APP<br />
PARA ISSO<br />
Sim, claro! Seis deles vão<br />
melhorar muito a sua vida<br />
MAIS BONITO<br />
Estas sementes de<br />
maconha não dão barato,<br />
mas são verdadeiras<br />
bombas de proteína.<br />
Em vez de queimar erva,<br />
queime gorduras,<br />
mantendo a forma.<br />
SUAR<br />
Sete minutos de<br />
exercícios por dia<br />
são suficientes com<br />
o Fitness Coach.<br />
MOTIVAÇÃO<br />
Independentemente<br />
de seu objetivo:<br />
o Beeminder ajuda<br />
a não se perder.<br />
WINGMAN<br />
BroApp envia<br />
um torpedo à sua<br />
namorada caso<br />
você se esqueça.<br />
NO PONTO<br />
Toggl mede o<br />
tempo de trabalho<br />
e percebe quando<br />
você enrola.<br />
MAIS FORTE<br />
Na Ásia, existem mitos<br />
de que o sangue de<br />
cobra além de melhorar<br />
o sistema imunológico<br />
também aumenta a virilidade<br />
dos homens. Não<br />
há provas científicas.<br />
Candidatos a cobaias<br />
FESTA SEM FIM<br />
Ele encontra sempre<br />
o melhor club<br />
ou o melhor bar<br />
por perto: event0.<br />
DAR SORTE<br />
Comece o dia<br />
de forma positiva<br />
com o Five<br />
Minute Journal.<br />
CRESCIMENTO<br />
Essa seria para<br />
viver rindo: dentes<br />
que não param<br />
de crescer.<br />
Quando sai, senhores<br />
nerds da<br />
biotecnologia<br />
AMOR LIVRE<br />
Viva o poliamor!<br />
A charada continua<br />
sendo<br />
como ser feliz<br />
para sempre<br />
somente com<br />
um parceiro.<br />
FAZ TUDO<br />
Máquina de lavar<br />
e computador<br />
foram um bom<br />
começo. Mas<br />
e os robôs domésticos<br />
que<br />
fazem tudo<br />
MAIS INTELIGENTE<br />
Escargots são o<br />
melhor alimento para<br />
o cérebro. Os ácidos graxos<br />
ômega-3 melhoram<br />
a memória, e o hormônio<br />
T3 da tireoide aumenta<br />
a atividade cerebral.<br />
Apetitosos.<br />
DIÁLOGO DAS LATAS<br />
O que o ano novo trará<br />
CORBIS(3), FOTOLIA(3), GETTY IMAGES(3) DIETMAR KAINRATH<br />
22 THE RED BULLETIN
BULLEVARD<br />
BOAS INTENÇÕES<br />
FAÇA ISSO NO ANO NOVO<br />
Parar de fumar, beber menos, malhar mais etc.,<br />
etc. Sei... Nós temos cinco dicas muito boas<br />
para o resto de seus dias<br />
Caramba!<br />
Quem precisa disso<br />
Capacete<br />
pensador<br />
Neuroestimulação craniana é o nome<br />
que os cientistas deram ao que esta<br />
máquina faz com você. Simplificando:<br />
o Foc.us aumenta a eficiência do<br />
cérebro estimulando-o com impulsos<br />
elétricos. Eletrochocante!<br />
1<br />
VISTA VERMELHO!<br />
Psicólogos descobriram que pessoas em fotos com<br />
moldura vermelha são consideradas mais atrativas.<br />
Azar no amor Use roupas vermelhas este ano.<br />
Pelo menos a cueca.<br />
O chato<br />
O HAPIfork dispara um alarme quando você<br />
passa dos limites com a comida. Quem não<br />
quiser receber ordens do garfo que coma<br />
com as mãos. Isso sim faz feliz.<br />
CORBIS(5)<br />
4 SESSÕES DE RELAX SEXUAL POR SEMANA!<br />
Uma pesquisa grega confirmou: pessoas que fazem<br />
sexo pelo menos quatro vezes por semana ganham<br />
3% a mais que aquelas que só podem, ou querem,<br />
ou conseguem, uma vez por semana.<br />
2<br />
3<br />
5<br />
NÃO ACEITE SER PROMOVIDO!<br />
Quem pode fazer mais do que o trabalho exige é<br />
promovido. Até alcançar o patamar da sua incompetência.<br />
É o que diz o “Princípio de Peter”, e muitos<br />
superiores são a prova viva de sua precisão.<br />
PROCRASTINE – MAS COM ESTILO!<br />
Você vive deixando as coisas para amanhã Cientistas<br />
descobriram que isso não é necessariamente<br />
ruim. Quem protela conscientemente sabe lidar<br />
melhor com a pressão. E surfa a adrenalina.<br />
4<br />
NÃO CONFIE NA SUA INTUIÇÃO!<br />
Ela engana, pois as informações que recebemos<br />
do ambiente não são precisas. Por isso, só tome<br />
decisões com base na lógica. O nobel Daniel<br />
Kahneman refletiu muito a respeito.<br />
Canhão<br />
fotográfico<br />
Pesa 20 gramas, não é muito<br />
maior que a unha do polegar<br />
e registra duas fotos por<br />
minuto. O Narrative Clip<br />
salva cada momento da<br />
sua vida. O seu sorriso<br />
também amarelou<br />
THE RED BULLETIN 23
KILIAN JORNET DIVIDE OPINIÕES NO MUNDO DO MONTANHISMO<br />
O QUE O ATLETA CATALÃO TEM FEITO NOS PRINCIPAIS MONTES DO PLANETA<br />
É ALGO JAMAIS VISTO: ELE ENCARA OS DESAFIOS A TODA VELOCIDADE,<br />
COM O MÍNIMO DE EQUIPAMENTO E MUITA CORAGEM<br />
POR: NORMAN HOWELL<br />
FOTOS: MATT GEORGES<br />
MAIS<br />
DO QUE<br />
ESCALADA<br />
25
Homem rápido:<br />
Kilian Jornet<br />
demonstra o que<br />
faz dele um ser<br />
supremo nas<br />
montanhas,<br />
enfrentando o<br />
caminho íngreme<br />
e sinuoso no<br />
vilarejo de Le Tour,<br />
perto de Chamonix<br />
“NÃO SINTO MEDO, MAS EXISTE UM SENTIMENTO CONSTANTE<br />
DE PREOCUPAÇÃO. SE VOCÊ NÃO GOSTA DO RISCO, OU NÃO<br />
ACEITA, NÃO DEVE FAZER ESSAS COISAS. MESMO TREINANDO<br />
E VIVENDO NAS MONTANHAS, NUNCA SE SABE DE TUDO.”
Kilian Jornet é um homem que vai a muitos lugares<br />
e com rapidez. Ele corre no verão e anda de esqui no<br />
inverno. É o melhor atleta de resistência do mundo e,<br />
aos 27 anos, acumula conquistas mais importantes<br />
que muitos atletas de nível internacional. Ele vence<br />
corridas de centenas de quilômetros, corre por geleiras,<br />
sobe a toda velocidade montanhas e depois desce<br />
de esqui. Subiu alguns dos picos mais importantes<br />
do mundo a toda velocidade, sem auxílio, carregando<br />
o mínimo de equipamento, quebrando recordes improváveis.<br />
Quando ele pode, para, admira a vista, come<br />
umas frutinhas e bebe água direto da fonte. Na maior<br />
parte das vezes, compete contra ele mesmo.<br />
Para alguns, ele inventou um novo esporte; para<br />
outros, está envergonhando a longeva tradição do<br />
alpinismo e incentivando um comportamento irresponsável<br />
nas montanhas. Jornet prima pela simplicidade:<br />
ele diz que é apenas um montanhista em<br />
busca de diversão.<br />
Diversão, no vocabulário de Jornet, quer dizer subir<br />
e descer o Mont Blanc em 4 horas e 57 minutos e<br />
o Matterhorn em 2 horas e 52 minutos. Ou percorrer<br />
toda a extensão dos Pireneus, do Atlântico ao Mediterrâneo,<br />
850 km e 42 mil metros de elevação, em<br />
oito dias. Ou, sua mais nova opção de divertimento,<br />
conquistar o Monte McKinley, no Alasca, a 6 168 metros,<br />
o mais alto da América do Norte, escalando a pé<br />
na neve e na cerração, e depois descer de novo, de<br />
esqui, num trajeto de 11 horas e 48 minutos ao todo.<br />
Outro recorde, outra façanha do montanhismo.<br />
Além dessas realizações na escalada de velocidade,<br />
Jornet foi muitas vezes campeão mundial em uma<br />
corrida extrema por trilhas (distâncias grandes, de<br />
tipicamente 80 km a 160 km de montanha), escalada<br />
vertical (1 km em disparadas de castigar o pulmão)<br />
e corridas na altitude (mais curtas, de 20 km a 42 km).<br />
Ele também venceu a maioria das mais importantes<br />
competições de montanhismo e alpinismo em todos<br />
os Alpes e detém o recorde de muitos deles. No final<br />
do ano, vai em busca do Aconcágua, nos Andes argentinos,<br />
próximo da cidade de Mendoza. Depois, atacará<br />
montanhas na Rússia e América do Norte.<br />
A seguir, enumeramos alguns extratos de uma<br />
longa entrevista que Jornet concedeu ao Red Bulletin<br />
no vilarejo de Le Tour, próximo de Chamonix, na<br />
França, enquanto subia um caminho íngreme para<br />
encontrar um local adequado para a sessão de fotos.<br />
Uma van Mercedes azul com placa da Espanha entra<br />
no estacionamento. Kilian Jornet chegou. Ele está de<br />
bermuda, colete de corrida, jaqueta e tênis de trilha.<br />
Parece pequeno dentro da jaqueta. Ele é tímido no<br />
começo. Apesar de ter presença, um sorriso pronto e<br />
a aura de alguém que já fez tanta coisa, ele não fala<br />
muito. É bastante gentil, prestativo e, pelas quatro<br />
horas e meia seguintes, está totalmente dedicado a<br />
ser um profissional perfeito.<br />
“NÃO VEJO DISTINÇÃO ENTRE<br />
ESQUI, MONTANHISMO E CORRIDA:<br />
PARA MIM, É TUDO UMA QUESTÃO<br />
DE ESTAR NAS MONTANHAS.”<br />
the red bulletin: Fale sobre a sua família.<br />
kilian jornet: Meu pai é um guia e guardião<br />
de uma reserva na montanha. Ele aborda de forma<br />
clássica o montanhismo: usa botas e mochilas<br />
enormes. Minha mãe é professora, adora correr,<br />
pratica o montanhismo de maneira mais relaxada<br />
e tem uma profunda consciência da natureza.<br />
Ela me transmitiu o desejo de compreender como<br />
as coisas acontecem e como a natureza é. Desde<br />
meus 3 anos até talvez os 10, depois do jantar,<br />
antes de ir para a cama, já de pijamas, nós saíamos<br />
para dar uma caminhada na floresta.<br />
Lembro-me de ficar com medo nas primeiras vezes,<br />
minha irmã e eu nos agarrávamos nas pernas da minha<br />
mãe e ficávamos junto dela. Mas, pouco depois, nos<br />
acostumamos com tudo, com a floresta, e, apesar de<br />
perceber que não se pode saber o que está ao redor,<br />
pode-se sentir o chão, tem o vento e a chuva, você<br />
começa a ficar mais confiante para caminhar na floresta<br />
à noite e passa a se divertir. Meus pais desenvolveram<br />
em mim um grande sentimento de responsabilidade.<br />
Quando nós partíamos em uma trilha, nunca<br />
eles foram na dianteira. Ao contrário, minha irmã e<br />
eu íamos na frente e tínhamos que decidir o caminho.<br />
28 THE RED BULLETIN
Grandes marcas:<br />
Kilian Jornet é<br />
multicampeão<br />
de trail running,<br />
skyrunning e<br />
escalada vertical.<br />
Ele também tem<br />
diversos recordes no<br />
alpinismo com esqui
“QUANDO COMECEI A PRATICAR, AOS 13 ANOS, FIQUEI FASCI-<br />
NADO PELA HISTÓRIA DE BRUNO BRUNOD E DE SEU RECORDE<br />
NO MATTERHORN (...) FORAM FAÇANHAS QUE ME FIZERAM<br />
SONHAR. PARA MIM, ERAM ACONTECIMENTOS LINDOS.”<br />
Jornet sabe como poucos<br />
que montanhismo é um<br />
estilo de vida. Sua maneira<br />
de encarar as montanhas<br />
em desafios que beiram<br />
o surreal é vista por<br />
ele como algo natural,<br />
uma maneira própria de<br />
interagir com a natureza
Quando errávamos, eles nos ajudavam<br />
a consertar e a analisar nossos erros junto<br />
com a gente. Era divertido, nós tínhamos<br />
que nos lembrar de referências, das flores<br />
e dos animais.<br />
Diversão é o que importa.<br />
Acho que é importante ser feliz. Não quer<br />
dizer que tudo tenha que ser carpe diem<br />
e só se divertir a todo momento. Você<br />
também precisa buscar as coisas que te<br />
fazem feliz. Isso significa muitas vezes<br />
que será difícil e haverá sofrimento, mas<br />
também haverá diversão. O sofrimento<br />
é duro, mas é diferente se vem do mundo<br />
exterior. Então, é um estado mental diferente.<br />
Por exemplo, você está em uma<br />
expedição e está realmente frio e o tempo<br />
está terrível: você sofre, é claro, mas é<br />
a sua escolha, então você lida com isso.<br />
O montanhismo não é apenas um esporte,<br />
é um estilo de vida.<br />
Você falou tanto em esportes quanto<br />
em montanhismo. Você inventou uma<br />
nova forma de estar nas montanhas,<br />
um novo esporte<br />
Não, estou apenas repetindo o que as<br />
pessoas fizeram no passado e o que ainda<br />
farão no futuro. Quando observamos o que<br />
figuras como Bruno Brunod e Marino<br />
Giacometti fizeram, foi igual, ou como<br />
Walter Bonatti, que estava fazendo um<br />
montanhismo light há muito tempo, como<br />
fazia Reinhold Messner, à sua maneira...<br />
É bacana ver que existem várias formas<br />
de se relacionar com a montanha. Tem<br />
os base jumpers, cuja interpretação é<br />
completamente diferente das montanhas,<br />
e eu com meu estilo de corredor… nós<br />
estamos todos fazendo a mesma coisa,<br />
mas de maneiras diferentes.<br />
O fotógrafo então pede que Jornet corra<br />
sobre uma superfície particularmente<br />
íngreme do terreno com uma geleira no<br />
fundo que ficaria bem na foto. Jornet tira<br />
a jaqueta que usava por baixo e corre. Ele<br />
não faz nenhum esforço, é leve, saltitante.<br />
Em menos de um minuto ele desaparece<br />
de vista ao alcançar o cume. Ele não está<br />
correndo, ele apenas flui pela montanha.<br />
Você descreveu uma vez a corrida<br />
como um fluxo. Você correu antes e<br />
nada foi um obstáculo, você simplesmente<br />
ultrapassou tudo com muita<br />
tranquilidade.<br />
“É BONITO VER OS<br />
ANIMAIS SE MOVENDO.<br />
ELES TÊM MUITA SUTILEZA.<br />
NÓS NÃO FOMOS<br />
FEITOS PARA ISSO.”<br />
32
Sim, mas existem alguns lugares onde<br />
os obstáculos existem (risos). É muito<br />
bonito ver os animais se movendo. Eles<br />
se mexem com tanta sutileza que parece<br />
fácil. Para nós, é muito técnico, você<br />
precisa se concentrar onde coloca os pés,<br />
e você luta, e então vê um bicho correndo<br />
e se dá conta de que na verdade nós não<br />
fomos feitos para isso.<br />
Falando sobre os riscos, o seu recorde<br />
no Monte McKinley foi alcançado nas<br />
mais duras condições.<br />
Sim, o tempo estava terrível no Denali<br />
[como é chamado no Alasca]. Estava lá<br />
havia 20 dias e tinha apenas passado<br />
três com sol. O tempo estava bom quando<br />
cheguei. Mas depois disso foi ruim.<br />
Quando soube que haveria uma janela<br />
de tempo aberta, decidi arriscar. O tempo<br />
mudou a 5 mil metros: eu estava no meio<br />
das nuvens e ventava forte. Começou a<br />
nevar e minha visibilidade não ia mais<br />
que 20 metros. Então, nos últimos 1,5 mil<br />
metros, realmente dei tudo porque estava<br />
sozinho e tinha que abrir a trilha, o que<br />
era difícil. Eu não sabia se conseguiria<br />
chegar ao cume. Quando consegui, foi<br />
uma sensação muito boa de colocar meus<br />
esquis no pé, porque a escalada tinha<br />
sido muito difícil. Mas o tempo estava<br />
piorando: era uma cerração densa, e eu<br />
podia ver apenas 2 ou 3 metros na minha<br />
frente e nevava pesado. Eu tinha que descer<br />
rápido para quebrar o recorde. Então,<br />
desci direto, praticamente às cegas, já que<br />
eu realmente não sabia o que encontraria<br />
pela frente.<br />
Você teve medo<br />
Não é medo, mas existe um sentimento<br />
constante de preocupação. Se você não<br />
gosta do risco, ou não aceita, não deve<br />
fazer essas coisas. Mesmo indo muito<br />
às montanhas, treinando e vivendo nelas,<br />
Um dos feitos mais<br />
recentes de Jornet<br />
foi a escalada do<br />
McKinley, no Alasca,<br />
onde esquiou por<br />
mais de 11 horas<br />
nunca se sabe de tudo. Pode-se saber apenas<br />
uma parte pequena, e é preciso aceitar<br />
isso. Quando se é jovem, olha-se para a<br />
montanha, enxerga-se sua beleza, mas não<br />
se entendem os riscos. Quanto mais se<br />
cresce em anos e experiência, mais se vê<br />
a montanha de forma diferente. Você entende<br />
os perigos. E eles não são os que você<br />
espera, ou os que os livros avisaram. Sempre<br />
são as coisas mais estranhas, inesperadas,<br />
o ilógico. É preciso saber e compreender<br />
isso se quiser estar nas montanhas.<br />
Outra pausa porque o fotógrafo precisa<br />
ajustar a iluminação. Jornet se acomoda<br />
em um arbusto e colhe umas frutinhas. Ele<br />
faz isso muito durante a entrevista,<br />
pega umas frutinhas<br />
azuis e outras vermelhas. Ele<br />
pega um punhado e as oferece.<br />
“É rico em vitamina C! Tem<br />
tanta comida boa nas montanhas,<br />
é por isso que eu quase<br />
nunca levo nada para comer.<br />
E tem água em todas as partes!”<br />
Então, ele tira uma foto das<br />
frutinhas selvagens na palma<br />
da mão e posta no seu Instagram.<br />
Ele gosta de mostrar<br />
seu dia a dia nas montanhas.<br />
Tem mais de 60 mil seguidores.<br />
Como começou o projeto<br />
“The Summits of My Life”<br />
Comecei há três anos, mas<br />
tenho ele em mente há muito<br />
tempo. Quando era criança,<br />
tinha um pôster enorme do<br />
Matterhorn no quarto, e os<br />
livros que eu lia eram sobre<br />
montanhismo. Então, sabia<br />
o nome dos picos e suas histórias.<br />
Quando comecei a praticar<br />
esportes, aos 13 anos,<br />
fiquei fascinado pela história<br />
de Bruno Brunod e do seu<br />
recorde no Matterhorn, ou<br />
de Stéphane Brosse, quando<br />
ele estabeleceu o recorde<br />
no Mont Blanc… essas foram<br />
as façanhas que me fizeram<br />
sonhar. Essas montanhas e<br />
esses feitos eram ao mesmo<br />
tempo lindos e estéticos.<br />
Stéphane Brosse morreu enquanto<br />
conquistava os oito picos do maciço<br />
do Mont Blanc de esqui com Jornet.<br />
Brosse era um dos seus ídolos.<br />
PROJETO<br />
“SUMMITS<br />
OF MY LIFE”<br />
Por que escolheu esses cumes<br />
O Matterhorn, bom, porque está lá.<br />
E por causa do recorde de Bruno Brunod,<br />
que foi uma conquista inacreditável.<br />
Cruzar o Mont Blanc<br />
(4 810 m)<br />
A rota de Courmayeur a<br />
Chamonix liga as capitais<br />
do alpinismo. 8h42m<br />
(normalmente: 3 dias)<br />
Matterhorn (4 478 m)<br />
Quebrou o recorde<br />
de Bruno Brunod,<br />
seu herói de infância,<br />
em 1983. 2h52m<br />
Mont Blanc (4 818 m)<br />
A montanha mais alta<br />
dos Alpes. 4h57m<br />
McKinley (6 168 m)<br />
A mais alta da América<br />
do Norte e sujeita a<br />
temperaturas polares.<br />
11h48m<br />
Aconcágua (6 959 m)<br />
O pico mais alto da<br />
América do Sul. Ele irá<br />
encarar no fim de 2014.<br />
Monte Elbrus<br />
(5 642 m)<br />
O monte mais alto<br />
e difícil da Europa.<br />
Tentou uma vez e não<br />
conseguiu. Tentará<br />
de novo em 2015.<br />
Everest (8 848 m)<br />
O topo do mundo –<br />
ainda busca liberação.<br />
E o Mont Blanc pela sua posição na<br />
história do montanhismo. O Aconcágua<br />
é o mais alto na América Latina. O Elbrus<br />
é o mais alto da Europa, e eu também<br />
gosto do fato de a Rússia ter a cultura<br />
de selecionar as melhores pessoas para<br />
expedições nas montanhas colocando-as<br />
para escalar essa montanha com velocidade.<br />
Você consegue imaginar uma corrida<br />
entre Chamonix e o cume do Mont<br />
Blanc Impossível, mas é o que acontece<br />
na Rússia, e é por isso que eu gosto tanto<br />
de ir para lá. O McKinley é uma montanha<br />
polar com condições realmente extremas,<br />
e o Everest, é claro, é a mais alta do mundo<br />
e, hoje, com todas as expedições comerciais,<br />
é fácil de escalar. Mas,<br />
se você não vai pela rota normal<br />
e evita as cordas fixas,<br />
então é uma montanha grande.<br />
Como você se sente de subir<br />
o Everest depois de toda<br />
a confusão que aconteceu<br />
neste ano<br />
Muito da confusão surgiu<br />
da forma como a maioria<br />
das pessoas no Oriente lida<br />
com a escalada, de maneira<br />
muito comercial. Quando<br />
Ueli Steck e Simone Moro<br />
estiveram lá, eles escalaram<br />
rápido, então não fazia parte<br />
das ideias de sherpas que<br />
uma escalada daquelas fosse<br />
possível. Com o Everest, se<br />
você vai pela rota normal,<br />
onde todas as outras pessoas<br />
estão escalando, pode ter<br />
problemas. Nós vamos evitar<br />
a rota normal, estaremos sozinhos<br />
daquele lado da montanha.<br />
Haverá apenas quatro<br />
de nós, sem carrega dores.<br />
Nós podemos ter pro blemas<br />
entre nós mesmos (risos),<br />
mas não com os outros.<br />
É hora de ir. Jornet precisa<br />
fazer umas filmagens no<br />
esta cionamento onde nos<br />
encon tramos. Escurecerá<br />
em breve. Ele pega uma das<br />
pesadas sacolas do fotógrafo,<br />
carregada de equipamento,<br />
coloca nos ombros e começa<br />
a descer a trilha. Ele cantarola sozinho,<br />
como faz no filme Déjame Vivir e nos<br />
muitos vídeos em que aparece no YouTube.<br />
Sem forçar, apenas fluindo pelo caminho<br />
pedregoso e enla meado. Infantil e alegre.<br />
Jornet some de vista, a voz do seu canto<br />
sumindo atrás dele. Ele simplesmente<br />
ama fazer o que faz.<br />
www.summitsofmylife.com<br />
33
AS LIÇÕES<br />
DE HANNIBAL<br />
LECTER<br />
Em entrevista ao Red Bulletin,<br />
Mads Mikkelsen fala sobre<br />
grandes temas como a vida<br />
e a morte; Deus e o mundo;<br />
e bicicletas<br />
ENTREVISTA: RÜDIGER STURM<br />
FOTOS: KENNETH WILLARDT/CORBIS OUTLINE<br />
34
“[Se percebo que não fluí na<br />
interpretação] Exijo repetir.<br />
Porque sei que não ficou bom.<br />
Não importa o quanto<br />
o diretor esteja satisfeito.”
Mads Mikkelsen, 48, dinamarquês, filho de uma enfermeira<br />
e de um sindicalista, é hoje provavelmente<br />
a maior estrela entre os atores europeus. Ele chega<br />
para a entrevista com o Red Bulletin meio despenteado,<br />
com sua barba por fazer e a camisa enfiada de qualquer<br />
jeito no jeans. Mas ele está bem acordado e com<br />
um humor ótimo. “Antes de começar a entrevista,<br />
tenho que avisar uma coisa para você”, diz. “Nós, os<br />
dinamarqueses, somos muito bons em fazer piadas<br />
com nós mesmos. Por trás de tudo que dizemos tem<br />
sempre um senso de humor cruel.” Foram essas suas<br />
primeiras palavras antes de falar sobre seu processo<br />
criativo, suas crenças e a paixão pelas bicicletas.<br />
the red bulletin: Senhor Mikkelsen, você fez<br />
um vilão com James Bond, foi herói no faroeste<br />
e na mitologia grega, e também encarnou<br />
Hannibal Lecter. De onde vem essa preferência<br />
por personagens extremos<br />
mads mikkelsen: A resposta é simples. A minha<br />
vida é muito chata. Para um projeto me tocar, ele<br />
tem que ser ou dramático ou emocionante ou mesmo<br />
louco. Eu preciso do contraste. De comédias, por<br />
exemplo, eu não gosto nem um pouco. A não ser<br />
que sejam muito loucas.<br />
Hannibal é tudo menos uma comédia. No momento,<br />
você está filmando a terceira temporada da<br />
série que tem sido um sucesso. Não teve dúvidas<br />
quanto a fazer esse personagem<br />
Não depois que falei com Bryan Fuller, a mente<br />
criativa por trás da série. Ele queria me apresentar<br />
a história em dez minutos. Depois de duas horas,<br />
ele ainda estava falando. Ele delirava sobre Hannibal<br />
como um adolescente apaixonado. Depois dessa<br />
conversa, ficou claro: tinha que fazer alguma coisa<br />
junto com aquele cara doido.<br />
37
Ex-dançarino<br />
profissional,<br />
Mikkelsen iniciou<br />
a carreira de ator<br />
nos anos 1990,<br />
fazendo seu nome<br />
como um traficante<br />
de drogas na trilogia<br />
dinamarquesa<br />
Pusher<br />
Quanto é necessário e até que ponto o ator deve<br />
encarnar um personagem canibal<br />
Hahaha, você quer saber se eu…<br />
...não foi até as últimas consequências,<br />
certamente.<br />
Fora suas preferências alimentares muito... excêntricas,<br />
ele não é um psicopata típico. Hannibal Lecter não<br />
é um animal unidimensional. Não cometa o erro de<br />
reduzi-lo. Ele ama arte, música, comida, línguas e,<br />
também, matar. Para ele, trata-se de mais uma paixão.<br />
Tem inclusive um certo, digamos, amor no que faz. É<br />
uma faceta que tento expressar... Acha louco demais<br />
Talvez se você explicasse essa ideia um pouco<br />
melhor.<br />
Ele é um dos monstros mais horrorosos que já vimos.<br />
Claro. Mas, deixando de lado suas atrocidades, podemos<br />
aprender muito com Hannibal. Por exemplo,<br />
que a vida no limiar da morte é muito mais interessante.<br />
Porque é quando percebemos que devemos<br />
aproveitar a vida ao máximo todos os dias. Ele não<br />
tem tempo para banalidades. Não perde tempo com<br />
pessoas estúpidas. Você pode aprender muito com<br />
essa atitude. Além disso, uma coisa que me fascina<br />
nele é sua imensa autoconfiança.<br />
Por quê<br />
Porque sou uma pessoa insegura. Sempre estou<br />
inseguro quando experimento alguma coisa, cada<br />
vez que faço um trabalho. O sentimento de insegurança<br />
é minha companhia constante<br />
“Quando você sobe na bicicleta e quase<br />
cospe sangue, o seu cérebro produz<br />
essas endorfinas [...] Ando todos os<br />
dias. Se não ando, fico desesperado.”<br />
Agora você está mentindo.<br />
Não! É verdade!<br />
Insegurança poderia ser útil se você fizesse personagens<br />
medrosos, desesperados, desconfiados.<br />
Mas você interpreta heróis. Como dá para ficar<br />
inseguro ao interpretar heróis<br />
Tenho que esquecer a insegurança. Eu sei, eu sei,<br />
falar é fácil. O que tento fazer é, quando estou interpretando,<br />
entrar em um tipo de estado fluido. Então<br />
não penso. Eu sou. Quando começo a pensar e raciocinar,<br />
quando estou consciente do que estou fazendo,<br />
então não funciona. Quando percebo que isso aconteceu,<br />
preciso repetir tudo novamente.<br />
A não ser que o diretor goste do resultado.<br />
Não. Não abro mão. Eu exijo repetir. Porque sei que<br />
não ficou bom. Eu sei. Dá para entender Não importa<br />
o quanto o diretor esteja satisfeito.<br />
38 THE RED BULLETIN
Você tem alguma tendência em ser solitário<br />
Essa profissão é ao mesmo tempo muito social e<br />
muito antissocial. Quando estamos trabalhando,<br />
estamos cercados de gente o tempo todo. Ou não<br />
seria possível realizar o trabalho. Ao mesmo tempo,<br />
um ator tem que vivenciar seu próprio processo<br />
interno. Você tem que encontrar uma personalidade<br />
diferente dentro de você e conduzi-la. Para isso é<br />
preciso estar completamente sozinho. E é preciso<br />
conseguir estar nesse estado mesmo rodeado de<br />
centenas de pessoas. Isso tem que ser aprendido.<br />
Quando se aprende a escutar somente os próprios<br />
pensamentos e a própria música interna, a qualidade<br />
da inspiração se torna infinita.<br />
Como se aprende isso Maturidade<br />
Anos de meditação<br />
Andando de bicicleta.<br />
Ah.<br />
Ando todos os dias. Uma ou duas horas, quando vou<br />
sozinho. Mais tempo se vou com um grupo. Andar<br />
de bicicleta é a minha droga. Você pode perguntar<br />
aos maratonistas ou triatletas. Todos conhecemos<br />
a sensação. Quando você sobe na bicicleta e quase<br />
cospe sangue, o seu cérebro produz essas endorfinas.<br />
Coisinhas incríveis. Você fica viciado nelas. Quando<br />
não posso andar de bicicleta alguns dias, entro<br />
em desespero.<br />
Senhor Mikkelsen, isso é uma confissão de<br />
um viciado em drogas<br />
Hahaha, até um certo ponto, sim. Claro que tem<br />
situações em que você esgota todas as energias, está<br />
fraco e pega uma gripe. Isso seria uma viagem errada,<br />
se você quiser. Mas normalmente você ganha uma<br />
boa dose de adrenalina. Tem pessoas que precisam<br />
sentir o perigo para experimentar essa sensação.<br />
Elas escalam montanhas. Isso não me interessa.<br />
O que me interessa é ir até aquele limite extremo<br />
em que nada mais rola. Onde já não posso mais.<br />
Isso me deixa realizado.<br />
O que exatamente deixa você realizado<br />
Eu já refleti sobre o que acontece ali. Mas não sei<br />
o que é. Sinceramente. Devo ser simplesmente<br />
viciado em esportes. Mesmo quando não estou com<br />
a bicicleta, pratico algum outro esporte – futebol,<br />
handebol, tênis. Quando tenho um intervalo, assisto<br />
a esportes na TV.<br />
Tem alguma aventura de bicicleta que marcou<br />
você<br />
Uma vez em Los Angeles. Um amigo tinha duas bicicletas<br />
de corrida e me desafiou. Fazia algum tempo<br />
que não pedalava, mas não dei importância. Normalmente<br />
estou em boa forma. E então fomos... subindo<br />
e descendo as montanhas ao redor de Los Angeles.<br />
E foi um fiasco. Sofri muito. Quase morri. Sem chance<br />
de ganhar do meu amigo. Uma frustração completa.<br />
Depois da corrida, disse a mim mesmo: “Você não<br />
pode admitir isso”. Comprei uma bicicleta de corrida,<br />
me preparei, voltei a Los Angeles e aí ele teve que<br />
se ver comigo. Foi muito divertido!<br />
Quer dizer que podemos imaginar como Mads<br />
Mikkelsen organiza corridas particulares de<br />
ciclismo nas estradas ao redor de Los Angeles<br />
(Risos.) Não como algo que aconteça todo dia. Mas<br />
daquela vez foi importante. Eu precisava daquela<br />
revanche. Não podia simplesmente aceitar uma<br />
derrota sem fazer nada.<br />
Não é uma acusação, mas tem uma razão para<br />
se fechar uma estrada quando se realiza uma<br />
corrida.<br />
Claro. Você tem razão. Eu reconheço que foi perigoso.<br />
Nas ruas de Los Angeles têm essas grades enormes<br />
sobre os bueiros para recolher a água da chuva.<br />
Elas são grandes demais para você passar em cima<br />
com a bicicleta. O pneu entala. O que teria graves<br />
consequências mesmo numa velocidade abaixo<br />
dos 50km/h. Mas eu fui com tudo a 50 por hora na<br />
direção de uma dessas grades. Quando vi, era tarde<br />
demais para desviar. Eu sabia: ou conseguia saltar<br />
sobre a coisa, ou seria uma queda. E por sorte eu<br />
consegui. Só uma pequena parte do pneu traseiro<br />
tocou a grade. Essa foi por muito pouco.<br />
Talvez tenha um anjo da guarda vigiando você<br />
Não sou nada religioso. Zero. Claro, seria muito<br />
bom se houvesse um ser superior bondoso. Mas,<br />
até que tenhamos prova disso, acho que é melhor<br />
que tomemos as rédeas de nossa vida nas próprias<br />
mãos. Ação própria, responsabilidade própria.<br />
Prefiro assim.<br />
Em todo caso, deve ter sido uma sensação incrível<br />
sair de um susto desses sem um arranhão...<br />
De jeito nenhum! Eu estava irritado e assustado.<br />
Acabei de dizer que o perigo não me excita. Não<br />
me interessa.<br />
Mas, por outro lado, você também disse que<br />
a vida no limiar da morte é mais interessante.<br />
O que não significa que você deve se arriscar<br />
imprudentemente.<br />
Senhor Mikkelsen, você está dizendo isso no<br />
mesmo momento em que acende um cigarro!<br />
Ponto pra você. Hahahaha! Eu já tentei parar,<br />
mas não consegui.<br />
Pense bem, quantos desafios ciclísticos você<br />
não poderia vencer com os pulmões limpos<br />
Você tem razão. Se eu parasse de fumar, seria mais<br />
rápido pedalando. Talvez possa me fixar nessa ideia<br />
como motivação para parar.<br />
39
“Ele é muito bom.<br />
Sua figura no ar é muito<br />
bonita”, diz Duque sobre<br />
Paredes. “O Johnny tem<br />
fome, tem vontade…<br />
E todas as habilidades<br />
necessárias para ser<br />
um sucesso no esporte”
INSTRUÇ ~ O E S<br />
PARA HERDAR<br />
UM REINO<br />
Cenote Ik Kil, estado de Yucatán (México).<br />
Última parada do Red Bull Cliff Diving World<br />
Series 2014. O saltador mexicano Jonathan<br />
Paredes está na beira da plataforma, a 27 m de<br />
altura. Abaixo, Orlando Duque, 12 vezes campeão<br />
mundial, o anima. O medo e a pressão se notam<br />
no ar.Jonathan salta e falha em sua entrada<br />
na água. Orlando ri e aplaude: ele sabe que acabou<br />
de ver um futuro número um do mundo falhar<br />
Por: Armando Aguilar<br />
ROMINA AMATO/RED BULL CONTENT POOL<br />
41
Quando o nome de Jonathan<br />
foi mencionado para que fosse<br />
convidado ao Red Bull Cliff Diving<br />
World Series, Orlando o apoiou.<br />
“Pediram minha opinião, e eu disse<br />
que sim na hora. Só recomendo<br />
quem tem realmente qualidade.<br />
E ele se destacava, sem dúvida”<br />
A<br />
foto é comovente. Dois amigos unidos,<br />
um com um abraço e o outro com o coração:<br />
Jonathan não só rodeia Orlando<br />
com seus braços, como também repousa<br />
sua cabeça sobre o ombro de seu mentor.<br />
Os dois sorriem com essa alegria contagiante.<br />
Acabam de conseguir algo histórico:<br />
Orlando Duque, a grande lenda, e<br />
Jonathan Paredes, o novato, levam o ouro<br />
e o bronze, respectivamente, na estreia<br />
dos saltos de grande altura dentro do<br />
Campeonato Mundial da Federação Internacional<br />
de Natação, em Barcelona, 2013.<br />
“Conseguimos, cara. Conseguimos!”, diz<br />
o colombiano ao jovem, que não consegue<br />
conter a emoção e começa a chorar.<br />
Alguém comenta com o mexicano que<br />
ninguém de sua delegação presenciou sua<br />
façanha. “Não importa, aqui está Duque,<br />
que é quem tem que estar”, responde.<br />
Além dessa medalha, 2013 foi tão<br />
incrível para Jonathan (novato do ano no<br />
Red Bull Cliff Diving e quarto lugar geral<br />
– atrás de Duque, que ficou em terceiro),<br />
que muitos acharam que o mexicano era<br />
a próxima grande estrela dos saltos de<br />
penhasco. “As pessoas que entendem desse<br />
esporte podem identificar quem tem um<br />
futuro extraordinário e quem vai ter que<br />
trabalhar com mais esforço. Johnny é dos<br />
primeiros. É como as pessoas que entendem<br />
de cavalos: sabem em que animal<br />
devem apostar”, diz Orlando.<br />
No entanto, 2014 acabou não sendo<br />
maravilhoso para Jonathan: arrancou<br />
com dois pódios no Red Bull deste ano,<br />
mas teve dois tropeços graves, em Portugal<br />
e na Espanha. O novato do ano passado<br />
foi desmoronando, e sua participação<br />
na temporada 2015 está em perigo.<br />
Tudo se define aqui, em Ik Kil.<br />
Jonathan Paredes pode realmente ser<br />
um herdeiro digno do legado de Orlando<br />
Duque “Não é meu legado. Somos muitos<br />
os que colaboramos todos estes anos para<br />
tornar grande esse esporte, a diferença<br />
é que eu durei várias gerações. Mas sim,<br />
ao final, Johnny será a pessoa que transmitirá<br />
o conhecimento aos novos saltadores”,<br />
afirma Orlando, que também adverte:<br />
“Mas ele precisa melhorar algumas coisas,<br />
nós já falamos sobre isso. Por exemplo...”.<br />
Aqui vão os conselhos de uma lenda para<br />
seu amigo:<br />
“PERCA O MEDO, É HORA DE<br />
ARRISCAR.” Durante a prática prévia<br />
à grande final 2014 do Red Bull Cliff<br />
Diving em Ik Kil, Jucelino Junior, saltador<br />
brasileiro, caminha até a beira da plataforma.<br />
Ele para, espia o penhasco e dá<br />
dois passos para trás. Jucelino volta para<br />
a borda da plataforma, fica imóvel por<br />
alguns segundos e, quando parece que<br />
vai decolar, retrocede. Decepcionado,<br />
Depois de ser o novato<br />
do ano em 2013, Jonathan<br />
experimentou a fama<br />
e a exigência. “Este ano<br />
eu estava esperando<br />
muitas coisas muito cedo,<br />
e acho que foi isso que<br />
me pressionou”, afirma<br />
42 THE RED BULLETIN
DEAN TREML/RED BULL CONTENT POOL (2), AGUSTIN MUNOZ/RED BULL CONTENT POOL<br />
“O JOHNNY PRECISA PARAR DE<br />
SE DEIXAR PRESSIONAR TANTO<br />
PELO PAÍS, PELA FAMÍLIA, POR<br />
ELE MESMO, E CURTIR MAIS.”<br />
THE RED BULLETIN 43
O que Orlando<br />
significa para Johnny<br />
“Ele é a pessoa que eu<br />
mais admiro e que vou<br />
admirar para sempre,<br />
porque ninguém vai<br />
conseguir o que ele já<br />
fez até agora. Nem eu<br />
vou conseguir isso”<br />
“NÃO É RUIM TER MEDO,<br />
MAS AQUI É PRECISO<br />
ARRISCAR.”<br />
ROMINA AMATO/RED BULL CONTENT POOL (2), DEAN TREML/RED BULL CONTENT POOL<br />
44
abaixa a cabeça. Lá embaixo, o público<br />
o incentiva. Jucelino volta à posição de<br />
salto, abre os braços para começar, mas<br />
se arrepende, levanta uma mão para se<br />
desculpar e se retira. Sim, esses homens<br />
também sentem medo. E como não ter<br />
medo quando você vai se jogar de uma<br />
altura de oito andares, uma ousadia que<br />
acelerará seu corpo mais rápido que um<br />
carro de corrida, para impactar com a água<br />
a 85 km/h em apenas três segundos<br />
“Quando você para na plataforma e volta,<br />
está claro que existe temor. Quando você<br />
chega ao final da plataforma, não vai voltar,<br />
porque está preparado para saltar.<br />
E Johnny estava tendo um bloqueio meio<br />
complicado em relação a isso”, indica<br />
Orlando. O temor é um sistema de defesa<br />
que nos põe em alerta, mas se nos domina<br />
faz com que cometamos erros, e isso é<br />
uma coisa que um saltador de penhascos<br />
não pode se permitir. “Não é ruim ter<br />
medo, mas aqui é preciso arriscar e vencer<br />
o temor. Uma nota 9 ou 10 de qualificação<br />
não se consegue com hesitações.<br />
Johnny deve confiar no seu preparo, foi<br />
para isso que ele treinou, para se arriscar<br />
de uma forma segura. Ele foi entendendo<br />
isso, e cada vez salta mais tranquilo.”<br />
O que motivou Orlando a “adotar” Jonathan<br />
“Eu achei ele legal. Johnny é uma pessoa<br />
agradável, é muito educado e estava muito<br />
emocionado por competir entre nós”<br />
F<br />
AÇA SALTOS COM<br />
MAIOR GRAU DE DIFI-<br />
CULDADE. OS SALTOS<br />
QUE VOCÊ DOMINA<br />
JÁ NÃO LHE BASTAM.”<br />
Duque sempre admitiu<br />
que não tem muito<br />
como ajudar Jonathan<br />
em relação à técnica:<br />
“O que Johnny sabe sobre saltos ele<br />
aprendeu há muito tempo com a escola<br />
mexicana de clavados (saltadores de<br />
grandes alturas), uma das melhores do<br />
mundo, mas já é necessário que ele aumente<br />
o grau de dificuldade”. Durante<br />
o ano passado e o começo deste, a média<br />
de qualificações para os saltos de Jonathan<br />
era 9. A fórmula era simples: ele executava<br />
saltos excelentes e conservadores,<br />
à espera de que os outros competidores<br />
falhassem um pouco nos saltos mais arriscados.<br />
“Isso não tinha como funcionar<br />
sempre, os outros saltadores aperfeiçoaram<br />
os saltos com maior grau de dificuldade,<br />
e agora os saltos que Johnny mais<br />
domina já não são suficientes.”<br />
É o que está acontecendo agora em<br />
Ik Kil: enquanto Jonathan tenta garantir<br />
seu lugar na série do próximo ano com<br />
os saltos com os quais ele se sente seguro,<br />
o inglês Gary Hunt apresentou como último<br />
salto um triple quad, um dos saltos<br />
com maior grau de dificuldade. Jonathan<br />
falha e mal consegue receber alguns oitos;<br />
Gary recebe uma enxurrada de noves com<br />
seu último salto. “Eu nunca fiz os saltos<br />
mais difíceis, mas sempre saltei com muita<br />
qualidade, e isso me fez ganhar muitos<br />
eventos”, diz Orlando. “Johnny não tem<br />
que fazer os saltos mais loucos ou os mais<br />
perigosos, basta que ele aumente o grau<br />
de dificuldade e faça ótimas execuções<br />
para voltar a ter bons resultados.”<br />
Abdominais, oblíquos<br />
e pernas fortes são<br />
indispensáveis para<br />
um bom salto, um<br />
treinamento que é<br />
mais parecido com<br />
a academia do que<br />
com saltar de<br />
um penhasco<br />
“QUANDO VOCÊ ESTIVER COM<br />
SEUS MELHORES RESULTADOS,<br />
TREINE COM MAIS ESFORÇO DO QUE<br />
NUNCA.” Se tem um erro que Orlando<br />
Duque cometeu e que ele não gostaria<br />
que Jonathan repetisse, é se sentir superior<br />
aos outros atletas. “Quando eu não<br />
parava de ganhar, no início de minha carreira,<br />
esqueci um pouco do treinamento<br />
pois sentia uma grande vantagem.” Apesar<br />
de ser um esporte cujas execuções duram<br />
apenas alguns segundos, aqui é vital ter<br />
um preparo físico excepcional. “A qualidade<br />
de Johnny pode levá-lo a achar que<br />
pode treinar menos que os outros, mas<br />
ele deve se preparar ainda mais para aumentar<br />
a vantagem”, aconselha Orlando.<br />
“PARE DE SE PRESSIONAR TANTO.”<br />
Após o último salto de Paredes em Ik Kil,<br />
o público e a imprensa estão desiludidos.<br />
Jonathan não está no pódio. Não há nenhuma<br />
façanha mexicana para comentar<br />
a respeito. A nota é que Gary Hunt é o campeão,<br />
e Jonathan não garante um posto<br />
para a série do próximo ano. Agora ele<br />
terá que passar por uma fase classificatória<br />
para obter seu lugar. Duque não se alarma:<br />
“Ele certamente vai ganhar a classificatória<br />
e estará na competição em 2015. O que<br />
aconteceu hoje foi a lição do ano inteiro:<br />
Johnny precisa parar de se deixar pressionar<br />
tanto pela família, pelo país, por ele<br />
mesmo, e curtir mais”. Depois de suas surpreendentes<br />
vitórias de 2013, muitos se<br />
esqueceram de que Jonathan Paredes tem<br />
apenas 25 anos, que ele ainda é um novato<br />
e que compete contra os melhores saltadores<br />
do mundo. Inclusive o próprio Johnny<br />
se esqueceu de que tem uma carreira pela<br />
frente. Jonathan quis conquistar o mundo<br />
do cliff diving em dois anos porque isso<br />
era o que todos esperavam dele. Todos,<br />
menos o homem que já ganhou tudo nesse<br />
esporte e que tem um último conselho<br />
para o mexicano: “O que você conseguiu<br />
até agora já tem muito mérito. Jonathan:<br />
você está fazendo uma coisa que a imensa<br />
maioria do planeta não é capaz de fazer,<br />
em lugares maravilhosos como este. Olhe<br />
ao seu redor, este penhasco não é incrível<br />
Você está praticando um dos esportes<br />
mais arriscados do mundo. Divirta-se!”.<br />
www.redbullcliffdiving.com<br />
45
Banda do Mar<br />
Formada no final de 2013<br />
em Lisboa, Portugal, lançou<br />
seu primeiro disco, Banda<br />
do Mar, em maio de 2014<br />
“Me Sinto Ótima”<br />
Uma das músicas que mais<br />
se destacam no disco é<br />
“Me Sinto Ótima”, na qual<br />
Mallu Magalhães mostra que<br />
a temporada europeia está<br />
lhe fazendo muito bem<br />
“Mais Ninguém”<br />
Primeiro single da banda,<br />
“Mais Ninguém” tem um<br />
divertido clipe com o trio<br />
dançando por Lisboa, e a<br />
letra diz: “Fazemos a festa /<br />
Somos do mundo / Sempre<br />
fomos bons de conversar”
BANDA DO MAR<br />
“É mais que um<br />
trabalho para nós”<br />
Conversamos com Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Fred Ferreira sobre<br />
a turnê brasileira da Banda do Mar, trio formado em Portugal<br />
Por: Fernando Gueiros<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Marcelo Camelo e Mallu Magalhães são<br />
o casal mais badalado da música nacional.<br />
Acontece que, desde o final do ano<br />
passado, eles não moram mais no país –<br />
se mudaram para Lisboa, onde, em pouco<br />
tempo, passaram a fazer música junto<br />
com o baterista português Fred Ferreira,<br />
amigo de Camelo dos tempos de Los<br />
Hermanos e membro de bandas como<br />
Buraka Som Sistema e Orelha Negra.<br />
No primeiro disco da banda, Banda<br />
do Mar, o trio acertou o tom e agradou<br />
a críticos e aos já apaixonados fãs de<br />
Camelo e Mallu. As 12 músicas refletem<br />
a tranquilidade do trio, com letras sobre<br />
alegria, paz e diversão – bastante do<br />
que o casal brasileiro encontrou na<br />
capital portuguesa.<br />
Mallu mostra maturidade em suas interpretações<br />
e dá a entender como está<br />
sua vida atualmente em músicas como<br />
“Me Sinto Ótima”, uma das melhores do<br />
disco. Camelo parece que se libertou de<br />
um trabalho solo muito frutífero, intenso<br />
e extremamente poético para encarar<br />
um projeto dançante e animado. Fred foi<br />
a cereja do bolo, o equilíbrio que o caso<br />
precisava para deslanchar com arranjos<br />
arejados e extremamente atuais.<br />
Nos shows feitos aqui no Brasil, a Banda<br />
do Mar se apresentou junto com Marcos<br />
Gerez e Gabriel Bubu, que já trabalharam<br />
com Marcelo Camelo. Entre uma e outra<br />
parada na turnê que passou por mais de<br />
dez cidades, Mallu, Camelo e Fred falaram<br />
com a gente.<br />
the red bulletin: Como foi a recepção<br />
do público nos shows da Banda do Mar<br />
aqui no Brasil<br />
Marcelo Camelo: A gente esperava que<br />
o público gostasse, mas ficamos surpresos<br />
com o carinho enorme com que os fãs<br />
nos receberam, foi incrível.<br />
Mallu Magalhães: A gente está vendo<br />
tanto os fãs antigos meus e do Marcelo<br />
como um pessoal novo. Fãs da Banda do<br />
Mar mesmo, que já vieram com o disco<br />
novo na cabeça.<br />
Como é o processo de divulgação<br />
de discos nos tempos de hoje A internet<br />
tem um papel importantíssimo.<br />
Vocês acham que o CD está morrendo<br />
Vocês se preocupam com isso de<br />
alguma maneira<br />
“Aconteceu de<br />
forma natural.<br />
Cada um compunha<br />
sua parte<br />
e mostrávamos<br />
um para o outro.”<br />
Mallu: Apesar de a internet ter um papel<br />
totalmente importante, não acho que o<br />
CD morreu e não acho que isso um dia<br />
vai acontecer, sempre vão existir apreciadores<br />
dessa mídia.<br />
Existe alguma divisão de tarefas na<br />
banda Ainda mais considerando que<br />
dois membros são marido e mulher,<br />
a relação na hora da criação tem<br />
alguma regra<br />
Mallu: Não existe uma divisão imposta,<br />
eu e o Marcelo que fizemos as letras, o Fred<br />
foi importante nos arranjos. Todo mundo<br />
acaba ajudando no que pode.<br />
Marcelo: A Banda do Mar aconteceu de<br />
forma bem natural. Cada um compunha<br />
sua parte, e, quando a música estava o<br />
mais perto de ficar pronta, nós mostrávamos<br />
aos outros, que davam sugestões.<br />
Mallu: A música é muito mais que um<br />
trabalho para a gente, então não existe<br />
essa divisão entre trabalho e vida pessoal<br />
entre nós.<br />
Fred, quais são os sons novos vindos<br />
de Portugal que você recomenda para<br />
os nossos leitores<br />
Fred Ferreira: Em Portugal assim<br />
como no Brasil temos bandas muito boas<br />
que eu posso destacar como grupos que<br />
estão fazendo algo novo, nomes que acho<br />
muito bons como Deolinda, David Fonseca,<br />
The Legendary Tigerman, Frankie Chavez,<br />
Osso Vaidoso, Dead Combo, Da Weasel,<br />
Xutos & Pontapés, Buraka Som Sistema,<br />
Regula, Sam The Kid, Orelha Negra...<br />
Quais são as diferenças e as semelhanças<br />
entre a música portuguesa e a brasileira.<br />
Por quê<br />
Fred: Juntar as culturas é ótimo, e a cultura<br />
brasileira e a portuguesa não são<br />
tão distantes. Somos países irmãos e com<br />
muita música e cultura para descobrir<br />
ainda sobre cada um deles.<br />
Mallu, vocês se mudaram para Lisboa<br />
por um tempo. O que foi o melhor dessa<br />
experiência de vida Quais as principais<br />
diferenças que sentiram entre a vida<br />
em Lisboa e a vida que tinham em SP<br />
Mallu: Continuamos morando em<br />
Lisboa, viemos para o Brasil para os<br />
shows da Banda do Mar mesmo. Temos<br />
uma rotina bem tranquila em Portugal,<br />
assim como a que tínhamos no Brasil.<br />
O Brasil sempre será nossa casa, mas<br />
agora Lisboa também é nossa casa,<br />
estamos curtindo a rotina por lá.<br />
www.bandadomar.com.br<br />
THE RED BULLETIN 47
Nome<br />
Stéphane Peterhansel<br />
Nascido em<br />
6 de agosto de 1965<br />
em Échenoz-la-Méline,<br />
França<br />
Estreia no Dakar<br />
em 1988, na Yamaha<br />
Vitórias no Dakar<br />
em 1991, 1992, 1993,<br />
1995, 1997 e 1998 com<br />
a Yamaha na categoria<br />
motos. Mudou para<br />
carros em 1999. Vitórias<br />
em 2004, 2005 e 2007<br />
com a Mitsubishi e 2012 e<br />
2013 na Mini. E ainda dois<br />
segundos e um terceiro<br />
lugar. Para 26 largadas<br />
somente dois (!) rallies<br />
não terminados
“Você não se cansa<br />
nunca do Rally Dakar,<br />
Stéphane Peterhansel”<br />
São 26 largadas e 11 vitórias. Em toda a história do lendário rally,<br />
nenhum piloto teve mais vitórias do que o francês Stéphane Peterhansel,<br />
de 49 anos. E ele não pensa em parar. O que o motiva<br />
Por: Werner Jessner<br />
FLAVIEN DUHAMEL/RED BULL CONTENT POOL<br />
the red bulletin: Então, você já<br />
não viu tudo depois de tantas edições<br />
do rally Há 26 anos, o seu ano sempre<br />
começa da mesma forma…<br />
stéphane peterhansel: Não! Minha<br />
grande paixão é explorar países novos.<br />
E, como o trajeto muda a cada ano,<br />
sempre tem algo novo para conhecer.<br />
Mas para isso não é necessário ser<br />
um piloto de rally.<br />
É verdade. Em setembro, por exemplo,<br />
eu atravessei o Lesoto de bicicleta.<br />
Por quê<br />
O Lesoto é um enclave na África do Sul.<br />
Eu nunca tinha estado lá, e, como<br />
o Dakar agora é realizado na América<br />
do Sul, ele não me levaria tão cedo para<br />
o sul da África.<br />
Por que de bicicleta<br />
De uma maneira ou de outra, você tem<br />
que ficar em forma para o Dakar.<br />
Mas são 26 largadas no Dakar...<br />
A minha segunda grande paixão é<br />
o automobilismo. O Dakar é, para mim,<br />
a combinação perfeita.<br />
Mas chega o momento em que você<br />
já viu essencialmente tudo...<br />
Eu participei 18 vezes do Rally Dakar<br />
na África. Em cada uma delas o céu<br />
era diferente. Isso sem falar da areia<br />
e dos cheiros.<br />
Que lugar você achou o mais bonito<br />
Pela paisagem, foi o sul da Argélia.<br />
Mas, pelo conjunto de toda a corrida,<br />
o trajeto desde Paris até a Cidade<br />
do Cabo foi o mais diversificado.<br />
Na América do Sul, todos os trechos<br />
pela cordilheira são espetaculares.<br />
Água, seca, altitudes extremas:<br />
muitas opções para o viajante.<br />
Qual é a idade ideal para vencer o rally<br />
Quando eu tinha 35 anos, achava que<br />
meu conterrâneo Jean-Louis Schlesser<br />
era um velho. E hoje ainda sou mais jovem<br />
do que ele era quando conquistou<br />
sua última vitória. Quarenta e nove não<br />
é idade. Eu sou jovem mentalmente e<br />
fisicamente me sinto em perfeita forma.<br />
Por quanto tempo você pretende<br />
correr ainda<br />
Ainda gostaria de conseguir minha sexta<br />
vitória na categoria carros. Ganhei seis<br />
“Pela paisagem,<br />
amei o sul da<br />
Argélia. Muitas<br />
opções para<br />
o viajante.”<br />
vezes na categoria motos. Seria uma<br />
conta redonda. O meu contrato com a<br />
Peugeot Sport tem duração de três anos.<br />
Quando você trocou a moto pelo carro<br />
foi por medo<br />
Mais por instinto de sobrevivência. Em<br />
dez corridas de moto eu não tive nenhum<br />
acidente sério. Mas vi pilotos morrerem<br />
na minha frente e outros ficarem em<br />
cadeira de rodas. Tinha sempre a sensação<br />
de estar no controle da situação.<br />
Mas é exatamente aí que mora o perigo.<br />
Além disso, era bem chato...<br />
Chato!<br />
Muito. Dentro do capacete, você está<br />
sozinho o tempo todo. Para o melhor<br />
e para o pior. No carro, você pode trocar<br />
ideias com o copiloto.<br />
Qual o seu carro preferido<br />
Sempre tive carros muito rápidos. Todos<br />
AWD. Em 2015, vou correr pela primeira<br />
vez com um buggy de tração traseira,<br />
o Peugeot 2008 DKR. Mesmo que nesse<br />
momento, três meses antes do início<br />
da corrida, eu não tenha a sensação de<br />
que ele me permita vencer, ele é o carro<br />
que mais me agrada.<br />
É o que diz o piloto de fábrica.<br />
Mas é verdade. O regulamento permite<br />
maior curso na suspensão do buggy do que<br />
dos carros com AWD (que altera a tração<br />
automaticamente), o que combina melhor<br />
com meu estilo de direção suave e tranquilo.<br />
Quanto pior a pista, melhor o Peugeot.<br />
Quem será o mais rápido Você ou o<br />
companheiro de equipe Carlos Sainz<br />
Por enquanto ele. Simplesmente porque<br />
ele tem mais experiência com buggies.<br />
Você poderia mudar para a categoria<br />
trucks também...<br />
Experimentei uma vez no ano passado.<br />
Não vai acontecer. Não tem nada a ver<br />
com dirigir um carro. Não me interessa.<br />
Ou para o skate.<br />
A última vez que subi num skate foi há mais<br />
de dez anos quando, arrumando a garagem,<br />
encontrei por acaso meu skate velho.<br />
Continuo sabendo o que faço em cima de<br />
um, mas o esporte mudou radicalmente<br />
desde a minha época há quase 40 anos.<br />
Nós competíamos no slalom. Os jovens de<br />
hoje nem sabem que isso existiu um dia.<br />
O que a idade lhe ensinou<br />
Que você tem que ficar atento se não<br />
quiser perder o trem.<br />
www.peugeot-sport.com<br />
THE RED BULLETIN 49
ÁFRICA SALGADA<br />
Ser um surfista na África significa ser comprometido. Significa enfrentar<br />
a infinidade de uma rica e diversa fronteira do surf e estar preparado para<br />
tudo o que aparecer no caminho. Ser um surfista na África é viajar grandes<br />
distâncias por uma onda, e nunca mais querer voltar para casa quando você<br />
encontra o pico certo. O fotógrafo sul-africano ALAN VAN GYSEN, 32 anos,<br />
abriu sua galeria de fotos de surf e contou para o Red Bulletin como é trabalhar<br />
em busca de ondas inóspitas no continente africano<br />
O sul-africano Craig Anderson,<br />
um dos freesurfers mais alternativos<br />
e ousados da atualidade, em Skeleton<br />
Bay, na Namíbia, uma das ondas<br />
mais cobiçadas da atualidade<br />
50
“É difícil não se apaixonar pela África”, diz Alan<br />
van Gysen, descrevendo o mistério e a oportunidade<br />
que acenam para os viajantes antes mesmo que eles<br />
tenham colocado os pés naquele continente de solo<br />
vermelho cor de sangue<br />
Morador da Cidade do Cabo, a uma curta distância da Praia de Kommetjie,<br />
Van Gysen fotografa surf desde o final dos anos 1990. “A África é cercada de mar<br />
e três oceanos que contam com ondas de todos os tipos, a maioria das quais<br />
ainda intocadas e divididas em 38 países”, ele diz. “Esta é a atração: tem alguma<br />
coisa para todo mundo. Uma aventura para todos. Primeiro mundo, terceiro<br />
mundo, mundos intermediários: a África tem a resposta para qualquer pergunta.<br />
Por exemplo, uma das melhores ondas do momento, em Skeleton Bay,<br />
na Namíbia, começou a ser surfada regularmente a partir de 2011. E, no ano<br />
passado, uma onda ainda mais nova apareceu – em Angola, com 3 quilômetros<br />
de comprimento. Imagine o que mais pode existir lá…<br />
O que eu adoro na África é que ela oferece uma sensação de liberdade<br />
desconhecida para muitos dos que vivem no primeiro mundo. Claro que<br />
a sensação de liberdade geralmente tem um preço, que pode chegar na forma<br />
de desafios a serem superados. Mas não é assim que as melhores descobertas<br />
são feitas Como as descobertas culturais nas viagens de ônibus que duram<br />
24 horas. Ou nas suas descobertas pessoais quando o carro quebra no deserto.<br />
Ou descobrindo uma onda quando sua barca foi cancelada e você precisa<br />
tomar uma rota alternativa. Esse é o estilo de vida do surf, e muitas vezes<br />
você só valoriza isso quando desliza numa onda que nunca surfou antes.”<br />
52
Nesta página: o americano Dane<br />
Gudauskas mostra a perfeição<br />
da manobra e da onda num secret<br />
spot no sul de Angola. Surfar sem<br />
ninguém por perto era aquilo que<br />
ele precisava depois de uns dias<br />
parado por causa de uma lesão<br />
À esquerda: o sul-africano<br />
Andrew Lange arrebentando<br />
numa tarde em Moçambique<br />
“O freesurf, ou surfar com a alma, está no coração de todo<br />
surfista. Desde os guerreiros de fim de semana até os ativos<br />
grisalhos viajantes, a busca é sempre por uma onda exclusiva,<br />
livre de ego ou de disputa. A pureza do surf e a satisfação do<br />
coração e da alma… Os surfistas chamam isso de ‘alimentar’,<br />
e é isso que dá o combustível para esse vício que é o surf.<br />
E poucos lugares oferecem tanta exclusividade como a África.”
“O Norte e o Oeste da África têm grandes swells em lugares como Marrocos, Senegal e Ilhas<br />
Canárias, mas poucos lugares oferecem ondas maiores e mais fortes que a África do Sul”, diz<br />
Van Gysen. “Aberta à força total das profundas correntes atlânticas geradas nos Roaring Forties,<br />
a África do Sul é martelada por ondas gigantes durante os meses de inverno do Hemisfério Sul.<br />
A Cidade do Cabo tem uma comunidade de big surf em expansão, os sul-africanos estão<br />
criando fama de destemidos e ligados em dropar ondas grandes. E, enquanto alguns picos não<br />
oferecem boas paredes para manobrar, existem outros muito menores, protegidos, que surgem<br />
quando os grandes swells batem em cheio na ponta mais sul do continente.”
Nesta página: o surfista Josh Redman,<br />
de Durban, faz o bottom turn com estilo<br />
em Hermanus, perto da Cidade do Cabo<br />
Esquerda: o pôr do sol africano é ainda<br />
mais lindo visto da água, com a silhueta<br />
de Craig Anderson em Cabo St. Francis<br />
55
56 THE RED BULLETIN
“Diferentemente de lugares como Austrália,<br />
Havaí e Indonésia, a vida na África não precisa<br />
girar em torno do surf”, diz Van Gysen. “Ainda<br />
existem comunidades que não têm um conceito<br />
do que é surf. É um conceito completamente<br />
exótico, tão alienígena quanto gente voando.<br />
As pessoas às vezes piram na praia, imitando<br />
os movimentos do surf e olhando as pranchas<br />
como se elas tivessem caído do céu. Um dos<br />
grandes presentes de viajar na África é<br />
a oportunidade de mergulhar nessas<br />
comuni dades e em suas culturas.”<br />
Nesta foto e na superior<br />
esquerda: crianças curiosas<br />
em Angola se reúnem em volta<br />
de Cheyne Cottrell e David<br />
Richards pela praia enquanto<br />
eles desbravam uma onda ainda<br />
sem nome. “Depois que nós<br />
paramos de surfar, um molequinho<br />
per guntou onde estavam<br />
as hélices, presumindo que<br />
a prancha de surf era como um<br />
barco a motor”, diz Van Gysen.<br />
“Não tem nada como a emoção<br />
de surfar uma onda pela primeira<br />
vez e saber que nenhum<br />
surfista esteve nela antes”<br />
À esquerda: uma vista<br />
aérea do remoto subúrbio<br />
de Wlotzkasbaken, no deserto<br />
da Namíbia
Imagem principal:<br />
não se engane pela cor.<br />
Esta é a Cidade do Cabo,<br />
e a temperatura é de 9 ºC:<br />
“Pegar a estrada em busca<br />
de ondas novas e boas não<br />
é brincadeira. É imersão<br />
de verdade. É se integrar<br />
ao ambiente”
“A beleza de uma onda vazia, azul<br />
cristalina, é o que motiva o surfista<br />
desde sempre. Ter a capacidade de<br />
estar cortando por dentro um corpo<br />
de água em movimento é a sensação<br />
mais especial e definitiva para qualquer<br />
surfista e vai para sempre se manter<br />
como o aspecto mais eterno do esporte.<br />
Como diz um famoso slogan de uma<br />
marca de surfwear: ‘Only a surfer<br />
knows the feeling’ [Só o surfista<br />
conhece a sensação].”<br />
59
Acompanhar um surfista em<br />
uma onda de 2 km de comprimento<br />
no meio do deserto não é pouca<br />
coisa. “Voando de um país vizinho,<br />
o helicóptero teve que esperar<br />
horas para que a névoa espessa<br />
da Namíbia se dissipasse antes de<br />
pousar na areia em frente a esta<br />
onda”, diz Van Gysen. “A beleza<br />
aqui está em como a onda quebra:<br />
a curva quebrando, a explosão<br />
da água branca, o tubo sombrio<br />
e a água com cor de areia. Craig<br />
Anderson está no meio do caos<br />
e procurando a saída”<br />
“A fotografia sempre foi uma questão de perspectiva. Seja de<br />
cima ou de baixo, horizontal ou vertical, a paisagem é utilizada<br />
para enfatizar o momento. Mas como é que se faz para fotografar<br />
uma das ondas mais insanas do mundo, no meio do Deserto da<br />
Namíbia, sem um ponto privilegiado Em Skeleton Bay não tem<br />
uma elevação de onde se possa observar o surfista, só dá para<br />
ver o mar e a areia até onde o olho consegue enxergar. A solução<br />
então foi o ponto de vista do olho de um pássaro nas nuvens.”
Conheça o autor<br />
Quando Alan van Gysen foi picado<br />
pelo bicho da aventura, 15 anos atrás,<br />
em vez de viajar e gastar suas economias,<br />
decidiu ganhar a vida contando histórias<br />
que viveu com o surf. Uma experiência<br />
em natação competitiva combinada<br />
com o estudo de música clássica e com<br />
a escola de arte foi a preparação ideal<br />
para a forma física da arte da fotografia<br />
de surf. “Prefiro fazer as fotos na água”,<br />
ele diz. “É uma energia muito grande<br />
no momento e isso me dá melhor perspectiva<br />
para registrar e compartilhar<br />
a beleza do tema e do local.”<br />
instagram.com/alanvangysen<br />
61
Conheça a nova<br />
tecnologia para<br />
acabar com barulho<br />
MÚSICA, pág. 71<br />
Aonde ir e<br />
o que fazer<br />
AÇÃO!<br />
VIAGEM / RELÓGIOS / TREINO / MÚSICA / FESTAS / CIDADES / BALADAS<br />
GETTY IMAGES<br />
Reinando<br />
na NBA<br />
PRECISA DE AJUDA PARA TER UM FÍSICO<br />
EXPLOSIVO APRENDA COM HARRISON BARNES,<br />
DO GOLDEN STATE WARRIORS<br />
EM FORMA, pág. 66<br />
THE RED BULLETIN 63
AÇÃO!<br />
MALAS PRONTAS<br />
Pense na manobra<br />
dos sonhos: você<br />
pode realizá-la<br />
T E M<br />
M A I S<br />
COISA!<br />
AS BOAS PEDIDAS<br />
NA SUÍÇA<br />
À LA 007<br />
Faça um salto<br />
de bungee jump<br />
da represa de<br />
Locarno, no Ticino,<br />
no sul do país,<br />
e recrie a cena<br />
de abertura do<br />
filme 007 Contra<br />
Goldeneye.<br />
getyourguide.com<br />
Snowboard no ar<br />
WOOPY JUMPING O NOVO ESPORTE FAZ VOCÊ PLANAR<br />
ENQUANTO DESCE MONTANHAS DE NEVE<br />
Combinando a emoção do snowboarding com a adrenalina<br />
do paragliding, o woopy jumping está cada<br />
vez mais se tornando um esporte comum nos Alpes<br />
suíços. Descendo uma montanha a cerca de 50 km/h<br />
em uma prancha pode ser emocionante, mas com<br />
uma vela inflável em formato de delta acoplada às<br />
suas costas a adrenalina é total. O que seriam solavancos<br />
se tornam pequenos voos. Parece que você<br />
está planando por uma eternidade. Mais de 30 segundos<br />
de voo, se você caprichar. “Parece mesmo<br />
que você está voando de verdade”, diz Emma Shore,<br />
uma praticante de snowboard do Canadá que experimentou<br />
o woopy jumping na região do Lac Noir, na<br />
Suíça. “A vela é realmente muito leve e, quando você<br />
está planando, é como se não tivesse peso algum.”<br />
Com a vela nas costas e a pista brilhando lá embaixo,<br />
os woopy jumpers podem curtir o passeio no ar. A categoria<br />
acabou de surgir nos Alpes suíços, com apenas<br />
uns poucos resorts oferecendo instruções e equipamento.<br />
Mas, com um rápido crescimento e uma experiência<br />
incomparável, não demora muito para que<br />
sua popularidade decole, exatamente como seus participantes.<br />
“Já desci muito com snowboard e também<br />
já planei bastante”, diz Shore, “mas saltar com uma<br />
vela acoplada às costas é realmente demais.”<br />
jump.woopyjump.com<br />
AVISO DE QUEM CONHECE<br />
TENHA ATITUDE<br />
“Decida se o que você quer é planar ou descer a montanha”,<br />
diz Emma Shore. “Se você vacilar quando estiver<br />
decolando, vai sempre escorregar e se esborrachar<br />
no chão. Tome coragem, atitude e assuma o voo!”<br />
Decole<br />
utilizando a vela<br />
de paragliding<br />
A direção certa<br />
“São duas opções de comando”, diz Laurent<br />
de Kalbermatten, inventor da woopy wing.<br />
“Uma é como uma asa-delta, jogando o peso<br />
de acordo com o seu centro gravitacional.<br />
A outra é criando um ‘diferencial’ puxando<br />
em um cabo e em outro para curvar a vela.”<br />
SE JOGUE<br />
Embarque em<br />
um passeio de<br />
helicóptero pelos<br />
alpes e salte de<br />
paraquedas com<br />
instrutor. A altura<br />
4,5 mil metros.<br />
helicopterskydive.com<br />
SUBINDO<br />
Desça de rappel<br />
pelas fendas até<br />
o fundo de uma<br />
geleira e escale<br />
para voltar. Tudo<br />
com a supervisão<br />
de alguns dos<br />
melhores instrutores<br />
de alpinismo<br />
da Suíça.<br />
swissalpineguides.ch<br />
GETTY IMAGES(2), FOTOLIA(2)<br />
64 THE RED BULLETIN
´<br />
AÇÃO!<br />
MINHA CIDADE<br />
Sopot<br />
1<br />
GDANSK<br />
DJ residente:<br />
Tomek Hoax,<br />
35, de Gdansk<br />
2<br />
GDANSK, POLÔNIA<br />
AL. NIEPODLEGŁOSCI<br />
“Um milhão de<br />
conhecidos”<br />
GDANSK JAZZ DE PRIMEIRA, ARQUITETURA<br />
DOIDA, AMBIENTE FAMILIAR – POR QUE A CIDADE<br />
PORTUÁRIA NA POLÔNIA É NOSSA DICA DE VIAGEM<br />
“À primeira vista, Gdansk lembra outras cidades<br />
portuárias no norte da Europa, como Amsterdã<br />
ou Bruges”, conta o DJ Tomek Hoax sobre sua<br />
cidade natal. “Isso por causa das igrejas de tijolo<br />
à vista e dos canais. Mas, na verdade, Gdansk é<br />
única: junto com as vizinhas Gdynia e Sopot, forma<br />
a ‘Trójmiasto’ (Tricidade) – com opções para<br />
todo mundo: Sopot é a metrópole da festa, Gdynia<br />
um oásis de tran quilidade e Gdansk a cidade antiga<br />
com cafés, pubs e bares de jazz. As pessoas São<br />
1 milhão delas vivendo aqui e todas parecem se<br />
conhecer. São abertas aos turistas, o que parece<br />
estar agradando, já que a cada ano chegam mais.”<br />
AL. GRUNWALDZKA<br />
ZASPA<br />
3<br />
GOLFO DE GDANSK<br />
AL. ZWYCIĘSTWA<br />
UL. MARYNARKI POLSKIEJ<br />
UL. JANA Z KOLNA<br />
RIO VÍSTULA<br />
UL. H. SUCHARSKIEGO<br />
TOP CINCO<br />
OS MELHORES DA CIDADE DE TOMEK<br />
AL. ARMII KRAJOWEJ<br />
4<br />
UL. ELBLA˛ SKA<br />
WOJTEK ROJEK, LUKASZ PIETRZAK(2), TOMEK HOAX(2), FOTOLIA(3)<br />
1 SFINKS700<br />
2 CASA TORTA<br />
3 MURAIS<br />
4 NEIGHBOUR’S KITCHEN 5 FOOD TRUCKS<br />
Al. Franciszka Mamuszki 1<br />
“A melhor balada de Gdansk.<br />
Com os melhores DJs locais<br />
e internacionais. O dono é<br />
Leszek Możdżer, famoso<br />
pianista de jazz. Ele está sempre<br />
lá e improvisa ao piano<br />
junto com os DJs. Único.”<br />
Jana Jerzego Haffnera 6<br />
“Ponto turístico, mas que<br />
vale a pena: o edifício doido<br />
foi construído por dois arquitetos<br />
poloneses que se inspiraram<br />
nos gráficos do sueco<br />
Per Dahlberg. Dentro Lojas,<br />
bares e agito.”<br />
Bairro de Zaspa<br />
“Um bairro com atmosfera<br />
antiga: artistas de rua decoraram<br />
os edifícios cinzentos<br />
da época comunista com<br />
grafites gigantescos. Para<br />
ver todos, planeje duas horas<br />
de caminhada. Vale a pena.”<br />
Szafarnia 11<br />
“Pergunta: onde comer<br />
em Gdansk Resposta: no<br />
Neighbour’s Kitchen. Amado<br />
por todos, o restaurante serve<br />
menu de luxo ou hambúrgueres<br />
para paladares exigentes.<br />
Até o pão é feito lá.”<br />
Gdansk, Gdynia e Sopot<br />
“Nossos food trucks são uma<br />
lenda. Carrinhos de lanches<br />
ambulantes que estão em<br />
todos os lugares onde está<br />
acontecendo alguma coisa.<br />
Meu preferido O ‘Mukabar’<br />
e seus sanduíches de falafel.”<br />
A Ç Ã O<br />
EXTRA<br />
EM GDANSK<br />
E ARREDORES<br />
VELEJAR NO GELO<br />
Barcos a vela sobre patins, gelo<br />
liso, velocidade... Os lagos na<br />
Masúria são o paraíso dos<br />
velejadores no gelo.<br />
icesailing.org<br />
SUBMERSO<br />
Quer se divertir mergulhando<br />
Gdansk é o lugar perfeito<br />
para buscar restos de barcos<br />
naufragados.<br />
balticdive.pl<br />
SKATE DE INVERNO<br />
O parque de skate ao ar livre<br />
com 1 500 m 2 é novo. O clima<br />
da costa possibilita a diversão<br />
mesmo durante o inverno.<br />
abiskatepark.pl<br />
THE RED BULLETIN 65
AÇÃO!<br />
EM FORMA<br />
Por que Harrison<br />
Barnes faz treino<br />
de explosão<br />
Porque sim<br />
Harrison Barnes,<br />
22, é ala dos<br />
Golden State<br />
Warriors na NBA<br />
Ele sabe<br />
como voar<br />
BASQUETE VEJA COMO O ALA DOS<br />
GOLDEN STATE WARRIORS, HARRISON<br />
BARNES, SE MANTÉM EM FORMA<br />
PARA DISPUTAR A NBA<br />
“A capacidade de fazer o corpo render<br />
o máximo é o que diferencia um atleta<br />
bom de um atleta excepcional”, diz a fera<br />
da NBA, Harrison Barnes. “No basquete<br />
profissional isso significa principalmente<br />
explosão e velocidade.” Na sua primeira<br />
temporada, em 2013, já pelo time de<br />
Oakland, Califórnia, Barnes alcançou<br />
uma média de 16 pontos nos playoffs.<br />
Depois do sucesso da temporada, o ala<br />
de 2,03 m de altura contratou os serviços<br />
do personal coach Travelle Gaines, que já<br />
treinou mais de 300 jogadores profissionais<br />
de futebol e também estrelas como<br />
o rapper Puff Daddy. Sua preocupação<br />
principal: pernas e a velocidade na passagem<br />
da defesa para o ataque. “Treinamos<br />
muito saltos e corrida”, explica Gaines.<br />
“Tornozelos e dedos dos pés fortes são<br />
decisivos para um salto potente.”<br />
nba.com<br />
Treine como um profissional da NBA.<br />
Veja o vídeo em que Harrison Barnes mostra<br />
seu treinamento em redbulletin.com<br />
ALGEMAS PARA OS PÉS<br />
SKLZ LATERAL RESISTOR<br />
AGACHAMENTO<br />
“Agachamento e extensão de ombros são exercícios fantásticos para trabalhar todo o corpo”, conta<br />
o treinador. “Os melhores resultados são obtidos com duas a três séries de 12 a 15 repetições.”<br />
1 2 3<br />
“Sempre levo essa faixa elástica comigo”,<br />
diz Gaines. “Você coloca nos tornozelos e faz<br />
alguns movimentos muito intensivos (passo<br />
lateral, pivôs, avanços, por exemplo)...<br />
Fortalece os quadris e melhora<br />
a explosão.”<br />
Posição ereta,<br />
pés afastados<br />
na largura dos<br />
quadris, halteres<br />
pequenos<br />
na altura dos<br />
ombros, braços<br />
próximos<br />
ao corpo<br />
Agachar,<br />
manter o<br />
tronco ereto<br />
e joelhos em<br />
cima da linha<br />
dos pés<br />
Subir, levantar<br />
os halteres acima<br />
da cabeça.<br />
Voltar à posição<br />
inicial<br />
GETTY IMAGES(2) HERI IRAWAN<br />
66 THE RED BULLETIN
AÇÃO!<br />
WINGS FOR LIFE<br />
Entre em forma para<br />
a Wings for Life World<br />
Run: aproveite a noite<br />
EQUIPO<br />
IDEAL<br />
MENOS DESCUL-<br />
PAS: ASSIM DÁ<br />
MAIS GOSTO<br />
CORRER À NOITE<br />
PETZL TIKKA XP<br />
Lanterna de<br />
cabeça com até<br />
160 lumens, peso<br />
de 85 g, feixes vermelhos<br />
e brancos<br />
e luz constante<br />
quando a energia<br />
da bateria diminui.<br />
petzl.com<br />
BALASZ GARDI/RED BULL CONTENT POOL<br />
Corrida noturna<br />
WINGS FOR LIFE WORLD RUN CONSTRUA DESDE JÁ UMA BASE PARA ESTAR<br />
EM FORMA EM MAIO. CONFIRA 10 DICAS PARA ESTAR NA MELHOR FORMA<br />
A TEMPO PARA A WINGS FOR LIFE WORLD RUN<br />
1<br />
Desafie a escuridão.<br />
A noite caiu e a rota de<br />
sempre já não motiva Vá<br />
correr mesmo assim. O caminho<br />
conhecido muda completamente<br />
à noite. O cérebro<br />
compensa a falta de estímulos<br />
ópticos e de repente você se<br />
sente acordado e tudo parece<br />
novo e interessante.<br />
2<br />
Vista-se direito.<br />
Medo do resfriado Use<br />
várias camadas, para manter<br />
a temperatura do corpo estável.<br />
Importante: não se esqueça de<br />
proteger as orelhas, as mãos<br />
e os pés do frio. Ninguém quer<br />
dedos frios e úmidos. Então,<br />
o melhor são bons tênis de<br />
corrida e meias de Gore-Tex.<br />
3<br />
Seja visível.<br />
Refletores no agasalho,<br />
na calça e principalmente<br />
nos tênis melhoram as chances<br />
de os motoristas o verem<br />
com antecedência. O mesmo<br />
vale para os que correm na<br />
mata e não querem que um<br />
caçador incauto os confunda<br />
com um javali. (Leia o item 6.)<br />
4<br />
Esteja atento.<br />
Correr no escuro não<br />
significa correr às escuras.<br />
Um passo fora da trilha pode<br />
ser o suficiente para torcer<br />
um tornozelo. Lanternas de<br />
cabeça com LED iluminam<br />
o caminho, só pesam uns poucos<br />
gramas e praticamente<br />
não atrapalham.<br />
5 Oriente-se.<br />
No escuro, seu sentido<br />
espacial e temporal muda.<br />
Vá se afastando de casa em círculos<br />
concêntricos. Na dúvida,<br />
você pode voltar rapidamente<br />
à casa. Para corridas noturnas<br />
é melhor medir o tempo do que<br />
a distância.<br />
Deixe quem está<br />
6 dormindo em paz.<br />
Nem o pior tipo físico justifica<br />
correr pela mata acordando<br />
todas as formas de vida.<br />
Os animais que o digam: corredores<br />
não têm nada que procurar<br />
na mata à noite. (O mesmo<br />
vale para caçadores. E excursionistas.<br />
E mountain bikers.<br />
E cachorros.)<br />
A COMPETIÇÃO<br />
Uma única largada para seis continentes:<br />
no dia 3 de maio de 2015 acontecerá<br />
a segunda corrida mundial da história.<br />
O público-alvo: todos que queiram competir<br />
com todo mundo. Mais informações:<br />
www.wingsforlifeworldrun.com<br />
7<br />
Ouça com atenção.<br />
OK. Você está acostumado<br />
a correr com fones. Sem<br />
música, você não faz nada.<br />
Mesmo assim, experimente<br />
fazê-lo durante a noite. Os<br />
ouvidos estão com sensibilidade<br />
máxima durante a noite.<br />
A noite soa diferente.<br />
8<br />
Grupos de corredores<br />
noturnos.<br />
O grupo dá motivação ao<br />
treino. Nele você tem menos<br />
desculpas e menos motivos<br />
para deixar a preguiça vencer.<br />
E a noite é propícia para atividades<br />
em grupo.<br />
9<br />
Participe de uma<br />
competição.<br />
Tem muitas. Mais do que<br />
você imagina. Muitos organizadores<br />
já perceberam o bom<br />
negócio que é preparar corridas<br />
noturnas. Há mais pessoas<br />
correndo à noite do que imagina<br />
o corredor solitário. Vinte mil<br />
na largada já não são raridade<br />
(em Viena, por exemplo).<br />
10<br />
Dê-se uma<br />
recompensa.<br />
Um banho quentinho, o comichão<br />
na pele reaquecida,<br />
um chá com biscoito no sofá.<br />
Quem foi brincar lá fora à noite<br />
pode apreciar melhor o aconchego<br />
do lar. Os que ficaram<br />
enrolando no sofá devorando<br />
biscoitos têm toda razão para<br />
ter peso na consciência. E em<br />
alguma outra parte também.<br />
PUMA PURE<br />
NIGHTCAT<br />
Jaqueta de corrida<br />
respirável com<br />
malha de ventilação<br />
e fios de fibra<br />
de vidro nos ombros<br />
(com ajuste<br />
para luz constante<br />
ou intermitente).<br />
puma.com<br />
PUMA FAAS 600<br />
V2 NC POWERED<br />
Tênis para corrida<br />
ultraleve com refletores<br />
na superfície<br />
e um dispositivo<br />
de LED na língua<br />
que melhoram<br />
a visibilidade do<br />
corredor à noite.<br />
puma.com<br />
THE RED BULLETIN 67
AÇÃO !<br />
RELÓGIO<br />
ALTÍMETRO ORIS<br />
BIG CROWN PROPILOT<br />
Ele mostra sua altitude<br />
até 4 572 metros<br />
D U P L A<br />
FUNÇÃO<br />
POR QUE O<br />
ALTÍ METRO<br />
ORIS BIG CROWN<br />
PROPILOT TEM<br />
DUAS COROAS<br />
DUAS<br />
E QUATRO<br />
Na posição de<br />
duas horas, a coroa<br />
ajusta a data<br />
e a hora. O barômetro/altímetro<br />
é ajustado usando<br />
a coroa em quatro<br />
horas. Gire ela,<br />
e o relógio fica<br />
à prova d’água e<br />
desce até 100 m<br />
de profundidade.<br />
No pulso<br />
e no ar<br />
ORIS EXISTEM MUITOS RELÓGIOS<br />
DE AVIAÇÃO, MAS QUASE NENHUM<br />
COM DUAS DAS MAIS IMPORTAN-<br />
TES FERRAMENTAS DE VOO. ESTE<br />
TEM – E COM MUITO ESTILO<br />
Os pilotos gostam<br />
de estar informados<br />
sobre a altitude<br />
e a pressão<br />
atmos férica, mas<br />
são raros os relógios<br />
de pulso com barômetro<br />
e altí metro. Em 1963,<br />
a suíça Favre-Leuba<br />
lançou o Bivouac.<br />
Em 1989, a também<br />
suíça Revue<br />
Thommen lançou o<br />
altímetro Airspeed.<br />
Agora chega um terceiro,<br />
o altímetro Big<br />
Crown ProPilot, da Oris.<br />
Cada um desses relógios<br />
tem as funções<br />
de barômetro e altímetro<br />
do mesmo jeito.<br />
As peças do barômetro<br />
e altímetro<br />
são produzidas<br />
pela empresa suíça<br />
de instrumentos<br />
de voo Thommen<br />
As mudanças na pressão são<br />
detectadas mecani camente por<br />
pequenas ligas de metal sensíveis<br />
à pressão em uma pequena cápsula<br />
conhe cida como câmera<br />
aneroide. (“Aneroide”<br />
literalmente signi fica<br />
“sem fluido”; a pressão<br />
foi medida pela<br />
primeira vez por<br />
barômetros e outros<br />
instrumentos usando<br />
líquidos.) Um delicado<br />
sistema de alavanca então<br />
transforma as ligas de<br />
contração em movimentos<br />
de indicadores nos<br />
medidores do relógio.<br />
Todas as peças do barômetro<br />
e do altímetro são feitas de materiais<br />
ultraleves: para o ProPilot,<br />
a Oris usou filamentos de fibra de<br />
carbono laminados, um material<br />
que também tem o benefício extra<br />
de ser incrivelmente resistente.<br />
O tamanho do relógio, bem maior<br />
do que os outros, com 47 mm de<br />
diâmetro, não é assim só porque<br />
está na moda ver pessoas usando<br />
relógio grandes. Ele é assim porque<br />
precisa acomodar as raras<br />
características de modo que você<br />
possa facilmente ler a pressão<br />
atmosférica ou altitude, sempre<br />
que precisar.<br />
oris.ch<br />
SEM PRESSÃO<br />
O barômetro/altímetro<br />
funciona<br />
apenas se a pressão<br />
dos ambientes<br />
externos e internos<br />
estiver equalizada,<br />
o que você<br />
faz girando a coroa<br />
no sentido inverso.<br />
SEMPRE LIMPO<br />
Oris desenvolveu<br />
uma membrana<br />
de Gore-Tex e um<br />
material de teflon<br />
para evitar umidade<br />
ou sujeira<br />
entrar no relógio.<br />
ALEXANDER LINZ<br />
68 THE RED BULLETIN
TÚNEL DO TEMPO<br />
Homem<br />
de sorte<br />
JACK W. HEUER TRANSFORMOU<br />
SORTE EM UMA FORTUNA<br />
Por Gisbert L.<br />
Brunner, jornalista<br />
de relógios que<br />
teve seu primeiro<br />
Carrera há 50 anos<br />
Jack W. Heuer deve ter sido um<br />
sortudo. Em 1969, a fabricante de<br />
relógios que leva seu nome apresentou<br />
ao mundo seu primeiro cronógrafo<br />
automático com microrrotor<br />
e um encaixe à prova d’água. Como<br />
Heuer – conhecido como JWH –<br />
não tinha dinheiro para anunciar,<br />
decidiu trabalhar com o piloto de<br />
Fórmula 1 e representante suíço<br />
da Porsche Jo Siffert. Em troca da<br />
oferta de JWH de mudar seu compromisso<br />
para a Porsche, ele colocou<br />
no circuito de Brands Hatch em<br />
1971.) O departamento de compras<br />
do filme também garantiu que<br />
McQueen usasse um Heuer Monaco,<br />
que instantaneamente se tornou um<br />
relógio cult. Em 1971, a sorte mais<br />
uma vez se apresentou a JWH. Enquanto<br />
ele vagava por Saint-Imier,<br />
na Suíça, conheceu Clay Regazzoni.<br />
O vencedor do Grande Prêmio Italiano<br />
estava à procura de um equipamento<br />
para cronometrar a 24 Horas<br />
de Le Mans e o circuito da Ferrari em<br />
Maranello. Dessa forma, o Heuer se<br />
tornou o cronômetro oficial da Escuderia<br />
Ferrari, com Enzo Ferrari em<br />
pessoa assinando o contrato (o grupo<br />
Tag comprou a Heuer em 1985). Por<br />
mais de 40 anos, todos os pilotos da<br />
Ferrari tiveram o logo de cinco ponteiros<br />
da Heuer nos seus carros e<br />
um igualmente marcante cronógrafo<br />
automático de ouro nos seus pulsos.<br />
tagheuer.com<br />
MAIS DESEJADOS<br />
A trinca<br />
MODELOS ESPETACULARES ASSINADOS<br />
POR GRANDES MARCAS SELECIONAMOS<br />
TRÊS NOVOS PARA VOCÊ<br />
Chopard Superfast Chrono<br />
Porsche 919 Edition<br />
A fabricante de relógios<br />
de Genebra recentemente<br />
se tornou a Parceira<br />
Oficial de Cronometragem<br />
da Porsche para<br />
comemorar o retorno<br />
da fabricante alemã<br />
para Le Mans. O primeiro<br />
resultado dessa<br />
parceria é o cronógrafo<br />
de aço de 45 mm, do qual<br />
apenas 919 unidades existem.<br />
A braçadeira de borracha<br />
preta imita as marcas dos<br />
pneus de carros de corrida.<br />
chopard.com<br />
Alpina Alpiner 4 GMT<br />
Este relógio de pulso<br />
superelegante consegue<br />
fazer um ou dois truques.<br />
Você pode ajustá-lo<br />
para mostrar as horas<br />
de um segundo fuso<br />
horário graças a<br />
um controle a mais.<br />
Ele é lindo de todas<br />
as formas: com o dial<br />
iluminado ou escuro<br />
e com a pulseira de<br />
couro ou metal.<br />
alpina-watches.com<br />
o logo da Heuer no Porsche 908.<br />
Um Heuer Monaco novinho também<br />
passou a ser usado no pulso<br />
de Siffert. “Foi certamente uma forma<br />
amadora de ingressar no negócio<br />
da Fórmula 1”, lembra-se JWH,<br />
“mas nós fomos a primeira marca<br />
de fora dessa indústria a entrar nesse<br />
esporte de alta performance.”<br />
Como parte do acordo, em 1970<br />
Steve McQueen usou os macacões<br />
originais de Siffert para as filmagens<br />
de As 24 Horas de Le Mans. (Siffert<br />
morreu em um acidente de corrida<br />
Em sentido horário, da esq. para a dir.:<br />
Niki Lauda (à esquerda) e Clay Regazzoni<br />
assinam seus patrocínios com a Heuer,<br />
um de cada lado com JWH, no início dos<br />
anos 1970; Mick Jagger em 1977 usando<br />
um Heuer Autavia; e Steve McQueen em<br />
Le Mans em 1970<br />
Tudor Heritage<br />
Black Bay<br />
Este relógio de mergulho<br />
da subsidiária da Rolex<br />
causou sensação da<br />
primeira vez que apareceu,<br />
em 2012, especialmente<br />
o modelo<br />
com detalhes em bordô.<br />
Esta nova versão em<br />
azul foi um sucesso<br />
instantâneo quando foi<br />
lançada, em março. Você<br />
precisa entrar em uma lista<br />
de espera para comprar um.<br />
tudorwatch.com<br />
THE RED BULLETIN 69
AÇÃO!<br />
BALADA<br />
São Paulo,<br />
quinta-feira:<br />
alegria total<br />
BALADAS<br />
LOUCAS<br />
DEBAIXO D’ÁGUA, NO<br />
GELO OU EM CIMA<br />
DA ÁRVORE. VOCÊ<br />
NUNCA IMAGINOU<br />
UMA FESTA ASSIM<br />
SUBSIX<br />
Niyama, Maldivas<br />
A primeira balada<br />
submarina do<br />
mundo (fica a<br />
6 metros de profundidade).<br />
Só<br />
se chega nela com<br />
barcos especiais.<br />
Da pista você<br />
pode ver os peixes<br />
nadando.<br />
Tá em casa<br />
CASA 92 A BALADA QUE É UM MARCO<br />
DA REVITALIZAÇÃO DO LARGO DA BATATA,<br />
EM SÃO PAULO, É ESPETACULAR<br />
Imagine um ambiente com gente bonita,<br />
serviço de qualidade, segurança e uma<br />
decoração feita com todo requinte por<br />
grandes artistas. São nove bares, quatro<br />
pistas de dança, fumódromos e áreas<br />
livres em todos os quatro ambientes:<br />
Casa da Família, Boulevard, Pracinha 92<br />
e Casa 92. Além de tudo isso, a Casa 92<br />
tem uma loja, dentro da balada, onde os<br />
clientes podem comprar objetos de decoração<br />
e camisetas assinadas por Marcelo<br />
Sommer e Adriana Comparini. No calendário<br />
de festas, uma se destaca pela originalidade:<br />
a noite para cachorros e seus<br />
donos. Fora os embalos caninos, a Casa<br />
recebe festas como We Love Beats, Turn<br />
Around e Let’s Jack, às quintas, e Luv e<br />
Sundaze nos finais de tarde de domingo.<br />
Com quatro anos e meio de existência,<br />
a Casa 92 inaugura ainda neste ano um<br />
bar com comida mediterrânea e coquetelaria.<br />
Em 2015, abre o Bar da Família<br />
para seus clientes mais fiéis e amigos.<br />
CASA 92<br />
Rua Cristóvão Gonçalves, 92, Pinheiros<br />
São Paulo, SP<br />
casa92.com.br<br />
HOMEM<br />
DA NOITE<br />
NEY FAUSTINI, 33, É DJ HÁ<br />
15 ANOS E ATUALMENTE<br />
PRODUZ SEU SOM<br />
TEVE ALGUMA NOITE<br />
INESQUECÍVEL<br />
Tive várias, mas me lembro<br />
como se fosse ontem quando<br />
toquei pela primeira vez no<br />
extinto club Lov.e, em 2001,<br />
na noite do DJ Marky. Ele<br />
era referência pra mim.<br />
O QUE FAZ A NOITE PAU-<br />
LISTANA SER TÃO BOA<br />
São Paulo é uma cidade<br />
que nunca dorme, caótica<br />
e intensa, onde a diversão<br />
se mistura à arte e cultura.<br />
OS INGREDIENTES PARA<br />
A FESTA PERFEITA SÃO...<br />
...diversidade e respeito, com<br />
mais pessoas aproveitando o<br />
momento, e menos celulares.<br />
facebook.com/neyfaustini.<br />
music<br />
CHILLOUT<br />
Dubai, EAU<br />
Um bar de gelo<br />
numa cidade<br />
do deserto:<br />
a temperatura<br />
do salão é -6 ºC.<br />
Tudo é feito de<br />
gelo, vidro e aço.<br />
Os visitantes<br />
precisam de<br />
casacos e luvas.<br />
TREE BAR<br />
Limpopo,<br />
África do Sul<br />
Um dos baobás<br />
mais antigos<br />
(1 700 anos) e<br />
amplos (47 metros<br />
de circunferência)<br />
do mundo tem um<br />
bar em seu tronco.<br />
O espaço comporta<br />
60 pessoas.<br />
CAROLINA KRIEGER E ALI KARAKAS(5), FOTOLIA(3)<br />
70 THE RED BULLETIN
SASHA EISENMAN, WARNER MUSIC, ROGER SARGENT<br />
AÇÃO!<br />
MÚSICA<br />
Ariel Marcus<br />
Rosenberg, conhecido<br />
como Ariel Pink, 36,<br />
é o alucinado gênio<br />
pop de Los Angeles<br />
Rei do pop<br />
chiclete<br />
PLAYLIST AS REFERÊNCIAS VÃO<br />
DE ANTONIO BANDERAS A MICKEY:<br />
O NOVO COMPOSITOR DE MADONNA,<br />
ARIEL PINK, E AS MÚSICAS DA RAINHA<br />
DO POP QUE MAIS O INFLUENCIARAM<br />
1<br />
Na verdade,<br />
a música de<br />
Madonna era<br />
considerada<br />
coisa de menina<br />
na minha<br />
escola. Mas<br />
eu não me<br />
importava.<br />
Essa música é para mim a materialização<br />
da felicidade infantil. Quando a ouvia,<br />
fechava os olhos e imaginava que era<br />
o Mickey que a cantava e que meus pais<br />
me levavam para comprar brinquedos.<br />
O paraíso!<br />
4<br />
Em sua juventude, Ariel Pink gravava canções folk<br />
punk em fitas cassete fazendo a batida nas axilas.<br />
Em 2003, ele foi descoberto pelas estrelas do indie<br />
americano Animal Collective, que chegaram a fundar<br />
uma gravadora para lançar a música de Pink<br />
em grande estilo. Agora, o décimo álbum do último<br />
gênio louco da música pop está pronto: Pom Pom<br />
é uma mistura alucinada de new<br />
wave, música melosa, comercial<br />
e freak rock rabugento. O gênero<br />
“tudo misturado” de Ariel Pink<br />
também é reconhecido no setor<br />
convencional. Madonna o convidou<br />
para escrever as canções de<br />
seu próximo disco. Como tributo,<br />
ele escolheu cinco canções da<br />
rainha do pop que marcaram<br />
sua juventude.<br />
www.ariel-pink.com<br />
Madonna<br />
Madonna<br />
3<br />
Madonna<br />
2<br />
“Borderline” “Oh Father”<br />
“Live to Tell”<br />
Madonna<br />
“La Isla Bonita” 5<br />
A fantasia de<br />
férias mais<br />
sensual de<br />
todos os tempos.<br />
Quando<br />
ouço “La Isla<br />
Bonita”, quero<br />
beber martínis<br />
com Antonio<br />
Banderas em uma praia de Cancún.<br />
Claro que a música é uma lista de clichês:<br />
guitarras flamencas, frases em<br />
espanhol. Melhor ignorar. Porque atrás<br />
delas está uma das melhores canções<br />
pop dos anos 1980.<br />
Como essa<br />
música me<br />
emocionava!<br />
Madonna canta<br />
sua juventude,<br />
a morte<br />
da mãe, os<br />
conflitos com<br />
o pai, a fuga<br />
do ambiente católico. A música é claramente<br />
autobiográfica. Dá para sentir<br />
nos versos e na energia. O single foi<br />
um fiasco comercial. Mas eu a considero<br />
a música mais emocionante de<br />
toda a carreira da Rainha do Pop.<br />
Madonna<br />
“Cherish”<br />
Para mim,<br />
o último grande<br />
clássico<br />
de Madonna.<br />
Foi lançado<br />
em 1989. Eu<br />
tinha terminado<br />
a escola<br />
e trabalhava<br />
em uma loja de discos. Não gostava da<br />
MTV e de Madonna. Preferia thrash<br />
metal e músicas ainda mais anormais.<br />
Fantás tica e eterna: os vocais parecendo<br />
gospels a transformam no perfeito pop<br />
chiclete – porém com muita qualidade.<br />
Outra canção<br />
triste e inacreditavelmente<br />
bela. Mesmo<br />
que Madonna<br />
não seja conhecida<br />
por<br />
suas baladas,<br />
já nos primeiros<br />
compassos fica claro que isso é<br />
Madonna. Inconfundível. Não importa<br />
que ela mudasse de produtor como<br />
mudava de amante. O seu talento para<br />
melodias simples e geniais nos primeiros<br />
anos de carreira era incomparável.<br />
PROTEÇÃO<br />
CONTRA RUÍDOS<br />
GADGET DO MÊS<br />
DUBS<br />
Os primeiros tampões para ouvidos<br />
hi-tech do mundo: eles fazem mais do<br />
que simplesmente bloquear as ondas<br />
sonoras do ambiente. Um sistema de<br />
filtro de frequências mantém o som original,<br />
mas o reduz em 12 dB. Perfeitos<br />
para baladas e shows<br />
ensurdecedores.<br />
getdubs.com<br />
DE OLHO<br />
E M 2 0 1 5<br />
NOMES PARA<br />
VOCÊ ESCUTAR<br />
MUITO NO ANO<br />
QUE VEM<br />
ILOVE<br />
MAKONNEN<br />
Venerado por Miley<br />
Cyrus e patrocinado<br />
por Drake:<br />
o rapper de 25 anos<br />
consegue unir<br />
atmosferas oníricas<br />
com hip hop<br />
pesado. Para os<br />
fãs de Future e<br />
Drake, ouçam<br />
“Tuesday”.<br />
FAT WHITE<br />
FAMILY<br />
Nudez, brigas com<br />
os fãs: o sexteto<br />
de blues-punk é<br />
a maior novidade<br />
da Inglaterra.<br />
Para os fãs de<br />
Nick Cave e<br />
The Fall, ouçam<br />
“Bomb Disneyland”.<br />
TINASHE<br />
Modelo, atriz,<br />
cantora: com baladas<br />
melancólicas,<br />
a garota de 21 anos<br />
vai direto para a<br />
liga das superstars.<br />
Para os fãs de<br />
Aaliyah e The<br />
Weeknd, ouçam<br />
“Pretend”.<br />
THE RED BULLETIN 71
AÇÃO!<br />
GAMES<br />
O espaço e suas<br />
possibilidades<br />
infinitas<br />
CLIQUE<br />
CHIQUE<br />
ESPAÇONAVE OU<br />
MOUSE GAMER<br />
NÃO PARECE, MAS<br />
A RESPOSTA É:<br />
MOUSE<br />
TT ESPORTS<br />
LEVEL 10 M<br />
A Tt eSports<br />
desenvolve teclados<br />
e mouses<br />
para gamers profissionais.<br />
Para<br />
essa preciosidade<br />
em alumínio, eles<br />
tiveram a ajuda<br />
do departamento<br />
de design da BMW.<br />
O universo na<br />
caixa de areia<br />
UNIVERSE SANDBOX ² QUEM NÃO QUER BRINCAR<br />
DE DEUS COM ESSE SIMULADOR ESPACIAL É POSSÍVEL<br />
O que aconteceria se de repente um asteroide gigante aparecesse<br />
do nada em rota de colisão com a Terra O impacto<br />
abriria uma cratera maior que a Austrália. E a onda de choque<br />
espalhada pelo planeta destruiria todas as formas de<br />
vida e faria os oceanos evaporarem. O que sobraria da Terra<br />
seria um pedaço de rocha morta com temperatura de um<br />
forno de pizza. Não soa como uma tarde de domingo ideal.<br />
A não ser que seja no Universe Sandbox ². É o que há em<br />
todos os jogos da série: o prazer de criar e de destruir. Não<br />
há pontuação, níveis ou chefões. As crianças nas caixas de<br />
areia também não precisam deles para se divertir. No Universe<br />
Sandbox ², como o nome diz, o universo todo é uma caixa de<br />
areia. Mas, em vez de destruir castelos de areia, você lança<br />
asteroides contra a Terra ou faz galáxias inteiras colidir.<br />
A primeira parte do Universe Sandbox<br />
saiu em 2008. Era o resultado do hobby<br />
de um único programador: Dan Dixon,<br />
de Seattle. Ele mesmo se surpreendeu<br />
que as pessoas achassem tão divertido<br />
construir sistemas solares (para destruílos<br />
em seguida). A continuação precisou<br />
de três anos e uma equipe – com um<br />
astrônomo e uma climatologista – para<br />
Universe Sandbox ²<br />
para Windows,<br />
Mac e Linux<br />
ficar pronta: Universe Sandbox ². Uma<br />
coisa é certa: eliminar toda forma de<br />
vida na Terra nunca foi tão divertido.<br />
MAIS CAIXAS DE AREIA NO ESPAÇO<br />
Engenheiros do espaço<br />
Construir espaçonaves e estações espaciais com<br />
a tecnologia que só vai existir daqui a 50 anos:<br />
com Space Engineers é possível. No momento,<br />
o jogo ainda está em fase de testes, em processo<br />
de melhoramento e expansão. E lembra um pouco<br />
Minecraft no espaço sideral.<br />
Conheça os Kerbals<br />
Eles são homenzinhos<br />
verdes e baixinhos<br />
do planeta Kerbin.<br />
Eles têm uma missão<br />
espacial ambiciosa. Mas,<br />
antes de se lançarem<br />
a ela, os foguetes têm de<br />
ser planejados e testados.<br />
Não que engenharia<br />
espacial seja uma coisa<br />
fácil, mas neste jogo ela é<br />
surpreendentemente divertida.<br />
LOGITECH G502<br />
PROTEUS CORE<br />
Para mãos de cirurgião:<br />
com sensor<br />
de 12 000 dpi,<br />
o Proteus Core<br />
é o mouse mais<br />
preciso do mercado.<br />
E ainda<br />
parece que vai<br />
decolar a qualquer<br />
momento.<br />
MAD CATZ<br />
R.A.T. 9<br />
Quando se trata de<br />
design audacioso,<br />
a Mad Catz é a número<br />
um. E nesse<br />
mouse monstruoso<br />
sem fio ainda é<br />
possível ajustar<br />
peso e tamanho.<br />
72 THE RED BULLETIN
L UZ, CÂMERA, AÇÃO<br />
DON FLOOD FOR NETFLIX, JOE PUGLIESE<br />
J O G O R Á P I D O<br />
LORENZO<br />
RICHELMY<br />
Anote este nome. A série<br />
épica que a Netflix vai produzir<br />
e exibir, Marco Polo,<br />
terá Richelmy como o lendário<br />
explorador em batalhas<br />
grandiosas, lutas incríveis<br />
e encontros cheios de aventura.<br />
Filmada em locações<br />
asiáticas com orçamento<br />
para rivalizar com Game of<br />
Thrones, Marco Polo poderá<br />
ser o seu próximo vício<br />
Por: Geoff Berkshire<br />
the red bulletin: Essa é<br />
a sua primeira série para<br />
a TV. Como foi que surgiu<br />
a oportunidade<br />
lorenzo richelmy: Meu<br />
agente disse que o diretor de<br />
elenco italiano não gostou de<br />
mim, então ele me falou para<br />
fazer um vídeo e mandou para<br />
o diretor principal da escolha<br />
do elenco [nos EUA]. Filmei<br />
com a minha namorada interpretando<br />
Kublai Khan. Não<br />
soube de nada por dois meses.<br />
Então viajei para os EUA para<br />
um festival de filmes e descobri<br />
no aeroporto de Filadélfia<br />
que tinha conseguido o papel.<br />
Você precisou aprender<br />
muita coisa, inclusive a falar<br />
inglês. Como se preparou<br />
Tive seis semanas. De manhã,<br />
fazia quatro horas de treinos<br />
para o corpo. Tínhamos uma<br />
equipe chinesa de acrobacias<br />
para nos ensinar wushu, os<br />
japoneses nos treinavam para<br />
luta com espada e um coreógrafo<br />
para as cenas de luta.<br />
Depois, mais duas horas de<br />
lições de montaria, uma hora<br />
para aprender arco e flecha<br />
e mais duas horas de inglês.<br />
Você já conhecia a Malásia<br />
Eu já tinha visitado a maior<br />
parte do Sudeste asiático,<br />
exceto as Filipinas e a Malásia,<br />
“ Tivemos pessoas<br />
de 25 países, e eu<br />
era o único italiano.<br />
Não foi fácil, mas<br />
foi um sonho.”<br />
então foi bom para aumentar<br />
o repertório! Adorei o calor<br />
e a umidade, melhor que o<br />
Casaquistão. Atuar no frio<br />
é pior que atuar no calor.<br />
Como foram as filmagens<br />
Eu tive algo como três dias de<br />
folga em sete meses. Tivemos<br />
pessoas de 25 países, e eu era<br />
o único italiano. Não foi fácil,<br />
mas foi um sonho.<br />
Quanto você sabia sobre<br />
Marco Polo<br />
Ele não é um herói como<br />
Napoleão é para a França,<br />
mas para Veneza ele é o maior<br />
homem que já existiu. Quando<br />
John Fusco [o criador do<br />
seriado] me falou dele pela<br />
primeira vez, era como se ele<br />
fosse o professor da universidade<br />
e eu um ignorante. Tinha<br />
que estudar e conhecê-lo.<br />
E você já conhecia a Netflix<br />
Não tem na Itália. Pensei:<br />
“Ah! Série para a web e vão<br />
me levar para a Malásia” Não<br />
terá na Itália nem nos próximos<br />
dois anos. Eu posso ficar com<br />
a minha vida tranquila em<br />
Roma e talvez ir para a China<br />
e ser famoso. Aí serei como<br />
Bill Murray em Encontros e<br />
Desencontros e fazer propaganda<br />
de bebidas em Tóquio.<br />
www.netflix.com<br />
Marco Polo estreia dia 12/12<br />
HISTÓRIA<br />
DE AMOR<br />
Simon Helberg, astro<br />
de The Big Bang<br />
Theory, está começando<br />
no cinema,<br />
escrevendo e dividindo<br />
a direção com<br />
sua esposa, Jocelyn<br />
Towne, na comédia<br />
We’ll Never Have<br />
Paris. Abaixo, ele fala<br />
de suas influências:<br />
Noivo<br />
Neurótico,<br />
Noiva Nervosa<br />
(1977)<br />
Este é, quem sabe,<br />
o filme mais romântico<br />
já feito. Ele também é tão<br />
brilhante enquanto comédia<br />
com frases memoráveis<br />
como é na análise<br />
da condição humana.<br />
Sideways –<br />
Entre Umas<br />
e Outras<br />
(2004)<br />
O protagonista é um<br />
personagem cujo maior<br />
obstáculo é ele mesmo.<br />
É um filme com linda<br />
produção e simplicidade.<br />
O tom é perfeito.<br />
Um Romance<br />
Moderno<br />
(1981)<br />
Este filme não tem medo<br />
de mostrar um personagem<br />
em um foco não<br />
muito favorável: autodestrutivo,<br />
neurótico. Aborda<br />
os relacionamentos e sua<br />
construção na luta entre<br />
a autonomia e o egoísmo.<br />
We’ll Never Have Paris<br />
estreia nos EUA em 22/1<br />
THE RED BULLETIN 73
Seth Troxler (acima)<br />
é um dos DJs convidados.<br />
Ele toca dois<br />
sets na comemoração<br />
do aniversário da<br />
Fabric: o turno da<br />
manhã, às 10 horas,<br />
e a after party,<br />
20 horas mais tarde<br />
30 horas
de FESTA<br />
200 mil beats, 8,5 mil pessoas dançando, 20 DJs,<br />
três pistas: a Fabric, a melhor balada underground de<br />
Londres, comemora seu 15º aniversário com uma festa-<br />
maratona desde sábado à noite até segunda de manhã<br />
Por: Florian Obkircher Fotos: Alex de Mora<br />
75
Sábado, 23:00<br />
Oliver Bourke está preparado.<br />
Uma bolsa com a escova de<br />
dentes, gel para o cabelo e<br />
óculos de sol. “Noitadas<br />
especiais requerem medidas<br />
especiais”, diz. O designer<br />
gráfico de 25 anos, de barba<br />
por fazer, veio aqui festejar<br />
por 30 horas a fio. Porque a<br />
maior balada underground de<br />
Londres, a Fabric, comemora<br />
seus 15 anos com uma festamaratona<br />
até segunda-feira.<br />
Está há uma hora na fila<br />
de 150 metros para a entrada.<br />
“Venho aqui desde que tinha<br />
18 anos. Minha educação<br />
musical foi com os DJs da<br />
Fabric”, conta. “Hoje vamos<br />
ter 20 dos melhores DJs do<br />
mundo na largada: Ricardo<br />
Villalobos, Seth Troxler,<br />
Craig Richards...”<br />
2 3 :0 2<br />
Um edifício vitoriano de três<br />
andares, tijolos à vista, porta<br />
de metal grande e pesada,<br />
acima dela uma placa despretensiosa<br />
com o nome<br />
“fabric”, à frente das grades.<br />
À direita vão entrando os que<br />
têm ingressos, à esquerda<br />
se amontoam os que têm o<br />
nome na lista de convidados.<br />
E aqueles que esperam ter.<br />
“Aqui!”, gritam quatro pessoas<br />
à jovem com maquiagem cintilante<br />
sentada à frente da<br />
porta. Jo Neill, 25, é arquiteta<br />
durante a semana e hostess<br />
da festa no fim de semana.<br />
“Nome”<br />
“Andy Harris.”<br />
“Infelizmente não está<br />
na lista.”<br />
“Mas... Seth Troxler tinha<br />
me prometido...”<br />
“Sinto muito, querido,<br />
por favor, você precisa ir para<br />
a outra fila.”<br />
Em uma noite normal,<br />
Neill tem 300 nomes na sua<br />
lista. Hoje são 842. Quem já<br />
passou por ela passa por um<br />
detector de metais, depois é<br />
revistado pelos seguranças e,<br />
em seguida, passa pela revista<br />
das bolsas.<br />
Domingo, 00:14<br />
O apelido do clube é labirinto<br />
– e por uma boa razão. As três<br />
pistas de dança subterrâneas<br />
estão interligadas por duas<br />
amplas escadarias de tijolos.<br />
Elas são as principais veias de<br />
trânsito do lugar. Entre elas<br />
há balcões, bares, banheiros<br />
e inúmeras escadas de caracol<br />
e corredores estreitos onde<br />
se perder. Não há sinalização.<br />
“Sala 3 Aqui à esquerda,<br />
pelo corredor à direita, suba<br />
a escada. Entendeu”<br />
0 0 :18<br />
Na Sala 3, Keith Reilly está<br />
encostado no bar. Cabelo curto,<br />
barba por fazer, camiseta preta,<br />
55 anos, o chefe da Fabric.<br />
Quando lhe perguntam sobre<br />
o 19 de outubro de 1999, ele<br />
sorri. “A primeira noite foi<br />
uma loucura. Três horas antes<br />
do início ainda não tínhamos<br />
luz”, conta. “No fim da festa,<br />
descobrimos que nenhum de<br />
nós sabia fechar o edifício.<br />
Então, ficamos aqui e continuamos<br />
a festa.”<br />
A ideia de Reilly no começo<br />
era oferecer uma balada<br />
underground de amantes<br />
da música para amantes da<br />
música. “Um lugar no qual<br />
o visitante não fosse julgado<br />
pela roupa que está vestindo”,<br />
diz. “E isso numa época em<br />
que praticamente só havia<br />
clubes almo fadinhas tocando<br />
house insosso em Londres.”<br />
Desde então, 4 mil artistas<br />
já participaram de cerca de<br />
2,6 mil eventos, e mais de<br />
5,43 milhões de pessoas<br />
dançaram no que foi um<br />
fri gorífico um dia. Só para<br />
a festa de aniversário são<br />
esperadas 8,5 mil pessoas.<br />
Em 2007 e 2008, a Fabric<br />
foi considerada a melhor<br />
balada do mundo pela DJ<br />
Magazine. Qual é a receita<br />
para o sucesso Autenticidade.<br />
“Os Guettas e Aviciis da vida<br />
não tocam aqui. Ainda que<br />
esses DJs estrelados e engomadinhos<br />
adorassem ter essa<br />
chance. Nós só trazemos<br />
76
os DJs apaixonados pelo que<br />
fazem e criativos”, diz Reilly.<br />
0 1:15<br />
A Sala 1 é o centro da catedral<br />
da festa. Dez metros de altura,<br />
parede de tijolos à vista, canos<br />
grossos de metal cobrem<br />
o teto. Lasers verdes cortam<br />
a fumaça. Praticamente não<br />
se pode ver o DJ porque sua<br />
cabine não é elevada e tem<br />
uma grade de 2 metros de<br />
altura em volta. É assim que<br />
deve ser, pois aqui a estrela é<br />
a música, que é bombardeada<br />
sobre as centenas de pessoas<br />
que estão dançando ao som<br />
de quatro caixas de som gigantescas<br />
penduradas nos cantos.<br />
O piso tem 400 sensores que<br />
transformam ondas sonoras em<br />
vibração. Os baixos reverberam<br />
tanto que os joelhos de quem<br />
está dançando tremem.<br />
0 4 :15<br />
Um segurança grandão vigia<br />
a porta de metal ao lado do<br />
caixa eletrônico da própria<br />
balada. Só quem tem uma<br />
pulseira dourada escrita<br />
“rock star” pode entrar no<br />
backstage. Quem anda por<br />
aqui é importante. Ou se sente<br />
assim. Cerca de 40 figuras<br />
disputam os 15 metros quadrados<br />
do salão. Está abafado<br />
e quente. O pequeno ventilador<br />
de teto não é suficiente.<br />
0 4 :18<br />
Entre os que levam a pulseira<br />
de “rock star”, Normski é a verdadeira<br />
estrela. Barba grisalha,<br />
“OS GUETTAS DA VIDA NÃO TOCAM<br />
AQUI. AINDA QUE ESSES DJs ENGOMA-<br />
DOS ADORASSEM TER ESSA CHANCE.”<br />
voz rouca, olhos brilhantes.<br />
Tapinhas nas costas e abraços<br />
o tempo todo. Normski ensinou<br />
a muitos dos que estão presentes<br />
aqui o que é house. Em finais<br />
dos anos 1980, ele era o<br />
apresentador de um programa<br />
sobre dance na TV britânica.<br />
O lema de vida do autoconfiante<br />
veterano das festas: “Eu<br />
não preciso da noite. A noite<br />
precisa de mim”. Ele é convidado<br />
de honra na Fabric há<br />
15 anos. “Por fora, o lugar não<br />
mudou nada. Continua detonado<br />
como no começo”, diz.<br />
“E isso está certo. As pessoas<br />
vêm aqui por causa da música.<br />
Para ver os DJs da Champions<br />
League da Música tocarem.<br />
Pergunte aos DJs britânicos<br />
quais são seus objetivos profissionais.<br />
A resposta será sempre<br />
a mesma: Tocar aqui uma vez.”<br />
0 9 : 3 2<br />
O hipster, irmão mais novo do<br />
Super Mario, entra nos bastidores.<br />
Seth Troxler. Cabeleira,<br />
bigode, quilinhos a mais.<br />
Estão trabalhando<br />
245 pessoas na maior<br />
festa do ano na Fabric.<br />
Desde o pessoal do<br />
bar e os pizzaiolos até<br />
os DJs. Um deles é<br />
Craig Richards (no<br />
topo, de camisa azul),<br />
que tem sido presença<br />
constante atrás dos<br />
controles da Sala 1 nos<br />
sábados desde a inauguração<br />
há 15 anos.<br />
À direita, abaixo:<br />
o DJ James Jackson<br />
e o veterano Normski<br />
relembram os primeiros<br />
passos do superclube<br />
nos bastidores<br />
77
“Seth! Seth!” Duas mulheres<br />
bonitas se jogam sobre ele<br />
para cumprimentá-lo. O DJ<br />
americano parece cansado,<br />
mesmo que só comece a tocar<br />
em uma hora. Como se preparar<br />
para uma gig às 10h30<br />
Dormir antes ou não dormir<br />
“A segunda opção. Acabei de<br />
chegar do aeroporto. Há algumas<br />
horas eu estava tocando<br />
em Amsterdã.”<br />
11: 4 5<br />
Segundo a programação, os<br />
DJs Marcel Dettmann e Ben<br />
Klock deveriam ter parado há<br />
duas horas. Os DJs do lendário<br />
clube berlinense Berghain<br />
estão suando há 11 horas<br />
atrás das pickups da Sala 2.<br />
Para encerrar, eles tocam<br />
“Idioteque”, do Radiohead.<br />
Quando Dettmann sai da cabine,<br />
ele surpreendentemente<br />
não parece cansado. “As primeiras<br />
três horas foram um<br />
pouco difíceis, mas depois o<br />
tempo voou”, diz. Esse foi o<br />
set mais longo de sua carreira<br />
78 <br />
“Não. Uma vez toquei por<br />
16 horas no Berghain.” Em três<br />
horas sai o voo para Amsterdã<br />
para a próxima festa.<br />
1 4 :00<br />
Fim do primeiro tempo. Quinze<br />
horas de festa já se passaram.<br />
Três garotas fazem posições<br />
de ioga nos futons de couro da<br />
Sala 2. Na Sala 1, uns garotos<br />
parecem embriões colados<br />
à parede, as pernas dobradas,<br />
a cabeça entre os joelhos.<br />
Um deles é Oliver Bourke.<br />
Seus olhos já estão pequenos<br />
e vermelhos. Ele não precisa<br />
contar que esqueceu de colocar<br />
desodorante na bolsa. E<br />
está decidido a aguentar até<br />
o fim. Ele murmura: “200 mil<br />
beats. Eu fiz as contas. Trinta<br />
horas de techno são cerca de<br />
200 mil beats. Eu não vou<br />
perder nenhum”.<br />
16:05<br />
Como se manter nutrido para<br />
a festa-maratona sem sair da<br />
balada Tem um carrinho de<br />
pizza no fumódromo. O cozinheiro,<br />
com seu bigode enrolado,<br />
assou umas 100 pizzas<br />
nas últimas três horas. A preferida<br />
até agora “Smokey<br />
Seth” com tiras de bacon temperado<br />
e molho picante de<br />
jalapeño, segundo uma receita<br />
do DJ Seth Troxler. “Comida<br />
pesada”, avisa a Bourke. “Você<br />
não quer um pedaço de marguerita<br />
É bem mais leve para<br />
o estômago.”<br />
19 :00<br />
Um faraó com dreadlocks e<br />
óculos escuros arrasta caixas<br />
de papelão pela pista de dança.<br />
O conteúdo: perucas com<br />
cores de gosto no mínimo<br />
questionável, capacetes de<br />
proteção para construções,<br />
“30 HORAS DE TECHNO.<br />
SÃO 200 MIL BEATS. E EU NÃO<br />
QUERO PERDER NENHUM.”<br />
máscaras de cavalo, toucas<br />
de anões, roupas de padres,<br />
chupetas gigantes. Uma tradição<br />
de aniversário na Fabric:<br />
é a única noite no ano em que<br />
se usam fantasias. O pequeno<br />
gesto tem um efeito enorme:<br />
em poucos minutos, todos os<br />
convidados estão revolvendo<br />
o conteúdo das caixas como<br />
crianças. O cansaço da tarde<br />
já desapareceu. Normski<br />
vestiu um vestidinho de festa<br />
vermelho muito justo. Seu<br />
corpo brilha com o suor. Ele<br />
grita com voz rouca: “Ainda<br />
preciso de uma peruca. Me<br />
deem uma peruca!”.<br />
2 1:05<br />
Um coelho sobe ao palco<br />
e se posiciona dentro de<br />
um castelo de sintetizadores
analógicos: Mathew Jonson,<br />
especialista canadense do<br />
techno. O beat invade o ambiente.<br />
Ele parece possuído,<br />
manipulando os controles. Bate<br />
tanto a cabeça que uma orelha<br />
da fantasia se desprega.<br />
2 2:00<br />
A loucura toma conta: um<br />
Barbapapa rosa de 2 metros<br />
sobe no palco e convida o coelho-de-uma-orelha<br />
para dançar.<br />
Alemães em lederhosen<br />
se misturam com pedreiros.<br />
Seth Troxler dança junto com<br />
o público – com uma touca de<br />
bebê e uma camisola de stripper.<br />
“Demais!”, grita Bourke,<br />
em sua fantasia de Batman.<br />
“Devia ser assim antigamente<br />
no Studio 54.”<br />
Segunda-feira,<br />
01:32<br />
São 26 horas de festa e já se<br />
nota: o chão está sujo, o ar<br />
cheira a suor, o comportamento<br />
de cio dos rapazes já perdeu<br />
todo traço de inibição. Parecem<br />
galos com o pescoço<br />
esticado buscando contato<br />
visual com as mulheres que<br />
dançam ao lado.<br />
0 4 :59<br />
É o último minuto da festa.<br />
O pioneiro do techno minimalista<br />
Ricardo Villalobos<br />
toca um de seus grandes<br />
sucessos: “Easy Lee”. Muitos<br />
levantam os smartphones<br />
para gravar em vídeo os<br />
últimos momentos da festamaratona.<br />
Três... dois...<br />
um... e Não acon tece<br />
nada. O beat continua.<br />
05:20<br />
Oliver Bourke, que a essa<br />
hora já parece ter encarnado<br />
o Batman, diz: “Na reta final<br />
de uma festa, você entra no<br />
modo maratonista: não pensa.<br />
Continua”. Olhando para ele,<br />
é fácil identificar que já entrou<br />
nesse modo.<br />
0 6 :10<br />
O DJ desliga a pickup. O beat<br />
vai ficando lento e se transforma<br />
em um ruído surdo.<br />
As luzes se acendem. Os dançarinos<br />
apertam os olhos,<br />
vampiros ao nascer do sol.<br />
Bourke coloca os óculos de<br />
sol e se despede, suado, mas<br />
contente. Fim da festa, depois<br />
de 32 horas.<br />
0 6 : 3 0<br />
A Sala 1 está vazia. A turma<br />
da limpeza já começou há<br />
muito tempo. Silêncio absoluto<br />
se não fosse aquele zunido<br />
no ouvido. A porta do<br />
backstage se abre. Um pequeno<br />
grupo dos que têm a pulseira<br />
dourada aparece e vai na direção<br />
da Sala 3. Caixas com bebidas<br />
estão preparadas sobre<br />
a pista de dança – o pessoal<br />
do bar já foi para casa. Seth<br />
Troxler começa a after party<br />
colocando um álbum de<br />
space disco.<br />
www.fabriclondon.com<br />
O turno mais longo<br />
de DJs da festamaratona<br />
foi o dos<br />
berlinenses Marcel<br />
Dettmann e Ben Klock<br />
(à esquerda, abaixo):<br />
11 horas. De 1 h da<br />
madrugada ao meiodia.<br />
A receita de resistência<br />
“Dormir<br />
a tarde inteira antes”,<br />
sorri Dettmann<br />
79
AÇÃO!<br />
NA AGENDA<br />
Campeonatos de surf<br />
acontecem na Praia<br />
da Cacimba do Padre<br />
A partir de 1º/1, em Fernando de Noronha<br />
Temporada<br />
em Noronha<br />
Pense no paraíso. Agora pense nas melhores<br />
ondas do Brasil. Junte as duas coisas e pronto:<br />
esse é o cenário que você encontrará em Fernando<br />
de Noronha, a ilha pernambucana que recebe<br />
dezenas de surfistas entre dezembro e março.<br />
O motivo As tempestades de inverno no Hemisfério<br />
Norte. A gente explica: como a ilha está em<br />
mar aberto, as praias da Cacimba, Bode, Cachorro<br />
e Conceição, que são viradas para o norte, recebem<br />
as ondulações potentes vindas das tempestades<br />
do inverno no Atlântico Norte. O resultado<br />
Um show de surf para quem está na areia.<br />
www.noronha.pe.gov.br<br />
9 e 19/1, no Rio, SP e Salvador<br />
Eletrônico<br />
Uma das estrelas do pop eletrônico,<br />
o DJ francês David Guetta, que já foi<br />
eleito o melhor do mundo pela revista<br />
DJ Mag, fará shows em três cidades do<br />
Brasil durante o verão: São Paulo, Rio<br />
de Janeiro e Salvador. No Rio, David se<br />
apresentará diante de milhares de fãs<br />
no Riocentro; em SP, o show acontece<br />
no Pavilhão do Anhembi; e, na Bahia,<br />
a festa será no Parque de Exposições de<br />
Salvador. Espere por hits bombásticos<br />
como “When Love Takes Over” e “Turn<br />
Me On”. Os ingressos custam a partir<br />
de R$ 200 (estudantes pagam meia).<br />
ingressorapido.com.br<br />
80 THE RED BULLETIN
3 a 25/1, em São Paulo<br />
Copinha<br />
A disputa mais respeitada das categorias de base<br />
do futebol brasileiro acontece em janeiro. Com<br />
a já tradicional final realizada no Pacaembu no dia<br />
do aniversário de São Paulo, a Copinha, como é<br />
conhecida, é o celeiro de grandes craques do país<br />
e contará apenas com atletas nascidos entre 1995<br />
e 1999. Quem defende o bicampeonato é o Santos.<br />
www.cbf.com.br<br />
ENSAIOS<br />
D A S<br />
ESCOLAS<br />
É O COMEÇO DO<br />
SAMBA E DA FOLIA<br />
17<br />
JANEIRO<br />
MARCELO MARAGNI/RED BULL CONTENT POOL, DIVULGAÇÃO (3), RINGO STARR, AL BELLO/ZUFFA LLC<br />
21, 23, 25 e 28/1, em Porto Alegre, SP, Rio e BH<br />
Foo Fighters<br />
A banda de Dave Grohl chega de forma<br />
arrasadora em território tupiniquim.<br />
São quatro datas de megashows, sendo<br />
dois deles nos estádios do Morumbi e<br />
do Maracanã. Puro delírio para os fãs<br />
do verdadeiro rock. O Foo Fighters<br />
passa por aqui com sua nova turnê, do<br />
disco Sonic Highways, que já é sucesso<br />
de vendas. O novo single “Something<br />
From Nothing” é uma das canções mais<br />
esperadas – mas com certeza o público<br />
vai pedir clássicos como “This is a Call”,<br />
“Everlong” e “All My Life”.<br />
www.ticketsforfun.com.br<br />
31/1, em Las Vegas<br />
Ele voltou<br />
Anderson Silva irá encarar<br />
seu primeiro desafio depois<br />
da trágica derrota para Chris<br />
Weidman em dezembro de<br />
2013. O brasileiro<br />
se recuperou da<br />
fratura exposta e<br />
volta ao octógono<br />
diante do americano<br />
Nick Diaz. Será que<br />
teremos nocaute<br />
ufc.com<br />
Anderson<br />
Silva<br />
10/1, no Rio<br />
Reggae roots<br />
A Fundição Progresso receberá o Natiruts, banda brasiliense<br />
fiel ao reggae roots instaurado por Bob Marley.<br />
A banda volta aos palcos da Fundição um ano após<br />
a gravação de seu último disco ao vivo, #NoFilter, lançado<br />
no ano passado. No repertório, além de clássicos<br />
da banda, algumas releituras de músicas de Legião<br />
Urbana, Charlie Brown Jr. e Paralamas do Sucesso.<br />
www.fundicaoprogresso.com.br<br />
31/12, no Rio<br />
Ano-novo<br />
A festa em Copacabana é<br />
daquelas que o mundo inteiro<br />
para e assiste. Comemorar<br />
o Réveillon no Rio é uma experiência<br />
única na vida – e<br />
na noite de 31 de dezembro<br />
para 1º de janeiro a prefeitura<br />
carioca promete, mais uma<br />
vez, um show de fogos que<br />
durará mais de 15 minutos.<br />
A festa é para todos!<br />
www.rio.rj.gov.br<br />
17/1, em São Paulo<br />
Ritmo de samba<br />
A folia tem data para começar<br />
a esquentar o verão: é no dia<br />
da apresentação do Bloco do<br />
Sargento Pimenta no Cine<br />
Joia, em São Paulo. A turma<br />
inspirada nos Beatles que<br />
adapta grandes hits do quarteto<br />
de Liverpool ao ritmo das<br />
marchinhas carnavalescas<br />
promete ferver mais uma vez<br />
a noite paulistana. Imperdível.<br />
cinejoia.tv<br />
MOCIDADE<br />
ALEGRE<br />
O ensaio técnico<br />
da campeã do Carnaval<br />
paulista em<br />
2014 acontecerá<br />
no Sambódromo<br />
do Anhembi e é<br />
de graça. O enredo<br />
homenageia<br />
Marília Pêra.<br />
mocidadealegre.<br />
com.br<br />
18<br />
JANEIRO<br />
MANGUEIRA<br />
O ensaio técnico<br />
da tradicional<br />
escola verde-erosa<br />
acontecerá<br />
na Sapucaí no<br />
domingo, dia 18.<br />
A entrada é gratuita,<br />
e o enredo<br />
da escola de figuras<br />
como Cartola<br />
homenageará<br />
as mulheres.<br />
mangueira.com.br<br />
25<br />
JANEIRO<br />
BEIJA-FLOR<br />
DE NILÓPOLIS<br />
A escola azule-<br />
branca vai<br />
ensaiar na Sapucaí<br />
no dia 25.<br />
O en redo conta<br />
a história da<br />
Guiné Equatorial,<br />
e nomes como<br />
Paulinho da Viola<br />
estarão por lá.<br />
beija-flor.com.br<br />
THE RED BULLETIN 81
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THE RED BULLETIN<br />
Alemanha, ISSN 2079-4258<br />
Editor Alemanha Andreas Rottenschlager<br />
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Áustria, ISSN 1995-8838<br />
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Estados Unidos, ISSN 2308-586X<br />
Editor EUA Andreas Tzortzis<br />
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THE RED BULLETIN<br />
França, ISSN 2225-4722<br />
Editor França Pierre Henri Camy<br />
Assistente de Redação Christine Vitel<br />
Tradução e Revisão<br />
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Christine Vitel, Gwendolyn de Vries<br />
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Irlanda, 2308-5851<br />
Editor Irlanda<br />
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México, ISSN 2308-5924<br />
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Nova Zelândia, ISSN 2079-4274<br />
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82 THE RED BULLETIN
CORRIDA MUNDIAL PELA CURA DE LESÕES NA MEDULA<br />
A ÚNICA CORRIDA EM QUE<br />
A LINHA DE CHEGADA ESTÁ ATRÁS DE VOCÊ<br />
NO MESMO DIA EXATAMENTE NO MESMO HORÁRIO EM TODO O MUNDO<br />
3 DE MAIO DE 2015<br />
BRASÍLIA, 08:00<br />
A TAXA DE INSCRIÇÃO SERÁ 100% DESTINADA À PESQUISA DA MEDULA ESPINHAL<br />
INCREVA-SE<br />
AGORA!<br />
WINGSFORLIFEWORLDRUN.COM
MOMENTO MÁGICO<br />
Golden, Canadá<br />
25 de março de 2014<br />
Dez meses de trabalho e quatro toneladas<br />
de equipamento foram investidos<br />
na produção de Afterglow, um filme que<br />
combina instalações de luz e freeskiing<br />
de maneira impressionante. “Iluminamos<br />
montanhas com holofotes de 4 000 watts<br />
em várias cores”, conta o fotógrafo canadense<br />
Mike Brown. “E então seguimos<br />
o freeskier Pep Fujas às 3 da madrugada<br />
descendo a montanha lilás.”<br />
www.sweetgrass-productions.com<br />
“4 000 watts de lilás.<br />
3 da manhã. Pep<br />
desce a encosta.”<br />
O fotógrafo Mike Brown descreve as gravações de Afterglow<br />
na Colúmbia Britânica<br />
A PRÓXIMA EDIÇÃO DO RED BULLETIN SERÁ LANÇADA EM 14 DE JANEIRO DE 2015<br />
AFTERGLOW SCREENGRAB<br />
84 THE RED BULLETIN
GRAB YOUR<br />
PIECE OF<br />
THE ACTION